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Lgarcia, TRANSVERSALIDADE DE GÊNERO E INTERSETORIALIDADE
Lgarcia, TRANSVERSALIDADE DE GÊNERO E INTERSETORIALIDADE
Lgarcia, TRANSVERSALIDADE DE GÊNERO E INTERSETORIALIDADE
Resumo
Este trabalho propõe fazer algumas reflexões sobre a transversalidade e
intersetorialidade enquanto estratégia de garantia dos direitos das mulheres a viver uma
vida sem violência. A proposta da transversalidade de gênero corresponde à integração
do aporte de gênero a agenda política e aos processos decisórios, por meio de ações e
políticas integradas e intersetoriais. Dessa forma, a transversalidade e a
intersetorialidade envolve mais de uma política e sugere rupturas com paradigmas
existentes em relação a gestão e execução das políticas públicas.
Palavras-chave: Gênero. Intersetorialidade. Políticas públicas. Violência contra as
mulheres.
Abstract
This paper proposes some reflections on mainstreaming and intersectionality as women
's rights assurance strategy to live a life without violence. The proposed gender
mainstreaming corresponds to integration of the gender contribution to the political
agenda and decision-making, through actions and integrated and intersectoral policies .
Thus, the transversal and intersectoral approach involves more than one policy and
suggests breaks with existing paradigms regarding the management and implementation
of public policies.
Keywords: Gender. Intersectionality. Public policies. Violence against women.
A partir dos anos 1980 a violência contra as mulheres ganhou espaço no debate
público e na agenda política de diversos países. Na América Latina, peculiarmente nos
países do Cone Sul: Argentina, Brasil. Chile, Paraguai e Uruguai, impulsionados pelo
1
Assistente Social. Mestranda em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo no
NEIM/UFBA. E-mail: <ermildes@gmail.com>.
Concordo com a publicação deste trabalho.
2
qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico,
sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada”
(CONVENÇÃO INTERAMERICANA, 1994). Em linhas gerais, a Convenção
representou um marco simbólico, teórico e prático na proteção às mulheres, bem como
ampliou a definição de violência contra as mulheres.
Conforme Bandeira e Almeida (2015, p. 506) a Convenção de Belém do Pará
tem um papel fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas de
enfrentamento à violência, uma vez que:
[...] estabeleceu, pela primeira vez, o direito das mulheres viverem uma vida
livre de violência, ao tratar a violência contra elas como uma violação aos
direitos humanos. Nesse sentido, adotou um novo paradigma na luta
internacional da concepção e de direitos humanos, considerando que o
privado é público e, por consequência, cabe aos Estados assumirem a
responsabilidade e o dever indelegável de erradicar e sancionar as situações
de violência contra as mulheres. (BANDEIRA; ALMEIDA, 2015, p. 506).
2
Conforme Sardenberg (2010, p. 50) o termo empoderamento, é “[...] um neologismo criado a partir da
tradução do inglês empowerment, diz respeito aos processos através dos quais as mulheres se fortalecem,
conquistando maior autonomia e controle sobre suas próprias vidas. Esse fortalecimento vem de dentro,
mas políticas e programas podem contribuir “facilitando” o seu desencadeamento, criando condições que
contribuam para a sua maior conscientização, para o desenvolvimento da auto-confiança, diversidade de
escolha e maior acesso e controle sobre recursos para as mulheres”.
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diversas políticas “[...] acaba por sujeitar o conceito de gênero a um grande estica e
puxa de todas as partes, de sorte a adequá-lo às necessidades e interesses das diferentes
instituições e agentes em jogo” (SARDENBERG, 2014, p. 21). Por certo, em muitas
instâncias o termo gênero tem sido despido de seu caráter político e, muitas vezes, vem
sendo usado para substituir o termo mulheres.
É necessário demarcar que apesar do enfoque deste trabalho está centrado nas
relações de gênero, é fundamental compreender que a complexidade das relações sociais
demandam intervenções não apenas no âmbito das relações de gênero, mas de outras
categorias sociais que (re)produzem disparidades, tais como raça e etnia, classe,
sexualidade, geração etc. A dissociação dessas dimensões pode induzir a análises
parciais e, principalmente distorções na apreensão da dinâmica de dominação e dos
padrões das desigualdades (BIROLI, MIGUEL, 2014). As estruturas de gênero, raça e
classe e outras dimensões da vida social são variáveis e a depender da organização
social vigente pode provocar diferentes modos de opressão, uma vez que as
(re)produções dessas desigualdades têm origens que não se resumem a uma raiz
comum. No entanto, o seu enfrentamento requer a organização de uma luta política
coletiva capaz de levar em consideração as multiplicidades de assimetrias e ações
estratégicas para a transformação da estrutura social.
criminalização “[...] como remédio para acabar com a violência contra as mulheres”.
Nessa perspectiva, a conjugação de ações de prevenção, proteção e punição devem ser
aplicadas de modo articulado, envolvendo serviços, profissionais e atores sociais de
variadas áreas de atuação, serviços e instituições.
Nessa dimensão, conforme Flávia Piosevan e Sílvia Pimentel, a Lei articula sete
inovações, a saber:
[...] mudança de paradigma no enfrentamento da violência contra a mulher;
incorporação da perspectiva de gênero para tratar da desigualdade e da
violência contra a mulher; incorporação da ótica preventiva, integrada e
multidisciplinar; fortalecimento da ótica repressiva; harmonização com a
Convenção CEDAW/ONU e com a Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; consolidação de um conceito
ampliado de família e visibilidade ao direito à livre orientação sexual, e,
ainda, estímulo à criação de bancos de dados e estatísticas. (PIOVESAN;
PIMENTEL, 2007, p. 1).
A abrangência das ações e medidas previstas torna a Lei Maria da Penha uma
política de enfrentamento à violência contra as mulheres, e para que sua implementação
seja efetiva necessita da intervenção articulada dos poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário nos três níveis do governo, de modo a compreender que a LMP não se reduz
apenas a uma legislação no âmbito penal (PASINATO, 2015).
O título III da referida Lei versa sobre “a assistência à mulher em situação de
violência doméstica e familiar” assegura a integração do Poder Judiciário, do Ministério
Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, saúde, assistência
social, trabalho, educação e habitação. No artigo 9o dispõe sobre a assistência à mulher
em situação de violência doméstica e familiar que deverá ser prestada de forma
articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da
Assistência Social, no Sistema Único de Segurança Pública, no Sistema Único de
Saúde, entre outras políticas de proteção (BRASIL, 2006).
Em linhas gerais, a aplicação efetiva da Lei Maria da Penha requer a articulação
da rede de atendimento às mulheres. O conceito de rede de atendimento à violência
contra as mulheres definido pela Secretaria de Políticas para as Mulheres diz respeito:
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Os serviços especializados refere-se os Centros de Referências de Atendimento à Mulher, Casas Abrigo,
Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher Núcleos da Mulher nas Defensorias Públicas,
Promotorias Especializadas, Juizados Especiais de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher,
Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180, Ouvidoria da Mulher (BRASIL, 2011).
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3. ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES
Há de considerar que a perspectiva da transversalidade de gênero e a própria
proposta da intersetorialidade é recente na agenda pública e apesar de já fazer parte do
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4. REFERÊNCIAS
BANDEIRA, L.; ALMEIDA, T.M.C de. A transversalidade de gênero nas políticas
públicas. Revista do CEAM, Brasília (DF), v. 2, n. 1, p. 35-46, 2013.
BIROLI, Flávia e MIGUEL, Luis Felipe. Gênero, Raça, Classe: opressões cruzadas e
convergências na reprodução das desigualdades. Mediações, Londrina, v. 20 n. 2, p. 27-
55, 2015.
PASINATO, Wânia. Oito anos de Lei Maria da Penha: Entre avanços, obstáculos e
desafios. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 23, n. 2, p 533-545, 2015.
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Anais do 4º Encontro Internacional de Política Social e 11º Encontro Nacional de Política Social
ISSN 2175-098X