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Questdes da Nossa Epoca Volume 50 S Mirian P. S. Zippin Grinspun _ AUTONOMIA E ETICA NA ESCOLA 0 novo mapa da educacao Sis Sumario Apresentacio. 1, A Orientagio Educacional no novo mini. 2. Agio integrada entre Orientador Educacional e supervisor educacional 3. Os rumos da educacio e a contribuigio da Orientagao Educacional 4. ica, valores edeagio.... 5. A Orientagao Educacional nas escolas, hoje. Referencias bibliograficas 37 54 96 ug) Apresentagao Nos livros anteriores que escrevi sobre Orientacao Educacional procurei enfocar tanto asua importincia como sua historia e, principalmente, a formagao do orientador ‘educacional, seja ao longo da legislaco educacional, seja znos tempos presentes, em face da nova Resolucio que tra- ta do Curso de Pedagogia (Res. n. 1 de 15/5/2006 — CNE) © projeto desselivro tem a sua vertente numa propos- ta que atenda trés objetivos basicos: primeiro, no que diz respeito a educaczo que se quer de qualidade e que atenda todos os segmentos de ensino, em todos os tipos de inst- ‘wicao, sejam elas publicas ou particulares tem de ter como ‘parecira a Orientacdo Educacional, quando aquela se prope além do instruir e informar 0 compromisso de formar e feducar o aluno; segundo, para que tivéssemos uma visto ‘mais prtica dessa Orientacao que tanto aludimos, em ter- ‘mos do contexto atual, que ultrapassao estigma de atender ‘os alunos-problemas einserr-se nos problemas e expectativas de todos os alunos, numa dimensio mais ampla e abran- gente; @ terceiro, fazer uma ponte mais especifica com a ‘questio do trabalho, caracterizando-o nessa abordagem ‘como a escotha da profissdo que vai além da escolha em si {de uma determinada profissio, mas evidenciar que, hoje, esta esoolha leva em consideragio nao 86 as aptidoes, os Interesses, as competéncias e a personalidade do alo para \discutir/analisar 0 mercado de trabalho e as grandes ques- WWes que envolvem esta escalha, como a globalizagao, as novas tecnologias ¢ a sociedade pos moderna. Voltando aos eixos assinalados, a intencio desse livro ¢ buscar dados que nos levem a pensar e, evidentemente, discutir 0s pontos enfocados, mostrando a estreita relaglo fentre 0 que acontece na escola quando ela se compromete com a educacao dos alunos, em termos da construcio de sua subjetividade. A midia mostra, informa determinados acontecimentos que dio a dimensao das dificuldades e complexidades do contexto atual, banalizando até determinadas situagdes, Observo, muitas vezes, na escola o aluno ser 0 responsdvel pelo seu proprio fracasso escolar, em ves de identificarmos {ue todo o contexto deve ser responsabilizado pela situagao detectada. Nao temos a intencdo de mostrar regra, dogmas, critérios que levem o aluno a ter bons rendimentos na es- cola, er bemstcedido no vestibular, na vida. Esses e outros temas podem e devem estar inseridos num contexto que discuta e analise a colaboragao, o papel da Orientaclo para ‘que a educacao que acontece, que ocorre na escola possa de fato atingir seus objetivos. Durante muito tempo, como orientadora, demonstrei, ‘lucie, indique' o papel da Orientaczo com os alunos, em ‘especial, e também com pais e a comunidade, em geral. Mostrava ao longo da historia da educagao como a esta fot concebida, o carater ideoldgico das legislacdes vigentes, a visio intrinseca com a Psicologia, até as dificuldades en- ‘contradas para acolocaedo da Orientagao no seu verdadeiro lugar. Procurava evidenciar no um ponto de vista de poder ‘que a Orientacio tivesse, absolikizando-a e diminuindo as ‘outras reas. Polo contrrio, sempre procurel integra todas 4s partes num s6 contexto educacional, como se estivésse- mos — de fora — veriicando como se encontram esses espacos, tal qual se movem as pecas de um caleidosc6pio, Do outro lado da evidencia tora-se muito dificil nao trazer pparaeste debate em OrientacSo a visio utopica de uma érea que tinha todas as ferramentas na mao para atender oaluno ;para uma visio real do verdadeiro papel do Orientador na Escola. No cendrio educacional que vivemos no final da década de 1980, mais precisamente, em julho de 1988, a FFENOE (Federacao Nacional de Orientadores Educacionais) ‘chegou a evar quasetrés mil orientadores 20 seu Congres- $0 Brasileiro de Orientadores Educacionais, na UERI/R. Acabaramse quase todas as Associagdes Estaduais, naque Je periodo, ea FENOE, no ano de 1989. Aparecem no inicio da década de 1990 novasassociagdes que se interselacionam a outras, como a AOERGS (que nunca acabou), a ASFOE, (Associacdo Fluminense de Orientagdo Educacional), ¢ ‘pouco a pouco vao juntando esforgos ¢ criam a Federacao ‘Nacional, agora denominada FENAPOE (Federaglo Nacional de Profissionais em Orientagao Educacional). Além das indicadas, entre outras esto as Associagdes de Orientaclo Educacional dos Estados de Santa Catarina, Parana, Mato Grosso do Sul, Brasilia, 0 que isto representa no cenaio educacional? apenas uma vontade politica dessesprofissio- nis terem seu drpio de classe respeitado, Lutar como as, ddemais associagées para ter uma vos nos 6g publicos, para defender seus ideais, para lutar por uma educacao de qualid%e e colaborar com a edueago no/do pais, como é ‘caso de ter uma representagao junto ao Conselho Nacional dda Educacio. A situacZo ainda nao atingio ponto desejado, ‘ois se muitos municipios nao tém em seus quadros 0 pro- fissional de orientacdo, outros municipios abrem concursos para esses profssionais. Por que esse quadro? Quem luta por esses profissionais? Quais as medidas que deveriam ser tomadas? Para essas ¢ outras perguntas se faz necessério = mais do que nunca — um 6rgdo de classe para lutar pelos deals dos orientadores educacionais. Novas perguntas po- deriam ser apresentadas: por que algumas escolas e/ou Secretarias Municipais ou Estaduais de Edueacao criaram a fungio de coordenador pedagégico, supervisor pedagégico ‘ou mesmo pedagogo para fazer todos os trabathos da escola ‘que nao fossem 08 do professor? Por que algumas escolas ingerem seus orientadores nos quadtos técnico-administra- tivos em vez de serem lotados junto a0 corpo docente da escola? Qual a vantagem da escola para essa arbtrariedade: ‘questao salarial? Carga horévia? Bssas slo algumas questdes que trazem o outro lado da Orientagao que ¢ a do desempenho e do trabalho do orien- tador educacional. Pretendemos, com este livro, mostrar as Aiferentes faces que comptem a Orientacio, ressaltando, ‘mais uma vez, sua importancia, sua necessidade e sua ri ‘queza para agir com e na educagio de qualidade que dese- Jamos para nosso pais. Inserimos alguns capitulos que tratam do trabalho — mais especifico ~ da Orientacio Educacional, mais voltados para os alunos ¢, nesse sentido, apresentamos tuma discussio com e para os jovens. Na medida em que a Orientagio deve refletir,avaliar as questbes dos valores ‘que estruturam todo 0 processo de escolha e decisio de nnossas agbes, apresentamos um estudo que nos leva a pensar — e agir — nas quest6es pertinentes a ética, aos valores e a educacdo. Os processos educativos so com- > plexos, ¢ intimeros fatores os determinam e definem. As ‘explicactes sobre 0 que 0s jovens, os alunos fazem ou es- ‘colhem nao podem ser vistas apenas da perspectiva do que cles achamee por que acham, mas sim pensar/avaliar como essa escolha reflete todo o contexto atual. Este fot o moti- vyo maior da apresentacio dos capitulos que se deslocam 4a Orientacdo Educacional em si para buscar 0 espago onde 4 Orientacdo € desenvolvida, A Orientagao Educacional no novo milénio O presente estudo consiste na descrigao e andlise da experitncia do Curso de Especializacio em Orientacao Educacional e Supervisio Escolar, realizado na Faculdade {de Educacao da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em nivel de pés-graduagao. O eixo principal deste estudo € a Orientagio Educacional que existe na educagao brasi- lira hi mais de seis décadas e que foi construida com uma fundamentacao, basicamente, no plano psicoldgico, procu- rando ajudar o aluno no desenvolvimento integral de sta personalidade. Este foi o inicio desse campo do conhect- ‘mento no Brasil, alicergado pelas questdes da Orientacao Vocacional e/ou Profssional, como nos demais paises onde 1a fol implantada. Hoje, temos um re-significado da Orien- tagio, com nova estétiea, onde reavaliamos suas miltiplas «dimensdes que contemplam a questio epistemologica (0 ‘objeto de conhecimento especifico da orientagdo), a ques- tio filsofica, antropologica e social. Nosso papel, no con- texto atual, ndo ¢ajudar simplesmente os alunosa resolver 0s seus problemas pessoais/sociais, ou simplesmente os alunos-problemas. Até porque, hoje, nos tempos da globa- lizagio, da pos-modernidade, das novas tecnologias, temos ‘uma outra concepeio da sociedade, da educagao ¢ da es- ‘cola que nela se insere. Por outro lado, ha uma nova con- cepedo de escola dimensionada pelo seu projeto politico- -pedagégico ¢ pelo curriculo a ser desenvolvido nessa instituiggo. Devemos trabalhar, com 0 aluno, como um todo, desenvolvendo o sentido da singularidade, adimensio da solidariedade, buscando o significado do humano, cola- borando na formacio/construgao de sua subjetividade.|A dimensio, portanto, 6 muito mais eritica-pedagégica do ‘que preventiva-psicologica ‘A proposta de trazer a andlise de um curso em funcio- namento — para formaglo de especialistas em Educaclo = ¢ para que possamos discutir mais do que a estrutura dole, a esséncia, de uma das areas de seu conteiido — a Crientacio Educacional ~ e 0 valor do seu contexto ~ em terms das relagdes que ela mantéem com 0 processo peda _g6gico da escola. © projeto desse curso surgiu apds a realizar ‘Gla de uma pesquisa qualitaiva ealizada com Orientadores Educacionais em exercicio, no Estado do Rio de Janeiro, que manifestaram interesse mum curso nessa area para aprofundamento de seus estudos e da pritica efetivada. A ‘propostainilal foi na rea de especializacdo, para os Orien- tadores Educacionais, mas, posteriormente, ele assumiu também o eariter de habilitagdo para os candidatos a pro- fissio, uma vez que esta assim se constitu. No Brasil, a profissdo de Orientador Educacional foi reconhecida por let especifica, a Lei n, 5.564, de dezembro de 1968, ¢ regula- ‘mentada através do Decteto n.72.846/1973. Atualmente, as duas modalidades — a de espectalizagao e a de habilitacao — so oferecidas aos alunos interessados, nessa rea aten- dendo, inclusive, o artigo 64, proclamado na Le de Diet ese Bass da Educago Nacional ~ Lei n 9394/1996, em igor no nosso pa © curso, que tov inicio em 199, tnha por objetivo 1. propor uma Orienagio Edveaional de qualidade fas eacolas 2. consruiruma Onlentago Educacionalnsrida mas Gjesies do mando contemporanes,claborando para a formagio da subjetivdade do aun; 4. aticular/integrarax diferentes Sreas/dacipinas da ducacdo,trabalhando as selagbes pedagogicas deo da excl, |A partir dos resultados do curso, das monografias/ pesquisas realizadas, podemos oferecer uma reflexio em tomo da reconceptualizacio da formagio do especialista ‘em Educagio, em especial do Orientador Pducacional,fun- damentada nos referenciais teorico-priticos do trabalho realizado, 0 interesse maior deste estudo ¢ discutir com os ddemais profssionais da drea o que vem sendo feito © 0 que overs e podera ser modificado a partir do contexto em que vvivemos. O dislogo seria nao s6a forma de se trabalhar em COrientagio, mas a estratéyia/ferramenta de se ter um es- ‘pago para discutir questdes pertinentes a este campo edi- ‘acional, em diferentes instituigoes de diferentes paises [Nos tempos marcados pela globalizacao, pelas novas tecno- logias, pela pés-modernidade, qual deveria ser a Orientacio “Educacional, paraeste novo tempo, que ajudasse o individuo arefletiesobre a sua subjetividade ea ter uma participagao ‘mais consciente no mundo em que estamos vivendo? Até ae ponto esse contexto interfere na escola e qual o seu papel nos cotidianos de que aluno participa? Torna-se nevessario esse conhecimento — essa rede de conhecimen- ‘os — para que possamos analisar 0 contexto em que vive- ‘mos, em que educamos, no como forma de absorcao da nova realidade, mas sim como forma de analise critica desta. A Orientagao Educacional ¢ parte de um todo, assim ‘como a propria Educacdo. Esta € a proposta deste trabalho: uum futuro que se faz presente, Em termos atuais este curso ainda no foi realizado ‘nos ultimos cinco anos, ‘As dobras, oreal eo imaginério em Orientacio Educacional Entende-se por dobra (do latim duplare): tornar mais. ‘completo, mais intenso; volta ou virar um objeto de modo que uma ou mais partes dele se sobreponha a outra(s). Entende-se por ral (do latim real, res, rei, coisa, coisas) adjetivo, o que existe de fato verdadeiro; opoe-se a fctci, ideal, ilusorio etc. Entende-se por imaginario (do latim Jimaginavius) adjetivo, 0 que 86 existe na imi ‘tu. sério, fantastico ‘Tomamos por real aquilo que esta acontecende objeti- vamente nesse campo, seja em termos da pritica efet da logislagdo pertinente ou da fundamentagao tedrica exi- sda. Por imagindrio gostariamos de apontar os dados m significativos que ficaram (ou ainda se estabelecem) na imaginaglo das pessoas quand® falamos em Orientagao Educacional, sobressaindo as questbes relacionadas as ex- pectativas dos professores, dos pais e da escola em geral ‘As dobras tém por sentido mostrar que, muitas vezes au ‘mentadas, as agdes da Orientacdo foram, na realidade, di- recionadas para outros setores, ou foram traduzidas como {neficientes para um processo politico/pedagogico. Esse esdobrar da Orientacao nao quer, apenas, mostrar sua {mportancia no cenario educacional brasileiro, as suas dif- cauldades, dilemas contradigdes ou propor novos caminhos ‘para esta area. A finalidade ¢ debater uma nova leitura da Orientacao a partir da contextualizacio do espago-tempo ‘em que a educacao se desenvotve, tentando mostrar que 0s aualidade, das minorias, das nacionalidades, das etnias, dos terrtorios, da Inta pelo poder, das exclusoes, das questoes do trabalho, da fome, da miséria et. Essa problematica, por ‘outro lado, repercute e também recebe as influéncias dos ‘varios espacos institucionais em que atuamos, quaissejam: 4 familia, a propria escola, a igreja, os sindicatos, os hospi tais, a midiaete. Esse tempo que alguns autores caracterizam ‘como modernidade tardia ou como pos-colonialismo apre- senta uma grande reflexibilidade (Giddens, 1992; Giddens, ‘Beck, Lash, 1997) sobre suas principais tematicas. A todo 0 ‘momento somos impelidesa pensar uma série de iniciatvas que devemos tomar, ou a pensar como damos conta das nnossas atividades ¢ do tempo para realizi-las, ou a pensar como temos de fazer para mur o que precisamos, enfim, ‘pensamos dreta ou indiretamente a partir de nostos valores, Da mesma forma que nos questionamos (ou procuramos ‘nos questionar) como devemnos agi, o que devemos saber/ saber fazer nesse universo que habitamos, também nos ppreocupamos com a identidade que hoje devem ter as ins- titwigdes, em especial com as quais atuamos. Todos saber, por exemplo, que a famiia de hoje no ¢ a mesma de cin- ‘quent, quarenta anosatris; ea escola, ¢amesma? Mudaram os curriculos ¢ os programas; eo seu interior, manteve.se 0 :mesmo ou houve avancos ou recuos? A nossa vida pessoal tem afetado a vida em comunidade, assim como tem possi- Diltado que revistissemos outros periodos da historia veri ficando as alteragbes entre ambos (Giddens, 1992) ‘As rmudancas ocorridas na sociedade contemporinea, as rapidas transformagdes no mundo do trabalho, o avango tecnologico vao incidir diretamente na escola, aumentando encunccannscour ° > ‘ver mais seus desafios entre 0 ensinar e 0 aprender, ‘0 viver © o conviver, entre informar e o formar, ‘0 reproduzir ¢ 0 criar. Esses sio alguns dos desafios ‘podem tornar a escola um espago de conhecimento, também de formacéo do sujeito. Quando pensamos na sla, fica muito simples, ou quase simples, pensar num Jo, num programa a ser cumprido, onde por certo “teremos as priticas e culturas pedagdgicas (hoje ainda tra- “dicionais) que apresentam os indices de retencio, evasio, “acentuando a exclusdo social, O grande desafio ¢ como ‘podemos educar nossos alunos promovendo a busca do "saber, do conhecimento, das diferentes vias de acesso a este ‘conhecimento, mas sem deixar de lado a formacao do su- Jelto, portanto, propiciando-thes um desenvolvimento hu- ‘mano, cultural, cientifico, tecnolégico, de modo que, pelo ‘menos, tenham condigdes de enfrentar as exigtncias do, ‘mundo contemporanco. ‘Podemos perceber um carater ‘multe interdisciplinar ‘que interage nessa escola. Precisamos estar atentos ao que ‘outras éreas de investigagao tem a dizer sobre nossos alunos €€ professores, sobre gestio da escola, sobre pais, familia e ‘comunidade; precisamos sair do olhat, da dimensao tnica da escola e ir buscar conhecimentos também em outros Segmentos que estudam ¢ pesquisam a drea. Se voltarmos -o olhar apenas para a escola, precisamos saber como se dimensionam as relagdes dentro da escola, como é apreen- ido o conhecimento, as redes de conhecimento, as questdes da construcao da subjetividade. ‘Ao péfisarmos na escola enquanto fonte/organizagao de um saber a ser apreendido, onde esta inserida a questo, a escolaridade, as questbes que a ela sao dedicadas podem, ser listadas, entre outras, como: a proposta metodol6gica, ‘ocurticulo, a avaliaglo, 0 cotidiano escolar, os procedimen- tos metodologicos, as relagies interpessoais, o contetido ‘escolar etc. Ao pensarmos, porém, na escola como um es- ‘paco também (e principalmente) de educagao, as questoes Doisicas a serem listadas seriam: os valores/principios; a formagao do sujeito (construcio da subjetividade); as rela- Bes com a sociedade, com o mundo do trabalho, com oxeu proprio sentido de vida, Se os conhecimentos hoje cami- ‘ham, sio construidos de formas diferentes e nio lineat- ‘mente, também os acontecimentos das quais participamos nna vida nao ocorrem de forma linear e sucessiva. Nesse sentido, percebemos o que Morin (2008) denomina de com- plexidade nesse contexto atual, mastrando-nos que 0s co- ‘nhecimentos surgem da complexidade social mas, por outro lado, eles vio incidir na propria complexidade social Com as mudangas ocorridas em todo o século XX, em. especial nessa ultima década, a questo da educagao reves- tiuse de outra abordagem diferenciada. © mundo hoje tende a ser visto na perspectiva da globalizagao; vemos surgir a cada momento novos produtos, novas descobertas ‘no campo das novas tecnologias; a sociedade vive numa dimensio em que se denominou chamar de pés-modemni- dade, onde as incertezas, vidas e a propria cientificidade ‘esto vivendo o que chamamos de crise de paradigmas. No ‘campo da politica, observamos um contexto neoliberal a organiar uma nova proposta de Estado e de suas ag0es. Poderfamos ampliar nossa reflexio, dialogando com Eric Hobsbawm (1995), no seu livro A era dos extremos, que ‘mostra o que aconteceu nos anos finais do século XX, onde sobressai, entre outras afirmagdes, a questo da familia (0 que é a familia hoje?); a busca de uma eterna juventude, a ‘busca de uma felicidade imediata © a questo da religiost- unc cencANAESONA ® ° dade, em que a transcendéncia, em termos da espiritual- Gade, se manifesta de diferentes maneiras. Ora, & com esse feontexto, & com essa realidade identificada em alguns ‘pontos, apenas, que realizamos nossa tarefa de educar, soja ‘na escola, seja na familia. Muitas davidas nos ocorrem \do queremos desenvolver esta tarefa da melhor ma- De een cries nieeo ace casos om ‘a questo de acesso facile rapido a informagao, nos a perceber que a complexidade da educagao no esta Jque se passa na televisio, nas minisséries, nas festinhas 8 ovens, no consumo exacerbado, na falta de limites, na ta de responsabilidade dos ilhos, na reclamacio perma- ite destes, na falta de tempo para organizarmos nossas ‘vidas, entre outros. A complexidade reside em como dar “conta de tudo isso sendo capaz de educar satisfatoriamente. » também, & um papel da escola. [Nao temos regras fixas que, se seguidas rigidamente, ‘nos levar aos resultados mais eficazes possiveis na edu- 0, Entretanto, gostaria de identificar alguns pontos que permitirdo analisar,refletir discutir sobre a questao da Sio eles: ‘+ Educar ¢estabelecer limites, portanto, educar nio & deixar os filhos/alunos fazerem todas as suas vonta- {des/necessidades; educar pressupoe determinadas ‘oriemtagies a partir dos valores com os quis o edu- cador se identifica; ‘+ Educar nio é apenas ensinar, instr, e sim formar, {nformar, ajudaro outro na construgdo da sua propria subjetividade; © Educar ¢ dialogar, conversar, argumentar, reletir Junto com os alunos sem ter uma opinido fechada ‘como verdadleira e inica, mas dando a oportunidade para que a formagio do seu filho ocorra pelas con- ingéncias da propria vida, o que supte contradigies contfitos; * Educar 6 tarefa da escola, que nao pode e nao deve apenas se preocupar, se envolver com o conhecimen- ‘to de um saber programado, mas sim de um conhe- ‘imento que forme o sujito para ser capa de pro- duzir, pensar, amar, sonhat e de trabalhar para um ‘mundo melhor. ‘Um dos pontos mais significativos nessa reflex e que ‘merece varios capitulos a parte (mas ndo pode aqui ser esquecido) ¢ a questio da educacao e da tecnologia ou, em ‘outras palavras, como se educa na/com a subjetividade no ‘mundo ~ cada vez mais amplo da objetividade tecnoldgica, ‘A Orientagio tem e deve considerar esta relagSo até porque (0s alunos cada vez mais vivenciam — e trazem para a esco- Ja — toda a amplitude das novas tecnologias, que muitas vores ele utilizam/experienciam com mais facilidade e propriedade fora da escola, Como tentamos demonstrar,o mundo contemporineo iudou, apresenta grandes transformagoes,e elas incidem bre todos os espagos da sociedade. A escola, enquanto permanente de conhecimentoseaitudes. incerta, uma das caracteristicas dessa pos-modernidade em que fivemos, amplia os confliose desafios que temos que en- “frentar. Ao identificar a importincia dos especialistas na fetcola, no ofazemos pela citrio da justifcativa, mas sim da necessidade e ds evidencia de uma ovtra escola para ere ee econ ‘Areditamos que houve um excesso de um discurso lpontando para a nio necessidade dos especilstas nas "colas, ‘avez até por ignorarem o seu verdadero sentido xtrapola funcbes c/o atvidades a serem cumpridas. “Osalunos devem ser cbservados muito mals doque cjetos, Iimeros que constituem os diros de clase; sto pessoas fae esto ve formando enquanto estio ve informando no das escolas. Spodemos escrever uma nova hist se aredtamos om conar/constrvir otra historias para novos tempos. Defendemos que aescolaque tems pode {conta de ensinardeterminado conteside para acu alu- ‘mas ndo dara conta de formar o seu ano se nBo con- fam a colaboracSo de outros especialisiasslém de seus sores, Cada tom uma taefn expects, asim como “orientadores e supervisors, mas todos tem de estar com Ptomefidos com a educagao no seu sentido mais amplo € €pistemoldgico. ‘Aponto, a seguir, as mudangas que devem leva aes ola repensar suas fungdes e/ouatribuigBes, assim como as questdes basicas que devem fortalecer as politicas pi- Dlicas da educacao a ter uma educagao de maior qualidade ‘no nosso pas. Orientadores e supervisores no serio res- ponsdveis apenas por essa transformagao, mas serio os antfices da construcao de um novo tempo, na qualidade ‘de mediadores articuladores do processo eduicacional, Suas taefas principais,além do conhecimento especifico, padem ser vistas na trilogia pensar/tefletir; discutit/analisar, pro- uzir/riar Entre as principais solicitagées, hoje, que precisam ddesse conhecimento dos especialistas, esti: ‘+ as redes de conhecimentos, em que novos campos Cientificos estio sendo criados, como a ecologia, a informatica, a bioengenharia etc; ‘as redes socias, que levam os alunos/individuos a ampliar,significativamente, 0 seu universo de rela- ‘98es pelas inimeras formas de atuacio, como Titer, Facebook, bogs, sites ee; as novas tecnologias, ampliando cada vez mais 0 ‘mundo virtual, com novas formas de comunica ‘+ as novas politicas, que deixam a ago do Estado me- nor eas decisbes maiores a ser tomadas pela propria sociedade; ‘os valores e principios, que nos tempos de incerteza tendem a se tomar diferenciados pela sua propria dimensio; ‘os grandes desafios trazidos pela familia, pela propria, escola, pelo aumento das seitas religiosas, pelos si dicatos ¢ agremiacoes; + as Linguagens, o consumo, as escothas, os conceitos ncn rea nasscou ° Inimeras sio as mudancas e, se no tivermos especia- no teremos quem pense a escola, seus alunos, seus professoras de maneira grande, global e inter- iplinar. Elessio indispensaveis a escola pelo que sabern ‘epelo que fazem como que sabem. Une-os ideia de traba para a edueacao de forma integrada como se fosse uma ‘de conhecimentos, acdes e sentimentos, Nao podemos 4 razdo da emogdo enquanto partes de um todo — tespecialista,fazemos esta juno nao de forma apela- ‘a sensitiva, mas sim de forma coerente e prudente. Queremos uma escola que avance, que ajude 0 seu ‘aluno, em especial, a crescer, cria, pensar, agir decidir, seja capaz de ajudar na caminhada de um mundo me- Thor e, para isso, a escola nio deve ser apenas um espaco “de tempo para aprender, mas um espago de vida para viver " e conviver, para crescer e entender o softer para querer € " para entender e fazer, para perceber e compreender ‘gue 6 0 ser humano ¢ capaz de ser uma pessoa que pode f deve ajudar 0 outro, que 86 0 ser humano é capaz de Cconstruir a sua propria historia de vida. Para ajudar essa “pessoa ¢ que nds especialistas somos convidados a partici- ‘par. Tenham a certeza que nosso trabalho, mais do que nunca, nos dias de hoje, mais do que necessério, & impres- ‘indivel. 0 tempo dird da nossa realidade, Sejamos capazes, Juntos, de contribuir para a construgao de um novo tempo, ide uma nova realidade social, de uma nova ordem social, ‘onde haja ética © a verdadeira cidadania. Os rumos da educagao e a contribuicao da Orientacao Educacional ‘A Orientacio Educacional é uma pritica pedagogica que se desenvolve — como ja vimos ¢ abordamos — nas fescolas e que tem por finalidade atuar especialmente junto 40s alunos na construedo de suas subjetividades, assim como favorecer as relaghes pedagézicas que se desenvolvem no {interior da instituicSo, favorecendo relagDes ¢trabalhando fem prol de uma educacao de qualidade, (© mais importante, nos dias de hoje, € pensar esta Crientagio numa visio contextualizada, procurando res- ponder as perguntas bisicas de uma educagdo critica € ‘consciente que promova, de fato, aformacio da cidadania. ‘A Orientagao tem um compromisso com o saber do alto, sets conhecimentos, a apreensio dos contetdos, as meto- ologias, as avaliagSes ete, mas também e principalmente ‘com a formacio do sujeito no seu processo permanente de vvira-ser, Ha uma preocupaglo que transcende a questio do aluno em si e todas as formas que envolvem 0 processo ‘ensino-aprendizagem; o espago da Orientagao esta voltado pata a questio do sujito que esta inserido na propria con- prone renner * ° jode ser aluno, Nossa propostaé refletir sobre a pritica “da Orientacio no contexto da nossa realidade educacional “¢, portanto, da nossa realidade politica, historica, social e ural Como a Orientagio Educacional ocorre basicamente interior da escola, precisamos analisar cada momento “dessa ¢ cada uma de suas atividades. Devemos considerar ‘gue tudo que acontece no interior da escola nao é mera- ‘mente técnico-administrativo ou metamente pedagdgico © ‘sim, antes de tudo, uma integracao de todas as éreas dentro ‘de uma dimensao politico-pedagésica. Para que possamos entender a pritica da Orientaco ‘hoje, devemos analisar no $60 problema educacional, mas " o problema historico no qual ela esta inserida, no contexto ‘atual, A Orientacdo ndo & mais uma atividade dentro da escola; ela tem uma proposta, ela se constitui numa area ‘da maior importancia para o desenvolvimento das tribute ‘eBes e dinamicas da propria escola, ‘Durante muitos anos a Orientagio foi entendida como tum servigo de apoio aos alunos, com um vies bem assisten- ‘lalista, partindo do pressuposto de que 0 aluno com pro- ‘blemas deveria ser atendido na escola para ter melhor de> “sempenho como aluno da escola. Atualmente a Orientacdo ‘rabatha mais com o enfoque de ajudar na formaca0 do "sujeito, na perspectiva de formagio da cidadania, compreen- ida esta como a formacio do aluno para que ele sejacapaz de decidir, participar, anaisar e refleir sobre suas ages © decisoes. Osroblemas apresentados na sociedade, comoaques- " to dos valores, da violéncia, das normas, dos eritrios so- ais, das discriminagées etc., devem ser trabalhados no {interior da escola pela Orientacao Educacional, procurando ‘também identificar e compreender os proprios mecanismos da institwicao escola. Numa visio bem abrangente, mais plena, o que queremos ¢ oferecer e analisar as condigoes {que promovam a formacao da cidadania, de cidadania acompanha a historia em suas diferentes acepcdes, © hoje quando falamos numa escola democratica fica em aberto a questo da formagio desse ‘idadao ndo 66 para 0 mundo atual como para o futuro. A cdo politica da escola passa por dois aspectos a socializagao do conhecimento ea questio da democratizagio das relagbes da escola com a comunidade, da escola com a familia das relagdes internas da escola, Enquanto a Orientacio Educa- ional trabalhava isoladamente, em atividades fragmenta- das, essas questdes nao tinham wma repercussio maior na pritica da Orientacio. A Orientagdo se preacupava mais com 0s alunos problemas ou com os problemas desses alu- nos. Hoje sua tarefa, no sentido de abertara, é muito maior, com o comprometimento de todos o8 alunos, ¢ no de al: nos especiais. Historicamente a Orientacio tinha um papel comple- ‘mentar na escola; preocupavase mais com as questoes de ccunho psicologico, chegando mesmo aser vista numa abor- ddagem terapeutica, Hoje pretendemos uma Orientacio mais critica, pedagégica, que promova a vez ¢ a vor aos altos, que insira a questao do trabalho em todas as atividades que focorrem na escola ¢ que discuta acima de tudo a nossa propria sociedade, na sua conjunturaeestrutura.e, também, as questdes do préprio aluno como pessoa. Devemos, por- tanto, trabalhar muito os valores dos alunos, da escola, da sociedade, incentivando cada vex mais a sua participagio dentro e fora da escola. Como exemplo, citaria 0s contros cestudantis, os grémios na escola e mesmo a contribuicao/ Oconee v incentive aos alunos em atividades e realizagées na propria ‘sociedade, em especial quando envolvem questdes relacio- ‘nadas a cultura, a esporte c ao lazer. ‘A questo da cidadania se coloca, pois, quando se iscute a democratizagio da escola, nas suas relacdes € nas relagbes com a sociedade, de forma que se formem futuros cidadaos conscientes, criticos e participativos, Nossa proposta, neste momento, & pensar o que, por ‘que c como devemos realizar a Orientagao Educacional que _ atenda aos reclamos do tempo presente prepare os alunos, ‘enguanto cidadaos, aviver numa sociedade em constante ‘wansformacio. Pretendemos responder a essas perguntas basicas © spresentar uma proposta de trabalho para uma Orientacio ‘mais pedagogica e que propicie as alternativas¢ estratégias _ para uma educacdo eritica, consciente e transformadora ‘© que é— afinal — a Orientacéo Educacional? ‘Inimeras so as deinigbes da OrientacZo Edueacional, desde 0 seu conceito eximologico, em que reforca 0 conceito de educacio na sua adjetivagao, até 0 conceito mais politico f pedagégico, que a instala numa atividade no interior da ‘escola, com papéis de mobilizagio, mediaco e colaboracio. Ela se torna mobilizadora quando favorece osurgimen- ‘tp de caminhos para o estabelecimento das relacdes ped: ‘B6gicas na escola; mediadora quando faz a *ponte" entre a ‘escola e a sociedade, trazendo para a escola 0 curriculo de ‘vida do aluno; ¢ colaboradora quando ajuda, principalmen- te, 0 aluno na consecucio dos seus objetivos. pritica assistencialista, paternalista, ingefua neutra; trabalho de gabinete de Psicologia; apaziguadora de confit, briga ¢ discussbes den- to da escola; solucionadora de problemas dos alunos e da escola; promotora de ajustamento do aluno a escola, a fix iifiae a sociedade; promotora de tim aluno idealizado pela escola ow pela familia; _a rea que s6 atua com os aspectos psicologicos, por ‘exemplo, em termos da escotha profissional; ‘executorado planejamento curricular desenvolven- do suas tarefs que ocorrem na escola, sem integra (910 com as demais areas considerarse acima dos professores; ser um técnico em relagaes interpessoais ou cor- diais na escola; ser um inspetor quaificado, identificando proble- ‘mas, indisciplinas, pritica independente, «© noespaco, na escola isolada, dispersa no tempo pritica politica pedagégica; pritica contextualizada; \rabalhar oaluno como ser real, concreto e historico; ‘sahalhar conflitos,papéis, fendmenos de grupo que {nterferem nas relagdes que se do na escola; realizar um trabatho de interdisciplinaridade com os demais membros da escola; atender ao aluno, vendo-o numa relagdo dialética ‘entre 0 global ¢ o individual; pensar na questio do trabalho como uma atividade ue ocorre no interior da escola; refletir a questio das aptiddes/interesses na escolha vocacional; pparticipar do processo de integraco escola/famlia fe sociedade, visando a participacdo de todos nas decisbes da esc contribuir para a formagdo do homem critioo; levantar dados da realidade como forma de contribuir para melhor compreensio do contexto e, por conse guinte, do aluno; intervir no processo de ensino-aprendizagem com a visto globalizadora da educacio; assessorar a diroglo da escola, esclarecendo a linha filosofica coetente com a escola, discutindo valores ‘Tubjacentes a pritica educativa; levar os alunos arefletir sobre os problemas do con- texto atl, apresentando propostas de solugées para enfrentamento desses problemas; + sor um profssional competentemente tecnico, mas também competentemente sensivel a subjetividade dos alunos © com compromisso politica — muito srande ~ com a educacio; ‘+ clatificar aspectos e contradigBes que sio refletidos za escola e que caracterizam a comunidade escolar, ‘+ tabalhar com a comunidade, buscando abrir cami- ‘hos para sua participagao efetiva na escola; ‘ colaborar efetivamente no projeto politico-pedago- ico da escola; Por que a orientagao educacional, nas escolas? Poderiamos tratar esta questo fazendo uma andlise hhstorica da Orientagao, identificando os seus “porqués ao longo de sua trajetoria educacional. nicialmente voltada para os interesses do aluno, mas ideologicamente compro- ‘metida com os interesses do governo, a Orientaglo teve ‘uma longa e dificil travessia no decorrer de mais de seis décadas de sua existéncia, Atualmente esta resposta estara voltada a uma neces: sidade de ajudar a escola, nas suas mdltiplas aividades, a realizar seu projeto politico-pedagégico. Temos de nos spar com 0 aluno, mas Paluno que vive em 2013, asl gigante, com tantas riquezas e desigualdades. 1s de nos preacupar também com 0 mundo onde vive aluno, onde alguns fatores so mais do que significati- ‘como a globalizacao, as novas tecnologias, as mudancas. ‘proprio meio ambiente. Nao cabe aqui identifica, co- 1; a Orientagl0 vai mais longe, procurando analisar Jcompreender esses fatores com os alunos erefletirde que ‘o individuo deles participa ou deles recebe as influén- ‘conscientemente ou nao. ‘A Orientagio deve ajudar o aluno na sua formacio, a ide que ele seja independente e possa participar da so- Je com mais autonomia e consciéncia critica daquilo faze realiza Precisamos para isso rever nossas atividades & nossas is de maneira que os tumos dessa formacio sejam tes com as finalidades que se pretende alcancar. (© mais importante é discutir qual €a filosofia da escola, -que esta existe, quem é sua clientela e quais os valoresque. (0 fio condutor desse novo tempo da Orientagao 60 ‘ourriculo, aqui entendido como o conjunto de atividades pla- "nejadas pela escola, em todas as reas, nBo 6 dos contendos, " mas da formacio do sujito. Sou favordvel que cada escola “tenho seu curriculo, adequado aos contextos e valorizando ‘os dados signifcativose particulares a cada escola, © porqué da Orientacto hoje & pensar no espaco da ‘escola como aquele que propicia 6 surgimento das poten- Gialidades e que oportuniza ao aluno ‘aprender a aprender’, ‘que ocorre dentro e fora dela (© florqué da Orientacao & que ela deve proporcionar ‘meios para que a escola seja um espaco de vida, em que os alunos se sintam felizes em la esta. Diz George Snyders (1993, p. 13), no seu livro Alunas Felice: -Aacola preenche duas fangbes: prepara o futur ategurat 0 aluno ae alegriaspresentes durante os iongussimos anos de ‘escolaridade que a nossa eiviizago conguisto para ee. A Orientagio hoje deve estar atenta a discutir, refletit ceanalisaros problemas atuaise a‘orientar*o altunoa viver ‘ presente, espeitando o passado, e ter acesso atum conheci- ‘mento que o prepare para o futuro, nlo numa visio magica, ‘mas sim entendendo o real e 0 *magico™ que preenchem 0 ‘mundo que vivemos. O futuro, se pode nos surpreender, também pode ser construide pelo que vivemos, aprendemos « desenvolvemas no tempo presente, Intimeros pontos, no momento atual, dentro da escola, estio a metecer uma andlise mais profunda para implanta- ‘fo ou implementacgo de novas ideias que atendam a novas necessidades e interesses que estamos vivenciando, A Orientagdo poderd fazer uma patceria com todos os prota- ‘gonistas da escola para que seus objetivos sejam efetivados, 4c acordo com o projeto politico pedagogica existente, Queremos chamara atenedo de que a orientagio deve ‘se posicionar numa dimensdo de movimento, numa dimen- ‘Go dialética, permanente, A orlentaglo deve ficar atenta as vozes dos alunos, que deverio ser ouvides, pois 86 par- 'icipando da escola e com a escola é que poderdo exercitar ‘que é participar na e com a sociedade. ‘Transferesse, pois, o ixo do trabatho de uma orientacao distanciada da escola para uma orientagdo comprometida com a pedagogia desta. A pritia, hoje, é muito mais inter disciplinar do que individual, uoncnnEEeANASco ° ° Devemios trabalhar com as desconfiangas, com as in- ‘ertezas, com as dvidas diane das verdades instiuidas mais do que nunca a Orientagdo deve atuar junto com alunos ¢ professors plas vias da relexzo, do exercicio do pensar A interdisciplinaridade toma-se possivel quando 0 ‘outro € possuidor de seu proprio olhar e a perspectiva de "sua lente constroi a realidade sob outros angulos que no ‘lo 0s nosso, Is0 mio significa incorrer em relatvismo do anhecimento, mas sim superar esfogos de dogmatizacao, © trabalho inerdisciplinar da Ovientagdo nd se cons- ‘tui numa cotcha de retalhos, onde cada especiaista vai clocando o seu pedago, outro costurando, até que a colcha fique pronta. A imagem mais proxima desse procedimento “ metodolésico ¢ a do caleidoscdpio, em que os pequenos ppedacos diferentes de si mesmo compiem uma figura mo- salca extremamente nstvel. Basta um pequeno movimen- to ¢ novos arranjs se configuram, criando novas imagens. " Eimais como um jogo no qual as informagoes de cada es pecialista se combinam, mantendo-se a diversidade, a des ontinuidade e os espacos vazios. O que pretendemos & resguardar a possibilidade de maior exploracao das poten- Galidades dos alunos, da identifcacdo e compreensio de ‘ua realidade, da superacdo desta, apostando-se sempre na " ampliacio do conhecimento e das suas relacoes. ‘Numa orientagdo atual,contextualizada, queremos ajudar o aluno a pensar, falar e eriar, queremos darthe a possbilidade de se conhecer de estabelecer ou procurar ‘aminhos que vabilizem sua trajtoria fara (pelo menos nna. aquisicio de maior independéncia e conhecimento dos fatores que interagem numa competitividade). ‘A Orientacio hoje busca interfaces com outras areas de conhecimento que nio os seus especificos. Vivemos atualmente com uma geraglo magnetizada pelo discurso imagético, que convive com outras priticas de leitura do mundo. Nao podemos desconhecer essa rea- lidade, esses novos modos de pensar e de fazer 0 conheci- ‘mento acontecer, ‘Acreditamos que a melhor resposta a pergunta propos: taseria aquela que mostra uma pratica que ajude os alunos, principalmente na sua traetdria de construgo de um mun- do methor, mais humano e mais fraterno. F isso ninguém pode fazer sozinho, Gostaria, entretanto, de chamar a atencio para esse trabalho conjunto da escola, em que a orientagao mais vol- tada para os alunos no desconhece nem desmerece 08 ‘demais fatores que atuam na totalidade de sua formacao, entre as reas que justificariam a Orientaga0 no con- ‘texto atual, poderiamos listar as questbes a seguir relacio- nnadas, para as quais a Orientagio, através dos seus orien- tadores, poderia fazer uma parceria com os demai rotagonistas da escola, visando a consecugao de suas fina- Tidades no momento presente. Entre tantas éreas, podemos destacar © aescotha da profissdo ea tomada de decisio numa ‘dimensio critica contextualizada; (0s novos avangos cientificos e tecnologicos; as relagdes pessoais ¢ interpessoais as questes pertinentes ao mundo da comunicacao; ‘0 mundo imagético e as novas formas de comuni- cacao; a construgio do conhecimento; as formas de leitura do mundo; nooo a 0 a pogoo oo00 9 ° as difereneas¢ contradicdes entre os individuos © erupos; 0 trabalho seus valores; 2 etca nos diferentes contextos as ocorténcias no mundo atua ea anise da reali- dade, como 08 problemas relacionados a drogas, sex, Aids etc cs valores emergentes numa sociedade em madanca; 4 alegria da escola e a motivacao dos alunos para estudar, as motodologis de estado eas priticas relacionadas ‘aprender a aprender, 10s desafios do mundo presente (guerras, conflitos, miséria, violéncias et); ‘os conteddos que a escola deve transmitr; 4s avaliagSes: institucional, da aprendizagem; as relacies pedagcas; 0 desejo, 0 real, 0 possivel as questdes bsicas da escola: 0 sucesso € 0 fracas: 0 escolar, a evasio e repeténcia; as relagtes de poder; as maliplasinteligencias; modernidade ou pés-modernidade; 4 questdo da qualidade da escola, a qualidade do 4 quesizo da cultura: formal e informal; de eit © informal; a questao da criatividade; as diversas expressdes da ante. Acreditamos que essa pequena “amostra" ja exemplifi- ce2.a necessidade de termos na escola um profissional que auuile, que colabore com os demais para discutir, analisar € prover as condigdes (pelo menos possiveis) de melhor formar o cidadio, ‘Como fazer Orientacao Educacional? Durante muito tempo aprendemos o “como fazer" ‘Orientagao por meio de um instrumental técnico baseado, principalmente, nas técnicas que favoreciam propostas de ‘uma linha psicol6gica. Nesse sentido flotesceram entre nos tum como fazer voltado para as praticas de aconselhamento, de um modo geral, Surgem e tém um “longo reinado" os testes psicol6gicos, os questionsrios, os sociogramas, as f- chas de observacio, as fichas cumulativas, 0s testes de in- teresse, de aptidao, os inventarios, entre outros. [Na linha do trabatho em grupo, o como fazer a Orien- taco estava apresentado nas sessées de grupo, em que 0 orientador discutia um tema (geralmente de escotha dele), seguido de uma técnica de dinamica de grupo. © trabalho fem grupo tinha (ou tem) na escolha do representante de ‘uurma — escolha esta acritica — uma atividade bisa, ‘Outra forma de se trabalhar “integrado* podia ser en- ‘contrada nos planejamentos justapostos da Orientacio e da ‘Supervisto Escolar que, na realidade,tinham pontos comuns ‘quando se tratava da escola, mas realidades distin quan- do se tratava de suas aividades especifcas. © ponto alto dessa atividade integradora entre especi Iistas professores ocorria nos Conselhos de Classe que, em a sns momentos, parecia um teatro dos absurdos (soman- letras/conceitos para mais ou para menos), em que Jmaginério dos professores, de um modo geral, aparecia, (Orientador para contar dados sobre a “vida dos alunos’ (0 “como* a Orientagio ocorria dependia quase de um ituério* em que s6 mudavam as doses, pois o modo de fra sempre o mesmo. O contexto, a historia da insti- ‘uicio, as avaiagies nao eram mencionadas explictamente. “fim um momento da nossa historia, parece que os grémios, "as associaqBes, os grupos (para determinados objetivos), 0 “teatro, as competigées, deveriam ser abolidos, ou pelo me- “nos foram esquecidos em nossas escolas. {6 muito dificil falar em como se faz a Orientagao sem ecer de perto as caracteristicas, as peculiaridades, 0 jto poltico-pedagdgico da escola. Bntretanto, ha que se ar um consenso nessa pritica da Orientagdo que se ‘mais critica, questionadora e colaboradora num 19 de mudanga e transformagio. Alias, convém lem- ‘que o proceso ¢ um meio e no um fim. Tem resulta {do, sim, que ¢ importante que se atinja na escola, que ¢ a ‘posse do conhecimento que o aluno vai buscar na escola ‘Como, entio, fizer com que a Orientacdo possa res- ‘ponder aos desatios propostos na pergunta anterior? Que- ‘remos enfatizar que os pontos que vamos assinalar,a seguir, {ntegram um rol de atividades que ocorrem sempre na es- ‘cola, mas que devem merecer hoje uma nova postura da Orientacio, CConvém salientar que a pritica da Orientaglo esta na frea eductcional, portanto, pedagégica, € no na area psi- ‘olbgica, enfatizando o lado terapeutico e analist Dividiremos esse *como" fazer a Orientagao em dois, ‘stupos para a nossa apreciaglo posterior, evidenciando a ‘ado © © compromisso da Orientagio como 0s novos (ou ‘velhos) fazeres na educacao, No primeiro momento, salientamos as questdes técni- ‘co-pedagogicas da escola, que podem ter no Orientador um profissional ertico e atuante. No segundo momento, pro- poms trés areas de aco para o Orientador, de modo que ‘caminhe paraatravessia de um novo tempo, para uma nova Inistoria da educagio e da sociedade. Primeiro momento Questties relacionadas com a dinamica da escola Entre outras questbes, teriamos: ‘+ hordrio da escola (horirio intogral ou parcial) ‘+ organizagao das turmas(niimero de alunos por turma) ‘+ matricula dos alunos * planejamento escolar * curriculo ‘eurriculo oculko * professor * funcionarios (pessoal técnico-administrativo) © pais © comunidade ‘= trabatho ‘+ metodologias * avatiagio * consetho de classe © tividades extraclasse Levar, em especial, 0s alunos a + Pensar > atividades relacionadas a reflexao, a dis- ‘eussio ¢ a andlise de conhecimentos © conteidos ‘que possibilitem fazer pensar; «+ Falar > atividades relacionadas a expresso dos co- ‘nhecimentos e sentimentos, ao dominio das formas de se expressar e 8 analise dos significados e signi- ficantes; Cilar > atividades relacionadas & expressio da cria- tividade, aproximando arte e educacio num momen- toda assimilagao de nossa cultura ena possibilidade de se criar novas “formas de cultura. ‘Ao término dessa reflexio sobre Orientaglo Educacio- sgostariamos de renovar a énfase da importincia dessa “rea na escola no como uma imposicao legal, mas como “um espaco em que poderemos ajudar/colaborar muito com ‘ outro (seja 0 aluno, a escola, os professores), junto com 10s proprios Orientadores a estarem mais criticamente for- ‘mados para o exercicio de suas fungdes e realizacao de seus apeis. © trabalho da Orientago ¢ dificil mas nao impossivel, ‘tenho cefteza absoluta, A Orientagao contribu para os ru- ‘mos de uma nova educagio que pretende nio apenas ser {nformativa, voltada para o processo ensino/aprendizagem; cdo € 0 compromisso da Orientacio como 0s novos (out velhos) fazeres na educacto, [No primeiro momento, salientamos as questies técni- corpedagdgicas da escola, que podem ter no Orientador um profssional critico e atuante, No segundo momento, pro- pomos trés reas de acdo para 0 Orientador, de modo que ‘aminhe paraatravessia de um novo tempo, para uma nova historia da educacao e da sociedade. Primeiro momento ‘Questdes relacionadas com a dindmica da escola Entre outras questbes,tertamos + horario da escola (horirio integral ou parcial) ‘+ organizagao das turmas (rimero de alunos porturma) ‘+ matricula dos alunos planejamento escolar curiculo oculto * professor * funcionsrios (pessoal técnico-administrativo) = pais + comunidade * trabalho * metodologias * avaliagao * conselho de classe ‘+ atividades extraclasse ercannesc e ‘© atividades socioculturais, ‘+ projet politico pedagdgico da escola LLevar, em especial, 0s alunos a + Pensar ® atividades relacionadas & reflexio, a dis- ceussio € & analise de conhecimentos e contetidos que possibilitem fazer pensar; «+ Falar > atividades relacionadas a expressio dos co- ‘nhecimentos ¢ sentimentos, 30 dominio das formas de se expressar ¢ & andlise dos significados ¢ signi- ficantes; + Ctiar > atividades relacionadas & expressao da cria tividade, aproximando arte ¢ educaco num momen- toda assimilacdo de nossa cultura ena possbilidade de se criar novas “formas de cultura’ | _Ao término dessa reflexio sobre Orientaco Educacio- ‘nal, gostariamos de renovar a énfase da importancia dessa “Gea na escola no como uma imposigao legal, mas como ‘um espaco em que poderemos ajudar/colaborar muito com © outro (seja 0 aluno, a escola, os professores, junto com (0s proprios Orientadores a estarem mais criticamente for- _mados para o exercicio de suas fungdes erealizacao de seus apes. 0 trabalho da Orientaglo ¢ dificil mas no impossivel, ‘tenho certeza absoluta. A Orientacao contribui para os ra- ‘mos de uma nova educagdo que pretende nio apenas ser {nformativa, voltada para o processo ensino/aprendizagem; Juma educacio comprometida com os valores, com a ética, ‘com a construgao da subjetividade, com a construgdo da Cidadania. A edueacao na escola nao ¢ apenas para ensinar ale, escrever e contar, mas sim também para formar ho- zens que sejam sujeitos de sua historia, de seu tempo, que ‘tenham possibilidade de desenvolver suas potencialidades, ‘erando e criando novas condigies para ler © mundo de diferentes formas, usar; talver seja a categoria principal de uma nova Orientagao Educacional, mais dinmica e muito mais pe- dagOgica. Partindo do real, 0 Yousar", por certo, pode con- tuibuir para caminhar, para um novo tempo. Nessa traves- sia eu acredito © conto com todos para tealizarmos bem ~ € Seguros — esse nove tajeto, 4 Etica, valores e educacéo A incluso deste capitulo em nosso livro prende-se a0 que a Orientagio Eaucacional basicamentetrabalha com —¢ portanto precisamos refletir sobre a questo ica ea relagio desses valores com e na educagio. ‘A anilise da educacao enquanto uma pritica social 1a aspectos da Btica, da moral e dos valores, tanto formacio de conceitos como nos proprios embasamentos icos necessirios a compreensio daquela pratica. ‘A dimensio ética do ato educativo deoorre de sua prd- ia esséncia, Por ser uma praxis humana, a educacao se na esfera de competéncia da normatividade ética ‘Sucupira (1980), toda educagao envolve multiplas at- ‘que envolvem aprendizagem de comportamentos, Ssaberes tecnicos, a organizacdo de habitos, a formacio |, a internalizacdo de normas e os valores sociais. (0 conceito de edueacio, conforme Sucupira (1980), é, te, “[n] teleologico, valorativo e normative, spondo alguma concepcio ideal do ser humano”. aluno, como individuo, ¢ um ser dotado de entendi- ,ontade, sentimentos e paixdes; os aspectos cogni-

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