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2 formato intellectual do al lds de que aprender &, quasi exclsivamente, decor: Sobresarnegar de noms ¢ datas amen a, dois; dis eds, quat dis Sato Agostino, que guardava de sens ri studs desagradarel presi J. Serrano, 1917 ( que pode ser considerado inovagio? O que nio € inovagio? Enquanto buscamos respostas, questionemos pseudoinovagbes. [Em sua visita ao Panamé, em janeiro de 2019, 0 Papa Francis- co deixou um recado: “As novas geragaes exigem dos adultos uma concuta que demonstre que 0 servigo piblico & sinénimo de hones- tidade e de justiga, contrapondo-se a qualquer forma de corrupgao”. Oportuno recado! Jf em 2010, uma pesquisa alertava para 0 ele- vvado grau de corrupgao endémica no sistema educativo brasileiro. ‘Uma corrupgio que nao se restringe & agdo de mafias da merenda ‘ou do transporte, Nem apenas aquela que enche os cofres de siste- mas de ensino e de empresas fornecedoras de computadores. “Existe realmente cigncias da educagio"? ~ perguntou-me al- guém em um congresso, Expliquei que hé cursos de licenciatu mestrados e dou rados nessa rea. Sio formacées em que, pa se estuda Sociologia da Educagio, Epistemo- | logia, Histéria ¢ Filosofia da Educagio, Neurociéncias, Teoria de | Curriculo, vérias psicologias (da cognicao, da aprendizagem, da meméria.. e muitas outras dsciplinas. E, por isso é insuportivel © obsceno o siléncio dos cientistas da educago perante os desman- dos de gestores, empresitiose politicos sem escripulos além da Pedagogi Ciclicamente, com a mudanga de orientagio politica, muitos dos melhores projetos em curso nas escolas brasileiras sio extintos, O prédio que albergava uma escola com projeto inovador virou co. 1égio militar, oferta da Secretaria de Educacio, A equipe de projeto foi destruida e os professores foram dispersados por nove escolas, Osalunos foram transferidos para outras escolas da regio. Apenas familias com melhores condigdes econdmicas mantiveram os seus filhos matriculados no que se passou @ chamar : “colegio militar” ara tal tiveram que pager mais de mil reais em uniformee mate. | escolar. O que era piblico ¢ gratuito virou mercadoria, Outros projetos, que 0 MEC reconheceu como inovadores, foram extintos sob pretexto de serem caros. Mas as técnicos das Secretarias ndo souberam dizer, por exemplo, qual é o custo a ~ano no seu municipio, 92 na o desperdicio, na Se, no contexto da escola dita pt economia de mercado surgem indicios de atividade lucrativa. Isso , na ini 0, € gasto ini mesmo: aquilo que, no setor p privada € considerado investimento, A comunicagio soci sido prédiga em noticias deste tipo: Una empresa comprou 808 do capital de wma escola de Sa0 Paulo por 344 miles de reais. oro de omprasconsta ain aa aquisigdo de 5% do capital socal de uma escola do Rio de Janeiro, por 7,75 milhdes, bem como a aquisigao de partcipagi mit soma escola de Belo Horizonte A compra de escolas particulares com fama de “boas escolas” um fendmeno mais ou menos recente. Por que seri? Acompanhei uma discussio no Facebook: Com rarasexcegdes onze em cada dez pai Jfilos« educs prova 0 “aluno Porém, aquilo que até hd poucos anos era fendsneno residual agora o é das escolas com a etgueta de “aternativas”... Bu completo: as “alternativas” comegam a ser objeto de deseo de investidores que identiticaram 0 imenso potencial de ex- cho de familias bicho-grilo. fo do pasado, a tal do “en rr, desde pansio de algo que, antes, er Apesar dos receios expressos por bons e preocupados eduuca- dores, no creio que vi mudar o enfoque pedagogico das escolas onde foi investida tuma grana preta Se tal acontecesse, os investido- res correriam 0 risco da debandada de familias que desejam 0 que essa “boas escolas” oferecem, Em outdoors e na comunicagio social, as ditas “boas escolas” atraem clientes propagandeando que adotam “novos métodos” que as sucateadas escolas da rede piiblica nao praticam, Quase todos os professores das escolas particulares fazem “bicos” na rede publica. Bsses professores adotam “meétodos” baseados na filosofia de Stei- net, no modelo montessoriano e em outras propostas centensii 93 cesses “métodos” nas manhas do 8, Por que razio nio pratic s tardes nas escolas da rede publica? facbes! Porque ha inovagées, mas também hd equivocos. A educagio nao é para amadores. Conheso um individuo que adora elaborar rankings de esci 8. Cedo se iniciou nessa admirével arte de hierarquizar, Ainda imberbe, sentiu-se atraido pelas classi- ficagbes dos campeonatos de futebol misses, assoU aos concursos das reteve-se a elaborar tabelas de varias competigdes, até ‘Um engano de alma ledo e cego, ingenuidade que qualquer compéndio de uma nova ed iio deixa durar muito, Quem possuir s rudimentos de docimologia saber quio faliveis sio as provas e como sio prejudiciais os seus efe quem se a retenha em ordenar escolas em fungdo dos resultados aleangados pelos alunos em exames de acesso i universidade, igno- rante de outros modos de avaliar cura desperdiga 0 seu tempo como lhe apraz. E ne- indo fosse conside ade tolices como concursos de “Professor nota 10 professor do mundo’ Mas, no reino da Educagao destacam-se ri culos ¢ nefastos especialistas do marketing educacional Uma ‘que sio “boas escol “Especialistas” e jornalistas, para os quais as ciéncias da edu cagio sio cigneias ocultas, passam para a opinido pitblica uma imagem simplista e deturpada do cendrio educacional, produzin- do propaganda enganosa. Entre o ves tas ditas “boas escolas” produzem aparéncias de api bonsais humanos. Quantos contetides da decoreba dos cursinhos izagem e se transformam em conhecimento ou competéncia apés 0 Enem? Quantos conformistas sio produzidos nas “boas esco cocupar as cadeiras do poder, incapazes de uma postura humanista einovadora? “Ranguistas” manipuladores da opinizo criam bancos de tens, para que os proféssores intensifiquem a ap horas a fio em preparacio para exames, Perante notas depr ago de testes, en- tes, pugnam por mais aulas de reforgo (lamentaveis subprodutos -om o intuito de melhorar de uma pritica pedagégica lamentiv © desempenho dos alunos" E até ha quem afirme que se deverd aplicar mais provas, ignorando que, na forma da lei e da ciéncia, a avaliagio deverd ser formativa, continua e sistemética. ‘Num congresso recente, orgulhosa, uma secretéria de educa- «a0 dava noticia de ter introduzido no seu sistema de ensino uma 10 da “inovagio". As salas de aula iriam ter “cantinhos": o cant leitura, 0 cantinho dos computadores, o can 10 da matemitica, E que haviam adotado o que designou como tim novo método, o “Método de Decroly", No inicio do século XX, médico Decroly criou os chama- dos “centros de interesse’ ra um inovador do seu tempo e nunca ‘ousou sistematizar aquilo a que chamam “método’, por considerar que a sua proposta deveria estar em construcio permanente. Mas, inovagdo_pressupse ineditismo, lade social, replicabilidade, sustentabilidade, crtérios ausentes das propostas e das priticas da maioria dos projetos considerados Em tempo det inovadores igmiética, em que as priticas ino. de um jornal de grande cir nos diz que ‘Se esgotou o tempo pare teorias inécuas sem propésito e condescendéncia pedagégica no ensino vadoras escasseiam, um editori de acordo: urge suster experimentalismos e reformismos, de modo 4 assegurar 0 efetivo direito a educagao de todos os cidadaos. Po- rém, estranhei que o editorialista sibilinamente acrescentasse que “a base do aprendizado tende a ganhar qualidade se deixar de lado ‘modismos e valorizarleitura e matemética”. © jomnalista nfo informou onde teriam sido efetivamente praticados tais modismos, nem quais as escolas que teriam deixado de valorizarleitura e matematica, O editorial fazia eco & entrevista dada por um ex-ministro num discurso rasteiro de senso comum pedagégico, incorrendo no equivoco de atribuir os males do siste- ‘ma a uma ‘pedagogia romantica’, que ninguém praticou, que ne- nhuma escola adatou, que nem o editorialista sabe dizer qual & ‘Nem ele nem 0 ex-ministro reconhecem o fato de, nesses des- vairados tempos, as ciéncias da educagao ainda néo terem logrado influenciar as préticas das escolas. Desde hé séculos, as escolas pri- vilegiam 0 ensino do portugués e da matematica, em detrimento de todo o curriculo restante. Nem as propostas de ha mais de cem anos, de Dewey ou de Montessori, foram assimiladas. 96 T Hi jornalistasespecializados em economia, politica e até com as ndo em educagdo. & lamentivel que especializacao em futeb uma midia irresponsivel reproduza disparates proferidos por adep: tos do regresso ao passado, No presente caso, um ex-ministro de frdgil formaco pedagégica, que confunde avaliagéo com classifica ‘40 e produz pérolas desse tipo: “Projetas podem e devem ser Isic} disciplinares. Mas isso é muito negativo se desin6i as disciplin ‘Meditems sobre mais este episédio exemplar: Quanto eu aprenci naquela reunio! A partitha de conhe- ci sralmente entre professores, que de: senvolviam projetos reconhecidos como inovadores pelo Ministério da Educagio. Da agenda constava a apresenta- «ia de uma proposta de protocalo de avaliacio de projetos considerados inovadores. Uma senhora apresentada como “especialista em curriculo” ordenau a uma subordinada que desse inicio a sessio de PowerPoint. Rendidas as devidas Jhomenagens pelos seus inferiores, a “especialista” passou a ‘condutzir 0s trabathos, endo slides, numa sequéncia moné- tona e repleta de equivocos. ‘Ao meu lado, um professor de uma das equipes de projeto ssuspirava de tédio, pols jé deparara com vitios disparates com chancela de cientificidade, que nenhum das presentes ‘ousara comentar. Néa se conteve quando a dita especi referiu como critério de avaliagio do projeto 0 “i senhore admite que projtes inovadores eso, que se reprove? Na nossa escola, acabamos com se agBes. Por isso, nao se reprove, ‘Doalto do seu doutorado, sem disfargar a iritagio, a “espe- alista”interrompeu: Senhor professor, as outras escolas no ‘so como a vossa! Nado podemos exigit mais dos professores. les ndo sabe trabathar de outra maneira, © senhor nto pode impor as suas teorias aos outs! 97 Nio agradou ao professor que alguém tratasse outros pro- fessores com condescendéncia. E respondeu que nio se tra- tava de torias, mas de priticas transformadoras, desenval- vidas em escolas onde arcaismos como a reprovagio deram lugar a uma avaliagdo formativa, continua, sistemstica ‘Um esgar de desagrado ¢ desdém atravessou a face da “es. pecialista’. Ignorou a interpelagio e passou a ignorar a pre senga do professor. A apresentagto prosseguiu até 20 momento em que a “es peel Apds escutar enésima absurdo de idéntico teor, 0 profes sor perguntou: Em que s prescreveu que fosse feita observacio de aulas estamos, nha senhoraé Ela responcien com ironia e sarcasm: Nao queita parecer all Ter de ser, mais ou menos, assim! E agradego que rrompal Observador atento, fai mais fundo na compreensio do drama daquela “especialista’, cativa de um modelo de escola que apenas ‘admite uma pritica pautada no “mais ou menos” Vivemos, mais ou menos, submetidos as decisdes de “especialistas em curriculo’, que consideram os professores mais ou menos eapazes de compreen- der e ainda menos de fazer diferente, de inovar Abundam pseudoinovagées: ra uma vez...um diretor ambicionava dar um tablet a cada aluno, E foi noticia de destaque. Diz que “nao pararia en- conseguisse ter um tablet por ano [..] pugna para que “em dois anos ndo haja manual em papel, enchendo ‘as mocilas dos meninos". fee questao de juctifcar:°O ma- ‘ual vai estar sempre na biblioteca, mas 0 meu grande obje- tivo & que cada crianga tenha um tablet. Poss fear feliz se ios de ccls:primeios, quintos, sti ‘mos décimos anos, Tdos tem de ter um tablet ..] também comegarmos com os 98 0 quadros & antige ‘Nao duvido das boas intengdes do diretar: Libertar os jovens do peso nas mochilas é uma nobre intengia, mas nao & valida a jus- tificativa. B irrelevante a substituigdo do quadro-negro pela lousa igh dotar cada aluuno com um tablet. Seessas medidas néo forem acom- panhadas de uma reconfiguracao das préticas, pouco ou mesmo nada alterartio no rendimento académico, que dizem beneficiar. Presumir que o desejo do diretor possa constituir-se em pa- éin equipar salas de aula com recursos informéticos ou liativo de um modelo escolar cartesianamente segmentado em pri meiros, quintos, sétimos e décimos anos & pura ingenuidade. E nio seri suficiente mandar embora os quadros a antiga, se os antigos tituats se mantiverem, Numa sala de aula, com ou sem lousa digital, pouco, ou mesmo nada, se aprende, Uma pesquisa recente, realiza- da no Reino Unido, é prova disso. (© nosso diretor exclama com orgulho: “Fomos das primeiras escolas a ter 0 carta, a ter os sumérios digitas, As faltas iam e vio logo para a secretaria’, na presuncio de que sumdiios digitais, ou 0 controle digital de presencas, possa ser fator de melhoria da ensina- gem. A luz da produgio cientifica no campo da educagio, é desca- bido manter a expressio “sala de aula” no discurso pedagégico (e respectivos sumétios), Falemos, antes, de espagos de aprendizagem, de espacos de convivéncia reflexiva, de que as escolas carecem. Reflitamos sobre competéncias-chave do século XI: inte- ragir em grupos heterogeneos da sociedad, agir com autonomia, usar ferramentas interativamente, competéncias que, dificilmente, © modelo de ensino convencional reproduzido em “sala de atl” ogra desenvolver. E sigamos o raciocinio de um diretor, que esti colocando em pritica mais um projeto, chamado “salas do futuro “Ostablets tm um software que se aplica a Matennética, Po fugues e Estudo do Meio, e sao essas disciplinas que podem 99 responder ds pergunt que esto, Em forma de jogo. do, Hd que tornar 0 gina que os docentes com "formacao especifica 40 passar por essas salas, com os alunos, pelo menos una vee por se computadores ~ ape- Portugués ¢ Estuco do Meio -, que os alunos skinerianamente irio consu- convertendo a escola num cassino onde os jogadores 1-5e: allnos) se divertem. O diretor surpreende até o mais sibio pedagogo, quando pre- tende justificar outra das suas decisées: Todos os meus alunas entram ds O8h28, Ninguém sai depois das 17400, Quero que tenkarn pelo menos duas tardes que aprende matemdtica tarde? Ou portugues? E admirivel a sua conviogto, mas as suas decisdes nio podem ser tomadas com base em crengas; deverao ser fundamentadas na citncia, Alguma vez 0 diretor se teré perguntada por que razio (Clentifica) todos os alunos devem entrar is O8h1S e sair antes das 17 horas? Ou por que todos tém de entrar ou sair no mesmo hori- tof Sabera que aprendemas 24 horas por dia? E que, a tarde ou & noite, também se pode aprender matemética e portugues? Para mitigar os efeitos da “aula” (convenci al ou digital) © diretor criou “um centro de explicagdes interno na escola “Quem quiser pode ter aulas-extra de mater suds, Comegou pelo 7 ano” port Nio nos informa do porqué de comegar no 7° ano, Nem se apercebeu, certamente, de que esté dando aos alunos mais do mes- mo: aulas.E criou “de raiz [sic] outro projeto: uma classe-extra, que, 100 durante seis semanas, funciona com cinco alunos de cada turma do respectivo ano, Ba Clase Mais. Existe do 6° a0 9 ano nas disciplinas de ln- siése Matematica. B ser sempre jormada por grupos homoge nos em termas de aproveitamento escolar; podem seros cinco melhores alunos de cada turma, nas seis semanas seguintes 0s extratds podem ser os cinco com matores dificuldades, de neira a potenciar a aprendizagem, Acresenta: Disciplnas como Histéria, Geografia e Ciéncias passaram aqui a ser s. ‘mestras. Os alunos nao tém de estudar para tantas dis sav mesmo Lemp. Concentrama-se mais na Histira porque na Geografia sé teo no semestre seguinte, Di ‘tos alunos em relago ao mimero de testes. ansiedadie E comovente a ingenuidade do diretor. Nao se apereebe ce que as palavras produzem e reproduzem cultura: classe-extr, turma do respectivo ano, grupos homogéneos... Nao compreende a origem da ansiedade ou que os extraidos com maiores dificuldades sao pro- duto de uma escola ancorada num modelo epistemolégico do século XIX, século em que fazia sentido falar de classe, turma, hordrio de entrada e saida, semestre, aula s equivocos do “revolucionério” diretor (€ assim que o jor- nalista 0 considera) estendem-se por mais alguns parigrafos da “revolucionéria” noticia, dando-nos conta da indigencia pedag6gi- «ca em que as escolas continuam atoladas. Modelos de ensinagem obsoletos se reforcam e prosperam, onde urge conceber novas construgdes sociais de aprendizagem, recriar 0 espago e o tempo de aprender, fazendo uso de novas tecnologias a servico da humaniza- «40 da escola, promovendo a partilha de conhecimento ea inclusio social. Haja paciéncial Se.a produgio de conhecimento acontece na relagio e na atri- bbuigio de significado a um objeto de estudo, no contexto de co- 101 munidades, deveremos estat Discurso formal {erica irrepreensivel, necessitando de legitimagao da p 102 rministério da educacio \e6rica, talvez no passe de mais um pal sta, Escutemos protagonistas desse projeto: ‘como base a partcipagao da Jamil e da comunidade em geral nas mais diversas di shes: inform va. A construgi de Comunidades de Aprendizagem pressu- Pbe « apropriagto dos py wente correto, decalcado d 4 escola onde andam os nossos filkos & uma da escolas.E posso asseguiar tem «ver com lade de Aprendizagem (..] mas éexatamente ida nada fu] decorrido un ano, foi insuficiente e pobre que receio bem que srva apenas para di- er que esto fazendo alguma coisa, mantendo as questies de fndo intactas, imtocdveis[..] nenhum professor desse ‘Projto quis fazer parte do nosso micleo de projto com 12 ‘ais [.] quando convidados as juntarem a nds, diseram-se ‘ressionacos[..] uma proposta de formato fix, com muitos contetidos jd extabelecdes[..} opto por outro processo de Co- wna Com Os ministérios ndo resistem a “novidades”. Ao pedagégica, provavelmente 0 Ministério da Educacéo estaré alimentando mais uma ilusio de mudanca ta da escola secou, porque o estagidrio introdutor dessa “inovagio” {oj embora e“levon o projeto para outra escol ‘No meu deambular pelo chao das escolas, visitei uma escola inovadora’, servida por professores consumidores de congressos de educagio 3.0, ou 4.0, inundada de computadores, uma escola cior es edu com direito a destaque em revistas, blogues e 103 108 Aqui, trabalhamos por projetos~ apressou-se a dizer a siny- P eu visse “0 projeto que ele fe’ ei se fo. Pergunt tora, Fez-me sentat junto de um aluno, para que A criangar Por que estava fazendo um projeto. Respondeu: "E que na semana passada a senhora divetora fot & minha sala e disse que nesta sem endo projetos" Cont over "E sobre o tubardo”- responder, “Endo, “Nao quisesteestudar o tubanto e etis estudando 0 tubardo? Explica, por favor’ O tubario é wm tema, ti. Na semana passada, a tia disse que nés famos fazer projetos. E que vinha para a escola i senhor para nos ver fazendo projetes. Perguntou 0 que nés queriamos estudar, Eu queria estudar robitica, Mas ela fer ta votagda. A maioria da turma queria estudar o tub ‘i. Ai, a tia disse que o tema era o tubario. E que era todo “Compreendi. E, agora, o que ests fazendo?” io pesquisa. Jé fui ao site que « tia mandou ‘Agora, estou pesquisando mum livro que a tia mandou ler”, A esperanca, que em mim esmorecera, reacendeu-se- O jovem abriu © cademo ¢ eu pode parar de "Pesquisa: O tubario nao Interrompi a leitura e perguntei: “Onde estd @ gravure “Betd no liv "Se est no este no cader “Porque & 0 que est Agradeci a amabilidade do jovem e, pesaroso, alas Aquele aluno ndo estava fazendo um projeto, nio estava saprendendo. Esteve consumindo curriculo estéril nur site qualquer ¢estava copiando de um liv informagio inst Estava perdendo tempo, Soube, mais tarde, que essa escol recebeu um prémio pelo seu "Faz de conta da ‘pedagogia dos projetos” e por “Fazer uma educagio 4.0" Episédio lamentivel. Pobres criangas, feitas “monstrinhos de tela’, consumidoras de curriculo prescrito, cobaias de aprendizes de feiticeiro, que usurparam o espaco do debate sério, Deslumbrados com 0s prodigios de tanta tecnologia disponivel, acham ~ porque os amadores “acham’ e quem é debutante nao sabe fundamentar © que afirma ~ que invengBes recentes no campo da computacio poderio constituir-se em inovagio. E brincam com coisas sérias. Brincar é a coisa mais séria que hé na vida, mas repito: a educagio nio é para amadores. Organizagses consideradas promotoras de inovacio sio li- deradas por titulares de cursos de administragio de empresas ¢ Por técnicos de marketing. Consultei a lista de palestrantes do dito “maior evento educacional do ano’. Encontrei especialistas em administragio, gestio de empresas, design de produtos e fabricacio de méveis, publicidade e propaganda, informitica, direito, finan- «25, vatejo e servicos, ciéncias do consumo aplicadas, executiva e head dle inovagdo (seja li isso 0 que for..). Quando assisto a palestras sobre inovagio, preocupo-me com 6 fato de os palestrantes ndo acrescentarem ao discurso algo que é indispenstivel: que tudo aquilo que transmitem numa palestra no pode ser concretizado numa escola segmentada, herdeira de priti- «as sociais do século XIX. Certamente, néo tero conhecimento de 10s obras e: res fundamentais para poderem adentrar os complexos ‘meandros das ciéncias da educagdo, Provavelmente, nada tei lide algo de autores como Lauro, Vygotsky e Bruner, da Psicologia da Eclucacio: Agostinho ou Rubem da Filosofia da Educagio; 0 Né- ‘voa, da Histéria da EducacZo; um Florestan, um Bourdieu ou um Giroux da Sociologia da Educacio; um Stenhouse, da Teoria Cur- "loular os mestres Freire, Morin ou Maturana, da Epistemologias 0 Castells ou o Papert das Tecnologias de Informagio e Comunica- 40; Antsio, Nilde, Montessori ou Steiner, da Pedagogia; um Darcy «ta Politica educativa; o Lévy, da Cibernética; o Damasio, das Neu- Nise, da Psiquiatria; o Janine, da Btica; 0 zoélogo Piaget; o Rogers, da Psicandlise; a Ecologia de um Capra; a Praxeo- logia de Freinet... Sobretudo, nunca tera ido oportunidade de co- dos por professores inseguros, dicos “dao formagio” sobre neuroeducagéo a professores de, sala de aula. Titulares de diplomas de Direito decidem em éreas ‘io complexas ¢ que exigem profundo conhecimento como a da alfabetiza¢ao, Diplomados em Economia introduzem o e-learn cuperando pedagogias fsseis, como a do “aluno no centro do processo de aprendizagemt: E os professores as reproduzem em situagées de ensino... em sala de aula. 106 7 INOvAGAO EM SALA DE AULA? As pessoas nto tom notice de que € posal on tuna escola em a carters enfleiradas de fente para ongaizagdes que gavantem os process de ‘prendizado er estruturas que dalogam mats n 0 desafos do stato XX. Helena Singer © Movimento de Inovagao na Educagao nos diz que “inover 1a educagao é pensar novos conceitos,estruturas e metodalogias para © ensino-aprendizagem, buscar diminuir as desigualdades sociais, 5 de forma integral, pensar o processo educative de forma coletiva e dialégica e, acima de tudo, oferecer educacdo de qualidade” Sugere a consulta das obras de pensadores, que se “dedi- ‘caram a pensar modelos edtucacionais mais alinhados com as ripidas tmudangas da sociedade”. E accescenta que o trabalho desses emi- nentes pensadores ‘podem estimular, provocar e fazer sobre como é possivel desenvolver préticas pedagégicas inovadoras dentro e fora da sala de aula’, desenvolver os 107

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