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22 Diário Económico Segunda-feira 26 Março 2007

EMPRESAS

TURISMO CONSTRUÇÃO ENERGIA


Governo define planos apoio de QREN Lucros da Teixeira Duarte crescem Galp patrocina
e privilegia novas regiões/produtos 5,5% em 2006 para os 114 milhões Selecção até 2010
■ Ogovernoestáaelaborarosprogramasdeincentivosaoturismo ■ Os lucros da Teixeira Duarte cresceram 5,5% em 2006 para ■ A Galp Energia renovou o
para os próximos anos, no âmbito do Quadro de Referência Estraté- os 114,2 milhões de euros, avançou a construtora em comuni- contrato de patrocínio à Se-
gicaNacional,beneficiandoasregiõeseosprodutosestratégicosno cado, destacando ainda um crescimento de 12% na área da lecção Nacional de Futebol
plano nacional do sector. O secretário de Estado do Turismo avança construção em Portugal. No estrangeiro, o crescimento neste para os próximos quatro
que a base do novo QREN está já a ser preparada pela Secretaria de segmento foi de 80%, em grande parte devido à actuação na anos. Esta renovação conce-
Estado. Sem avançar os moldes em que será definido o sistema de Argélia. O EBITDA cresceu 29% para os 117,9 milhões de euros, de à Galp, pela primeira vez, o
apoiosparaoTurismoaté2013,BernardoTrindadedizqueoobjecti- o volume de negócios atingiu os 755,9 milhões de euros, mais direito exclusivo de decora-
voécolaborarparaaconcretizaçãodosobjectivosdoPlanoEstraté- 20% do que em 2005, e os proveitos operacionais aumenta- ção do autocarro oficial da
gicoNacionaldoTurismo,apresentadoemJaneirode2005. ram 19,6% para os 832,9 milhões de euros. Selecção Nacional.

“Branding country”
ou a importância
da marca de um país
UM PORTUGUÊS MUDOU-SE PARA MADRID,
fundou uma empresa de ‘branding’ e espalhou
o seu negócio pelo mundo.
Hugo Gonçalves, em Madrid montagem, a empresa de- lhar naquilo que mais o fas-
deconomico@economicasgps.com saparecia, mas tinham uma cina - o ‘branding’ para paí-
marca reconhecida, e rapi- ses -, com as contas da Bul-
José Filipe Torres, CEO da damente contrataram gária, da Letónia, tendo co-
Bloom Consulting, tem um quem produzisse por eles”. laborado também com
problema sempre que se Mas agora, com três anos Portugal e Espanha. Se o
encontra pela primeira vez de trabalho, e clientes ‘branding’ empresarial é di-
com um cliente: “Digo-lhes como a Delta, Imagina- fícil de explicar, trabalhar a
que aquilo que fazemos rium, Renova, ou a Comu- marca de um país é algo
não se vê, sente-se. E então nidade de Madrid, José Fili- que, apesar de muitas ten-
ficam mais confusos”. Pa- pe Torres começou a traba- tativas - Suécia, Japão, Aus-
rece uma frase demasiado trália, Espanha ou Brasil -
romântica para quem, ainda não foi conseguido
como ele, acabou de ser en- com sucesso. Para muitos,
trevistado pela The Econo- o ‘branding’ para países é
mist, tem uma empresa apenas a imagem turística.
que integrou a lista das 100 “Se falarmos em Espanha
mais inovadoras de Espa- ninguém pensa em biotec-
nha, com 30 empregados nologia, mas em praias”,
de oito nacionalidades, e explica. “A identidade de
escritórios em seis cidades um país já existe, se quiser-
- Lisboa, Miami, Sófia, Co- mos mudar não consegui-
penhaga, São Paulo e Ma- mos. Não se trata de uma
drid, onde está a sede. empresa em que se possa
Mas, logo de seguida, apa- dizer ao povo ‘ou fazes isto
rece o pragmatismo de ou vais para a rua’, porque a
quem lidera um negócio: identidade está lá. Não
“O que nós fazemos é que pode ser um exercício para
ganhem mais dinheiro”. insuflar o ego da nação,
Para explicar o conceito com objectivos utópicos
‘branding’, e a importância como a ideia de se mudar a
de uma marca, José Filipe bandeira. O ‘branding’ de
Torres recorda que a mes-
“Queremos fazer um país não tem a ver com
ma camisa branca, produ- com o ‘branding’ os valores da nação”.
zida na mesma fábrica na o que o Ikea fez com José Filipe aponta ainda
China, pode ter preços di- outros obstáculos, aqueles
ferentes consoante a marca os móveis. Não é que estão bem presentes
que apareça na etiqueta. uma coisa apenas em Portugal: “Esse traba-
Depois, lembra uma afir- lho (de ‘branding’) está en-
mação do presidente do para as empresas tregue a instituições públi- De mau aluno para ‘expert’ em ‘branding’
colosso americano da in- grandes, não requer cas, se muda o Governo,
dústria alimentar, a Quaker muda tudo, e a estratégia ■ Segundo a sua própria confissão, José de cada empresa, não fazia copy/paste”.
Foods: “Comentou que, se investimento em para trabalhar a marca de Filipe Torres, 30 anos, era um mau aluno Esteve na capital inglesa 20 vezes: “Ficava
tivesse de optar entre ficar publicidade”. um país tem de ser pensada de liceu que não tinha média para entrar em casa de amigos, comia McDonalds”.
apenas com a marca a dez anos. O chefe de Esta- na faculdade. Começou a trabalhar Por fim, uma dessas companhias, a Future
Quaker Foods, ou todas as do deveria ser o CEO do na agência de publicidade Novo Design, Brand, convidou-o para integrar o escritório
infrastruturas da empresa, “O emblema da projecto para dar uma ga- hoje Brandia, em Lisboa, como maquetista, de Madrid. Dois anos mais tarde, José Filipe
preferia a marca”. E, de rantia de estabilidade”. Por a ganhar 25 contos por mês. O seu Torres saiu para fundar a Bloom
imediato, acrescenta a his- Nike foi feito por isso mesmo, José Filipe empenho conquistou os responsáveis Consulting: “Sabia que ‘branding’ era mais
tória de uma conhecida uma estagiária abordou Cavaco Silva da companhia, que lhe patrocinaram do que aquilo que estava ali, e a prova disso
empresa na Letónia, tam- numa recepção na embai- workshops de design, tanto em Nova é que já lhes ganhámos concursos”.
bém de alimentos, cuja fá-
porque o criador xada, em Madrid, quando o Iorque como Londres. Quando se sentiu No início valeu-lhe a persistência: “Os
brica foi destruída por um da marca não tinha chefe de Estado já se enca- preparado, e durante dois anos, enviou bancos nem olhavam para mim. Ia a Lisboa
incêndio: “Se se tratasse minhava para o banquete 800 emails para Inglaterra - “Todos duas vezes por semana, de autocarro (nove
apenas de uma linha de
dinheiro”. com o Rei. O presidente personalizados, tendo em conta o perfil horas), para ter reuniões com clientes”. H.G.
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Segunda-feira 26 Março 2007 Diário Económico 23

EMPRESAS

EQUIPAMENTOS DISTRIBUIÇÃO
GE lança OPA sobre Freeport absolvida no processo
Sanyo Electric interposto pela Cinemas Millenium
■ O gigante americano Gene- ■ O Freeport de Alcochete foi absolvido no processo que a Ci-
ral Electric lançará hoje uma nemas Millenium, do empresário Paulo Branco, abriu em
OPA amigável para adquirir a 2005. O gestor alegava que as previsões de afluência ao cen-
maioria das acçõesda filial fi- tro comercial, bem como as actividades lúdicas programadas,
nanceira da companhia japo- tinham induzido em erro a operadora de cinemas. O valor
nesa Sanyo Electric. A oferta apontado era então de 20 milhões de visitantes. No entanto,
será realizada através da STV no ano passado, o ‘outlet’ de Alcochete recebeu apenas 4 mi-
Partners, a sua representante lhões de visitantes. O tribunal afirma que não foram apresen-
para o mercado nipónico. tadas provas que demonstrem erros.

em seguida procurar cinco

Gonçalo Fernandes Santos


empresas que os represen-
tem: “Podem não ter marca
própria, ser pequenas, mas
que tenham potencial de
crescimento”. O passo se-
guinte seria descobrir mer-
cados internacionais para
essas companhias. O Esta-
do não meteria dinheiro,
seria apenas avalista. O sec-
tor financeiro seria sócio da
nova entidade, detendo,
como activo, o intangível da
marca, e o Estado seria ape-
nas o mediador e a garantia.
“Por fim, fazia-se um ‘track
record’, a Universidade
Nova seguiria essas empre-
sas e o resultado seria revo-
lucionário, poderia ser usa-
do no futuro. Mas Portugal
tem medo, e não se fazem
omoletes sem se partirem
ovos”.
José Filipe conhece a di-
mensão do mercado global
e as suas potencialidades,
apanha mais de 50 aviões
por ano, dá conferências
pela Europa, trabalha com
centros de pesquisas de uni-
versidades em Washington,
Londres, Tóquio e Estocol-
mo; tem empregados, nou-
tros continentes, com quem
apenas comunica por tele-
fone ou internet; e concorda
com a opinião do escritor
Paul Auster, adaptada aos
negócios: “Tendo em conta
o tamanho do mundo seria
■ A IMAGEM DE UM PAÍS estúpido ficar sempre no
Depois de trabalhar mesmo sítio”.
a imagem da Delta, Recentemente, a Bloom
Imaginarium ou Renova,
Consulting lançou o ma-
José Filipe Torres pode
agora fazer aquilo que
nual “20 Maneiras para criar
mais gosta: dedicar-se uma marca”. José Filipe, que
ao ‘branding’ de países, defende a democratização
a começar com a Bulgária do branding, sorri e explica:
ou Letónia. Mas o sonho “Queremos fazer com o
é mesmo trabalhar ‘branding’ o que o Ikea fez
a imagem do país com os móveis. Não é uma
onde nasceu. coisa apenas para as empre-
sas grandes, não requer in-
vestimento em publicidade.
O emblema da Nike foi feito
ouviu-o e, há um mês, a sua trangeiro”. Outro ponto in- empresa nacional ter êxito por uma estagiária porque o
equipa recebeu o empresá- dispensável, assegura, é o “Para que fora de fronteiras: “As mar- criador da marca não tinha
rio em Lisboa, a fim de ou- trabalho das marcas das queremos fazer cas portuguesas precisam dinheiro, a Samsung era um
vir as suas propostas. empresas nacionais, como de internacionalizar-se, e é quiosque, se começamos
Depois de apontados os er- acontece com a Suécia e a
country branding? possível fazê-lo, há quem o com esse derrotismo nunca
ros, surgem as soluções: Ericsson, ou a Finlândia e a Para dizermos que tenha feito, que ninguém se chegamos a lado nenhum, a
“Para que queremos fazer Nokia, países pequenos somos bons e giros? atreva a dizer que não é Starbuks era uma cafetaria.
‘country branding’? Para di- como Portugal. No entanto, possível, que me liguem e Não estou a dizer que que
zermos que somos bons e as empresas portuguesas Ou para atrair provo que se consegue”. todas as empresas têm de
giros? Ou para atrair mais têm medo da internaciona- mais investimento, Para seguir em frente com gastar milhares de euros em
investimento, turistas, co- lização. José Filipe, que ga- essa internacionalização, especialistas de ‘branding’
mércio? Os partidos teriam rante que um país é as suas turistas, comércio?” criou um modelo de desen- mas devem, elas mesmas,
de pôr-se de acordo, os ob- marcas, lembra-se do que volvimento ecónomico preocupar-se”. E no final,
jectivos deveriam estar lhe contou a irmã, sobre um José Filipe Torres que, diz, ofereceria gratui- como se resumisse os últi-
bem definidos para que to- professor universitário, de- CEO da Bloom Consulting tamente. Segundo José Fili- mos anos do seu trabalho,
dos os representantes do sencorajador de ambições, pe, teriam de identificar-se mas também antecipasse o
país soubessem o que têm a que explicou aos alunos cinco sectores estratégicos futuro, sentencia: “Se acre-
dizer quando estão no es- como era tão difícil uma da economia portuguesa, ditas tens de ir atrás”. ■

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