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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CURSO DE QUÍMICA INDUSTRIAL

BRUNO VICENTINI VITTORAZZI

USO DE UM SMARTPHONE EM PROCEDIMENTOS FORENSES:


DOCUMENTOSCOPIA

VILA VELHA
2022
BRUNO VICENTINI VITTORAZZI

USO DE UM SMARTPHONE EM PROCEDIMENTOS FORENSES:


DOCUMENTOSCOPIA

Monografia apresentada à Coordenadoria do


Curso de Química Industrial do Instituto
Federal do Espírito Santo, Campus Vila
Velha, como requisito parcial para a
obtenção do título de bacharel.

Orientador: Prof. Dr. Wanderson Romão

VILA VELHA-ES
2022
(Biblioteca do Campus Vila Velha)

V853u Vittorazzi , Bruno Vicentini .

Uso de um smartphone em procedimentos forenses: documentoscopia /


Bruno Vicentini Vittorazzi . - 2023.
41 f. : il..

Orientador: Wanderson Romão

TCC (Graduação) Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Vila Velha,


Curso de Química Industrial, 2023.

1. Cédulas. 2. Smartphone. I. Romão, Wanderson . II.Título III. Instituto


Federal do Espírito Santo.

CDD: 540
Bibliotecário/a: Quezia Barbosa de Oliveira Amaral CRB6-ES nº 590
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
VVL - COORDENADORIA DO CURSO DE BACHARELADO EM QUIMICA
INDUSTRIAL

Vila Velha-ES, 08 de dezembro de 2022.

ANEXO III – ATA DE DEFESA DE TCC

Aos 08 dias do mês de dezembro do ano de 2022, a banca presidida pelo orientador Dr.
Wanderson Romão e composta pelos membros Dra. Nayara Araujo dos Santos e Dra. Flávia
Tosato Borghi, reuniu-se para a defesa do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “USO DE
UM SMARTPHONE EM PROCEDIMENTOS FORENSES: DOCUMENTOSCOPIA”,
apresentado por Bruno Vicentini Vittorazzi, do curso Superior de Bacharelado em Química

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Industrial. Após a apresentação do trabalho e arguição, a banca examinadora deliberou
concluindo pela APROVAÇÃO do Trabalho de Conclusão de Curso, desde que o
estudante entregue o Trabalho de Conclusão de Curso corrigido, conforme as considerações
realizadas pela Banca Examinadora e sob supervisão da orientadora, à Biblioteca Zilma Coelho

21/12/2022 15:13
Pinto do Ifes/Vila Velha, como requisito necessário para solicitação de colação de grau. A
banca examinadora, ainda, atribuiu nota 86 ao trabalho.

Vila Velha-ES, 08 de dezembro de 2022.

2022-3XQHX2 - E-DOCS - DOCUMENTO ORIGINAL


Após defesa do TCC, a ata e a ficha de avaliação deverão ser cadastrados pelo professor de
TCC no Sistema Integrado de Patrimônio, Administração e Contratos do Ifes (Sipac) e
assinado digitalmente pelo orientador, coorientador, estudantes envolvidos com o TCC e
membros da banca examinadora.

Os assinantes serão inseridos no SIPAC, para posterior assinatura.


ASSINATURAS (4)
Documento original assinado eletronicamente, conforme MP 2200-2/2001, art. 10, § 2º, por:

NAYARA ARAUJO DOS SANTOS BRUNO VICENTINI VITTORAZZI


CIDADÃO CIDADÃO
assinado em 21/12/2022 15:13:57 -03:00 assinado em 21/12/2022 15:11:05 -03:00

WANDERSON ROMAO FLAVIA TOSATO BORGHI


CIDADÃO CIDADÃO
assinado em 21/12/2022 15:05:10 -03:00 assinado em 21/12/2022 14:52:31 -03:00

INFORMAÇÕES DO DOCUMENTO
Documento capturado em 21/12/2022 15:13:58 (HORÁRIO DE BRASÍLIA - UTC-3)
por NAYARA ARAUJO DOS SANTOS (CIDADÃO)
Valor Legal: ORIGINAL | Natureza: DOCUMENTO NATO-DIGITAL

A disponibilidade do documento pode ser conferida pelo link: https://e-docs.es.gov.br/d/2022-3XQHX2

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21/12/2022 15:13
2022-3XQHX2 - E-DOCS - DOCUMENTO ORIGINAL
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
SISTEMA INTEGRADO DE PATRIMÔNIO, ADMINISTRAÇÃO E
FOLHA DE ASSINATURAS
CONTRATOS

Emitido em 08/12/2022

ATA DE DEFESA Nº 39/2022 - VVL-CCQI (11.02.34.01.08.02.04)

(Nº do Protocolo: NÃO PROTOCOLADO)

(Assinado digitalmente em 23/12/2022 10:00 )


ROBERTA PACHECO FRANCISCO FELIPETTO
COORDENADOR DE CURSO - TITULAR
VVL-CCQI (11.02.34.01.08.02.04)
Matrícula: 2769161

Visualize o documento original em https://sipac.ifes.edu.br/documentos/ informando seu número: 39, ano: 2022,
tipo: ATA DE DEFESA, data de emissão: 23/12/2022 e o código de verificação: fda9090688
DECLARAÇÃO DO AUTOR

Declaro, para fins de pesquisa acadêmica, didática e técnico-científica, que este


Trabalho de Conclusão de Curso pode ser parcialmente utilizado, desde que se
faça referência à fonte e à autora.

Vila Velha, 08 de dezembro de 2022.

Bruno Vicentini Vittorazzi


RESUMO
Utilizando análise de imagens digitais por meio de um aplicativo de smartphone,
aliado a ferramentas quimiométricas, este trabalho se propõe a identificar a
autenticidade de cédulas de Real. Cédulas autênticas foram adquiridas em
banco local, e falsificações foram reproduzidas pelo autor em impressoras
comerciais de três tipos (laser-Deskjet, cera-Color Qube, e jato de tinta-Deskjet)
para desenvolvimento da metodologia. Realizou-se a otimização do
planejamento experimental determinando: a melhor região da cédula; região de
interesse; distância focal e variação do smartphone. A melhor região da cédula
corresponde às microimpressões da efígie e em torno do animal. Uma região de
interesse de 16x16 pixels se mostrou mais promissora e a distância focal foi
mantida em 10cm. A partir da otimização, foi realizada a separação e
identificação das cédulas de R$10, 20, 50 e 100. Assim, o aplicativo apresenta
ser promissor para análise de autenticidade de cédulas por imagens digitais, por
meio de uma metodologia rápida, não destrutiva, portátil, de baixo custo e
acessível.

Palavras-chave: cédulas, imagem RGB, PCA, smartphone.


ABSTRACT
Using digital image analysis through a smartphone application, combined with
chemometric tools, this work aims to identify authenticity of Real banknotes.
Authentic banknotes obtained in local bank, and falsified are reproduced on a
printer of three types (laser-Deskjet, wax-Color Qube, and inkjet-Deskjet) were
used to develop the methodology. Optimization for experimental design was
carried out by determinating: best banknote region; region of interest; focal length
and smartphone range. Best region of banknote corresponds to microprints of
effigy and around animal. A region of interest of 16x16 pixels showed more
promise results and focal length was kept at 10cm. From optimization, separation
and identification of banknotes R$10, 20 50 and 100 was performed. Thus, the
application shows to be promising for analyzing the authenticity of banknotes by
digital image, through a fast, non-destructive, portable, low-cost and accessible
methodology.

Keywords: banknote, RGB image, PCA, smartphone.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Posicionamento dos elementos de segurança dispostos na cédula de 50 Reais da
segunda geração de cédulas de Real, de acordo com o Banco Central do Brasil; (1) marca
d’água; (2) regiões de alto-relevo; (3) número escondido; (4) filamento de segurança
Figura 2: Propaganda veiculada pela Eastman Dry Plate and Film Company, com o slogan “Você
aperta o botão, nós fazemos o resto”, com registro do nome Kodak
Figura 3: Primeiro registro de imagem digital, realizado por Russel Kirsch em 1957, de seu filho
de apenas três meses
Figura 4: Interface do aplicativo PhotoMetrix PRO, com as respectivas opções de análises
multivariadas (a) e configurações do aplicativo (b)
Figura 5: Pesquisa bibliográfica na base de dados Web of Science com a palavra-chave
“PhotoMetrix”, contagem de publicações e citações entre 2016 e 2022
Figura 6: Fluxograma de análise por PCA aplicado a cédula de Real
Figura 7: Regiões da cédula da melhor ROI para o estudo: (a) faixa holográfica, (b) região tátil -
número inferior esquerdo, (c) marca d’água, (d) microimpressão - região da efígie, (e) região tátil
- número superior direito, (f) microimpressão - número superior esquerdo, (g) microimpressão –
região da figura do animal, e (h) quebra cabeça (h)
Figura 8: PCA da cédula de R$50 contendo o melhor agrupamento das amostras: região (a)
anverso de microimpressão na efígie; e (b) reverso de microimpressão no entorno do animal
Figura 9: Loadings PC1 - cédula de 50 reais: anverso região de microimpressão da efígie (a) e
reverso região de microimpressão no entorno do animal (b)
Figura 10: Variação do tamanho do spot na região de microimpressão da efígie de cédulas de
R$50 com ROI – 16×16 pixels (a), 32×32 pixels (b), e 64×64 pixels (c); e na região da
microimpressão do entorno do animal com ROI – 16×16 pixels (d), 32×32 pixels (e), e 64×64
pixels (f)
Figura 11: Variação da marca do smartphone. Motorola G5 Plus - região de microimpressão na
efígie (a), Motorola G5 Plus - região de microimpressão no entorno do animal (b), Samsung
Galaxy S7 - região de microimpressão da efígie (c), Samsung Galaxy S7, região de
microimpressão no entorno do animal (d), LG K10, região de microimpressão da efígie (e), LG
K10, região de microimpressão no entorno do animal (f)
Figura 12: Análise cédulas de R$ 100, 20 e 10 usando o smartphone Motorola G5 Plus, ROI –
16x16 pixels (distância de 10cm): região de microimpressão na região da efígie (a,c,e) e
microimpressão na região do entorno do animal (b,d,f)
Figura 13: Análise cédulas de R$ 100, 20 e 10 usando o smartphone Motorola G5 Plus, ROI –
16x16 pixels (distância de 10cm): região de microimpressão na região da efígie (a,c,e) e
microimpressão na região do entorno do animal (b,d,f)
Figura 14: Loadings PC1 - cédula de 100 reais: anverso região de microimpressão da efígie (a)
e reverso região de microimpressão no entorno do animal (b)
Figura 15: Loadings PC2 anverso - cédula de 20 reais: região de microimpressão da efígie (a) e
reverso região de microimpressão no entorno do animal (b)
Figura 16: Loadings PC2 - cédula de 100 reais: anverso região de microimpressão da efígie (a)
e PC1 reverso região de microimpressão no entorno do animal (b)
Figura 17: Análise de cédulas 100, 20 e 10, smartphone Samsung Galaxy S7, ROI – 16x16
pixels (distância de 10cm da amostra): microimpressão na região da efígie (a, c, e),
microimpressão na região do entorno do animal (b, d, f)
Figura 18: Análise cédulas 100, 20 e 10, smartphone LG K10, ROI – 16x16 pixels (distância de
10cm da amostra): microimpressão na região da efígie (a, c, e), microimpressão na região do
entorno do animal (b, d, f)
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 13
1.1 AS CIÊNCIAS FORENSES .................................................................... 13
1.2 EVOLUÇÃO DOS CRIMES DE FALSIFICAÇÃO ................................... 14
1.3 DOCUMENTOSCOPIA .......................................................................... 15
1.4 IMAGEM DIGITAL .................................................................................. 17
1.5 PHOTOMETRIX ..................................................................................... 20
2 OBJETIVOS ........................................................................................... 23
2.1 OBJETIVOS GERAIS ............................................................................. 23
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................. 23
3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL...................................................... 24
3.1 AMOSTRAS ........................................................................................... 24
3.2 ANÁLISE DOS DADOS .......................................................................... 24
3.3 ENSAIOS DE OTIMIZAÇÃO .................................................................. 25
3.3.1 Ensaio 1 - Determinação da melhor região da cédula de 50 reais ......... 25
3.3.2 Ensaio 2 - Região de interesse e distância focal na cédula de 50 reais . 25
3.3.3 Ensaio 3 - Variação do modelo do smartphone ...................................... 26
3.3.4 Ensaio 4 - Análise das cédulas de R$10, 20 e 100 ................................ 26
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................. 27
4.1 Ensaio 1 - determinação da melhor região da cédula ............................ 27
4.2 Ensaio 2 - região de interesse e distância focal ..................................... 29
4.3 Ensaio 3 - Variação da marca do smartphone ....................................... 32
4.4 Ensaio 4 - Análise das cédulas de R$10, 20 e 100 ................................ 34
5 CONCLUSÃO ......................................................................................... 40
6 REFERÊNCIAS ...................................................................................... 41
1 INTRODUÇÃO
1.1 AS CIÊNCIAS FORENSES
Desde a origem da civilização, existem evidências do uso do conhecimento
científico na elucidação de crimes, na Roma antiga, por exemplo, a ocorrência
de casos de envenenamento era muito comum, resultando em consequente
“experiências práticas” para investigação e resolução dos crimes. Do ponto de
vista moderno, o uso de conhecimentos químicos é visto já no final do século
XVII, diversas descobertas determinaram metodologias utilizadas na
criminalística até os dias atuais, como o uso de ninidrina para identificação de
impressões digitais, desde 1910, assim como o uso do composto luminol, desde
1937, para revelação de manchas de sangue em locais de crime (FARIAS, R. F.
de; 2008).
No final do século XIX, Hans Gross destaca a importância do método científico
na resolução de crimes ao estudar diversas áreas, como química, física,
botânica, zoologia, microscopia e fotografia, e publicar, em 1893, o Manual para
Juízes de Instrução, conhecido posteriormente como fundador da criminologia
moderna (CUNHA, C.M.O; 2012).
Com a sistematização dos dados científicos, o sistema de métodos utilizados
pela polícia ficou conhecido como criminalística. Em uma definição do 1º
Congresso Nacional de Polícia Técnica em 1947, seria a “disciplina que tem
como objetivo o reconhecimento e a interpretação dos indícios materiais
extrínsecas, relativos ao crime ou à identidade do criminoso” (GARRIDO; 2012).
Por ser muito abrangente, a criminalística acaba incorporando diversas áreas, e
sendo utilizada como sinônimo para Ciência forense, e muitas vezes, acaba
sendo relacionada apenas a parte investigativa de campo, onde há coleta de
vestígios em locais de crime, enquanto a química, biologia, toxicologia e outras
áreas das ciências forenses, são áreas de análise (ALMEIDA, V. Y. G.; 2019).
Nesse contexto, a química forense se destaca como um segmento das ciências
forenses que visa a proporcionar evidências tangíveis ao sistema judiciário por
meio de análises abrangentes de diversas substâncias. Por meio de técnicas
avançadas, como cromatografia e espectrometria, a química forense pode
identificar vestígios de substâncias em cenas de crime, corpos ou objetos
relacionados a investigações criminais. Essa análise minuciosa não apenas
contribui para a reconstrução de eventos, mas também auxilia na identificação

13
de conexões entre indivíduos, locais e momentos-chave, fornecendo um alicerce
sólido para a tomada de decisões judiciais.

1.2 EVOLUÇÃO DOS CRIMES DE FALSIFICAÇÃO


Conforme a perspectiva dos criminologistas, observa-se atualmente uma
transformação no cenário criminoso, em que os crimes de natureza violenta,
direcionados a pessoas e bens, cedem espaço para os denominados delitos de
inteligência, tais como falsificação, estelionato e chantagem (BRANDÃO, J. M.
de O. B.; 2016).
A falsificação de cédulas de papel-moeda, por exemplo, provoca grande
preocupação, visto que afeta diretamente a economia dos países. Este crime é
considerado um dos maiores crimes financeiros mundialmente, e no Brasil, foi
notado um aumento de casos com a implementação do Real (R$) em 1994, tanto
em quantidade quanto complexidade (EBERLIN, L. S. et al; 2010).
Para conter as falsificações, o Banco Central do Brasil, em 2010, apresentou
medidas avançadas de segurança para a moeda corrente (Figura 1). A segunda
geração de moedas de Real, contêm, por exemplo, elementos visíveis contra a
luz branca, marca d’água, filamento de segurança, quebra-cabeça e elementos
fluorescentes. Essas medidas visam impor obstáculos mais sólidos às tentativas
de falsificação (BCB; 2010).

14
Figura 1: posicionamento dos elementos de segurança dispostos na cédula de 50 Reais da
segunda geração de cédulas de Real, de acordo com o Banco Central do Brasil; (1) marca
d’água; (2) regiões de alto-relevo; (3) número escondido; (4) filamento de segurança.

Fonte: adaptado do material de apoio do Banco Central do Brasil.

Apesar das medidas, ainda é encontrado casos de falsificações de papel-moeda


no Brasil. Segundo dados do Banco Central do Brasil, em 2017, foram retidas
um total de 549.277 cédulas, sendo os valores de R$100 e R$50 os principais
alvos. Em 2020, houve retenção de 342.706 falsificações, sendo 4.931
correspondentes ao valor de R$200, que foi introduzida em julho do mesmo ano.
Até setembro de 2022, foram retidas 161.537 falsificações, sendo 38.347
correspondentes ao valor de R$200 (BCB; 2022).

1.3 DOCUMENTOSCOPIA
A documentoscopia constitui um campo de estudo situado no âmbito das
ciências forenses, cujo propósito consiste em analisar, verificar e examinar a

15
autenticidade de documentos. Além de desempenhar um papel investigativo
essencial na determinação da legitimidade de amostras documentais, a
documentoscopia assume uma relevância crucial na identificação dos
responsáveis por crimes de inteligência, bem como na elucidação dos métodos
empregados. Sua ênfase na autoria delitiva confere a essa disciplina um caráter
intrinsecamente policial. Com o avanço da instrumentação analítica, como as
técnicas em espectrometria de massas (MS - Mass Spectrometry), em meados
de 2000, problemas complexos que existiam na documentoscopia passaram a
ser solucionáveis, entre eles cruzamento de traços, falsificação de documentos
e datação de tintas. (ROMÃO, W.; 2011).
Os métodos oficiais empregados pela polícia brasileira são técnicas baseadas
nos espectros de reflectância no ultravioleta (UV) (200 a 390nm), visível (400 a
800nm), e infravermelho (700 a 1000nm). O equipamento mais comumente
utilizado é o Comparador Espectral de Vídeo (VSC - Video Spectral Comparator),
que permite analisar os elementos de segurança, e conta com as funções de um
espectrômetro simples, permitindo aquisição de espectros de reflectância (DA
SILVA, V. A. G. et al; 2014).
Brandão, em 2016, utilizou a técnica VSC com a finalidade de ampliar a resposta
espectral, do campo de visão à zona infravermelha (IR), mediante a utilização de
uma câmera de vídeo digital, e maximizar o contraste visual das características
selecionadas no documento através da aplicação apropriada das condições de
iluminação e condições de visão.
Em 2018, Correia et al., por meio do uso de um espectrômetro NIR portátil,
acompanhado de técnicas quimiométricas como Análise de Componentes
Principais (PCA – Principal componente analysis) e regressão parcial por
mínimos quadrados (PLS – Partial least squares), permitiu o desenvolvimento de
uma metodologia analítica portátil, não-destrutiva, rápida e de baixo custo, que
contribui para análises em tempo real de cédulas de Real.
Ulian e Vidal, em 2016, fazendo uso de um dos elementos de segurança das
cédulas de Real, a unicidade do número serial, e também da captura de imagens
digitais, conseguiu melhorias em um sistema de reconhecimento óptico,
principalmente no tratamento de imagens de entradas rotacionadas, com
variação na escala e situações com mais de uma cédula no processo.

16
O surgimento de oportunidades de uso de tecnologias em visão computacional
em conjunto com técnicas analíticas cresce continuamente. Com destaque para
tecnologias portáteis, que permitem melhorias significativas em trabalhos de
investigação (ULIAN, I. A.; VIDAL, F. de B.; 2016). Equipamentos portáteis e
dispositivos móveis tem se popularizado nas ciências forenses, abrindo caminho
para novas metodologias e atraindo a atenção da comunidade científica.
Lopez, Cervantes e García-Lamont, em 2012, por meio de sistemas de visão
artificial, as cores RGB e a textura de cédulas de Pesos, foram analisadas 1600
cédulas danificadas, sendo 320 de cada categoria. A caracterização conseguiu
atingir uma performance de reconhecimento de 97,50% para cédulas muito
danificadas, alcançando uma performance de 98,95% para cédulas com danos
comuns. Essa caracterização é possível também em outros países que usam as
cores como diferenciação para cada categoria de cédula.
Análises que eram realizadas em colorímetros, e espectrofotômetros e
fluorômetros, estão deixando de ser restritas e passam a ter aplicação do
processamento de imagens digitais em sua metodologia (HELFER, G. A, et al;
2017).
O grande desafio das técnicas analíticas atualmente, é a necessidade de
análises não destrutivas, rápidas, simples e de baixo custo. No processo
investigativo, a integridade da prova material é fundamental. Assim, o
desenvolvimento de metodologias com baixa ou nenhuma preparação da
amostra, manutenção reduzida e fácil operação são essenciais na química
forense com destaque na documentoscopia (CORREIA, R. M. et al; 2018).

1.4 IMAGEM DIGITAL


Imagens são representações do espaço e da realidade que nos cerca. Desde a
pré-história apresentam grande significado nas relações sociais e desenvolvem
um papel crucial de comunicação. As diversas representações, seja em pinturas,
em registros fotográficos ou transmissões, levam narrativas visuais ao
espectador (BALAN, C. W; 2009).
Com aumento da quantidade de informações disponíveis e transmitidas
continuamente na sociedade, a imagem se desenvolve em paralelo, tomando
caminhos para melhorias e novas tecnologias (SILVA, M. J. A. D; 2007).

17
Com a Revolução Industrial, século XVIII, mudanças significativas começam a
acontecer na cultura ocidental, sendo perceptível um grande avanço em relação
aos séculos anteriores (FARIAS, L.; 2014).
Os registros a respeitos da origem da fotografia aparecem no início do século
XIX, atribuída ao pintor Louis Jacques Mandé Daguerre. A utilização da câmera
escura já era conhecida por diversos pesquisadores no século anterior, mas
existia grande dificuldade na fixação da imagem no elemento de suporte.
Daguerre percebeu as limitações dos recursos usados anteriormente e
desenvolveu um método que consistia na exposição de placas de cobre
recobertas com prata polida e sensibilizadas com vapor de iodo, que formava
uma camada de iodeto de prata sensível a luz, tendo a capacidade de fixar a
imagem no elemento de suporte (OLIVERIA, E. M.; 2005).
No final do século XIX, a Eastman Dry Plate and Film Company investia em
avanços e popularização da fotografia analógica. Em 1888, introduziram no
mercado um tipo de máquina caixote que tinha como slogan “Você aperta um
botão, nós fazemos o resto”, chamada de Kodak Camera (Figura 2), esse novo
conceito permitiu a popularização e democratização de equipamentos mais leves
e fáceis de manusear, permitindo qualquer um de realizar registros fotográficos
(FARIAS, L.; 2014).
As imagens e registros digitais aparecem no século XX. Devido ao avanço dos
sistemas de comunicação, captar, armazenar e processar as imagens tornou-se
fundamental. Com o desenvolvimento dos primeiros computadores
programáveis, novas soluções para esses problemas começam a ser
encontradas. O primeiro registro de imagem digital foi realizado em 1957 por
Russel Kirsch, no atual NIST (National Institute of Standards and Technology).
Kirsch realizou o escaneamento de uma foto tamanho 4x3 cm de um bebê,
produzindo uma imagem de 5x5 cm. Com isso, abriu caminho para o
desenvolvimento de diversos processos de aquisição, armazenamento,
processamento e difusão da imagem (BALAN, W. C.; 2009).

18
Figura 2: propaganda veiculada pela Eastman Dry Plate and Film Company, com o slogan “Você
aperta o botão, nós fazemos o resto”, com registro do nome Kodak.

Fonte: Farias (2014)

Figura 3: Primeiro registro de imagem digital, realizado por Russel Kirsch em 1957, de seu filho
de apenas três meses

Fonte: BALAN, W. C.; 2009


Com a evolução desses processos, o desenvolvimento de sensores, que
realizam a aquisição das imagens, passou a ser um processo contínuo.
Atualmente, detectores do tipo CCD e CMOS são amplamente utilizados. Esses
sensores são materiais semicondutores capazes de converter a energia fóton

19
em energia elétrica, ou seja, a luz refletida pelo objeto é convertida em energia
elétrica e a resposta obtida pode ser lida e processada por um computador,
sendo alinhada em coordenadas cartesianas composta por pontos denominados
pixels (FILHO, J. P.; 2015).
A análise por meio do processamento de imagem gera como resultado uma
matriz, determinada por linhas e colunas, sendo cada índice referente a um pixel.
Esses pixels possuem intensidade de cores, em uma combinação de vermelho
(R-Red), verde (G-Green) e azul (B-Blue), que juntos, fornecem uma cor
específica, formando um sistema conhecido como RGB. Esse sistema possui
relação estreita com ensaios colorimétricos, e favorece a obtenção de dados
qualitativos e quantitativos (GONZALEZ, R. C.; WOODS, R. E.; 2007). Com
avanço da tecnologia em imagem digital, novas ferramentas são desenvolvidas
com intuito de desenvolver novas metodologias de análise.

1.5 PHOTOMETRIX
Em 2017, o grupo de pesquisa em quimiometria da Universidade de Santa Cruz
do Sul, desenvolveu um aplicativo para análises colorimétricas chamado
Photometrix. O aplicativo possui ferramentas de análise multivariadas,
permitindo realizar PCA, PLS e análise hierárquica de agrupamentos (HCA –
Hierarchical Cluster Analysis) (Figura 4a). A interface do aplicativo permite
selecionar configurações da região de interesse, configurações da câmera,
cadastrar um e-mail para extrair os dados, entre outros (Figura 4b).
Helfer et al, em 2017, descreve o desenvolvimento do aplicativo Photometrix e
seu funcionamento e realizou o planejamento experimental para determinação
de ferro em comprimidos vitamínicos utilizando mínimos quadrados parciais
(PLS), e análise de componentes principais (PCA) em imagens de cédulas de
papel-moeda, demonstrando assim, o potencial do aplicativo Photometrix como
ferramenta de análise colorimétrica quantitativa e qualitativa em análises
multivariadas de maneira simples, com uso de um smartphone.
Por meio de uma busca realizada no banco de dados Web of Science, a partir
de 2017, houve um crescente número de publicações que correspondem à
palavra-chave “PhotoMetrix”, bem como é verificado o aumento de citações
sobre o tema (Figura 4). As publicações abrangem diversas áreas, tendo grande
concentração na área de química analítica e tecnologia de alimentos.

20
Figura 4: interface do aplicativo PhotoMetrix PRO, com as respectivas opções de análises
multivariadas (a) e configurações do aplicativo (b).

Fonte: Vittorazzi et al (2020)

Figura 5: pesquisa bibliográfica na base de dados Web of Science com a palavra-chave


“PhotoMetrix”, contagem de publicações e citações entre 2016 e 2022.

Fonte: Web of Science

Posteriormente ao desenvolvimento do aplicativo PhotoMetrix, outras matrizes


foram analisadas como apresentado no trabalho de Soares et al, que
propuseram a análise de iodo em biodiesel por meio do PhotoMetrix. Este estudo

21
foi o primeiro a realizar um spot test para determinação de iodo em biodiesel,
utilizando imagens digitais simples capturadas por um smartphone. (SOARES,
S.; 2017)
Em 2018, Yulia et al, desenvolveram uma metodologia para determinação de
ceras em amostras de gorengan (porção de massa frita tradicional do sudeste
asiático). Com a otimização das condições dos reagentes, os autores utilizaram
PCA por meio do aplicativo PhotoMetrix para discriminar as amostras de acordo
com a concentração de cera adicionada no óleo de cozinha. Os resultados
mostram a separação de três diferentes grupos de concentrações de cera,
indicando a capacidade das análises multivariadas do aplicativo. (YULIA et al,
2018)
Uma metodologia para determinação de misturas de biodiesel em diesel e
análise de imagens digitais foi proposta por Soares et al, utilizando da reação
colorimétrica do complexo violeta formado na reação entre Fe3+ e o íon
hidroxamato. Os resultados experimentais apresentaram similaridade quando
comparados ao método oficial que utiliza espectroscopia no infravermelho,
demonstrando o potencial do método proposto. (SOARES, S.; 2019)

22
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVOS GERAIS
Avaliar o uso de um aplicativo de smartphone aliado a métodos quimiométricos
para diferenciação entre cédulas de Real autênticas e adulteradas.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


a) identificar a autenticidade de notas de Real via análise quimiométrica de
imagens obtidas com smartphone
b) determinação de parâmetros de análise para diferenciação de cédulas de Real
por meio de imagens
c) avaliação das diferentes regiões no anverso e reverso da cédula de 50 Reais
para captura de imagens
d) avaliação de configurações da região de interesse (ROI) disponíveis para
captura de imagens
e) avaliação da distância de foco entre a câmera e a cédula
f) investigação da influencia de diferentes modelos de smartphones

23
3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
3.1 AMOSTRAS
Foram selecionadas cédulas de R$10, 20, 50 e 100, que apresentam maior
índice de falsificações segundo dados do Banco Central do Brasil. (BCB; 2022).
Para cada valor, foram utilizadas 16 cédulas, dessas, 12 eram falsificadas e 4
autênticas, totalizando 64 cédulas. As cédulas autênticas foram obtidas em
banco local e as falsificações foram reproduzidas pelo autor em impressoras
comerciais do tipo LaserJet (Konica Minolta 654), cera (Xerox ColorQube 8880)
e deskjet (Epson L656), e disponibilizadas para análise.

3.2 ANÁLISE DOS DADOS


O aplicativo PhotoMetrix PRO, desenvolvido pelo grupo de pesquisa em
quimiometria da Universidade de Santa Cruz do Sul (RS, Brasil) e disponível
gratuitamente nas plataformas de aplicativo Android e IOS, foi utilizado para
aquisição e processamento das imagens. Foi utilizado o tratamento
quimiométrico PCA visto a rapidez e facilidade, contando com poucos passos
até os dados finais, sem necessidade de tratamento de prévio da imagem para
interpretar os resultados. As etapas envolvidas na análise dos dados são
demonstradas na Figura 6. Para o processamento dos dados no aplicativo,
foram utilizados os canais R, G, B, H, S, V, L e I, com dados centrados na média.

Figura 6: fluxograma de análise por PCA aplicado a cédula de Real

Fonte: Vittorazzi et al (2020)

24
3.3 ENSAIOS DE OTIMIZAÇÃO
A otimização das análises foi realizada na cédula de R$50. Foi avaliado a melhor
região para aquisição da imagem (faixa holográfica, região tátil no número
inferior esquerdo e número superior direito, microimpressões na efígie, número
inferior esquerdo, figura do animal, marca d’água e quebra-cabeça), região de
interesse (16×16, 32×32, 64×64 pixels), distância focal (8, 12, 15 e 20 cm) e
controle de luminosidade (laboratório com luminosidade controlada), detalhadas
a seguir. Após a otimização, realizou-se a análise nas cédulas de outros valores
(100, 20 e 10 reais) considerando os critérios que apresentaram melhores
resultados. Por fim, variou-se o modelo do smartphone para observar a influência
nos resultados.
Os ensaios de otimização foram realizados com um smartphone Motorola G5
Plus, com câmera de 12 megapixels e sistema operacional Android 8.0. Para o
estudo não há necessidade de preparo da amostra e as análises foram
realizadas em ambiente controlado, sendo avaliado o efeito do controle de
luminosidade com uma luminária LED de 3,5W.

3.3.1 Ensaio 1 - Determinação da melhor região da cédula de 50 reais


Todos os valores das cédulas de Real apresentam regiões com medidas de
segurança gráfica, facilitando a identificação de possíveis adulterações. Foram
selecionados para o estudo, reverso e anverso, as sete regiões mostradas na
Figura 7.

3.3.2 Ensaio 2 - Região de interesse e distância focal na cédula de 50 reais


Após determinar a melhor região da cédula de 50 reais, foi investigado a
influência do ponto de captura ou spot. O aplicativo/software possibilita variar o
ponto de captura entre 16×16, 32×32, 64×64, 96×96; bem como a distância focal
entre a amostra e a câmera do smartphone utilizado. Após determinar a melhor
região da cédula de 50 reais, foi investigada a influência do ponto de captura ou
spot, que variou entre 16×16, 32×32, 64×64; e a distância focal, entre a amostra
e a câmera do smartphone utilizado, variando entre 8cm e 20 cm, que
compreende a distância mínima e máxima, respectivamente.

25
3.3.3 Ensaio 3 - Variação do modelo do smartphone
Por fim, visando avaliar principalmente a influência do smartphone utilizado na
análise, foi realizado o ensaio com condições mais eficientes dos ensaios
anteriores com outros três modelos de smartphones. Ao considerar as
especificidades das câmeras dos diferentes aparelhos, a reprodutibilidade dos
resultados entre os smartphones deve ser considerada como uma variável nas
análises.
Os três smartphones de marcas diferentes foram: i) Motorola G5 Plus, com
câmera 12 megapixels e sistema operacional Android 8.0; ii) Samsung Galaxy
S7, com câmera de 12 megapixels e sistema operacional Android 8.0; iii) LG
K10, com câmera de 13 megapixels e sistema operacional Android 6.0.

Figura 7: Regiões da cédula da melhor ROI para o estudo: (a) faixa holográfica, (b) região tátil -
número inferior esquerdo, (c) marca d’água, (d) microimpressão - região da efígie, (e) região tátil
- número superior direito, (f) microimpressão - número superior esquerdo, (g) microimpressão –
região da figura do animal, e (h) quebra cabeça (h)

Fonte: Vittorazzi et al (2020)

3.3.4 Ensaio 4 - Análise das cédulas de R$10, 20 e 100


A partir dos resultados encontrados nos ensaios de otimização para melhor
região de interesse, foi realizada análise posterior para verificar a influência do

26
tamanho do spot e a distância focal entre amostra e o smartphone para as
cédulas de R$10, 20 e 100 reais visto que esses valores também são alvos de
falsificação em grande quantidade. A metodologia utilizada foi descrita
anteriormente. Dezesseis amostras de cada valor foram utilizadas na análise,
sendo 4 autênticas e 12 falsificadas.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Ensaio 1 - determinação da melhor região da cédula

Inicialmente foi investigada a melhor região da cédula de 50 reais. Algumas


regiões da cédula são mais consistentes e confiáveis para classificação das
cédulas autênticas e falsificadas em grupos bem determinados devido a
presença de elementos gráficos usados como meio de segurança, para isso as
análises foram realizadas para os canais R, G, B, H, S, V, L e I com dados
centrados na média.
A Figura 8 apresenta os gráficos de scores (PC1×PC2) para as regiões do
anverso e reverso. No anverso, a região de microimpressões na efígie (Figura
8a), apresentou agrupamentos separados e bem definidos, tanto para autênticas
como para as falsificadas. Toda região de PC1 foi responsável por separar os
três grupos de cédulas falsificadas, enquanto PC2<0 foi responsável por separar
as cédulas autênticas.
Analisando o gráfico de loadings dos canais do anverso na região PC1 (Figura
9a), observa-se que o canal H é responsável pela separação das cédulas
autênticas, enquanto R, G, B das cédulas falsificadas.
No reverso, a região de destaque foi a microimpressão em torno do animal
(Figura 8b), sendo PC1>0 responsável por separar as cédulas autênticas e toda
a região de PC2 responsável por separar os três agrupamentos das falsificadas.
Nos loadings para PC1(Figura 9b) os canais H e B foram responsáveis por
identificar as cédulas autênticas, e os canais G e R, das cédulas falsificadas.

27
Figura 8: PCA da cédula de R$50 contendo o melhor agrupamento das amostras: região (a)
anverso de microimpressão na efígie; e (b) reverso de microimpressão no entorno do animal

Fonte: Vittorazzi et al (2020)

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Figura 9: Loadings PC1 - cédula de 50 reais: anverso região de microimpressão da efígie (a) e
reverso região de microimpressão no entorno do animal (b)

Fonte: Vittorazzi et al (2020)

4.2 Ensaio 2 - região de interesse e distância focal

Sequencialmente foram avaliadas a região de interesse e distância focal. A


região de interesse delimita o tamanho do local de captura da imagem, no qual
o aplicativo obtém os dados. Nas configurações do aplicativo uma opção deve
ser escolhida entre 8×8, 16×16, 32×32, 64×64 e 96×96 pixels. Nesse ensaio
foram testados os valores 16×16, 32×32, 64×64 pixels que apresentavam
tamanho considerável para aquisição da imagem capaz de abranger os
elementos de segurança mantendo o foco da câmera.
A análise resultante no gráfico de scores da PC1×PC2, Figura 10, mostra que
as amostras autênticas e falsas apresentam-se bem agrupados em todos os
casos, em destaque a ROI 16×16 pixels (Figura 10a,d), que apresenta melhor
separação das cédulas, principalmente as falsificadas, tanto no anverso como
no reverso. O mesmo não ocorre para as ROI 32×32 e 64×64 pixels, Figura
10b,e, e Figura 6c,f, respectivamente, evidenciando o ROI 16×16 pixels como
mais eficiente entre os valores avaliados.

29
Figura 10: Variação do tamanho do spot na região de microimpressão da efígie de cédulas de
R$50 com ROI – 16×16 pixels (a), 32×32 pixels (b), e 64×64 pixels (c); e na região da
microimpressão do entorno do animal com ROI – 16×16 pixels (d), 32×32 pixels (e), e 64×64
pixels (f)

Fonte: Vittorazzi et al (2020)

Para avaliar a distância focal, determinou-se uma faixa de trabalho que


compreende a distância máxima e mínima que possibilitou focar a imagem da
amostra sem a perda de resolução, assim, os valores utilizados foram 8, 12, 15
e 20 cm (Figura 11). Todos os resultados mostraram uma excelente
classificação das cédulas de R$50, autênticas e falsas em todos os casos,
afirmando que a variação da distância não influencia na qualidade final do
resultado.

30
Figura 11: PCA...Estudo da distância entre a aquisição da imagem e a câmera do smartphone
(Motorola G5 Plus) na cédula de R$50 para a região da microimpressão efígie (8 cm (a), 12 cm
(b), 15 cm (c), e 20 cm (d)) e na região da microimpressão do entorno do animal (8 cm (e), 12
cm (f), 15 cm (g), e 20 cm (h))

Fonte: Vittorazzi et al (2020)

31
4.3 Ensaio 3 - Variação da marca do smartphone
Como a captura da imagem é dependente da qualidade dos componentes
eletrônicos da câmera, foi avaliado a influência do uso de diferentes marcas e
smartphones.
Para o smartphone da marca Motorola G5 Plus (Figura 12a-b), e Samsung
Galaxy S7 (Figura 12c-d), grupos bem definidos são observados. Analisando os
scores da região da PC1×PC2, constata-se que PC2 é a componente
determinante para separação das cédulas autênticas tanto no anverso quanto
no reverso.
O smartphone da marca LG K10 apresentou limitações para agrupar e classificar
as cédulas autênticas e falsificadas, que podem ser observadas no gráfico PCA
(Figura 12e-f). Além disso, analisando os gráficos de scores da PC1×PC2, é
possível visualizar que ambas as PCs são importantes para determinar a
autenticidade da cédula de R$50. Entretanto, a região de PC1 é responsável
para classificação do tipo de falsificação empregada tanto na região do anverso
quanto do reverso.
Na Figura 12 observa-se a partir da análise PCA que é possível determinar os
agrupamentos das cédulas de R$50 independente da marca dos três
smartphones analisados, entretanto, sua classificação entre cédulas autênticas
e falsificadas podem sofrer alterações relacionadas a qualidade do smartphone.

32
Figura 12: Variação da marca do smartphone. Motorola G5 Plus - região de microimpressão na efígie (a), Motorola G5 Plus - região de microimpressão no
entorno do animal (b), Samsung Galaxy S7 - região de microimpressão da efígie (c), Samsung Galaxy S7, região de microimpressão animal (d), LG K10, região
de microimpressão da efígie (e), LG K10, região de microimpressão no entorno do animal (f)

Fonte: Vittorazzi et al (2020)

33
4.4 Ensaio 4 - Análise das cédulas de R$10, 20 e 100
A partir dos resultados anteriormente obtidos para a cédula de R$50, onde foram
observados que a região de microimpressão na efígie (anverso) e no entorno do
animal (reverso) apresentaram melhores agrupamentos entre as cédulas
autênticas e falsificadas, foi dado prosseguimento ao estudo das demais cédulas
nas mesmas regiões mencionadas. Além disso, o ROI escolhido foi o 16×16
pixels, e a variação da distância, mesmo não influenciando na resposta, foi fixada
em 10 cm entre o smartphone e a amostra. A partir dos critérios mencionados
estabelecidos pelos ensaios de otimização, foi possível construir um perfil de
análise.
A Figura 13a-f mostra os resultados obtidos com o smartphone Motorola G5
Plus na análise das cédulas de R$10, R$20 e R$50, apresentando resultados
satisfatórios para classificações dos diferentes valores de cédula entre
autênticas e falsificadas. Para a cédula de R$100 (Figura 13a-b), foi possível
observar uma boa classificação entre cédulas autênticas e falsificadas, sendo a
região de PC1 a componente determinante da separação com influência dos
canais R e G (Figura 14) tanto no anverso quanto no reverso.

34
Figura 13: Análise cédulas de R$ 100, 20 e 10 usando o smartphone Motorola G5 Plus, ROI – 16x16 pixels (distância de 10cm): região de microimpressão na
região da efígie (a,c,e) e microimpressão na região do entorno do animal (b,d,f).

Fonte: Vittorazzi et al (2020)

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Figura 14: Loadings PC1 - cédula de 100 reais: anverso região de microimpressão da efígie (a)
e reverso região de microimpressão no entorno do animal (b)

Fonte: Vittorazzi et al (2020)


Figura 15: Loadings PC2 anverso - cédula de 20 reais: região de microimpressão da efígie (a) e
reverso região de microimpressão no entorno do animal (b)

Fonte: Vittorazzi et al (2020)

36
Na cédula de R$20 (Figura 13c-d), a separação se apresenta bem definida,
principalmente pela componente PC2, onde os canais G e H influenciam no
anverso (Figura 15a) e os canais G, B e H no reverso (Figura 15b).
A cédula de R$10 (Figura 13e-f) teve a separação determinada pela região de
PC2 no anverso e por PC1 no reverso. Tendo influência dos canais G, B e H
para PC2 no anverso (Figura 16a), enquanto o canal H influencia PC1 no reverso
(Figura 16b).

Figura 16: Loadings PC2 - cédula de 100 reais: anverso região de microimpressão da efígie (a)
e PC1 reverso região de microimpressão no entorno do animal (b)

Fonte: Vittorazzi et al (2020)

O Samsung Galaxy S7 apresentou bons resultados para os agrupamentos,


Figura 17, que possibilitou classificar todos os agrupamentos de cédulas de
todos os valores entre autênticas e falsificadas. O smartphone LG K10
possibilitou a classificação entre grupos de cédulas autênticas e falsificadas,
porém não bem delimitados, comprometendo o resultado entre autênticas e
falsificadas, Figura 18.

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Figura 17: Análise PCA de cédulas 100, 20 e 10, smartphone Samsung Galaxy S7, ROI – 16x16 pixels (distância de 10cm da amostra): microimpressão na
região da efígie (a, c, e), microimpressão na região do entorno do animal (b, d, f)

Fonte: Vittorazzi et al (2020)

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Figura 18: Análise PCA cédulas 100, 20 e 10, smartphone LG K10, ROI – 16x16 pixels (distância de 10 cm da amostra): microimpressão na região da efígie
(a, c, e), microimpressão na região do entorno do animal (b, d, f)

Fonte: Vittorazzi et al (2020)

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5 CONCLUSÃO
O presente estudo analisou, com o aplicativo PhotoMetrix, 16 amostras de
cédulas de Real, 4 autenticas e 12 falsificadas, distribuídas igualmente entre os
valores de R$10, 20, 50 e 100. Para isso, foi desenvolvido um planejamento
experimental, onde determinou-se a melhor região para aquisição da imagem
avaliando as regiões faixa holográfica, região tátil no número inferior esquerdo e
número superior direito, microimpressões na efígie, número inferior esquerdo,
figura do animal, marca d’água e quebra-cabeça; as configuração ROI: 16x16,
32x32, e 64x64; distância focal: 8, 12, 15, 20 cm; e variação do modelo do
smartphone. A partir dos resultados obtidos foi determinado a região de
microimpressão da efígie para aquisição de imagem no anverso e
microimpressão em torno do animal no reverso, configuração de 16x16 pixels
para o ROI e distância focal de 10 cm. Além disso, ao avaliar diferentes modelos
de smartphones, foi observado que todos apresentaram resultados satisfatórios,
entretanto, o LG K10 apresentou limitações na apresentação dos dados, que
podem comprometer os resultados. Portanto, em geral os resultados possuem
excelente qualidade e demonstram de maneira evidente o potencial do aplicativo
PhotoMetrix para classificação de cédulas por meio de análise colorimétrica
associada à análise multivariada por PCA. Essa abordagem é ainda mais
fortalecida por sua interface interativa, que permite um aprendizado rápido para
a realização das análises e a obtenção dos resultados. Além disso, vale ressaltar
que a metodologia proposta não apenas oferece resultados de qualidade, mas
também apresenta características altamente benéficas. Ela é não destrutiva, o
que significa que não compromete a integridade das cédulas sob análise. Sua
rapidez é um ponto notável, tornando-a especialmente vantajosa para análises
in loco, onde a agilidade é essencial. Além disso, essa abordagem demonstra
um baixo custo, tornando-a uma alternativa econômica e eficiente. Todas essas
características combinadas a fazem uma escolha prática e eficaz para a
classificação de cédulas com conveniência e precisão.

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