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Carolina Alves Quintanilha – 11/08/2019

Anamnese Ginecológica
 Toda vez que formos fazer a anamnese de uma paciente não podemos deixar de individualizar,
oferecer uma abordagem integral a ela, com entendimento psicossocial (ou seja, entender em
que condição a pessoa vive para tentar compreender melhor e também estabelecer um vínculo
inicial). Sendo assim, devemos ouvir o que a paciente quer falar, mas nunca deixando de perguntar
o que queremos saber e sempre direcionando a fala da paciente para o motivo da consulta,
montando um raciocínio clínico.

 Identificação:
→ Nome da paciente .
→ Idade: existem doenças que acometem mais cada faixa etária.
Infância: Anomalia da genitália externa – exemplo: genitália ambígua;
Puberdade: corrimentos e vaginites;
• Adolescência: Malformações da genitália interna ; Hímen imperfurado (parcial ou total
– a membrana recobre todo o canal vaginal, ocluindo a saída da vagina ); Irregularidade
menstrual (é comum nos 2 primeiros anos após a menarca – primeira menstrua ção);
Gravidez indesejada; DST.
• A genitália externa (vulva, clitóris, lábios pequeno e grande) é avaliada quando a
paciente nasce, e geralmente é normal, porém, ela pode ter alguma alteração da
genitália interna (vagina, útero, ovário) que poderá ser perceptível apenas quando
a paciente chegar n a fase menstrual e por algum motivo não menstrua – pode ser
por ausência de útero, alteração relacionada à maturidade sexual (eixo hipotálamo -
hipófise-ovário não funciona), ou a paciente tem todos os órgãos normais, porém
possui hímen imperfurado ou um septo vaginal transverso que oclui a saída da vagina
e não deixa o sangue exteriorizar . O que irá diferenciar se a paciente possui útero
ou se é algo ocluindo é que se não houver útero, ela não sentirá dor, pois
naturalmente não haverá menstruação; Se ela tiver útero, mas tiver o hímen
imperfurado ou algum septo vaginal, ela irá sentir dor, pois o útero irá contrair para
que o sangue saia, mas este ficará aprisionado dentro da vagina e impedido de sair.
Carolina Alves Quintanilha – 11/08/2019

Menacme: É o período que compreende da primeira vez que a pessoa menstruou até ela
parar (período fértil). São mais comuns: Alterações menstruais ; Dor pélvica;
Vulvovaginites; DST; Gravidez; Infertilidade etc.
Climatério: É o período em que a menstruação começa a falhar (pré-menopausa). Ocorre
uma irregularidade menstrual, pois há um desequilíbrio na produção dos hormônios
femininos pelos ovários, pois este fica insensível à estimulação hormonal , portanto,
haverá meses em que a paciente terá ciclos normais e irá m enstruar, e haverá meses
que isso não ocorrerá. O climatério ocorre por volta dos 4 5 anos. São mais comuns:
Distúrbios de falência ovariana (o ovário não funciona normalmente mais); Prolapso
genital (os ligamentos e a musculatura genitais ficam mais frouxo s com a idade, portanto
pode haver prolapso de útero, por exemplo, total ou parcial (se total, o útero fica
totalmente exteriorizado da vagina); Alterações urinárias (mais comum é a incontinência
urinária); Distopia de parede anterior ou posterior (anterio r – bexiga; posterior – reto,
podendo ser retocele ou enterocele); Neoplasias genitais etc.

OBS: Menopausa – O diagnóstico para a menopausa é clínico, ou seja, a paciente tem


que estar 1 ano sem menstruar.

→ Estado civil: presume -se que pessoas casadas e que namoram têm relação sexual com maior
frequência e que só têm um parceiro sexual; além disso, possuem fator de risco a mais para
algumas doenças.
→ Profissão: algumas profissões oferecem maiores riscos para certos tipos de doença. Por
exemplo: cirurgião (contaminação acidental com material biológico) , profissionais do sexo
(maior risco de DST).
→ Procedência: lugar onde reside a paciente, se ela vem de alguma área endêmica.
→ Nível socioeconômico e cultural.
→ Escolaridade.
→ Raça: pacientes negras têm maiores chances de ter mioma.

 Queixa Principal:
→ As queixas principais mais comuns na ginecologia são: alteração menstrual, corrimento e dor
pélvica.
→ É comum que as pacientes vão para consulta apenas para fazer controle e coleta de
preventivo e planejamento familiar (orientação em relação a método contraceptivo).
Carolina Alves Quintanilha – 11/08/2019
 História da Moléstia Atual:
→ É importante conduzir a história da paciente sem ficar interrompendo -a, mas sempre
tentando estabelecer um tema central e a cronologia daqueles acontecimentos.
→ Sangramentos: é a queixa mais comum.
Importante fazer relação com o ciclo menstrual: saber se o sangramento foi no início,
meio; saber qual a duração e a intensidade do sangramento;
Possíveis causas:
• Trauma: no caso de trauma, é importante lembrar que o sangramento pode ser
decorrente de laceração do hímen durante a relação sexual.
• Presença de ectopia do colo do útero (parte de dentro do útero um pouco pra
fora da vagina).
• Infecção vaginal: a clamídia, por exemplo, pode dar sangramento logo após a
relação sexual (sinusorragia).
• Uso de hormônios: alguns hormônios podem dar sangramento irregular,
principalmente nos 3 primeiros meses de uso.
• DIU: pode alterar o padrão do ciclo. O DIU de cobre aumenta tanto a du ração
quanto o fluxo menstrual. Já o DIU hormonal faz com que a maioria das mulheres
entre em amenorreia (para de menstruar), mas pode haver sangramento de
escape (parecido com o final da menstruação).
A causa do sangramento varia de acordo com a idade e deve influenciar nas hipóteses
diagnósticas que se deve pensar:
• Pré-púbere: lesão de vulva (trauma quando a criança está andando de bicicleta,
por exemplo); presença de corpo estranho (criança pode introduzir algo dentro
da vagina, provocando sangr amento); abuso sexual.
• Adolescência: sangramento funcional ; coagulopatia; complicações decorrentes da
gravidez (exemplo: aborto).
• Menacme: sangramento funcional; decorrente de algum método anticoncepcional
(DIU/uso de hormônios); complicações da gravidez; presença de tumor ou
infecção.
• Perimenopausa: período em que a menstruação começou a falhar, mas a pessoa
ainda não parou de menstruar. Mais comuns: insuficiência ovariana (o ovário vai
ficando insensível aos estímulos hormonais); tumor.
• Pós-menopausa: uso de hormônios (terapia hormonal); atrofia de endométrio (o
endométrio fica muito fino, podendo ocorrer sangramento); câncer (não é muito
comum, mas ele é mais frequente nessa fase); trauma (nessa fase o epitélio da
vagina fica atrófico/fino e com isso ele traumatiza facilmente).
Conceitos:
• Eumenorreia: ciclo menstrual normal.
✓ Intervalo entre ciclos: 24 a 32 dias ou 21 a 35 dias (depende do autor).
✓ Duração do ciclo: 1 a 8 dias.
✓ Volume do ciclo: 30 a 80 ml.
• Hipermenorreia ou menorragia: fluxo menstrual muito intenso.
• Hipomenorreia: fluxo menstrual pouco.
• Amenorreia: Ausência de ciclo menstrual.
Carolina Alves Quintanilha – 11/08/2019
• Polimenorreia: intervalo entre os ciclos é m ais curto, portanto, a pessoa
menstrua mais vezes. Exemplo: intervalo entre ciclos de 18 dias.
• Oligomenorreia: intervalo entre os ciclos é mais longo, portanto, a pessoa
menstrua menos vezes. Exemplo: intervalo entre ciclos de 45 dias.
• Metrorragia: perda sang uínea fora do período menstrual; volume, intensidade e
número de vezes aumentados.
• Sinusorragia: Sangramento após relação sexual.
→ Dor pélvica: é a segunda queixa mais comum.
Pode ser aguda ou crônica (quando dura mais de 6 meses).
Fatores que causam dor pélvica:
• Fatores psicológicos podem estar associados à dor crônica em todas as
especialidades da ginecologia. Neste caso, não significa que a pessoa não tenha
dor, mas as vezes não se acha nada físico que a justifique.
• Outros órgãos: a inervação de alg uns órgãos é muito próxima do útero, exemplo:
bexiga, intestino.
• Dismenorreia primária : É a dor que ocorre antes ou durante a menstruação e é
causada pela contração do útero para eliminar o volume de sangue. Dura de 1 a
2 dias, repete em todos os ciclos e normalmente irradia para a região
lombossacral e inguinal.
✓ O uso do anticoncepcional ajuda na cólica porque o fármaco diminui o fluxo
menstrual e, consequentemente, o volume a ser eliminado, logo, o útero
terá uma contração menos rigorosa e a pessoa senti rá menos dor.
• Dismenorreia secundária : É a dor que ocorre durante a menstruação, mas que
está relacionada a alterações do sistema reprodutivo. Exemplos: endometriose
(crescimento de tecido endometrial fora do útero); miomatose (formação de
nódulos no útero – tumor benigno); adenomiose (crescimento de tecido
endometrial no miométrio).
✓ O mioma pode ser:
▪ Subseroso: está abaixo da serosa e pode ter um pedículo.
▪ Intramural: no meio do miométrio.
▪ Submucoso: está abaixo do endométrio. É o único mioma que dá
sangramento. Também pode apresentar pedículo.
▪ Intracavitário: dentro da cavidade.
▪ Intraligamentar: está no ligamento do útero.
Carolina Alves Quintanilha – 11/08/2019

• Doença inflamatória pélvica (DIP) : Normalmente é uma dor na região hipogástrica


associada a corrimento e febre.
• Malformação congênita : presença de septo vaginal (transverso ou longitudinal)
que pode causar dispareunia (dor na relação sexual) .
✓ Hematométrio: acúmulo de sangue n o útero/vagina. Pode ocorrer devido a
presença do septo vaginal.
• Dor do meio (dor de Mittelsschmerz) : É a dor da ovulação, ocorre no meio do ciclo
menstrual e normalmente no lado em que a pessoa está ovulando. Só vai ter essa
dor quem ovula, portanto quem faz uso de anti concepcional não pode ter essa
dor. Pode haver um pequeno sangramento junto com a dor. Pode durar horas ou
1 dia.
• Tumor: Degeneração de algum mioma; torção de algum pedículo; invasão tumoral.
→ Corrimento: é a terceira queixa mais comum.
Importante avaliar a cor, consistência, volume, odor, relação com ciclo menstrual
(alguns corrimentos pioram na fase da menstruação), se há dor associada ao
corrimento, prurido (+ comum = cândida), se fez uso de antibiótico (também
relacionado à candidíase ).
A secreção vaginal fisiológica é clara, viscosa, não tem odor nem prurido e exacerba
no meio do ciclo. A pessoa que não usa anticoncepcional tem ciclo menstrual, tem
alteração hormonal, portanto, terá época que essa secreção está mais intensa ou
diminuída, estar mais transparente ou mais branca e isso ocorre devido à alteração
hormonal.

 História Menstrual:
→ Na história menstrual nós devemos perguntar sobre:
Menarca: inicia-se entre 9 e 16 anos.
DUM (data da última menstruação): importante para cálculo de idade gestacional.
Ciclo menstrual: duração da menstruação, fluxo/volume da menstruação, intervalo
entre os ciclos e sintomas associados.
→ Cronologia dos eventos (desenvolvimento da puberdade) :
1°: Telarca (desenvolvimento do botão mamário).
2°: Pubarca (surgimento dos pelos pubianos e axilares).
3°: Menarca (primeira menstruação).
→ Necessita-se de avaliação quando:
Telarca antes dos 6 anos.
Menarca antes dos 8 anos.
Ausência de características secundárias a os 14 anos.
Ausência de menarca aos 16 anos (mesmo que tenha ocorrido telarca e pubarca, pois
pode ser alguma alteração como presença de hímen imperfurado ou septo vaginal).
• Os hormônios sexuais são produzidos a partir de colesterol, logo, se uma pessoa,
por exemplo, é atleta (baixo percentual de gordura e, consequentemente,
colesterol), ela tem pouco hormônio, portanto pode não se desenvolver. O
contrário ocorre com quem tem dislipidemia.
Carolina Alves Quintanilha – 11/08/2019
 História Sexual:
→ Devemos perguntar sobre:
Início da atividade sexual.
Frequência das relações sexuais.
Número de parceiros.
Alteração de libido.
Dispareunia.
Antecedentes de DST (pergunta -se se a pessoa já teve alguma doença que teve que
tratar ela e o parceiro, se isso ocorreu é DST; no caso de vaginose bacteriana ou
cândida trata-se apenas a mulher).

 História Reprodutiva:
→ Infertilidade conjugal: se o casal não consegue engravidar, há algum problema que pode ser
de um ou dos dois. Deve -se investigar o casal, perguntar quais tratamentos já foram feitos
(se já fez várias inseminações e não deu certo, deve -se investigar o motivo e não realizar
outras).
→ G – Número de gestações
P – Número de partos
A – Número de abortos
Gravidez de gêmeos é considerado G1.
Aborto: Interrupção da gravidez até 20/22 semanas ou feto com menos de 500g.
No aborto a mãe tem direito a 15 dias de atestado e o feto é descartado no hospital,
não sendo necessário fazer declaração alguma.
Parto: Interrupção da gravidez após 20/22 semanas ou feto com mais de 500g.
Se for um parto prematuro extremo a mãe tem direito a licença maternidade de 4
meses e o bebê deve ser enterrado, sendo necessário fazer declaração de nascido
vivo e em caso de morte, declaração de óbito; se já nascer morto, fazer declaração
de nascido morto.

 História Contraceptiva:
→ Devemos perguntar sobre:
Métodos contraceptivos que a paciente já usou.
Se possui alguma contraindicação para usar algum tipo de método, exemplo: pessoa
obesa, hipertensa, tabagista, com idade maior que 35 anos ou com enxaqueca (não
devem usar anticoncepcional).

 História Pregressa:
→ Devemos perguntar sobre:
Doenças pregressas: hipertensão arterial, diabetes, tromboembolia, disfunção de
tireoide e outros.
Tratamento cirúrgico prévio: miomectomia (não pode ter parto normal, pois tem risco
de romper o útero durante o trabalho de parto).
Imunização: hepatite B, rubéola (ideal que seja feito antes da gravidez).
Avaliação pré -concepcional: fazer sorologia para sífilis e HIV. Uso de ácido fólico antes
das 8 semanas, que é o período em que ocorre o fechamento do tubo neural.
Carolina Alves Quintanilha – 11/08/2019
Medicamentos utilizados pela paciente: uso de anticoncepcional, antibiótico (pode
diminuir o efeito do anticoncepcional e propiciar o aparecimento de candidíase),
anticonvulsivante (efeito dos cont raceptivos), corticoide e hormônio tireoidiano
(geralmente usado em osteoporose).

 História Familiar:
→ Perguntar sobre histórico familiar de:
Diabetes.
Hipertensão gestacional: paciente pode ter diagnóstico de hipertensão arterial na
gravidez, mas sem ter p roteinúria (que caracteriza pré -eclâmpsia).
Pré-eclâmpsia (doença hipertensiva exclusiva da gravidez): paciente pode ter aumento
na quantidade de proteína excretada na urina (proteinúria = acima de 300
microgramas) + hipertensão gestacional.
Eclâmpsia: paciente com proteinúria + hipertensão gestacional + convulsão.
Dislipidemias.
Osteoporose.
Câncer: principalmente ovariano e mamário.
• 90% dos cânceres são esporádicos.
• 80% das pessoas que tem câncer de mama não tem histórico familiar.
• Apenas 10% é hereditário.
Trombofilia/trombose: paciente deve usar anticoagulante na gravidez inteira.

 Hábitos de vida:
→ Identificar:
Anorexia: pode causar alteração no eixo hipotálamo-hipófise-ovário, pois a pessoa não
tem gordura corporal, causando amenorreia.
Sedentarismo e obesidade: relacionado com os sintomas do climatério, pois quanto
mais gordura maior a conversão de colesterol em estrogênio, então pior pode ser
esses sintomas. Também interfere na osteoporose e neoplasia (o câncer de mama,
por exemplo, é um tumor hormônio dependente, então a pessoa obesa pós -menopausa,
tem maior chance de ter o câncer recidivado).
Atleta: devido ao baixo índice de gordura corporal, pode ter amenorreia.
Tabagismo, etilismo e uso de drogas ilícitas.

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