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A violência na

criança e adolescente
e suas repercussões
na Saúde Mental

AB – Curso de Medicina

Professores: Eduardo Carvalho, Maria Letícia Oliveira,


José Claudio, Bruna Lemos, Carla de Marinis
• Violência, para Galtung, é o que
acontece quando indivíduos ou grupos
são diretamente ou indiretamente
impedidos de viverem seu potencial
como seres humanos.

DEFINIÇÃO DE
• O uso intencional da força física ou do
VIOLÊNCIA poder real ou em ameaça, contra si
próprio, contra a pessoa, ou contra um
grupo ou uma comunidade, que resulte ou
tenha qualquer possibilidade de resultar
em lesão, morte, dano psicológico,
deficiência de desenvolvimento ou
privação.
VIOLÊNCIA DIRETA

VIOLÊNCIA ESTRUTURAL
VIOLÊNCIA CULTURAL

TRIANGULAÇÃO
DAS VIOLÊNCIAS

Se influenciam e
se constroem
mutuamente
▪ A VIOLÊNCIA enquanto forma de educação de crianças e
adolescentes foi historicamente incentivada e, por muito
tempo, não era vista como problema.
ASPECTOS
HISTÓRICOS
▪ Mundo adultocêntrico. O sentimento da infância não
existia.
DA ORIGEM DA
VIOLÊNCIA

▪ Ariès (1978) pontua que, até a Idade Média, não havia


uma consciência sobre o sentimento e as especificidades da
criança. Tudo era compartilhado entre o mundo adulto e o das
crianças: vestuário, trabalho, lazer, jogos.
AS MENINAS
(1656)

DIEGO
VELÁSQUEZ
Um provérbio da Idade Média diz:

VIOLÊNCIA COMO
“Quem não usa a vara, odeia seu filho.
Com mais amor e temor castiga o pai ao
BASE
filho mais querido. Assim como uma EDUCACIONAL
espora aguçada faz o cavalo correr,
também uma vara faz a criança
aprender” (Levin, 1997)
No entanto, mesmo na Idade
Contemporânea, a infância ainda
convive com a aceitação de punições
como forma de educar e impor limites.
.
ACEITAÇÃO DA
"Apanhei VIOLÊNCIA
e não
"Apanhei e morri"!
não virei um
revoltado/a"!

"Apanhei e
não odeio
meus pais"!
▪ Diversos estudos estatísticos denunciam que,
paradoxalmente, é no espaço das relações
familiares, local privilegiado de proteção,
amor e solidariedade, que as mulheres,
crianças, adolescentes e idosos são mais
frequentemente vítimas de violência,
tornando-se tanto um fator de proteção como
um fator de risco.
▪ SAÚDE – acarreta um impacto muito SÉC. XX
negativo ao desenvolvimento e intenso
sofrimento físico e mental.
VIOLÊNCIA
▪ ASSISTÊNCIA SOCIAL – risco pessoal e
social por violação de direitos.
PROBLEMA DE
▪ JURÍDICO – a violência é crime, passível SAÚDE PÚBLICA,
de responsabilização.
SOCIAL E
JURÍDICO
▪ Crianças e adolescentes são o grupo
mais vulnerável à violência, VIOLÊNCIA CONTRA
representando 55% das denúncias do CRIANÇAS E
Disque Direitos Humanos (Disque ADOLESCENTES
100).

▪ Pesquisas apontam que a maior parte


das ocorrências de maus tratos contra
crianças e adolescentes são
perpetradas no ambiente doméstico,
ou seja, são intrafamiliares.
▪ Negligência – 38% PREVALÊNCIA DA
VIOLÊNCIA CONTRA
▪ Violência psicológica – 23% CRIANÇAS E
▪ Violência física – 21% ADOLESCENTS
▪ Violência sexual – 11%
▪ Violência institucional – 3% (FONTE: RELATÓRIO
DISQUE 100/2019)
▪ Exploração do trabalho infantil – 3%
▪ Abandono> 1%
Negligência:
▪A omissão de cuidados pode ser
FORMAS DE expressa como falta de atenção ou
interesse, esquecimento, falta de
VIOLÊNCIA E MAUS supervisão e falta de proteção. Inclui
TRATOS CONTRA atitudes como privar a criança ou
adolescente de afeto, alimentos,
CRIANÇAS E medicamentos, proteção contra as
ADOLESCENTES inclemências do meio (frio, calor),
educação e higiene.
Abandono e falta de cuidados
FORMAS DE adequados:

VIOLÊNCIA E MAUS ▪ coloca em risco, por omissão, a


integridade física, intelectual,
TRATOS CONTRA emocional e social da criança ou
CRIANÇAS E adolescente .

ADOLESCENTES
FORMAS DE
VIOLÊNCIA E MAUS
Violência física:
TRATOS CONTRA
▪ Crianças que apanham muito quando
CRIANÇAS E fazem algo errado.
ADOLESCENTES
FORMAS DE
VIOLÊNCIA E MAUS Violência psicológica:
TRATOS CONTRA • desvalorização e inculcação de
CRIANÇAS E sentimento de culpa.

ADOLESCENTES
FORMAS DE Trabalho infantil:
VIOLÊNCIA E MAUS • priva as crianças de sua infância, seu
TRATOS CONTRA potencial e sua dignidade, e que
CRIANÇAS E é prejudicial ao seu desenvolvimento
físico e mental.
ADOLESCENTES
Violência institucional:
▪ A exposição da criança ou adolescente
FORMAS DE a entrevistas repetidas e procedimentos
VIOLÊNCIA E MAUS inadequados tanto na rede de proteção
(espaços de assistência social, saúde e
TRATOS CONTRA educação),.quanto no sistema de
CRIANÇAS E justiça.
ADOLESCENTES ▪É reconhecida pela lei da escuta
protegida como uma forma de
violência institucional.
▪ É toda ação que se utiliza de criança
ou adolescente para fins sexuais, seja
conjunção carnal ou outro ato
libidinoso, realizado de modo ABUSO SEXUAL
presencial ou por meio eletrônico,
para estimulação sexual do abusador
ou de terceiros.
▪ É o uso de criança ou adolescente em
atividade sexual em troca de
remuneração ou qualquer outra forma
de compensação, de forma EXPLORAÇÃO
independente ou sob patrocínio, apoio SEXUAL
ou incentivo de terceiros, de modo COMERCIAL
presencial ou eletrônico.
▪ Consiste no recrutamento, transporte,
transferência ou acolhimento da
criança ou adolescente, no território
nacional ou estrangeiro, com a
finalidade de exploração sexual TRÁFICO DE
mediante ameaça, uso da força,
coação, fraude, rapto, engano, abuso
PESSOAS
de autoridade, aproveitamento de
situação de vulnerabilidade ou
entrega e aceitação de pagamento,
dentre outros casos previstos na
legislação.
• Quanto a forma:

Com envolvimento físico


▪ Sem penetração: toques, intercurso interfemural,
sexo oral, obrigar a criança a tocar nas partes
íntimas do abusador

▪ Com penetração: intercurso genital e anal, digital

CLASSIFICAÇÃO ou com objetos

DA VIOLÊNCIA • Sem envolvimento físico


▪ Assédio verbal, exibicionismo,
SEXUAL voyerismo, produção de material pornográfico
(fotografias, vídeos), obrigar a criança a assistir
conteúdo pornográfico.

• IMPORTANTE:

• AMBAS TEM GRAVES CONSEQUÊNCIAS. CADA


VÍTIMA EXPERÊNCIA A VIOLÊNCIA DE MODO
SUBJETIVO.
Quanto ao contexto:

• Intrafamiliar ou incestuosa

• O abusador é um adulto responsável pela vítima


(familiar consanguíneo ou adotivo (pai, mãe,
CLASSIFICAÇÃO madrasta, padrasto, , avô...), tutor, cuidador, irmão
mais velho, namorado/a da mãe/pai). Estima-se
DA VIOLÊNCIA que seja a maioria dos casos (pesquisas oscilam
de 60% a 90%).
SEXUAL
• Extrafamiliar

▪ Cometido por estranhos ou conhecidos, mas que


não são considerados como membro familiar.
Mesmo nesse caso, é mais comum o abusador ser
conhecido da vítima do que um completo
desconhecido.
SINAIS E • Cognitivo: reflexos na aprendizagem,
desempenho escolar, atenção, foco e

SINTOMAS capacidade de concentração prejudicada.


▪ Comportamental: fugas, mentiras,

ASSOCIADOS comportamento repressivo, agressivo ou


hipersexualizado, aversão ao contato físico,
apatia ou avidez afetiva; comportamento
À VIOLÊNCIA autodestrutivo e comportamento submisso.
• Emocional: sentimento de vergonha,
medo, ansiedade e irritabilidade.
• Físico: surgimento de lesões,
sangramentos, corrimentos genitais, ISTs e
gestação.
• Transtorno de humor: depressão
• Transtornos de ansiedade
• Transtornos alimentares (anorexia,
bulimia)
TRANSTORNOS
• Transtorno dissociativo
ASSOCIADOS À
• TOD – Transtorno Opositivo-Desafiador
VIOLÊNCIA
• TDAH – Transtorno de Deficit de
Atenção e Hiperatividade
• TEPT – Transtorno de Estresse Pós-
Traumático
▪ Pode ocorrer amnésia dissociativa
como mecanismo de defesa .
• Mesmo não lembrando ou não
interpretando a violência como tal, a
criança tende a ter consequências no
TRANSTORNOS desenvolvimento.
ASSOCIADOS À • A criança tende a experimentar
confusão de sentimentos, dependendo
VIOLÊNCIA da relação afetiva que possui com a
pessoa que pratica a violência.

(Habigzang & Caminha, 2004)


Art. 10. A atenção à saúde das crianças e dos
adolescentes em situação de violência será
realizada por equipe multiprofissional do
O que o profissional
Sistema Único de Saúde - SUS, nos diversos
de SAÚDE deve fazer
níveis de atenção, englobando : ao tomar
conhecimento da
• 1- o acolhimento, violência?
• 2- o atendimento,
• 3- o tratamento especializado,
• 4- a notificação
• 5- e o seguimento da rede de proteção.
Lei Federal 13.431/2017

Decreto nº 9.603/2018

Cria um procedimento especial para


escuta de crianças e adolescentes vítimas
e testemunhas de violência, definindo a
modalidade de Escuta Especializada.

1- Acolher
ESCUTA
É o procedimento de entrevista/escuta sobre ESPECIALIZADA
situação de violência com criança ou
adolescente perante órgão da rede de proteção,
limitado o relato estritamente ao necessário
para o cumprimento de sua finalidade (acolher
a criança e definir encaminhamentos).

.
Acolhimento
ESCUTA
ESPECIALIZADA
.

Acolhimento
O que a SAÚDE deve
▪ promoção da adoção de fazer ao tomar
comportamentos e de ambientes conhecimento da
seguros e saudáveis a partir de
estratégias intersetorias; violência?
▪ monitorização da ocorrência de
violências; sistematização e
padronização das normas e informações
sobre os serviços de atendimento pré-
hospitalar;
▪ assistência interdisciplinar e intersetorial O Ministério da Saúde
às vitimas de violências; (MS) instituiu a Política
Nacional de Redução das
▪ e estruturação do atendimento à
recuperação e reabilitação às vitimas de Violências, orientando
violência. ações para
enfrentamento da
violência a partir das
seguintes diretrizes:
O que a SAÚDE deve
fazer ao tomar
conhecimento?
▪ capacitação de profissionais para
atuarem na prevenção, diagnóstico e
vigilância epidemiológica;
▪ e apoio ao desenvolvimento de
estudos e pesquisas interdisciplinas,
estratégicas, operacionais e avaliativas
(BRASIL, 2001).
O Ministério da Saúde
(MS) instituiu a Política
Nacional de Redução das
Violências, orientando
ações para
enfrentamento da
violência a partir das
seguintes diretrizes:
▪ A ficha de notificação do SINAN para investigação da
violência doméstica, sexual e auto-agressão
possibilitou dar visibilidade às situações que os
outros indicadores não conseguiam captar.
▪ Com o tempo, esse instrumento também tem sido
aprimorado, podendo ser atualmente preenchido por
qualquer profissional de saúde de maneira anônima,
seja no serviço de emergência, como também no
ambulatorial, conforme Portaria GM/MS n. 104 de
25/01/2011.

4- Notificar
O que a SAÚDE deve
fazer ao tomar
conhecimento da
. violência?

4- Notificar
A Lei 13.431 enfatiza a necessidade de capacitação
interdisciplinar, como no artigo 14, parágrafo 1º,
inciso II:
O que a SAÚDE deve
“As políticas implementadas nos sistemas de justiça,
fazer ao tomar
segurança pública, assistência social, educação e
saúde deverão adotar ações articuladas, conhecimento da
coordenadas e efetivas voltadas ao acolhimento e ao violência?
atendimento integral às vítimas de violência.
§ 1o As ações de que trata o caput observarão as
seguintes diretrizes:

II - seguimento interdisciplinar continuado e


preferencialmente conjunto, dos profissionais;”
5- Seguimento
da rede de
proteção
“ N Ã O E X I ST E R EV E L A Ç Ã O
M A I S N Í T I D A D A ALMA DE
U M A S O C I E D A D E D O Q UE
A F O R M A C O M O E L A T R A TA
SUAS CRIANÇAS E
A D O L E S C E NT E S .”
(M a n d e l a)
REFERÊNCIAS
• Ariès, Philippe. História Social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara

• BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil. Brasília: DF, Centro Grafico,1998.

• _______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares


Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010.
• BRASIL. Lei Federal n. 8069, de 13 de julho de 1990. ECA - Estatuto da Criança e do
Adolescente.
• Disque Direitos Humanos - Disque 100 - Disque Denúncia. Disponível em:
https://www.mdh.gov.br/informacao-ao-cidadao/ouvidoria/balanco-disque100 Acessado
em 23/01/2022
• FALEIROS, Vicente de Paula. A violência sexual contra crianças e adolescentes e a
construção de indicadores: a crítica do poder, da desigualdade e do imaginário. SER Social,
Brasília, n. 2, mar. 2010. Disponível em:
<http://seer.bce.unb.br/index.php/SER_Social/article/view/184>. Acesso em: 16 jun. 2022.

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