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D E D I C AT O R I A
Não dedico esse livro aos amores que vivi, e sim à
experiência mágica de amor,sororidade e amizade que
tive na leitura dirigida deste livro. A todas as quase 600
mulheres que compuseram esse caminhar, obrigada!
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PRÓLOGO
Romance é narrativa e estilo literário. Muitos romances
viram dramas, ou verdadeiros filmes de terror. No
romance vemos sempre uma mulher fragilizada, à
espera de um príncipe encantado, de um homem que
a salve de sua vida triste e vazia. Mulheres não são
protagonistas de suas próprias histórias de amor, são
sempre coadjuvantes de uma narrativa escrita por
outro, onde o protagonista é o homem. Diante disso,
significa que devemos portanto, renunciar ao amor?

Esse livro é um manifesto, um ato, um marco. Eu me recuso


a desacreditar no amor porque é o amor, o pulsar de Eros
em nós que alimenta e nutre a vida. Entretanto, o que resta
a nós mulheres não é o amor, é o controle, a violência, o
domínio, a submissão, a obediência, as migalhas. A matriz
cisheteronormativa das relações conduz as mulheres
ao apagamento de seus próprios projetos de vida, ao
desconhecimento profundo de seu próprio valor; e as
empurra a relações abusivas a partir da cobrança social e
patriarcal de que é preciso ter um casamento pra ser feliz.

Escrevi esse livro, um compilado de contos da vida real


acrescidos de pitadas de lições psicanalíticas como uma
forma de manter vivo o poder do amor: o amor próprio. Como
uma forma de manter vivo o poder do tesão: na vida, em nós
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PRÓLOGO
mesmas, no outro. Como uma forma de apostar no poder
das mulheres assumirem suas próprias narrativas, podendo
escrever um capítulo novo, rasurar, rabiscar, inventar.

Escrevi esse livro porque acredito que ser livre e


potente são urgências pras mulheres, e eu aposto
nelas. Aposto em nós. E aposto que os nós viram laços
quando a gente aprende a tecer a própria história.

Compartilho com você minhas crônicas da vida real, cheias


de sinceridade, humor e emoção. E convido você, ao fim
desse livro, a escrever a sua própria história. O lema que
me regeu ao longo dessas histórias e que me manteve viva
e desperta até aqui - e virou tatuagem! - eu compartilho
com você: o que salva, minha amiga, é putaria e lucidez!
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Manual de instruções
Cada capítulo tem uma ou mais músicas que
embalam as histórias contadas. Sugiro que você ouça
a música indicada na história antes de ler a história
pra ter uma experiência mais completa, e também
mais sensorial da leitura! E procura a playlist completa
da leitura como #TudoQueAprendi no Spotify e vai
mergulhando nas mensagens!
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Onde há
fumaça... há
fogo
Enfin solteira
o professor
pág. 09 - 14
psicanalista e a
lição de análise

pág. 15 - 31

O boy par-tido

o professor que
sabia de tudo, mas
não entendia nada

pág. 32 - 49 Me fode, mas não me fode

pág. 63 - 76

O banquete, o
netinho da vovo,
o ouro da Barra:
Histórias para
nadar no raso

pág. 50 - 62
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Um amor na
hora errada e
no tempo certo

pág. 77 - 88

O boy Psol

pág. 90 - 98 Closer, perto


de mais: Um
amor-escola

pág. 113 - 122

Um amor
marinheiro

pág. 123 - 134


Do Rio Vermelho,
ao de Janeiro: O
amor em
Salvador

pág. 100 - 112


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pra ler ao som de


Caminando sobre huesos, de Ava Rocha;
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romper também é abrir

Entrar numa relação abusiva não é uma responsabilidade


individual: é parte de um projeto político destinado às
mulheres, à serviço do patriarcado em nome da misoginia.
Não só não somos ensinadas a nomear as violências
cometidas contra nós em nome do amor, como somos
sobretudo convencidas de que essas violências são o próprio
amor, ou de que temos culpa por sofrermos o que sofremos.
É assim que ciúme e controle viram prova de amor
e de cuidado, e também que a violência masculina
dirigida a nós se justifica na imaturidade dos homens.

Se entrar numa relação abusiva não é uma responsabilidade


individual, permanecer nela e posteriormente poder sair
dela, também não é uma responsabilidade individual.
Somos ensinadas desde muito novas à logica falaciosa
e violenta do “meninas amadurecem mais cedo que
meninos” ou ainda ao estereótipo mentiroso e muito
conveniente ao patriarcado de que “mulheres tem instinto
maternal”. Tudo isso, somado à ética cristã que compõe
o nosso modo de se relacionar, fazem a mulher achar
que ela é responsável por construir, salvar e restaurar o
casamento. Você já ouviu a frase “a mulher sábia edifica
o lar”, né? Essa noção coloca em nós, mulheres, toda a
responsabilidade da relação, fazendo com que a gente sinta
que fracassou quando o casamento finalmente acaba.

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romper também é abrir

O conceito de luto, proposto por Freud, ajuda a entender


esse processo porque é só pelo trabalho de luto que podemos
entender o que foi que perdemos com o fim daquela relação.
É em análise e nos laços de afeto das nossas redes que
vamos elaborar o fim daquela relação a fim de entender
quais foram os investimentos psíquicos e emocionais que
colocamos na relação e o que recolhemos dali. Estávamos
investidas na relação ou estávamos comprometidas em
cumprir um requisito social a partir do título de esposa,
como se isso atendesse às expectativas traçadas pra nós? Se
investimos na relação, a perda que se impõe é do que havia
de frutífero ali; se investimos na necessidade de atender à
demanda social, a perda recai sobre nós mesmas: o trabalho
de luto fica obstruído e a gente pensa que nós é que não
temos nenhum valor, como se nós deixássemos de existir.

Freud fala em repetir, recordar e elaborar; e Lacan fala


sobre o instante de ver, o tempo de compreender e o
momento de concluir. É preciso viver esses três processos
depois da separação, entendendo que a separação de uma
relação abusiva não começa no dia do divórcio. Começa
antes, quando nos separamos da faceta abusiva daquele
que amamos, entendendo que aquele que se apresenta ali,
na violência, não foi o homem por quem nos apaixonamos.
Depois precisamos nos separar do homem que amamos,

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romper também é abrir

localizando ali o que era da ordem do amor e o que era


da idealização. E depois, o trabalho mais difícil: nos
separar dos planos traçados pra nós e encontrar o nosso
verdadeiro caminho, tomando posse de nosso desejo.

Não existe perda quando a gente põe fim a uma relação


abusiva. A gente ganha vida e retoma o domínio sobre
nós. Romper também é abrir. De que você se separou?
Elaborou? Concluiu? O que se abriu? Na travessia do fim a
gente caminha sobre os ossos que restaram e guarda escrito
no corpo e na memória o caminho percorrido: a gente sabe
o chão por onde a gente pisou, e a gente anseia pelo que
há depois desse portal, porque acredite, há um depois.

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pra ler ao som de


hist. 1: jovem, julio secchin;
hist 2: apesar de querer, rodrigo alarcon;
hist 3: estrangeiro, rico
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Na pista: ler os mapas pra não


voltar pro mesmo caminho
O fim de uma relação abusiva vem trazendo uma
enxurrada de emoções difíceis de administrar: a dor,
o medo, o trauma, a sede de viver, a vontade de se
aventurar, a sensação de segurança por saber finalmente
onde está indo, a insegurança de voltar pro lugar anterior.

“Caminhante, são tuas pegadas o caminho e nada mais;


caminhante, se faz caminho ao andar”. É um trecho
do poema de Antonio Machado que ilustra a lição
desse capítulo. Se no capítulo anterior falamos sobre
romper com os nós nos limitam e violentam e retomar o
domínio de nossas vidas, com esse capítulo eu convoco
mais uma vez o olhar pra si. Assim como Oxum e
seu espelho que lhe mostra sua imagem, seu valor e
sua beleza - e também suas dores e mazelas; é preciso
saber quem somos nós nas nossas histórias de amor.
É preciso saber ler o outro pra ler as pistas,
mas não se faz isso sem antes saber ler a si.

Quem é você nas suas histórias de amor? Como o outro


te lê? Em que lugar te coloca? Como você lê o outro?
Em que lugar o coloca? Você se apaixonou pelo outro ou
pelo lugar em que ele te colocou? Você se apaixonou pelo
outro ou pela versão idealizada dele que você construiu?
Você sabe quem é você? Seus desejos, suas potências,suas

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Na pista: ler os mapas pra não


voltar pro mesmo caminho
vulnerabilidades? Quando a gente fala de amor próprio
a gente fala de um trabalho profundo de análise em
que a gente se encontra com a gente mesma e entende
que a gente pode sim caminhar com o outro, mas o
outro não tem o poder de nos qualificar, de nos validar.

Lacan explica a erótica da relação a partir da lógica do


desejo alienado. Diz que o desejo do sujeito é o desejo
do Outro, ser o objeto de desejo do Outro, aquilo
que falta ao Outro. Entretanto, esse é o caminho do
engano, da alienação, do aprisionamento. Assumir o
próprio desejo é um ato revolucionário e é isso que
vai formar o farol que conduzirá os nossos passos.
Não obedecer, não caber, não suplicar. Reivindicar,
reconhecer, nomear, apropriar. E poder ir, ou escolher ficar.

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pra ler ao som de


Cabelo, tu sempre some, Os abufelados
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Na pista: ler os mapas pra não


voltar pro mesmo caminho
Como se enganar diante da realidade? Quantas lentes
precisamos deixar cair pra poder de fato enxergar a
realidade? De onde vem a nossa noção do que é realidade?
Se falamos de engano, falamos também de equívoco. O
que nos engana? Se começamos esse livro falando sobre
romance, esse é o capítulo em que falamos de ficção, ou,
como propôs Lacan em neologismo: fixão, um aglutinado
de ficção e fixação, esse momento em que a gente se
confunde, em que a gente fixa a nossa libido numa fantasia,
numa ficção. A queda é grande, viu? kkkk E Freud vai
chamar essa queda - urgente e necessária - de castração.
Pra desenvolver esse assunto evocaremos rapidamente o
conceito de realidade e real pra psicanálise.

Freud não fala de realidade, a não ser a realidade


psíquica, ou seja, cada um de nós constrói nossa
própria percepção da realidade e faz investimentos nas
relações a partir do que entendemos como realidade.
Entretanto, há um grande agente que estrutura,
agencia e constrói os moldes do que entendemos como
realidade: o patriarcado. E é ele que deturpa o que
a gente enxerga, definindo como devemos enxerga.
Ao elaborar o conceito de realidade psíquica, Freud
fala sobre um certo ajuste entre princípio do prazer e
princípio de realidade, ou seja, há um hiato entre tudo

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Na pista: ler os mapas pra não


voltar pro mesmo caminho
aquilo que a gente queria realizar, e aquilo que de fato é
possível dentro da nossa realidade, e é essa negociação,
esse acordo possível, que definirá a nossa realidade.

A pergunta que fica diante disso é: do que é composta a


nossa realidade? Quais são os perigos da gente se perder
naquela versão que construímos pra nós? Aqui, nessa
reflexão, o lema de “estar atenta” encontra ressonâncias
no processo analítico de cada uma de nós e numa
reformulação social pra que as mulheres sejam lidas
como seres potentes e independentes. Se somos ensinadas
que a realidade de uma mulher só será completa se ela
estiver casada e com filhos, o que a gente faz é interferir
no processo de construção da própria realidade dessa
mulher e depois deixá-la à própria sorte, imputando à ela
mesma as consequências de uma escolha que não são dela,
e sim de uma imposição social requerida às mulheres.

Para além dessa observação sobre o conceito de realidade


psíquica em Freud e sobre a urgência de nos apropriarmos
do nosso desejo para transformarmos a realidade, trago
também o conceito de Real em Lacan, que nada tem a ver com
realidade, mas que determina o nosso modo de se relacionar

Se é a realidade psíquica que constrói o palco onde a

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Na pista: ler os mapas pra não


voltar pro mesmo caminho
gente se relaciona, é o conceito de Real que constrói a
dinâmica da relação. Para Lacan, o real é o campo do
impossível,do inefável, do puro pulsional. Isso que a
gente não pega pelas mãos mas nos atravessa de alguma
forma. O Real é inconsciente: ele faz a teia onde a
realidade repousa e ressoa sempre depois, de modo
que a gente nunca o encontra, se não em análise. Mas,
o inconsciente pras mulheres não é qualquer coisa.

O inconsciente das mulheres, por conta de um processo


histórico de repressão e silenciamento, é um reservatório
de saberes, e a isso a gente chama de intuição -
poderíamos chamar de trauma também. A q u e s t ã o
é: como é possível não se enganar quando nos é negado
o direito a acessar à nossa própria realidade? Como
é possível não se enganar quando a nossa realidade é
construída antes mesmo de chegarmos ao mundo? Como,
em sendo mulher, desde cedo obedecendo às normas e
performando feminilidade, é possivel não se enganar?
Como não se enganar se todos os caminhos nos levam
a entrar numa relação que a gente nem sabe se quer
estar mas se sente insuficiente e invalidada se não está?

Como saber a exata dimensão da realidade? Até


onde é realidade, até onde é fantasia? Até onde é
paranóia, até onde é intuição? Até onde conseguimos
ir em segurança numa aventura e até onde estamos
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Na pista: ler os mapas pra não


voltar pro mesmo caminho
caindo em queda livre? É preciso ouvir a voz do
desejo, mas antes, é preciso não silenciá-lo. Não mais.

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pra ler ao som de


Ou voce me come ou você cai fora,
Juli secchin;
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Banhar-se no raso tem seu valor

Quantas coisas você já deixou de viver porque


estava ocupada demais seguindo o padrão? Se no
capítulo anterior a gente falou sobre o princípio da
realidade, nesse a gente precisa falar sobre prazer.
A ética cristã, somada à lógica cartesiana, colocou o
corpo como lugar de pecado, de engano, orientando uma
espécie de racionalidade que não faz o menor sentido, a
não ser pela obediência. O que eu quero dizer com isso?
Tudo aquilo que é desenhado pra nós mulheres não passa
pelo campo da sensibilidade. A gente não é ensinada a
se examinar e se perguntar: “como eu me sinto diante
disso?”; “o que eu quero?”. A gente não consulta o nosso
corpo porque o nosso corpo é, desde o nascimento,
violado. Incisões mil de dor e violência: o furo na orelha
sem o consentimento, o sutiã apertado que marca a pele,
o salto alto que machuca os pés, todos os rituais de beleza
que são em essência rituais de violência romantizados,
como depilação, procedimentos estéticos e cirurgias
plásticas. Tudo isso dessensibiliza o nosso corpo.

A gente aprendeu a não sentir pra poder seguir o que


deveria acontecer. Houve o apagamento do sensível
em nome da obediência ao dever. E quem é que se
beneficia com isso? Isso mesmo, os homens. O campo da
sensibilidade é o que nos permite a proteção e o cuidado:
é pelos poros e pelos do corpo que a gente sente se está
frio ou calor e se precisamos colocar um agasalho ou um
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Banhar-se no raso tem seu valor

biquini. Em que momento perdemos esse contato com


aquilo que sentimos? O quanto a gente incorporou dogmas
sociais patriarcais como racionalidade e demonizou
ou desmereceu o campo da sensibilidade? O quanto
a gente comprou essa história de que somos loucas?

Quando se trata de relacionamento, essa discussão é muito


mais profunda. No próximo capítulo a gente vai falar mais
diretamente sobre sexualidade feminina, mas nesse aqui
eu quero falar mesmo é sobre prazer. E sobre escolha. A
gente é ensinada a manter o pudor, a honra e a classe; a
imagem sempre asséptica, imaculada. “Bela, recatada e do
lar”; é como aprendemos que deve ser a performance da
mulher pra que ela seja não só respeitada: mas desejada e
escolhida por um homem. Repare que “do lar” não é mera
coincidência. Nos restringem mesmo à esfera doméstica,
onde somos exploradas, trancafiadas, violentadas e
subalternizadas. Será que o casamento é mesmo a escolha
de todas as mulheres? Será que todas as mulheres querem
se relacionar amorosamente com alguém dentro de uma
matriz que exija longevidade, seriedade e compromisso?

Quantas experiências de afeto deixamos de ter porque


pensamos “se eu transar com ele essa noite ele não vai
querer nada sério comigo!”; quando na verdade você
mesma não queria nada sério com ele? Quantos casinhos
de verão, de inverno, de dormir juntinho, de ver filme, de
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Banhar-se no raso tem seu valor

passar tempo sem qualquer compromisso nós deixamos de


viver porque estamos preocupadas com aquilo que o outro
vai pensar de nós? Entendemos que afeto só se vive numa
relação a dois. Monogâmica. Com pacto de fidelidade.
No”felizes para sempre”. No “até que a morte nos separe”.

Há vida fora de tudo isso. E é bonita,é urgente. E é você que


escolhe. Você subverte a lógica imposta a você de que o amor
acaba sempre no altar pra que você construa seu próprio
altar e decida quem é que sobe nele com você e que horas ele
vai embora. Freud fala que a pulsão é sem objeto, que ela se
satisfaz no trilhamento, na busca, e assim ele fala de suas
vicissitudes e viscosidades. É urgente a gente se permitir
trilhar o caminho da pulsão. Sem garantia, sem expectativa,
sem idealização, experimentando a beleza de ser o que se é.

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pra ler ao som de


Amor Distrai, Carne Doce;
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tesão também é afeto

A música que introduz esse capítulo é a própria lição:


amor distrai! A música é um manifesto à sexualidade
feminina, tão repreendida em nós, tão negada a nós.
Anteriormente eu pontuei que a lógica cartesiana
somada à ética cristã nos distanciou do império dos
nossos corpos e dos nossos sentidos. A nós, mulheres,
foi ensinado que o sexo é sujo, é feio, é pecado. As
nossas referências de mulher são duas: a santa e a puta,
e as duas estão na Bíblia, sob o mesmo nome, Maria.

A santa é ameaçada pela puta, e a puta não pode ser


santa. Ou somos uma ou outra. Nos últimos tempos
isso foi incorporado a uma outra estratégia discursiva:
“uma dama na sociedade, uma puta na cama”,
indicando que tudo bem a mulher ser uma “puta”,
desde que seja de um homem só, dentro do casamento,
e desde que sua reputação social permaneça imaculada.

Por que a nossa sexualidade é tão perigosa e tão


perseguida? Porque a sexualidade feminina foi
sequestrada pelo patriarcado justamente para manter
o controle sobre os nossos corpos - e sobre a nossa
capacidade reprodutiva. Entendemos que nosso corpo
não nos pertence, que não somos livres pra fazermos o
que quisermos com ele - seja decidir com quem transar
ou não, seja viver em paz com as nossas diferenças
sem procurar defeito na nossa imagem corporal, e até
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tesão também é afeto

mesmo decidir por conta própria se queremos engravidar


ou não, ou seguir adiante com uma gestação ou não.

Falar de sexualidade feminina é recuperar o domínio dos


nossos corpos, é agir com os nossos corpos em orientação
com o nosso desejo e comprometidas com o nosso prazer. E
isso tudo é muito perigoso porque aí a gente fica indomável,
não domesticada, não docilizada. E isso não tem a ver com
a veiculação liberal de que liberdade sexual é autorização
pra transar com qualquer um. Emancipação sexual é poder
dizer não, é saber que o sexo não é acessível apenas no
casamento, é saber que você pode e merece ter prazer com
o corpo que você tem; é saber que você precisa estar muito
comprometida com você mesma pra levantar no meio do
sexo e ir embora ou pra dizer exatamente o que você gosta
e como gosta, em alto e bom som, como diz a música.

Nomear o tesão como afeto é tirar o tesão e a sexualidade do


campo da marginalidade. É estabelecer uma outra relação
com o corpo, de poder escutar os sinais e saber que a
gente não precisa de ninguém pra acessar o prazer em nós.

Muitas vezes embarcamos em aventuras sexuais porque


queremos ser validadas emocionalmente por um homem,
ou seja, a ideia de um relacionamento aliena e sequestra
a nossa experiência e autonomia sexual. Tudo que
aprendemos sobre corpo e sexo vem de uma perspectiva
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L I Ç ÃO c a p . 4
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tesão também é afeto

masculina: “homens gostam de mulheres com peito


duro”; “homens gostam de buceta rosa”; “homens gostam
de mulher que faz anal”, e aí nós, mulheres, vamos
embarcar numa odisséia pra conquistar o corpo perfeito
pra um homem, pra fazer loucuras com ele na cama;
enquanto esse homem sequer sabe onde fica o clitóris.

Pensar o tesão como afeto é se apoderar de todas as


terminações nervosas do seu corpo, é romper as fronteiras
de um relacionamento e ocupar você mesma o território
do seu corpo e do seu prazer. Se joga, mulher! Siririque-se!

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pra ler ao som de


Erro, Luedji;
Audio de desculpas, Manu Gavassi;
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saber ir embora mesmo quando


a vontade é ficar
Eu passei o livro inteiro tentando subverter a lógica
cartesiana de separar corpo e mente e agora eu venho
aqui dizer que você deve ouvir a razão e ir embora
mesmo quando as emoções pedem pra ficar? Será? Será
que quem determina o fim é uma razão, e não uma
emoção? Em nome de que emoção decidimos ficar mesmo
depois de já ter constatado que não há nada ali pra nós?

Liberdade não é escolher pra onde vai. Liberdade é poder sair,


poder ir embora sem ficar com a sensação de perda. Falamos lá
no começo sobre luto e é preciso retomar essa discussão aqui.

O que te mantém numa relação? O que ela te traz hoje


ou aquilo que você espera que ela traga? Você fica numa
relação porque ela te atende, te acrescenta ou porque
você gostaria que funcionasse e empreende esforços
pra fazer ela acontecer? É muito naturalizado, como já
falamos, esse ideal de que a mulher é capaz de mudar
um homem, de que somos responsáveis pelo sucesso da
relação. Com isso, os nossos sentidos ficam borrados e
a gente é ensinada a tentar mais um pouco, suportar.
Essa inclusive é uma das definições bíblicas de amor: “o
amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.
Parece universal, mas na prática a gente sabe quem
quem tudo sofre, crê, espera e suporta são as mulheres.

Homens não tem o menor pudor de ir embora quando


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saber ir embora mesmo quando


a vontade é ficar
uma relação já não os atende mais. Por que é que nós
temos então? Pra responder essa pergunta a gente volta à
convocação ao campo do sensível. O que é que nos mantém
numa relação? Estamos atentas às nossas necessidades e
desejos ou estamos sedentas pela aprovação social e pela
necessidade de ser validada por um homem? Estamos
de fato sendo nutridas nessa relação ou estamos sendo
sugadas? Estamos ali porque decidimos ficar ou por
medo da solidão? Estamos enxergando aquele com quem
a gente se relaciona ou apenas a nossa própria projeção?

Não é um processo racional ir embora, até porque toda a


racionalidade carrega consigo as marcas de uma época, de
uma ética, de uma política. E as razões patriarcais dizem
que devemos ficar, que devemos batalhar pela relação, que
devemos investir na mudança do outro. O que realmente
vai fazer você ir embora é a sua sensibilidade, o seu processo
de olhar pra dentro e se perguntar: “o que eu colho aqui?”.
Avalie o desejo de ficar e se pergunte a que ele está orientado.
Volte lá no seu mapa, olhe as pegadas que você deixou,
retome o espelho de Oxum e veja se você está sendo você,
contemplada inteira,ou se está se espremendo pra caber.

Saiba que ir embora não significa que tudo foi arruinado ou


que a relação não deu certo. Foi bom enquanto durou, fez
sentido enquanto durou. Vá embora quando não houver
mais nada ali pra você, e se leve junto; você é a sua melhor
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saber ir embora mesmo quando


a vontade é ficar
companhia. A escolha não é entre uma coisa ou outra, é
sempre entre você e outra coisa; e aí a resposta não é difícil:
escolha sempre você! Romper é também abrir, lembra?

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pra ler ao som de


Intimidade, Liniker;
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Um caminho pra intimidade


sem o outro
Quem é o outro com quem a gente se relaciona?
Ao longo desse livro falamos muito sobre expectativas
e projeções, e agora nesse capítulo evoco mais uma
vez a psicanálise pra trazer uma contribuição e
entendermos, brevemente, por que projetamos e criamos
expectativas, por que é tão difícil acessar o outro?

Em psicanálise existe o Outro, assim escrito em


maiúscula, e o outro, em minúsucula. O outro é a pessoa
da vida real, essa que se apresenta com suas narrativas
e scripts, com suas particularidades, seus defeitos e
qualidades. Nós temos dificuldade de nos relacionar com
esse outro justamente porque ele é diferente de nós, não
sendo portanto o personagem que vai seguir a novela
que imaginamos. O Outro é aquele do inconsciente,
receptáculo dos nossos desejos, baú da linguagem,matriz
da cadeia significante. O Outro não nos obedece, mas
nos convoca. O outro não nos atende, nos incomoda.
Como lidar então com esse dilema? Não enxergando o
outro e não escutando o Outro. Como? Projetando.

Projetamos no outro uma versão narcísica nossa,


acreditando que o outro pode ser a nosso melhor acessório,
nos enriquecendo com sua presença.Geralmente, nas
nossas relações amorosas, nos sentimos sortudas e
agraciadas por estarmos com aquele sujeito, como se ele
fosse um homem perfeito cheio de qualidades; quando
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Um caminho pra intimidade


sem o outro
na verdade o que está na nossa frente é um homem de
beleza duvidosa, inteligência mediana e uma péssima
performance sexual. Mas será que você está pronta pra
enxergar isso? Ou será que você precisou fantasiar esse
homem pra se convencer a estar nessa relação? Será que
você finalmente pode ouvir o Outro pra enxergar o outro?

Esse outro diferente de você, que é apenas outro; não


te completa nem te faz falta. Você suporta viver com
alguém que não te completa e nem te faz falta? Você
suporta olhar o outro e enxergá-lo? Sem projetar, sem se
proteger, sem cobri-lo com o seu narcisismo das pequenas
diferenças? Pra poder olhar o outro com essa honestidade,
é preciso antes olhar a si mesma. Enxergar todas as suas
inteirezas e fragmentos; as suas lindezas e feiúras, as
suas luzes e as suas sombras, e saber que ninguém vai
te amar por ser aquilo que brilha ou te rejeitar por ser
aquilo que não é bonito. Você simplesmente é, e quem
se interessar por você vai ter que levar tudo junto.
Assim como o outro também é luz e sombra, não dá
pra ocultar aquilo que é difícil de ver. Ou a gente leva
tudo pra casa, ou segue em frente que atrás vem gente.

E o que isso tem a ver com intimidade? Intimidade é


poder enxergar o outro, e não ter medo, ou vergonha.
É se deixar ver pelo outro, sem medo, ou vergonha.
Intimidade não tem a ver com tempo, ou com status de
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Um caminho pra intimidade


sem o outro
relacionamento. Intimidade tem a ver com enxergar,
e se deixar atravessar e ainda assim não se perder.

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pra ler ao som de


Coisas da Bahia, Davi;
A estação, Alice Caymmi;
Despedida, Mc Tha;
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D e i xa r - s e a r rebata r, e s ob rev i ve r

Esse livro é uma aposta no amor e um manifesto vivo


e autobiográfico à lucidez. Nessas páginas cabem
declarações bonitas de amor, espasmos vaginais de
tesão e orgasmo, e um pacto muito sério comigo
mesma e com os caminhos que percorri. Aprendi por
onde andei que se deixar afetar não é se perder, e que
viver a vulnerabilidade não é viver na vulnerabilidade.

Me recuso a ideia que querem nos implantar de que o amor é


para os fracos, ou à essa ideia veiculada que vivemos de que
o amor que vamos receber será sempre aquém do amor que
de fato merecemos. Esse livro é também uma reivindicação:
eu quero ser bem amada, e quero poder ser eu enquanto sou
amada, sem precisar performar um personagem amável.

Se aventurar numa relação requer uma confiança muito


grande no seu próprio percurso e na sua capacidade
de ir embora e por isso mesmo é preciso que a gente
calcule quantas experiências somos privadas de viver,
quantas histórias de amor deixamos de escrever
porque estamos encerradas na ficção do casamento e
da família? Quantas escolhas deixamos de fazer porque
estamos ocupadas demais tentando ser escolhidas?
Quantos amores efêmeros, profundos, arrebatadores
existem aí disponíveis pra nós e não nos permitimos
viver porque achamos que o amor só acontece dentro
de uma relação que termina em “felizes para sempre”?
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D e i xa r - s e a r rebata r, e s ob rev i ve r

Como reconhecer o limite entre uma história bem


vivida e uma frustração? Já aprendemos no capítulo
5 que é preciso saber ir embora mesmo quando se
quer ficar, e aqui nesse capítulo a gente se ampara
no conceito freudiano de castração pra falar da
importância do limite na manutenção da lógica de prazer.

Existem coisas que nós gostaríamos que fossem ilimitadas,


entretanto, Lacan já deu as pistas dizendo que o desejo
se satisfaz na falta, ou seja, na eterna busca, e nunca
na completude. Ou seja, a gente precisa interromper
as trilhas da satisfação porque sua continuidade é… a
insatisfação. Qual é o limite entre a taça de vinho que
alegra e a que embriaga? Qual é o limite entre a fatia
de bolo que agrada e dá prazer, daquela colherada que
causa enjôo? É preciso saber a hora de parar de beber
pra que seja gostoso beber outro vinho outra vez.
Como reconhecer esse mesmo processo nas relações?

É preciso identificar qual é o limite do que aquela relação


tem pra te dar, e a gente já traçou esses caminhos nos
capítulos anteriores. Não é porque uma relação foi
incrível que ela precisa ser vivida até a última gota.
É preciso guardar o frescor de um amor bonito pra
semear outros terrenos, e esperar com plenitude e
tranquilidade a próxima colheita, porque ela virá.

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pra ler ao som de


Tua, Liniker;
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Juntos, mas sem juros

Se dentro da lógica das performances de gênero o que


a gente já viu é que as mulheres são criadas para serem
esposas. Uma vida inteira baseada em esperar o momento
em que um homem irá escolhê-la e fazer o pedido de
casamento, num quarto de hotel cheio de pétalas de
rosas em cima da cama e um anel que já diz o destino
dessa mulher no casamento: uma solitária. Mas antes
do fatídico pedido, toda uma peregrinação em busca de
“merecer” o amor de um homem ao mesmo tempo em
que se prova o próprio valor social: carreira profissional
estável, academia em dia, corpo padrão, boa filha, boa
amiga. É preciso equilbrar todos esses pratos e cumprir
os requisitos necessários pra que esse homem te escolha
como esposa. E depois disso novas exigências: filhos,
casa impecável, o peito precisa ser o mesmo de antes da
gravidez, performance sexual de filme pornô, carga mental.

Essa é a vida da mulher heterossexual dentro das relações


e a gente precisa se perguntar: por que? O que ganhamos
com isso? Não é difícil ver o quanto perdemos, mas parece
difícil também calcular o que ganhamos e quanto ganhamos.

O intuito desse capítulo é mostrar que o casamento enquanto


um instrumento de controle patriarcal que deixa de fora o
amor mesmo quando parece abrigar o amor; é um prêmio que
as mulheres recebem por terem se comportado direitinho.
Somos nós que pagamos essa conta, e ela custa muito caro.
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Juntos, mas sem juros

Chegamos até aqui entendendo que precisamos


desobedecer, não negociar nossos desejos, sustentar o
outro e suas diferenças, olhar pra nós mesmas com mais
generosidade, sem nos enxergar enquanto incompletas.
E agora aqui, exatamente nesse lugar, encontramos um
mirante, esse espaço de onde é possível admirar a vista,
saber de onde viemos e quanto custou a caminhada.

Daqui, desse lugar onde estamos agora, depois


de tantas travessias, construímos as contenções
e os limites que nos protegem da queda e nos
garantem a vista. E já não é preciso pagar com juros.

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pra ler ao som de


Ambar, Ava Rocha;
Via Láctea, Céu;
Cangote, Céu;
Baby 95, Liniker;
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Amor é água, não âncora

Aprendemos até aqui a enxergar as nossas pegadas


no chão que caminhamos. Aprendemos a banhar no
raso, sentir o sol na pele, a água refrescando o corpo.
Aprendemos a nos enxergar pelo espelho de Oxum, a
ir como Inanna nas profundezas dos infernos psíquicos
e abraçar a própria sombra. Aprendemos como Psiqué
desvendando Eros a enxergar o outro. Aprendemos a ouvir
nosso corpo e abrir todos os orifícios: dos poros aos olhos.

Já entendemos aqui que amor é liberdade, não completude.


Amor é entidade, expande e nutre; não prende e nem cobra.
Se você chegou até aqui e se deixou atravessar pelas
provocações e aceitou o chamado da lucidez e da
putaria, eu te deixo um convite: escreve a sua história.
Agora, sabendo tudo que você sabe, você já não é mais
coadjuvante. É mais do que protagonista: você é autora.
Escreve sua história, mulher. Já tem as marcas inscritas
no inconsciente, as marcas registradas no corpo; agora é
hora de transformar tudo isso em palavra no papel. Você,
autora da sua própria história de amor. E fúria. E despertar.

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