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Festival de Cannes terá pela primeira vez um

terço de diretoras mulheres na competiçã o


São 7 no total, contra 5 em 2022; o caminho para a paridade de gênero,
no entanto, é lento
Por Alexandra del Peral
15/05/2023

AFP - A paridade avança, mas ainda resta um caminho a percorrer


no 76º Festival de Cannes, com sete diretoras de um total de 21
filmes na disputa pela Palma de Ouro. A abertura de um dos
maiores eventos de cinema do mundo será nesta terça-feira, 16.

Pela primeira vez, o festival de cinema mais importante do mundo


terá sete diretoras em sua competição oficial, ou seja, um terço do
total. No ano passado, foram cinco.

“Ficamos contentes com o número de diretoras na competição,


mas também estamos preocupadas porque é evidente que
avançamos muito devagar”, disse à AFP Clémentine Charlemaine,
membro de um grupo de pressão do cinema francês conhecido
como 50/50.

“Embora não tenhamos chegado à paridade, constatamos que a


programação do Festival de Cinema de Cannes vai além da
produção de filmes feitos por mulheres”, contrapõe Fabienne
Silvestre, cofundadora e diretora do Femmes de cinéma, um “think
tank” sobre a situação das mulheres no cinema europeu.

De acordo com as estatísticas do Observatório Europeu de


Audiovisual, citadas pelo Femme de cinéma, 21% dos filmes
europeus entre 2017 e 2021 foram rodados por mulheres.
Teto de vidro?
O Festival de Berlim, que mantém estatísticas detalhadas sobre o
tema desde 2002, ainda não conseguiu ultrapassar o número de
sete cineastas em competição, seu recorde até agora.

Este ano foram seis diretoras, dos 19 filmes que disputaram o Urso
de Ouro, ou seja, um percentual similar ao de Cannes.

Em Veneza, dos 23 filmes na disputa do Leão de Ouro em 2022,


oito foram dirigidos por mulheres.

Ainda assim, o caminho percorrido é importante. Em 2012,


nenhuma diretora participou na principal mostra de Cannes.

Heather Rabbatts, à frente da organização ativista Time’s Up UK,


comemora as mudanças na competição francesa, mas lamenta que,
apesar de tudo, não haja um número suficiente de “mulheres
negras”.

Em outras seções de Cannes, a paridade já chegou, como na


Semana da Crítica, da qual participam seis diretoras de 11 filmes
em competição.

Apenas duas mulheres conquistaram a Palma de Ouro: a


neozelandesa Jane Campion, em 1993, com O Piano (prêmio
dividido com o filme Adeus, Minha Concubina), e a francesa Julia
Ducournau, em 2021, com Titane.

Veneza entregou três Leões de Ouro a mulheres, e de forma


consecutiva: Chloé Zhao (Nomadland, em 2020), Audrey Diwan (O
Acontecimento, em 2021) e Laura Poitras (All the Beauty and the
Bloodshed, em 2022).

Na Berlinale de 2022, o prêmio de melhor filme foi para Alcarrás,


da espanhola Carla Simón. E as mulheres também levaram a
estatueta de melhor direção e prêmio do júri. O sul-coreano Hong
Sang-soo recebeu o Grande Prêmio do Júri. Ele mesmo disse ter-se
dado conta dessa situação na entrevista colemva final, com as
perguntas de um jornalista.

Múltiplas Causas
Como explicar a falta de continuidade, apesar de, em países como
a França, metade dos alunos das principais escolas de cinema ser
composta de mulheres?

“É difícil para as mulheres se projetarem com uma longa carreira


no cinema. E também tem a questão do dinheiro. Pedir grandes
quantias é difícil”, diz Fabienne Silvestre.

Clémentine Charlemaine confirma que “as diretoras estão


confinadas aos orçamentos baixos: mais de 75% têm um
orçamento inferior a 4 milhões de euros (em torno de 4,4 milhões
de dólares)”, conforme um estudo do grupo 50/50.

Da mesma forma, “os produtores negros têm dificuldade de acesso


aos investidores”, acrescenta Heather Rabbatts.

“As cotas ainda não despertam entusiasmo, embora existam dois


países que experimentam desde 2021 uma espécie de cotas
híbridas”, lembra Silvestre.

A Áustria tem cotas, mas não aplica sanções, caso não sejam
respeitadas, enquanto o Reino Unido reforçou seus objetivos em
termos de representatividade.

https://www.estadao.com.br/cultura/cinema/festival-de-cannes-tera-pela-primeira-vez-um-
terco-de-diretoras-mulheres-na-competicao/

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