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© Cegraf UFG, 2023 © Silvana Aparecida da Silva Zanchett; Ary Albuquerque Cavaleanti Junior; Eliene Dias de Oliveira; Jiani Fernando Langaro (org.), 2023 Projeto grafico e capa Géssica Marques de Paulo Diagramagao Allyson Moreira Goes Revisao Vanda Ambrésia Pimenta Dados Internacionais de Catalogaso na Publicago (CIP) GPT/BC/UFG 1829 Trilhando caminhos, tecendo redes: historia, linguagens ¢ outras possibilidades interdisciplinares [Ebook] / organizadores, Silvana Aparecida da Silva Zanchett... [et.al.]. -2. ed. - Dados eletrdnicos (1 arquivo : PDF). - Goiania : Cegraf UFG, 2023. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-495-0732-7 |. Educagao. 2. Abordagem interdisciplinar do conhecimento na educagao. 3. Linguagem e educagdo. 4. Histéria oral. 5. Mulheres. I ‘Zanchett, Silvana Aparecida da Silva. DU: 37 Bibliotecéria responsivel: Adriana Pereira de Aguiar / CRB-1: 3172 HISTORIA ORAL, MEMORIAS E MIGRAGOES NA FRONTEIRA ENTRE BRASIL E PARAGUA\ UMA ANALISE DE NARRATIVAS DE TRABALHADORES BRASIGUAIOS Jiani Fernando Langaro Consideracées iniciais Historicamente as fronteiras foram fixadas para delimitar os estados nacionais dividir povos e nacionalidades. Todavia, os se- res humanos resistem as delimitagées territoriais que se tenta lhes impor, ou seja, as migragées sao inimigas das divisas. H4 um desejo ou mesmo uma necessidade de cruzar as linhas lim{trofes, nao por um impulso natural, tampouco por determinagoes de forcas extra -humanas: esse desejo ou imposigdo sao historicamente construfdos e experienciados. Tal é 0 cendrio presenciado nos limites entre Brasil e Paraguai, uma fronteira rebelde em que as demarcagées oficiais nao coincidem necessariamente com 0 vivido. Ao longo de todo 0 século XX, paraguaios e brasileiros cruzaram a linha da fronteira para viver do outro lado, num pais em que nao nasceram. Alguns emigraram definitivamente de um pafs para se radicar no outro. Para outros, os emigrantes retornados, essa experiéncia foi transitéria. Neste capitulo, analisamos as narrativas de pessoas que se en: contram na segunda situagao, a das “migragées de retorno”: brasileiros que emigraram para o Paraguai, onde passaram boa parte de suas vidas, e depois voltaram ao Brasil. Serao apresentadas entrevistas 267 Sumério orais com trabalhadores migrantes residentes em pequenas cidades no lado brasileiro da fronteira entre Brasil e Paraguai. Lissas pessoas integram um movimento migratério mais amplo, formado de brasi- Jeiros que emigraram para o pais vizinho a partir da década de 1970, © que, em ambos os paises, rendeu-lhes a alcunha de brasiguaios. As narrativas orais de que trataremos neste capitulo foram pro- duzidas ainda na primeira metade da década de 2000, quando rea- lizamos uma pesquis de iniciagao cientifica sobre 0 municipio de Marechal Candido Rondon, estado do Parand, ¢ outra investigacio para o mestrado, tendo como objeto de estudo o municfpio de Santa Helena, estado do Parand.! Embora nossos objetivos, naquela época de feitura das entrevistas, nao fossem trabalhar 0 transito humano pela fronteira, aquele era um momento de grande retorno de brasiguaios, e muitos deles procuravam se fixar nas reas urbanas das pequenas municipalidades brasileiras situadas na fronteira com o Paraguai. Como jé mantinham relagdes com essas cidades antes mesmo de retornar ao Brasil, isso contribuiu para que as escolhessem como local de residéncia. Por isso 0 transito fronteirigo ficou bastante acen- tuado nas entrevistas orais, permitindo a posterior retomada dessas narrativas com 0 objetivo especifico de problematizar as relagdes dos narradores com a fronteira. Para este capitulo, serao analisadas as narrativas orais de quatro destes trabalhadores brasiguaios pobres retornados ao Brasil, todos eles apresentados aqui com nomes fictfcios em respeito a sua privaci- dade: Carlos, metalirgico, morador da cidade de Marechal Candido 1 A pesquisa de iniciagao cientifica foi orientada pela Profa. Dr* Geni Rosa Duarte no curso integrado de Licenciatura e Bacharelado em Historia, na Uni intitulado Escolarizagdo, trabalho e vida urbana em Marechal Géndido ersidade Estadual do Oeste do Parana. Dela se originou o relatério Rondon (Langaro, 2003). Jé a pesquisa de mestrado foi orientada pelo Prof Dr. Paulo Roberto de Almeida, no Programa de Pos-Graduacao em Historia da Universidade Federal de Uberlandia. Deu origem a dissertagao Para além de 006). pioneiros e forasteiros: outras histdrias do Oeste do Parand (Langaro, 268 Sumério Rondon, estado do Parana, e cuja entrevista foi realizada em 7 de dezembro de 2002, quando ele tinha 29 anos; Alberto, servente de pedreiro, habitante da mesma cidade, entrevista realizada em 29 de novembro de 2002, estando ele com 24 anos; Renato, construtor, morador da cidade de Santa Helena, estado do Parané, e entrevistado em 9 de julho de 2004, aos 32 anos; Fernando, eletricista, residente na mesma cidade, entrevista ocorrida em 11 de julho de 2004, quando ele contava com 27 anos Esses quatro narradores foram escolhidos em virtude de sua “re- presentatividade”, que, segundo Alessandro Portelli (1996), nao esta ligada a sua capacidade para expressar o que pensa a média de uma sociedade; para ele, um narrador é representativo quando consegue articular narrativamente elementos compartilhados por seu grupo social. Assim, representatividade se refere mais a possibilidades que a médias. No caso dos narradores selecionados, a representativida- de de suas falas permitiu confrontar visdes e tendéncias narrativas antagénicas sobre o Paraguai. No momento histérico em que realizamos as entrevistas, ficou patente a recorréncia de certos enredos — no sentido de padroes narrativos — para expressar 0 tempo vivido no estrangeiro. Quando retomamos as narrativas orais, conseguimos, apés uma andlise apro- fundada dessas fontes, distinguir dois enredos muito nitidamente, um que apresenta a vida no Paraguai destacando seus aspectos negativos ¢ outro que a apresenta de forma positiva. Duas das narrativas sao povoadas por elementos auspiciosos e até mesmo romantizados da vida no outro lado da fronteira; nas outras duas, a t6nica sdo os aspectos negativos sobre o lugar. Duas formas relativamente padronizadas de lembrar as trajetérias pessoal e familiar no além-fronteira. As quatro narrativas trazem em comum 0 universo masculino, remetendo & vida cotidiana de homens que trabalhavam no campo, no pajs vizinho. A escolha das narrativas masculinas, no entanto, nao foi decorrente de um critério estabelecido previamente. Como ja afirmamos, as pesquisas que originaram as entrevistas orais abordadas 269 Sumério neste capitulo foram produzidas sem a pretensao inicial de proble- matizar a vida na fronteire tematica explorada posteriormente ao retomarmos essas narrativas para lancar sobre elas novas interrogagées. Assim, quando realizamos as entrevistas, nao houve preocupagao em formar um conjunto heterogéneo de narradores que contassem suas experiéncias fronteirigas, pois, como as pesquisas desenvolvidas na primeira metade da década de 2000 eram mais amplas, a heteroge- neidade no interior do grupo de entrevistados se dava em outros ter- mos. Somem-se a esse fato as dificuldades que tivemos em encontrar mulheres brasiguaias dispostas a dar entrevistas, principalmente no estudo realizado em Marechal Candido Rondon. Entendemos que essa questao nao inviabiliza nossa reflexao, mas requer consideragées quanto as possibilidades de trabalhar com narrativas femininas dentro da proposta de corpus documental mencionada e dos parémetros estabelecidos pela metodologia de andlise da histéria oral. Embora este nao seja um estudo sobre relagdes de género e sexualidades, tais questées servem de convite para novas e futuras discussées. No tocante & metodologia, as entrevistas sao concebidas e anali- sadas nesta pesquisa a hz de autores como Alessandro Portelli (1996), Alistair' Thomson (1997, 1998), Janaina Amado (1995), Heloisa Helena Pacheco Cardoso (2004), Yara Aun Khoury (2004), Luisa Passerini (1993), Robson Laverdi (2005), Silvia Salvatici (2003) e Verena Alberti (2008). Esse conjunto variado de referéncias sinaliza que as narrativas orais devem ser analisadas como memérias em construgao cultural- mente mediadas e subjetivamente produzidas. Mais ainda, aponta que o historiador deve saber lidar com as especificidades metodolégicas da historia oral em vez de buscar uma pretensa objetividade nas falas ¢ trata-las como verdade ou como mentira. E preciso também entender as falas dentro da cultura em que sao geradas, compreendendo cultura como maneiras de viver em movimento ao longo do tempo (Williams, 1979). Se as falas tém ligacao com a cultura dos falantes, os sentidos os significados produzidos pelos entrevistados sao pegas integrantes ¢ fundamentais de sua cultura. 270 Sumério Assim, a preocupacao aqui nao é realizar um levantamento sobre as condigées de vida dos narradores no Paraguai, no intuito de efetuar dentincias sociais. O objetivo central é entender como as narrativas orais retratam as migragées pela fronteira, quais significados os entre- vistados imprimem aos fatos narrados sobre suas vidas no exterior € como estes significados auxiliam na compreensao de suas trajetérias e culturas. Afinal, como indica Thompson (1987),’ eles so mediados pela experiéncia social, que, no caso dos narradores, 6 formada com base no lugar social que passaram a ocupar em seu retorno ao Brasil. Esta nao é a primeira vez, que retomamos essas quatro entrevistas com a finalidade de problematizar as memérias e experiéncias de vida fronteirigas dos narradores. Em outras duas oportunidades, trabalhamos com elas, tendo jé produzido dois artigos baseados em seu contetido. Na primeira publicagao (Langaro, 2013), exploramos as narrativas que focam nos aspectos negativos da vida no Paraguai; na segunda (Langaro, 2014), tratamos da visao positiva e talvez romantica da vida e do trabalho nesse pafs, Embora a op¢ao por trabalhar separadamente com cada um dos tipos de enredos fronteirigos nos tenha permitido aprofundar a discussao, ao final da escrita de ambos os trabalhos, houve um sentimento de incompletude. Parecia que faltava algo para complementar o debate, como 0 caldeamento ou mesmo 0 contraponto entre esses dois modos de narrar a vida no Paraguai Na tentativa de suprir essa lacuna, resolvemos mais uma vez, revisitar nossos narradores para tratar, agora de maneira conjunta e/ou em contraposigao, as visdes negativada e positivada sobre o Paraguai. Seus enredos sintetizam parcelas da complexidade existen- te nas relagées entre o Bra il ¢ esse pafs vizinho. Particularmente, constatamos que, embora o Paraguai seja tao préximo ao Brasil — 2 Deacordo com E. P. Thompson (1987), a experiéncia humana € decorrente da capacidade que as pessoa base em seus referentes culturais a realidade vivida. Refere-se ao potencial dos seres humanos para ler o mundo circundante e agir sobre ele de forma nao totalmente livre, mas também nao totalmente determinada. tém para tratar em suas consciéncias e com 271 Sumério fisica, comercial e diplomaticamente -, ele ainda é pouco conhecido € muito incompreendido pelos brasileiros, e vice-versa. I! sobre essa complexidade das relagées entre ambos os paises ¢ scus habitantes que trataremos na préxima segao. Brasil e Paraguai: complexas relacdes, uma histéria de tensdes No plano das relagées internacionais, apesar da aproximagao ocorrida entre Brasil e Paraguai no final do século XX e da formagao do Mercado Comum do Sul (Mercosul), o envolvimento entre os dois paises é pontuado historicamente por conflitos, cuja expressao méaxima foi a Guerra do Paraguai (1864-1870). Também conhecida como a Guerra da ‘Iriplice Alianga ou Guerra Guasti, terminologia empregada no Paraguai, esta é considerada 0 maior conflito bélico da América do Sul. Configura-se como um trauma nas memérias paraguaias, ainda muito presentes nos debates politicos nacionais (Souchaud, 2011), sendo um dos marcos da subordinagao do pais na rea de politica internacional Desenvolvidas no plano macropolitico, tais tensdes acabam por se espraiar por todo o tecido social, de maneira a interferir na vida cotidiana de ambos os pafses. Atualmente, a imagem do Paraguai circulante no Brasil é a de um pais pobre, desorganizado, economi- camente atrasado e, portanto, inferior. De modo anélogo, no Paraguai também circula uma imagem negativa dos brasileiros como povo que subjugou os paraguaios com a vitoria na guerra do século XIX, suposta origem dos grandes problemas enfrentados pelo pais no pre- sente. Contribuem para esse quadro os intimeros crimes de guerra cometidos por brasileiros durante o grande confronto; a anexagdo pelos vencedores, principalmente Brasil e Argentina, de terras em litigio na fronteira com o Paraguai; a privatizagao de terras estatais paraguaias, também imposta pelos vencedores, de forma a originar o latiftindio e a grande concentragao fundidria existentes naquele pats (Almeida Neto; Flores, 2014) 272 Sumério Para agravar as tensdes entre os dois pafses, a imigragao brasileira no Paraguai, intensificada desde a década de 1950, ocorreu no inte- rior de um contexto problematico, sendo instigada pelas politicas de desenvolvimento adotadas na ditadura do general Alfredo Stroessner. Ou seja, essa imigracao, alids, expressiva, nao resultou de um amplo debate com a sociedade ou mesmo de uma discussdo democratica com as instituigées paraguaias. Entre as décadas de 1970 e 1980, a comunidade brasileira chegou a representar cerca de 10% da popu- lagao do Paraguai (Baller, 2008). Nesse perfodo, empresas coloniza- doras paraguaias venderam Areas rurais de diferentes dimensdes para agricultores brasileiros e, nas décadas de 1980 e 1990, verificou-se nas regides fronteirigas uma intensa concentragao fundidria decor- rente da modernizagao da agricultura. Tal concentragao, entretanto, nao se verificou apenas no Brasil, mas também no Paraguai (Silva, 2010). Apés a derrota do regime de Stroessner, sucedida em 1989, movimentos reivindicatérios de polfticas de reforma agrdria passaram_ a questionar a presenga de brasileiros e de suas propriedades rurais no pafs (Baller, 2008). Nessas circunstAncias, as memérias da guerra sao invocadas para denunciar que a submissao do pais ao estrangeiro contribuiu para excluir a populagao paraguaia do acesso & terra, € o nacionalismo passa a ser 0 elemento balizador de reivindicagoes. No contexto dos anos de 1970 e 1980, brasileiros de diferentes niveis sociais adquiriram terras no pafs vizinho, desde pequenos e médios agricultores até latifundidrios. Para 14 afluiram também os Ppequenos posseiros, aqueles que cultivavam dreas rurais sem as ter comprado ou regularizado perante a justiga. Os posseiros eram trabalhadores rurais pobres que, em grande fluxo migratério, na década de 1980, dirigiram-se ao Paraguai para trabalhar no cultivo de hortela, recebendo terras cedidas pelas empresas colonizadoras para que fizessem nelas o trabalho de desmatamento. A partir da ex- pansio da produgao mecanizada de soja no Paraguai, principalmente na década de 1990, esses posseiros sofreram pressao para deixar ou 273 Sumério comprar as terras, cujos valores eram majorados pela especulagao imobilidria. Assim, ante a impossibilidade de se tornarem pequenos , 2010). Os posseiros geralmente eram “caboclos”, como sao geralmente proprictarios, muitos retornaram ao Brasil (Sib chamados na fronteira os brasileiros mestigos, ao passo que, nos ou- tros estratos de proprietarios, era mais comum encontrar brasileiros brancos, descendentes de europeus. Deixando 0 Sul do Brasil, onde ja eram pequenos ou médios proprietérios, estes emigravam para o Leste do Paraguai ¢ ali conseguiam adquirir areas maiores para o cultivo. Entre os motivos para a emigracdo, esse segundo grupo citava o desejo de obter propriedades que pudessem ser partilhadas com os filhos como heranga; 0 fato de possuir, no Brasil, uma Area muito diminuta e, portanto, invidvel para a modernizagao agricola ou de ter sido desapropriado para a edificagéo de grandes obras governamentais, como a Usina I idrelétrica de Itaipu, construfda na regido fronteiriga na passagem da década de 1970 para a de 1980; a necessidade de desistir de uma Area rural no Brasil por falta da devida regulamentagao dessa rea sob 0 ponto de vista legal Embora as atividades rurais tenham sido 0 grande chamariz do Paraguai, dentro do universo pesquisado fica perceptivel que muitos brasileiros no conseguiram sobreviver no campo nesse pas Os motivos foram variados, envolvendo a condigo de posseiros, os conflitos fundidrios e as dificuldades em permanecer no meio rural em face do baixo subsidio estatal & agricultura. Esses e outros fatores resultaram em um violento processo de concentragao fundiéria no Paraguai, na passagem do século XX para o XXI Em seu retorno ao Brasil, muitos daquele: brasileiros, empobre- cidos e na condigao de trabalhadores rurais sem terra, acabaram por se integrar aos movimentos brasileiros de luta pela reforma agraria. Aliés, foi no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra que se forjou o termo “brasiguaio” para denominar esses brasileiros pobres que emigraram para 0 Paraguai e depois voltaram ao solo patrio: “O termo [oi a expressao ¢ bandeira de luta dos migrantes [e serviu 274 Sumério para representd-los na imprensa], que levou a situago vivida por eles ao conhecimento de todo o pats” (Silva, 2010, p. 17). Brasiguaio, no entanto, é um vocdbulo de dificil conceitua pois, ao longo do tempo, adquiriu diferentes sentidos, como aponta Leandro Baller (2008, p. 163-164) Para os especialistas ¢ pesquisadores brasileiros que tra balham o tema, o brasiguaio é compreendido como 0 migrante brasileiro que foi ao Paraguai e nao conseguit se reproduzit enquanto agricultor, Sofreu o desgaste de dé- cadas de trabalho em terras estrangeiras e posteriormente retornou ao Brasil, fomentando as periferias das cidades do este paranaense e/ou a populagao do movimento de trabalhadores sem terras, e por tiltimo ainda vive em condigées precarias no pats vizinho ou no Brasil. [...] Por outro lado, a maioria dos pesquisadores paraguaios, salvo algumas excegées, como 0 sociélogo Ramén Fogel, com- preendem como brasiguaios todos os brasileiros que foram a0 Paraguai desde o ir do movimento migratério que deriva do final da década de 1950, adentrando as décadas seguintes. Outra percepgao desse novo individuo que ha- bita os dois paises e é dinamizador do espago fronteirigo vem da imprensa, que amplia a nocd » de quem possa ser © brasiguaio, Tanto a imprensa brasileira como a paraguaia nao procuram especificar quem ele realmente seja, au- mentando a disposigéo de pessoas que, queiram ou nao, » introjetadas enquanto brasiguaios no cenério social Das perspectivas descritas, brasiguaio pode designar tanto os trabalhadores brasileiros pobres que viveram no Paraguai e retorna- ram ao Brasil, como todos aqueles brasileiros que se radicaram no pafs vizinho, sem distingdes de classe. Enquanto as duas primeiras definigdes sao muito empregadas pelos intelectuais do Brasil, a dltima 6 adotada pelas midias paraguaia e brasileira. Nas pequenas cidades da fronteira do Brasil com o Paraguai, em especial no estado do Paran4, 0 termo adquiriu conotagées pe- jorativas para definir aqueles que seriam considerados como cida- 278 Sumério daos de segunda categoria, nao portadores de direitos. ‘Trata-se de uma regido que nutre uma autoimagem de sociedade fundada por proprictarios rurais descendentes de curopeus, principalmente de alemaes ¢ italianos. Os integrantes dessa sociedade nao concebem de maneira positiva aqueles que deixam o campo, principalmente se eles sao pobres e mestigos, e/ou se viveram alguns anos no outro lado da fronteira, mesmo que nesta estadia sequer tenham apren- dido os idiomas dos “vizinhos”. Para justifi r sses preconceitos, alegam que retornar ao Brasil nem sempre significa uma ruptura total dos vinculos pessoais e de trabalho com o pais vizinho (Silva, 2010). Diante do sentido depreciativo aplicado ao termo, brasiguaio é comumente uma denominagao externa aos sujeitos, nado assumida como uma identidade pelos retornados do Paraguai. Foi nesse contexto que tomamos contato com tais sujeitos nas pesquisas realizadas entre julho de 2002 ¢ janeiro de 2006, quando eles j4 habitavam as pequenas cidades brasileiras de fronteira, onde encontraram alguma dificuldade para se inserir socialmente. Ao analisar suas trajetorias, percebemos que a fronteira nao implica apenas questoes de ordem legal e diplomatica, mas também relagdes sociais ¢ culturais, com a consequente produgio de significados sobre ambos os paises No interior desse universo significativo é que problematizaremos aqui aqueles dois enredos mencionados, muito marcantes nas narrativas dos entrevistados, um que apresenta memérias positivas da vida no Paraguai e outro que apresenta 0 pais vizinho por meio da negatividade. © Paraguai positivo: a romantizagéo da vida no campo no pais vizinho Para os nossos narradores, lembrar da vida no Paraguai nao requer somente refletir sobre 0 tempo em que residiram no exterior, mas também sobre o trabalho e 0 cotidiano no campo. Tais narrativas sao produzidas a luz de um momento posterior em suas trajet6rias, apés 276 Sumério seu retorno ao Brasil e sua insergao no meio urbano de pequenas cidades fronteirigas. Portanto, elas lidam com os clichés elaborados sobre Brasil ¢ Paraguai, ¢ ainda com aqueles remissivos ao campo e A cidade. Ler e interpretar o rural eo urbano, no mundo contemporaneo, é lidar com lugares-comuns. Em O campo e a cidade: na historia e na literatura, obra classica sobre o tema, Raymond Williams (1990) estuda as imagens historicamente cristalizadas sobre esses dois am- bientes. O autor apresenta intrigantes conclusées especificamente sobre a pratica de romantizar determinado passado rural, muito observada na literatura inglesa do perfodo da Revolugao Industrial. Conforme assinala, essa literatura que trata o campo como um lugar idilico, em que as pessoas levavam uma vida simples e sem grandes conflitos sociais, era produto de uma leitura romantizada que os es- critores do tempo da Revolugao Industrial faziam do Medievo. Como sabemos, nesse perfodo da hist6ria, a Idade Média, a violéncia ¢ as hierarquias sociais faziam sentir seu peso sobremaneira no ambiente rural. Entretanto, o tempo da Revolucao Industrial, perfodo em que eram escritas as obras literdrias analisadas por Williams, compunha um contexto histérico de violentas transformagdes no campo, em que se verificou um drduo processo de concentragao fundidria e expuls o das populagées camponesas dos meios rurais. Assim, Wil- liams defende que a leitura romantizada do campo medieval era uma resposta dos escritores do perfodo da Revolugao Industrial ao duro processo verificado no meio rural de seu tempo. Portanto, conforme pontua, todas essas construgdes sobre campo e cidade sao gestadas nas relagées sociais vividas pelos escritores e constituem intervengoes nas realidades por cles vividas. O caminho trilhado por Williams (1990) para construir sua reflexo é uma inspiragdo para pensarmos as narrativas orais. Para o autor, nao caberia discutir a obra dos escritores ingleses do periodo industrial sob 0 crivo da verossimilhanga, mas pensar nas relages cdo de seus sociais com que eles dialogavam no momento de elabora 277 Sumério livros e na intervengao criativa que pretendiam produzir no mundo em que viviam. De maneira semelhante, nao devemos buscar nas memérias sobre campo ¢ cidade, presentes em entrevistas orais, uma fidedignidade & realidade histérica. Ela seria impossivel, porquanto a realidade é lida de muiltiplas formas por diferentes pessoas. En- tendemos, pois, ser bem mais proveitoso explorar as relagdes sociais subjacentes as narrativas e os significados politicos resultantes da intervengao na realidade, os quais moldam as entrevistas orais tanto em relagao a forma como ao contetido. Assim, por mais idilicas e romantizadas que sejam as memérias sobre a vida no campo no Paraguai, tais aspectos nao invalidam as narrativas. Amparados na discussao feita por Alessandro Portelli sobre 0 conceito de subjetividade, compreendemos que o ideal é procurar entender 0 universo de valores e sentidos compartilhados pelos narradores com seu grupo social ¢ materializados nas narrativas orais, em vez de tentar corrigi-las ou separar o subjetivo e o objetivo, tarefa ingléria e impossivel ao historiador.> Nessa perspectiva, iniciaremos a discussao das entrevistas orais com a narrativa de Carlos, j4 apresentado na secao anterior juntamente com os demais narradores, Alberto, Renato e Fernando. Nascido em Bom Destino, estado do Espfrito Santo, Carlos partiria mais tarde com sua familia rumo a Sao Paulo, onde moraram por pouco tempo, tendo se deslocado em seguida para Marechal Candido Rondon, estado do Parané, a fim de trabalhar no cultivo de hortela. Segundo o narrador, 3 Para Alessandro Portelli (1996), a subjetividade nao 6 um defeito, mas o elemento de maior riqueza possivel presente nas fontes orais. Segundo ele, 6 indtil ao pesquisador querer sepatar os aspectos subjetivos dos objetivos numa entrevista, pois ambos sao intimamente amalgamados, sendo impossivel dife renci-los. Mais que impossivel, tal intento constituitia um erro metodolégico, pois a subjetividade de uma narrativa nao é uma distorgao da "verdade”, mas a forma como os narradores organizam individualmente processos vividos ¢ lembrados coletivamente, impregnando-os com os valores de seu grupo social Cabe aos historiadores, enfim, ficar atentos & subjetividade das narrativas orais e exploré-la adequadamente, para que seja possfvel o estudo nao apenas dos fatos narrados, mas também da cultura dos narradores. 278 Sumério a decisao de deixar o Brasil foi motivada pelo falecimento do pai, pois, e muito dificil sustentar a para a mae € os irmaos mais velhos, tornar: familia em Marechal Candido Rondon. Dessa mancira, el dirigiram. para a regido de Marangatu, departamento (equivalente a provincia ou estado) de Canindeyti, no Paraguai, onde, na época da entrevista, possufam uma pequena 4rea de terras que somavam sete alqueires paulistas,* administrados pelo irmao de Carlos. Aos quatorze anos de idade, o entrevis ‘ado passou a trabalhar nas fazendas da redondeza, atuando, inclusive, como tratorista, a fim de obter renda propria. Ali permaneceu até os 26 anos, quando emigrou de volta para o Brasil. Carlos recorda de forma bastante positiva esse perfodo de sua vida em que trabalhou e vivew na zona rural do pats vizinho Era boi berrando... e... roca plantando... e... a gente motosserra derrubando mato... [...] j4 recebia I4, a cada seis meses ia chegar © pagamento, né? Daf a gente jé perdia, entéo, um pouco dos dias que tinha marcado, né? O patrao] Chegava, fazia uma festa e... pagava... safa. (Entrevista concedida em Marechal Candido Rondon, PR, 7 de dezembro de 2002) As possiveis tensées existentes nas relagées de trabalho, como as decorrentes dos dias de servigo nao pagos, so ignoradas no relato, prevalecendo as relagdes amistosas, relembradas por meio das imagens das festas que 0 patrao fazia para os empregados, quando do paga- mento, marcas de relagées trabalhistas mediadas pelo paternalismo. Colabora para tal perspectiva o quadro tragado na citagao acima, em 4 O gentilico “paulista’ acompanha a denominagao da unidade de medida porque a extensio de um alqueite nao é uniforme em todo o Brasil, experi- mentando variagées regionais. Cada alqueire paulista corresponde a 24.200 metros quadrados A pontua Jo das transcrigdes de passagens das entrevistas orais, prinei- palmente o uso da virgula ¢ das reticéncias, segue a légica da oralidade do narrador, com suas pausas curtas e longas, e nao preceitos gramaticais rigidos da lingua portuguesa. sa 279 Sumério que Carlos coloca o trabalho no campo em primeiro plano, acima das divisdes sociais. Nesse quadro, a fazenda também é descrita como um ambiente harmonioso, um lugar ordenado: a natureza domada (as vacas) ou em processo de conquista (a floresta sendo derrubada pelas motosserras) compée com os seres humanos uma mesma dimensao. Ao responder nossa questo sobre sua infancia no Leste do Paraguai, a perspectiva do narrador é extremamente otimista, de forma que ele apresenta esse periodo e lugar como uma espécie de “parafso perdido”. Em suas lembrangas, a caga, a pesca ¢ 0 trabalho no campo, na companhia dos irmaos e amigos, séo apresentados como parte de um tempo de muita diversdo, ainda que a cacga e a pesca tivessem como objetivo também a subsisténcia das familias, e nao apenas 0 lazer. © trabalho no campo, mesmo exigindo muito esforco, é igualmente apresentado como parte de um contexto festivo, imagem resultante da meméria positiva construfda sobre o Paraguai. O narrador faz aqui uma “recomposigéo” de suas memérias correspondentes & experiéncia social vivida na infancia e no inicio da adolescéncia.’ Esse periodo é lembrado de forma nostalgica, ao contrario do que acontece quando Carlos narra especificamente a vida na fazenda do patrao: embora ela também seja recordada de mancira positiva, aparece imersa em um sentido de ordem que abar- ca natureza e seres humanos, conforme pontuamos anteriormente. Essas memérias podem indicar a diferenca vivenciada pelo narrador ho regime e na disciplina de trabalho, pois, & medida que passa a laborar fora do circulo familiar e do ambiente doméstico, a “festa” dé espaco a “vida adulta”. Isso, no entanto, nao é narrado por Carlos de forma trégica ou como uma ruptura em suas manciras de viver, 6 De acordo com Alistair Thomson (1997), a “recomposigao” de memérias é a maneira pela qual os narradores reorganizam, no e em fungao do presente, as reminiscéneias de experiéncias passadas. O objetivo da reorganizacéo é sentir-se confortével com as préprias recordagdes no tempo presente, superar lembrangas de passagens dificeis da vida e vencer traumas. E 0 processo que permite As pessoas lidar com memérias desagradéveis e utilizé-las para dar sentido (politico, inclusive) as suas vidas no presente 280 Sumério uma ver que ele se identifica com as lides do campo. O quadro—de certa forma romAntico — tragado por Carlos para o perfodo em que viveu no Paraguai possivelmente emergiu como um contraponto formas adversas como ele se inseriu no universo urbano, ao retornar ao Brasil, por volta de 1999, com 26 anos de idade. Na ocasiao, a falta de escolaridade e de experiéncia em atividades urbanas 0 relegou ao subemprego nas agroindistrias locais. Sua trajet6ria na cidade, portanto, nao representou uma conquista de qualidade de vida, mas grandes dificuldades para conseguir sobreviver. O segundo narrador, Alberto, nasceu em Saudades, estado de Santa Catarina, onde viveu com seus seis irmaos. Apés o falecimento de seu pai, a familia também emigrou para o Leste do Paraguai, para a localidade de Troncal Quatro. Conforme aponta, também eram peque- nos produtores rurais que, a custo, procuravam manter-se no campo. Quando relata a vida no pats vizinho, 0 narrador apresenta 0 campo, onde viveu com a familia, usando os mesmos clichés adotados por outros brasileiros que também ali residiram: o isolamento do local onde moravam, 0 contato com a mata e demais empecilhos enfren- tados para o estabelecimento da familia. Porém, em determinado momento, a fala muda de rumo e Alberto passa a elencar os pontos positivos da vida que levou no exterior: “L4, choveu tu nao faz nada, ¢ anda para cima, para baixo, cagando e... meio jogando bola [futebol] [...] Jogava baralho...” (Entrevista concedida em Marechal Candido Rondon, PR, 29 de novembro de 2002). Além de citar diferentes formas de lazer, o narrador destaca que aquela sociedade nao era dominada pelo materialismo e pelo jogo de aparéncias, caracteristicas que compreende como tipicas do universo urbano: No interior tu usa um cal¢ao assim, um[a] camisa... 0 que tu quiser vestir est4 bom. E na cidade ja nao, na cidade ja tu sai... mal-arrumado... para comegar, se tu nado tem dinheiro, tu dentro da cidade nao € ninguém também, dai... as primeiras vezes e... nao gostei nada, nada da cidade, viu? Por qualquer coisinha estava voltando para 281 Sumério tras. Mas depois peguei 0 costume de... da cidade... safa com 0s amigos... ia para baile, ia por... por tudo que é canto, festinha de aniversério, por af. E, fui pegando o jeito e... até hoje [estou] na cidade, mas se... por acaso tiver algum dia que... resolvo de ir para a cidade, [corrige a informagao] para o interior [zona rural], eu mudo de novo. Nao desprezo o interior de jeito nenhum, né... mas..., por enquanto, eu estou bem aqui... e sei Ié..., pode surgir algumas outras coisas melhores, mais tarde né, mais, sei li, (Entrevista concedida em Marechal Candido Rondon, PR, 29 de novembro de 2002) Nesse momento, notamos uma contraposicao entre o passado, vivido na zona rural do Leste do Paraguai, e 0 presente, em que 0 narrador residia em Marechal Candido Rondon. Na cidade brasileira, Alberto nao possufa um trabalho fixo, era servente de pedreiro diarista, morava na periferia ¢ encontra' ¢ em processo de alfabetiza cdo. E nesse ambiente, marcado pelo peso das hierarquias sociais, que ele recorda o perfodo anterior 4 mudanga focando em temas como a simplicidade do ambiente rural, com que se identificava e onde se sentia mais a vontade. Alberto demonstra cuidado ao falar dos problemas vivenciados no pats vizinho e evita langar um olhar estereotipado sobre aquela realidade. Segundo ele, gostava de morar l4, ¢ somente se mudou para a cidade, por volta do ano de 1998, em fungao da pressao feita por sua familia, j4 quase integralmente retornada ao Brasil. Embora nao compreendesse o tempo presente de forma tragica ou puramente negativa, em determinado trecho da entrevista, chegou a afirmar que ainda nutria 0 desejo de voltar ao meio rural do Paraguai © Paraguai sob o manto da negatividade: intercruzamentos entre esteredtipos nacionais e relacées entre campo e cidade AAs narrativ orais que tratam da vida no Paraguai pelo prisma negativo referem-se ao pais vizinho por meio de elementos impregna dos de esteredtipos e de carga pejorativa. Como Williams (1990) bem 282 Sumério pontuou, 0 préprio meio rural nem sempre é lembrado de maneira muitas vezes, ele é significado negativamente. A contrapo- positive sigdo entre campo e cidade, nao raro, resulta em uma visao favoravel ao urbano e prejudicial ao rural. Esse contraponto esta presente nas narrativas orais que analisamos, cuja visdo sobre o passado rural toma por base um presente urbano. Assim, nessas narrativas, as imagens depreciativas do Paraguai se coadunam com as visées negativas sobre o campo, existindo uma simbiose entre ambas. Comegaremos a explorar esse enredo negativo com a entrevista de Renato, que nasceu na zona rural do municipio de Santa Helena, estado do Parané, e, aos nove anos de idade, deixou a regido do Oeste paranaense juntamente com sua familia para morar em Rebougas, no Centro-Oeste do estado. A familia fora desapropriada de uma area rural que possufa, na qual seria construida a usina hidrelétrica de Itaipu. A cidade de Rebougas foi destino comum de muitos agricul- tores expulsos do Oeste do Parand pelo empreendimento hidrelétrico levado a cabo pela ditadura militar. No municipio havia terras pouco férteis, porém a precos acessiveis para quem $6 contava com 0 parco dinheiro da indenizacao recebida em virtude da desapropriagao. A mudanga para o Leste do Paraguai ocorreu em 1991, quando Renato tinha dezenove anos de idade. Sem a familia, ele foi morar na regido de Vila Procépio, departamento de Alto Parana. Foi para 14 a contragosto, pois seus irmaos, administradores dos negécios da familia, compraram uma 4rea de terras naquela regiao e o investiram da fungao de tomar conta da pequena propriedade, enquanto eles © sua mae permaneceram em Rebougas. A drea possufa titulagdo, ¢ Renato, que, inicialmente, havia emigrado sem a documentagao legal, adquiriu o visto da imigragao paraguaia, nao tendo dificuldades para permanecer ali, sob o ponto de vista juridico. A compra foi uma forma de manter a famflia no campo, uma vez que, em Rebougas, eles eram oito irmaos para dividir uma Area de quatorze alqueires paulistas, extensao insuficiente para a sobrevivéncia de todos eles como agricultores. 283 Sumério A zona rural de Vila Procépio, no Leste do Paraguai, é caracterizada por Renato como um lugar habitado majoritariamente por brasileiros. A narrativa dele é marcada pelas dificuldades 14 vividas, tais como a falta de méveis ¢ utensilios domésticos em sua casa e a auséncia de energia elétrica, que o forgava a mudar a alimentagao: para contornar a falta de um congelador e nao estragar os alimentos, ele precisava salgar muito 0 feijao ou fazer charque com a came, salgando-a e colocando-a na banha. As falas sobre o desconforto vivido nesse local sao fortes e assumem o [oco da entrevista nas passagens que se referem ao Paraguai. Em outro momento, ao tratarmos mais a fundo de seus habitos alimentares, tanto do passado como do presente, Renato retornou a esse tema, discutindo novamente as privagées vividas no estrangeiro: “No Paraguai eu tive épocas l4, que... [tosse] até inclusive quando. [tom de voz mais baixo] eu estava ca... com a minha [volta ao tom de voz normal] ex-mulher, ela estava... gravida, né, ¢ a gente nao tinha de onde tirar... é... 0 pao” (Entrevista concedida em Santa Helena, PR, 9 de julho de 2004). A falta de dinheiro para comprar comida decorria da escassez de trabalho como diarista rural, desempenhado paralelamente as lides do sitio da familia, e da caréncia de produtos para comercializar, como soja e milho. O narrador tampouco podia contar com aquilo que cra passivel de ser produzido no proprio si- tio, como animais para consumo. Estes haviam sido destruidos por circunstancias locais, como a febre aftosa, endémica naquela regido, na €poca, e 0 ataque de animais selvagens, muito presentes no lugar. Renato se esforca para nos convencer de que tal situacao nao fora gerada por falta de empenho pessoal ou de zelo com a propriedade, mas por clementos alhcios 4 sua vontade. Como forma de atestar sua capacidade em superar tais obstaculos, ele destaca ainda que a filha nasceu com boa satide, apesar dessas intempéries. Com isso, ele sugere que, mesmo tendo vivido tantos problemas, nao deixou que a familia padecesse. Nesse momento, o narrador constréi a si mesmo como um bom chefe de familia, procurando, provavelmente, 284 Sumério compensar a passagem em que relatou terem passado fome. A in- tengao é deixar claro que, a despeito das situagdes delicadas, ele foi um bom pai e marido, cumprindo seu papel de homem “provedor’, ainda muito difundido na sociedade brasileira. Notamos que muitas das adversidades relatadas siio configuradas pelas condigées de vida enfrentadas pelo narrador, segundo ele, de- correntes da situagdo de pobreza em que se mudara para o Paraguai e da precaria estrutura ali existente. Seus problemas nao se referem ao convivio interpessoal, que nao é tratado por Renato como algo gerador de tensées: “A gente se sentia como se fosse aqui no Brasil porque... em matéria de pessoas, né, porque [...] s6 tinha brasileiro [em Vila Procépio]” (Entrevista concedida em Santa Helena, PR, 9 de julho de 2004). Renato construiu sociabilidades com os com- patriotas, que formavam a maioria da populagao de Vila Procépio, segundo relatou. No momento da entrevista, muitos deles também jé haviam voltado ao Brasil, vivam em Santa Helena e continuavam a manter contato com o narrador. Em outros trechos da entrevista, Renato explica que mesmo 0 lazer na localidade de Vila Procépio nao diferia muito daquilo que tinha vivido na zona rural do Parana. No pais vizinho, aprendeu tao somente um espanhol rudimentar e nado se naturalizou paraguaio. Sem contar que sua filha nasceu em Santa Helena, onde vivia a familia de sua ex-esposa, e foi registrada como cidada brasileira, pratica comum entre os trabalhadores brasiguaios Os habitantes paraguaios e os poss{veis conflitos vividos no estrangeiro so silenciados por Renato, provavelmente como forma de afirmar-se como brasileiro, mesmo tendo vivido alguns anos fora do pais. Em outra passagem marcante, cle contrapée sua trajetéria no pats vizinho a do irmao mais velho, que, depois dele, também emigrara para ld, Esse irmao é apresentado como alguém de sucesso, pois tivera melhores condigdes financeiras para investir em sua proprie- dade estrangeira. J4 trabalhava na agricultura e era independente dos demais. Conseguiu acumular certo capital, aproveitando, inclusive, para 285 Sumério comprar 4reas vizinhas e carentes de titulagdo, no Paraguai. Renato, ao contrario, possufa, no pafs vizinho, uma 4rea rural muito diminuta, cuja propriedade dividia com outros irmaos, e, sem dinheiro suficiente para investir, nao conseguira obter sucesso no empreendimento rural. Ao longo dos cinco anos que viveu no exterior, casou-se com uma brasiguaia e teve uma filha. Nesse intervalo de tempo, alguns de seus irmaos, sécios da area rural, mudaram para aquele local e passaram a morar junto com Renato e sua familia. Depois de alguns conflitos familiares, por volta de 1996-1997, cle, a esposa ¢ a filha deixaram 0 Paraguai e retornaram ao Brasil, para a cidade de Santa Helena, estado do Parana. A mudanga foi motivada, também, pelo convite do cunhado de Renato, que era mestre de obras e Ihe ofereceu emprego como ser- vente de pedreiro, além de prestar-lhe sua solidariedade ensinando-lhe a nova profissio. A érea de terras do Paraguai ficou com seus irmaos, que posteriormente a venderam para vizinhos latifundidrios. A despeito do 4rduo trabalho na construgao civil, Renato se profissionalizou nes- se ramo e se tornou construtor, ascendeu economicamente e voltou a estudar. Por essa razao, talvez, perceba de maneira tao negativa 0 tempo em que viveu no Paraguai trabalhando no campo, sem obter resultados tao bons como na profissao atual. Tomar as dificuldades vividas no Paraguai como enredo nao é exclusividade de Renato, j4 que encontramos elementos semelhantes na entrevista realizada com Fernando. Segundo afirmou o narrador, seus pais eram sergipanos e deixaram o Nordeste do Brasil na déca- da de 1970, aprovava a uniao. Nesse perfodo, a mae de Fernando tinha dezoito ‘ugindo” para se casar, pois a familia de sua mae nao anos ¢ 0 pai, vinte. De Sergipe, eles mudaram para Sao Paulo e, apés alguns meses, dirigiram-se para Matelandia, no Oeste do Parand, onde vivia um amigo de seu pai. Foi nessa cidade que Fernando nasceu. Além das questées que envolveram motivos pessoais, Matelandia foi escolhida num contexto de intensa migracao de trabalhadores evadidos das regides Sudeste e Nordeste do Brasil nas décadas de 1960 ¢ 1970 (Laverdi, 2005). Na época, Matelandia ficou conheci- 286 Sumério da na regio por ter sido palco de conflitos agrarios entre os muitos posseiros que a habitavam. Possivelmente o pai de Fernando e 0 amigo dele foram residir no local a fim de obter uma rea de terras para trabalhar. Do mesmo modo, a conquista de uma propriedade rural estava entre os objetivos da familia do narrador quando eles se mudaram para o Paraguai, entendendo que, naquele pats, tal em- preendimento seria realizado com menos dificuldades. Inicialmente, atuaram na agricultura da regidio de Vila Procépio trabalhando com hortela, na condigdo de possciros. Mais tarde, venderam a terra ¢ deixaram o campo, deslocando-se por diversas localidades paraguaias e passando a exercer atividades comerciais. Silva (2010) aponta os problemas enfrentados pelos trabalha- dores da hortela para permanecer nas terras cultivadas no Leste do Paraguai. Porém, nas memérias de Fernando, as sucessivas mu- as dificuldades, mas dangas de locais de moradia nao se deviam a exclusivamente a vontade de seu pai e a sua suposta falta de plane- jamento das atividades com que trabalhava. A mudanga da familia para o Paraguai — quando Fernando ainda era um bebé — também é interpretada como motivada unicamente pelo desejo de seu pai, que teria preferido morar em lugares mais remotos como forma de nao se integrar 4 modernidade Todavia esses deslocamentos podem ter sido uma consequéncia do empenho de seus pais por permanecer no campo por meio da obtengao de terras para plantar, quando eram jovens e possufam satide e disposigao para (e)migrar. Assim teriam ido em busca de regides sem grande infraestrutura instalada, na esperanga de adquirir terras para sic sua prole. Também podemos compreender de maneira diferente as outras atividades da familia em cidades paraguaias — vender frutas ou pipocas, por exemplo —, entendendo-as como a improvisagao de alternativas para sobrevivéncia quando o trabalho rural nao lhe era mais possfvel. Ou seja, nao se tratava de mera vontade ou falta de planejamento: eram trabalhadores rurais com pouca escolaridade ¢ baixa qualificagdo, 0 que limitava seu acesso ao trabalho urbano. 287 Sumério Fernando, porém, lembra e narra com outro olhar essas passagens de sua vida, ¢ é justamente sobre a forma como ele recorda seu tempo de permanéncia no Paraguai que precisamos refletir. Seu ponto de partida para relatar sua vida no pais vizinho sao as dificuldades lé encontradas. O Paraguai surge em sua narrativa como local onde os trabalhadores rurais eram submetidos & moradia e alimentagao de baixa qualidade, levando uma vida insalubre, responsdvel pela mé formagao fisica das criangas. Mas Hernando ressalta principalmente o trabalho extenuante, realizado no campo, quando ainda era crianga ¢ adolescente. A gente trabalhava, direto na lavoura, e... passamos por momentos Ié dificeis, |...] alimentagao, péssima, sabe, alimentagao, assim, era terrivel [pausa]. [..] [Mordvamos] em casas... feitas de... madeira, cobertas com folhas tipo de sapé, aquelas... coberturas, terriveis. (Entrevista concedida em Santa Helena, PR, 11 de julho de 2004) Um diferencial entre a narrativa de Fernando ¢ a de Renato est4 na maneira como enxergam 0 convivio com os paraguaios: ao passo que o segundo silencia os conflitos interpessoais, o primeiro trata a convi- véncia com os habitantes do pafs vizinho como parte da negatividade desse pafs. Ao relatar sobre a vida em Hernandarias, uma das cidades Pparaguaias em que viveu, destaca que os paraguaios nao gostavam de brasileiros ¢ interpreta essa questéo como resquicios de contlitos com o Brasil, como a Guerra do Paraguai, em que este foi derrotado:? eu tive [um] ami- Quando eu fui morar em Hernanda go paraguaio, assim, [pausa] mas na verdade cle é amigo seu assim... tem que ficar sempre esperto com ele, sabe, A guerra é 0 grande marco da histéria do Paraguai, sendo entendida como a razio fundamental do declinio econémico e politico do pats. Acredita-se que com ela se deu também o principio dos latiftindios e da desnacionalizacao das terras paraguaias quando, sob a imposigdo dos pais s vencedores, as termas estatais foram vendidas para empresas de capital estrangeiro. Sobre a Guerra da Triplice Alianga e sua relago com os conflitos entre paraguaios ¢ brasileiros no perfodo contemporaneo, ver Albuquerque (2005) 288 Sumério porque eu ndo, deve ser por causa dis, é... um problema hist6rico, né, por causa de guerras que o Brasil teve com cles, assim, ganhou deles [pausa] e... eles sio teus amigos, mas, na primeira oportunidade que eles tiverem pra te.. fazer alguma coisa de mal, eles fazem. Nao vou dizer to- dos, mas pelo menos as pessoas com quem eu convivi foi assim. Eles sao... bastante vingativos, assim, ¢, tive amigo, mas quando vocé pensava que, nao podia contar com ele, assim. Eles [pausa] e... ainda mais assim, 6: se, se tu tem um amigo paraguaio, esté vocé e ele s6, tudo bem, daf chega mais uns dois, paraguaios, assim, dai cles comegam jé tramar [risos] contra, contra vocé, tem que ficar esperto, nesse sentido af. (Entrevista concedida em Santa Helena, PR, 11 de julho de 2004). O narrador expressa as tensées entre brasileiros e paraguaios por meio do contetido e da forma como narra: faz diversas pausas, pens naquilo que diré ¢ ri de situagées relatadas como forma de demonstrar que, desse contexto, nao resultavam atos de violéncia deliberada. Como fica evidente, tais embates também nao impediam o convivio e as relagdes de amizade entre brasileiros e paraguaios, embora o narrador entenda que, mesmo assim, era necessdrio tomar cuidado: com os naturais do pais vizinho. Dessa forma, ele aponta a existéncia de uma barreira a separar as pessoas de ambos as nacionalidades. A situagao na fronteira é bastante tensa, conforme frisamos anteriormente. Existem criticas de setores politicos e de movimentos sociais quanto a presenca de brasileiros na regiao Leste do Paraguai e, sobretudo, quanto ao grande mimero de latiftindios em Areas muito férteis sob o dominio de brasileiros, enquanto grande parte da populagao natural do pafs se encontra sem terra para trabalhar. Além disso, como aponta Baller (2008), a presenga brasileira naquela regidio de fronteira suscita debates a respeito da soberania do Paraguai sobre parte importante de seu territério. Nesse contexto, uma parcela das populacées brasileiras se negou a integrar-se a sociedade paraguaia: aprendeu muito rudimentarmente 289 Sumério os idiomas locais (espanhol e guarani) e permaneceu ligada as cidades do lado brasileiro da fronteira Isso revela qu apesar de interagir com os moradores daquele pais, tais brasileiros nao deixam de nutrir preconceitos contra eles. Fernando mesmo procura enfatizar que, embora tenha crescido no pats vizinho, nao se tornou paraguaio. Admite as relagées estabelecidas com os paraguaios, mas evidencia que preservou elementos identitarios brasileiros. Possivelmente esse movimento em seu relato procura reafirmar o direito de retornar ao Brasil. Todos esses elementos concorrem para demonstrar que Fernando nao se identifica com aquele lugar e que, em sua visdo, era invidvel permanecer ali. Depois de atravessar a fronteira de volta para o Brasil, mais especificamente para Santa Helena, estado do Parané, em fins da década de 1980, Fernando continuou a viver muitas dificuldades, como o trabalho infantil, desenvolvido ainda na adolescéncia quando foi trabalhador volante, ou boia-fria, como era popularmente conhe- cido aquele tipo de atividade. Entretanto, a despeito das intimeras adversidades enfrentadas em Santa Helena, ele conseguiu se pro- fissionalizar como eletricista e voltou a estudar, chegando a cursar o ensino superior. ‘Tal como Renato, expressa uma visdo positiva sobre o Brasil ¢ 0 trabalho urbano e s ¢ sente como quem conquistou muito, o que talvez. contribua para fazé-lo lembrar do Paraguai de maneira mais negativa. Consideracées finais Neste capitulo, lidamos com dois enredos diferentes por meio dos quais os brasiguaios entrevistados costumam tratar suas vidas no Paraguai, Um deles é representado por Carlos ¢ Alberto, que se lembram do pais vizinho como um paraiso perdido, terra venturosa e prospera, onde viveram bons momentos e da qual s6 safram porque seus familiares também ja haviam emigrado. Tal visio foi construfda com base na comparagio entre a vida na zona rural paraguaia e a vida 290 Sumério urbana no Brasil, caracterizada pelas dificuldades dos narradores para conseguir bons empregos por conta da falta de experiéncia profissional em offcios urbanos e de sua baixa escolaridade. O retorno ao Brasil, quando se mudaram para Marechal Candido Rondon, estado do Parana, foi vivido por eles como uma experiéncia, de certa forma, de exchusao social, embora nao seja lembrado em tons de tragicidade O outro enredo € notado nas falas de Renato e Fernando, que tratam o Paraguai com negatividade. Suas narrativas foram gestadas nos grandes obstaculos encontrados no outro lado da fronteira ¢ possivelmente contribuiu para sua elaboracao a melhoria que ambos os narradores experimentaram em suas trajetérias na zona urbana de Santa Helena, estado do Parana. Por essa razao, a volta para o Brasil é vista de maneira positiva, embora reconhegam que aqui também tiveram seus reveses. Conforme se percebe, os esterestipos difundidos sobre o Paraguai, no Brasil, sdo tratados de maneiras diferenciadas pelos narradores. Alguns os incorporam, outros os refutam e apresentam um Paraguai positivo. Entretanto, a mediar tais memérias, existem a trajet6ria e a historia de vida de cada um deles, além de suas experiéncias sociais e de suas relagdes com 0 campo ea cidade. Ou seja, as recordacées pessoais dos entrevistados foram sendo esculpidas ao longo de suc (0s ¢ insucessos, de conquistas e decepgées vividas ao longo de suas existéncias, néo podendo, portanto, ser tomadas de forma descontextualizada. 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