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Análise Funcional (PGMAT-UFAL0018)

Introdução, motivação. Normas equivalentes, compacidade e

dimensão. Completamento de espaços normados.

V. Araújo

Mestrado/Doutorado em Matemática, UFBA

Conteúdo
1 Introdução 2
1.1 Álgebra Linear em Dimensão Infinita . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Normas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2 Dim. infinita 5
2.1 Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2 Normas não equivalentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.3 Compacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

3 Completamento 9
3.1 Isomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.2 Existência e Unicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.3 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

4 Topologias 13
4.1 Topologia fraca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
4.2 Álgebras de Banach e C∗ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

5 Espaços de Lebesgue 18
5.1 L1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
5.2 Lp . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
5.3 Desigualdades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
5.4 Completude . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
5.5 Dualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

1
1 Introdução
1.1 Álgebra Linear em Dimensão Infinita
O que é Análise Funcional?
Em termos simples, Análise Funcional é uma fusão de conceitos
de Análise, Topologia e Álgebra (mais elementarmente Álgebra Li-
near, mas mais profundamente Álgebra com toda a generalidade)
que estuda operadores lineares entre espaços vetoriais de dimensão
infinita.

Esta teoria se configura como uma “teoria de teorias” já que con-


grega campos de estudo que anteriormente estavam separados, mas
que foram unificados graças aos conceitos de espaço de Hilbert e es-
paço de Banach, e à utilização de noções topológicas para estabele-
cer relações gerais válidas para classes de espaços e de operadores
lineares entre eles.

Alguma história
Análise Funcional como a entendemos hoje é essencialmente uma
criação vinda da interação entre a Matemática e a Física na primeira
metade do século XX, especialmente a Física Nuclear, Física Quântica
e mais tarde a Física de Partículas. O formalismo matemático da
Mecânica Quântica, a teoria física que modela os fenômenos à escala
atômica, se exprime hoje com a linguagem da Análise Funcional, que
foi desenvolvida para atender a esta necessidade.

Esta linguagem se revelou integradora e fundamental para traba-


lhos em Probabilidade, Processos Estocásticos, Equações Diferenciais
(em particular Equações às Derivadas Parciais), Geometria Diferen-
cial, Teoria Ergódica e Sistemas Dinâmicos etc.

Exemplo: o problema de Dirichlet


Seja V : [0, 1] → R função real e procuremos funções  : [0, 1] → R
de classe C2 que satisfaçam a equação diferencial

d2
− () + V()() = λ()
d2
onde λ é alguma constante, ou seja, queremos saber quais λ podem
ser usados para obter soluções não nulas ( ≡ 0 é sempre solução
para todo λ ∈ R dado...).

Quais são os possíveis valores de λ com soluções não nulas? Quais


são essas funções?

2
Autofunções de um operador
Este problema tem que ver com os “modos de oscilação no inter-
valo” e é fundamental (por exemplo) em Mecânica Quântica .

Veremos que existe sequência infinita λn ∈ R de valores para os


quais existem soluções “independentes” j .
Note que se escrevermos a equação diferencial como
d2
‚ Œ
− + V() () = λ()
d2
d2
 
vemos  como autofunção de um operador  7→ − d 2 + V  linear

em C2 ([0, 1], R) associada ao autovalor λ, e começamos a perceber


uma ligação com Álgebra Linear no espaço C2 ([0, 1], R).

Matrizes infinitas?
Como C2 ([ 0, 1], R) claramente é um espaço vetorial real com as
operações usuais de soma de funções e multiplicação de função por
escalar, mas não tem dimensão finita, poderíamos pensar em usar
uma “matriz infinita” para representar este operador, se tivêssemos
uma base!
Esta não é a melhor maneira de tratar o problema (isto de fato foi
tentado inicialmente pelos físicos, a Mecânica Quântica foi conhecida
como “Mecânica de Matrizes” até que Von Neumann mostrou aos físi-
cos que seria muito mais poderoso usar a linguagem dos operadores
lineares em espaços de Hilbert, e aí nasceu essencialmente a Análise
Funcional).
Mas num certo sentido estamos trabalhando com uma matriz infi-
nita!

Espaços vetoriais normados


Uma diferença crucial entre operadores lineares em espaços de
dimensão infinita com aqueles conhecidos da Álgebra Linear mais
elementar, é que a topologia do espaço passa a ser importante.
Esta ideia está inserida na Análise Funcional via o conceito de es-
paço (vetorial) normado: lembram dos axiomas? Um espaço vetorial
E sobre um corpo K é um conjunto com uma operação de adição
+ : E × E → E e multiplicação · : K × E → E que faz de (E, +) um
grupo comutativo e · é distributiva em relação a +. Usaremos sem-
pre K = R ou C neste curso (aplicações muito interessantes surgem
também com outros corpos!!).
Vamos agora introduzir uma norma ∥ · ∥ em E, o que fará de E um
espaço (vetorial) normado (E, ∥ · ∥).

3
1.2 Normas
Normas e completude− − −−Espaços de
Banach

Normas e completude: espaços de Banach


Uma norma | · | : E → R num espaço vetorial E é uma função não
negativa que satisfaz
ˆ homogeneidade: |λ| = |λ| · ||, λ ∈ K,  ∈ E;
ˆ desigualdade triangular: | + | ≤ || + ||, ,  ∈ E.
ˆ || = 0,  ∈ E ⇐⇒  = 0.
Uma norma define naturalmente uma distância associada d(, y) =
| − y| que faz de todo espaço normado um espaço métrico.
Um espaço métrico onde toda sequência de Cauchy (ou sequência
fundamental) é convergente diz-se completo.
Um espaço vetorial normado que, como espaço métrico, é com-
pleto, diz-se espaço de Banach.

Normas em espaços de dimensão finita


A completude de (E, ∥ · ∥) é essencial para podermos tomar limites
de sequências dentro do espaço, ou seja, para usarmos as ferramen-
tas da Análise em E.
Uma propriedade muito útil dos espaços vetoriais de dimensão
finita, e que de fato os caracteriza, é dada pelo seguinte resultado.
Lema
Todas as normas em Rm (ou Cm ) são equivalentes para cada m ≥ 1.
Em particular, estes espaços sempre são Banach.
Podemos assim escolher, para estudar convergência de alguma
sequência, a norma mais conveniente para cada situação em todo
espaço vetorial real ou complexo de dimensão finita.

Exemplo de aplicação da completude


Teorema do Ponto Fixo para Contrações
Seja (X, d) espaço métrico completo e F : X ⟲ uma transformação que
admite λ ∈ (0, 1) e k ≥ 1 tais que d(F k (), F k (′ )) ≤ λ · d(, ′ ) para
todo , ′ ∈ X (F k é λ-contração, onde F k = F◦ . k. . ◦F). Então
ˆ existe único ponto fixo p ∈ X: F(p) = p;
n→∞
ˆ p é atrator: F n () −−−→ p para todo  ∈ X.

4
A prova deste resultado faz parte da lista de exercícios. Esta é a
ferramenta principal nas provas dos: Teoremas da Função Inversa e
Implícita (em R m ou em espaços mais gerais); Teorema de Existên-
cia e Unicidade de Soluções para Equações Diferenciais Ordinárias e
muitos outros resultados fundamentais.

2 Dimensão (In)Finita
Dimensao finita versus infinita

2.1 Propriedades
Dimensão infinita versus finita

1. Todas as normas em espaços vetoriais de dimensão finita são


equivalentes e todos estes espaços são Banach. Veremos que
isto não é verdade em dimensão infinita.
2. Veremos que o fecho B̄(0, 1) = { ∈ E : ∥∥ ≤ 1} da bola B(0, 1) =
{ ∈ E : ∥∥ < 1} é compacto se, e só se, E tem dimensão finita.
3. Todo operador linear L : E → E dum espaço normado nele mesmo
é contínua se, e só se, E tem dimensão finita.
4. Em espaços normados de dimensão infinita há subespaços ve-
toriais densos próprios (é possível que dois destes subespaços
se intersectem apenas no vetor nulo) e aplicações lineares de-
finidas nesses subespaços que não admitem extensões lineares
ao espaço inteiro.

Equivalência de normas
Dadas duas normas [·] e | · | no espaço vetorial E, dizemos que
elas são equivalentes se existem constantes 0 < c1 ≤ c2 tais que

c1 || ≤ [] ≤ c2 ||, para todo  ∈ E.

É claro que esta é uma relação de equivalência na família das normas


de um dado espaço vetorial.
Se [·] e |·| são normas equivalentes em E, então (E, [·]) e (E, |·|)
como espaços métricos têm a mesma topologia (têm os mesmos
subconjuntos abertos) e também têm as mesmas sequências
de Cauchy e, portanto, as mesmas sequências convergentes, e com
os mesmos limites, seja com respeito a [·], seja com respeito a | · |.
Em particular, se [·] e | · | são normas equivalentes em E, então
(E, [·]) é espaço de Banach se, e só se, (E, | · |) é espaço de Banach.

5
Vamos denotar para  = (1 , . . . , m ) ∈ Rm
1/ 2
∥∥2 = 21 + · · · + 2m

a norma euclidiana e para z = (z1 , . . . , zm ) ∈ Cm


1/ 2 1/ 2
∥z∥2 = |z1 |2 + · · · + |zm |2 = z1 z̄1 + · · · + zm z̄m
Æ
a norma euclidiana em Cm , onde || = R()2 + I()2 é o módulo
de um número (real ou) complexo  = R(e) + I() ∈ C.
É bem conhecido da Análise que (Km , ∥ · ∥2 ) é um espaço de Ba-
nach, para K = R ou C.

Prova: normas em Rm são equivalentes (1/2)


Vamos ver que toda norma [·] em Rm é equivalente à norma ∥ · ∥2 .

Primeiro notemos que toda norma [·] é uma função contínua [·] :
Rm → R na norma euclidiana. De fato [] = [ − y + y] ≤ [ − y] +
[y] =⇒ [] − [y] ≤ [ − y] e trocando os papeis de  e y obtemos
m
X m
X
|[] − [y]| ≤ [ − y] = [ ( − y )e ] ≤ | − y |[e ]
=1 =1
m
X
≤M | − y |, M = mx{[e1 ], . . . , [em ]}.
=1
€P Š1/ 2
m Pm
Mas | − y | = (| − y |2 )1/ 2 ≤ =1
| − y |2 e =1
| − y | ≤
m∥ − y∥2 , logo |[] − [y]| ≤ m2 M| − y|2 . Assim [·] é Lispchitz em
relação à norma | · |2 .

Prova: normas em Rm são equivalentes (2/2)


Agora notamos que Sm = { ∈ Rm : ||2 = 1} é compacto e [·] em
S não se anula, portanto tem mínimo positivo e máximo em Sm ,
m

digamos  ≤ [] ≤ b para todo  ∈ Sm .


Finalmente, para cada  ̸= 0 temos / ||2 ∈ Sm portanto
1 
 
≤ [] = ≤ b,  ̸= 0
||2 ||2
logo ||2 ≤ [] ≤ b||2 para  ̸= 0.
Para  = 0 as desigualdades são trivialmente verdadeiras e isto
mostra que toda norma [·] é equivalente à norma euclidiana em qual-
quer Rm .
Em particular, (Rm , [·]) é Banach para toda norma [·].

6
2.2 Normas não equivalentes
Normas não equivalentes
Consideremos o espaço vetorial das funções reais de quadrado
integrável à Riemann em [0, 1]
¨ Z1 «
R2 = ƒ : [0, 1] → R : |ƒ ()|2 d < ∞ .
0

Recordemos que a Desigualdade de Cauchy-Schwartz garante que


‚Z b
Œ2 Z b Z b
2
ƒ (t)g(t) dt ≤ |ƒ (t)| dt · |g(t)|2 dt
  

para todas as funções ƒ , g de quadrado integrável. Se tomarmos g ≡


1 e  = 0, b = 1, então
‚Z 1
Œ2 Z 1 Z 1
2
|ƒ ()| d ≤ 1 d · |ƒ ()|2 d < ∞.
0 0 0

Podemos definir duas normas para ƒ ∈ R2


‚Z 1
Œ1/ 2 Z 1
2
|ƒ |2 = |ƒ ()| d e |ƒ |1 = |ƒ ()| d.
0 0

É fácil ver que |·|1 é uma norma. Que |·|2 é uma norma é um resultado
bem conhecido de Teoria da Medida (Desigualdade de Minkowski).
Estas normas não podem ser equivalentes porque para ƒn () = αn
com αn ↘ −1/ 2 vem
1 1
|ƒn |1 = p e |ƒn |2 =
αn + 1 2αn + 1
p
|ƒn |1 2αn +1
e portanto |ƒn |2
= αn +1
↘ 0. Temos assim dois espaços normados
(R2 , | · |
1) e (R , | · |
2
2) com normas não equivalentes – mas a dimensão
não é finita.

2.3 Compacidade
Compacidade da bola unitária em espaços
normados

7
Para obter sequências sem subsequência convergente:
Lema de Riesz
Seja F subespaço vetorial fechado do espaço normado (N, ∥·∥). Então
para 0 < α < 1 existe y ∈ N \ F com ∥y∥ = 1 e inf∈F ∥y − ∥ ≥ α.
Demonstração. Seja z ∈ N \ F e c = inf∈F ∥z − ∥. Temos c > 0 porque
F é fechado. Portanto, para cada d > c existe  ∈ F com c ≤ ∥z − ∥ ≤
z−
d e o vetor y = ∥z−∥ está em N \ F e ∥y∥ = 1. Para  ∈ F vale
 + β ∈ F, β ∈ K logo

∥z − ( +  · ∥ − ∥)∥ c c
∥y − ∥ = ≥ ≥ .
∥z − ∥ ∥z − ∥ d

Ou seja, para 0 < α < 1 tomamos d = c/ α e obtemos inf∈F ∥y − ∥ ≥


α, como no enunciado.

Observação sobre a prova

1. Observe que não usamos sequências fundamentais (de Cau-


chy).
2. Se c = inf∈F ∥z − ∥ = 0, então existiria em F uma sequência n
tal que ∥z − n ∥ → 0.
Portanto, teríamos n → z e como F é fechado, então z ∈ F.
Isto contraria a suposição inicial: z ∈ N \ F.

Compacidade da bola fechada e dimensão


Teorema
A bola fechada B̄(0, 1) num espaço normado (N, ∥ · ∥) é compacta se,
e só se, dim N < ∞.

Demonstração. Se dim N < ∞ já sabemos que B̄(0, 1) é compacta.


Se dim N = ∞, seja y1 ∈ N com ∥y1 ∥ = 1. Pelo Lema de Riesz existe
y2 ∈ N com ∥y2 ∥ = 1 e ∥y1 − y2 ∥ ≥ 1/ 2 (faça α = 1/ 2 e X = K · y1 ).
Agora {y1 , y2 } é fechado pois tem dimensão finita (exercício!). No-
vamente o Lema de Riesz garante que existe y3 com ∥y3 ∥ = 1 e
∥y3 − y2 ∥ ≥ 1/ 2 e ∥y3 − y1 ∥ ≥ 1/ 2. Sucessivamente construimos
sequência (yk )k≥1 , ∥yk ∥ = 1, ∀k ≥ 1 e ∥y − yj ∥ ≥ 1/ 2, ∀ ̸= j. Logo
B̄(0, 1) não é compacta pois (yk )k≥1 não tem subsequência conver-
gente.

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3 Completamento
Isometrias/isomorfismos entre espaços
métricos/normados −− Completamento de
espaços métricos/normados

3.1 Isomorfismos
Isometrias/isomorfismos entre espaços métricos/normados
Dois espaços métricos (X, d), (Y, D) são isométricos se existe trans-
formação L : X → Y tal que L é bijetiva e D(L(), L(y)) = d(, y) para
todos , y ∈ X.
Exercicio
Todo espaço métrico isométrico a um espaço métrico completo é
também completo.
Dois espaços normados (N1 , ∥ · ∥1 ), (N2 , ∥ · ∥2 )) são isomorfos se
existe isometria linear e bijetiva : κ : N1 → N2 , ou seja:
ˆ κ( + αy) = κ() + ακ(y) para todos os , y ∈ X e todo α ∈ K;

ˆ ∥κ()∥ = ∥∥ para todo  ∈ X, e as distâncias são aquelas indu-


zidas pelas normas.

3.2 Existência e Unicidade


Existência e unicidade do completamento
Teorema (completamento de espaços métricos)
Se (X, d) é espaço métrico, então ele é isométrico a um subconjunto
denso de um espaço métrico completo (X, e d):
e este é o completa-
mento de X. Dois quaisquer completamentos de X são isométricos.
Vamos construir o completamento como a chamda “construção de
Cantor” dos números reais: cada real se identifica com as sequências
de Cauchy de números racionais que para ele convergem.
Seja X̄ família das sequências de Cauchy (n )n≥1 de elementos de
X com respeito à distância d com a relação (n )n≥1 ∼ (yn )n≥1 ⇐⇒
limn↗∞ d(n , yn ) = 0.
É fácil ver que esta é uma relação de equivalência.

9
Espaço das classes de equivalência
e = X̄/ ∼ o conjunto das classes de equivalência; pela desi-
Seja X
gualdade triangular temos que
e ̃, ỹ) := limn↗∞ d(n , yn )
d(
está bem definido para ̃, ỹ ∈ X, onde escolhemos para (n )n≥1 e
(yn )n≥1 dois quaisquer elementos das classes X̃ e ỹ, respectivamente
(exercício). Mais ainda, d
e é uma distância (exercício).

Vamos denotar por π : X̄ → Xe a aplicação canônica tal que π() é


a classe de  ∈ X̄. Definimos agora κ : X → κ(X) ⊂ X e por κ() = π(̄)
onde ̄ é a sequência constante (, , , , . . .) em X̄.
Então d(κ(),
e κ(y)) = d(, y) e temos uma isometria de X com a
imagem κ(X). Mais ainda, κ(X) é um subconjunto denso de X.
e

Densidade
De fato, para cada ỹ ∈ Xe e ϵ > 0, seja (ym )m≥1 um representante
da classe ỹ. Então d(ym , ym + k) < ϵ) para todo k ≥ 1 e para algum
m = m(ϵ) ≥ 1. Portanto, a sequência constante ȳm é um represen-
tante da classe π(ym ) e vale
e ỹ, π(ym )) = limk↗∞ d(yk , ym ) ≤ ϵ.
d(

Como ỹ ∈ X
e e ϵ > 0 são arbitrários, mostramos que κ(X) é denso em
(X,
e d).
e

Usando esta isometria, a densidade e a desigualdade tri-


angular, mostraremos que (X, d) é completo. De fato, se (ỹn )n≥1
é uma sequência de Cauchy em (X, e para cada n ≥ 1 escolhemos
e d),
e ỹn , κ(n )) < 1/ n (usando a densidade provada an-
n ∈ X tal que d(
tes).

Completude
Então, para n, m ≥ 1

d(n , m ) = d
e κ(n ), κ(m )


e κ(n ), ỹn + d e ỹn , ỹm + d


e ỹm , κ(m )
  
≤d
< 1/ n + d
e ỹn , ỹm + 1/ m.


Portanto, dado ϵ > 0, existe N > 1 tal que para m, n ≥ N vale d(n , m ) <
ϵ.
Então (n )n≥1 ∈ X̄ representa ̃ = π (n )n≥1 ∈ X

ee

e ỹn , κ(n ) + d
e κ(n ), ̃ < 1/ n + lim d(n , m ).
  
e ỹn , ̃ ≤ d
d
m→∞

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Esta expressão pode ser feita arbitrariamente pequena tomando n
d
e
suficientemente grande. Logo y˜n −−−→ ̃.
n↗∞

Unicidade
Se existe outra isometria  : (X, d) → (Z, D) com (X) denso no
espaço métrico completo (Z, D), então  ◦ κ −1 : κ(X) → (X) é uma
isometria bijetiva!
Esta isometria se estende de maneira única a uma isome-
tria entre (X, e e (Z, D). Tome, para qualquer ̃ ∈ X,
e d) e uma sequência
n ∈ X tal que κ(n ) → ̃ em (X, e que é uma sequência de Cauchy
e d),
em (X, d) e, tomando o limite z da sequência de Cauchy (n ) em
(Z, D), definimos uma aplicação ̃ ∈ X
e 7→ η(̃) = z ∈ Z.

A aplicação η está bem definida (não depende da escolha da sequên-


cia n ∈ X tal que κ(n ) → ̃) porque ambas κ,  são isometrias; é
bijetiva, pois podemos inverter a construção. Por continuidade da
função distância, η : X̃ → Z é uma isometria! Isto termina a prova do
Teorema de Completamento.

Completamento de espaços normados


Podemos especializar esta construção ao caso de espaços vetorais
normados.
Teorema (completamento de espaços normados)
Se (N, ∥ · ∥) é espaço vetorial normado, então ele é isométrico a um
subconjunto denso de um espaço de Banach (X, | · |): este é o com-
pletamento de (N, ∥ · ∥). Dois quaisquer completamentos de (N, ∥ · ∥)
são isométricos.
A prova é a mesma, com a observação adicional de X = N e é um
espaço vetorial com as operações de soma termo a termo de sequên-
cias e multiplicação por escalar de todos os termos de uma sequên-
cia, ou seja
ˆ π (n )n + π (yn )n = π (n + yn )n ; e
  

ˆ λ · π (n )n = π (λn )n , para todo λ ∈ K.


 

3.3 Exemplos
Alguns exemplos de completamentos

ˆ Os números reais (R, | · |) são o completamento dos racionais


(Q, | · |) com a norma dada pelo módulo.

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ˆ Seja p ∈ Z+ , p > 1 um número primo, e defina o valor absoluto
p-ádico nos números racionais pelas propriedades:
1. |pn |p = 1/ pn para n ≥ 1; e
2. |m/ n|p = 1 para todos os m, n ∈ Z, n ̸= 0 relativamente pri-
mos com p.
Para este valor absoluto em Q vale a desigualdade triangular
forte | + b|p ≤ mx{||p , |b|p } para todos os , b ∈ Q.
Completando (Q, | · |p ) obtemos o espaço métrico (Qp , | · |p )
dos p-ádicos.

Mostra-se que Qp é um corpo e é possível estudar Análise neste


corpo: continuidade, diferenciabilidade, funçoes analíticas com va-
lores em Qp etc.

Outros completamentos

ˆ Podemos obter (Rm , ∥ · ∥2 ) como o completamento de (Qm , ∥ · ∥2 )


onde usamos a distância euclidiana usual.
ˆ Podemos construir o integral de Lebesgue num espaço de me-
dida via a extensão de um funcional linear definido num espaço
de funções simples para seu completamento na norma do inte-
gral.

Para mais pormenores da última construção mencionada, veja por


exemplo
ˆ CASTRO, A. A. Curso de Teoria da Medida, Projeto Euclides, IMPA,
Rio de Janeiro, 2004.
Para um exemplo mais sofisticado de espaço não completo veja o
espaço de funções integráveis à Riemann no final destas notas, onde
também apresento os espaços de Lebesgue da Teoria da Medida.

Observação sobre possíveis completamentos do corpo Q dos


números racionais
Recorde que um valor absoluto  num dado corpo K é uma função
 : K → R tal que para , b ∈ K
1. () ≥ 0 e () = 0 ⇐⇒  = 0;
2. (b) = ()(b);
3. ( + b) ≤ () + (b).
Por um Teorema de Ostrowski (1916), existem apenas 3 classes de
valores absolutos em Q:

12
1. o valor absoluto trivial: em qualquer corpo podemos definir ||0 =
1 se  ̸= 0 e |0|0 = 0.
2. o valor absoluto real: || =  se  ≥ 0 e || = − se  < 0.
3. o valor absoluto p-ádico para cada número primo p.

Os completamentos de Q
Assim, os racionais podem ser completados usando um valor ab-
soluto de essencialmente três formas diferentes:
1. a trivial: neste caso d0 (, y) = | − y|0 é a métrica discreta e
sequências de Cauchy são finalmente constantes;

2. a usualmente considerada em Análise Real, levando ao corpo


dos números reais R;
3. a p-ádica, levando ao corpo Qp dos números p-ádicos, para cada
número primo p.

4 Topologia Fraca
Topologia fraca*

4.1 Topologia fraca


A topologia fraca. Espaços de Hilbert e operadores auto-
adjuntos.
Para contornar o problema posto pela não compacidade de B̄(0, 1),
redefiniremos a topologia de um espaço normado de maneira que sua
bola unitária no espaço dual seja compacta.
Isso é um dos tópicos principais deste curso, e deduziremos resul-
tados muito gerais para operadores lineares usando esta topologia.
Finalmente especializaremos os resultados nos espaços de Hilbert
(que são espaços de Banach com uma norma induzida por um pro-
duto interno) para operadores compactos e auto-adjuntos, e estuda-
remos seu espectro.

4.2 Álgebras de Banach e C∗


Álgebras de Banach e C∗

13
Álgebras Complexas sobre espaços de Banach
Havendo tempo durante o curso, faremos introdução à teoria ob-
tida quando se acrescenta aos espaços de Banach uma operação
interna de multiplicação de elementos de X (sem necessariamente
assumir comutatividade nem existência de unidade) que é associa-
tiva e distributiva em relação à adição de elementos de X e de K:

(yz) = (y)z; (y + z) = y + z; ( + y)z = z + yz

e ainda λ(y) = (λ)y = (λy) para , y, z ∈ X e λ ∈ K = R ou C. Se


K = C temos uma álgebra complexa; e se existir unidade para esta
multiplicação temos uma álgebra complexa unitária.

Álgebras de Banach
Uma álgebra de Banach é uma álgebra complexa X com norma
∥ · ∥ tal que (X, ∥ · ∥) é espaço de Banach e a norma tem boa relação
com a multiplicação:

∥y∥ ≤ ∥∥ · ∥y∥, ∀, y ∈ X.

Um exemplo é o espaço (Cm×m , ∥ · ∥) das matrizes quadradas A com


entradas complexas de dimensão m ∈ Z+ com a norma de operador
linear

∥A∥ := sp ∥A∥2 ,


∈Cm ,∥∥2 =1

Pm 1/ 2
onde ∥∥2 = ∥(1 , . . . , m )∥2 = ̄ 
=1  
é a norma euclidiana
usual em Cm . Este espaço é uma álgebra de Banach com unidade,
não comutativa se m > 1.

Álgebras de Banach e C∗
Existe também uma abstração da operação de conjugação dos
número complexos dentro de uma álgebra de Banach.
Esta teoria é muito elegante e permite classificar certas álgebras.
Objetivamos introduzir alguns conceitos e estudar a transformada
de Gelfand e o Teorema de Gelfand-Mazur: “toda álgebra de Ba-
nach unitária comutativa é isometricamente isomorfa à alge-
bra de funçòes contínuas sobre algum espaço compacto”
Em particular, se todos os elementos não nulos são invertíveis,
então essa álgebra é isomorfa a C.

14
Bibliografia: livros-texto

Bibliografia: livros-texto

Bibliografia: livros-texto

15
Lista de referências bibliográficas

ˆ César Oliveira, Introdução à Análise Funcional, IMPA, Colóquio


Brasileiro de Matemática, Rio de Janeiro, 2001.
ˆ Geraldo Botelho, Daniel Pellegrino, Eduardo Teixeira, Fundamen-
tos de Análise Funcional, SBM, Coleção Textos Universitários, Rio
de Janeiro, 2014,
ˆ Brezis, H. Analyse Functionnelle – Théorie et applications. DU-
NOD, 1999. Paris.
ˆ Conway, A Course on Functional Analysis, 2nd. ed. Springer
Verlag. New-York. 1990.
ˆ Kôsaku Yosida, Funcional Analysis. Springer-Verlag. New-York.
1995.

Exemplo de espaço não completo na


teoria da medida

Exemplo de espaço não completo


Dada uma medida m no intervalo [0, 1] o conjunto das funções m-
integráveis L1m ([ 0, 1]) é um espaço métrico completo para a métrica
Z
d(ƒ , g) = ∥ƒ − g∥1 = |ƒ − g| dm,

16
ou seja, sequências de Cauchy nesta métrica convergem para fun-
ções integráveis. (Notemos que a medida m não foi especificada:
este resultado é válido para qualquer uma!)
Mas o análogo não é verdadeiro para a integral de Riemann:R existe
família de funções integráveis à Riemann tal que d(ƒn , ƒm ) = |ƒn () −
ƒm ()| d tende a zero quando n, m → ∞, mas o limite destas funções
não é integrável à Riemann...
Como todas as funções integráveis à Riemann são integrável à
Lebesgue, e com o mesmo integral, então se tomarmos m a medida
de Lebesgue em [0, 1], o espaço

R = {ƒ : [0, 1] → R : ƒ é integrável à Riemann}

é um espaço vetorial que admite as duas normas


Z Z 1
∥ƒ ∥1 = ƒ dm (Lebesgue) e |ƒ | = ƒ () d (Riemann).
0

Tomemos {qn : n ≥ 1} uma enumeração dos racionais no intervalo


[0, 1] e as funções características ou indicadoras
¨
1 se  = qn
gn () = χqn () = , n ≥ 1,
0 caso contrário
Pn
e a sequência ƒn = k=1
gk .

Mau comportamento R da integral de Riemann


Então, é claro que ƒn () d = 0 para todo n ≥ 1, portanto |ƒn , ƒm | =
|ƒn () − ƒm ()| d = 0, mas o limite
R

¨
1 se  ∈ Q
lim ƒn () = ƒ () =
n→∞ 0 se  ∈ R \ Q

não é integrável à Riemann! Assim (R, | · |) não é Banach, e (R, ∥ · ∥1 )


também não.
Por outro lado, as normas ∥ · ∥1 e | · | coincidem em R, e temos
∥ƒn − ƒm ∥1 = |ƒn − ƒm | = 0 mas sabemos que ƒ é Lebesgue integrável
e ∥ƒn − ƒ ∥1 → 0, portanto o espaço L1m ([ 0, 1]) ⊃ R e o completamento
de (R, | · |) está contido em L1m ([0.1]).

Por densidade das funções Riemann integráveis em (L1m ([0.1]), ∥ ·


∥1 ), concluímos que este espaço é o completamento de (R, | · |).

17
5 Espaços de Lebesgue
Os espaços de Lebesgue

Os espaços de Lebesgue
Podemos mostrar que para toda medida μ num espaço de medida
(X, A, μ) se tem que
 Z 
Lp (X, μ) = ƒ : X → K : |ƒ |p dμ < ∞

(quocientado pelo subespaço vetorial das funções nulas μ-qtp.) é o


completamento do espaço normado (S(X, K), ∥ · ∥p ) onde

S(X, K) = {ƒ : X → K : ƒ é função simples A-mensurável}


1/ p
e ∥ƒ ∥p = |ƒ |p dμ para p ≥ 1 é a p-norma, com K = R ou C.
R

É usual substituir S(X, K) por diversos outros espaços densos mais


convenientes para demonstrar certas propriedades do completamento
Lp (X, μ).

5.1 L1
O espaço L e a seminorma ∥ · ∥1
Seja (X, A, μ) um espaço de medida. O conjunto
 Z 
L(X, A, μ) = L(μ) = ƒ : (X, A) → R : |ƒ | dμ < ∞

é o espaço vetorial das funções A-mensuráveis que são μ-integráveis.


A função
Z
∥ · ∥1 : L(μ) → [0, +∞], ƒ 7→ |ƒ | dμ

é uma seminorma em L(μ).


De fato, é claro que ∥ƒ + g∥1 ≤ ∥ƒ ∥1 + ∥g∥1 e ∥λƒ ∥ = |λ| · ∥ƒ ∥1 para
ƒ , g ∈ L(μ), λ ∈ R. Mas ∥ƒ ∥1 = 0 garante apenas que ƒ = 0 para μ-qtp.,
não sendo necessariamente uma função constante igual a zero.

18
O espaço L1
Para obtermos uma norma, vamos dizer que ƒ , g ∈ L(μ) são equi-
valentes se μ([ƒ ̸= g]) = 0, isto é, se ƒ , g são igual em μ-qtp.. Deno-
tamos por [ƒ ] a classe de equivalência de ƒ por esta relação.
O espaço de Lebesgue L1 (μ) = L1 (X, A, μ) é o conjunto de
todas as classes de equivalência [ƒ ] de elementos de L(μ).
Definimos ∥[ƒ ]∥1 por ∥ƒ ∥1 e obtemos que o espaço (L1 (μ), ∥ · ∥1 )
é um espaço normado.
De fato, as operações no espaço vetorial são [λƒ ] = λ[ƒ ] e [ƒ +
g] = [ƒ ] + [g] para λ ∈ R, ƒ , g ∈ L(μ), com vetor nulo [0]. Portanto a
desigualdade triangular e a homogeneidade seguem como antes.
Mas agora ∥[ƒ ]∥1 = 0 =⇒ ƒ = 0 , μ−qtp., logo [ƒ ] = [0].

O espaço L1 e as classes de equivalência


Nunca devemos esquecer que os elementos de L1 são real-
mente classes de equivalência!

Porém, é usual tratar os elementos de L1 como se fossem funções


e escrever “o elemento ƒ de L1 ” para designar a classe de equivalên-
cia de ƒ , quer para simplificar a notação, quer a linguagem.

5.2 Lp
Os espaços Lp
Analogamente ao caso L1 (μ), para 1 ≤ p < ∞ escrevemos
 Z 
Lp (μ) = Lp (X, A, μ) = ƒ : (X, A) → R, |ƒ |p dμ < ∞ / ∼

o espaço das classes de equivalência de funções A-mensuráveis e


p-integráveis, em que duas funções são equivalentes se coincidem
μ-qtp.. Neste conjunto definimos
Z 1/ p
p
∥ƒ ∥p = |ƒ | dμ .

Claro que se p = 1 voltamos ao caso anterior. Veremos que Lp (μ)


é espaço vetorial, que ∥ · ∥p é uma norma, e que (Lp (μ), ∥ · ∥p ) é
completo, ou seja, um espaço de Banach para todo 1 ≤ p < ∞.

19
Os espaços ℓp
No caso particular X = N e μ = # medida de contagem, escreve-
mos ℓp para os correspondentes espaços que podem ser identificados
com
( )
X
ℓp = (n )n≥1 ⊂ R : |n |p < ∞
n≥1

com a norma ∥(n )n≥1 ∥p = p 1/ p .


P 
n≥1 |n |

É fácil ver que as classes de equivalência contêm apenas


um elemento, já que o único subconjunto com medida de con-
tagem nula é o vazio.
É muitas vezes instrutivo considerar propriedades e afirmações
em espaços Lp no caso particular de ℓp para ganhar intuição.

5.3 Desigualdades
Desigualdades de Hölder e Minkowski

Desigualdade de Hölder
Lema (Desigualdade de Hölder)
Sejam ƒ ∈ Lp (μ), g ∈ Lq (μ) com p > 1 e p−1 + q−1 = 1. Então ƒ g ∈ L1 (μ)
e ∥ƒ g∥1 ≤ ∥ƒ ∥p ∥g∥q .
Os índices p, q como acima dizem-se “conjugados”.
Para provar, seja 0 < α < 1 fixado e φ(t) = αt − t α . Então φ′ (t) < 0
para 0 < t < 1 e φ′ (t) > 0 para t > 1. Portanto φ(t) ≥ φ(1) e φ(t) =
φ(1) = α − 1 se, e só se, t = 1. Portanto temos

t α ≤ αt + (1 − α), t ≥ 0.

Se , b > 0, fazemos t = / b e multiplicamos por b, vem

α b1−α ≤ α + (1 − α)b

com igualdade se, e só se,  = b.

Prova da desigualdade de Hölder


Agora sejam 1 < p < ∞ e p−1 + q−1 = 1 e α = p−1 . Então segue
que para todos os A = 1/ p , B = b1/ q reais positivos

Ap Bq
AB ≤ +
p q

20
com igualdade se, e só se,  = Ap = Bq = b.
Tomemos agora ƒ ∈ Lp (μ), g ∈ Lq (μ) tais que ∥ƒ ∥p ̸= 0 e ∥g∥q ̸= 0.
O produto ƒ g é mensurável e a relação acima com A = |ƒ ()|/ ∥ƒ ∥p e
B = |g()|/ ∥g∥q garante que

ƒ ()g() |ƒ ()|p |g()|q


≤ p + q .
∥ƒ ∥p ∥g∥q p∥ƒ ∥p q∥g∥q

Como os dois termos da direita são integráveis, então ƒ g é


integrável.

Final da prova da desigualdade de Hölder


Integrando ambos os termos, obtemos

∥ƒ g∥1 |ƒ ()|p |g()|q 1 1


Z Z
≤ p dμ() + q dμ() = + =1
∥ƒ ∥p ∥g∥q p∥ƒ ∥p q∥g∥q p q

que é a desigualdade que queremos, para funções não nulas.


Se uma das funções for nula, a desigualdade é trivial.
Isto conclui a prova da desigualdade de Hölder.
Notemos que p = 2 é o único índice cujo conjugado q = 2
é o mesmo, portanto o produto de duas funções em L2 (μ) é
integrável.

Desigualdades de Cauchy-Bunyakovskii-Schwarz e Minkowski

Corolário (desigualdade de Cauchy-Schwarz)


Se ƒ , g ∈ L2 (μ), então ƒ g ∈ L1 (μ) e
R R
ƒ g ≤ |ƒ g| ≤ ∥ƒ ∥2 ∥g∥2 .
Segue agora a desigualdade triangular:
Lema (desigualdade de Minkowski)
Se ƒ , h ∈ Lp (μ), p ≥ 1, então ƒ + h ∈ Lp (μ) e ∥ƒ + h∥p ≤ ∥ƒ ∥p + ∥h∥p .
O caso p = 1 já foi feito. Para p > 1, ƒ + h é mensurável e

|ƒ + h|p ≤ (2 mx{|ƒ |, |h|})p ≤ 2p (|ƒ |p + |h|p ),

portanto ƒ + h ∈ Lp (μ).

21
Prova da desigualdade de Minkowski
Além disto, também vale
|ƒ + h|p = |ƒ + h| · |ƒ + h|p−1 ≤ |ƒ | · |ƒ + h|p−1 + |h| · |ƒ + h|p−1 .

Como |ƒ + h| ∈ Lp e |ƒ + h|p ∈ L1 e p = (p − 1)q, então |ƒ + h|p−1 ∈ Lq .


Aplicando a desigualdade de Hölder
Z Z 1/ q
|ƒ | · |ƒ + h|p−1 dμ ≤ ∥ƒ ∥p |ƒ + h|(p−1)q = ∥ƒ ∥p ∥ƒ + h∥p/
p
q

e analogamente com h no lugar de ƒ . Portanto, integrando a primeira


p
desigualdade, ∥ƒ + h∥p é majorada por

∥ƒ ∥p ∥ƒ + h∥p/
p
q
+ ∥h∥p ∥ƒ + h∥p/
p
q
= (∥ƒ ∥p + ∥h∥p )∥ƒ + h∥p/
p
q
.

Final da prova da Desigualdade de Minkowski


Se ∥ƒ + h∥p ̸= 0, então deduzimos

∥ƒ + h∥p−p/
p
q
≤ ∥ƒ ∥p + ∥h∥p e p − p/ q = 1

logo, obtemos a Desigualdade de Minkowski


∥ƒ + h∥p ≤ ∥ƒ ∥p + ∥h∥p .
Se ∥ƒ + h∥p = 0, então a Desigualdade de Minkowski é trivial. Isto
conclui a prova desta desigualdade.

A desigualdade de Minkowski garante a desigualdade tri-


angular para a função ∥ · ∥p e que a soma de funções em
Lp (μ) se mantém no espaço. As restantes propriedades de
um espaço vetorial e de norma são fáceis de verificar. Então
(Lp (μ), ∥ · ∥p ) é um espaço vetorial normado.

5.4 Completude
Completude dos espaços Lp

Teorema de Riesz-Fischer
Teorema (completude de (Lp , ∥ · ∥p ))
Se 1 ≤ p < ∞, então (Lp (μ), ∥ · ∥p ) é espaço normado completo.
Seja (ƒn )n sequência Lp -Cauchy: para todo ϵ > 0 existe Mϵ tal que
para n, m ≥ Mϵ se tem
Z
|ƒn − ƒm |p dμ = ∥ƒn − ƒm ∥pp < ϵp .

22
Podemos achar subsequência gk de ƒn tal que ∥gk+1 − gk ∥p <
2−k , k ≥ 1 e definir g mensurável por
X
g() = |g1 ()| + |gk+1 () − gk ()|.
k≥1

Prova do teorema de completude


O Lema de Fatou implica que
Z Z ‚ n
Œp
X
p
|g| dμ ≤ lim inf |g1 | + |gk+1 − gk | dμ.
n→+∞
k=1

Tomando a p-ésima raiz e aplicando a desigualdade de Minkowski,


vem
n
‚ Œ
X
∥g∥p ≤ lim inf ∥g1 ∥p + ∥gk+1 − gk ∥p ≤ ∥g1 ∥p + 1
n→∞
k=1

e g é finita μ-qtp., logo a série converge μ-qtp. e g está em Lp (μ).

Conclusão da prova da completude


Definimos ƒ () = g1 () + k≥1 gk+1 () − gk () quando a soma é
P

finita e 0 quando a soma não está definida. Para cada n ≥ 1 temos


Pn−1
g1 + k=1 (gk+1 − gk ) = gn e |gn | ≤ g e ainda gn → ƒ para μ-qtp..
Portanto, pelo Teorema da Convergência Dominada, concluimos
que |ƒ | = lim |gn | ∈ Lp . Como temos |ƒ | ≤ g e |gn | ≤ g, então |ƒ − gn |p ≤
2p gp e, outra vez pela convergência dominada, obtemos lim ∥ƒ −
gn ∥p = 0 e concluímos que gn converge para ƒ em Lp .
Mas, se uma subsequência gk de uma sequência de Cauchy ƒn
converge para ƒ , então a sequência ƒn converge para ƒ também. Isto
completa a prova.
Provamos que (Lp (μ), ∥ · ∥p ) é espaço de Banach para 1 ≤ p <
∞.

Consequência da prova de completude


No meio da prova obtivemos o resultado seguinte que vale a pena
guardar:
Teorema (“escólio” do teorema anterior)
Se 1 ≤ p < ∞ e ƒn é uma sequência de Cauchy em Lp (μ) com limite
ƒ , então existe subsequência que converge em μ-qtp. para ƒ .
Na prova do teorema, a subsequência é dada pela sequência gn .

23
Esta propriedade é muito útil em certos argumentos de conver-
gência.
Outra propriedade muito útil é a possibilidade de aproximar fun-
ções em Lp por funções mais regulares.

Densidade de funções simples nos espaços Lp


Teorema (densidade de funções simples)
Seja S a família de todas as funções simples s tais que μ([ s ̸= 0]) <
∞. Se 1 ≤ p < ∞, então S é denso em (Lp (μ), ∥ · ∥p ).
Como cada s ∈ S é simples, então tem número finito de valores
e portanto s ∈ Lp (μ). Para cada ƒ ∈ Lp (μ), ƒ ≥ 0 seja sn sequência
de funções simples tais que 0 ≤ sn ≤ ƒ e sn → ƒ em μ-qtp.. Temos
|ƒ − sn |p ≤ ƒ p e o Teorema da Convergência Dominada garante
Z Z
lim |ƒ − sn |p dμ = lim |ƒ − sn |p dμ = 0.
n→∞ n→∞

p Pk p
Ou seja, ∥ƒ − sn ∥p → 0 e cada sn ∈ S porque ∥sn ∥p = =1  μ([sn =
 ]) < ∞ implica que μ([sn =  ]) < ∞ para  ̸= 0, logo μ([sn ̸= 0]) <
∞.

Aproximação de funções por funções simples


Para ƒ ∈ Lp (μ) em geral, temos ƒ = ƒ + − ƒ − e podemos aproxi-
mar ƒ + por s+
n
e ƒ − por s−
n
como acabamos de fazer.
Logo, se sn = s+
n
− s−
n
temos que sn ∈ S e ∥ƒ − sn ∥p ≤ ∥ƒ + − s+ ∥ +
n p
∥ƒ −− sn ∥p → 0 quando n → +∞.

Assim, S é denso em (Lp (μ), ∥ · ∥p ).


Se μ é obtida por extensão de uma medida num semianel
S0 , então as funções simples obtidas via funções caracterís-
ticas de elementos de S0 também são densas: recordemos que
para cada A ∈ A tal que μ(A) < ∞ e ϵ > 0 existe D ∈ A0 tal que
μ(A△D0 ) < ϵ.

Aproximação por funções simples num semianel


Pk
Se s = =1  1A é uma função simples dada pelo Teorema, seja
ϵ > 0 e tomemos D ∈ S0 tais que μ(A △D ) < ϵ(k mx{| |p })−1 ,  =
1, . . . , k.

24
Então
k
X k
X Z
∥s −  1D ∥pp ≤ | | p
|1A − 1D |p dμ
=1 =1
k
X
p
≤ k mx{| | } μ(A △D ) < ϵ.
=1

Assim, podemos aproximar todas as funções simples em S


por funções simples em S0 e, como as funções simples de S
são densas em Lp (μ), então as funções simples em S0 também
são densas na mesma norma ∥ · ∥p .

Os espaços L∞ (μ) e o supremo essencial


O conjunto L∞ (μ) = L∞ (X, A, μ) é formado pelas classes de equiva-
lência de funções que são “essencialmente limitadas”, ou limitadas
μ-qtp., e duas funções são iguais se coincidem μ-qtp..
Para uma função g : X → [0, +∞] A-mensurável, defina

Sg = {α ∈ R : μ([g > α]) = μ(g−1 ((α, +∞]) = 0}.

e faça ess sp g = inf Sg (lembre que inf ∅ = +∞), o supremo es-
sencial de g.
Notemos que, por definição, se β = ess sp g, para cada n > 1
temos que μ([g > β + 1/ n]) = 0 e como [g > β] = ∪n [g > β + 1/ n],
então μ([g > β]) = 0, e β ∈ Sg .

Definição de L∞ (μ)
Podemos agora definir, para cada função ƒ : X → [−∞, +∞] A-
mensurável

∥ƒ ∥∞ = ess sp(|ƒ |)

(note que esta definição também faz sentido para ƒ : X → C) e

L∞ (μ) = L∞ (X, A, μ) = {ƒ : X → [−∞, +∞] : ∥ƒ ∥∞ < ∞}.

Vamos ver que ∥ · ∥∞ é uma norma que torna L∞ (μ) um es-


paço de Banach.

(L∞ (μ), ∥ · ∥∞ ) é Banach


Lema
O espaço (L∞ (μ), ∥ · ∥∞ ) é um espaço vetorial normado completo.
De fato, ∥0∥∞ = 0, ∥αƒ ∥∞ = |α| · ∥ƒ ∥∞ para α ∈ R, ƒ ∈ L∞ (μ).

25
Se ∥ƒ ∥∞ = 0, então temos que 0 ∈ Sƒ , ou seja, μ([|ƒ | > 0]) = 0
e portanto ƒ = 0, μ-qtp..
Se ƒ , g ∈ L∞ (μ) então existem conjuntos N1 , N2 ∈ A com μ(N1 ) =
μ(N2 ) = 0 onde

|ƒ ()| ≤ ∥ƒ ∥∞ , ∀ ∈ X \ N1 e |g()| ≤ ∥g∥∞ , ∀ ∈ X \ N2 .

Portanto |(ƒ + g)()| ≤ ∥ƒ ∥∞ + ∥g∥∞ para  ∈ X \ (N1 ∪ N2 ), e segue que


∥ƒ + g∥∞ ≤ ∥ƒ ∥∞ + ∥g∥∞ , e que L∞ (μ) é um espaço vetorial e ∥ · ∥∞ é
uma norma em L∞ (μ).

A completude de (L∞ (μ), ∥ · ∥∞ )


Seja ƒn sequência de Cauchy em (L∞ (μ), ∥ · ∥∞ ) e N ∈ A tal que em
∈X\N

ˆ |ƒn ()| ≤ ∥ƒn ∥∞ para todo n ≥ 1, e ainda

ˆ |ƒn () − ƒm ()|∞ ≤ ∥ƒn − ƒm ∥∞ para todos n, m ≥ 1

(podemos obter N unindo todos os conjuntos de medida nula onde


não valem estas propriedades para cada n ≥ 1).
Então em X \ N a sequência ƒn é uniformemente convergente! Po-
demos então definir

ƒ () = lim ƒn (),  ∈ X \ N, e ƒ () = 0,  ∈ N


n→∞

que é A-mensurável.

Prova da completude de (L∞ (μ), ∥ · ∥∞ )


Finalmente, notemos que cada ϵ > 0 existe n0 > 1 tal que ∥ƒn −
ƒm ∥∞ < ϵ para n, m ≥ n0 , portanto para  ∈ X \ N e n ≥ n0

|ƒn () − ƒ ()| = lim |ƒn () − ƒm ()|


m→∞
≤ lim ∥ƒn − ƒm ∥∞ ≤ ϵ.
m→∞

Ou seja, como μ(N) = 0, temos para n ≥ n0 e todo  ∈ X \ N que

ˆ |ƒn () − ƒ ()| ≤ ϵ, e portanto |ƒ ()| ≤ ∥ƒn ∥∞ + ϵ em μ-qtp., o que


mostra que ƒ ∈ L∞ (μ).
ˆ ∥ƒn − ƒ ∥∞ ≤ ϵ, com ϵ > 0 arbitrário, o que mostra que ∥ƒn − ƒ ∥∞ →
0.

26
Aproximação por funções simples em L∞ (μ)
Se μ(X) = ∞, a função constante 1 em X não pode ser aproxi-
mada por elementos de S = {s : X → R : s é simples e μ([s ̸= 0]) <
∞}.
De fato, se μ([s ̸= 0]) < ∞, então μ([ s = 1]) ≤ μ([s ̸= 0]) < ∞;
portanto μ([ s ̸= 1]) = +∞ pois μ(X) = μ([ s ̸= 1] + [s = 1]).
Como μ([s ̸= 1]) = μ([ s = 0] + [s ̸= 1] ∩ [s ̸= 0]) e μ([s ̸= 0]) < ∞,
então μ([s = 0]) = +∞.
Portanto, μ([|1 − s| > ϵ]) ≥ μ([s < 1 − ϵ]) = +∞ para todo ϵ > 0
pequeno: basta ϵ < 1 (por exemplo, ϵ = 1/ 2).
Assim ∥ƒ − s∥∞ ≥ 1/ 2 para qualquer s ∈ S e só podemos ter
aproximação por funções simples com pré-imagens de me-
dida finita se μ(X) < ∞.

Aproximação em L∞ (μ) com μ(X) < ∞


Caso μ(X) < ∞, então ƒ ∈ L∞ (μ) é tal que ƒ = ƒ + − ƒ − com ƒ ± fun-
ções essencialmente limitadas, ou seja, a menos de modificar estas
funções em conjuntos de medida nula, podemos assumir que ƒ ± são
limitadas.
Então podemos escrever ƒ ± = ≥1 ±
P
 1A com convergência uni-
±

forme: para cada ϵ > 0 existe n0 t.q.


n
X
n > n0 =⇒ ƒ ± () − ± 1 ± () < ϵ, ∀ ∈ X,
 A 
=1

pelo que já vimos durante a construção do integral.


Pn
Portanto ∥ƒ ± − =1 ±
 1A ∥∞ < ϵ para n ≥ n0 . Como ϵ > 0 é arbi-
±

trário, usando a desigualdade triangular obtemos aproximação de ƒ
por funções simples em S.

ℓ∞ não é separável
O espaço de sequências limitadas

ℓ∞ = {(n ) ⊂ R(ou C) : sp |n | < ∞}


n≥1

é um espaço de Banach com μ = # a medida de contagem e a norma


∥(n )n≥1 ∥∞ = spn≥1 |n | (consequência do teorema geral que aca-
bamos de provar).
Este espaço não admite subconjunto enumerável denso.
De fato, seja o conjunto  de todas as sequências (n )n≥1 com
valores em {0, 1}. É claro que duas sequências distintas (n )n≥1 e

27
(yn )n≥1 em  diferem em alguma coordenada e portanto ∥(n )n≥1 −
(yn )n≥1 ∥∞ = 1. Além disso, considerando as expansões binárias dos
reais em [0, 1] vemos que existe injeção [0, 1] → .

Conjunto não enumerável que não é denso


Assim  não é enumerável e dois elementos dele estão sempre
afastados à distância 1.
Então podemos tomar família não enumerável de vizinhanças dis-
juntas duas a duas V((n )n≥1 ) = {(zn )n≥1 ∈ ℓ∞ : ∥(zn )n≥1 −(n )n≥1 ∥∞ ≤
1/ 2} centradas em cada elemento de .
Portanto, se D for um subconjunto denso de (ℓ∞ , ∥ · ∥∞ ), então D
tem que conter pelo menos um ponto em cada uma das vizinhan-
ças construídas, ou seja, tem que conter pelo menos tantos pontos
quanto , e assim D tem que ser não enumerável!

5.5 Dualidade
Dualidade entre os espaços Lp

Dualidade entre os espaços Lp


O espaço dual de um espaço de Banach (X, ∥ · ∥), conhecido como
“dual topológico”, é o espaço vetorial de todas as transformações
lineares contínuas (ou limitadas) L : (X, ∥ · ∥) → R, também chamadas
de “funcionais (lineares)”.
Dizemos que uma transformação linear L entre espaços normados
(X, ∥ · ∥) e (Y, | · |) é limitada (ou contínua) se a norma de operador

∥L∥ = sp |L()|


∈X,∥∥≤1

é finita. Portanto o dual X ∗ de (X, ∥ · ∥) é dado por X ∗ = {L ∈ L(X, R) :


∥L∥ < ∞}.
Veremos que se 1 ≤ p < ∞ e p−1 + q−1 = 1, então o dual de
Lp (μ)
é Lq (μ).

Funcional Lp (μ) → R
Para g ∈ Lq (μ) seja Fg : Lp (μ) → R dado por ƒ 7→ ƒ · g dμ. Esta é
R

uma função bem definida porque pela Desigualdade de Hölder (para


1 ≤ p ≤ ∞ e p−1 + q−1 = 1 e q = 1 se p = ∞)
Z Z
ƒ · g dμ ≤ |ƒ · g| dμ ≤ ∥ƒ ∥p · ∥g∥q < ∞

28
e também Fg (ƒ ) não depende do representante escolhido para as
classes de ƒ e g.
Da Desigualdade de Hölder segue também que |Fg (ƒ )| ≤ ∥g∥q ·∥ƒ ∥p ,
portanto ∥Fg ∥ ≤ ∥g∥q < ∞ e assim Fg ∈ Lp (μ)∗ , ou seja, Fg é um
funcional linear contínuo.
Se μ é σ-finita, mostraremos que Lq (μ) é isomorfo a Lp (μ)∗ ;
veremos que todo funcional em Lp (μ)∗ tem a forma Fg para
alguma g ∈ Lq (μ).

Suficiência das funções características


Lema
Sejam ϕ1 , ϕ2 : Lp (μ) → E aplicações lineares contínuas num espaço
vetorial normado tais que ϕ1 (1A ) = ϕ2 (1A ) para todo A ∈ A. Então
ϕ1 = ϕ2 .
De fato, basta usar que as funções simples são densas em (Lp (μ), ∥·
∥p ) e que ϕ1 , ϕ2 são lineares e contínuos: se ƒ = limn sn com sn com-
binações lineares finitas de funções características de conjuntos de
A, então por continuidade e linearidade

ϕ1 (ƒ ) = lim ϕ1 (sn ) = lim ϕ2 (sn ) = ϕ2 (ƒ ).


n n

Se μ é obtida por extensão de uma medida num semianel S0 ,


então podemos restringir A ∈ S0 no enunciado do lema.

Teorema de Dualidade
Teorema (de dualidade)
Seja (X, A, μ) espaço de medida σ-finito e F : Lq (μ) → Lp (μ)∗ dada por
g 7→ Fg : Lp (μ) → R com p−1 + q−1 = 1. Então

ˆ para 1 ≤ p ≤ ∞, F é isometria linear sobre a imagem (isto é,


∥F(g)∥ = ∥Fg ∥ = ∥g∥q , g ∈ Lq (μ)) e, em particular, injetiva.
ˆ para 1 ≤ p < ∞, então F é sobrejetiva.

É claro que F é linear pela linearidade do integral. Já sabemos que


∥F(g)∥ = ∥Fg ∥ ≤ ∥g∥q mas, para Y = [0 ≤ |g| < ∞] e 1 < p < ∞,
p
definimos ƒ = |g|q/ p 1Y e obtemos |ƒ |p = |g|q em μ-qtp., logo ∥ƒ ∥p =
q q/ p+1 q/ p
∥g∥q e Fg (ƒ ) = ƒ · g = |g|q/ p+1 = |g|q = ∥g∥q = ∥g∥q ∥g∥q ...
R R R

29
Isometria
q/ p p
Mas ∥g∥q = (∥ƒ ∥p )1/ p = ∥ƒ ∥p , ou seja Fg (ƒ ) = ∥ƒ ∥p ∥g∥q , o que
mostra que ∥Fg ∥ ≥ ∥g∥q . Concluímos ∥F(g)∥ = ∥Fg ∥ = ∥g∥q .
g
Para p = ∞, q = 1 definimos ƒ = |g| 1Y e |ƒ | ≤ 1, μ-qtp., logo ƒ ∈
L (μ) (notemos que μ(X \ Y) = 0 para g ̸= 0 porque g ∈ Lq (μ) e

portanto |g|q é integrável).


Caso g = 0 segue trivialmente que Fg = 0 e assim ∥F(g)∥ = ∥g∥.
Se g ̸= 0, então ∥ƒ ∥∞ = 1 e ƒ · g = |g|, μ-qtp., portanto
Z Z
Fg (ƒ ) = ƒ ·g= |g| = ∥g∥1 = ∥g∥1 ∥ƒ ∥∞

implicando que ∥F(g)∥ = ∥g∥1 .

O caso p = 1 e q = ∞
Tomemos 0 ≤ c < ∥g∥∞ e Z = [c < |g| < ∞]. Então μ(Z) > 0 e
podemos escrever Z = ∪n Zn com μ(Zn ) < ∞, n ≥ 1 pela σ-finitude.
g
Seja n fixado tal que μ(Zn ) > 0 e ƒ = |g| 1Zn . Então |ƒ | = 1Zn ∈ L1 (μ) e
Z Z Z
ƒ ·g= |g| ≥ cμ(Zn ) = c |ƒ | = c∥ƒ ∥1
Zn

Isto é, |Fg (ƒ / ∥ƒ ∥1 )| ≥ c para todo 0 ≤ c < ∥g∥∞ ; ou seja ∥Fg ∥ ≥ ∥g∥∞ .


Como a desigualdade inversa é trivial, obtemos ∥Fg ∥ = ∥g∥∞ .
Isto conclui a prova de que F : Lq (μ) → Lp (μ)∗ é isometria
com sua imagem.

A sobrejetividade de F
Primeiro supomos que μ(X) < ∞ e tomamos φ ∈ Lp (μ)∗ e olhamos
para ν(A) = φ(1A ), A ∈ A.
ν é uma medida (com sinal) finita. É fácil P ver que ν(∅) =
φ(1∅ ) = φ(0) = 0. Para a σ-aditividade, para A = n An , A, An ∈ A
vem, por linearidade de φ:
N
X X N
X
A= A + A =⇒ ν(A) = ν(An ) + φ(1P>N A ).
=1 >N =1

Mas BN = >N A é tal que 1BN ↘ 0 para todo ponto e μ(X) < ∞, logo
P

1BN → 0 em Lp (μ) (Teorema da Convergência Dominada). Portanto,


como φ é funcional contínuo segue que φ(1Bn ) → 0 e assim
N
X ∞
X
ν(A) = ν(An ) + φ(1P>N A ) −−−→ ν(An ).
N→∞
=1 =1

30
ν medida finita e absolutamente contínua
A medida ν é finita pois para cada A ∈ A temos |ν(A)| = |φ(1A )| ≤
∥φ∥ · ∥1A ∥p = ∥φ∥ · μ(A)1/ p ≤ ∥φ∥ · μ(X)1/ p < ∞.
Além disto, se μ(A) = 0 então 1A = 0, μ-qtp. e portanto 1A = 0 em
Lp (μ). Logo φ(1A ) = 0 = ν(A). Ou seja, ν ≪ μ.

R de Radon-Nikodym, existe g ∈ L (μ) tal que


PeloR Teorema 1

ν(A) = A g dμ = g1A dμ = φ(1A ), A ∈ A.

Notemos que g ∈ L1 (μ) mas precisamos que g ∈ Lq (μ) para que


φ(1A ) = Fg (1A ), A ∈ A e portanto φ = Fg pelo lema anterior.
Definimos então An = [|g| ≤ n] e gn = g1An ∈ L∞ (μ). Como
μ(X) < ∞, então L∞ (μ) ⊂ Lq (μ), logo gn ∈ Lq (μ).
Notemos que Fgn (1A ) = gn 1A = 1A 1An g = 1A∩An g = ν(A ∩
R R R

An )...

g está em Lq (μ)
...e também que ν(A ∩ An ) = φ(1A∩An ) = φ(1A 1An ).
Fazendo φn (ƒ ) = φ(ƒ · 1An ), ƒ ∈ Lp (μ) temos funcional φn ∈ Lp (μ)∗
com |φn (ƒ )| ≤ ∥φ∥ · ∥ƒ · 1An ∥p ≤ ∥φ∥ · ∥ƒ ∥p , ou seja, ∥φn ∥ ≤ ∥φ∥.
Do que já vimos, temos φn = Fgn nas funções características, por-
tanto vale a identidade em todas as funções de Lp (μ) e ∥gn ∥q =
∥φn ∥ ≤ ∥φ∥ para todo n ≥ 1.
Para 1 < p < ∞, como |gn | ↗ |g| o Teorema da Convergência Mo-
nótona garante que g ∈ Lq (μ) pois
Z Z
|g|q = lim |gn |q = lim ∥gn ∥qq ≤ ∥φ∥q < ∞.

Caso q = ∞ e p = 1, como An ↗ X vem que

∥g∥∞ = lim ∥g · 1An ∥∞ = lim ∥gn ∥∞ ≤ ∥φ∥ < ∞

e g ∈ L∞ (μ), o que termina a prova se μ(X) < ∞.

O caso σ-finito
Vamos assumir agora que X = ∪n Xn com μ(Xn ) < ∞ e Xn ⊂
Xn+1 , n ≥ 1.
Então cada (Xn , AXn , μn ), com μn (A) = μ(A ∩ Xn ) para A ∈ AXn , é um
espaço de medida finito. Além disso, ƒ ∈ Lp (μ) é tal que ƒn = ƒ · 1Xn ∈
Lp (μn ) e ƒn ↗ ƒ .

31
Dada φ ∈ Lp (μ)∗ temos que φn (ƒ ) = φ(ƒ ·1Xn ), ƒ ∈ Lp (μn ) é funcional
linear com ∥φn ∥ ≤ ∥φ∥ e, pelo caso anterior, existe gn ∈ Lq (μn ) tal que
φn = Fgn e ∥gn ∥q = ∥φn ∥ ≤ ∥φ∥, n ≥ 1. Temos então que
Z Z
ƒ 1Xn gn+1 = φn+1 (ƒ · 1Xn ) = φ(ƒ · 1Xn ) = φn (ƒ ) = ƒ gn

para toda ƒ ∈ Lp (μ). Logo Fgn+1 1Xn = Fgn e pela bijetividade de F no


espaço Xn de medida finita, vem gn+1 1Xn = gn . Portanto, |gn | é
sequência monótona crescente tal que ∥gn ∥q ≤ ∥φ∥.

lim gn está em Lq (μ)


Definindo g = sp gn = lim gn obtemos função mensurável tal que
(via Teorema da Convergência Monótona)
Z Z
|g|q = lim |gn |q = lim ∥gn ∥qq ≤ ∥φ∥q < ∞.

Como |ƒn −ƒ |p ≤ |ƒ |p ∈ L1 (μ), pelo Teorema da Convergência Dominada


obtemos ∥ƒn − ƒ ∥p → 0.
Usando agora a continuidade de φ, deduzimos
Z
φ(ƒ ) = φ(lim ƒn ) = lim φ(ƒn ) = lim φn (ƒ ) = lim ƒ · gn
Z Z
= lim(ƒ · gn ) = ƒ · g = Fg (ƒ ).

Portanto φ = Fg com g ∈ Lq (μ).


A prova do Teorema de Dualidade está completa.

O caso p = ∞
Obtivemos Lp (μ)∗ ≈ Lq (μ) para 1 ≤ p < ∞.

E temos L∞ (μ)∗ ⊃ L1 (μ) ou seja, mais precisamente, a aplicação


F : L1 (μ) → L∞ (μ)∗ é injetiva.

Mas esta aplicação não é em geral sobrejetiva.


Exercício
Encontrar elemento de (ℓ∞ )∗ que não é representável por F(g) qual-
quer que seja g ∈ ℓ1 .

32

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