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Ebook Da Unidade - Introdução Aos Elementos Da Narrativa
Ebook Da Unidade - Introdução Aos Elementos Da Narrativa
Teoria Literária
Aula 03
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autor
EDUARDO NASCIMENTO DE ARRUDA
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
A Autora
TALITA JORDINA RODRIGUES
Olá. Meu nome é TALITA JORDINA RODRIGUES. Sou Mestra em
Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina, e Especialista em
Cinema e Linguagem Audiovisual. Além disso já cursei duas graduações
completas: a primeira foi Comunicação Social com Habilitação em
Jornalismo e a segunda foi Letras e Literaturas de Língua Portuguesa. Sigo
sendo estudante pois estou prestes a concluir mais uma graduação, desta
vez em Filosofia. Atuei como jornalistas em redações de Rádio e Televisão
por 6 anos. Também fui produtora cultural, tendo produzido projetos
nas áreas de Literatura, Cinema e Comunicação. Já ganhei dois prêmios
literários e dirigi um documentário audiovisual chamado “Do tacho à mesa”.
Como pesquisadora, já publiquei dois livros didáticos e diversos artigos
em revistas científicas da área das Letras. Sou apaixonado pelo que faço e
adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em
suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar
seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar
você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
Iconográficos
Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo pro-
jeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de
aprendizagem toda vez que:
INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimen- de se apresentar
to de uma nova um novo conceito;
competência;
NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram
vações ou comple- que ser prioriza-
mentações para o das para você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e inda-
algo precisa ser gações lúdicas sobre
melhor explicado o tema em estudo,
ou detalhado; se forem necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e sidade de chamar a
links para aprofun- atenção sobre algo
damento do seu a ser refletido ou
conhecimento; discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma ativi- quando o desen-
dade de autoapren- volvimento de uma
dizagem for aplicada; competência for
concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Os elementos da narrativa 10
Leitor, autor, narrador 10
O personagem de ficção 20
A organização espacial e temporal 25
Teorias narrativas: Narratologia e Teoria do romance 30
Narratologia 30
A teoria do romance 34
Psicofarmacologia
Fundamentos Clínica 7
da Teoria Literária
03
UNIDADE
8 Fundamentos da Teoria Literária
INTRODUÇÃO
Contar uma história a alguém parece fácil, mas escrever um
romance nem tanto. Apesar das duas coisas terem basicamente a mesma
intenção, o exercício executado por um autor de romances ou de contos
demanda uma série de habilidades e conhecimentos. Um escritor deve
conhecer os elementos que envolvem uma narrativa e saber como
trabalhar com esses elementos. É justamente esse conjunto tão complexo
de tudo aquilo que vai formar um romance ou um conto o que vamos
tratar nesta Unidade. Essas informações te ajudarão a ser um melhor leitor
e, por que não, um melhor escritor também. Vamos conferir?
Fundamentos da Teoria Literária 9
OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar você
no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término
desta etapa de estudos:
1. Compreender o papel do leitor, autor e narrador;
2. Refletir sobre as características do personagem da narrativa;
3. Discutir questões ligadas à temporalidade e à espacialidade
da narrativa;
4. Apreender algumas questões de teorias narrativas.
Estas prestes a mergulhar fundo no universo da narrativa, essa forma
de escrita que encanta a tanta gente pelo mundo. Depois desse mergulho,
você nunca mais será o mesmo, pelo menos não será o mesmo leitor. E aí,
está preparado para essa aventura cheia de conhecimento?
10 Fundamentos da Teoria Literária
Os elementos da narrativa
INTRODUÇÃO:
Ao final desta Unidade, você terá uma visão pormenorizada
a respeito da narrativa, tendo conhecido e refletido sobre
os principais elementos que a compõem. Tais aprendizados
e reflexões ajudarão você a tornar-se um leitor muito mais
crítico e atento, capaz de desvendar camadas mais profundas
de textos em prosa. Com isso você também melhorará suas
habilidades de escrita, aprimorando as técnicas de construção
de um texto de qualquer natureza. E, é claro, você vai se
encantar ainda mais pelo universo da literatura. Vamos lá?
DEFINIÇÃO:
Autor: aquele que produz um texto, escrito ou oral, ou a
quem se deve uma obra científica ou artística.
Narrador: aquele que narra, conta ou relata.
Fonte: https://bit.ly/34DQ8Tp
Fonte: wikipedia
DEFINIÇÃO:
Foco narrativo: o ponto de vista a partir do qual uma história
é narrada.
REFLITA:
Você acha que é possível que pessoas diferentes vivam uma
mesma situação e, anos depois, quando forem contá-la para
outra pessoa, elas consigam contar exatamente a mesma
versão do fato? Será que é possível que a narrativa de
pessoas distintas coincidam acerca de um acontecimento
vivenciado ou experienciado junto? Procure fazer essa
experiência! Peça a um amigo ou amiga que conte alguma
história engraçada que vocês viveram junto. Depois reflita se
ele percebeu aspectos que você não tinha percebido, ou se
ele esqueceu de contar algum detalhe, por exemplo.
Tipos de narrador
Primeira pessoa Autodiegético: aquele que narra as próprias experiências.
Terceira Pessoa Heterodiegético: aquele que não participa da história.
Primeira e/ou Homodiegético: aquele que também é personagem,
Terceira mas não o principal.
SAIBA MAIS:
Você deve estar pensando se pode acontecer de um
autor inventar um narrador exatamente igual a ele próprio,
o autor. Se é possível que você inventasse, por exemplo,
um narrador que fosse você mesmo para narrar histórias
iguais as que você mesmo viveu. Mas é claro que pode!
Não há regra nem conceituação nenhuma que seja capaz
de diminuir as possibilidades que uma narrativa pode ter.
Esse tipo de texto em que a biografia do narrador coincide
com a biografia do autor é estudado sob o conceito de
“autoficção”.
18 Fundamentos da Teoria Literária
Era fixa a minha ideia, fixa como... Não me ocorre nada que
seja assaz fixo nesse mundo: talvez a Lua, talvez as pirâmides
do Egito, talvez a finada dieta germânica. Veja o leitor a
comparação que melhor lhe quadrar, veja-a e não esteja daí
a torcer-me o nariz, só porque ainda não chegamos à parte
narrativa destas memórias. Lá iremos. Creio que prefere a
anedota à reflexão, como os outros leitores, seus confrades,
e acho que faz muito bem. (ASSIS, 2010, p. 28-29)
O personagem de ficção
DEFINIÇÃO:
Agora que vamos começar a estudar o personagem, você
deve estar pensando: mas eu sei o que é um personagem!
Sim, é bem provável que você e a maioria dos leitores saibam
o que é um personagem. Diferentemente das noções de
autor e narrador, que costuma haver alguma confusão, a
noção de personagem parece bastante evidente. Mas,
como aqui avançaremos para dentro de estudos literários
bem específicos sobre esse tema, é bom que comecemos
do começo e que façamos as devidas considerações
iniciais. Vamos, então, primeiramente buscar uma definição
básica para a palavra “personagem”: Personagem: figura
fictícia de peça teatral, romance, conto, filme, etc.
SAIBA MAIS:
O filme Meia-noite em Paris faz esse exercício de utilizar
personagens históricos. O longa-metragem dirigido por
Woody Allen, tem um protagonista que, ao passear por
Paris, consegue voltar no tempo e encontrar alguns de seus
escritores e artistas preferidos. Entre essas personalidades
“revividas” no filme estão: Ernest Hemingway, Salvador Dalí
e Pablo Picasso.
todas essas obras ainda é a mesma, ainda é aquela inventada por Lewis
Carroll, ainda é aquela garotinha com a imaginação fértil e uma incrível
capacidade de viver aventuras.
De acordo com Proença Filho, podemos pensar o personagem a
partir de três perspectivas principais: por sua natureza, pela variedade e
pela função que desempenham. Vejamos de maneira detalhada o que
está contido em cada um desses três grupos de perspectivas para se
observar um personagem:
Tabela 2 - Proença Filho: categorias para se pensar em um personagem.
DEFINIÇÃO:
Personagens planos: aqueles que apresentam caracte-
rísticas superficiais, comuns, sem profundidade;
Personagens redondos: aqueles que têm como caracte-
rísticas principais a complexidade e a multiplicidade.
Fundamentos da Teoria Literária 23
SAIBA MAIS:
Um grande exemplo de personagem redondo foi criado
pelo escritor francês Gustave Flaubert. Ele escreveu um
livro chamado Madame Bovary, que conta a história da
personagem Emma, uma jovem de boa educação que,
como todas as moças da época, precisa se casar, cuidar
da casa, ter filhos etc. Ela se casa com Charles Bovary,
tornando-se assim a Senhora Emma Bovary. Porém, aos
poucos a vida de casada vai se tornando muito entediante
para Emma. Ela procura por aventuras e, então, começa
a trair o marido, mantendo relações com outros homens.
Muitas situações inusitadas acontecem durante no
desenrolar do enredo, mas o fato é que o perfil psicológico
da personagem Emma é tão bem construído que ela de
fato parece que existe. Tanto é que o autor Gustave Flaubert
chegou a ser levado para o tribunal onde foi forçado a dizer
quem era, afinal, a pessoa que teria inspirado a personagem
do livro. O escritor proferiu, então, a famosa frase: Emma
Bovary c’est moi, que significa “Emma Bovary sou eu”, numa
referência à sua capacidade de criar. O romance Madame
Bovary é muito divertido, vale a pena você ler!
VOCÊ SABIA?
Há no interior do romance Vidas secas um capítulo que
narra a morte da cachorra Baleia. Essa é uma das cenas
mais clássicas das literatura brasileira, mas o que pouca
gente sabe é que a cena foi escrita bem antes de Graciliano
conceber o romance Vidas secas. A cena da morte da
Baleia era, na verdade, um conto. Esse conto está na lista
dos melhores da histórias da literatura brasileira. E foi o
sucesso dele que fez com que Graciliano pensasse em
escrever toda a história de Vidas secas.
de uma figura importante sob certo aspecto. Há dois perfis que ficaram
extremamente famosos: um se chama O duque em seu domínio, foi
escrito por Truman Capote e revelou a todos uma face surpreendente
do então astro hollywoodiano Marlon Brando; o outro se chama Frank
Sinatra está resfriado e foi escrito pelo famoso jornalista Gay Talese.
DEFINIÇÃO:
Narrar: expor, oralmente ou por escrito, as particularidades
de um fato, um evento ou uma sequência de ações; relatar
algo.
Descrever: fazer a descrição de algo; contar pormeno-
rizadamente; traçar características que fazem parte de
determinado objeto.
Fonte: freepik
Fonte: CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo: Folha de São Paulo, 2003.
os espaço, qual o tempo que ele dispensa para cada ação etc. Depois
assista ao filme e faça uma comparação desses quesitos. No cinema,
assim como na literatura, há formas específicas de se articular tempo
e espaço. Se você fizer um exercício como esse, perceberá um pouco
mais da articulação que os escritores e os diretos costumam fazer.
Espero que goste!
O tempo no interior da narrativa é um elemento que pode ser
trabalhado pelo autor de diversas maneiras para que ele alcance o
efeito desejado. O pesquisador Gerárd Genette foi um dos que estudou
e classificou essas possibilidades de maneira bastante detalhada.
Segundo ele, as formas de se trabalhar o tempo na narrativa podem
estar ligadas à ordem ou à duração. Dessas duas categorias é que
surgem as estratégias temporais da narrativa.
Tabela 3 - Classificação feita por Gerárd Genette
Temporalidade da narrativa
Analepses (passado)
Ordem
Prolepses (futuro)
Isocronia (cena)
Duração
Anisocronia (pausa, sumário ou elipse)
VOCÊ SABIA?
Um das obras mais importantes da história da literatura, o
romance Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust,
foi escrita quase inteiramente com o recurso da analepse.
Como se não bastasse isso, o romance é gigante e foi
dividido em sete volumes que são considerado quase um
tratado sobre a memória e sobre a arte de pensar sobre
o passado. De maneira bem resumida, o personagem
principal, em um dia aleatório, come um doce e isso o faz
recordar de sua infância. A partir daí, ele faz uma longa
revisão de suas memórias.
Fonte: wikipedia
30 Fundamentos da Teoria Literária
Narratologia
A narratologia surgiu mais ou menos entre 1920 e 1930, na chamada
Escola Formalista Russa, com a intenção de estudar as narrativas de ficção
e não-ficção, procurando encontrar elementos e estruturas comuns dentro
delas. Um dos primeiros nomes de destaque da narratologia foi Vladimir
Propp. Ele fez um estudo de narrativas do folclore russo e identificou
situações que estavam presentes em todas as histórias. A chamada
“Morfologia do Conto” apresentava diversas etapas que, com uma variação
ou outra, faziam parte de tudo aquilo o que se contava oralmente.
Classificação elaborada pelo pesquisador russo
Valdimir Propp em “A morfologia do conto maravilhoso”
Fonte: https://bit.ly/2yhkqQ1
Fundamentos da Teoria Literária 33
SAIBA MAIS:
Você já deve ter assistido aos clássicos da Disney A pequena
sereia, Mulan, Rei Leão e A Bela e Fera, certo? Pois saiba que
todos esses filmes possuem a mesma estrutura interna,
todos eles foram pensados a partir das ideias contidas no
Memorando Vogler.
A teoria do romance
Da mesma escola russa em que surgiram os primeiros estudos
de narratologia, com Vladimir Propp, surgiu também um dos principais
teóricos que pensou e escreveu sobre o principal gênero narrativo: o
romance. Esse teórico era Mikhail Bakhtin.
Figura 7 - Mikhail Bakhtin, um dos pensadores russos
que refletiu sobre o gênero narrativo chamado de romance.
RESUMINDO:
Vamos resumir um pouco tudo aquilo que tratamos ao longo
desta Unidade. Começamos com a distinção fundamental
entre autor e narrador. Vimos que o autor é aquele que de
fato existe e que o narrador é uma espécie de entidade
ficcional criada para narrar uma história. Vimos também que
assim como autor e leitor formam uma dupla, há também
que se pensar em uma dupla formada entre narrador e
narratário. Depois observamos mais de perto a categoria
do personagem da narrativa que, em geral pode ser de
natureza plana ou redonda. Em seguida observamos como
se dá a organização espacial e a organização temporal de
uma história narrada. Partimos finalmente para a exposição
de algumas teorias que se preocuparam com a narrativa.
Os estudos de narratologia identificaram elementos em
comum em diversas histórias. A teoria do romance, por
outro lado, identificou elementos capazes de singularizar o
gênero romance.
Depois de tanto discutir sobre os elementos da narrativa,
chegamos ao final desta Unidade. A partir de agora você
estará muito melhor preparado para ler e discutir um
romance ou um conto por exemplo. Mas não apenas
isso! Pensar como funciona uma narrativa significa pensar
também como funciona um filme, um peça de teatro e
até mesmo uma memória pessoal contada por sua avó!
Na próxima Unidade, entraremos num campo menos
específico e estudaremos teorias que versam sobre
diversos gêneros e elementos. Prepare-se!
38 Fundamentos da Teoria Literária
BIBLIOGRAFIA
ASSIS, Machado. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo:
Abril, 2010.
BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e de estética. A teoria do
romance. São Paulo: Editora Hucitec, 2002.
BARTHES, Roland et al. Análise estrutural da narrativa. Petrópolis,
Vozes, 2011.
CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo: Folha de São
Paulo, 2003.
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Cultrix, 1994.
CHIAPPINI, Ligia. O foco narrativo. São Paulo: Ática, 2007.
COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso
comum. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.
FOSTER, E. M. Aspectos do romance. São Paulo: Globo, 2005.
GENETTE, Gerárd. Discurso da narrativa. Lisboa: Editora Vega, 1995.
LUBBOCK, Percy. A técnica da ficção. São Paulo: Cultrix, Ed.
Universidade de São Paulo, 1976.
NUNES, Benedito. O tempo na narrativa. São Paulo: Editora Ática,
2008.
PROENÇA FILHO, Domício. A linguagem literária. São Paulo, Ática,
2007.
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2012.
SOARES, Angélica. Gêneros literários. São Paulo: Ática, 2007.
STALLONI, Yves. Os gêneros literários. Rio de Janeiro: DIFEL, 2007.
TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. São Paulo: Perspectiva,
2006.
VOGLER, Christopher. A jornada do escritor. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2006.
WOOD, James. Como funciona a ficção. São Paulo: SESI-SP Editoria,
2017.