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Gás Natural Combustível

1- INTRODUÇÃO

A combustão é o processo de reações químicas que se produzem durante a oxidação completa ou parcial do carbono, do hidrogênio e do
enxofre contidos em um combustível. A análise destas reações é feita através de Balanço de Massas e de Balanço Térmico.

No Balanço de Massas está em consideração a quantidade de ar empregada para a combustão, sendo a referência a quantidade mínima
exata para reagir completamente o combustível, chamada estequiométrica.

No Balanço Térmico são analisadas as quantidades de calor liberadas, a temperatura da combustão e a quantidade de calor perdido na
exaustão.

São características importantes da combustão a composição do combustível e sua temperatura, a pressão em que ocorre, seu estado e o
formato da câmara de combustão. Estes determinam a forma com que ocorrerá o processo, se por detonação ou por deflagração.

2- COMBUSTÃO
2.1- Definição

É a reação química do oxigênio com materiais combustíveis em cujo processo se apresentam luz e rápida produção de calor. A diferença
entre a reação química de oxidação clássica (ferrugem, zinabre, alumina, etc.) e a de combustão é a velocidade com que esta última
ocorre, independente da quantidade de calor liberado.

2.2- Combustão Estequiométrica

É a reação de oxidação teórica que determina a quantidade exata de moléculas de oxigênio necessárias para efetuar a completa
oxidação de um combustível;

2.3- Combustão Completa

É a reação de combustão em que todos os elementos oxidáveis constituintes do combustível se combinam com o oxigênio,
particularmente o carbono e o hidrogênio(H), que se convertem integralmente em dióxido de carbono(CO2) e água(H2O)
independentemente da existência de excesso de oxigênio(O2) para a reação;

2.4- Combustão Incompleta ou Parcial

Nesta reação aparecem produtos intermediários da combustão, especialmente o monóxido de carbono(CO) e o hidrogênio(H2), resultado
da oxidação incompleta dos elementos do combustível. Ela pode ser induzida pela limitação na quantidade de oxigênio oferecido para a
reação, pelo resfriamento ou sopragem da chama;

2.5- Relação Ar/Combustível

É uma relação entre a quantidade de ar e a quantidade de combustível utilizadas na reação de combustão. Para combustíveis sólidos e
líquidos a relação é entre as massas, para combustíveis gasosos a relação é calculada entre os volumes envolvidos;

2.6- Ar Teórico

As reações de combustão são normalmente realizadas com o oxigênio(O2) contido no ar atmosférico. A composição do ar atmosférico é,
aproximadamente, 21 % de oxigênio(O2) e 79 % de nitrogênio(N2). O ar teórico é a quantidade de ar atmosférico que fornece a
quantidade exata de moléculas de oxigênio necessárias para efetuar a combustão estequiométrica;

2.7- Combustão Perfeita

É a combustão que, realizada com a quantidade de ar teórico ou de oxigênio(O2) estequiométrico, resulta numa combustão completa. Por
diversos motivos, entre eles as características reais das reações químicas entre os elementos ou as condições técnicas dos
equipamentos, esta reação nunca se realiza na prática;

2.8- Excesso de Ar

Para reduzir ao mínimo a presença dos produtos intermediários em uma combustão, tais como monóxido de carbono(CO) e
hidrogênio(H2), aplica-se uma quantidade de ar superior ao ar teórico, chamada ar real(AR), para que a abundância de oxigênio(O2)
proporcione uma reação próxima da Combustão Perfeita. A diferença entre o ar teórico e o ar real é chamada de Excesso de Ar e é
apresentada como uma relação percentual;

2.9- Combustão Real

É a reação que ocorre na prática nos equipamentos combustores com maior ou menor excesso de ar e com a presença de alguma
quantidade mínima de produtos intermediários da combustão;
3- COMBUSTÍVEIS GASOSOS

Propriedades de Diversos Gases


(à 15 ºC e 1 atm)

a – À temperatura de 0 ºC e 1 atm;
b – Ar Teórico;
c – Ver tabela a seguir;
Fonte: Gas Engineers Handbook / SINDE

3.1- Tipos de Combustão de Combustíveis Gasosos


3.1.1- Atmosférica

Processo de combustão utilizado na maior parte dos queimadores de uso comum, consiste em um sistema à baixa pressão de gás, até 35
mBar, em que a injeção do gás através de um venturi arrasta parte ou a totalidade do ar necessário à combustão;

3.1.2- Catalítica

Processo de combustão utilizado para produzir uma superfície emissora de radiação infravermelha de alta intensidade, consiste da
queima do gás em presença de elementos catalisadores;
3.1.3- Combustão Interna e Explosão

Processos utilizados nos queimadores a jato e nos motores a jato ou a pistão, onde a combustão é realizada e após compressão do ar e
injeção do gás a alta pressão (até 20 bar). O motor a explosão utiliza uma mistura gás/ar e um sistema de ignição após a compressão da
mistura.

3.2- Condições de Ignição


3.2.1- Limites de Inflamabilidade

Uma mistura de gás inflamável é aquela em que a chama se propaga. A iniciação da chama é realizada por uma fonte externa. Os limites
de inflamabilidade de um combustível gasoso definem a faixa de diluição mínima e máxima do gás em ar para que a combustão possa
ocorrer. Abaixo do limite mínimo a mistura não queimará sem a presença contínua de uma fonte de calor externa. Acima do limite máximo
a mistura o gás age como diluente e a chama não se propaga.

3.2.1.1- Fatores que Influenciam os Limites de Inflamabilidade

a). Temperatura da Mistura


Uma elevação da temperatura inicial da mistura gás combustível ar amplia os limites de inflamabilidade, ou seja, o limite inferior se reduz
e o limite superior se eleva, como pode ser visto na tabela a seguir;

Efeito da Temperatura Inicial do Gás sobre os Limites de Inflamabilidade de Alguns Gases

Fonte: Gas Engineers Handbook / SINDE

b). Pressão da Mistura

O valores tabelados dos limites de inflamabilidade são obtidos para a pressão atmosférica. Próximo da pressão atmosférica os valores
não variam de forma significativa. Em pressões inferiores a atmosférica a tendência geral é de contração da faixa de inflamabilidade, com
elevação do limite inferior e redução do limite superior. Em pressões superiores à atmosférica o limite inferior tende a permanecer estável
enquanto o limite superior apresenta um crescimento, como pode ser visto nos gráficos abaixo;

Efeito da Pressão sobre o Limite Superior de

Inflamabilidade da Mistura Ar Gás


Fonte: Gas Engineers Handbook / SINDE

3.2.2- Temperatura de Ignição ou de Inflamação

É a menor temperatura na qual o calor é gerado pela combustão em velocidade superior ao calor dissipado para a vizinhança, dando à
mistura condições de se auto-propagar. Abaixo desta temperatura a combustão da mistura ar gás só ocorrerá continuamente mediante o
fornecimento ininterrupto de calor externo. A temperatura de ignição não é uma propriedade fixa de um gás pois varia de forma
significativa com parâmetros como o excesso de ar, a taxa de diluição do gás na mistura, a concentração de oxigênio no ar de combustão,
a composição do gás combustível, a velocidade da mistura ar gás, pressão da mistura, leis do escoamento dos fluidos, fontes de ignição
e gradientes de temperatura.

Apesar desta variabilidade, a temperatura de ignição é um importante parâmetro de medida da tendência de um objeto quente provocar a
ignição de uma mistura e portanto, base técnica para considerações de segurança.

A temperatura de ignição de muitas substâncias combustíveis se reduz com o aumento da pressão, o que representa um importante fator
para a operação dos motores alternativos e turbinas a gás;

Comparação da Temperatura de Ignição de Vários Gases em Ar e em Oxigênio

Fonte: Gas Engineers Handbook / SINDE

Temperatura de Ignição do Metano para Várias Concentrações da Mistura Ar Gás e Riqueza de Oxigênio do Ar
Fonte: Gas Engineers Handbook / SINDE

Temperatura de Ignição com Relação à Proporção de Etano no Gás Natural1

Fonte: Gas Engineers Handbook / SINDE

Temperatura de Ignição com Relação à Proporção do Gás Combustível na Mistura Ar Gás2

* Gás Natural - 88,7% de Metano, 7,4% de Etano, 1,4% de Propano e 1% de Butano

1,2 Determinados pelo método dinâmico em que a temperatura de ignição é a menor temperatura na qual a mistura gás ar entra em auto-
combustão ao ter contato com uma superfície quente. Não indicado para chamas ou centelhas.

Fonte: Gas Engineers Handbook / SINDE

3.2.3- Energia de Ignição ou Inflamação

É a energia mínima que deve ser fornecida por uma chama, centelha elétrica ou fonte de calor à uma mistura combustível para que esta
possa atingir a temperatura de ignição em algum ponto e iniciar a propagação da combustão;

3.2.4- Auto Combustão


Também chamada combustão espontânea, ocorre quando a temperatura de uma substância se eleva até atingir a temperatura de ignição.
Quando toda a substância está nesta temperatura, qualquer aporte mínimo de energia gera a auto-ignição;

3.3- PROPAGAÇÃO DA COMBUSTÃO

Atendidas as principais condições para a combustão, ou seja, mistura dentro da faixa entre os limites de inflamabilidade e existência de
uma fonte externa capaz de fornecer a energia de ignição a um ponto da mistura que atingirá a temperatura de ignição, se inicia o
processo de propagação da combustão.

A características da propagação da combustão, sendo a principal delas a velocidade de propagação da chama, são função do gás
combustível, da composição da mistura ar combustível, da sua temperatura, da sua pressão, das características físicas da câmara de
combustão e da taxa de absorção de calor da mistura.

3.3.1- Velocidade de Propagação da Chama

Também chamada de taxa de propagação da chama, velocidade de ignição ou velocidade de queima, é a velocidade com que a frente de
chama se desloca através da mistura ar combustível, inflamando a mistura ainda não queimada.

3.3.1.1-. Deflagração

É a propagação da combustão que ocorre por transmissão de calor devido à condução, convecção e radiação da chama para a mistura ar
gás vizinha, levando esta a atingir a temperatura de inflamação e iniciar a combustão.

A velocidade de propagação da chama neste processo é relativamente baixa se comparada às velocidades máximas possíveis, e são da
ordem de 6 à 300 cm/s, como mostra a figura abaixo. Para o Metano, Etano e Gás Natural e Propano, Butano e GLP estes valores estão
em torno de 25 a 30 cm/s, na mistura com a quantidade de ar teórico.

Velocidade de Propagação da Chama para Diversos Gases em Relação à Proporção de Ar Primário da Combustão [ m/s]

Fonte: Gas Engineers Handbook / SINDE

3.3.1.2-. Detonação

É a propagação da combustão que ocorre pelo deslocamento de uma violenta onda de choque de pressão que comprime a mistura
gasosa e a leva à sua temperatura de inflamação. A energia necessária à manutenção da onda de choque se origina na própria
combustão. As velocidades de propagação da chama em condições de detonação são elevadíssimas, variando entre 1.500 e 6.000 vezes
as velocidades em condições normais de combustão à pressão constante.

3.3.2- Estabilidade da Chama

A chama não é a parte visível da combustão, mas sim todo o volume em que esta se realiza. Para que combustão de uma mistura ar gás
em um queimador se desenvolva de forma e estável, devem ser respeitados os limites mínimos e máximos de ar primário, a potência
específica da pré-mistura e a velocidade de alimentação da mistura ar gás equilibrada pela velocidade de deflagração do gás no sentido
oposto.

3.3.2.1- Ar Primário

Ar injetado com o gás pelo queimador que tem a função principal de promover a aeração do combustível e sua pré‑mistura com o
ar. A quantidade de ar primário é determinante sobre o empobrecimento da combustão por excesso de recirculação, descolamento e o
retorno da chama e o aparecimento de pontas amarelas;

3.3.2.2- Ar Secundário

É o ar que complementa o ar primário para realizar a combustão da mistura;

3.3.2.3- Potência Específica da Pré-mistura

É a taxa de fornecimento de energia no tempo por unidade de área do orifício do queimador, ou seja, quantidade de energia contida na
mistura ar primário-gás que passa pela área do orifício do queimador a cada instante, dada em kJ/s-cm2 ou kW/cm2;

3.3.2.4- Deslocamento da Chama


Fenômeno que ocorre quando a velocidade perpendicular ao cone de chama da mistura ar combustível na saída do queimador
atmosférico excede a velocidade de propagação da chama. Nesta condição, a combustão tem seu início distante do queimador e, se a
velocidade for ainda mais elevada, pode ocorrer a extinção da chama, fenômeno chamado de sopro. O deslocamento da chama resulta
de quantidade excessiva de ar primário ou velocidade excessiva do gás. Provoca o aparecimento nos produtos da combustão de gás
combustível inqueimado ou produtos de combustão incompleta;

3.3.2.5- Retorno da Chama

Fenômeno que ocorre inversamente ao deslocamento da chama quando a velocidade de propagação da chama é muito superior à
velocidade perpendicular ao cone de chama da mistura ar combustível na saída do queimador atmosférico, resultando que a combustão
penetra no interior do queimador. O fenômeno de retorno praticamente nunca ocorre com gás natural e gás butano pois sua faixa de
ocorrência é em potências específicas da pré-mistura muito baixas;

3.3.2.6- Pontas Amarelas

O aparecimento de pontas amarelas na extremidade da chama ocorre por insuficiência de pré mistura com o ar primário, que causa uma
aeração insuficiente da mistura e uma fronteira entre ar e gás, fazendo com que estes tenham que se difundir um no outro e a combustão
ocorre com ar secundário;

Limite de Deslocamento da Chama para Diversos Gases

*Gás Natural com 38,75 MJ/Nm3


Fonte: Gas Engineers Handbook / SINDE

Limite de Aparecimento de Pontas Amarelas para Diversos Gases

*Para ser algebricamente somado


**Gás Natural com 38,75 MJ/Nm3
Fonte: Gas Engineers Handbook / SINDE

4- Balanços da combustão

Para que combustão de uma mistura ar gás se desenvolva de forma satisfatória e estável algumas condições devem ser respeitadas: a
mistura do combustível e do ar (oxigênio), a taxa de mistura incluída na janela dos limites de inflamação, um ponto da mistura levado a
uma temperatura superior a temperatura de inflamação para seu início, o suprimento da mistura deve permanecer dentro das condições
básicas e os produtos de combustão devem ser escoados. Nestas condições a combustão proporciona a elevação de temperatura da
massa de gases e a realização do trabalho desejado. A análise das condições do processo de combustão e do trabalho realizado se faz
através do Balanço de Massa e do Balanço Térmico.

4.1- Balanço de Massa

O balanço de massas é a análise das quantidades de ar e gás fornecidos à combustão e das quantidades de produtos de combustão
escoados.

4.1.1- Composição dos Gases de Exaustão

Os gases de exaustão, também chamados produtos da combustão tem como seus componentes básicos o dióxido de carbono(CO2),
vapor d’água(H2O), oxigênio(O2) e nitrogênio(N2). A tabela a seguir apresenta como referência a composição dos gases de exaustão
para a combustão perfeita de diversos gases.
Produtos da Combustão Perfeita de Diversos Gases (Sem Excesso de Ar)

Fonte: Gas Engineers Handbook / SINDE

Os gases de exaustão de uma combustão real contém muitos outros produtos além dos relacionados acima, entre eles o monóxido de
carbono(CO), hidrogênio(H2), aldeídos, hidrocarbonetos insaturados, óxidos de nitrogênio(NOx), dióxido de enxofre(SO2), trióxido de
enxofre(SO3) e gases combustíveis não queimados. O aparecimento destes compostos e sua proporção depende dos elementos
componentes combustível, do excesso de ar e das condições em que a combustão se processa, como temperatura, pressão e
características construtivas do queimador e da câmara de combustão.

4.1.2- Teores dos Produtos

O teor ou a proporção de cada produto nos gases de exaustão é apresentado em proporção à massa total de gases ou ao volume total de
gases. Neste total pode estar incluído ou não o vapor d’água, sendo portanto chamados teor em base seca ou em base úmida.

Emissões de Diferentes Equipamentos Industriais e Comerciais Queimando Gás Natural


*Condição Normal: temperatura de 15 ºC e pressão de 1,0 atmosfera;
** Matéria descarregada na atmosfera contendo carbono livre ou combinado;

Fonte: Gas Engineers Handbook / SINDE

4.2- Balanço Térmico

O balanço térmico é a análise das quantidades de calor gerado e transferido na combustão, dos processos de transferência envolvidos,
dos níveis de temperatura alcançados e das quantidades de calor perdidas no escoamento dos produtos de combustão.

4.2.1- Transferência de Calor

O transporte de energia resultante de um gradiente de temperatura de um sistema ou da diferença de temperatura entre dois sistemas é
chamada de transferência de calor. São três os mecanismos de transferência de calor: condução, convecção e radiação. A transferência
de calor pode ocorrer em regime permanente ou estacionário ou em regime transiente.

4.2.1.1- Condução

É o processo de transferência de calor através das substâncias provocado pela diferença de temperatura entre as partes de um sistema
ou entre dois sistemas que se desenvolve ao nível molecular mas sem que ocorra modificação significativa na posição das moléculas da
substância. A quantidade de calor transferida por condução em um período de tempo é diretamente proporcional à área através da qual o
calor flui, ao gradiente de temperatura e à condutividade térmica da substância. A transferência unidimensional de calor em uma
substância homogênea é dada por:

onde: = Potência Transferida [W ou J/s]


k = Condutividade Térmica da Substância [W/m.K]
A = Área por onde o Calor Flui [m2]
T1 = Maior Temperatura [K]
T2 = Menor Temperatura [K]
L = Distância separando T1 e T2 [m]

Apesar da condutividade térmica ser uma importante propriedade dos fluídos, a condução é um mecanismo de transferência de calor que
apresenta sua maior importância nas substâncias em estado sólido. Dificilmente a condução será o mecanismo de transferência mais
importante em processos envolvendo fluidos.

4.2.1.2- Convecção

É o processo de transferência de calor que se realiza através do transporte de massas em movimento e da mistura de uma substância
fluida provocado pela diferença de temperatura entre as regiões de um sistema fluido ou entre um sistema fluido e um sistema sólido.

A convecção pode ser natural, quando o deslocamento da massa fluida se realiza pela variação na sua densidade devido a uma
transferência de calor e variação na temperatura ou forçada, quando o deslocamento da massa de fluido se realiza devido à forças
externas independentes da diferença de temperatura do sistema.

A quantidade de calor transferida por convecção entre um fluido e uma superfície sólida em um período de tempo é diretamente
proporcional à área através da qual o calor flui, ao gradiente de temperatura e ao coeficiente de transferência convectivo. A transferência
de calor entre uma superfície e um fluido é dada por:
onde: = Potência Transferida [W ou J/s]
h = Coeficiente de Transferência Convectivo [W/m2.K]
A = Área da Convecção [m2]
T1 = Maior Temperatura [K]
T2 = Menor Temperatura [K]

O coeficiente de transferência convectivo é um valor empírico dependente das condições do escoamento, das propriedades do fluido e do
perfil da superfície.

4.2.1.3- Radiação

É o processo de transferência de calor que se realiza pelo transporte de energia nas ondas eletromagnéticas infravermelhas emitidas por
uma superfície à qualquer temperatura. A radiação não depende de meios materiais para transmitir calor e a quantidade de energia
transportada pelas ondas é proporcional à quarta potência da temperatura da superfície emissora, como visto abaixo para superfícies
reais:

onde: = Potência Transferida [W ou J/s]


a = Constante Radiativa de Stefan-Boltzmann [J/K]
ASR = Área da Superfície Emissora [m2]
FA = Fator de Forma
FE = Fator de Emissividade da Superfície
T1 = Temperatura da Superfície Emissora [K]
T2 = Temperatura da Superfície Absorvedora [K]

4.2.2- Poder Calorífico

É a quantidade de energia liberada pela combustão completa de uma unidade de massa ou de volume de uma substância combustível.

Devido a formação de água(H2O) nos produtos da combustão foram definidos dois valores de poder calorífico para as substância
combustíveis.

Poder Calorífico Superior (PCS) – é a energia liberada pela combustão com a água (H2O) dos produtos da combustão em estado líquido;

Poder Calorífico Inferior (PCI) – é a energia liberada pela combustão com a água (H2O) dos produtos da combustão em estado vapor;

A diferença entre o PCS e o PCI está na quantidade de calor latente que o vapor d’água nos produtos combustão possui, que foi
fornecida pelo combustível e que não será aproveitada.

Poder Calorífico de Diversos Gases (Combustão Perfeita)


Fonte: Gas Engineers Handbook / SINDE

4.2.3- Temperatura Adiabática da Chama

É a temperatura atingida pela mistura ar combustível em um processo de combustão adiabático, ou seja, um processo sem troca de calor
dos reagentes com o meio, sem realização de trabalho ou variações de energia cinética e potencial.

Esta é a temperatura máxima que pode ser alcançada pela mistura ar combustível já que trocas de calor ou combustão incompleta
reduziriam a temperatura da chama

Para um determinado combustível e os reagentes à uma dada pressão e temperatura, a máxima temperatura adiabática da chama é
alcançada na mistura estequiométrica. O excesso de ar tende a reduzir a temperatura adiabática da chama.

Temperatura Adiabática da Chama em Função da Composição do Combustível e Excesso de Ar

(Ar de Combustão à 315 ºC)


(Ar de Combustão à 38 ºC)
4.2.4- Temperatura da Chama

A temperatura da chama atingida pela mistura ar combustível depende de diversos fatores da combustão e influencia de maneira
significativa nos processos de transferência de calor. A taxa de transferência de calor se eleva com a temperatura da chama e a taxa de
aquecimento de um objeto é diretamente proporcional à diferença de temperatura entre a chama e o objeto.

Práticas para Elevação da Temperatura da Chama:

a) Liberação do poder calorífico do combustível com a máxima rapidez possível, por exemplo com superfícies catalisadoras;
b) Utilização do mínimo excesso de ar e elevação do grau de intimidade da mistura do combustível com o ar;
c) Elevar a temperatura de alimentação do combustível e do ar antes da combustão;
d) Usar ar enriquecido com oxigênio ou oxigênio puro;
e) Utilizar combustíveis com elevada temperatura de chama ou sua proporção nas misturas;

Causas da Diferença entre as Temperaturas de Chama Adiabática e Real:

a) Perdas por radiação, entre 10 e 20 % da energia total;


b) Não liberação instantânea da energia do combustível;
c) Perdas por convecção;
d) Perdas por condução, por exemplo entre o queimador e a estrutura que o suporta;
e) Excesso de ar que absorve calor;
f) Presença de um objeto qualquer na chama;
g) Dissociação de gases diatômicos a altas temperaturas;

4.2.5- Intensidade Específica da Chama

É definida como a taxa de calor liberado por unidade de área da superfície da chama primária(chama no interior do cone) em J/s-cm2 ou
W/cm2. É utilizada para caracterizar a concentração de calor disponível na chama pois a temperatura da chama apenas indica o nível do
calor e não a taxa em que este é liberado. É dada por:

onde: = Intensidade Específica da Chama [W/cm2 ou J/s-cm2]


V = Fluxo Volumétrico de Mistura Primária Gás Ar [m3/s]
H = Poder Calorífico Líquido da Mistura Primária [J/m3]
A = Área da Superfície do Cone de Chama [m2]
H e A são valores empíricos.

Intensidade Específica da Chama e Velocidade de Propagação da Chama


Fonte: Gas Engineers Handbook / SINDE

4.2.6- Radiação da Chama

É a quantidade da energia total liberada pela combustão que se transmite por radiação térmica infravermelha, em diferentes temperaturas
e com distribuição espectral(comprimento de onda) entre 1,4 e 16 microns.

A radiação emitida pela combustão de um gás combustível é de baixa intensidade.

Em muitas aplicações é desejável produzir uma grande percentagem de calor radiante, superior àquela obtida em condições normais de
combustão de uma chama de gás. Para isto se aplicam 3 artifícios:

a) A mistura ar gás é direcionada sobre uma superfície refratária incandescente onde se inicia sua ignição;
b) A mistura ar gás é queimada em uma superfície perfurada ou porosa de um refratário e os furos ou poros funcionam como
queimadores;
c) A chama é direcionada diretamente contra uma superfície cerâmica ou uma tela metálica;

Nestes casos, além da radiação emitida pelos produtos da combustão, uma grande parte da energia da chama é emitida pelas superfícies
sob forma de radiação infravermelha.

Os queimadores radiantes possuem como características:

a) A energia térmica pode ser transferida sem que os produtos da combustão entrem em contato com o produto;
b) A energia radiante se desloca à velocidade da luz e é possível elevar a velocidade de aquecimento através de maior transferência de
calor radiante;
c) O aquecimento pode ser realizado em câmara aberta sem interferir na condição térmica do ar ambiente;
d) Podem ser construídos para transmitância direta de calor;

Características da Radiação Emitida por Queimadores Infravermelhos a Gás


Fonte: Gas Engineers Handbook / SINDE

Comprimento de Onda de Absorção de Algumas Cargas

Fonte: Gas Engineers Handbook / SINDE

4.2.7- Calor de Exaustão

Além das perdas existentes no processo de combustão, uma perda importante ocorre na etapa de exaustão dos produtos da combustão.
Estas perdas são função do volume de cada produto e da sua temperatura.

As perdas ocorrem por:

a) Calor Sensível que é o calor contido nos produtos que são descartados à temperaturas superiores à ambiente;
b) Calor Latente contido no vapor d'água que não pode ser aproveitado sem a condensação do vapor;
c) Combustível Não Queimado presente nos produtos, tais como o monóxido de carbono(CO), o hidrogênio(H2) e hidrocarbonetos.

4.2.8- Ponto de Orvalho

É a temperatura em que se inicia a condensação do vapor d'água presente em uma massa de gases à determinada pressão. O ponto de
orvalho é função da concentração do vapor d'água na massa de gases.

Esta temperatura é uma referência importante para o limite mínimo de temperatura dos gases de exaustão. Em combustíveis que contém
enxofre estão presentes nos exaustos o dióxido de enxofre(SO2) e trióxido(SO3) de enxofre. A condensação do vapor d'água tem que ser
evitada pois, na presença destes compostos de enxofre ocorre a formação do ácido sulfúrico e corrosão violenta das partes metálicas do
sistema de exaustão. Além disso, a presença destes compostos nos gases de exaustão eleva o ponto de orvalho entre 14 e 42 ºC.

5- INTERCAMBIABILIDADE DOS GASES

5.1- DEFINIÇÃO

É a capacidade de substituição de um gás combustível por outro de família diferente em um queimador mantendo as características
satisfatórias da combustão, tais como não deslocamento da chama, não ocorrência de retorno da chama ou pontas amarelas, sem exigir
alterações construtivas significativas do queimador.
5.2- CARACTERÍSTICAS

A intercambiabilidade dos gases considera:

a) As propriedades dos gases, principalmente a densidade relativa e o poder calorífico;


b) As condições de suprimento, em particular a pressão;
c) A natureza dos equipamentos e a capacidade de receber diferentes gases;
d) A regulagem dos equipamentos;
e) Os critérios de avaliação que definem o funcionamento satisfatório;

Devem ser mantidas após a troca do gás:

a) Estabilidade da Chama;
b) Não formação de monóxido de carbono (CO);
c) Não formação de fuligem;
d) Potência térmica satisfatória;
e) Acendimento por elevação pontual da temperatura;
f) Ruído mínimo;
g) Sem erosão nem corrosão dos equipamentos;

As modificações nos queimadores devem se resumir à regulagem do ar primário e taxa de alimentação de gás para não caracterizar uma
mudança construtiva do equipamento.

5.3- ÍNDICE DE WOBBE

É uma relação entre o Poder Calorífico Superior de um gás e sua Densidade Relativa, dada por:

onde: W = Índice de Wobbe [J/Nm3]


PCS = Poder Calorífico Superior [J/Nm3]
d = Densidade Relativa do Gás

A regulagem do índice de wobbe mantém quase constante a potência fornecida ao queimador por diferentes gases. A regulagem é feita
controlando-se a taxa de aeração da mistura.

O índice de Wobbe corrigido leva em conta a viscosidade real do gás e os teores de monóxido de carbono(CO), hidrogênio(H2) e
oxigênio(O2).

5.4- FAMÍLIAS DE GASES

Os gases combustíveis são classificados em três diferentes famílias;

Gases Manufaturados, oriundos do carvão ou de hidrocarbonetos líquidos

Índice de Wobbe: 19 < W < 39 MJ/Nm³

Gases Naturais ou Gases Manufaturados de mesma composição

Índice de Wobbe: 39 < W < 59 MJ/Nm³

Gases Liqüefeitos de Petróleo

Índice de Wobbe: 75 < W < 92 MJ/Nm³

5.5- PROBLEMAS DE INTERCAMBIABILIDADE

Dadas as diferentes características físico-químicas de cada gás combustível, manter invariáveis as condições de combustão em
diferentes equipamentos combustores após a substituição é uma tarefa complexa. As dificuldades aparecem na troca entre gases de
mesma família e entre gases da primeira e da segunda família.

Os problemas principais estão relacionados à:

Relação ar combustível;
Velocidade da chama;
Temperatura da chama;
Comprimento da chama;
Densidade

Como referência para orientar a intercambiabilidade dos gases utilizam-se diferentes índices criados pelas indústrias, entre eles:

Índice de Wobbe e Índice de Wobbe Corrigido(teor de CO)


Potencial de Combustão - poder calorífico dos componentes combustíveis de uma mistura em função da densidade;
Índice de Pontas Amarelas;
Índice de Depósito de carbono;

Exemplos de Composição de Gases Ajustados para Intercambiabilidade


Fonte: Gas Engineers Handbook / SINDE

Os mecanismos de solução dos problemas de intercambiabilidade são baseados na modificação do gás substituto ou do processo de
combustão. A modificação se faz com:

Adição de Elementos - mistura-se o gás substituto com ar, nitrogênio, outros gases combustíveis (propano, butano);

Extração de Elementos - retira-se do gás substituto quantidades de propano, butano e nitrogênio;

Modificação nos Equipamentos - regulagem das condições de operação como pressão e aeração primária;

6- ANEXO - CONVERSÃO DE UNIDADES

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