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MONOGRAFIA FEITA Frederico
MONOGRAFIA FEITA Frederico
FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE DIREITO
LUANDA, 2023
UNIVERSIDADE DE BELAS
FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE DIREITO
LUANDA, 2023
i
FICHA CATALOGRÁFICA
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou electrónico para fins de estudo e pesquisa desde que citada a fonte.
Data______/_____/______
Nº de Páginas: 53
ii
FREDERICO LUCAS FELIZARDO
Aprovado, __________/________/___________
BANCA EXAMINADORA
Presidente de Júri
1º Vogal
2º Vogal
Secretário
iii
DEDICATÓRIA
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar Deus pela força, coragem e ânimo que tem dado para que esse
trabalho fosse concluído, mesmo passando por lutas e dificuldades. Agradeço igualmente aos
meus pais e a família em geral pela força. Aos meus professores e colegas que de forma directa
ou indirecta contribuíram para a minha formação.
v
RESUMO
O presente estudo tem como tema o direito à vida como um direito fundamental segundo o
ordenamento jurídico angolano cujo objectivo geral consiste em caracterizar o direito à vida
como um direito fundamental segundo o ordenamento jurídico angolano. Com efeito fez-se
uma pesquisa bibliográfica com abordagem qualitativa, utilizando o método histórico-lógico.
Resultou do presente estudo e fruto de uma árdua investigação na realidade angolana,
portuguesa e brasileira. O direito à vida constitui a base fundante de outros direitos igualmente
assegurados. É, assim, direito pressuposto, lógica e ontologicamente antecedente a todos os
demais direitos fundamentais constantes da Constituição. Bem assim que cabe ao Estado o
dever primordial de garanti-lo de modo eficaz e amplamente. Além disso, é bem jurídico
igualmente valioso para todos os seres humanos, cuja titularidade lhes pertence
independentemente de cor, crença religiosa, convicção política, nacionalidade. Mas não é fácil
mais salvaguardar este direito, do ponto de vista privado, pelo facto do próprio detentor passar
por muitas dificuldades tanto econômicos, sociais que deveriam ser providos pelo próprio
Estado mas que no fundo passa colocar este direito fundamental em risco. De forma conclusiva,
se percebe que a vida tem uma origem bíblica que descreve como um dom de Deus, e depois
disso o homem apresenta uma descrição diferente da primeira, mas nota-se que no decorrer do
tempo esse direito passa a ser mais importante de qualquer outro direito, sendo previsto pelos
diversos ordenamentos jurídicos, conduto este países acabaram por abolir a pena de morte que
era de costume e praticado no passado, a vida humana é o bem supremo e não lhe pode ser
reconhecido um maior ou menor valor económico consoante os anos já vívidos. Recomenda-se
que a casa das leis possa criar novos instrumentos legislativos para efectivação e proteção do
direito primário (vida), e os outros internenientes como igrejas, sociedade civil, organizações
não governamentais devem fazer um trabalho árduo para maior divulgação e conscientização
do povo.
vi
ABSTRACT
The theme studied is about the right to life as a fundamental right, being primary (primary
benefit), which is inscribed in the category of rights inherent to the human person, and has the
nature of physical support, of conditio sine qua non, of all others. legal assets. So, the right to
life constitutes the founding basis of other equally guaranteed rights. It is, therefore, a
presupposed right, logically and ontologically antecedent to all other fundamental rights
contained in the Constitution. This is exactly how the State has the primary duty to guarantee it
in an effective and comprehensive way. Furthermore, it is an equally valuable legal asset for all
human beings, whose ownership belongs to them regardless of color, religious belief, political
conviction, nationality. Since from the legislative point of view in some legal systems this right
is foreseen as the main pillar, but from the effective point of view there have been several
violations of this right that come from the State due to the fact of doing or not doing a certain
act that protects this right and making it practical, but individuals can also create these
difficulties. But it is no longer easy to safeguard this right, from a private point of view, due to
the fact that the holder himself goes through many economic and social difficulties that should
be provided by the State itself, but which ultimately puts this fundamental right at risk.
vii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Art- artigo
Al - alínea
Nº - Número
Nºs - Números
Segs. - Seguintes
viii
INDICE
Folha de rosto…………………………………………………………………………………..i
Ficha catalográfica………………………..……………………………………………………ii
Folha de aprovação……………………………………………………………………………iii
Dedicatória…………………………...………………………………………………………..iv
Epígrafe….…………………………...………………………………………………………...v
Agradecimento……………………………………………………………………………..….vi
Resumo……………………………….………………………………………………………vii
Abstract…………………………………………………………………………….………..viii
I. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1
2.4. O direito à vida como um direito fundamental segundo o ordenamento jurídico português
.................................................................................................................................................. 19
2.5. O direito à vida como um direito fundamental segundo o ordenamento jurídico angolano
.................................................................................................................................................. 27
2.5.11. Revisão da Lei Constitucional em 1980, os avanços e recuos nos poderes do Estado 34
x
2.5.15. Reforma constitucional e clarificação do sistema político e direitos fundamentais ..... 38
VII. RECOMENDAÇÕES..................................................................................................... 51
xi
I. INTRODUÇÃO
1.1. Introdução do tema
Durante vários anos, a questão das raízes e das origens dos direitos fundamentais foi
considerada esclarecida, apesar de alguns debates controversos sobre aspectos específicos. No
entanto, o conhecimento de que a análise dos princípios históricos, políticos e filosóficos dos
direitos fundamentais também é de incalculável valor na práxis da nossa realidade atual
desponta nitidamente aos nossos olhos. Assim, não é de se admirar que esses princípios estejam
no foco de diversas disciplinas científicas e que exista um dilúvio de ensaios sobre a temática.
Uma explicação para a importância essencial dos princípios dos direitos fundamentais pode ser
constatada a partir do status exponencial que estes recebem dentro dos Estados de direito
modernos. Assim, os constitutivos para um Estado constitucional democrático1 e representam
o verdadeiro núcleo de uma ordem liberal-democrática.
Sendo que a primeira secção comporta a introdução onde encontramos a delimitação do tema,
a justificação do tema, a formulação do problema, a formulação de hipóteses, os objectivos
gerais e específicos. Na segunda secção comporta a fundamentação teórica sendo descrito os
aspectos ligado ao tema, como a origem, abordagem histórica, olhando também pelos conceitos
sobre o direito à vida e a comparação deste nos diversos ordenamentos jurídicos. Na terceira
secção contém a caracterização da área de estudo. Na quarta secção compreende a metodologia
que abarca o tipo de estudo, a população e amostra incluindo o critério de inclusão e exclusão,
depois vem os métodos a utilizar, com os procedimentos e instrumentos ou técnicas para a
colecta de dados, e o procedimento de dados. Na quinta secção contém s resultados e discussão.
Na sexta secção abarca as conclusões que se chegaram referentes ao tema. Na sétima secção
encontramos a recomendações. Na última secção comporta a bibliografia sendo destacado todas
referências bibliográficas nacionais e internacionais,
Os direitos fundamentais delimitam as áreas nas quais o poder estatal não deve intervir e
representam, ao mesmo tempo, os fundamentos da comunidade. Eles são a expressão e a
garantia tanto da liberdade política quanto da liberdade pessoal. Os direitos fundamentais
munem o indivíduo da garantia de organização e gerência de sua própria vida, abrindo-lhe a
possibilidade de participar da vida política da comunidade. Assim, entre os direitos
1
fundamentais e a ideia de liberdade democrática desenvolveu- se uma relação simbiótica, da
qual o rompimento conduziria ao abandono do Estado constitucional democrático.
A vida humana assume uma posição inigualável na Ordem Jurídica Angolana. É inegável que
todas as pessoas humanas merecem ser tratadas com igualdade perante o direito. O Princípio
da igualdade dispõe que situações iguais devem ser alvo de tratamento igual e situações distintas
devem ser tratadas de forma distinta.
Direito à vida significa também o direito ao existir como indivíduo, como pessoa. Isso quer
dizer o direito de estar vivo, de lutar pelo viver, de defender a própria vida, de permanecer vivo.
É o direito de não ter interrompido o processo vital senão pela morte espontânea e inevitável.
Existir é o movimento contrário ao estado de morte.
Nesse âmbito, assevera-se, com propriedade, que todo ser dotado de vida é um indivíduo, o que
não pode ser dividido. O homem é um indivíduo, mas é algo mais que isso, é uma pessoa. Além
dos caracteres biológicos, tem unidade, identidade e continuidade substanciais. Ser pessoa é
assumir a suprema manifestação do real.
2
arbitrária do homem, não é construído, mas sim reconhecido. A razão humana é capaz de
discernir entre o que contribui para o bem da pessoa e o que pode prejudicá-la. Desta forma, há
ações intrinsecamente negativas, malignas ou nocivas, especialmente aquelas que atentam
contra os valores essenciais da pessoa.
Não é fácil mais salvaguardar este direito, do ponto de vista privado, pelo facto do próprio
detentor passar por muitas dificuldades tanto econômicos, sociais que deveriam ser providos
pelo próprio Estado mas que no fundo passa colocar este direito fundamental em risco, e
entendemos que se o Estado não criar as condições para que o cidadão consiga crescer e
desenvolver, estaria a colocar em risco os direitos fundamentais previstos nas legislações.
Se fosse mais divulgado este direito por meio debates, palestras, simpósios, então não haveria
o desconhecimento parcial desta temática. A divulgação consiste na interação destes entes
para maior interação com a população.
1.4. Objectivos
3
II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. História do direito à vida
Já no século V a.C., os sofistas defendiam o entendimento de que o direito natural deveria ser
classificado como superior ao direito positivo. “A esta época pertence o enunciado de direito
natural de um sofista chamado Alkidamas, o qual afirmava que Deus criou todos os homens
livres e não fez nenhum deles como escravo” (OESTREICH,1966, p. 11). Além disso, Platão e
seu mestre Sócrates seguiam o entendimento de que somente uma ordem política obrigada aos
parâmetros éticos seria aceitável. Por isso, Platão considerava como obrigatórias somente
aquelas leis as quais eram fruto da razão (VERDROSS, 1948, p. 235). “Aristóteles, o qual
notoriamente ainda justificava a escravidão por meio das diferenças naturais entre as pessoas,
acreditava, no entanto, que tanto a proteção da vida e da propriedade dos seus cidadãos quanto
o fomento de suas capacidades naturais eram deveres do Estado” (MÜHLEISEN, 1993, p. 6).
Entretanto Aristóteles já julgava a justiça como uma virtude orientada aos semelhantes, a qual
deveria preservar a igualdade perante os outros; porém, caberia aos estoicos proclamar o
profundo princípio moral da igualdade. “Segundo os pensamentos antropológicos e éticos dos
estoicos, todas as pessoas são seres dotados de razão e iguais, os quais devem ter a mesma
possibilidade do exercício da livre vontade reconhecida” (HOFMANN, 1988, p. 842;
4
TOPITSCH,1963. p. 2; KÜBLER, 1965. p. 7-; SAMWER, 1969, p. 230; FLEINER-GERSTER,
1980, p.64).
Os estoicos romanos, principalmente Cícero, Sêneca e Epicteto, orientavam-se, por outro lado,
aos ensinamentos básicos antropológicos e éticos dos estoicos gregos e transcreveram o
princípio da igualdade, até então fundamentado no direito natural, para o direito. Na visão dos
estoicos romanos, o direito natural (ratio naturae) é uma lei da divindade e, portanto, uma norma
absolutamente obrigatória tanto para as pessoas quanto para a autoridade divina. “Nenhum
legislador, ou seja, tanto o senado quanto o povo romano, poderia invalidar aquela lei natural
ou a ela se desobrigar” (OESTREICH, 1966, p. 12). A transição do direito natural de um objeto
da filosofia para um objeto do pensamento jurídico e da concretização jurídica foi intensificada
principalmente.
“Deus (imago dei) conduziram não somente à formação do pensamento da dignidade da pessoa
humana e à ideia da liberdade pessoal, mas também ao reconhecimento da capacidade humana
à autodeterminação e ao princípio da igualdade de todas as pessoas perante Deus”
(AUGUSTINUS, 2001; AQUIN, 1941, p. 93). Além disso, Tomás de Aquino desenvolvia, na
alta Idade Média, pensamentos antigos, especialmente aristotélicos e estoicos, e fundamentava
assim o ensinamento da autoridade justa, a qual tinha na liberdade da vida, da pessoa e da
propriedade os seus alicerces. De acordo com Tomás de Aquino, a autoridade a qual intervém
na vida, na pessoa ou na propriedade dos seus súditos é injusta, uma vez que aqueles direitos
estão sob a proteção divina. “Como observação crítica, cabe mencionar que Tomás de Aquino
5
não sustentava uma vigência irrestrita e universal daqueles direitos (esses direitos não valiam
para os escravos e para as mulheres) e que o seu ensinamento não era dirigido à pessoa humana
como indivíduo, pressupondo apenas a vinculação coletivista do indivíduo” (STERN; SACHS,
1988, p. 61). Devido aos enormes confrontos entre autoridade imperial e a autoridade papal,
surgiram, por volta do final da Idade Média, diversos ensaios político-teológicos, os quais
também tratavam do sistema jurídico.
No entanto, a posição adotada pelos genitores eclesiásticos e pela maioria dos teólogos da Idade
Média não representava aquelas ideias libertárias esporádicas. Em vez de permitir às pessoas
desfrutar do potencial libertário do Cristianismo, os Estados de cunho cristão estavam muito
mais ocupados em ganhar a guerra, na qual o poder imperial concorria com o poder papal.
6
debilidade no exercício do poder. Entre as mais famosas declarações de direitos da Idade Média,
temos a Magna Charta Libertatum do ano de 12154 e o Tübinger Vertrag do ano de l5l4 (NÄF,
1975).
As mudanças no sistema financeiro, o qual servia até então como base para a independência
financeira da nobreza, também contribuíram para uma rápida transformação do Estado.
“Ademais, a construção do Estado absolutista foi amparada pela estatização gradativa das
7
parcas estruturas judiciárias e pela submissão dos senhores feudais ao poder monárquico”
(OESTREICH, 1978, p. 33). Consequentemente, é possível constatar uma mudança na relação
entre a liberdade e a obrigação para com o Estado durante a formação do Estado absolutista em
detrimento dos arduamente conquistados privilégios das castas. Assim, os representantes de
classe, os quais haviam lutado pela conquista dos privilégios e estavam atentos a sua
manutenção, foram oprimidos ou não mais convocados para as representações e, assim,
praticamente, excluídos da vida pública.
8
2.1.4. A Reforma
“No processo do desenvolvimento ideológico da ideia dos direitos fundamentais, a reforma
protestante desfruta de uma posição polêmica até os nossos dias” (STERN; SACHS, 1988, p.
64). A paleta de interpretações científicas sobre a reforma protestante vai desde uma vinculação
direta da ideia dos direitos fundamentais a alguns dos reformadores até uma completa negação
da conexidade entre aquela ideia e o teor do pensamento reformador. Situados no foco das
divergências, figuram os ensinamentos de Martinho Lutero. Segundo Lutero, competia às
pessoas certa independência e responsabilidade religiosa, as quais permitiam que essas
tomassem uma posição contrária àquela da autoridade mandamental em questões de cunho
religioso. No entanto, Lutero não defendia o ensinamento dos direitos naturais e era
explicitamente contra uma dedução das exigências das liberdades e igualdade civis a partir dos
três direitos fundamentais cristãos que pregava: liberdade, igualdade e solidariedade. Lutero
também defendia a posição de que o subjugado deveria ser obediente à autoridade, mas fazia,
ao mesmo tempo, uma restrição fundamental.
“Segundo Lutero, a autoridade terrena não deveria dispor sobre a alma das pessoas. Nesses
casos, seria permitida uma resistência, no entanto, somente por meio de pedidos e formulações,
ergo, desde uma obediência dolorosa até o sacrifício da própria vida” (OESTREICH, 1966, p.
24). “Muito mais importante para o fundamento teórico e a aplicação prática dos direitos
fundamentais foi considerada a atuação do reformador Calvin” (HOFMANN,1988, p. 843). Nos
seus trabalhos, Calvin via na relação entre a autoridade e o subjugado uma obrigação recíproca
(mutua obligatio) com direitos e obrigações mútuas.
9
No entanto, na discussão sobre a Petition of Rights, Sir Edward Coke era o experiente Chief
Justice e expressivo parlamentar que ressaltava constantemente a importância da existência e
da validade dos chamados fundamental rights. “Entre aqueles direitos, estariam especialmente
alinhados o direito de proteção da pessoa contra prisões infundadas e o direito de proteção da
propriedade contra intervenções imotivadas” (STERN; SACHS, 1988, p. 77). Johannes
Althusius postulava, em sua obra “Política methodice digesta”, a igualdade de todas as pessoas
e a soberania do povo. Segundo Althusius, a base de toda autoridade é a livre subordinação dos
subjugados.
“Os direitos destes deveriam estar fixados por um contrato e garantidos por um direito de
resistência” (GIERKE, 1913, p. 112; STERN, 1988, p.72). “Hugo Grotius defendia, na obra
“De iure belli ac pacis libri tres”, a tese de que os direitos naturais das pessoas seriam
irrenunciáveis e não destituíveis. Uma vez que esses direitos naturais pertenceriam
intrinsecamente à natureza racional das pessoas, todo e qualquer soberano estaria
necessariamente obrigado a respeitá-los” (STERN; SACHS, 1988, p. 73).
Desde o início dos tempos o homem vem refletindo os aspectos vinculados sobre a existência
da sua pessoa no que se refere a vida em sociedade individual, tais aspectos evoluíram e
inovaram com o passar dos tempos, sempre se sujeitando a mudanças estabelecidas por diversas
gerações e diferentes povos e culturas.
O termo vida possui inúmeros significados, podendo dizer também que é tudo aquilo que ocorre
entre a concepção e a morte, sendo muitos os direitos que por ela nos garantem, estando
expresso nas leis, princípios e doutrinas.
Na concepção de Branco (2010, p.441), em seu livro Direito Constitucional, diz que: “A
existência humana é o pressuposto elementar de todos os demais direitos e liberdades disposto
na Constituição e que esses direitos têm nos marcos da vida de cada indivíduo os limites
máximos de sua extensão concreta. O direito à vida é a premissa dos direitos proclamados pelo
constituinte; não faria sentido declarar qualquer outro se, antes, não fosse assegurado o próprio
10
direito estar vivo para usufruí-lo. O seu peso abstrato, inerente à sua capital relevância, é
superior a todo outro interesse”.
Sustenta Russo, (2009, p. 91), “o direito à vida é o bem mais relevante de todo ser humano e a
dignidade da pessoa humana é um fundamento da República Federativa do Brasil e não há
dignidade sem vida”.
Miranda faz uma explanação diferente dos outros autores, este apresenta questões que são de
estrema importância para compreendermos bem o direito à vida:
O direito à vida é inato; quem nasce com vida, tem direito a ela. Em relação às leis e outros
atos, normativos, dos poderes públicos, a incolumidade da vida é assegurada pelas regras
jurídicas constitucionais e garantida pela decretação da inconstitucionalidade daquelas leis ou
atos normativos. O direito à vida é direito ubíquo: existe em qualquer ramo do direito, inclusive
no sistema jurídico supra estatal; O direito à vida é inconfundível com o direito à comida, às
vestes, a remédios, à casa, que se tem de organizar na ordem política e depende do grau de
evolução do sistema jurídico constitucional ou administrativo. “O direito à vida passa à frente
do direito à integridade física ou psíquica; O direito de personalidade à integridade física cede
ao direito de personalidade à vida e à integridade psíquica” (MIRANDA, 1971, p.14-29).
Ainda que pareça natural os direitos fundamentais não eram positivados nas Constituições,
sendo que foi ao longo da história da humanidade que ocorreu essa positivação, a qual foi fruto
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de muita luta e esforços dos povos, inclusive, na Declaração Universal dos Direitos Humanos
de 1948 a vida foi reconhecida como supremacia maior dos direitos.
As diversas mudanças sociais e intelectuais nos levam aos direitos de segunda geração, não
obstante, os direitos fundamentais de segunda dimensão são os direitos sociais, ligados ao valor
e igualdade, entendidos como os direitos de grupos sociais menos favorecidos, e que impõem
ao Estado uma obrigação de fazer, de prestar direitos positivos, como saúde, educação, moradia,
segurança pública, direitos de titularidade coletiva e com caráter positivo, pois exigem atuações
do Estado. Portando o Estado passou a prover a todos, de forma igual e justa, com o objetivo
de que toda a sociedade viva de forma digna e justa.
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Em suma, vale ressaltar que esta geração é caracterizada por direitos transindividuais, que não
pertencem a ninguém isoladamente, e sim a várias pessoas.
Entretanto, vale ressaltar que direitos e garantias não são sinônimos. Direitos são as normas de
conteúdo declaratório (por exemplo, direito à honra, locomoção), enquanto as garantias são
normas de conteúdo assecuratório, preservando o direito declarado (por exemplo, indenização
por dano à honra, habeas corpus para garantir a locomoção), enquanto o direito se presta a
declarar, a garantia, por sua vez, busca preservar.
Nesse sentido Bonavides (2001, p. 237) afirma que “as Constituições promulgadas detonam a
hegemonia axiológica dos princípios que são convertidos em pedestal normativo sobre qual
assenta todo o edifício jurídicos dos novos sistemas constitucionais”. Neste contexto
reconhecendo aos princípios constitucionais como uma força normativa essencial.
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No primeiro artigo da República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos:
I - A soberania;
II - A cidadania;
III - A dignidade da pessoa humana;
IV - Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - O pluralismo político. (Grifos nossos) (BRASIL, 1988)
Para Moraes a dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta
singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo
a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas. Sendo este valor invulnerável devendo
todo estatuto jurídico assegurar, de modo que, somente em excepcional a alguns fatos que
possam ser feitas determinadas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, porém
sempre será necessário respeitar a estima que merecem todas as pessoas enquanto seres
humanos. (MORAES, 2002, p.128)
Dessa forma, percebe-se a importância que o legislador deu aos direitos fundamentais na
Constituição de 1988, principalmente ao direito da dignidade da pessoa humana, já que o
mesmo é um dos fundamentos da sociedade e do Estado.
Advém que o respeito à dignidade da pessoa humana compõe princípio fundamental do Estado,
sendo este vinculado em todas as relações sociais. Este princípio é intrínseco à pessoa humana
e o direito à vida.
Por fim, insta salientar que o princípio mencionado acima vai além do ‘ser pessoa’, vez que ele
representa a base a sustentação de todos aqueles que compõem a esfera social; portanto, vale
ressaltar que nenhum princípio é tão importante quanto o da dignidade da pessoa humana,
devido ao seu valor absoluto e pôr o mesmo ser norteador de todo o ordenamento jurídico.
O Pacto Internacional dos Direitos Políticos, em seu artigo 6, item 1 declara que “O direito à
vida é inerente à pessoa humana. Esse direito deverá ser protegido pela lei. Ninguém poderá ser
arbitrariamente privado de sua vida.”
A Constituição Federal, em seu artigo 5.º, caput, protege o direito à vida, como direito
fundamental, consagrando a sua inviolabilidade, no título dos Direitos e Garantias
Fundamentais, consagrado como o mais fundamental de todos os direitos.
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança. (BRASIL, 1988)
A Constituição Federal ressalta ainda que quanto ao direito à vida, cabe ao Estado assegurá-lo
em sua dupla acepção, sendo a primeira relacionada ao direito de continuar vivo e a segunda
de se ter vida digna quanto à subsistência, nem tampouco poderá ser renunciado esse direito e
pretender a própria morte.
Nessa perspectiva, Diniz menciona que a legislação não pode apreciar norma que atende contra
a vida humana, sendo considerada inconstitucional, uma vez que, a vida deve ser protegida
contra qualquer um ou qualquer coisa que o ameace, pois se trata de um direito personalíssimo,
ou seja intransferível e inalienável. (DINIZ, 2009)
Diante de sua importância o direito à vida é uma cláusula pétrea. Para Chimenti (2008, p.60)
“O direito à vida é o direito de não ter interrompido o processo vital, senão pela morte
espontânea e inevitável”. Considerando então a morte como um processo natural da vida.
Soares e Moura, destaca na publicação do seu artigo sobre direito à vida que:
Quanto a sua abrangência, o direito à vida se apresenta em duas facetas: o direito de defesa e o
dever de proteção. No âmbito de defesa, o direito à vida se impõe aos poderes públicos e aos
demais indivíduos no sentido de não agredir tal bem jurídico. Por outro lado, o dever de
proteção à vida se impõe ao Estado, cabendo a este tomar as providências apropriadas para
garantir a proteção a esse bem. (MOURA, 2015)
Cretella Júnior identifica que o termo direito à vida possui dois sentidos:
15
Direito a continuar vivo, embora se esteja com saúde e o direito de subsistência, sendo primeiro,
ligado a segurança física da pessoa humana, quanto a agentes humanos ou não, que possam
ameaçar-lhe a existência; o segundo, ligado ao “direito de prover à própria existência, mediante
trabalho honesto. (JUNIOR, 2008)
Se assim for, a vida humana deve ser protegida contra tudo e contra todos, pois é objeto de
direito personalíssimo. O respeito a ela e aos demais bens ou direitos correlatos decorre de um
dever absoluto ‘erga omnes’, por sua própria natureza, ao qual a ninguém é lícito desobedecer.
Garantido está o direito à vida pela norma constitucional em cláusula pétrea, que é intangível,
pois contra ela nem mesmo há o poder de emendar. Tem eficácia positiva e negativa, a vida é
um bem jurídico de tal grandeza que se deve protegê-lo contra a insânia coletiva, que preconiza
a legalização do aborto, a pena de morte e a guerra, criando-se normas impeditivas da prática
de crueldades inúteis e degradantes. Estamos no limiar de um grande desafio do século XXI,
qual seja, manter o respeito à dignidade humana. (DINIZ, 2001, p. 22-24)
No bojo desta discussão Lenza (2011, p.872) menciona que “O direito à vida, previsto de forma
genérica no art. 5º, caput, abrange tanto do direito de não ser morto, privado da vida, portanto,
o direito de continuar vivo, como também de ter uma morte digna”. A vida sempre será
considerada o supremo direito de todos, protegido por todas as constituições e tratados.
Em virtude do que foi mencionado, torna-se necessário dizer que, o Estado não permite a
praticada da morte provocada, assim chamada de Eutanásia, posto que este procedimento é
visivelmente tratado como uma ameaça a este direito tão consagrado.
Sarlet (2006) menciona que os princípios do direito à vida e da dignidade da pessoa humana
não podem e nem devem ser interpretados ou aplicados de forma isolada, tendo tratamento
hermenêutico sempre como meio de harmonizar os princípios entre si.
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2.3.5. Direito à morte digna
A Constituição Federal defende o direito à vida, e entende que também é necessária a
verificação do princípio da dignidade da pessoa humana, assim afirmando Pessini (2007) que
até mesmo no instante da morte do indivíduo, tem-se o direito da morte digna. Neste ínterim,
pode-se conceituar que o direito a uma morte digna é um eufemismo que é utilizado para
designar o direito que o outro nos dê a morte, sob o pretexto de não seguir nenhuma forma de
tratamento.
O conceito de morte teve sua evolução ao longo da história, segundo a obra Arq Neuropsiquiar
afirma que:
O próprio Código Civil Brasileiro (Art. 4* CC) define pessoa natural como todo aquele "nascido
de mulher" com vida. Considera-se a respiração como sendo a melhor prova do nascimento
com vida7 (daí a importância médico-legal das docimásias respiratórias) *. Os critérios médicos
tradicionais para o diagnóstico de morte foram também influenciados por esses conceitos,
ressaltando a ausência de função cardiocirculatória e respiratória como premissa básica para
esse diagnóstico. (DANTA, COSTA, EIRAS, ARAÚJO, GIUSEPPE, 1996)
Nesse sentido Bento (2008) reitera que o conceito de morte evoluiu até 1960, com a constatação
da morte por parada cárdica e respiratória, que atualmente não se resulta somente nisto,
entretanto, hoje os sinais vitais são diferentes dos verificados antigamente.
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Na 22º Assembleia Médica Mundial, em Sidney, no ano de 1968, foi conceituado pelos médicos
como morte encefálica quando o cérebro não tem mais funções eletroquímicas, tornando
irreversível o findar da vida.
Com a evolução da morte humana deve o princípio da dignidade da pessoa humana ser
assegurado do início da vida até o momento da morte, pois com o avanço da tecnologia, a
ciência tenta prevenir ou reverter a morte de qualquer maneira. Entretanto é necessário
compreender que a utilização da ciência deve ser limitada quando contrariar os princípios e
direitos fundamentais.
Em relação a promover a legislação da eutanásia o que deve ser levado em conta é o direito a
morrer com dignidade, sendo este a base para se formular leis que permitem a prática de tal ato.
De acordo com o que diz Monteiro (2000, p. 464) “O direito a que o outro nos dê a morte”, é o
principal eufemismo que se utiliza a esse contexto.
O conceito deste princípio é taxativo no quando se debate o direito à vida e a o direito à morte
digna.
Nesta perspectiva, o direito à liberdade é citado nas mais diversas formas, sempre considerando
o indivíduo como parte de um grupo, sendo este influenciado por diversos fatores, ou seja,
torna-se necessário à vida em sociedade a definição de regras claras, escritas ou não, para um
convívio harmonioso entre as pessoas.
Na nossa Magna Carta, encontram-se diversos direitos ligados à liberdade, como por exemplo,
liberdade de expressão (art. 5º, IX), liberdade de manifestação do pensamento (art. 5º, IV), entre
outros. Sendo que este direito à liberdade não pode ser ofensivo ao direito do outrem.
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De acordo com Meirelles (1991), “a liberdade é inerente ao homem, e anterior à sociedade, ao
direito e ao Estado, este princípio foi concebido ao homem desde a sua formação, ou seja, é
inerente à natureza humana.”
Contudo, o direito à liberdade está associado ao direito da autonomia privada, que é considerado
sinônimo de autonomia da vontade. Sendo este o exercício que regula a vontade própria do
indivíduo. Em relação a eutanásia, deve-se ter respeito em relação à autonomia dos pacientes
terminais ao optarem pela decisão de morrer de forma digna, seguindo seus valores, crenças e
convicções.
19
Segundo Pedro Vaz Patto (Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz), faz uma descrição
do direto à vida e como este direito é inviolável tanto pelo facto de estar previsto na
Constituição, como em outras legislações que desmitificam este direito.
A Constituição portuguesa confere à vida humana uma proteção ainda mais forte do que se
reconhecesse apenas o direito subjetivo à vida e não também um princípio objetivo de
inviolabilidade da vida.
A vida humana é inviolável é o que afirma de forma lapidar a Constituição portuguesa no artigo
que encabeça o elenco dos direitos fundamentais. Uma brecha nesse princípio fundamental,
verdadeiro alicerce, faz abalar todo o edifício desses direitos. Como aprofundadamente
demonstrou o artigo de José Lobo Moutinho Eutanásia: a inevitabilidade da rampa deslizante,
a brecha nesse alicerce torna inevitável, por razões lógicas, o fenómeno da “rampa deslizante”,
que ocorrerá sempre, mais cedo ou mais tarde.
A experiência dos países que legalizaram a eutanásia e o suicídio assistido permite verificar a
sucessão de passos cada vez mais permissivos quanto a tal prática: das situações de doença
terminal às de doença incurável ou deficiência; das situações de sofrimento físico às de
sofrimento psicológico; das situações de pessoas doentes às de pessoas não doentes mas
“cansadas de viver”; das situações de pessoas conscientes às de pessoas inconscientes que
formularam o seu pedido antecipadamente, ou que não o podem fazer devido a grave
deficiência; das situações de pessoas adultas às de crianças ou recém-nascidos.
Essa evolução é analisada com pormenor, no que à Holanda se refere (incluindo a evolução da
jurisprudência, que antecedeu a evolução legislativa) no clássico livro de Herbert
Hendin, Seduced by death (W.W.Norton & Company, Nova Iorque e Londres, 1997), e no mais
recente livro de Gerbert van Loenen, Do you call this a life?, Ruse Lattner, London, Canadá,
2015.
Embora os proponentes da Lei recentemente aprovada entre nós sempre tenham dito que ela
restringe a eutanásia e o suicídio assistido a situações excecionais, excluindo muitas das que
acima se referem, importa salientar que essa Lei não se limita a dar o primeiro dos passos
mencionados: o das situações de doença terminal e de sofrimento físico. Não distingue entre
sofrimento físico e psicológico (o que significará que este também está previsto). Abrange
doenças incuráveis e fatais e Lesões definitivas, ou seja, situações em que a vida se poderia
prolongar por anos ou décadas. Apesar de, eufemisticamente, se falar em antecipação da morte,
20
dando a entender que está próxima (e como se provocar a morte de outrem, seja qual for o
motivo, não fosse sempre uma forma de antecipar a sua morte, pois ninguém é imortal).
Nem sempre foi dado esse passo (de ir para além da doença terminal) logo de início. Assim
sucedeu na Bélgica, mas não no Canadá. E a lei do estado de Oregon, o primeiro dos estados
norte-americanos a legalizar o auxílio ao suicídio, continua a restringir esses possível auxílio a
situações de doença terminal, fixando até um prazo de seis meses para o prognóstico da mesma.
É verdade que no Canadá se está agora a discutir o alargamento da Lei vigente (desde 2016),
de modo a abranger as situações de doença não terminal ou deficiência. Essa discussão surge
na sequência de decisões judiciais que pretendem impor esse alargamento, invocando a
prevalência do princípio constitucional da autonomia individual e auto-determinação.
Compreende-se, por isso, que, desde há vários anos e com probabilidade de aprovação, se
discuta na Holanda a legalização da eutanásia e do suicídio assistido de pessoas não doentes,
cansadas de viver ou que considerem a sua vida completada.
Na Bélgica, esse passo ainda não foi dado no plano legal. Mas há quem considere que, na
prática, é isso que se verifica em muitas das situações em que são invocadas polipatologias
como motivo da prática da eutanásia. É o que afirma um estudo publicado há dias no The
Journal of Medicine and Philosophy, Euthanasia in Belgium, Shortcoming of the Law and Its
Aplication and the Monitoring of Pratice, em que se denuncia, mais uma vez, a ineficácia dos
limites legais a essa prática (sendo que dois dos autores do estudo não recusam a eutanásia no
plano teórico).
É também o passo que foi dado pelo Tribunal Constitucional alemão, invocando a prevalência
do princípio da autonomia individual e autodeterminação sobre o valor da vida: não deverão
ser colocados entraves ao auxílio ao suicídio que não se relacionem com a autenticidade do
pedido (o Tribunal Constitucional austríaco, entretanto, seguiu uma orientação semelhante,
embora não tão radical). Na linha dessa orientação, foi há dias apresentado no parlamento
21
alemão (ver Die Tagespost, 21/1/2021) por deputados de três partidos diferentes (FDP, SDP e
Die Linke), uma proposta, que, partindo do princípio de que a proteção da vida contra a
autonomia não pode, e não deve, existir, afirma que qualquer pessoa que quiser pôr fim à sua
vida de forma autónoma tem o direito de para tal pedir ajuda (bastará que seja maior de idade e
tenha recorrido a um centro de aconselhamento).
É a este extremo da rampa deslizante que poderá chegar a brecha no princípio da inviolabilidade
da vida humana, que a Lei há dias aprovada pelo Parlamento português já representa. A
consagração claríssima e inequívoca desse princípio no artigo 24.º, n.º 1, da Constituição
portuguesa é, porém, um obstáculo a essa brecha. Essa Lei viola tal princípio constitucional.
É isso mesmo que afirma a carta aberta da Associação dos Juristas Católicos ao Presidente da
República recentemente publicada.
A inviolabilidade da vida humana é afirmada nesse artigo 24.º, n.º 1, da Constituição de modo
assertivo, categórico e incondicional. Essa inviolabilidade não comporta exceções. Não é
exceção a essa inviolabilidade o eventual consentimento do titular da vida (consentimento cuja
autenticidade seria, de resto, nos casos de sofrimento intolerável a que se refere a Lei aprovada,
sempre questionável). A vida é inviolável mesmo com o consentimento da vítima. Por isso,
sempre têm sido puníveis o homicídio a pedido e o auxílio ao suicídio. A orientação dos
tribunais constitucionais alemão e austríaco encontra nesta afirmação absoluta um sério
obstáculo.
Numa audição relativa à discussão dos projetos que estão na base da Lei entretanto aprovada,
ouvi uma deputada sustentar que a inviolabilidade da vida humana consagrada na Constituição
portuguesa é apenas a da vida de quem quer viver, não a de quem lhe quer pôr termo. Mas isso
seria acrescentar, arbitrariamente, à formulação desse princípio constitucional um limite e uma
reserva que dele não constam, nem explicita nem implicitamente.
A Constituição portuguesa confere à vida humana uma proteção ainda mais forte do que se
reconhecesse (como fazem a generalidade das Constituições) apenas o direito subjetivo à vida
e não também um princípio objetivo de inviolabilidade da vida. Isto, porque poderia ser
eventualmente questionável (embora não necessariamente) a irrenunciabilidade e
indisponibilidade desse direito. Com a formulação desse princípio objetivo, não pode haver
dúvidas de que o direito à vida é irrenunciável e indisponível.
22
Compreende-se que o princípio da inviolabilidade da vida encabece o catálogo constitucional
dos direitos fundamentais, pois a vida é o pressuposto de todos os direitos. Atentar contra a vida
é destruir a fonte e a raiz de quaisquer direitos. Não tem sentido contrapor a inviolabilidade da
vida humana aos direitos e princípios constitucionais de liberdade e autonomia individuais,
como se estes sobre ela pudessem prevalecer, precisamente porque a vida é o pressuposto desses
direitos. A vida é o pressuposto de todos os bens e direitos e, portanto, também da liberdade.
Só é livre quem está vivo. Pôr termo à vida é pôr termo à liberdade (podemos dizer que é o
suicídio da liberdade).
Também não se respeita a liberdade quando se legaliza o consumo e tráfico de droga, porque a
toxicodependência afeta gravemente a própria liberdade. Tal como não teria sentido invocar a
liberdade para justificar a escravidão consentida.
Por outro lado, como também se afirmar nessa carta aberta da Associação dos Juristas Católicos
ao Presidente da República, a Lei recentemente aprovada pelo Parlamento português viola os
princípios da dignidade humana (artigo 1º da Constituição) e da igualdade (artigo 13.º desse
diploma). Da conjugação desses princípios decorre que todas as vidas, em todas as situações e
em todas as suas fases, são igualmente dignas. A dignidade da vida nunca se perde. Não há
vidas indignas de ser vividas. Não há vidas que por qualquer motivo deixem de merecer
proteção. Ora, a aprovada legalização da eutanásia e do suicídio assistido parte da ideia de que
há vidas que deixariam de merecer proteção porque são marcadas pela doença e pelo
sofrimento. Essas vidas deixariam de merecer proteção porque estariam desprovidas da
dignidade que é própria de quaisquer outras vidas (as quais continuariam a merecer proteção).
Dir-se-á que se trata de combater esse sofrimento. Mas a eutanásia e o suicídio assistido não
eliminam o sofrimento, eliminam a vida da pessoa que sofre. A resposta à doença e ao
sofrimento não pode ser a morte provocada. Há de ser o acesso aos cuidados paliativos (dos
quais, de resto, ainda estão privados muitos portugueses, com o que também é violado o
princípio da igualdade).
23
Estes os motivos por que a Lei, há dias aprovada, que autoriza a eutanásia e o suicídio assistido,
viola a Constituição portuguesa. Neste mesmo sentido, pronunciaram-se José Souto de Moura,
no artigo da dignidade humana, natureza humana, eutanásia, e Inês Quadros, no artigo da
dignidade e liberdade, ou o que a eutanásia não é. Justifica-se, assim, que o Presidente da
República solicite, como lhe é sugerido pela Associação dos Juristas Católicos, a fiscalização
preventiva da constitucionalidade dessa Lei.
Estas decisões não são inéditas. Já em setembro de 2018 o Tribunal Constitucional italiano
havia ordenado ao legislador a descriminalização do auxílio à antecipação do fim da vida e a
24
possibilidade de prestação de serviços médicos neste domínio. Em setembro de 2019, nova
decisão daquele tribunal acabou por introduzir o regime jurídico que descriminalizou, em
situações de sofrimento insuportável e incapacidade total, a atividade que permite acelerar o
processo irreversível da morte, poupando assim a pessoa ao sofrimento e indignidade maiores
que esses últimos tempos acarretam.
O diploma agora aprovado não se limita, no entanto, a despenalizar aquelas condutas - aprova
também a prática da antecipação da morte medicamente assistida nos casos previstos na lei.
Esses casos abrangem as situações de pessoas, maiores de idade, em situação de sofrimento
intolerável, com lesão definitiva de gravidade extrema de acordo com o consenso científico ou
doença incurável e fatal. Essencial é que se trate de cidadão português ou com residência legal
em território nacional, pretendendo evitar que Portugal se transforme, à semelhança de outros
países, em destino de turismo da morte.
25
O maior desafio prático do regime agora aprovado diz respeito ao facto de se garantir sempre
ao doente, querendo, o acesso a cuidados paliativos. Embora este seja um direito cuja garantia
resulta já, teoricamente, de outros diplomas, sabemos que a sua implementação prática está
longe de constituir uma realidade. Segundo o Observatório Português dos Cuidados Paliativos,
verifica-se escassez de recursos humanos com formação e competências adequadas, assimetrias
na distribuição geográfica das equipas e carências ao nível da formação graduada e pós-
graduada. Estes défices na prestação de cuidados paliativos justificam que o PSD, o BE, a IL e
outros grupos parlamentares tenham apresentado propostas dirigidas ao governo apelando
precisamente ao reforço da resposta na área dos cuidados paliativos.
O diploma seguirá em breve para Belém. O que sucederá depois é, por enquanto, uma incógnita.
O Presidente da República pode optar por promulgar o decreto, face à inequívoca maioria
parlamentar que o aprovou (136 votos a favor, 78 contra e quatro abstenções). Ao invés, pode
optar por vetá-lo e devolvê-lo à Assembleia da República, como sucedeu recentemente, por
exemplo, com a lei da nacionalidade e a lei das petições. Neste caso, a Assembleia pode
reformular o decreto para acomodar as eventuais sugestões presidenciais ou, ao invés, manter
a redação inicial. Por fim, e numa hipótese que é tida por alguns observadores como provável
dada a delicadeza constitucional desta temática, o Presidente pode optar por enviar o decreto
em fiscalização preventiva para o Tribunal Constitucional (na verdade, poderia também fazê-
lo em fiscalização sucessiva, após promulgação, poupando ao tribunal o fardo de decidir
questões de enorme complexidade no apertado prazo de 25 dias imposto pela Constituição).
Neste caso, a decisão institucional poderá depender, em última instância, da palavra de um
tribunal, o que, numa democracia constitucional, representa o normal desenvolvimento do
princípio da separação de poderes, e demonstra a provisoriedade a que mesmo as escolhas
democráticas se encontram sujeitas.
Em qualquer das hipóteses, será interessante perceber se, no final desta sequência, Portugal se
manterá alinhado com a inclinação que se tem vindo a desenvolver naqueles países europeus,
no sentido de aceitar o direito a uma morte autodeterminada, ou se, pelo contrário, nos
afastaremos da tendência de reconhecer que o direito à vida não impõe um dever de viver a todo
o custo.
26
2.5. O direito à vida como um direito fundamental segundo o ordenamento jurídico
angolano
Traçando um percurso político, Carvalho observa que, com o derrube de Marcelo Caetano pelo
movimento das forças armadas a 25 de abril de 1974, pôs-se o fim à colonização portuguesa
nos territórios ultramar, com particularidade para Angola. Ao clarear esse ponto, Carvalho
enfatiza que “o período de transição (ano de 1975) para a independência de Angola foi marcado
por grandes desavenças ideológicas entre os três movimentos nacionalistas angolanos MPLA,
a FNLA, e a UNITA. Que viriam dar origem a uma guerra civil”. (CARVALHO, 2010, p. 17).
Para Carvalho (2010, p.18), considera-se que “foi igualmente decidida à independência e a
soberania plena de Angola. Seria proclamada a 11 de novembro de 1975”. Após a proclamação
da independência, a República Popular de Angola (RPA), com um governo formado pelo
MPLA, foi de imediata reconhecida internacionalmente por vários estados, e organizações
internacionais, inclusive Organizações das Nações Unidas (ONU) como pela Organização de
Unidade Africana (OUA).
27
O mesmo já não fazia parte dos planos de paz e dos processos de reconciliação
nacional. No início de 2002, as forças do governo angolano encurralaram os mais
altos dirigentes da (UNITA) na província oriental do Moxico, Carvalho, diz
ainda que a 22 de fevereiro de 2002, em Lucusse foi confirmado à morte de Jonas
Savimbi por tropas governamentais do MPLA. (CARVALHO, 2010, p.26).
A guerra civil em Angola, só terminou com a morte do então líder da Unita Jonas Malheiro
Savimbi, e deu-se então o início a reconstrução de uma nova Angola. Entretanto, o fim da guerra
fazia antever mudanças por que todos ansiavam.
Para Schubert (2013, p.80), “A realização das eleições parlamentares em setembro de 2008, as
primeiras desde 1992, poderia ser vista como um passo para o pluralismo democrático”.
“Embora as eleições tenham sido consideradas credíveis e transparentes pelas missões da União
Europeia (UE), e da Comunidade para o desenvolvimento da África Austral (SADC), a vitória
do MPLA não foi uma surpresa” (SCHUBERT, 2013, p.80).
Karl Popper (1957) considera que a visão segundo a qual o mundo é imutável, agarrando-se à
convicção de que é possível prever a mudança porque está se rege por uma lei imutável, é uma
pobreza historicista, é estática, pois, os tempos, interesses, mudam e os atores também, ou seja,
o mundo é dinâmico, os valores mudam de sociedade em sociedade.
É preciso ter-se cautela com o Ressentimento na História, segundo Marc Ferro (2007), gerando
conflitos entre seres ou instituições por razões axiológicas. A História é um marco, mas nunca
é para viver o passado, serve de lembrança como humanos, as vitórias e derrotas, os heróis e
vilões é a vida dinâmica que deve fazer-se através da observação para reorganizar a sociedade
na visão de Augusto Comte (1820). A questão africana e do Estado deve ir ao seu passado
buscar a coesão, memória, os feitos e defeitos para criar-se uma sociedade de paz, democracia
e justiça social, caso contrário é um recuo desnecessário, é violento, retrocesso, pobreza,
discriminação. Importa um novo homem e consequentemente uma nova sociedade política que
28
lembra para não cometer erros ou falhar deliberadamente, é torná-lo consócio dos seus direitos
e deveres.
Fala-se da primeira constituição de um Estado quando ela adquire a soberania ou alcança a sua
independência política, senhora do seu destino que pode resultar de uma ruptura ou
descontinuidade entre o passado e o presente/futuro ou mera reforma de continuidade. A ruptura
implica uma revolução, consequência de um golpe de Estado e consequente afastamento
compulsivo da elite política do Estado e criação de um novo regime político, cultura política ou
institucional, forma novo tipo de Estado e sujeitos liderantes. A reforma pode resultar de pactos
entre as elites que governam, influenciando o sistema político, alterando a designação do
sistema de governo, cedência de poderes ou partilha, menos ou mais concentração, avançando
para descentralização ou maior autonomia, passagem de um sistema semi-presidencial para
presidencial ou vice-versa, reforço ou diminuição de poderes do parlamento, passagem de
Estado unitário simples, para o Estado unitário regional ou descentralizado, deum regime
monolítico para pluralista.
É com uma ruptura política que os angolanos alcançaram a sua soberania, primeiro por razões
político-militares (guerra de libertação nacional de 1961 a 1974), fragilizando o poder
português ou colonizador, como consequências das lutas seculares das autoridades africanas ou
a resistência colonial desde o século XV ao XX. Tudo isto contribuiu para a queda do regime
colonial, fragilizando-o, com a guerrilha armada comandada pelos movimentos nacionalistas.
Esta guerra dilacerou o poder luso, todas as famílias sentiram a fragilidade do regime colonial
com os ataques de 1961, e a aprovação da Resolução sobre a autodeterminação dos povos dando
origem às independências do pós-Segunda Guerra Mundial.
Portugal sofre o seu maior golpe com o apoio aos Movimentos Nacionalistas (UPA/FNLA,
MPLA e, posteriormente, UNITA). Os Partidos UPA/FNLA e UNITA tiveram grande apoio
feito pelo Ocidente (EUA, França, Inglaterra e países nórdicos) e o MPLA pelo Oriente (URSS,
Cuba, Jugoslávia e China). É o resultado da guerra fria, tendo os apoios como meio de combates
ideológicos da época5. Tudo isto vai precipitar-se com a fragilidade da economia de guerra,
envelhecimento de Oliveira Salazar e a sua morte em 19706. O golpe de Estado acelerou as
independências, forçando a nova ordem política portuguesa pós-golpe a negociar com os
movimentos nacionalistas africanos, com particular destaque para a FNLA, o MPLA e a
UNITA, assinando o Acordo de Alvor, a 19 de janeiro de 1975, prevendo a criação de um
Governo de transição que deveria organizar a Independência e a aprovação da Constituição. Por
29
isso, parece-me que este documento deve servir de base para a nossa História Constitucional e
Soberania, afastando as polémicas e complexos de afirmação política ou valorando um e
desprezando outro facto.
30
8.º O Presidente da República seria eleito até 8 de novembro de 1975, iniciando as suas funções,
depois de 11 de novembro (artigos 80.º/b e 99.º), da Lei Fundamental. O Presidente da
República seria o órgão que representaria a Nação e o defensor da soberania e guardiã da Lei
Fundamental e das leis e constituiria o Governo (artigo 106.º) da Lei Fundamental de 1975. O
Governo era o resultado do Acordo de Alvor, ou seja, só os Partidos que o assinaram podiam
participar do Governo, vide alínea d) do artigo 105.º, sendo os seus membros responsáveis
perante o Presidente da República, cabendo-lhes as funções eminentemente executivas ou
regulamentares das funções do Estado. A função judicial cabia aos tribunais, reconhecendo a
independência dos juízes, defendo a independência perante os órgãos de soberania (Governo,
Assembleia e o Presidente da República), o Supremo Tribunal de Justiça e pelos tribunais
(artigos 111.º a 119.º) da Lei Fundamental. A divisão político- -administrativa era de
descentralização com órgãos locais eleitos para órgãos regionais e locais, sendo o território
dividido por Províncias, estas em concelhos, e estes em comunas urbanos e comunas rurais
(artigos 126.º a 13.º), da Lei Fundamental.
O sistema monopartidário encontra a sua base de apoio no MPLA, era o partido do Estado
Angolano.
31
Presidente da República, Assembleia do Povo (substituída pelo Conselho da Revolução), o
Governo e os Tribunais que administravam a justiça em nome do Povo, vide artigos 31.º a 44.º
da Lei Constitucional de 1975.
É curioso notar que o Chefe do Governo e presidente do Conselho de Ministros não era o
Presidente da República, do MPLA e do Conselho da Revolução, era sim o Primeiro-Ministro
(artigo 39.º). Vai ser depois da revisão realizada com a Lei n.º 71/76, de 11 de Novembro. O
PR e do MPLA passou a ser o Chefe do Governo, presidindo o Conselho de Ministros e fazendo
parte dele, vide alínea a) do artigo 1.º e artigo 6.º da referida Lei de Revisão.
A Assembleia do Povo, como órgão legislativo, não estava instituída até 1980, cabendo ao
Conselho da Revolução aquela função legislativa.
Debate de ideias sem que para tal seja censurado ou retalhado por ter posições diferentes da
maioria (não é absoluto), existência de diversos partidos para um projeto de sociedade,
independentemente das opções políticas; existência de tribunais como órgãos de soberania com
competência de fiscalização dos atos de outros órgãos.
32
Em 1975, estava-se perante um Estado «democrático» ainda que com concentração de poderes,
e não de Direito, não sendo respeitada toda e qualquer minoria nem garantida a liberdade de
opção política, o que veio depois a ser concretizado com o princípio do centralismo
democrático, consignado com a revisão Constitucional de 1980, nos artigos 31.º e 32.º, alíneas
b) e d), e no artigo 32.º, que dizia: (b) «as determinações dos órgãos superiores são de
cumprimento obrigatório para os inferiores»; (d) «em todos os órgãos colegiais vigora a
liberdade de discussão, o exercício da crítica e da autocrítica e a subordinação da minoria à
maioria».
Esta democracia é claramente formal, porque reconhece que a soberania emana do povo
angolano, cabendo à sua representatividade o MPLA-PT, que constituía a vanguarda organizada
da classe operária e cabendo-lhe, como partido marxista-leninista, a direção política para a
construção de uma sociedade sem classes. Era o espírito do preceituado no artigo 2.º
Estávamos perante uma sociedade que em termos formais reconhecia a participação popular,
mas condicionada no braço político do MPLA-PT, como partido da dianteira ou da vanguarda
na realização de uma sociedade sem classes, onde a democracia pressupõe sempre a
participação popular, até porque o seu étimo grego (Demos: Povo, Kratos: Poder) dá-nos a ideia
de poder do povo; os mecanismos da participação é que eram obstruídos pelo centralismo
democrático paradoxalmente. Mas deve reconhecer-se que existia uma participação do povo na
vida da sociedade, que era uma representação por via do partido com a superestrutura do Estado;
aí, sim, acho que a democracia do tipo ocidental e pluralista não existia e não existiam garantias
judiciais porque os magistrados eram subalternos por via do centralismo democrático ainda que
a lei dissesse que os magistrados eram independentes e só deviam obediência à Lei.
Não se podia controlar os atos do partido ou dos membros, podendo ser acusado de
contrarrevolucionário.
33
nomeado, um membro do governo e não tinha competências próprias, mas delegadas (art. 43.º,
n.°2).
E na constituição revista e alterada em 1978, por aclamação pelo Comité Central do MPLA-
Partido do Trabalho, aos 7 de janeiro de 1978, não se fala dos tribunais como Órgãos do Estado,
muito menos como órgãos de soberania, no capítulo V (art. 49.º, n.°1) diz: Na República
Popular de Angola a justiça é administrada em nome do povo pelo Tribunal Supremo Popular
e pelos demais tribunais instituídos por lei.
Em termos gerais, a segunda revisão institui a AP como órgão supremo do poder de Estado (art.
37.º) e presidida pelo PR; suprime a figura de PM (art. 53.º, alínea d), por exclusão, como
colaborador direto do PR; institui e clarifica o princípio do centralismo democrático (arts. 31.º
e 32.º).
34
2.5.12. As reformas políticas e identidade do modelo democrático comparado
Como vimos, existem várias formas de Governos, tomando em conta os interesses por proteger,
as Monarquias Europeias não permitem sucessão ao trono de qualquer súbdito, mesmo
propagando-se a igualdade nos termos do artigo 1.º da DUDH. Nas Repúblicas encontramos
formas de Governo Parlamentar onde o PM ou Chanceler é nomeado tomando em conta os
resultados eleitorais ou eleito pelos Deputados eleitos pelo povo, dá grande legitimidade ao
Chanceler como acontece na Alemanha e o Presidente federal também eleito pelo Parlamento.
Quer nas Repúblicas Federais ou unitárias e regionais existem modelos diversificados de formas
de governação e de eleição e até de sistemas de partidos (bipartidários ou multipartidários),
sistemas eleitorais de maioria simples ou maioritário, proporcional com resultados de
inflacionamento dos partidos ou deflacionando dos mesmos.
As democracias que utilizam o sistema eleitoral maioritários simples são considerados governos
unipartidários, mas pluralistas, embora quase sempre os gabinetes sejam do partido vencedor,
mesmo quando os resultados não absolutos, segundo Arend Lijphart (1999: 27)14, quando a
representação proporcional considerada de consensual, por representar melhor a diversidade da
sociedade, num estudo aturado entre os governos conservadores de 1951 a 1964, de 1970 a
1974 e ao longo do período entre 1979 e 1997 e trabalhistas de 1945 a 1951, de 1964 a 1970,
de 1974 a 1979, de 1997 a 2010 e a surpresa eleitoral de 2010 que forçou os conservadores a
coligarem-se com os liberais, por ter obrigado os trabalhistas a deixarem o poder, dando origem
à alternância política anómala ou coligação bipartidária de liberais com conservadores, levando
a questão se o sistema maioritário não estar a ceder a sua tendência para a bipolarização ou se
vai reduzir a força de um partido ou se a coligação vai resistir ao mandato? Lijphart levanta a
questão socioeconómica como sendo a grande diferença entre conservadores e trabalhistas, com
a crise do Estado Social e as exigências da União Europeia, parece-me que as barreiras serão
ténues. Mas, em 1997, o Primeiro-Ministro Tony Blair defendeu que faria reformas no sentido
de corrigir o sistema eleitoral, passando do maioritário para o de Representação Proporcional.
Tal promessa foi parcialmente cumprida com a eleição para os deputados ao Parlamento
Europeu em 1999, mas não para as eleições parlamentares, embora haja conveniências políticas
dos dois maiores partidos mais beneficiados, segundo Wilson (1997: 72)15. Ou seja, todos os
sistemas políticos podem ter contradições, mas em todas elas há uma identidade ou história,
razão de ser das coisas, tradição ou cultura resultante dos valores que diferem de sociedade em
sociedade, mas até hoje reconhece-se a eficácia da democracia inglesa, mesmo com as suas
35
contradições é a democracia mais antiga e o modelo mais estável dos últimos trezentos anos
desde 1689 ou da Revolução Gloriosa. É a identidade inglesa. Há ainda o modelo americano de
uma democracia liberal e com um Presidente Chefe do Executivo unipessoal, tendo apenas
Secretários que são seus colaboradores e um Vice-Presidente eleito com o Presidente e que
preside o Senado que é a Câmara Alta do Poder Legislativo, tendo direito a voto em caso de
empate e pode substituir o Presidente em caso de impedimento daquele. Coisa que seria
impensável na Europa, pelo facto de haver nítida separação entre o legislativo e o executivo;
assim como para os americanos um Chefe de Estado não eleito e que seja hereditário é contra
a sua ética ou proceder político.
É isto que serve de modelo de democracias. A Índia, com as suas castas, tem uma democracia
oriental exemplar e estável, com um executivo dinâmico, mas com uma discriminação cultural
entre Hindus e Muçulmanos, não deixando de ter a sua identidade política que o mundo admira.
O Brasil de Sarney, Cardoso e Lula da Silva e agora de Dilma mostra uma pujança respeitável
no combate à pobreza, tecnologias, racismo, proteção do ambiente que o mundo reconhece,
tendo a sua particularidade carnavalesca e futebolística como sua identidade. A Argentina de
Perón, Menem e da dinastia Kitchner mostra uma pujança económica e intelectual que é uma
referência de cooperação internacional e de recuperação industrial e financeira.
O direito é resultado dos valores de um povo num determinado território e que aceitam, ou não,
os seus líderes, é isto que é a soberania e estes protegê-los. Todos os povos ou Estados criam
os seus regimes tomando em conta a sua maneira de estar e sentir, a sua história, línguas, arte,
filosofia e direito ou, melhor, a sua identidade. No mundo ainda que globalizado onde a
informação é avassaladora todos aceitam ou recebem a música, a gastronomia, a tecnologia e
as experiências políticas, históricas ou filosóficas mas a identidade é fundamental como, por
36
exemplo, os franceses e portugueses designam o seu Chefe de Governo por PM e os espanhóis
de Presidente do Conselho, os Alemães e Austríacos de Chanceler.
Discutia-se também as relações entre o Poder Executivo e Legislativo. Pois a legitimidade dos
dois órgãos é democrática e, como tal, direta, implicando maior legitimidade política. Como
cabe aos dois a função política e como tal primária em relação à administração ou executivo
deveria haver maior clarificação naquilo que se pode chamar de órgãos de soberania, quanto ao
modo de eleição clássica que se previa.
37
Ao PR compete conduzir a Nação, representa-la interna e externamente, por isso não choca ser
o Chefe de Governo, típico dos regimes presidenciais e democráticos. Mas cabe-lhe também à
assunção da responsabilidade política da condução do Governo. Mas para evitar-se conflitos
futuros devem criar-se mecanismos que possam garantir a estabilidade política e social de
Angola. A experiência francesa tem mostrado que é possível tal equilíbrio com a coabitação,
em caso de maioria parlamentar diferente da do Chefe de Estado, vide artigo 8.º da Constituição
Francesa de 1946.
E mesmo que assim não fosse importa sim atender as relações de equilíbrio entre o Chefe de
Estado e o Parlamento, pois a função executiva é subordinada à função política e legislativa.
Nota-se que havia um reforço ou clarificação dos poderes do Chefe de Estado, próprio das
reformas políticas onde a Assembleia Constituinte é normalmente influenciada pela práxis das
elites governantes ou por figuras de autoridade excecionais ou carismáticas, como aconteceu
na França de Charle De Gaulle.
A História tem mostrado que os equilíbrios criam consensos, mas a nossa práxis política tende
sempre para o reforço dos poderes do Chefe de Estado. Foi assim em 1975 e 1976, a supressão
da figura do Primeiro-Ministro em 1980 e a reabilitação da figura nos anos noventa até ao
presente momento, com o reforço do Acórdão 17/1998, do Tribunal Supremo nas vestes de
Tribunal Constitucional. A identidade política resulta da nossa práxis e não como ato acidental.
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setembro de 1992, era um documento que remetia para a nova Assembleia todos os atos
necessários para a aprovação da nova Constituição, vide o n.º 3 do artigo 154.º do referido
diploma, que admitia aprovação ou revisão Constitucional a todo o tempo, admitindo
flexibilidade e não rigidez, típica das Constituições, aprovadas com mais solenidade,
pluralidade e discussão.
A História Constitucional Angolana vai servir de modelo sobre a história das reformas políticas
no Continente Africano, pois rompe com o paradigma clássico dos sistemas de governo de
sociedades democráticas e pluralistas, com o Modelo Presidencialista-Parlamentar, onde o
Chefe do Executivo e também o Presidente da República, mas como consequência de ser o
Cabeça de Lista do Partido ou coligação de Partidos com a maioria Parlamentar. Este modelo
de governação constitucional rompe com a tradição constitucional de separar a eleição do Chefe
de Estado nas Repúblicas com as eleições parlamentares, legitimando o Chefe do Executivo ou
por via da maioria Parlamentar (Presidente do Partido, Secretário Geral do Partido ou da
coligação com mais voto) ou também um Presidente da República que é Chefe do Executivo,
mas eleito em eleições diferentes ou separadas das legislativas.
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Fruto desse desenvolvimento legislativo, os direitos fundamentais acabam por seguir esse
processo, sendo que tratado o direito à vida com mais relevância e protegido, apesar que na
realidade há sempre violação desse direito, de forma directa ou indirecta.
O direito à vida não é discutido na sua acepção típica, já que a ninguém é licito ofender a vida
de outrem, salvo as excepções legais devidamente consagradas na lei penal. Os casos onde a
discussão sobre o direito à vida apresenta maior dificuldade de consenso resultam, em regra, de
situações limite da vida das pessoas, como é o caso da eutanásia e do suicídio, ou do auxílio ou
incitamento a este, e ainda os casos de interrupção voluntária da gravidez. Das situações
referidas o suicídio consiste no único caso em que, embora não sendo lícito, não é punível, o
que não é difícil de compreender, porquanto daí não adviria prevenção nem redenção prováveis.
Muito provavelmente o sujeito, sabendo que seria punido, poderia atentar novamente contra a
sua vida.
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concepturo (nascituro não concebido), a pessoa humana ainda não concebida, e consiste numa
figura jurídica que tem essencialmente relevância para efeitos de sucessão e de doação.
Inversamente, após a concepção e antes do nascimento, o Direito considera a pessoa humana
como nascituro, figura com relevância em várias situações jurídicas, dependendo do seu
nascimento completo e com vida.
O Direito refere-se ao nascimento das pessoas humanas no Título II, Capítulo I do Código Civil
sob a epígrafe pessoas singulares e no qual consagra as regras legais gerais relativas às pessoas
humanas. Neste, o art. 66.º, n.º 1, faz depender a personalidade jurídica da pessoa humana de
dois requisitos cumulativos, do nascimento completo e com vida. É com o nascimento com vida
do nascituro que este adquire não só personalidade jurídica, mas também adquire capacidade
jurídica de gozo de direitos.
Alguns autores entendem que o nascituro não tem quaisquer direitos pelo facto de não ser
autónomo biologicamente em relação à mãe, no entanto a maioria da doutrina entende que o
nascituro desde o momento da sua concepção é um ser humano que, por mais embrionária que
seja a fase em que se encontra, já goza de certos direitos.
A larga maioria da doutrina refere que a tese pela qual se defende que o nascituro não possui
direitos devido à sua dependência da mãe carece de fundamento, porque também o recém-
nascido com vida continua numa situação de enorme fragilidade, talvez mais do que antes de
nascer, e depende da mãe para quase tudo. Partilhamos desta última visão, já que igualmente
consideramos que ao nascituro na qualidade de ser humano é merecida toda a dignidade que é
reconhecida à pessoa humana, razão pela qual consideramos que é titular de certos direitos. O
nascituro não goza somente de uma protecção jurídica objectiva, porque se assim fosse apenas
seria visto como um objecto aos olhos do Direito.
O nascituro não é um objecto do Direito, porque é uma pessoa humana e disto depende a sua
personalidade jurídica. Assim consideramos que as pessoas singulares adquirem a
personalidade jurídica ainda antes do seu nascimento completo e com vida e não como dispõe
o Código Civil no seu art. 66.º, n.º 1, devendo entender-se que a referência à personalidade
jurídica significa que a mesma já existe, mas será retroactivamente desconsiderada se não
houver nascimento completo e com vida.
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2.5.19. Direito de personalidade
Para efeitos do presente trabalho debrucemo-nos somente no direito à vida, como espaço de
liberdade concedido à pessoa humana para regular a sua vida e nela tomar as decisões que se
lhe aprouver, desde que em respeito pelos direitos dos demais sujeitos, e não se ver privado da
sua vida. O direito à vida consiste num direito de personalidade absoluto, mas não tão absoluto
a ponto de ao seu titular ser legítimo atentar contra a sua própria vida.
O Código Civil consagra os direitos de personalidade nos artigos 70.º e seguintes, onde começa
por estabelecer uma tutela geral dos direitos de personalidade referindo que, a lei protege os
indivíduos contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à sua personalidade física ou
moral. Esta disposição não confere por si só um direito geral, mas somente uma protecção geral
ao conjunto de bens da personalidade, onde se insere o direito à vida. Por conseguinte, não
podemos extrair deste preceito legal um direito subjectivo, porque seria demasiado indefinido,
afastando-se a possibilidade de aplicação do regime próprio dos direitos subjectivos. Todavia o
artigo 70.º do Código Civil permite que pela sua tutela surjam vários direitos, os direitos
subjectivos de personalidade, onde já destacámos o direito à vida, que adiante analisaremos.
Por conseguinte, constatamos que o juízo de ilicitude consiste numa ponderação das
circunstâncias, designadamente a actuação do lesante, a actuação do lesado e a necessidade de
conduta lesiva. Apenas quando a lesão for necessária para afastar o perigo para a vida de outrem
é que ela pode ter lugar.
Na apreciação de uma conduta lesante é igualmente necessário um juízo de culpa, que releva
nos casos em que a ilicitude não é afastada, em que é essencial verificar se existem causas de
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exclusão da culpa e, em caso contrário, graduar a culpa, apurar a medida da culpa do lesante no
caso concreto.
Estabelecido o juízo sobre a conduta do lesante e apurando-se que a mesma foi ilícita e culposa,
a título de dolo ou mera culpa, haverá lugar à responsabilidade civil por factos ilícitos, tendo o
lesante obrigação de indemnizar consoante o consagrado nos artigos 483.º do CC.
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III. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Angola, oficialmente República de Angola, é um país da costa ocidental da África, cujo
território principal é limitado a norte e a nordeste pela República Democrática do Congo, a leste
pela Zâmbia, a sul pela Namíbia e a oeste pelo Oceano Atlântico. Inclui também o enclave de
Cabinda, que faz fronteira com a República do Congo, a norte. Tem como capital a cidade de
Luanda, e tornou-se independente de Portugal aos 11 de Novembro de 1975, tem como língua
oficial o português, e várias línguas maternas dependendo de cada região.
Tem uma área de 1.247.700 km², e uma densidade populacional de 31,83 milhões, tendo um
território composto por dezoito províncias. O país tem vastos recursos naturais, como grandes
reservas de minerais como o diamante, o ouro, o manganésio, o cobre, o mercúrio, bem como
uma bacia hidrográfica muito rica cujo seu maior rio é o Cuanza.
Outrossim, é um pais rico em cultura, com inúmeras tribos ou etnias, da qual destacamos os
ovimbundo, os mucongos , os kimbundos, os nganguelas, os nhanecas umbi, os ovambos, os
tchokwes, etc. A literatura de Angola nasceu antes da independência e é composta por várias
obras e muitos autores de renome.
Mas o recurso que sustenta a sua economia é o de petróleo e no corrente anos de 2022, Angola
tornar-se-á o maior produtor na África passando a Nigéria. Desde o ano de 2002, sua economia
tem apresentado taxas de crescimento que estão entre as maiores do mundo, especialmente
depois do fim da guerra civil. A sua moeda monetária é o Kwanza.
Angola também é considerada um dos países menos desenvolvidos do planeta pela Organização
das Nações Unidas e um dos mais corruptos do mundo pela Transparência Internacional e nos
anos tem feito alguns avanços no que toca o respeito pelos direitos humanos.
Quanto ao clima Angola localiza-se numa zona tropical, tem um clima que não é caracterizado
para essa região devido a confluência de factores como:
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2. O relevo no interior;
3. O deserto do Namibe
1. Chuvosa que vai de Outubro a Abril, com grandes chuvas sobretudo no interior do país;
2. Seca que decorre de Maio à Agosto, conhecida por cacimbo, um período muito seco
com temperaturas muito baixas.
A população de Angola em 2014, depois do primeiro censo pós independência foi de vinte
cinco milhões sendo as mulheres a maioria. O regime político vigente em Angola é o
presidencialismo, em que o presidente da república é igualmente chefe do executivo, que tem
ainda poderes legislativo. O sistema legal baseia-se no português.
O sistema judicial é por hoje constituído a base pelos tribunais de comarca, a seguir os tribunais
de relação e por fim o tribunal supremo, isto na jurisdição comum. Quanto a jurisdição especial
temos os tribunais de contas e o constitucional. Entretanto a guerra civil, causou sérios danos
às instituições angolanas sejam elas políticas ou sociais.
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IV. METODOLOGIA
4.1. Tipo de estudo
O estudo feito foi realizado com base na pesquisa bibliográfica com abordagem qualitativa.
Amostra
Teve –se em consideração os seguintes artigos. Constituição da república da Angola: arts. 30.º,
59. º.
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4.4. Procedimentos e instrumentos ou técnicas para a colecta de dados
Para o estudo desta temática foi usado conteúdos, de bibliografia específica do direito
constitucional, trabalhos científicos sobre direto do direito em geral, usou-se também artigos
científicos e legislação nomeadamente a constituição e o código civil.
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V. RESULTADO E DISCUSSÃO
Fruto da pesquisa realizada entendemos que conseguimos encontrar alguns resultado bastante
interessantes, mas antes disso é necessário entendermos que todo e qualquer outro direito
fundamental depende com exclusividade do direito à vida, porque sem vida não há como
materializar os outros direitos previsto nas legislações primarias e secundarias (no caso concreto
a Constituição ou a lei magna, e códigos e legislações avulsas), entre os constitucionalistas não
existe uma unanimidade quanto a questão da concretização ou efectividade deste direito, sendo
que os português apresentam um exemplo claro sobre a violação deste direito como o caso da
inexistência de médicos de família suficientes, das urgências que encerram por falta de recursos.
Enfim neste momento temos grandes dificuldades em cumprir a obrigação de salvar vidas. Sei
que temos dificuldades e que não somos um país rico. Não conseguimos garantir os cuidados
paliativos a quem sofre, mas recuso-me a acreditar que alguém pense que a despenalização
facilitará a boa gestão dos recursos.
O mesmo problema podemos constatar em alguns países da própria Europa, como também a
desigualdade entre o estrato social e econômico de cada família, mas já tem existido um forte
esforço por parte de cada governo para solucionar esses problemas, como é o caso da França
onde muitos imigrantes não tinham determinados direitos pelo facto destes serem estrangeiros,
mas o actual presidente tem implementado políticas que visam salvaguardar diversos direitos
como é o caso da vida, tendo aqueles o mesmo tratamento nos hospitais, e outras instituições
privado ou público.
Na realidade brasileira notamos que há actualizaçao da própria constituição Federal, o que nos
leva a pensar que este Estado está bastante preocupado com os seus concidadãos, e com a
efectivação dos direitos fundamentais previsto na lei acima citada, apesar das recentes
mudanças das políticas governativas, o presente presidente tem como principal objetivo a luta
contra a fome e a desigualdade social, educação para todos, voltar a criar um bom ambiente que
permita atrair novos investidores, passando a existir mais postos de trabalho, mas o trabalho
não está ser fácil mas tem existido esforços para alcança-los, ao passo que uma sociedade só
desenvolve quando são respeitados os direitos fundamentais, e a sua proteção, tanto do ponto
de vista legislativo, como na aplicabilidade cotidiana desses direitos.
Na realidade angolana podemos notar um globo que é constituído por momentos, eu vai desde
a independência onde encontramos as formações políticas apoiadas pelos does sistemas
políticos econômico (Sistema capitalista pertencente aos Estados Unidas da América; Sistema
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socialista pertencente a União Soviética), com isso ouve uma união à nível dessas formações
para a independência, depois da conquista da mesma, verifica-se uma luta pelo poder ou seja
qual é o partido político que poderia governar em meio de uma nuvem de desconfiança e
incertezas, o MPLA já estava mais organizado tanto politicamente, como do ponto de vista
legislativo fruto disso foi com a criação da primeira Lei constitucional aprovada no mesmo ano
da proclamação da independência. Passando para o outro momento do conflito interno pela luta
do poder que levou alguns anos e notamos que os direitos fundamentais (com exclusividade o
direito à vida) foi o mais violado tanto é que o momento não havia como tal a efectividade
qualquer direito, mesmo com esse momentos de luta havia sempre uma trégua o que levou ao
crescimento da própria legislação constitucional, depois da paz havia a necessidade de unificar
o povo angolano, sendo que todos teriam os mesmo direitos e deveres previsto na Lei mãe, fruto
da mudança global do ponto de vista político, econômico e social, foi aprovado a constituição
de 2010 que é mais robusta e que traz uma nova dinâmica política, econômica e social, até com
esse avanço legislativo era um passo importante para democratização dos direitos
fundamentais, onde o direito à vida é protegido e salvaguardado (previsto nos artigos 30.° e
59.° do CRA), mas no dia a dia tem sido uma luta para efectivação desse direito, que cada vez
mais violado basta nos olharmos pelas nossas comunidades onde falta o básico para subsistência
do cidadão a falta de saneamento básico, falta de hospitais públicos, escolas, emprego para
juventude que causa a fome e leva a pobreza extrema do pacato cidadão, a falta da distribuição
equitativa das riquezas que o país tem, o Estado com o a apoio de outros autores tem procurado
solucionar essas questões, mas não é fácil e até para alguns entendem que é falta de interesse
por parte do governo no que concerne a resolução dos problemas sociais, e como consequência
desses atropelos ao direito à vida, leva os jovens a manifestarem-se para reivindicarem esse
direito e outros, e a força de segurança pública acaba por exceder do uso da força colocando de
forma directa o direito à vida em risco. Quando falamos na efectividade do direito à vida é uma
questão muito frágil e necessita que cada Estado analise seus princípios e há de facto está
efectivação, e averiguar os atropelos para dar solução concreta.
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VI. CONCLUSÕES
De forma conclusiva, se percebe que a vida tem uma origem bíblica que descreve como um
dom de Deus, e depois disso o homem apresenta uma descrição diferente da primeira, mas nota-
se que no decorrer do tempo esse direito passa a ser mais importante de qualquer outro direito,
sendo previsto pelos diversos ordenamentos jurídicos, conduto este países acabaram por abolir
a pena de morte que era de costume e praticado no passado, a vida humana é o bem supremo e
não lhe pode ser reconhecido um maior ou menor valor económico consoante os anos já vívidos.
A ser friccionado um valor deve o mesmo valer para todos os estádios da vida, só podendo
haver lugar à redução de um cálculo indenizatório devido à graduação da culpa do agente.
O Estado tem sido o guardião dos direitos fundamentais, o mesmo também tem violado esses
direitos, o exemplo prático é a falta de saneamento básico nas comunidades de Luanda o que
acaba por colocar em risco o direito à vida, o que nos leva a refletir sobre o papel dos
governantes para com os governados, e quando não há seriedade e compromisso com os
governados então não a efectividade dos direitos fundamentais.
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VII. RECOMENDAÇÕES
Recomenda-se a Assembleia Nacional que produza normas mais eficientes que possam
efectivar o direito à vida, tanto para os menores e adultos que vivam em lugares precários e a
sua sobrevivência depende das políticas governativas, seria um trabalho conjuntural entre
Assembleia e o toda maquina governativa, culminando para uma distribuição equitativa dos
recursos econômicos, havendo a proteção deste direito fundamental.
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VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 5ª Ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2010.
HEGEL, Georg W. Friedrich. Introdução à História da Filosofia, Edições 70, 2006, Lisboa,
Portugal.
MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional, Tomo I, 7.ª edição Coimbra Editora.
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Idem, A Constituição de Angola de 2010, in Ivstitia Revista da Faculdade de Direito da
Universidade Independente de Angola – Democracia e Estado de Direito, Luanda, 2013.
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 17.ed. São Paulo: Atlas, 2005.
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do
Advogado,1998. ISBN 8573480696.
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