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Critérios de Julgamento: Chave para a Avaliacdo da Aprendizagem Ligia Gomes Elliot RESUMO A elaboragéo e 0 uso de critérios para auxiliar alunos e professores no julgamento de atividades integradoras de ensino-avaliagéo é 0 tema princi- pal deste artigo. Essas ati- vidades, baseadas em te- orias contemporaneas de aprendizagem e cogni¢éo, valorizam tanto o proces- so de construgéo realiza- do pelo aluno em respos- ta a solicitagées ou pro- postas feitas em classe, quanto os produtos por ele obtidos. Necessitam, pois, de instrumentos adequa- dos para sua apreciagéo, que diferem dos mais usa- dos tradicionalmente. Alguns exemplos apresentados podem servir de inspi- ragdo aos interessados no assunto que desejam modernizar sua metodologia de avaliagdo e usar procedimentos al- ternativos. Palavras-chave: Critérios de julgamento — Avaliagéo da aprendizagem. Universidade Federal do Rio de Janeiro e Gerente / Introdugao A educagao voltada para conviver e lidar com os avangos do préximo milé- nio n@o pode ignorar as de- mandas que se instalam nas sociedades contemporane- as, advindas das mudangas contextuais e do progresso tecnolégico, permeadas por uma atmosfera de globalizagéo. Somos alvo, no bom sentido, de cons- tante “bombardeio” de no- ticias e descobertas veicu- ladas pela midia; podemos interagir com redes virtuais de comunicagdo, que assim colocam disponivel, em nossas préprias casas, o conhecimen- to sobre as novidades cientificas mais re- centes. Nas escolas, professores e alu- nos sdo praticamente obrigados a incor- porar recursos tecnolégicos ao seu coti- diano para poderem acompanhar, de perto, o que poderiamos chamar de “ma- ratona intelectual rumo ao século XXI”, na falta de uma expressGo mais criativa. Ensaio: aval. pol. pibl. Edue., Rio de Janeiro, n8, n. 27, p. 129-142, abrijun. 2000 130 Ligia Gomes Elliot O ensino passa entdo a se preocupar com 0 desenvolvimento integral dos alu- nos, com a construgéo do conhecimen- to, com a aplicagéo da capacidade criti- ca edo raciocinio Iégico, com 0 apren- der a aprender, com a formagao de pes- soas competentes, capazes de pensar, criticar e construir. A avaliagéo, voltada para esse novo ensino, assume feicées diversas da avaliagéo tradicionalmente utilizada nas escolas, que, muitas vezes, se resumia na aplicacgéo de um teste ao final do periodo letivo. Desse modo, a metodologia utilizada na avaliagéo tam- bém precisa “tomar um banho de moderidade”, pois teré que se adaptor as exig€ncias da educagdo que se dese- nha para além do ano 2000. Procedimentos Alternativos de Avaliagéo Nao € a primeira vez que me refiro ao uso de procedimentos alternativos de ava- liagéo em sala de aula. Estes procedimen- tos sdo assim chamados pois, ao invés dos procedimentos tradicionalmente usados, incorporaram alguns principios basicos que permitem acompanhar, de perto, o proceso de ensino-aprendizagem, tornando-o mais adequado ao quadro de novas exigéncias que se apresentam 4 educagéo na atuali- dade. Séo, no verdade, procedimentos que integram as atividades de ensino e de ava- liagGo e, de acordo com Herman, Aschbacher e Winters (1992, p.6), parti- Iham dos seguintes pontos comuns a. pedem ao aluno para desempenhar, criar, produzir ou fazer alguma coisa; b. focalizam raciocinio de nivel mais alto e habilidades de resolugGo de pro- blema; c. usam tarefas que representam ativi: dades instrucionais com significado; d.invocam aplicagées do mundo real; e. pessoas, no lugar de maquinas, fa- zem a corregdo, usando julgamento humano; f. requerem novos papéis instrucional e avaliativo para os professores. Nessa perspectiva, a avaliagéo eo en- sino se articulam estreitamente, pois tanto o processo de ensino quanto os seus resulta- dos sdo focalizados pelos procedimentos avaliativos. Os alunos séo envolvides em atividades atraentes, que trabalham com habilidades cognitivas mais complexas e, muitas vezes, representam pequenos desa- fios. As tarefas propostas passam a fazer mais sentido pois tratam de situagées do cotidia- no, mais préximas dos alunos. Tais tarefas se apresentam de tal modo estruturadas que os alunos se sentem encorajados a buscar no apenas a “resposia ceria”, mas iralém, e acabam se envolvendo em verdadeiros processos de construgéo do conhecimento. ‘As mesmas autoras fornecem exemplos de atividades de ensino- avaliacéo posst- veis de serem empregadas em sala de aula e que pretendem tornar tanto 0 ensino como aaprendizagem mais relevantes, co mesmo tempo em que auxiliam professores e alu- nos a coletar, sistematicamente, evidéncias de como seus esforcos estéo sendo Ensaio: aval. pol. pitbl. Educ., Rio de Janeiro, 08,n. 27, p. 129-142, abrijun. 2000 Critérios de Julgamento: Chave para a Avaliagao da Aprendizagem 131 norteados. Sdo, em sua maioria, sugestOes de tarefos cujo foco é o desempenho dos alunos, que participam de sua elaboragéo em sala de aula, ou mesmo fora dela. En- trevistas, clinicas, que procuram averiguar as dificuldades e facilidades ocorridas na elaboragéo da atividade; observacées do- cumentadas, que registram os procedimen- tos realizados pelos discentes, ilustrando-os com evidéncias; anotagdes sobre a apren- dizagem do aluno, capazes de caracterizar ‘© processo ocorrido com o individuo; auto- avaliagéo do aluno (oral ou escrita), que representa um exercicio de reflexdo e critica para o préprio aluno; entrevistas sobre pro- jetos realizados pelo aluno, que esclarecem a trajetéria por ele percorrida; ou produtos e demonstracées, onde o aluno explica as etapas de elaboracéo; listas de verificagéo de desempenho, que sistematicamente veri- ficam que passos foram tomados, ou os ele- mentos que ainda néo estéo presentes; a fala do aluno, comparada ao resultado de testes padronizados ou de multipla escolha, so exemplos que se encaixam na avalia- Go dos processos de elaboragdo cognitiva doaluno. O professor, ao acompanhar os diversos momentos de desenvolvimento des- sas atividades, pode testemunhar 0 fluxo de raciocinio feito pelo aluno, suas contribui- Ges e criagdes. Assim, torna-se possivel apreciar 0 préprio processo de construgéo do conhecimento do aluno. Jé na categoria de atividades integra- doras, que requerem do professor a avali- acéo do produto desenvolvido pelo discen- te, cabem ensaios escritos ou dissertacées, projetos e portfélios desenvolvidos pelo aluno, todos acompanhados por critérios imediatos de correcGo e atribuicdo de pon- tos; demonstragées ou investigacées feitas pelo aluno, ov pinturas, participagéo em pequenas pecas teatrais ou representacdes e narrativas, também utilizando critérios imediatos de correcéo e atribuicéo de pon- tos; inventérios de attitudes, testes padroni- zados ou de miltipla escolha com secdo para explicagées. Aqui, o professor dispée de evidéncias concretas do que o aluno desenvolveu e também dos critérios para sua apreciagao. Aavaliagéo, no entanto, néo descarta 0.uso de testes mais tradicionalmente co- nhecidos, quais sejam os de resposta sele- cionada pelos alunos. Em certas matérias ou disciplinas, quando conceitos bésicos precisam ser dominados pelos alunos, aplicagdo de testes objetivos, com itens de miltipla escolha, por exemplo, se torna pertinente, Passam a representar uma eta- pa inicial da avaliagéo. Sabemos que existe toda uma “tecnologia de elaboracéo e corregdo” desse tipo de teste, com literatu- ra de facil acesso e bastante conhecida, que por isso no sera tratada neste texto. No caso das atividades integradoras de ensino e avaliagéo aqui mencionadas, voltadas para promover ou incentivar a construgdo do conhecimento, as respos- tas aceitdveis, elaboradas pelos alunos, terdio uma amplitude variével, em compa- ragao com a "resposta cerla” esperada como resultado de um teste de multipla escolha. Assim, ficou claro que se torna necessério julgar a qualidade das respos- tas construidas pelos alunos e, ainda, como eles chegaram &s mesmas, isto 6, 0 pro- cesso de construcdo dessas respostas. Para efetivar esse julgamento, isto é, para corri- Ensaio: aval. pol. ptibl. Educ., Rio de Janeiro, o8, n. 27, p. 129-142, abr jun. 2000 132 Ligia Gomes Elliot gir e atribuir pontos o essas respostas construidas, é preciso saber elaborar e uti- lizar critérios adequados. E este é 0 foco principal deste texto, uma preocupacéo le- gitima de quem deseja avaliar seus alunos com equilibrio, adequacéo e senso de jus- tiga, em um ambiente construtivo de ensi- no-aprendizagem. Critérios: Componentes e Exemplos Costumo abordar 0 tema “critérios para aavaliagéo” lembrando o bem-humorado e inspirado artigo de Verissimo (1989) so- bre um naufrdgio, que passo a resumir. Estavam os sobreviventes do naufragio, aglomerados em um bote salva-vidas, até- nitos com 0 acontecido e com o fato de ter que enfrentara dura e préxima realidade da falta de provis6es. AdiscussGo que se insta- la no pequeno e apinhado bote é a de que seria necessdrio chegar ao limite extremo da antropofagia para que restassem sobreviven- tes, até que um possivel salvamento pudesse ocorrer... A questéo seguinte, (“Quem seria © primeiro a ser sacrificado?”), gerou uma enorme discussdo. Mulheres, no lugar dos homens, foi rebatida pelas mulheres como uma proposta chauvinista; magros, no lugar de gordos, como pouco substanciosa, en- quanto 0 contrario, gordos ao invés de ma- gros, como pouco inteligente, pois os gor- dos eram capazes de “durar mais”, por te- rem mais reservas caléricas! A discussGo seguiu acalorada entre o grupo de ndufra- gos da primeira classe, explorando diversas categorias e dicotomias, até que alguém, da terceira classe, que era a grande maioria, pediv a palavra e declorou que ali, questo era uma sé, de “maioria versus minoria”, pro- pondo que esta, portanto, fosse a primeira a sersacrificada. O cozinheiro de bordo, gran- .de entendido em provis6es, imediatamente iniciou o apreciagéo das "possibilidades caléricas” dos representantes da minoria! A essas alturas do confronto, tamanha foi a movimentacdo no reduzido espaco do bote que este, desequilibrado, virou no mar re- volio, visitado por tubardes vorazes, “que, como se sabe, nao tém nenhum critério”... Deixando de lado qualquer possivel indignagGo pelo final da narragéo e enca- rando a estorinha como tal, buscando-Ihe a moral, podemos verificar como 0 con- ceito de critérios e a sua utilizagéo séo im- portantes, mesmo na vida didria. Se foca- lizarmos nossos atos didrios com mais aten- go, descobriremos que séo intmeras as sityagdes em que avaliamos com base em critérios, conhecidos ou particulares, e to- mamos nossas decisées. Retormando, no entanto, a0 espago edu- cacional de nosso tema, gostaria de escla- recer que “critério”, do grego kriterio, quer dizer “meios de julgar”, ou “um padréo ou regra pela qual algo pode serjulgado”. No caso do ensino-avaliagdo, os critérios ser- vem para comunicar 0 que esté sendo ava- liado e quais os padrées de comparacéo para um desempenho ser considerado acei- tavel. Séo, portanto, de suma imporéncia pora quem avalia, para quem é avaliado e para 0 que seré foco da avaliagéo. Seus componentes principais sdo as dimensdes como bose para julgar o desempenho do aluno; definigdes ou exemplos para tornar claro 0 significado de cada dimenséo; uma Ensaio: aval. pol. piibl, Educ, Rio de Janeiro, 08, n. 27, p. 129-142, abr/jun. 2000 Critérios de Julgamento: Chave para a Avaliagio da Aprendizagem 133 escala de valores para graduar cada dimen- s60; e, quando for apropriodo, padrées de exceléncia para julgar certos niveis de de- sempenho, com exemplos de cada nivel. Aclaboracao de definicées para cada dimensdo do desempenho do aluno ajuda a ter clareza no momento da avaliacao, pois discrimina os elementos desejéveis que devem aparecer nas respostas quando o professor avalia os alunos. Por exemplo, em vez de dizer que “desempenho acei- tavel significa que os alunos mostram com- preensGo da vida em harmonia com o meio ambiente”, podemos dizer, mais es- pecificamente, que “desempenho aceité- vel significa que os relatérios orais e es- critos dos alunos apresentam fatos e exem- plos relativos ao respeito devido ds dife- rentes espécies na floresta e no mar; que a.utilizagao de formas de uso da terra néo incluem queimadas, nem desmatamentos (...)" etc. Dessa forma, fica claro, para professor e alunos, quais os possibilida- des de aspectos a serem considerados nas respostas dadas. Podemos exemplificar cada dimensdo, se esse procedimento for mais apropriado. Ou podemos explicar as dimensées como um conjunto de questdes. Se o professor esté avaliando “capacidade de expressdo escri- ta” e deseja que seus alunos demonstrem fluéncia, poderia fazer perguntas tais como: oe rere liminar de escrita para auxiliar o desenvol- vimento da redacao? Fizeram algum rotei- ro? Organizaram uma lista de boas idéias para uso futuro ou imediato? Quais os alunos que ainda tém problemas de gratia, ou de concordéncia verbal, ou nominal? As escalas que graduam as dimensdes do desempenho do aluno podem ser descri- tivas e usar adjetivos para caracterizor esse desempenho. Para atividades de investiga- G0, por exemplo, o emprego de uma escala com os niveis de evidéncias coletadas pelo aluno orienta 0 proprio desenvolvimento ou a melhoria da atividade, o que faz parte da avaliagéo formativa: nenhuma evidéncia, evidéncia minima, evidéncia parcial e evi- déncia completa. Assim, a cada nivel, 0 alu- no tem nogdo do que precisa ajustar ou mesmo refazer na sua investigacéo. Uma outra ilustracéo de escala descri- tiva focaliza as possibilidades de 0 aluno finalizar uma dada tarefa e, da mesma for- ma que 0 exemplo anterior, sinaliza o que foi possivel executar, servindo formati- vamente 4 avaliagdo: néo completou a ta- refa, completou parcialmente, completou a tarefa, foi além do solicitado. E sempre bom lembrar que a avaliago formativa esté preocupada com o aperfeicoamento, endo precisa de “notas” Numa tentativa de auxilior aqueles que se interessaram pelo assunto e desejam pra- ticar a construgGo de critérios de julgamen- toem atividades de ensino-ovaliagéo, apre- sentarei algumas ilustragdes que podem ser esclarecedoras na elaboracéo de critérios organizados em um instrumento pare ccom- panhamento, julgamento, ou corregdo de tarefas realizadas pelos alunos. O Programa de Avaliagéo da Califémia desenvolveu um conjunto bastante interes- sante e vidvel de critérios para corregéo e atribuigdo de pontos a habilidades relacio- nadas ao ensino de Historia, Os exercicios Ensaio: aval. pol. pibl. Educ., Rio de Janeiro, v8,n. 27, p. 129-142, abrijun. 2000 134 Ligica Comes Eliot relativos ao processo de trabalho em grupo contemplaram quatro tipos de resultados de aprendizagem: aprendizagem em grupo, que inclui aspectos da aprendizagem coopera- tiva; pensamento critico; comunicagéo de idéias; e conhecimento e uso da Histéria. Para cada um dos tipos de resultados foram elaboradas: dimensdes para gradvar, esca- la numérica (1 a 30) para os niveis de de- sempenho diferenciados (1 Vj, além de uma avaliagao de cada nivel de desempenho, que inclui a indicagéo qualitativa do rendi- mento (aquisigéo minima, rudimentar, re- comendavel, superior, excepcional) © Quadro 1 exibe esses diferentes com- ponentes nos niveis |, Ill e V apenas, e em relacéo ao resultado da aprendizagem “pen- samento crifico”. Tal resultado foi seleciona- do uma vez que existe, atualmente, conside- ravel empenho de educadores europeus ‘omericanos para desenvolver e trabalhar com seus alunos a habilidade de pensar critica- mente (Elliot & Filipecki, 1995). Podemos Quadro 1 - Critérios de Julgamento do Resultado da Aprendizagem: Pensamento Critico i | - Aquisigéo Minima (1-6) problema ou questées. informagao. Demonstra pouco entendimento e apenas compreenséo limitada do escopo do - Emprega apenas as partes mais bdsicas de informacéo fornecida. Mistura fato e opinido ao desenvolver um ponto de vista. Tira concluséo depois de olhar rapidamente apenas uma ou duas pecas de Nivel Ill - Aqui dos questoes envolvidas. pelos consequéncias. 0 Recomendavel (13-18) - Demonstra um entendimento geral do escopo do problema e de mais que uma = Emprega os pontos principais da informagéo de documentos e pelo menos uma idéia geral do conhecimento pessoal para desenvolver uma posigéo = Constréi a concluséo pelo exame de informagéo com alguma consideracéo ficagdes das questdes envolvidas. Nivel V - Aquisigéo Excepcional (25-30) - Demonstra um entendimento claro, acurado do escopo do problema e de rami- Emprega toda a informagao de documentos e extenso conhecimento pessoal, que é relevante, acurado e consistente no desenvolvimento de uma posicao. Baseia a conclusdo no exame global da evidéncia, na exploracéo de alternativas razodveis, e na avaliacdo das conseqiéncias. Fonte: Herman, Aschbacher e Winters, 1992, p. 46. Ensaio: aval. pol. publ. Educ., Rio de Janeiro, v.8, n. 27, p. 129-142, abrijun. 2000 Critérios de Julgamento: Chave para a Avatiagéo da Aprendizagem 135 afirmar que esse se tornou necessidade fun- damental da educagéo nos dias de hoje. Como jé foi mencionado, o nocéo de “resposta certa” que acompanha os testes compostos por itens objetivos néo caberia nesse exemplo de critérios de correcGo e atribuicdo de escores. Aand- lise das descrig6es de cada critério mos- tra que no hé “uma resposta certa”, mas sim um leque de possibilidades de res- postas adequadas, elaboradas pelos alu- nos. Tal constatagéo leva a concluir que a diferenca fundamental repousa na re- lagdo do instrumento de avaliagéo com a sua finalidade, isto é, para que ele foi elaborado. O instrumento de corregao pode gerar um resultado numérico, mas, embora incluindo uma escala de pontos a serem atribuidos aos alunos, a descri- Go das dimensées trata de habilidades diversas que eles puderam demonstrar durante a consecugéo da tarefa, o que Ihe confere grande utilidade Do mesmo tipo, e igualmente Util, 0 re- sultado de aprendizagem “conhecimento” & mostrado no Quadro 2. As observacées feitas para o primeiro quadro sdo validas para este segundo. A intencdo desse novo Quadro 2 - Critérios de Julgamento do Resultado da Aprendizagem: Conhecimento Nivel | - Aquisigao Minima (1-6) - Reitera um ou dois fatos sem precisdio completa. - Lida superficial e vagamente com os conceitos ou temas. - Quase ndo demonstra conhecimento prévio de histéria. Depende fortemente da informagéo fornecida. Nivel lil - Aquisigdo Recomendavel (13-18) - Relaciona somente fatos relevantes com o tema principal com certo grau de preciséo. - Analisa a informagéo para explicar pelo menos um tema ou conceito com suporte substantivo. - Utiliza idéias gerais de conhecimento histérico prévio com certo grau de precisGo. Nivel V - Aquisicéio Excepcional (25-30) - Apresenta uma andlise precisa das informagées e temas. - Fomece uma variedade de fatos para explorar questoes maiores e menores, e conceitos. - Usa extensivamente o conhecimento prévio para apresentar uma compreenséo profunda do problema e relacioné-lo ac passado e a possiveis situacdes futuras. Fonte: Herman, Aschbacher e Winters, 1992, p. 47. Ensaio: aval. pol. ptibl. Educ., Rio de Janeiro, v8, n. 27, p. 129-142, abr jiun. 2000 136 Ligia Gomes Elliot exemplo é enriquecer as ilustragées sobre critérios de julgamento utilizaveis em situa- Go de ensino-avaliagéo. . Em ambos os exemplos apresentados (Quadros 1 € 2), os instrumentos assumem caracteristicas qualitativas e quantitativas, pois tanto utilizam descrigées das dimen- s6es, como uma escala numérica. Essas caracteristicas tornam os instrumentos de avaliagéo mais facilmente compreensiveis, uma vez que traduzem o significado dos pontos atribuidos. Reconheco que estes sGo instrumentos de ovaliagio refinados, resultado do traba- tho de uma equipe de especialistas, mas que podem ser replicados, ou servir de inspira- G0 a professores ou grupos de professores interessados na construcéo de conjunto de critérios a serem empregados no julgamen- to do desempenho de seus alunos, em um processo de avaliacdo formativa. Um outro exemplo, desenvolvido por Silva (1997), atendendo 4 realidade de ensino em curso de Pedagogia no Rio de Janeiro, é parcialmente apresenta- do no Quadro 3. Trata-se de uma fi- cha para avaliagéo de hiperdocumentos (HD), destinada a julgar a qualidade de “softwares” produzidos pelos alunos como resultado do ensino-aprendiza- gem de uma unidade da disciplina Informética Educativa. Nessa unidade, ‘os alunos tanto aprendiam conceitos basicos, como os aplicavam na cons- trucéo de um hiperdocumento, em du- plas. Essa aplicacéo foi avaliada pela professora, por meio da ficha, apés dis- cusséo dos critérios com os alunos. Observem que os critérios de julgamento tratam de ospectos do contetido abordado eda aplicagdo do contetdo de Informatica; 08 niveis de desempenho sdo trés e, para cada critério, esses niveis so descritos; a cada um foram atribuidos pontos, em es- cala crescente (de 1a 3;de4a7;de8a 10), 0 que permitiu & professora graduar os pontos de acordo com o desempenho demonstrado pelo aluno. Um quarto exemplo, agora sob forma de lista de verificagéo, com opcées de res- posta do tipo sim/néo, foi adaptado de um instrumento apresentado pelo Departamento Regional do SENAI-SP. Sua finalidade 6 a de julgar habilidades pessoais de profissi- onais em formacéio (Quadro 4). Aqui, a situagGo de ensino-avaliagéo se volta para caracteristicas profissionais, praticadas pe- los avaliados. Com um instrumento desse tipo, 0 avaliador vai assinalando os as- pectos prevalentes no avaliado, desenhan- do-lhe o perfil profissional. Quantos e quais s60 os aspectos ou tracos (profissionais) esperados, ou suficientes, ao final de um treinamento ou curso de capacitagéo? Essa é uma resposta a ser definida a partir do perfil desejado para o futuro profissional. O mesmo instrumento também servira de orientagdo para os treinandos, se a ava- liagGo nele registrada for discutida. E inte- ressante atentar para o fato de que este exemplo de instrumento possui apenas di- mensées qualitativas. Um titimo exemplo, voltado para a ava- liagéio de material instrucional, foi desen- volvido pelo Departamento de Educagéo da California (Quadro 5). Contém os cri- Ensaio: aval. pol. pitbl. Educ., Rio de Janeiro, v.8, n. 27, p. 129-142, abrijun. 2000 Critérios de Julgamento: Chave para a Avaliagéo da Aprendizagem 137 Quadro 3 -Ficha de Avaliagéo Nivel 1 Nivel 2 Nivel 3 Critério Inadequado Satisfatorio Adequado (1-3) (4-7) (8-10) Adequacao ao OHDesta Parte considerdvel |O HD esta conteido inadequado ao do HD esta adequado ao Especificado contetdo proposto. | adequada. conteddo proposto. [10] Corregao do OHD apresenta OHD apresenta OHD apresenta contetdo contetdo com conteddo com conteddo correto, [10] vGrias incorregdes e | poucas incorregdes_| sem erros eros gramaticais }e/ou alguns erros __| gramaticais e de e de ortografia. gramaticaise de —_| orlografia. ortografia. Contribuigées ao OHD contém OHD contém OHD contém contetdo pouca ou nenhuma |algumas numerosas [19] contribuicdo; os contribuigdes; os contribuigées que autores limitaram-se | autores usaram mais| indicam uma go uso de uma de uma fonte. pesquisa efetiva de Unica fonte. material em diversas fontes. ‘Organizagao e A organizacao das [A organizacao das | As informagées ligagao das informagées no HD | informagées no HD | estéo informagées 6 inadequada; 6 adequada; adequadamente [19] muitas ligagées algumas ligagées_—_| organizadas; ‘apresentam apresentam nenhuma ligagéo desconexdo desconexaio apresenta semantica. seméntica. desconexéo seméntica, Facilidade na OHD nao O HD oferece OHD oferece a navegacao possibilita que o alguma possibilidade de o [10] usuario explore possibilidade de usuGrio explorar apenas nés de seu | exploracéo de nés_ | apenas nés de seu interesse. de interesse. interesse. Fonte: Silva, 1997 térios_descritos em trés dimensdes--con- teddo, apresentagéo e didatica, além de uma escala numérica apresentada sob a forma de percentual, novamente combinan- Ensaio: aval, pol. pitbl. Edue., Rio de Janeiro, v8, n. 27, p. 129-142, abrijun. 2000 138 Ligia Gomes Elliot do aspectos qualitatives com quantitativos para facilitar o trabalho da avaliagao. Penso que € um exemplo stil a cursos de forma- Go de profissionais da educacGo ou simi- lares, onde a situacéo de elaborar e/ou julgar a qualidade de materiais de ensino pode ser focalizada. O exemplo serve as- sim tanto para orientar a elaboracéo dos materiais, quanto a sua avaliagéo. Acomplexidade de alguns instrumen- tos de julgamento e seus critérios ou a completude de outros poderia colocar em dévida a viabilidade de sua utilizagéo em sala de aula. Cabe entéo perguntar quais seriam as vantagens de trabalhar com critérios como esses em situagGes de en- sino, focalizando tanto 0 processo de de- senvolvimento da aprendizagem, como seus resultados. Resumidamente, posso afirmar que a definigéo e 0 uso de critérios auxiliam o professor a definir o que € exceléncia, isto &, a qualidade a ser alcancada, e, em se- Quadro 4 - Critérios para Julgar Habilidades Pessoais Habilidades Pessoais () coordenagso () didlogo constante textos 1. Organizagéo | 2. Comunicagéo 3. Competéncia 4.Autonomiae | 5. Resisténcia e Interpessoal Infelectual Responsabilidade Presséio (Jevto-suficincia |) cooperacdo () copacidade de () iniciava (tengo (Jeopacidede de —_|( ) expressdo oral solucioner problemas |{ ) discipline ( ) copecidede de ovo-ovoliogso | )expressdo escrito —_|( }copacidode de () sento de qualidede | concentagéo ()eopacidede de |) equiliorio. tronsferéncia (_) enzo de segurongo ||} fexbilidede plonejomento |) iderango emergencial |{ ) ltwrae interpretagdo de |( ) ulgomento { ) persisténcia { } uso de técnicas de () preciso ()ergumentagéo () racionalizogee cbjetivo oprendiaagem () cvidado () paticipagdo ( )reconhecimento de suas limitagbes Fonte: SENAI-DR, 1992. (com adaptagées) guido, o planejar como vai ajudar seus alunos na caminhada rumo.a um dominio competente da “matéria” que estudou e das habilidades que praticou. Nessa trajeté- ria, o professor esclarece os pontos de che- gada, assim como sugere esiratégias e pro- cedimentos de acesso ao conhecimento e 4s habilidades necessdrias para se chegar Ensaio: aval. pol. pabl. Educ, Rio de Janeiro, «8, n. 27, p. 129-142, abrijur. 2000 Critérios de Julgamento: Chave para a Avaliagio da Aprendizagem 139 ales, ao mesmo tempo que envolve seus Ao definir melhor 0 que constitui exce- alunos na realizagéo de atividades edu- _léncia, os critérios apoiam a prépria cons- cacionais significativas, trugéo do processo de ensino-aprendiza- Quadro 5 - Critérios para Selecionar Materiais Instrucionais Contetdo (50%) 1. O conteddo da disciplina foi considerado (5%). 2. O contetdo é tratado acurada e corretamente 15%). 3. O contetido é tratado tematicamente (15%). 4. A profundidade do tratamento é adequada (10%) 5. A énfase é colocada em como se adquire conhecimento cientifico (5%). Apresentagdo (25%) 6. A linguagem é acessivel aos alunos (5%). 7. A prosa é envolvente; a linguagem cientifica é respeitada (10%). 8. A ciéncia é aberta & investigacio € a controvérsia e é apresentada de forma néo-dogmatica (5%) 9. A ciéncia 6 mostrada como um empreendimento conectado @ sociedade (5%). Pedagogia (25%) 10. A experiéncia ativa é enfatizada; hé uma conexdo. explicita com a experiéncia real e a resolugdo de problemas; 0 livro de textos e outros materiais ndo séo a Unica fonte de informagao (15%). 11. Os materiais instrucionais reconhecem a diversidade cultural (5%). 12. A avaliagao reflete experiéncia, integragdo e criotividade (5%). Fonte: Science Curriculum Framework and Criteria Committee, 1990, p.199. Ensaio: aval. pol. pibl. Educ., Rio de Janeiro, 8, n. 27, p. 129-142, abr/jun. 2000 140 gem, sinalizando o que é necessdrio para o.aluno adquirir mais autonomia, e ainda apontando aspectos deficientes da apren- dizagem que precisam ser tratados, ou onde cabe algum aperfeicoamento. Desse modo, uiilizando critérios, os alunos apren- dem a julgar melhor seus proprios traba- lhos, suas produgées. Além disso, ao auxiliar os professores no julgamento do desempenho dos alu- nos, 0s critérios tornam mais claro, para todos os possiveis interessados, isto 6, alunos, professores, diregdo da escola, pais e comunidade, o foco desse julgo- Ligia Gomes Bltiot mento. Fornecem, ainda, aos pais con- digdes de prestarem maior assisténcia ao estudo de seus filhos, em casa, pois dis- péem de diretrizes para se orientar. Em suma, a elaboragéo ou adaptacéo, a discussdo, 0 uso e a divulgagdo de crité- rios para julgamento de atividades de ensino-avaliagGo se tornam elementos imprescindiveis a professores e alunos, dirigentes e pais, e a todos aqueles que estao conscientes dos novos popéis que a avaliagdo e o ensino 1m que assumir pora conviver com, enfrentar, solucionar e superar as demandas educacionais desta nova era. Ensaio: aval. pol. pibl. Educ., Rio de Janeiro, v8, n. 27, p. 129-142, abrijiun. 2000 Critérios de Julgamento: Chave para a Avaliagao da Aprendizagem 141 ABSTRACT The main focus of this article is the elaboration and utilization of criteria to help students and teachers to appraise integrated activities of teaching-evaluation. This kind of activities, based on contemporary theories of learning and cognition, values students’ processes of constructing answers to proposals presented in class as well as their products. Then they require appropriate instruments of appraisal which are different from the ones more traditionally used. Some presented examples can inspire interested people in this subject who wish fo update their evaluation methodology and use alternative procedures. Keywords: Appraisal criteria — Learning evaluation. RESUMEN El foco principal de este articulo es la elaboracién y la utilizacién de criterios para oyudar a los estudiantes y a los maestros a juzgar las tareas integradoras de ensefianza- evaluacién. Esas tareas estén fundamentadas en las ultimas teorlas de aprendizaje y cognicién: valoran tanto el proceso de construccién realizado por el alumno a las Propuestas presentadas en clase como el producto. Estas necesitan de instrumentos de juicio adecuados que son diferentes de los utilizados tradicionalmente. Algunas ilustraciones son presentadas y pueden inspirar a aquellos que desean modernizar la metodologia de evaluacién y usar procedimientos alternativos. Palabras-clave: Criterios de juicio — Evaluacién del aprendizaje. Ensaio: aval. pol. pribl. Educ., Rio de Janeiro, v8, n. 27, p. 129-142, abrjjun. 2000 142 Ligia Gomes Elliot Referéncias Bibliograficas ELLIOT, L.G., FILIPECKI, A. T. Ensinando e avaliondo o pensamento critico. 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