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Aimé Césaire

DISCURSO
SOBRE
O
COLONIALISMO

Prefácio de Mário de Andrade

Cadernos Livres n.15


Interessante notar que Cesáire não está
falando a partir de uma perspectiva es-
senciaalista, ao contrário, ele diz da im-
portância de não se encerrar em si mes-
mo. Mas ele faz a crítica: a forma com que
a Europa o fez, não foi da melhor ma-
neira. Entre o que a Europa chamou de
civilzação e o que ela fez, que foi o pro-
jeto de colonização existe uma distância
muito grande. E não a toa, nao sem de
forma despretensiosa, mas de forma ar-
quitetada. Para isso foram importantes
as falsas equações do pedantistmo
cristão, a hipocrisia coletiva, a legitima-
ção de suas soluções.
Lembra o texto de
Mmembe sobre
necropolítica
Assim que, a
colonização, apesar de
tentar justificar o
contrário, nega a
civilização ou, se
pensarmos na ética
burguesa, esse modelo
de civilização se funda
justamente no projeto
colonial, é deste
civilização de que se
trata e que comporta
suas contradições, isto
é, não apesar da
colonização, mas com
ela e a partir dela.
É mais fácil p processo de
desumanização na prática
quando o outro já está
ideologicamente destituido de
humanidade. É difícil que se
aceite que pessoas humanas
e humanizadas sejam tratadas
como animal, causa o mínimo
de repulsa, o mínimo de
constrangimento, o mínimo de
senso de justiça, como ele
citou do holocausto, quando
ocorreu com europeus,
brancos. Mas que, ainda que
com as mesmas práticas e
com sujeitos humanos, não
gerou o mínimo de comoção e
constrangimento quando
ocorreu com povos
racializados, negros e
indígenas, como ainda hoje
acontece com a população
negra ou lgbtqia+ no BR, por
exemplo.

E ai quando ele fala "tende a


transformar-se ele próprio em
animal" me parece que a coisa se
amplifica a medida em que ambos,
opressor e oprimido se afastam
das práticas que poderíamos
chamar de humanizadas - se é que
posso chamar assim, sempre fico
na duvida pq a lógica do humano
tmb é a lógica do que é cruel. Um
animal mata não por aquilo que
chamamos de crueldade, mas pro
suprimento de suas necessidades
básicas, então é difícil em falar em
uma lógica humana como algo
necessariamente bom ou saudável.
Pensar sobre isso.
Além disso, acrescento, é difícil
usar esses termos sem se desviar
para a lógica cristã do bom, do
moral e eticamente correto.
Nesse sentido, acho muito
adequado o termo que Cesaire usa
quando diz que colonização =
coisificação, estatuto de coisa, não
da ordem do que o colonizador
ousou de chamar de animal ou de
uma selvageria, mas coisa, objeto.
Lembra o texto da Grada
Kilomba quando, ao falar
sobre a imagem da criança
negra que recebe o olhar
branco, ela diz "Apenas
imagens positivas, e eu
quero dizer imagens
positivas e nao idealizadas,
da negritude criadas pelo
proprio povo negro, na
literatura e na cultura visual,
podem desmantelar essa
alienação"

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