Interessante notar que Cesáire não está falando a partir de uma perspectiva es- senciaalista, ao contrário, ele diz da im- portância de não se encerrar em si mes- mo. Mas ele faz a crítica: a forma com que a Europa o fez, não foi da melhor ma- neira. Entre o que a Europa chamou de civilzação e o que ela fez, que foi o pro- jeto de colonização existe uma distância muito grande. E não a toa, nao sem de forma despretensiosa, mas de forma ar- quitetada. Para isso foram importantes as falsas equações do pedantistmo cristão, a hipocrisia coletiva, a legitima- ção de suas soluções. Lembra o texto de Mmembe sobre necropolítica Assim que, a colonização, apesar de tentar justificar o contrário, nega a civilização ou, se pensarmos na ética burguesa, esse modelo de civilização se funda justamente no projeto colonial, é deste civilização de que se trata e que comporta suas contradições, isto é, não apesar da colonização, mas com ela e a partir dela. É mais fácil p processo de desumanização na prática quando o outro já está ideologicamente destituido de humanidade. É difícil que se aceite que pessoas humanas e humanizadas sejam tratadas como animal, causa o mínimo de repulsa, o mínimo de constrangimento, o mínimo de senso de justiça, como ele citou do holocausto, quando ocorreu com europeus, brancos. Mas que, ainda que com as mesmas práticas e com sujeitos humanos, não gerou o mínimo de comoção e constrangimento quando ocorreu com povos racializados, negros e indígenas, como ainda hoje acontece com a população negra ou lgbtqia+ no BR, por exemplo.
E ai quando ele fala "tende a
transformar-se ele próprio em animal" me parece que a coisa se amplifica a medida em que ambos, opressor e oprimido se afastam das práticas que poderíamos chamar de humanizadas - se é que posso chamar assim, sempre fico na duvida pq a lógica do humano tmb é a lógica do que é cruel. Um animal mata não por aquilo que chamamos de crueldade, mas pro suprimento de suas necessidades básicas, então é difícil em falar em uma lógica humana como algo necessariamente bom ou saudável. Pensar sobre isso. Além disso, acrescento, é difícil usar esses termos sem se desviar para a lógica cristã do bom, do moral e eticamente correto. Nesse sentido, acho muito adequado o termo que Cesaire usa quando diz que colonização = coisificação, estatuto de coisa, não da ordem do que o colonizador ousou de chamar de animal ou de uma selvageria, mas coisa, objeto. Lembra o texto da Grada Kilomba quando, ao falar sobre a imagem da criança negra que recebe o olhar branco, ela diz "Apenas imagens positivas, e eu quero dizer imagens positivas e nao idealizadas, da negritude criadas pelo proprio povo negro, na literatura e na cultura visual, podem desmantelar essa alienação"