Você está na página 1de 63
D3 PROVINCIA an) Mean Wiiilede Loe aes ET Aer aed Sede OT a ia TLC rT Zaey Tete Team Tsao Oh a ele eal eee T Vs TMT CT WLLLTETTN yeas) oy oT W ETT? Mi (alae) a Ie , ner eyinsagt u Weal au eet aL) rote se ; ar cl ye ¥) Ua es UL le ae el sell a) Os fundamentos da alienacao da mulher Excerto de “A Libertagdo da Mulher é uma Necessidadi evolucdo, Ge i . da Revolugdo, Garantia da sua Continuidade, Condigéo do seu Triunfo”, brochura de 1973 a) O sistema de exploragio como ponto de partida Ff evidente que se falamos de emancipacao da mulher isso significa implicitamente que ela é oprimida, explorada. Importa compreendermos as bases dessa opressao, dessa exploracao. Comecemos por dizer que a opressio da mulher é uma consequéncia da sua exploragio, a opressao na sociedade é sempre 0 resultado da exploracdo imposta. O colonialismo nao nos veio ocupar com 0 objetivo de nos prender, de nos chicotear ou dar palmatoadas. Ele invadiu-nos, ele ocupou-nos com o objetivo de explorar, as nossas riquezas, explorar 0 nosso trabalho. Para nos explorar, para suprimir a nossa resisténcia a exploracgao e impedir uma revolta contra ela, introduziu entao o sistema de opressio. A opressio fisica, com os tribunais, a policia, as forcas armadas, as prisdes, as torturas, Os massacres. A opressio moral, com o obscurantismo, @ superstigao, a ignorancia, destinados a destruir 0 espirito de iniciativa criadora, liquidar o sentido de justiga e critica, reduzir a pessoa a passividade, & aceitagao do estado de explorado e oprimido como co normal. Dent do processo surge entio a humilhagio ¢ 0 desprezo, porque ea que explora e oprime tem tendéncia a humilhar e desprezat a V Consider4-la como naturalmente inferior. Aparece Suprema da humilhagdo e do desprezo. O mecanism eerie wont eidéntico ao mecanismo da aliens 7 . veep ; ade colonial, ou do trabalhador na socies ind de: i © racismo forma da Jo na o da alienay’ 215 A partir do momento em que a humanidade . Primitiyg do que consumia, foram criad AS aS bases ; amada que se . Besta Apropriacig do resultado do trabalho das massas por um punhado de elementos na sociedade que constitui a esséncia comegou a produzir m: materiais para que no scio da sociedade surg © uma ¢ iria apropriar dos frutos do trabalho da maiori do sistema de exploragio dy homem pelo homem e 0 coragao da contradi¢ séculos divide a sociedade. do antagdnica que ha Logo que se desencadeou 0 processo de exploracio, a mulher na sua generalidade, como o homem, foi submetida a dominacao das camadas privilegiadas. A mulher é também um produtor, um trabalhador, mas com qualidades particulares. Possuir mulheres é possuir trabalhadores, trabalhadores gratuitos, trabalhadores cuja totalidade do esfor¢o de trabalho pode ser apropriada sem resisténcia pelo esposo, que é amo e senhor, Casar-se com muitas mulheres na sociedade de economia agraria torna-se um meio certo para acumular muitas riquezas. O marido assegura-se de uma mao-de-obra gratuita, que nao reclama nem se revolta contra a exploracao. Dafa importancia da poligamia nas zonas rurais de economia agraria primitiva. A sociedade, compreendendo que a mulher é uma fonte de riqueza, exige que um Pre¢o seja pago. Os pais requerem do futuro genro o pagamento dum Prego, 0 “lobolo”, para cederem a filha. A mulher é comprada, herdada, como se fosse um bem material, uma fonte de riquezas. Mas mais importante ainda: comparada com 0 escravo, por exemplo, que também é uma fonte de riqueza, que também é um trabalhador gratuito, a mulher oferece duas outras vantagens ao seu Proprietario; € uma fonte de Prazer, e, sobretudo, é uma produtora de outros trabalhadores, uma produtora de novas fontes de riqueza. Este Ultimo aspecto é particularmente significativo. Assi um marido tera na sociedade o direito de repudiar a mulher ede Sxigira devolucéo do lobolo quando a mulher for estéril, ou 0 marie Pensar que ela assim 0 & Nota-se ainda que em muitas sociedades: 216 ntes do valor da forga de trabalho dos filhos gerados pela conscie Aare mulher, Se estabelece 0 principio de que estes pertencem ao cla maternal, a familia da mae. Na nossa sociedade € também corrente a pratica de os filhos continuarem a pertencer a farnilia da mae sobretudo enquanto 0 marido nao tiver satisfeito a totalidade do Jobolo, isto é, 0 prego da compra dessas riquez: produz a sobrevalorizagao da fertilidade da mulher, a transformacao da relagio homem-mulher em mero ato de procriagao. s. f este contexto que Mas uma situaco particular surgiu. O explorador, gracas a sua dominacao sobre as massas, adquiria vastas riquezas, enormes propriedades, manadas de gado, ouro, joias, etc. Apesar das riquezas, como todo o homem, continuava mortal. Punha-se entao 0 problema do destino dessas riquezas; por outras palavras, a questao da heranca torna-se fundamental. A mulher é a produtora dos herdeiros. Compreendemos assim, que 0 ponto de partida da exploragao da mulher e de sua consequente opressdo encontra-se no sistema de propriedade privada dos meios de produgao, no sistema de exploragao do homem pelo homem. b) Os mecanismos ideoldgicos e culturais da domina¢ao A sociedade da propriedade privada dos meios de produgao, Sociedade de exploracao do homem, cria e imp6e a ideologia e cultura que defenderao os seus valores, assegurardo a sua sobrevivéncia. A @ploracio econémica da mulher, a sua transformagao em produtor ai direitos, a servico do proprietéario — esposo ou do proprietario opm a elaboragao da ideologia e cultura adequadas, a que nies am sistema de educagao que as transmitam. E evidente a dum ato dnico e total, mas dum processo que se elabor, 4 € refing 2 wpa . . fina durante os milénios em que a sociedade existe. O obscura 4 math »bscurantismo & 0 ponto de partida do processo. Manter rio, é F na ignorancj ‘ ‘ tni. © pring 'ghorancia, ou s6 educd-la o minimo ni ipio gery th ‘4 PO geral. Em toda a parte vemos que o analfabetismo é 217 sempre superior nas mulheres que, embora constituam a maioria da pre como minoria nas es olas, nos liceus, populagao, aparecem sem) nas universidades. As civilizagées mais desenvolvidas do passado, como hoje ainda na sociedade capitalista, sempre mantiveram a clencia como monopdélio do homem, seu dominio exclusivo. Manter a mulher separada da ciéncia é impedi-la de descobrir que a sociedade é criada em fungao de certos interesses precisos, € que por consequéncia é possivel modificar a sociedade. O obscurantismo, a ignorancia, sio irmaos gémeos da superstigdo e os pais da passividade. Todas as supersticdes, as religides, sempre encontraram © terreno mais fértil no seio da mulher, porque esta se encontrava mergulhada na maior ignorancia e obscurantismo. Na nossa sociedade, os ritos e ceriménias aparecem como 0 veiculo principal de transmissao dos conceitos da sociedade sobre a inferioridade da mulher, sobre a sua subserviéncia em relacio ao homem. E a este nivel ainda que se propagam numerosos mitos e supersti¢des que se destinam objetivamente a destruir o espirito de iniciativa da mulher; e reduzi-la a passividade. A propria educagao familiar acentua e reforca estes diversos aspectos. Desde crianga a rapariga é educada duma maneira diferente do rapaz, é-lhe inculcado um sentimento de inferioridade. Nada disso é surpreendente: como dissemos, a sociedade exploradora fomenta a ideologia, a cultura, a educagado que servem aos seus interesses, Ela fa: zcom 0 colonizado socom a mulher, como 0 fa ou o trabalhador nos paises capitalis' sdo mantidos a . Todos eles cliberadamente na ignorancia, obscurantismo e supersti vista a convencé-los a re: Jo, com ; signarem-se a sua situagao, a inculcar-lhes 0 espirito de passividade e servilismo, © racismo surge aqui: 0 colonizado é definide como S¢ huma . or é “mano de segunda categoria, em fungdo da sua cor, A mulher ¢ 218 definida como ser humano inferior por causa do seu sexo, Nos paises capitalistas da Europa dirao que a mulher é uma criatura com cabelos compridos € ideias curtas. O processo de alienagao mental atinge o ponto culminante quando 0 elemento explorado, reduzido a passividade total, j4 nao consegue imaginar que possa existir uma possibilidade de liberta¢ao, e ele proprio se torna em agente difusor da teoria da resignacio e passividade. Devemos reconhecer que a dominacao multissecular da mulher a reduziu em grande parte a este estado de passividade, que a impede mesmo de compreender a sua condigao. c) A definicéo do antagonismo Importa compreender corretamente a natureza da contradi¢ao ou das contradicées que se encontram em jogo, pois sé depois de as compreendermos estaremos em condi¢des de definir os alvos do nosso ataque, conceber a estratégia e a tactica adequadas ao nosso combate. Vimos que o fundamento da dominacio da mulher se encontrava no sistema de organizaciio da vida econémica da sociedade: a propriedade privada dos meios de producao, que necessariamente conduz a exploracdo do homem pelo homem. Quer isto dizer que, na sua esséncia, a contradigao entre a mulher e a ordem social, para além das condigdes especificas da sua situacio, é a contradicdo entre ela e a exploragao do homem pelo homem, entre ela e a propriedade privada dos meios de produgio. Por outras palavras, essa contradi¢ao é a mesma que existe entre as massas Populares trabalhadoras e a ordem social exploradora. Sejamos claros neste ponto: a contradi¢ao antagdnica niio é entre a mulher e o homem, mas, sim entre a mulher ea ordem social, entre todos os explorados, mulheres e homens, €@ ordem social. E &: Situagao de explorada que explica a sua auséncia de todas as Ee 0° = concepgao e decisio no seio da sociedade, que a exclui da elaboragio 219 das concep¢Ges que organizam a vida econdmica, so cial, cultural @ politica, mesmo quando os seus interesses estao direta: mente afetados, E este o aspecto principal da contradicao: a su, esfera de decisao da sociedade. Esta contradi¢ao sé Pode ser Tesolvida pela Revolugao porque sé a Revolucao destréi os alicerces da Sociedade exploradora e reconstréi a sociedade em bases novas, que libertam a iniciativa da mulher, integram-na como ser responsavel na sociedade ea associam a elaboracao das decisdes. a exclusag da Por consequéncia, da mesma maneira que nao pode haver Revolucao sem libertagio da mulher, a luta pela emancipacao da mulher nao pode triunfar sem a vitoria da Revolucio. Devemos ainda dizer que os fundamentos ideoldgicos e culturais da sociedade exploradora, que mantém dominada a mulher, sao destruidos pelo progresso da Revolugao ideolégica e cultural, que imp6e a sociedade novos valores, novos métodos, novo contetido da educagio e cultura. Mas, além desta contradicao antagénica entre a mulher eaordem social, surgem ainda, como reflexo, outras contradicées que, com cardcter secundario, opdem a mulher ao homem. © sistema de casamento, a autoridade marital fundada exclusivamente no sexo, a frequente brutalidade do marido, a sua recusa sistematica em tratar a mulher como seu igual, constituem fontes de atritos e contradi¢ées. Por vezes mesmo, em certos casos limites, estas contradicdes secundarias, porque nao resolvidas corretamente, agudizam-se e resultam em consequéncias graves como 0 divércio. z = ue Mas nio sao estes fatos, por graves que possam set, 4 alteram a natureza da contradi¢ao. Importa sublinhar este aspecto porque, na nossa ee Presenciamos, sobretudo no mundo capitalista. uma oan ideolégica que, sob a camuflagem de luta de libertagio fa pretende transformar em antagdnica a contradigao com 0 | dividindo assim homens e mulheres — explorados, para i" mem, npedit 220 nbatam a sociedade exploradora. Na realidade, para além da demagogia que encobre a sua natureza real, esta ofensiva ideoldgica é uma ofensiva da sociedade capitalista para confundir as mulheres, a sua atengao do alvo verdadeiro. que con desviar No nosso scio aparecem pequenas manifestagdes desta ofensiva ideolégica, Ouvimos aqui € acold, mulheres murmurarem contra os homens, como se fosse a diferenga dos sexos a causa da sua exploragio, como se os homens fossem uns monstros sddicos que tiram o seu prazer da opressio da mulher. Homens e mulheres sio produtos e vitimas da sociedade exploradora que os criou e educou. E contra ela essencialmente que mulheres c homens unidos devem combater. A nossa experiéncia pratica tem provado que os progressos obtidos na libertaco da mulher resultam dos sucessos obtidos no nosso combate comum contra o colonialismo e imperialismo, contra a exploracao do homem pelo homem, pela construcao da nova sociedade. 221 Estabelecer o Poder Popular para servir as massas Brochura de 1974, Celebramos neste ano de 1974 0 10° aniversdrio do desencadeamento da nossa luta armada. Dez anos durante os quais inumeros militantes e 0 povo aceitaram toda a espécie de sacrificios e todo 0 tipo de privagoes, dez anos a superar dificuldades e a provarmos que somos capazes de alcangar a vitoria. Comeg¢amos ja a conhecer a vitéria, Em regides cada vez mais vastas da nossa Patria 0 povo ja compara e diz “antes da Revolugao” e “hoje”. O nosso povo comega a saborear o fruto da sua luta. Mas ao mesmo tempo todos estamos conscientes que a vitoria final nao é para amanhi e que um longo caminho ainda nos espera. Qual a razao dos nossos sacrificios? Porque motivo 0 inimigo se mostra tao intransigente e cruel? E porque razao, apesar da condena¢ao de todos os homens justos no mundo, ele continua a encontrar os apoios e ajudas necessarios para prosseguir os seus crimes? Sera que tudo isto tem lugar apenas porque queremos a nossa Independéncia? Mas afinal em 1143 e em 1640, Portugal também lutou pela sua Independéncia. Os Estados Unidos que hoje apoiam o colonialismo Portugués fizeram no século XVIII uma guerra para se libertarem do ade e 7 independentes. A Franga e a Inglaterra que arom da 1999 eyes ortugal fascis ae colonialista, lutaram ainda ha poucos enscifiaoun tye - cones ° fasclamo hitleriano, sofrendo grandes perdas Preservarem a independéncia nacional. A volta independentes, Mt Mogambique encontramos muitos paises \gascar que era coldnia francesa, Tanzania, 222 Zambia, Malawi, Suazilandia, antigas colénias britanicas. E todos estes paises tornaram-se independentes através de negociagées entre a poténcia colonizadora e a colénia. Porque razao a Inglaterra e a Franga aceitaram reconhecer a maioria das suas colénias 0 direito 4 independéncia, e hoje apoiam uma guerra colonial? Porque entao dez anos de guerra colonial, dez anos de bombardeamentos, dez anos de massacres de populagées, dez anos durante os quais a OTAN e 0s paises ocidentais tém feito tudo para ajudar Portugal? Nos dizemos frequentemente que no curso da luta a nossa grande vitoria foi saber transformar a luta armada de libertacao nacional em Revolucao. Por outras palavras, o nosso objetivo final de luta nao é icar uma bandeira diferente da portuguesa, fazer eleigdes mais ou menos honestas em que pretos e nao os brancos sao eleitos, ou ter no Palacio da Ponta Vermelha em Lourenco Marques um Presidente preto, em vez dum Governador branco. Nés dizemos que © nosso objetivo é conquistar a independéncia completa, instalar um Poder Popular, construir uma Sociedade Nova sem exploragao, para beneficio de todos aqueles que se sentem mogambicanos. E aqui que se encontra a explicacéo da guerra. Como um homem assaltado de piolhos é obrigado a mergulhar a roupa na agua a ferver para liquidar os piolhos sem se interessar pela cor ou origem dos piolhos, nés fomos obrigados a aceitar mergulhar 0 nosso pais no fogo da guerra para liquidar a exploragdo, qualquer que seja a sua origem ou cor dos seus agentes. O que esta em causa ¢, pois, o estabelecimento do Poder Popular ue afirma a nossa independéncia e personalidade e liquida a exploragao, © que implica ica fome! ue implica a destruigdo do Poder dos exploradores que a fome ita. E por isso mesmo que os paises imperialistas que vivem da dos em que a €xploracdo ya 40 vem socorrer Portugal porque esto intere exploraca gal porq Tago continue, 223 Hoje, gragasa nossa luta, um Poder novo constrdi-se na Nossa Patria Dez anos de Poder da FRELIMO nao é muito, Jovens que Somos, assumimos responsabilidad esmagam os velhos, 0 Poder dos exploradores tem centenas e milhares de anos de experi Nia, enquanto o nosso Poder é jovem e, ao mesmo tempo, tem de resolyer os problemas que o Poder milenar dos exploradores nunca conseguiu, sque a abstrata. O Poder novo somos s, quem tem de o exercer, O Poder novo nao é uma coi nos, com todas as nossas insuficiénci: descer 0 Homem Novo capaz de De nenhuma nuvem exercer o Poder novo. é ainda pequena. Mas temos uma grande vantagem que é decisiva: possuimos a linha de orienta¢ao correta, as massas estao conosco. Mas ao construirmos 0 nosso Poder, ao exercé-lo, trazemos em nés, nas ideias, nos habitos e nos costumes, todas as deformacées criadas pelo Poder antigo. Por isso continuamente temos que retificar os nossos métodos de trabalho, introduzir o bisturi da critica e da autocritica, para amputar a heranca enorme, pesada e negativa que nos transmite a sociedade antiga. Para este décimo aniversdrio que celebraremos em breve queremos analisar 0 nosso Poder, repensar a nossa atividade, estudar 0 que fizemos eo que resta para fazer e, sobretudo, corrigir as deformagoes. Comegaremos por estudar, na primeira parte, 0 que é0 Poder © que exprime e que valores incarna. Analisaremos a diferenga 4¥° existe na origem, natureza, métodos e objetivos entre o Poder colonial capitalista e o Poder Popular construido sob a diregao da FRELIMO- 1 condigdes rimigo & 4 som efeit er dum Ao abordarmos esta questio crucial estaremos eu de compreender a razio porque 0 conflito entre nds e 0 it tal maneira antagénico que sé a guerra o pode resolver. C a edificacao do Pod Poder Popular que exprime a subida ao 224 nova classe, s6 é possivel quando a classe anterior e © seu Poder sio derrubados. 5 ao assumirmos esta nogao que estamos em condi¢ées de verificar a impossibilidade de conciliar os nossos interesses com a do inimigo, através de pretensas autonomias ou de independéncias, que salvaguardam a esséncia do Estado colonial capitalista. A natureza popular do Poder em vias de edificagio implica uma democracia profunda e real, que nunca existiu na Historia da nossa Patria. Assim como 0 Poder, a Democracia nao é uma coisa abstrata: para que ela se exerca e possua um conteuido concreto é necessario que organizemos as condigées para a sua materializa¢ao. Por isso uma segunda parte é consagrada ao estudo da Democracia, nova experiéncia que pela primeira vez 0 nosso povo vive. Finalmente, porque nos nossos diversos centros o Poder Popular e Democratico ja é exercido na pratica, eles aparecem como laboratérios da nossa experiéncia e centros difusores da nossa linha e dos seus resultados praticos. Importa, pois, que precisemos como 0s nossos centros devem cumprir essa tarefa e quais os requisitos, indispensdveis para que levem a cabo a sua missao histdrica. 1. O poder dos exploradores é para oprimir 0 povo. O nosso poder é 0 poder do povo No processo do desenvolvimento historico das sociedades, entre os homens foram forjadas diversas relagées sociais. Na aurora da Humanidade, quando se opera a transigio 0s simios em homens, os seres pré-humanos viviam em bandos rn dominados pela preocupacdo de sobreviver. A oni consepute ae consumida imediatamente e frequent ea tos alimentary. Satisfazer as necessidades basicas. Os seres pe 'am-se de raizes, frutos selvagens e cadaveres de animais. 225 Assim viveram durante centenas de milhares de anos os antepassados da Humanidade. A partir dum certo momento esses antepassados comegam a utilizar ossos OU paus para escavarem as a cagar animais. Comegam a utilizar instrumentos para produgao ainda que extremamente ao homem. A produgao demarca raizes, par produzirem a sua alimentagao, a primitiva inicia-se, 0 simio da lugar © homem do animal e liberta o seu cérebro, abrindo-lhe 0 caminho para 0 progresso. Com o aparecimento da produgéo, numa primeira fase a colheita e caga, numa segunda fase a agricultura e a cria¢ao de gado, a Humanidade comega a desenvolver-se. Surgea divisdo do trabalho, 0 melhoramento dos instrumentos de produgao e das técnicas de produgao. Com isso 0 esforco produtivo do homem ja consegue produzir mais do que aquilo que ele proprio necessita para subsistir. A producao cria um excedente. O aparecimento de excedentes na producao fornece a base material, as condig6es objetivas para que surjam no seio da sociedade forcas que procuram apropriar-se desses excedentes em detrimento dos que produziram. A sociedade divide-se em classes opostas, com interesses diferentes: uns querem apropriar-se do fruto do trabalho dos outros, enquanto estes ultimos recusam. As relagées humanas que até aquele momento eram de cooperagio tornam-se relagdes de luta entre exploradores e explorados, isi BE claro que todo este processo levou centenas de milhares no a i ia i ‘ 0S, peaitol do dia para a noite que surgiram interesses opostoS asses antagonicas, Mas 0 fundamental é 0 processo. Desde que na soci na sociedade aparec i s antagonicos, ag ip ceram interes: d diferentes © es Juestio do “Poder”, o problema de saber quem dev? + que critérios usc i ; Heck ae ae usar para decidir em favor de quem, tornou-s? 40 fundamental no seio da sociedade. 226 Um grupo determinado s6 podera impor os seus interesses e fazer triunfar os seus objetivos se possuir 0 controle da sociedade, por outras palavras, se dirigir essa sociedade. Dirigir a sociedade significa organi aos interesses do grupo dirigente, impor a vontade deste grupo a todos 0s outros grupos, quer estejam de acordo ou nao. Com o correr do tempo o grupo dirigente leva os outros grupos a considerarem a sua dominacao como a melhor, a mais justa e a mais sabia, a que corresponde aos interesses de todos. ra sociedade para servir Isto é assim até ao momento em que as novas forgas no seio da sociedade tomam consciéncia dos seus interesses prejudicados pelo grupo dirigente, unem-se, lutam, derrubam o poder anterior e instalam 0 seu novo poder, reorganizando a sociedade para satisfazer Os seus apetites. Até uma época recente da Histéria da Humanidade, foram as diversas classes exploradoras — senhores de escravos, feudais, burgueses — quem sucessivamente dominou a sociedade e a organizou politica, econémica, ideoldgica, cultural, administrativa e juridicamente em seu favor. Assim foi porque as largas massas exploradas nem tinham a suficiente consciéncia de classe que as unisse, nem possuiam a ideologia capaz de lhes dar a visio do conjunto dos seus interesses € capaz de lhes fornecer a estratégia e tatica de luta adequadas para a conquista e exercicio do poder. Historicamente,a primeira vez queas largas massas exploradas, apés varias tentativas fracassadas, conquistaram e exerceram 0 Poder, foi em 1870 em Paris. A Comuna de Paris foi esmagada ao fim de s franceses € OS alguns meses pela coligagdéo entre os reacionar! reaciondrios alemaes, e 30.000 trabalhadores foram massacrados. Em 1917, finalmente, sob a diregio de Lénin, as massas &xploradas conquistaram 0 Poder na Riissia czar ista e construiram a ado no mundo com o povo no Poder. Unido sovie 2 Nido Soviética, o primeiro Fst 227 guerra antifascista, 0 A partir da vitéria das forgas democraticas na Poder Popular estendeu-se a novos paises como a China, a Republica Democratica da Coreia, ea Republica Democratica do Vietnd na Asia. Na Europa o Poder Popular foi erigido em numerosos paises tais como a Republica Socialista da Roménia, a Republica Democratica Alema, a Republica Socialista da Bulgaria, etc... Na América Latina, com a vitoria das forcas populares em Cuba em 1959 instalou-se 0 primeiro Estado Popular no continente americano. A instalagao do Poder Popular tornou-se uma realidade para perto de 1/3 da Humanidade. As zonas em que as massas trabalhadoras conquistaram © Poder sao conhecidas como “campo socialista”, constituido hoje por 14 paises. senhores de escravos, feudais, reis, dominaramasociedadeatéaconquista colonial. A burguesiacolonialista instalou-se entdo no poder e impés a sua vontade a todas as camadas do pais até ao momento em que a nossa luta comegou a derrubé-la. A dominagio sucessiva das diversas minorias exploradoras — a ditadura sobre as massas — € exercida sempre duma maneira mais ou menos camuflada a fim que as massas nao compreendam a sua verdadeira situagdo e nao se apercebam que esto sujeitas a opressao. sta colonial, os régulos e chefes ue o seu poder representava No nosso pais, imperadores, No nosso pais antes da conqui tribais que exerciam 0 poder afirmavam q) a vontade dos antepassados. Por exemplo, em certos reinos, 0 povo Di rei, noutros casos era proibido falar ao rei, sé se p dio podia ver a cara do odia ouvir a sua Voz. Ainda nos nossos dias, em algumas regides em que 0 poder dos é habitual encontrarmos régulos permaneceu relativamente intacto, situagdes deste género que camuflam, com os mitos € a supe igdo, a realidade cruel da opressao dos senhores feudais. Os colonialistas, para melhor camuflarem a sua dominagao e impedi 5 as de c, pedirem as massas de compreenderem e se revoltarem contra a ssim difundiram sua situacdo miseré i a situagao miserdvel, estimularam a supersti numerosas religides no nosso seio que, dividindo as _massas, enfraqueciam-nas. Ao mesmo tempo as religides todas elas pregavam ao povo a resignagao. No nosso paisos missiondrios ensinavam-nos que desobedecer ao governo e ao colono era pecado, que deviamos estar muito gratos ao colonialismo portugués porque nos trazia a verdadeira fé. No século passado, a Igreja justifica 0 comércio criminoso de escravos afirmando que este era bom, pois permitia que os escravos fossem batizados. O atual arcebispo de Lourencgo Marques, Custédio Alvim Pereira, muitas vezes repetiu publicamente que 0 povo mogambicano nao devia reivindicar a independéncia, porque esta sé podia servir ao comunismo e o Isla, por outras palavras, a independéncia era um pecado contra Deus. No discurso feito em junho de 1961 aos seminaristas da arquidiocese de Lourengo Marques, no tempo em que era ainda bispo-coadjutor, ele exprimiu os seguintes principios: 1) A independéncia é uma coisa indiferente para o bem dos homens. Pode ser boa, quando se verificam condigées geograficas e culturais, mas estas ultimas ainda nao existem em Mocambique. 2) Enquanto nao existem estas condi¢Ges, fundar ou tomar parte no movimento pela independéncia ¢ agir contra a natureza. 3) Mesmo quando existem condigées, a mae Patria tem o direito de se opor a independéncia desde que sejam respeitadas as liberdades e os direitos e se procure o bem-estar e progresso civil e religioso para todos. 4) Todos os movimentos que utilizam a violéncia sdo contra o Direito Natural, porque se a independéncia é um bem deve ser obtida Por meios pacificos. a, 0 clero em consciéncia ma 5) Quando o movimento ¢ terroris i nao sé é obrigado a abster-se como também a opor-se. Isto € wv Consequéncia légica da natureza da sua missao. 6) Mesmo se 0 movimento é pacifico convém que o clero se abs vha para poder ser o guia espiritual de todos. O Superior pode or esta abstencao, como o faz em Lourengo Marques. 7) Os Povas nativos da Africa tém a obrigagao de agradecer os beneficios que thes foram dados pelos colonizadores. %) As pessoas instruidas tém a obrigagéo de combater abertamnente as ilusées dos menos instruidos sobre a independéncia. 9) A independéncia africana atual nasce quase sempre da Revolucas € do cornunismo. A doutrina da Santa Sé é bem clara na »s1¢40 40 cComunismo ateu € revolucionario: a grande revolucao wangelho, 10) A palavra de ordem “a Africa para os africanos” é uma roonstruosidade filos6fica, um desafio a civi izagao cristé porque os acomtecimentos atuais mostram-nos que o Comunismo eo Islamismo Gesejarn impor a sua civilizacdo aos africanos. Nessa mesma intervencéo o atual chefe da Igreja em Mocarnbique conclufa: “Amaia vossa terra que é Mogambique integrado em Portugal, da mesma maneira que um habitante do Algarve se interessa pela sua provincia sem esquecer a Patria comum... os atuais sovirnentos de libertacao africanos sao contra a Igreja”. Em resumo, segundo este prelado, devemos agradecer a exploracao colonial, o trabalho forcado e a venda de homens para as roinas, a pilhagem das nossas terras e as cult agradecer a opress4o da palmatoria, para Sao Tomé, Devernos agradecer a sulberes violadas, os filhos do mato e uras forgadas, Devemos do chicote, das deportagdes humilhagao do racismo e das © sermos transformados num Povo de moleques. Devemos agradecer 0 obscurantismo, a falta de exolasea superstican, a faltade hospitais e assisténcia social, Devemos aysadecer, pois. Revoltarmo-nos contra isso é Pecado, pegarmos em armas quando nos vém massacrar como em Mueda, Xinavane Lourengo Marques, Wiriyamu é pecado, é ser contra a Igreja Conhecemos muitas homilias dos bispos e padres catdlicos, muitas pregagdes de xeiques mucgulmanos, muitos serm6es de todas as igrejas protestantes, e até a uma época muito recente, todos nos diziam que nos deviamos resignar, que deviamos aceitar e agradecer. Devemios notar, no entanto, que, perante os crimes crescentes cometidos pelo inimigo, nos ultimos trés anos erguem-se vozes cada vez mais numerosas nos meios religiosos condenandoa guerra colonial e os seus massacres. Mas estas vozes ainda aparecem como isoladas e assim nao as podemos classificar como tomadas de posi¢ao oficiais, publicas e claras das Igrejas em Mogambique contra 0 colonialismo. Mas além da supersticao, a sociedade burguesa colonialista utiliza outros argumentos para camuflar e justificar 0 seu poder ditatorial. Eles dizem que nés somos uma ra¢a inferior e atrasada, com costumes primitivos, um Povo ignorante que deve ser educado pela raca superior e avancada, cheia de bons costumes e de sabedoria. A Constituicéo portuguesa diz expressamente que a esséncia da Nagao portuguesa é “civilizar” os “barbaros” que nds somos. Eles repetem continuamente este argumento, muito embora toda a gente veja que em Portugal ha mais de 40% de analfabetos, que a mis¢ria dos camponeses e do povo portugués é enorme, 0 seu obscurantismo nao é inferior ao nosso e tém tantas ou mais superstigoes do que nos, embora diferentes. Dizem isso quando nos querem convencer. Masna pritica, e quando formulam a sua linha politica, dizem e fazem coisas 0 juito diferentes. es, Teoddsio a linha im; mas O falecido cardeal arcebispo de Lourengo Marqu Clemente de Gouveia, numa pastoral de 1960 em que fixava Politica das escolas escrevia: “As escolas sao necessirias, 5! He 48 escolas em que ensinemos aos nativos 0 caminho da dignidad humana ea grandeza da nagao que os protege. Vir-nos “educar” significa claramente tornar-nos submissos, smo. avos mentais do colonial © General Kaulza de Arriaga, derrotado vergonhosamente em Mogambique, nas ligdes que dava ao Curso de Altos Comandos ano letivo de 1966-1967, dizia: do Exército colonial fascista, no “Se em Angola ou Mogambique houvesse 20 ou 30 milhoes de negros, o problema para né Ges sio tio reduzidas. Eu nao sei se seria extremamente grave; ainda bem que essas popula isto resultou da exportagio que se fez para o Brasil; se foi isso, ainda bem que se fez essa exportagio”. Depois de aprovar 0 comércio infame de escravos, a forma mais degradante da exploragao e humilhagaéo humana, o “civilizador” Kaulza de Arriaga, que publicamente discursava sobre a conquista do “coragao dos africanos” e o “multiracialismo’, preconizava ao mesmo tempo a liquidacao do nosso povo. Assim ele diz que: “Outro problema muito importante é o problema da demografia: primeiro, crescimento branco: depois; limitagio do crescimento negro”. A “igualdade racial” e a missao de “promogao das populagdes africanas” so bem esclarecidas quando 0 general escreve: ‘a multiracialidade tem de ser auténtica e mantém-se auténtica mesmo quando a sombra dela porventura precisamos de travar ligeiramente a promogao dos Povos negros. Depois temos de convencer esta gente que es Mos a promové-los num ritmo adequado... Claro que existe um te outro problema: & que ficientes na promogao dos negros, pois dev é-los si * ‘BIOS, P ‘Mos promové-los sim, mas nada de exageros - Em resumo, “civili y, “educacio”, “p; co” sao apenas para camuflagem da realidade fone dee sloracao ‘nie. opressao, brutalizacao e humilhagao, Palaveas fonts : para. 0s enganare: e a ecere, i la oe rs m. Por isso, através de cada palavra de ordem ‘$1me de opressio devemos ver a realidade que ela encobre. para nos 232 A burguesia afirma ainda que deve ser a minoria inteligente e capaz, os ricos € 0S doutores, quem deve governar a maioria que eles consideram brutos e incapazes. Oliveira Salazar, o grande orientador do colonial-fascismo portugués, exprime claramente esta concepcao dizendo (F.C.C. Egerton: “Salazar, Portugal and her Leader”): “sta hierarquia entre o trabalho de invengao, organizagao e diregao e a execucdo propriamente dita, nao sé exprime uma necessidade inerente da produ¢do material, como também reflete a desigualdade imposta pela natureza A capacidade dos individuos, uma coisa a que a sociedade nao pode, nem deve, tentar opor-se”. Um dos maiores escritores portugueses, Eca de Queiroz, numa obra magistral em que denuncia e desmascara a burguesia — O Conde de Abranhos — explica-nos a mentalidade da burguesia exploradora e opressora através do sistema de educacao universitaria: “Assim o estudante fica para sempre penetrado desta grande ideia social: que ha duas classes — uma que sabe, outra que produz. A primeira naturalmente, sendo o cérebro, governa; a segunda nutre e paga a primeira sendo a mao, opera e veste, calca, os poetas e por adogio Bacharéis sao os politicos, os oradores, os banqueiros, os altos negociadores. titica, os capitalistas, os trolhas, os cigarreiros, os Futricas sio os carpinteiros, _ Esta ideia de divisdo em duas classes é salutar, porque alfaiates.. assim educados nela, os que saem da universidade nao correm o perigo de serem contaminados pela ideia contraria — ideia de que o absurda, ateia, —destruidora da harmonia universal — tanto como sabe 0 Bacharel. Nao, nao pode: im fica destruido esse , base funesta futrica pode saber logo, as inteligéncias sio desiguais e a oso da igualdade das inteligéne principio perni dum socialismo perverso” 233 sores, em particular a burguesia colonial, com 9 Os opre: objetivo de camuflarem a sua agdo e manterem-nos ignorantes, passam a vida a gritar-nos nas orelhas que exercem 0 poder para beneficio de todos, ou da maioria, que 0 fazem para difundirem 9 acdo, a religido crista. Eles afirmam-nos sempre ¢ so pesadissimas progresso, a civili que é um grande sacrificio 0 exercicio do poder, qu as _responsabilidades, que de boa vontade e coragao alegre as abandonariam, se a isso os nao obrigasse o dever. Os discursos que ouvimos, 0s artigos nos jornais, a propaganda na radio, toda a maquina de intoxicagao colonialista, diariamente nos tenta convencer que 0 poder dos opressores é 0 melhor do mundo, que nos devemos sentir felizes pela dominagao e sé os ingratos, loucos e comunistas podem pensar o contrario. No entanto, € muito diferente a realidade que podemos descobrir por detras das palavras maravilhosas. Do Governador-Geral ao Chefe de Posto, todo o aparelho administrativo sé tem um objetivo: fazer tudo para que as companhias, os ricos, os capitalistas, explorem o povo. As leis que séo feitas, os impostos que sao cobrados, as ordens que sao dadas, nunca servem ao Povo, sempre sao para beneficio dos patrées. Se algumas vezes, aparentemente, uma lei parece beneficiar © povo, € porque a revolta do povo era muito forte e entio fez-se qualquer coisa para tentar acalmar a célera de Povo com o objetivo de desmobilizar as massas e assim poder continuar a dominagio colonial. Um exemplo disto foia greve da estiva em Lourengo Marques em 1963. Antes da greve eles Pagavam de 12.00 a 15.00 por dia aes estivadores, mas depois da greve e apesar da repressio, temendo uma revolta mais séria dos estivadores, eles subiram os ; Agora, por causa da guerra, em toda a Parte se sobem os © objetivo de corromper as pessoas, fazer-lhes esque colonizadas, exploradas, oprimidas, humilhadas, Da mesma maneit que Larios para 28.00. jrios com r que vive) Nas Zonas 1 cles sme, e as em que eles temem que 6 povo comece a apoiar a luli, 234

Você também pode gostar