Você está na página 1de 21

Artigo DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.

2017v24n38p339

Os Estados Unidos de H. Bush a Donald J. Trump (1989/2017):


Dinâmicas Políticas de Consenso e Polarização

The United States from H. Bush to Donald J. Trump (1989/2017):


Political Dynamics of Consensus and Polarization

Cristina Soreanu Pecequilo1

Resumo: Desde o fim da Guerra Fria, a política interna e externa dos Estados
Unidos apresenta tendências de polarização política e fragmentação partidária,
que colocam em xeque a continuidade de consensos sobre a agenda doméstica
e as relações internacionais. Neste contexto, exacerba-se a transformação social
e econômica originada ainda nos anos 1970 que indica o rearranjo de formas
políticas em um país cada vez mais dividido. Neste quadro, fenômenos como
a ascensão dos neoconservadores, a polarização programática dos partidos, a
renovação e a continuidade, sobrepõem-se. O objetivo do artigo é compreender
e discutir estas dinâmicas, apontando suas principais características no século
XXI e de que forma as mesmas levaram à eleição de Donald J. Trump como
presidente dos Estados Unidos.

Palavras-chave: Estados Unidos; Partido Democrata; Partido Republicano

Abstract: Since the end of the Cold War, United States internal and external
policies are presenting trends of poltical polarization and party fragmentation,
that put into check the continuity of consensus in the domestic agenda and
international relations. In this context, the social and economic transformation
that begun in the 1970s still is heightened which points to the reconfiguration
of political forces in a country which is getting more and more divided. In this
framework, phenomenon such as the rise of neoconservatives, the polarization
of partidary projects, renewal and continuity, overlap. The goal of the article
is to understand and debate this dynamics, presenting the main characteristics
Direito autoral e licença de uso: Este artigo está licenciado sob uma Licença Creative
Commons. Com essa licença você pode compartilhar, adaptar, para qualquer fim, desde que atribua a
autoria da obra, forneça um link para a licença, e indicar se foram feitas alterações.
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 340

of the XXI century and how it led to the election of Donald J. Trump as the
President of the US.

Keywords: United States; Democratic Party; Republican Party

Introdução
Em 08 de Novembro de 2016, a confirmação da vitória do candidato
republicano Donald J. Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos,
foi apresentada midiaticamente como uma surpresa. Entretanto, a confirmação
da ascensão de Trump não pode ser classificada como atípica ou inesperada,
uma vez que as pesquisas de opinião pública apontavam um empate técnico
entre o republicano e a candidata democrata Hillary Clinton poucos dias antes
do pleito. Tal empate ocorria nos chamados “estados de batalha” (battleground
ou swing states no original), cuja tradição de alternar votos entre os dois
partidos majoritários, democrata e republicano, torna-os decisivos na corrida
eleitoral2. As previsões de vitória poderiam ir para qualquer um dos candidatos,
e a possibilidades de Trump eram concretas.
A expectativa democrata era de que a ofensiva final do partido liderada
pelo Presidente Barack Obama nestes estados, nos quais se incluíam Flórida,
Pensilvânia, Michigan e Ohio3, pudesse manter o domínio conquistado em
2008 e 2012. Entretanto, esta tendência não se manteve em 2016 e Clinton não
foi capaz de conquistar estes votos chave, o que selou sua derrota no Colégio
Eleitoral. Neste Colégio, Trump conquistou 306 de 538 votos, enquanto Clinton
ficou com 232. Contudo, no voto popular Clinton conquistou 48,5% dos votos,
quase 3 milhões a mais do que seu adversário.
Paradoxalmente, o candidato que mais criticou o “sistema de
Washington” foi o que mais dele se beneficiou. Repetia-se, sem todas as
controvérsias e acusações de fraude, o cenário das eleições presidenciais de
2000 que apresentaram esta distorção: vitória do candidato republicano George
W. Bush no Colégio Eleitoral e vitória do democrata Al Gore no voto popular.
Até o século XXI, esta disparidade voto popular-voto eleitoral ocorrera pela
última vez em 1888. Agora, em quinze anos, pela segunda vez a distorção
existia, indicando que a mobilização das bases partidárias nos estados de
batalha demonstra-se mais essencial do que uma mobilização popular ampla
nos estados maiores.
Repetiu-se, também, o silêncio relativo da população que preferiu sair
às ruas para protestar contra a figura pessoal de Trump (com cartazes “não é
meu presidente”) e não contra o mecanismo disfuncional que priva as urnas
de sua voz. Com isso, em Janeiro de 2017, Trump assumiu a Casa Branca de
forma legal e legítima, sendo considerado um “ponto fora da curva”. Entretanto,
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 341

mais do que uma eleição atípica, a ascensão de Trump pode ser vista como
uma trajetória esperada de um país imerso em contradições sociais, políticas
e econômicas a mais de três décadas. Uma observação atenta da agenda de
campanha de Trump (e mesmo da dinâmica de democrata), indica elementos
de continuidade com discursos prévios anti-globalização, isolacionistas,
racistas e xenófobos que se reproduzem na política estadunidense desde o fim
da Guerra Fria.
Diante deste cenário, é preciso compreender o porquê do fenômeno
Trump, examinando a evolução republicana e democrata no pós-1989, o
choque entre a incapacidade de renovação e a proposta de renovação agressiva
na política que emergem desta evolução e as contradições da Era Obama
(2009/2016). Por fim, apresentam-se algumas perspectivas e consequências da
presidência republicana, com base em uma breve avaliação de seus primeiros
seis meses.

O Pós-Guerra Fria: Dinâmicas Partidárias (1989/2008)


Em 1989, o fim da Guerra Fria acentuou as cisões de política externa
e interna nos Estados Unidos como resultado de um processo conjugado de
transformações domésticas e internacionais. Tal processo não se inicia em
1989, mas emerge a partir da década de 1970, e se desenvolve gradualmente
nas arenas sociais, políticas, econômicas e estratégicas do país. Dentre os
marcos que iniciam esta agenda de mudança, inserem-se a Guerra do Vietnã
(1965/1973), a ascensão de tendências associadas à multipolarização e o
crescimento do multilateralismo, o movimento dos direitos civis das décadas
de 1960 e 1970 com foco em questões de gênero e raça e a perda de espaço
da economia estadunidense diante de outras potências capitalistas avançadas,
Japão e Europa Ocidental.
Apesar desta turbulência, os Estados Unidos mantinham certa coesão em
torno do chamado “Consenso da Guerra Fria”, conhecido liberal-conservador,
como apontam Rosatti e Scott4. Segundo os autores, duas fases podem ser
percebidas na política estadunidense ao longo da Guerra Fria: o consenso
bipartidário (1947/1970), baseado na aquiescência na relação entre os poderes
executivo, legislativo e a sociedade, unidos em torno de um bem maior,
identificado como o combate ao comunismo e a fragmentação (1970/1989),
no qual se observa o incremento das disputas bipartidárias, a reafirmação do
poder do legislativo, os choques com o executivo e a ascensão de uma sociedade
mais polarizada. Entretanto, esta fragmentação ainda era mantida dentro de
certos constrangimentos pela continuidade da Guerra Fria, unindo o país em
torno do conhecido inimigo comum, a antiga URSS. Mas em que residia o
consenso liberal-conservador?
Este consenso era caracterizado pela convergência de posições entre os
partidos majoritários em política externa, focada na agenda da contenção, e no
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 342

internacionalismo, associado à projeção de poder hegemônica. Esta projeção


deveria se manter baseada como sustenta Ikenberry na concepção de um
“Leviatã liberal”5, que utiliza de meios militares, ideológicos e institucionais
para a manutenção da estabilidade internacional. Tal estabilidade sustenta-se
em uma concepção de política democrática e economia capitalista, associada
a uma rede de colaboração entre os Estados Unidos e seus aliados. Da mesma
forma, sustenta-se no que Ikeberry define como “autorrestrição estratégica”
que é a opção norte-americana de abrir mão de poder decisivo para manter a
legalidade e legitimidade de sua liderança.
Outros autores como Nye Jr e Keohane 6 trabalham concepções
similares, definindo-as como visão internacionalista liberal. A lógica é
a mesma: a hegemonia se sustenta pela interdependência, cooperação e
cooptação, e não só pelo uso da força. O multilateralismo e as estruturas
de poder militar criadas pelos norte-americanos reproduzem a ordem
internacional e as nações que nela se inserem tendem a aderir a seus valores,
uma vez que igualmente se beneficiam de seus processos negociadores e de
equilíbrio de forças.
Ainda que existissem algumas diferenças táticas com relação ao
uso da força entre os partidos, não havia contestação de que o país deveria
manter uma postura internacional ativa para a promoção de seus interesses,
evitando posturas agressivas ou unilaterais. O multilateralismo era percebido
como necessário para o exercício da hegemonia por ambos, uma vez que
sustentava estruturalmente a projeção de poder a baixo custo. As diferenças
mais significativas residiam nas pautas de política interna e na identificação
social que os partidos buscavam diante da população7.
Enquanto os democratas representavam a parte “liberal” do consenso,
os republicanos identificavam-se como conservadores8. Em termos práticos,
“liberal” traduzia-se como a pauta associada ao Estado de Bem Estar (EBE),
no qual o governo mantém-se com um papel público ativo, provendo serviços
sociais como educação, saúde, infraestrutura, e a inclusão política de grupos
de interesse das mais diversas origens étnicas, raciais e de gênero. Estas visões
implicam uma visão secular da política, com baixa aderência a um discurso
religioso. A defesa de políticas pró-aborto são simbólicas desta convergência
de valores seculares, de gênero e de direitos sociais. Por conta desta amplitude
de propostas e ação inclusiva para minorias, o Partido Democrata passou a
ser associado a uma visão de “esquerda” nos Estados Unidos.
Em contrapartida, os republicanos defendem a visão de um Estado
mínimo, baseado na premissa de que os indivíduos devem possuir plena
liberdade para buscar seus interesses econômicos. Em termos sociais, há
uma identificação mais direta com posturas religiosas no que se refere a
comportamentos, e uma identificação com políticas associadas a cortes de
impostos, de benefícios vistos como assistencialistas, manutenção do direito
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 343

a portar armas de fogo. Em termos sociais, étnicos e raciais, em linhas gerais


o partido identificava-se com a tradição “WASP”, sigla representativa de
“White, anglo-saxon and protestant” (branco, anglo-saxão e protestante),
sem forte apelo às minorias.
O Vietnã, porém, começaria a quebrar as bases deste consenso. A
despeito da continuidade da bipolaridade Estados Unidos-União Soviética a
hegemonia passou por um processo de pressões internas e externas. Ao longo
da década de 1970, a sensação era de perda de poder e influência, contraposta
à busca de válvulas de escape diplomáticas para retomar a iniciativa política: o
engajamento da República Popular da China (RPC) nas relações internacionais
e a normalização do intercâmbio bilateral, o início do processo de paz no
Oriente Médio entre Israel e Egito, as negociações para gerenciar a corrida
armamentistas, desenvolvidos na presidência de Richard Nixon e Henry
Kissinger, somados à criação da Trilateral para reforçar a interdependência
entre as economias capitalistas, a defesa dos direitos humanos e do meio
ambiente, trazidos pelo governo de Jimmy Carter e Zbigniew Brzezinski
inserem-se nesta agenda. Apesar dos sucessos, em particular no Oriente Médio
e com relação à China, tais iniciativas eram vistas como sinalização de recuo
dos Estados Unidos no cenário.
O mesmo se estendia relativamente às políticas internas, com a busca
de inclusão das minorias e correção dos rumos econômicos depois da recessão
e do choque do petróleo, das demandas por mais justiça social e adequação da
prática interna de direitos humanos ao discurso externo. Embora pregassem
um mundo igualitário e democrático no exterior, internamente o país convivia
com um apartheid social real, e com a exclusão e pressão sobre as minorias.
As cisões internas, como citado, em torno de linhas de raça, etnia e gênero
se mostravam bastante presentes.
Nos anos 1980, esta agenda de adaptação foi substituída por uma
contraofensiva conservadora, liderada pelo Presidente Ronald Reagan
(1981/1988). Esta contraofensiva encontra-se na base da ascensão das agendas
neoliberal e neoconservadora nos Estados Unidos. No caso do neoliberalismo,
foram lançadas no país e na Grã-Bretanha (a partir das ações da Primeira
Ministra Margaret Thatcher) ações de reforma do governamental, visando
o estabelecimento do Estado mínimo. Programas de privatização, abertura
comercial, desregulamentação e desmonte do Estado de Bem Estar são
algumas das prioridades estabelecidas no período. Tais prioridades deram
forma ao chamado “Consenso de Washington” que no pós-Guerra Fria, por
meio dos organismos multilaterais como Fundo Monetário Internacional (FMI)
e Banco Mundial, impôs estas reformas aos países em desenvolvimento como
condicionantes de sua inserção internacional.
Esta agenda fazia parte da valorização do individualismo e do
empreendedorismo social, temas tradicionais da cultura norte-americana
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 344

do “self-made man”, que atribuía o sucesso pessoal à desregulamentação


econômica. Da parte do Estado, cortes de impostos, redução de ingerência no
cotidiano da sociedade, eram outras tarefas que deveriam ser seguidas. Estas
ideias contrastam com a dinâmica social da agenda neoconservadora: uma
maior restrição às liberdades individuais, a presença de um elemento messiânico
e religioso na vida política e social, e o estabelecimento de um conjunto de
valores e princípios de condução da vida moral. Esta visão contrasta com a
democrata, de cunho secular e autônoma, e que permite ao indivíduo ampla
escolha sobre seu modo de vida.
Na política externa, a era Reagan foi caracterizada pela síntese dos
elementos neoconservadores, que ganhariam mais força nos anos 1990 e no
século XXI. Segundo Poggio Teixeira9,

identificaram-se e denominaram-se quatro temas essenciais


do pensamento neoconservador em política externa,
constantemente presentes de alguma forma desde o seu
aparecimento. São eles: unilateralismo, internacionalismo
não-institucional, democracia e poder militar

Como aponta Cooper10, nem todos estes temas internos e externos


estiveram presentes na agenda de Reagan, assim como mais adiante a mesma
avaliação foi aplicada a George W. Bush e se estende a Trump. Afinal, não
existe na visão de Cooper e Teixeira uma uniformidade ou homogeneidade no
que se refere à definição de quem é ou não “neoconservador” seja em termos
de política externa ou interna. Se no caso da política externa os quatro temas
acima mencionados se destacam, na dinâmica interna a prevalência de um
discurso religioso e valorativo, que busca os “valores familiares” se destaca.
Irving Kristol11, uma das principais vozes do pensamento neoconservador
avalia que o “problema” dos Estados Unidos reside na destruição do núcleo
familiar tradicional, na imigração e no excesso de liberdades de gênero, raça e
etnia. Huntington traduz estas visões nos anos 1990 com base no choque entre
o “ocidente e o resto” na tese do choque das civilizações12 e na disputa interna
pela construção do perfil étnico-racial do povo americano13. Estas avaliações
focam-se na dinâmica de uma Guerra de Secessão interna que estaria opondo
a sociedade WASP tradicional à emergência de uma América dominada pelas
minorias.
A alusão ao conflito de 1861/1865, que opusera os Estados Unidos
capitalista moderno do Norte ao Sul agrário e escravocrata, e fora ganha pelo
Norte, é significativa por representar as profundas divisões sociais do país. Tais
divisões emergem da mudança do perfil populacional citado, com o avanço
quantitativo das minorias e da miscigenação, que pressiona os grupos mais
tradicionais brancos. Outro elemento que irá compor a “secessão” no século
XX e XXI é a reação anti-globalização destes grupos. O desencanto, a perda
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 345

de empregos e de renda leva à busca de válvulas de escape e culpados pela


situação interna, e isso se reflete em mais polarização e preconceitos, ignorando
as raízes estruturais dos fenômenos. A externalização da culpa, neste sentido, é
essencial para a radicalização política em parte dos que se auto-definem como
neoconservadores.
No pós-1989, estas oscilações e polarizações levam à quebra do sensível
equilíbrio que se mantinha, expondo as contradições latentes do país, e as
linhas de fratura entre os partidos, internas a eles e seus grupos sociais. Tanto
republicanos quanto democratas manterão suas linhas clássicas de pensamento,
mas terão que conviver com polarizações e fragmentações internas que
compõem um quadro ambíguo de ausência de renovação, renovação moderada
e renovação agressiva. Para alguns autores como Kupchan e Tubowitz14 este
fenômeno pode ser denominado como a “morte do centro”, enquanto outros o
encaram como um movimento natural de acomodação em torno de um novo
contexto interno e externo como Kegley e Wittkopf15, mas que não levaria à
perda de identidades sociais ou políticas da população ou dos partidos.
Examinando a trajetória dos partidos neste período contemporâneo,
o que se observa, na prática, é uma mescla destas tendências: a manutenção
das linhas clássicas dos partidos, em termos de política interna e, em alguma
medida, de política externa, a polarização destas agendas e a busca de novas
imagens, pessoas e retóricas. Portanto, os dois partidos passam por fenômenos
similares: a tentativa de manter sua identidade em meio a fragmentações, que
revelam disputas intrapartidárias crescentes e a renovação. Essa dinâmica
torna-se mais presente sobretudo em períodos eleitorais, que englobam desde as
disputas internas (como as primárias para a escolha do candidato à presidência)
até as majoritárias entre os partidos para os cargos eletivos do executivo (estados
e Presidência) e do legislativo (Câmara dos Deputados e Senado)16.
Analisando o Partido Democrata, desde 1989 o Partido tem oscilado
entre a maior identificação com uma agenda “liberal de esquerda” e o centro.
Nesta agenda “liberal de esquerda” predomina a defesa do Estado forte,
assistencial e provedor de serviços, ampliando o papel na educação, saúde,
infraestrutura e investimentos públicos em geral, uma pauta de inclusão
ampla de minorias de gênero, raça e etnias, com perfil secular, e uma política
externa internacionalista, mas pacifista. Nas relações internacionais, também
se observa uma maior atenção aos temas não tradicionais como direitos
humanos e meio ambiente, e a ênfase no multilateralismo e na governança
global. Entretanto, não se quebra o consenso da Guerra Fria sobre o perfil da
hegemonia estadunidense, suas táticas e motivações de poder.
No que se refere ao “centro democrata”, a premissa é de manutenção
destas tendências, sem excesso de particularismos, com moderação, tentando
preservar as contas públicas e a hegemonia ao mesmo tempo. Em termos
práticos, os exemplos seriam: no primeiro caso Bernie Sanders e, na segunda,
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 346

Bill Clinton (1993/2000), Barack Obama (2008/2016) e a candidata derrotada


à presidência Hillary Clinton.
Tanto Bill Clinton quanto Obama, cada um a sua época, foram
representantes da renovação na política estadunidense e das bases do Partido
Democrata. Ambos, Clinton e Obama, auto-definiram-se como candidatos da
mudança e da esperança, baseados em seu forte carisma pessoal e em épocas
de crise política, social e econômica. Enquanto Clinton concorreu na primeira
eleição presidencial do pós-Guerra Fria em 1992, Obama disputou o pleito de
2008 no auge da pior recessão dos Estados Unidos desde os anos 1970 (que
chegou a ser comparada com a Grande Recessão de 1929). Clinton disputou
com George H. Bush, que visava a reeleição e representava a tradição clássica
do Partido Republicano e Obama contra uma chapa mista: um Senador de
tradição clássica, John McCain, ex-herói da Guerra do Vietnã, e Sarah Palin
da nova geração republicana neoconservadora.
Deve-se destacar que Clinton e Obama eram políticos de pouca
expressão até chegarem à Casa Branca- Clinton como governador de um
estado pobre do Sul, Arkansas, e imerso em escândalos pessoais e políticos17
e Obama como recém-Senador. Assim, isso permitiu a ambos sustentaram
suas campanhas como representantes de uma “nova política” e “outsiders” do
sistema de Washington, principalmente Obama.
No contexto dos Estados Unidos do século XXI, depois dos atentados
terroristas de 2001, Obama se apresentou como pacifista e beneficiava-se de
sua origem humilde e multirracial. Durante seus governos, Clinton e Obama,
contudo, adaptaram suas agendas às demandas da presidência, mas avançaram
reformas principalmente nos campos sociais- reativação do Estado de Bem
Estar, maior acesso a medicamentos e assistência médica, direitos sociais e
civis com maior igualdade de gênero, raça e etnia. Com isso, passaram a ser
definidos, assim como Hillary, como parte da continuidade e do sistema pelas
alas mais à esquerda do Partido Democrata (sob a justificativa de não fazerem
o suficiente) e pelos republicanos. Esta continuidade era mais presente na
agenda externa.
Uma síntese não exclusiva (ou exaustiva) desta ala mais à esquerda
pode ser encontrada na pré-candidatura de Bernie Sanders, Senador pelo
Partido Democrata desde 2015, e que antes se definia como “Independente”
desde sua eleição em 2007. Sanders, em trajetória similar a representantes
da ala mais religiosa e libertária do Partido Republicano (que, como será
analisado adiante, fazem parte do movimento conhecido como “Partido do
Chá”), filiou-se aos democratas como forma de alcançar maior visibilidade
nacional e uma eventual candidatura à Casa Branca. A legislação eleitoral
norte-americana não favorece a emergência dos chamados “partidos nanicos”
ao estabelecer limites ao financiamento público, organização da eleição por
distritos, dentre outros, o que leva a este fenômeno de migração de candidatos
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 347

independentes para os partidos majoritários e acentua sua fragmentação (e


reforça o caráter bipartidário do sistema).
Sanders percebeu um espaço na agenda democrata para uma polarização
com as visões tradicionais, estendendo as promessas de universalização da
saúde, ensino público universitário, emprego aos jovens, protecionismo
econômico, isolacionismo externo e necessidade de reforma ampla do
financiamento de campanha e poder dos grupos de interesse. Apesar de seu
apelo midiático, contudo, Sanders não conseguiu o apoio das bases do Partido
Democrata entre as comunidades negra e hispânica e a classe média e brancos
pobres. Paradoxalmente, o candidato que se dizia revolucionário não atendia
aos anseios de reforma e inclusão social destes grupos. Entretanto, expôs
as fraturas internas dos democratas, que se estendiam a estas comunidades
e que em alguns estados de batalha podem ter representado a derrota de
Hillary para Trump.
Tais temas, assim como uma postura populista na campanha, não
são exclusivos a Trump, ou inéditos no quadro eleitoral norte-americano.
Certamente Sanders e Trump tinham propostas muito diferentes no que se
refere ao papel do Estado e direitos sociais e civis, mas se assemelhavam
relativamente na definição de que a prioridade dos Estados Unidos deveria
ser os Estados Unidos.
Este conjunto de temas reflete o que impulsiona as candidaturas
de renovação agressiva na qual podem ser inseridas as campanhas de
Sanders e Trump (e que possuem antecedentes entre os republicanos como
será debatido): a aversão à política, a promessa de melhorar a vida dos
cidadãos independente dos meios, a externalização de problemas e a não-
identificação com o sistema vigente, apresentando-o como instrumental e
um mal necessário para a implementação das reformas para superá-lo. Para
a disseminação destes ideais existe um forte conteúdo midiático e de show,
que é apresentado como revolucionário por quebrar paradigmas. Entretanto,
esta quebra de paradigmas pode levar à superação da agenda reformista e a
proposta de revolucionar as relações sociais e políticas, em detrimento das
leis e instituições estabelecidas.
Pelo Partido Republicano, Trump não é, como já citado, um ponto
fora da curva. Assim como a agenda democrata, os temas clássicos de
política interna e externa republicana tem apresentado fragmentações, com
a polarização de tendências, principalmente pelos neoconservadores. Tal
polarização pode ser tanto na agenda doméstica, como na externa, ou uma
combinação de ambas. Avaliando esta trajetória, em 1992, o governo de H.
Bush enfrentou uma espécie de “fogo amigo” dos neoconservadores, na forma
do Defense Planning Guidance (DPG).
O DPG, documento elaborado por membros do Departamento de Estado
e de Defesa, dentre eles nomes como Paul Wolfowitz e Donald Rumsfeld, que
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 348

fariam parte da presidência W. Bush, defendia que os Estados Unidos deveriam


aproveitar o fim da Guerra Fria, e em 1991, da União Soviética, que deu lugar
à Rússia, para ampliar o exercício da hegemonia. Esta ampliação era defendida
com base na concepção de um sistema internacional unipolar18, dominado
pelos norte-americanos, no qual deveria prevalecer sua supremacia militar
e o unilateralismo. O objetivo era aumentar a margem de manobra do país e
estender seu controle à toda Eurásia, com ênfase nos mecanismos de poder
duro. Prevalece a quebra do consenso da Guerra Fria, considerando a visão
da hegemonia liberal e do multilateralismo como fraquezas, e a governança
global e os novos temas como contrários aos interesses nacionais19.
Devido a divergências políticas com a Casa Branca, defensora da
continuidade do internacionalismo liberal, e ao vazamento deste documento
para a imprensa, o DPG não foi implementado. A derrota eleitoral de H. Bush
para Clinton em 1992 contribuiu para afastar este grupo neoconservador do
poder e impulsionar uma nova tática de ação visando o controle do sistema
política. Esta tática consistiu em abandonar o foco nas questões de política
externa e na aproximação com os movimentos sociais e grupos de interesse
religiosos mais à direita, capazes de mobilizar facções eleitorais que garantiriam
o acesso republicano de volta ao poder.
Em 1994, este processo resultou na identificação da agenda republicana
com o “Contrato com a América” liderado por Newt Gingrich na Câmara dos
Representantes. O “Contrato” estabelecia como meta uma “revolução” social
nos Estados Unidos e a retomada de seus valores familiares tradicionais,
estabelecendo uma coalizão política-religião. Na oportunidade, os republicanos
conseguiram conquistar a maioria no Senado, composto de 100 cadeiras, de
1995 a 2007, à exceção do período 2001/2003 quando prevaleceram dois
empates eleitorais (50-50) e 2001/2002 quando um Senador republicano tornou-
se independente dando a maioria para os democratas (50-49). Esta maioria ainda
prevaleceu de 2003 a 2007, empate entre 2007 e 2009, seguidas por maiorias
democratas até 2014. O sucesso foi maior na Câmara, controlada de 1995 a
2007, e retomada em 2011 até os dias de hoje, permitindo aos republicanos
quase o total controle do sistema político desde então.
Apesar destes avanços, a presidência somente foi retomada em 2000,
já com uma pauta mais elaborada que a do “Contrato” e que alavancou a
candidatura W. Bush a partir de 199820: internamente o “Conservadorismo
com Compaixão” (compassionate conservantism) e externamente, mas
com valores religiosos e messiânicos a ele atrelados, o Projeto para o Novo
Século Americano (PNAC). O PNAC retomava o DPG, com ampla crítica ao
encolhimento dos Estados Unidos no cenário internacional, o multilateralismo
e o apaziguamento de países considerados ameaças como Coreia do Norte,
Irã e Iraque. Era defendida uma postura mais pragmática diante dos temas da
governança mundial como meio ambiente e direitos humanos. Dentre estes, o
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 349

aquecimento global tornou-se simbólico da resistência da agenda republicana


em aderir a tratados referentes a cortes de emissões, questionando-se a
existência do fenômeno.
Portanto, criou-se uma interdependência concreta entre os republicanos
e os movimentos mais radicais da direita norte-americana, de cunho religioso
e com forte apelo anti-imigrante, anti-secularismo, contra temas vistos como
“liberais” como gênero, raça e direitos. Esta radicalização colocou em xeque
os moderados do partido, cujo espaço tornou-se cada vez mais escasso. A
tendência somente foi acentuada a partir dos atentados terroristas de 11/09,
favorecendo o ódio aos imigrantes, a exacerbação dos nacionalismos e a
unilateralismo militarista que se reflete interna e externamente em discursos
e práticas de violência.
Inclusive, estas posturas passaram a ter amparo jurídico como medidas
de exceção como a validação da tortura como instrumento de interrogatório,
o Ato Patriota que permite a espionagem de cidadãos norte-americanos,
a definição de um novo status de prisioneiros por terrorismo que burla as
convenções internacionais, redefinidos como “combatentes inimigos”. Na
definição do Eixo do Mal e da Doutrina Bush de prevenção, que validava
ataques diante de ameaças potenciais, todas estas tendências são sintetizadas.
Simbolicamente, a Guerra Global Contra o Terror (GWT) opunha os
Estados Unidos aos “outros”, validando a tese do “choque das civilizações”. Da
mesma forma, ela fornecia dimensão concreta ao projeto expansionista do DPG
na Eurásia, tendo como justificativa o combate ao terrorismo fundamentalista
islâmico em suas raízes. Em 2001, isso resultou na Guerra do Afeganistão
(2001/2014), apoiada pela comunidade internacional como uma “Guerra Justa”
em resposta à agressão do 11/09. Por sua vez, em 2003, eclodiu a Guerra do
Iraque (2003/2011)21, uma guerra preventiva que não contou com o apoio
abrangente de outras nações, apenas de aliados próximos como Inglaterra e
Japão, e países menores22.
Foi neste cenário de medo e campanhas militares que W. Bush conseguiu
a reeleição em 2004, mas não conseguiu emplacar um sucessor. As eleições
de 2008, em meio à crise econômica, gerada pelas políticas de W. Bush que
acentuaram contradições estruturais internas como o déficit comercial e
público, a superextensão23 e o desmonte da liderança liberal simbolizaram a
fragmentação interna do Partido. Embora no campo externo tenha existido uma
correção de rumos, com a retomada do multilateralismo, e a reaproximação com
aliados, na política doméstica predominava a crise social, política e econômica.
Diante de um adversário jovem e carismático, Obama, que havia desbancado
a candidatura Clinton nas primárias, a resposta republicana já revelou suas
dificuldades táticas em administrar as tendências neoconservadores.
A chapa montada, como citado com McCain e Palin, representava as
tendências presentes no partido: o centro moderado, que visava a continuidade
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 350

(e simbolizava a ausência de renovação) e a renovação agressiva de Palin.


Governadora do Alasca, Palin era até então uma desconhecida do grande
público, mas crescera no partido com um discurso de força, religioso e familiar.
Ainda que derrotados por Obama, McCain-Palin, em particular Palin, abriram
espaço para a maior radicalização do Partido ao longo da presidência Obama
e das eleições de 2016.

A Era Obama (2009/2016): Conquistas e Contradições


Como abordado, a candidatura Obama representou uma renovação
relativa em 2008, beneficiando-se do cenário de crise dos Estados Unidos.
O carisma de Obama e sua associação à esperança, somada às promessas de
melhora nas condições sociais da população, com maior atenção à classe média
e aos pobres, teve profunda ressonância na campanha eleitoral. A promessa
do acesso à educação e a universalização gratuita do sistema de saúde, a
recuperação dos salários e do crescimento econômico encontravam-se na base
da agenda de Obama. Na política externa, a formação de um novo pacto pela
governança global e o fim da GWT e do unilateralismo e militarismo da era
W. Bush simbolizavam a retomada do consenso da Guerra Fria e do perfil da
hegemonia liberal.
Slogans como “a mudança na qual você pode acreditar” e o “sim,
você pode”24, tornaram-se simbólicos do pleito eleitoral e se estenderam por
todo o mandato de Obama, sendo parafraseadas mundialmente. Além disso,
o presidente foi associado à modernidade de uma América multirracial que
chegava ao poder, dando voz às minorias de todas as origens. Em meio a toda
esta euforia pela chegada do primeiro presidente negro à Casa Branca e a
retomada do controle do Senado entre 2009 e 2015 e da Câmara em 2009 pelos
democratas, alguns fatores preocupantes foram deixados de lado.
Dentre estes, o fato de que os oponentes republicanos, apesar de toda
a crise econômica e conjuntura internacional desfavorável ao país, haviam
conseguido 47% dos votos contra 53% de Obama. O crescimento da influência
de Sarah Palin e das correntes mais radicais do neoconservadorismo no
campo religioso demonstravam a situação sensível do país, que permanecia
dividido. Inclusive, nas eleições de meio de mandato de 2010 Obama já
perdeu a maioria na Câmara, com a vitória republicana sendo conduzida pelo
movimento do Chá (conhecido como “Partido do Chá”). Este movimento
inseriu-se instrumentalmente no Partido Republicano, com uma agenda
libertária, religiosa, anti-governo, anti-sistema, contra o aborto, contra a
ampliação de direitos civis, gênero e raça, pró-armas, isolacionista e belicista
(caso necessário), e explorou a insatisfação dos grupos neoconservadores de
forma sistemática.
A indicação de Mitt Romney em 2012 para concorrer com Obama
e, principalmente, Ted Cruz, que se tornou o principal adversário de Trump
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 351

nas primárias em 2016 foram exemplo do aumento da influência religiosa


na pauta republicana. Igualmente, levou à indicação de Mike Pence como
vice-presidente na chapa de Trump, conhecido por sua proximidade com
os movimentos religiosos, compensando relativamente, esta deficiência de
Trump, cuja aproximação com este grupo sempre foi insatisfatória.
Internamente, isso gerou movimentos como o “Trump nunca”
e orientações para eleitores não votarem no candidato do Partido. Esta
recomendação foi feita por correntes bastante heterogêneas: desde os mais
religiosos e libertários, que recomendaram a abstenção no dia da eleição,
até parte dos moderados e dos neoconservadores republicanos. No caso
destes últimos, a recomendação foi alternada entre a abstenção e a opção por
Clinton. Todos estes movimentos foram ineficientes e pode-se questionar o
porquê do Partido Republicano ter aceito a candidatura Trump de uma forma
tão “sistêmica”, internalizando-a. Por um lado, a resposta reside no respeito
ao processo pré-eleitoral, por outro, na instrumentalização desta candidatura
como tática para voltar ao poder, independente dos custos à identidade
partidária25.
A agenda Trump avançou muito além dos temas religiosos (que
ficaram mais limitados a questões relativas ao aborto e a crença em Deus),
focando muito mais nas táticas de polarização inter e intrapartidária com um
discurso baseado no medo, no preconceito e na ignorância. Este discurso
xenófobo, maniqueísta, nacionalista, misógino e homofóbico, externalizando
os problemas estadunidenses e indicando soluções fáceis para resolvê-los teve
grande apelo em um país que não conseguiu superar suas divisões nos dois
mandatos de Obama. Como citado, foi o eleitorado, que majoritariamente
se concentrava nos estados de batalha que levou Trump à vitória em 2016.
O grande erro democrata foi subestimar o potencial das conquistas
da presidência Obama para manter este eleitorado e a habilidade de Trump
em promover a renovação agressiva. A imagem de continuidade associada à
Hillary e as deficiências políticas e de carisma da ex-Primeira Dama, Senadora
e Secretária de Estado foram exploradas. Nesta lista incluíam-se: a ascensão do
Estado Islâmico, a intervenção humanitária na Líbia e a morte do Embaixador
dos Estados Unidos no país foram os focos de Trump.
Para muitos, o que prevalecia não eram os sucessos da Casa Branca:
legislações sobre crimes de ódio mais punitivas, ampliação dos direitos
de gênero, reforma da imigração, extensão do acesso à saúde e educação,
geração de empregos, promoção do crescimento e retomada da hegemonia
com um padrão mais eficiente (a retomada das relações diplomáticas com
Cuba, a pressão sobre os BRICS-Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul,
o fim das guerras no Iraque e no Afeganistão, o Acordo Transpacífico-TPP, o
tratado climático dentre outros), mas sim uma sensação de que estes sucessos
aparentemente os excluíam, associados às crises não resolvidas.
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 352

Na prática, principalmente no campo econômico, isso ocorria:


desigual, o crescimento não beneficiava o operariado tradicional (blue
colar) e os brancos mais pobres que permaneciam em dificuldades e
desencantados. Por que fazer um Acordo Transpacífico se os empregos
norte-americanos não voltaram para todos? Por que não defender o “Com-
pre Americano, Empregue Americanos” (Buy American, Hire American)
ao invés disso? O que adianta encerrar as guerras no Oriente Médio se
os imigrantes e os terroristas continuavam em ação no país e no Estado
Islâmico? E o tráfico de drogas e os imigrantes ilegais? E por que acreditar
no aquecimento global se isso pode diminuir o crescimento? Estas foram
algumas das perguntas colocadas, exploradas e respondidas por Trump:
a culpa era da política e dos políticos de Washington, tanto republicanos
quanto democratas26.
A retórica de culpar os outros, dentro e fora de casa, ganhou cada
vez mais corpo com Trump, coberta pela raiva e pela negação do sistema e
a autodefinição como um empresário, sem amarras políticas. Parte da atual
demagogia nos Estados Unidos, e em outros países, com relação à dinâmica
da política, reside na autonegação da mesma, identificando-a como fonte de
ineficiência e corrupção. A mensagem do “novo” que não estaria contaminado
pelos vícios da política como relação social que somente objetiva a conquista
do poder repete-se de forma constante, assim como a ideia de que não
existiriam lideranças ou projetos em choque (e que estes projetos possuem
natureza e prioridades diferentes).
Empobrece-se com esta instrumentalização a capacidade do diálogo e
do debate, buscando sempre as polarizações e a agressividade, e a promessa de
atender aos interesses particulares de cada grupo. Em 1995, essa tendência era
identificada pelo ex-Assessor de Segurança Nacional Zbigniew Brzezinski,
ao comentar que “a cena política global é dominada pela retórica e valores
que são orientados principalmente para o consumo e que priorizam a auto-
gratificação pessoal como objetivo (...) da vida política (...) o resultado é
uma crise global do espírito.”27
Na política externa, a agenda Trump seguiu o mesmo caminho de
explorar tensões e externalizar crises. Os principais países que foram alvo
das críticas do candidato foram a China e o México, que seriam responsáveis
pela desindustrialização e o déficit comercial pelo excesso de exportações
(China) e pelo Acordo de Livre Comércio da América do Norte (México
com o NAFTA). A imigração ilegal mexicana, por seu lado, afetaria não
só o emprego, mas a violência (narcotráfico e roubos), assim como as dos
cidadãos de origem muçulmana. Com isso, era preciso barrar a entrada de
imigrantes e deportar os ilegais.
A União Europeia apenas explorava econômica e estrategicamente os
Estados Unidos e deveria pagar mais por sua segurança na Organização do
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 353

Tratado do Atlântico Norte (OTAN), ao lado do Japão, e a Coreia do Norte e


o Irã continuavam ameaçando o país. Muitos outros exemplos poderiam ser
citados, do mesmo teor. A agenda da “América Primeiro” (America First)
e de “fazer a América grande novo” (make America great again), não era
isolacionista, e sim nacionalista, unilateral e potencialmente militarista.
Muitos ataques de Trump, de caráter de profunda violência verbal,
foram tratados como um reality show em andamento, e também subestimados e
pouco atacados pelas forças progressistas. Independente do direito de expressão
ser algo garantido nos Estados Unidos pela 1ª Emenda à Constituição, não se
deve confundir opinião com pregação à violência. Historicamente, as falas
de Trump encontram semelhanças em períodos mais conflituosos do sistema
internacional e nos Estados Unidos, e questiona-se o porquê de não terem sido
mais contestados, até com recurso a processos judiciais. Prevaleceu o silêncio
e o apaziguamento a Trump, visto como uma caricatura, o que demonstra a
subestimação de seu potencial político.
Este não é um fenômeno exclusivo aos Estados Unidos: o mesmo se
encontra enraizado como tendência global, bastando observar o crescimento
das tendências de direita e polarizações contemporâneas. A saída do Reino
Unido da União Europeia (o BREXIT), a chegada de Marine Le Pen ao segundo
turno nas eleições presidenciais francesas, o crescimento da direita alemã, a
ampliação da influência das bancadas religiosas em diversos países, incluindo
o Brasil, podem ser listados como exemplos.
Trump chegou à Casa Branca, nas condições já expostas de descolamento
entre o voto do colégio eleitoral e o popular. Contudo, ganhou a eleição, assim
como W. Bush em 2000. Os republicanos conquistaram a maioria na Câmara,
Senado e nos governos estaduais, ampliando seu domínio sobre o sistema
político, validando a agenda polarizada e radical de campanha. Neste contexto,
argumentou-se que a partir de Janeiro de 2017 haveria uma adaptação dupla: de
Trump ao sistema e do sistema a Trump. Os primeiros seis meses de governo
demonstram a complexidade e as limitações desta avaliação.

Trump: Perspectivas e Consequências


A posse de Trump e suas subsequentes medidas somente podem ser
analisadas conjunturalmente no atual contexto, ainda que respondam a temas
estruturais dos Estados Unidos como visto. Em uma primeira avaliação
pode-se indicar que a despeito dos constantes conflitos com a imprensa e da
sombra recorrente de pedidos de impeachment28 por acusações diversas como
interferência em investigações do FBI, ingerência de países estrangeiros
(Rússia) nas eleições, falta de transparência, dentre outros, a presidência
Trump demonstra coerência com suas propostas de campanha. Esta coerência
se estende ao comportamento e estilo pessoal do presidente, que não se alterou
no cargo.
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 354

As críticas ao sistema são mantidas, enquanto se faz uso do mesmo


para agradar as bases eleitorais. Por sua vez, o sistema absorve Trump. Nos
primeiros 100 dias de governo, e nestes seis meses iniciais, isso se traduziu
na frequente utilização de mecanismos institucionais como as Ordens
Executivas, para implementar as medidas desejadas e revogar as ações de
Obama. Neste sentido, vale a pena listar algumas destas Ordens Executivas e
os desenvolvimentos a elas atrelados na tabela abaixo29:

ORDEM EXECUTIVA STATUS DE IMPLEMENTAÇÃO


Encerramento dos programas de saúde e
Em andamento- Anunciado o fim do
redução do financiamento para projetos
Obamacare e a implementação da pro-
de acesso a medicamentos e tratamento
posta republicana
médico
Encerramento das negociações do TPP Finalizada com sucesso
Suspensão da Participação dos Esta-
dos Unidos no Acordo de Paris (tratado Finalizada com sucesso
climático)
Apresentação do novo Plano de segurança
das fronteiras e melhorias nos programas
de imigração. Prioridades: construção do Em andamento- implementação par-
muro na fronteira entre Estados Unidos cial das medidas de restrição a viagens
e México, combate sistemático à entrada devido a ações da Suprema Corte. Dis-
de imigrantes ilegais, deportação dos imi- putas sobre a inconstitucionalidade
grantes ilegais em território norte-ameri- das propostas. Resistência dos chama-
cano, endurecimento dos procedimentos dos “estados santuário” que se recusam
alfandegários para cidadãos de qualquer a implementar a lei federal como Nova
nacionalidade, mesmo com visto e bani- Iorque e resistência da sociedade civil.
mento das viagens de cidadãos de origem Tensões com o México e países viz-
muçulmana aos Estados Unidos, com sus- inhos. Aumento das deportações e da
pensão de vistos, processos de concessão proibição de entrada de cidadãos nos
de asilo e auxílio a refugiados, e a proibição Estados Unidos. Restrição a emissão
da entrada em território norte-americano de vistos.
(Líbia, Sudão, Somália, Síria, Iraque, Irã e
Iêmen)
Suspensão das contratações de fun-
Finalizada com sucesso
cionários para o governo federal;
Suspensão do orçamento federal desti-
Finalizada com sucesso
nado ao auxílio ao aborto;
Promoção da segurança interna nos Es-
Em andamento
tados Unidos;
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 355

Retomada da construção de oleodutos


em território norte-americano, que ha-
Finalizada
viam sido suspensas por questões am-
bientais (Keystone XL e Dakota);
Estudos para a construção de novos
oleodutos nos Estados Unidos com uso
Em andamento
de materiais e equipamentos produzi-
dos no país quase que exclusivamente;
Desregulamentação dos ônus para a im-
plementação de indústrias e produção Finalizada com sucesso
de manufaturas nos Estados Unidos;
Aceleração da elaboração dos estudos
de impacto ambiental em projetos pri-
oritários de infraestrutura e modifica- Finalizada com sucesso
ção das exigências previstas, visando a
facilitação dos processos;
Nomeação do juiz conservador para a
Suprema Corte Neil M. Gorsuch para a
Finalizada com sucesso
vaga do também conservador Anthony
Scalia;
Reformulação do sistema financeiro
para facilitação e desregulamentação
Em andamento
das atividades dos indivíduos e institu-
ições financeiras;
Reformulação do National Security
Council, principal órgão assessor da Finalizada com sucesso
presidência.

Trump mantém o calendário regular de atividades e viagens ao exterior


tradicionais a qualquer presidente. Apesar das inúmeras gafes diplomáticas
apresentadas pela imprensa nas oportunidades em que visitou chefes de governo
e de Estado ou participou de reuniões multilaterais como as da Cúpula da OTAN
e as do G-20 financeiro, muitas das promessas de campanha foram realizadas
e agradaram a base eleitoral: a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris
e as manifestações inflamadas contra o terrorismo são exemplos.
No campo bilateral, as tensões com o México permaneceram, não se
chegando a nenhum ponto de convergência mais sólido. Permanece a tentativa
de revisão e suspensão do NAFTA, para a qual a Casa Branca depende do
legislativo, e as disputas sobre a construção do Muro e segurança da fronteira e
tratamento dos imigrantes. Com a China, divergências recentes relativas ao Mar
do Sul da China (MSCh), com os norte-americanos criticando as demandas por
soberania deste país na região permanecem, assim como as relativas ao suposto
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 356

apaziguamento chinês da Coreia do Norte e vendas de armas a Taiwan. Este


clima negativo é contrastado por acordos comerciais selados em Abril e Maio
de 2017, a partir da visita do Presidente Xi Jinping aos Estados Unidos. Dentre
estas, encontra-se a abertura parcial do mercado de serviços chinês aos Estados
Unidos, com foco em atividades de cartões de crédito e sistema bancário, e
a abertura do mercado chinês às exportações de carne bovina estadunidense.
Igualmente foram mantidos encontros de alto nível como o do Primeiro Diálogo
Diplomático e de Segurança realizado em Junho em Washington.
Paralelamente, Trump repetiu ações de seus antecessores: bombardeou
unilateralmente a Síria, em resposta a um suposto ataque químico na guerra
civil em andamento, pressiona a Coreia do Norte e o Irã, deu declarações que
recuperaria o processo de paz Israel-Palestina, dentre outros. Com a Rússia,
trafega entre a aproximação e escândalos de aproximação indevida ao país
durante a campanha presidencial, eventuais interferências de hackers russo e
assim por diante.
Internamente, os objetivos têm sido alcançados sem grandes problemas,
vide a maioria republicana no legislativo. No gabinete, Trump mantém próximos
seus principais aliados, inclusive indivíduos associados a grupos supremacistas
brancos. Um ponto controverso permanece a questão da implementação de um
novo sistema de saúde (em andamento como visto na tabela). Ainda assim,
aplica-se a mesma lógica das questões internacionais: satisfazer as bases
radicais com medidas de cunho religioso (como o corte de recursos públicos
para aborto e saúde da família) e críticas às minorias de gênero e raça.
Toda esta agenda, e sua prática, indica que não se deve subestimar
Trump. A instrumentalização do poder para alcançar objetivos domésticos, em
particular no campo social e de Bem Estar, suplanta a insatisfação do Partido
Republicano, e suas disputas e fragmentações internas, demonstra o uso tático
do poder pelas diferentes facções presentes nos quadros partidários. A grande
questão é até quanto esta unidade se manterá, especialmente em 2018, ano
eleitoral de renovação parcial da Câmara e do Senado.
A outra interrogação é de que forma o Partido Democrata buscará sua
renovação, exposto as suas desuniões e fragmentações. A frágil liderança de
Hillary Clinton, alavancada na campanha pelos ex-presidentes Bill Clinton e
Obama, não demonstra potencial para assumir este espaço. A figura folclórica
de Bernie Sanders parece ter se esvaziado. Por sua vez, Obama mantém-se na
mídia, mas conseguirá atuar politicamente para renovar o partido?
A expectativa de um “novo Obama” existe, embora tente ser dissipada
pelo partido e apesar da insatisfação de parte da população com Trump, não
existem vozes que pareçam representá-las. A percepção do eleitorado mais
secular, moderado, e composto por minorias, é de um certo descolamento entre
o que o partido fala e o que potencialmente realiza. Na ausência de lideranças
para mobilizar as bases, prevalece o vácuo de ação para defender a agenda
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 357

tradicional do partido, incorporar as demandas de renovação e eficiência tática


para retomar (e manter) o poder no executivo e no legislativo. Tarefa que, a
despeito de seus rachas, os republicanos conseguem fazer.

Considerações Finais
Desde o fim da Guerra Fria os Estados Unidos são um país dividido,
que expõem cada vez mais explicitamente contradições cujas origens datam
das transformações sociais, políticas e econômicas que se desenrolam desde os
anos 1970. Essas transformações provocam oscilações eleitorais e demandas
polarizadas de parte da população que tem sido absorvidas pelos partidos de
maneira diferente e com diversos graus de eficiência. No legislativo, a vantagem
tem sido majoritariamente republicana, mesmo no senado que apresenta fases
de equilíbrio, e no executivo, à exceção do período Obama, a dinâmica também
os favorece.
Se Trump reverterá todas as políticas domésticas de Obama ou se não
conseguirá permanece em aberto, mas as primeiras sinalizações no campo
dos direitos civis, sociais e meio ambiente indicam que o sucesso tem sido
razoável. O mesmo se aplica a questões internacionais. A retórica e a prática
parecem caminhar no sentido de trazer prejuízos à liderança norte-americana,
baixando sua eficiência pelo unilateralismo e belicismo como em W. Bush.
Mas, em termos abrangentes, permanece em debate se representa uma quebra
definitiva do Consenso da Guerra Fria quanto à hegemonia liberal. As medidas
pontuais de Trump contra aliados e o multilateralismo poderão representar uma
desconstrução hegemônica mais ampla?
Classificar Trump como neoconservador, conservador ou um carona
(free rider) do Partido Republicano indica que o atual presidente poderia se
inserir com mais facilidade no terceiro nível. A instrumentalização de Trump de
ambos os discursos, e sua síntese no que foi definido no texto como renovação
agressiva, revelam a eficiência de um político carismático e assessores de
marketing, que souberam captar a insatisfação de parte do eleitorado, identificar
os pontos fracos dos democratas e atuar pragmaticamente para ganhar a eleição
nos estados de batalha. O discurso demagógico anti-política e anti-sistema
foi muito bem explorado por Trump e sua figura de empresário e outsider
(lembrando que Clinton em 1992 e Obama em 2008 fizeram o mesmo). No
sistema estadunidense, o voto popular importa pouco quantitativamente, e sim
qualitativamente, e os republicanos conseguem explorar esta dinâmica melhor
que os democratas.
Nenhum movimento político é homogêneo, seja o neoconservador, a
esquerda do Partido Democrata, ou o centro conservador e liberal de ambos
os partidos. Não há um ponto fora da curva, mas sim mudanças e adaptações
a novas conjunturas políticas, sociais e econômicas, com maior ou menor
eficiência. Trump apenas soube ser eficiente e responder com críticas e soluções
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 358

fáceis às demandas eleitorais e instrumentalmente cooptar o partido republicano


em torno do objetivo da conquista do poder. Os impactos e as consequências
estruturais, positivas ou negativas, de seu termo à frente da Casa Branca estão
apenas em seu início.

Notas

1 Professora de Relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo, do PPGRI-


-San Tiago Dantas UNESP/UNICAMP/PUC-SP, EPI UFRJ e Ciências Sociais UNESP-Ma-
rília, Pesquisadora CNPq e NERINT/UFRGS. e-mail: crispece@gmail.com
2 Por sua vez, também existem estados que são fieis eleitoralmente aos partidos, e não mu-
dam seus votos ao longo da história: os estados “azuis” são tradicionalmente democratas,
enquanto os “vermelhos” definem-se como republicanos.
3 Também são considerados “estados de batalha”: Nevada, Arizona, Iowa, Carolina do Norte,
Colorado, Minnessota, Wisconsin, Virginia, Maine, Lousiana, Kentucky e Georgia. Somados
aos mencionados, Flórida, Michigan, Ohio e Pensilvânia, eles compõem 205 dos votos totais
do Colégio Eleitoral.
4 ROSATI, Jerel and SCOTT, James M. The Politics of United States Foreign Policy. Bos-
ton: Wadsworth, 5th ed. 2011
5 IKENBERRY, G. John. Liberal Leviathan. Princeton and Oxford: Princeton University
Press, 2011
6 Ver NYE JR., Joseph S. Bound to lead. Basic Books, New York. 1990 e KEOHANE, Rob-
ert O. After hegemony. Princeton: Princeton University Press, 1984
7 A evolução do sistema partidário desde o século XVIII até o seu perfil contemporâneo pode
ser encontrada em MAISEL, L. Sandy. American political parties and elections- a very short
introduction. Oxford: Oxford University Press. 2007. No texto, o perfil partidário abordado
refere-se às identidades assumidas por democratas e republicanos a partir do século XX em
diante.
8 MAISEL, 2007.
9 TEIXEIRA, Carlos Gustavo Poggio. “Quatro temas fundamentais do pensamento neocon-
servador em política externa”. Revista Brasileira de Política Internacional, 50 (2), 2007. p.
80-96
10 COOPER, Danny. Neoconservantism and America foreign policy- a critical analysis.
London and New York: Routledge. 2011.
11 KRISTOL, Irving. Neoconservantism- the autobiography of an idea. Chicago: Elephant
Paperbacks. 1995.
12 HUNTINGTON, Samuel. O choque das civilizações. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 1997.
13 HUNTINGTON, Samuel. Who are we? New York: Simon and Schuster. 2005.
14KUPCHAN, Charles A. and TRUBOWITZ, Peter L. “Dead center- the demise of liberal
internationalism in the United States”. International Security, 32 (2) Fall 2007. p. 7-44
15 KEGLEY, Charles W. and WITTKOPF, Eugene R. American foreign policy- trend and
transformation, St. Martin’s Press, NY, 5th ed., 1996.
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 339-359, dez. 2017. 359

16 CONTRERA, Flavio. “Política Externa Norte-Americana no pós-Guerra Frua: como se


posicionam democratas e republicanos? Tese de Doutorado em Ciência Politica, Universida-
de Federal de São Carlos
17 Em seu mandato, nos anos de 1998 e 1999, Clinton passou por um processo de impeach-
ment por causa de seu relacionamento com a ex-estagiária da Casa Branca Monica Lewinski,
com quem teria tido um caso e mentido. Contudo, acusações de assédio sexual não eram
inéditas em sua trajetória política desde o início de sua carreira, vide o caso Paula Jones.
Além disso, tanto Bill quanto Hillary Clinton tiveram de enfrentar acusações de corrupção
no governo de Arkansas. Estas acusações foram retomadas na campanha eleitoral de 2016
contra Hillary, mas nada foi provado até os dias de hoje. Bill Clinton, apesar de todas estas
questões, saiu da Casa Branca com mais de 60% de popularidade e legou a seu sucessor W.
Bush um país equilibrado financeiramente e em crescimento econômico.
18 KRAUTHAMMER, Charles. “The unipolar moment”. Foreign Affairs, 70(1) Winter
1990/1991. p. 23-33
19 KAGAN, Robert and KRISTOL, William (ed). While America Sleeps. San Francisco, En-
counter Books. 2000 e KAGAN, Robert and KRISTOL, William (ed). Present dangers- cri-
sis and opportunity in America foreign and defense policy. San Francisco, Encounter Books.
2000
20 Lembrando que o período também corresponde ao processo de impeachment de Clinton.
21 Para as consequências e desdobramentos VISENTINI, Paulo Fagundes. O Grande Orien-
te Médio- da descolonização à Primavera Árabe. Rio de Janeiro: Ed. Elsevier. 2014.
22 Devido ao foco e extensão deste texto, estes temas não serão desenvolvidos em pro-
fundidade. Recomenda-se PECEQUILO, Cristina Soreanu. A política externa dos Estados
Unidos. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 3ª ed 2011 e PECEQUILO, Cristina Soreanu. Os Estados
Unidos e o século XXI. Rio de Janeiro: Ed. Elsevier. 2013.
23 Conceito desenvolvido por Paul Kennedy, referente ao gap entre recursos e responsabi-
lidades da hegemonia. KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes potências. Rio de
Janeiro: Ed. Campus. 1991.
24 Em inglês, change we can believe in e yes, we can.
25 Ver o texto de Carlos Gustavo Poggio Teixeira e José Felipe Ribeiro Calandrelli para esta
discussão, também publicado neste dossiê.
26 THUDIUM, Guilherme e ALVES, João Paulo. “A Ascensão de Donald Trump: perspec-
tivas para a política externa e de segurança dos Estados Unidos”. Disponível em: https://
www.ufrgs.br/nerint/wp-content/uploads/2017/02/Boletim-de-Conjuntura-NERINT-Vol-
1-N-4.pdf. Acessado em 05 de fevereiro de 2017. p. 7-17
27 BRZEZINSKI, Zbigniew. Out of Control. New York: Touchstone. 1995.
28 Até as eleições de meio de mandato de 2018, os republicanos manterão o controle das duas
casas do Legislativo. É improvável que o impeachment ocorra neste biênio inicial de gestão.
O resultado eleitoral de 2018 poderá trazer uma nova articulação política em 2019, já visando
a sucessão presidencial de 2020.
29 Não se trata de uma lista exaustiva, mas sim uma seleção das prioridades de Trump na
Casa Branca, e que detém maior impacto na política interna e externa dos Estados Unidos.

Recebido em 06/04/2017
Aprovado em 22/09/2017

Você também pode gostar