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Um poderoso empresário busca um esconderijo... mas seus segredos não podem ser escondidos.

Antes de testemunhar em um caso importante, o empresário Michael “Mikey” Fiore se esconde em


Jacobsville, Texas. Em uma rara noite fora, ele cruza com a delicadamente bela Bernadette, que parece
sobrecarregada com seus próprios segredos. Ele ouve cochichos sobre uma doença séria, e a existência
solitária dela. Isso não o impede de desejá-la, o que coloca os dois em perigo. A ligação dos dois cresce em
paixão... até que verdades chocantes vêm à tona.

DIANA PALMER
TEXAS PROUD
(Orgulho texano)
CAPÍTULO UM

Seu nome era Bernadette Epperson, mas todos que a conheciam em Jacobsville, Texas, a chamavam
de Bernie. Ela era a nova assistente jurídica de Blake Kemp e dividia o escritório com Olivia Richards, que
também era assistente jurídica. Elas substituiram ex-funcionárias, uma que se casou e mudou, e outra que
foi trabalhar em San Antonio para o DA de lá.
Elas eram um contraste interessante: Olivia, morena alta e esguia, e Bernie, loira esguia com cabelo
louro platinado longo e espesso. Elas se conheciam desde o primário e eram amigas. Isso criava uma
atmosfera descontraída e feliz no escritório.
Normalmente, um assistente jurídico seria suficiente para o gabinete do procurador distrital do
condado de Jacobs. Mas o promotor, Blake Kemp também contratou Olivia para trabalhar como assistente
em meio período, porque Olivia cobria a amiga no escritório quando Bernie tinha crises de artrite
reumatóide. Era uma das formas mais dolorosas de artrite, e quando Bernie tinha crises, significava andar
com uma bengala e tomar mais antiinflamatórios, junto com os medicamentos perigosos que ela tomava
para ajudar a evitar que a doença agravasse. Também significava nenhuma vida social por assim dizer.
Bernie gostaria de ter um companheiro, mas homens solteiros sabiam sobre ela e ninguém parecia disposto
a aceitá-la, junto com uma doença progressiva que um dia poderia torná-la inválida.
Havia novos tratamentos, é claro. Alguns deles envolviam injeções semanais que impediam a
progressão da doença. Mas essas doses eram incrivelmente caras e, mesmo com o preço. gentilmente
reduzido oferecido por Instituições de caridade, ainda estavam fora do seu orçamento. Então era
metotrexato, prednisona e ácido fólico. E tentar não ficar remoendo a coisa toda.
Ela estava a caminho de seu quarto na pensão da Sra. Brown. Estava chovendo e a chuva estava
gelada. Era outubro e fazia frio. Não era a melhor hora para esquecer sua capa de chuva, mas ela estava
com pressa e atrasada para o trabalho, então a capa ainda estava pendurada em seu armário na pensão. Ah,
bem, pensou filosoficamente, pelo menos estava com um belo suéter grosso sobre a blusa fina. Ela riu
histericamente para si mesma. O suéter era uma esponja. Ela sentiu aágua escorrendo sobre sua barriga lisa
por baixo da roupa.
Ela ria tanto que não viu um desnível na calçada. Deu uma topada e tropeçou. Caiu na estrada no
momento em que uma grande limusine preta apareceu. Sua bengala saiu voando e ela bateu de barriga no
chão. Ela teve a sorte de se apoiar nos antebraços, mas o impacto a deixou sem fôlego. Por sorte, o
motorista a viu a tempo de parar antes de atropelá-la. Estava escuro e apenas as luzes da rua iluminavam,
uma luz embaçada através da cortina de chuva.
Um homem saiu. Ela viu seus sapatos. Pés grandes. Sapatos caros, como alguns dos procuradores
distritais que apareciam para falar com seu chefe. Calças feitas de lã. Ela sabia, porque usava lã para
tricotar.
─ Você está bem? ­ Uma voz profunda e aveludada perguntou.
─ Sim. ­ Ela ofegou. ─ Apenas... sem fôlego.
Ela rolou e se sentou.
Um homem alto, com a constituição de um lutador, com ombros largos e cabeça leonina, agachou-se,
olhando para ela com olhos castanhos profundos em uma pele morena. Seu cabelo negro azeviche
salpicado de prata, era espesso e ondulado ao redor de sua cabeça. Uma mecha caiu em sua testa quando
ele se inclinou sobre ela. Ele tinha maçãs do rosto salientes e o tipo de boca que era visto nos protagonistas
machões nos filmes de ação. Era lindo. Ela não conseguia evitar olhar. Não conseguia se lembrar de
alguma vez um homem a ter deixando sem palavras apenas por olhar para ela.
─ Sincronismo perfeito. - Ele murmurou. ─ Viu a limusine chegando, não é? E saltou bem na frente dela
também.
Ela estava muito abalada para pensar em uma resposta, embora devesse. Ela verificou as palmas das
mãos. Estavam um pouco arranhadas, mas não sangrando.
─ Eu tropecei.
─ Realmente?
Esse maldito sorriso sarcástico e zombeteiro a deixou muito zangada.
─ Você poderia encontrar minha bengala, por favor? - Ela perguntou.
─ Bengala?
Ela ouviu a mudança em seu tom de voz. Ela odiava aquele tom.
─ Ela saiu voando quando tropecei na parte desnivelada da calçada. Naquela direção. - Ela indicou a
calçada. ─ Deve estar do outro lado, provavelmente. É vermelha esmaltada. Com dragões.
─ Com dragões. Mmm-hmm.
A porta de um carro se abriu. Outro homem deu a volta pela frente do carro. Ele era mais velho do
que Bernie, mas mais jovem do que o homem agachado ao lado dela. Ele estava vestindo um terno.
─ O que é isso sobre dragões? ­ O homem perguntou, vagamente divertido.
─ A bengala dela. Assim, ela diz. - Ele salientou.
O outro homem fez um som com a garganta.
─ Olhe de qualquer maneira. Disse o homem grande.
─ Tudo bem, estou indo. ­ Houve uma pausa enquanto Bernie permanecia sentada na estrada, ficando mais
molhada a cada minuto.
─ Bem, eu serei...!
O outro homem voltou, segurando a bengala. E estava carrancudo.
─ Onde diabos você conseguiu algo assim? - Ele perguntou enquanto lhe entregava a bengala.
─ Internet. ­ Disse ela. A dor estava piorando. Piorando muito. Ela precisava de uma grande dose de
antiinflamatórios, uma cama e uma almofada térmica.
Ela engoliu em seco.
─ Por favor, não... olhe quando eu me levantar. Só há uma maneira de fazer isso, e é constrangedora. - Ela
ficou de quatro e se levantou com dificuldade, segurando a bengala para se apoiar. Ela ergueu a cabeça
para a chuva e recuperou o fôlego. ─ Obrigada por não me atropelar. ­ Disse ela tristemente.
O grande homem se levantou quando ela o fez. Ele estava carrancudo.
─ Qual o problema com você? Entorse?
Ela ergueu os olhos. Foi um longo caminho.
─ Artrite reumatóide.
─Artrite? Na sua idade? ­ O homem perguntou, surpreso.
Ela se endireitou com raiva.
─ Reumatóide. - Ela enfatizou. ─ É sistêmica. Uma doença autoimune. Apenas um por cento das pessoas
no mundo tem, embora seja a doença autoimune mais comum. Agora, se você não se importa, tenho que ir
para casa antes que me afogue.
─ Nós vamos levá-la. - O homem grande ofereceu tardiamente.
─ Francamente, prefiro me afogar, obrigada. - Ela se virou, muito lentamente, e conseguiu prosseguir sem
muito esforço visível. Mas andar era penoso e ela estava cerrando os dentes antes de dar cinco passos.
─ Oh inferno.
Ela ouviu a maldição suave antes de se sentir repentinamente apanhada como um saco de batatas e
carregada de volta para a limusine.
O outro homem estava segurando a porta aberta.
─ Me coloque no chão! - Ela resmungou, tentando lutar. E estremeceu, porque o movimento doía.
─ Quando eu a levar para casa. - Disse ele. ─ Onde fica a sua casa?
Ele a colocou na limusine e sentou ao lado dela. O outro homem fechou a porta e sentou-se ao
volante.
─ Vou molhar o assento. ­ Ela protestou.
─ É couro. Ele pode ser limpo. Onde fica sua casa?
Ela respirou fundo. Ela estava com tanta dor que não conseguia mais protestar.
─ Pensão da Sra. Brown. Dois quarteirões abaixo e à direita. É uma grande casa vitoriana com uma cerca
branca em volta e uma placa de aluga-se. - Acrescentou ela.
O motorista acenou com a cabeça, ligou o motor e partiu.
O homem grande ainda estava olhando para ela. Ela estava segurando a bengala com uma mãozinha
que ficou branca com a pressão que estava usando.
Ele a observou, seus olhos na espessa trança de cabelo loiro platinado que descia por suas costas.
Suas roupas estavam coladas nela. Belo corpo, seios pequenos e pernas compridas. Os olhos eram verdes.
Verde muito claro. Boca bonita em forma de arco. Olhos bem afastados sob cílios grossos e pretos. Não era
bonita. Mas atraente.
─ Quem é você? - Ele perguntou tardiamente.
─ Meu nome é Bernadette. ­ Disse ela.
─ Lindo. - Ele ponderou. ─ Tinha uma música sobre Santa Bernadete. - Lembrou.
Ela enrubesceu.
─ Minha mãe a adorava. É por isso que ela me deu esse nome.
─ Eu sou Michael. Michael Fiore, mas a maioria das pessoas me chama de Mikey. - Ele observou o rosto
dela, mas não houve reconhecimento. Ela não reconheceu o nome. Surpreendente. Ele morou em
Jacobsville alguns anos atrás, quando seu primo, Paul Fiore, do escritório do FBI de San Antonio, estava
investigando um caso que envolvia Sari Grayling, que mais tarde se tornou a esposa de Paul. Sari e sua
irmã, Meredith, foram alvos de um assassino, cortesia de um homem cuja mãe foi morta pelo falecido pai
das Graylings. Mikey tinha feito alguns amigos aqui.
─ Prazer em conhecê-lo. - Ela disse. E fez uma careta.
─ Dói muito, hein? ­ Ele perguntou, seus olhos escuros se entrecerrando. Ele olhou para cima. Santelli
estava estacionando em frente a uma casa vitoriana com uma placa de alugam-se quartos. ─ É aqui? ­ Ele
perguntou.
Ela olhou pela janela. E assentiu.
─ Muito obrigada...
─ Fique aí. - Disse ele.
Ele saiu pela outra porta que Santi estava segurando aberta para ele, deu a volta no carro e abriu a
porta dela. Estendeu a mão e a pegou no colo, com bengala, bolsa e tudo.
─ Venha bater na porta para mim, Santi. - Disse ao companheiro.
Bernie tentou protestar, mas o homem grande continuou andando. Ele cheirava a fumaça de charuto e
colônia cara, e a sensação de seus grandes braços ao redor dela a deixava estranha. Trêmula.
Nervosa. Muito nervosa. Ela estava com um braço ao redor dos ombros largos dele para se segurar, a
mão espalhada ao lado de seu pescoço. Ele era acolhedor e reconfortante. Já fazia muito tempo que ela não
era segurada por alguém, e nunca tinha sido assim.
Santi bateu na porta.
Bernie poderia ter dito que ele poderia simplesmente entrar, mas ele não era daqui, então não
entenderia.
A gorducha Sra. Brown abriu a porta, ainda usando seu avental porque ela oferecia jantar para seus
inquilinos. Ela parou de repente, boquiaberta, ao ver Bernie sendo carregada por um estranho.
─ Eu caí. ­ Explicou Bernie. ─ Ele teve a gentileza de parar e me trazer para casa...
─ Oh, querida, você não deveria ir ver a Dra. Coltrain? - Ela disse preocupada.
─ Estou bem, sério, só um pouco de dignidade ferida, para falar a verdade. - Garantiu ela à senhoria. ─
Você pode me colocar no chão. - Ela disse a Mikey.
─ Onde é o quarto dela? ­ Mikey perguntou educadamente. Sorriu para a mulher mais velha, ela corou e riu
nervosamente.
─ É bem aqui. Ela não pode subir as escadas, então tem um quarto perto da porta...
Ela mostrou o caminho. Ele colocou Bernie em uma cadeira ao lado da cama.
─ Você precisa de um banho quente, querida, e um pouco de café. - A Sra. Brown agitou-se.
Havia um banheiro entre o quarto de Bernie e o quarto vazio ao lado.
─ Você consegue? ­ O homem grande perguntou suavemente.
Ela assentiu.
─ Estou bem. Sério. Obrigada.
Ele encolheu os ombros largos. E franziu a testa.
─ Você não deveria estar caminhando tanto.
─ Diga a ela, diga a ela. - Lamentou a Sra. Brown. ─ Ela anda quatro quarteirões de casa para o trabalho e
do trabalho para casa todos os dias!
─ A Dra. Coltrain disse que o exercício é bom para mim. - Ela respondeu.
─ Exercício. Não tortura. - A Sra. Brown murmurou.
O homem grande estava pensativo.
─ Nos veremos novamente. - Disse ele calmamente.
Ela assentiu.
─ Obrigada.
Ele inclinou a cabeça. Seus olhos se estreceraram.
─ As primeiras impressões nem sempre são precisas.
Suas sobrancelhas se arquearam.
─ Puxa, isso foi um pedido de desculpas?
Ele fez uma careta.
─ Eu não peço desculpas. Nunca.
─ Isso não doeu, não doeu, não doeu. - Ela imitou um comediante que havia dito exatamente isso em um
filme. E sorriu. Provavelmente ele não tinha ideia do que ela estava falando.
Ele jogou a cabeça para trás e rugiu.
─ Academia de Polícia. - Disse ele, nomeando o filme. O queixo dela caiu. ─ Sim. Esse cara era eu, na
idade dele. - Ele confessou. ─ Tome um banho. E não caia.
Ela fez uma careta para ele.
Seus olhos escuros brilharam.
─ Até mais, garota.
Ele saiu antes que ela pudesse corrigir a impressão.

***
Ele parou na porta da frente.
─ Aquele quarto para alugar... ­ Ele perguntou à Sra. Brown. ─ ainda está disponível?
─ Ora, sim. - Ela disse, corando novamente. E riu. ─ Você seria muito bem-vindo. Temos três senhoras
morando aqui, mas...
─ Sou fácil de agradar. ­ Disse ele. ─ E não serei nenhum problema. Eu odeio hotéis.
Ela sorriu.
─ Eu também. Meu marido competia em rodeios. Passamos anos na estrada. Fiquei tão cansada das chaves
do quarto...
Ele riu.
─ Este sou eu. OK. Se você não se importa, eu trarei minhas coisas para cá hoje, mais tarde.
─ Eu não me importo.
─ Quanto adiantado? ­ Ele perguntou, tirando sua carteira.
Ela disse a ele. Ele entregou a ela várias notas.
─ Eu não assalto bancos, se é isso que você está pensando. ─ Disse ele com um sorriso irônico. ─ Eu sou
um homem de negócios. Moro em Nova Jersey e tenho um hotel em Vegas. É por isso que odeio ficar
neles.
─ Oh! Você tem negócios aqui, então?
Ele acenou com a cabeça solenemente.
─ Negócios. ­ Ele concordou. ─ Eu estarei por aqui por um tempo.
─ Vai ser bom ter o quarto alugado. - Confessou. ─ Está vazio há muito tempo. Meu último inquilino se
casou.
─ Eu a vejo mais tarde, então. - Ele hesitou, olhando para trás em direção ao quarto onde havia deixado
Bernadette. ─ Você acha que ela vai ficar bem?
─ Sim. Ela pode parecer frágil, mas Bernie é forte. Ela teve que ser.
─ Bernie? ­ Seus olhos se arregalaram.
Ela riu.
─ É assim que a chamamos. Conhecemos Bernadette a vida toda.
─ Cidades pequenas. ­ Ele sorriu. ─ Eu mesmo cresci em uma. Longe daqui. - Ele tirou um cartão de visita
e entregou a ela. ─ O número de baixo é o meu celular. Se ela precisar de alguma coisa esta noite, me
ligue, ok? Posso vir e levá-la ao hospital se ela precisar ser atendida.
A Sra. Brown ficou surpresa com a preocupação de um estranho.
─ Você tem um coração bom.
Ele encolheu os ombros.
─ Nem sempre. Até logo.
Ele saiu, gesticulando para que Santi o seguisse. Eles entraram na limusine e partiram. A Sra. Brown
assistiu com verdadeiro interesse. Ela se perguntou quem era o estranho.

***
Mikey estava muito ciente da irritação do motorista.
─ Eles me disseram para ficar de olho em você o tempo todo. - Disse ele a Mikey.
─ Sim, bem, eu não vou dividir o quarto com você, não importa o que diabos eles tenham lhe dito. Além
disso... - Ele acrescentou, se acomodando em sua cadeira. ─ Cash Grier tem um de seus homens me
vigiando com um kit de franco-atirador.
─ É uma cidade pequena. ­ Começou Santi.
─ Uma cidade pequena com metade dos mercenários aposentados da América. ­ Mikey interrompeu. ─ E
meu primo mora bem no final da estrada. Lembra dele? Agente sênior do FBI, Paul Fiore? Mora em
Jacobsville, trabalha em San Antonio, vale milhões?
─ Oh. Ele. Certo.
─ Além disso, eu sei que o atirador de Grier está me vigiando. ­ Ele deu uma risadinha. ─ Ele não erra.
Nunca. E eles chamaram Os Vingadores para me vigiar quando o atirador estiver dormindo.
─ Os Vingadores? ­ Santi rugiu. ─ Isso é uma história em quadrinhos!
─ Rogers e Barton. Eles são chamados de Vingadores porque o nome do Capitão América na série é
Rogers e o do gavião arqueiro é Barton. Entendeu?
─ Sim.
─ Eu sei o quanto Mario Cotillo me quer, Santi. ­ Mikey disse calmamente. ─ Eu sou a única coisa entre
Tony Garza e uma condenação por homicídio, porque sei que Tony não fez isso e posso provar. Tony
também está escondido, em um lugar ainda mais seguro do que eu.
─ Onde? ­ Santi perguntou.
Mikey riu roucamente.
─ Claro que eu vou lhe contar.
Santi enrijeceu.
─ Não sou delator. ­ Disse ele, ofendido.
─ Qualquer um pode hackear um telefone celular ou o sofisticado rádio bidirecional* que temos neste carro
e nos ouvir enquanto conversamos. - Disse Mikey com visível impaciência. ─ Use seu cérebro, ok?
─ Eu uso!
─ Bem, você deve mantê-lo em um lugar seguro quando não o está usando. - Mikey murmurou baixinho,
mas não para que Santi pudesse ouvi-lo. O cara era musculoso e um motorista competente. Não seria bom
aborrecê-lo muito. Agora não, pelo menos.
Mikey se recostou com um longo suspiro e pensou na mulher que conheceu esta noite. Ele sentia
muito por tê-la julgado mal, mas muitas mulheres se jogaram em seu caminho. Ele era extremamente rico.
Tinha dinheiro em bancos suíços que os federais não podiam tocar. E embora tenha sido acusado de alguns
crimes, incluindo assassinato, ele nunca foi condenado. Sua ficha estava muito limpa. Bem, para um cara
em sua profissão. Ele era o chefe do crime em Jersey, onde Tony Garza era o chefão. Tony possuía metade
dos negócios ilegais de Newark. Mas Tony tinha um novo competidor importante, um estranho que se via
como o próximo Capone. Ele mirou em Tony imediatamente, planejou derrubá-lo com uma falsa acusação
de assassinato com a ajuda de um amigo que trabalhava no escritório do procurador federal. O tiro saiu
pela culatra. Tony também tinha amigos lá. Mikey também. Mas Mikey estava com Tony em um bar
quando o assassinato aconteceu e, por acaso, Mikey tinha uma foto sua com Tony com a data em seu
celular. Ele enviou cópias para Paulie, Cash Grier e um amigo nas Bahamas. Antes que os federais
pudessem pular em Tony, que poderia ter sido eliminado com facilidade e imediatamente antes mesmo de
ir a julgamento, Mikey e Tony fugiram da cidade.
A próxima jogada óbvia de Cotillo seria colocar assassinos contratados atrás de Mikey e Tony.
Mikey sorriu. Ele conhecia a maioria dos pesos pesados do ramo. Tony também. Não funcionaria, mas
Cotillo não sabia disso. Ainda. Enquanto isso, Mikey e Tony estavam jogando um jogo de espera. Ambos
tinham federais trabalhando para protegê-los. No entanto, Mikey não ia dizer isso a Santi. Ele realmente
não confiava em ninguém, exceto em seu primo Paul. Quanto menos pessoas soubessem, mais seguro ele
estaria. Não que a vida tivesse tantas atrações para ele atualmente. Tinha todo o dinheiro de que precisava.
E uma reputação temível, que lhe dava muita proteção em sua casa em Nova Jersey. Mas estava sozinho.
Ele era um homem solitário. Ele pediu a uma mulher para compartilhar sua vida apenas uma vez, e ela riu.
Ele era bom de cama e comprava coisas bonitas para ela, mas ela não ia se casar com um gangster
conhecido. Ela precisava pensar em sua reputação. Afinal, ela era uma socialite, de uma das famílias mais
importantes de Maryland. Casar com um bandido? Ha! Pouco provável.
Isso partiu seu coração. Mesmo agora, anos e anos depois, ainda era um ponto sensível. Ele era mais
do que sua reputação. Era justo e honesto, e nunca machucou ninguém sem um bom motivo.
Principalmente, ele ia atrás de pessoas que machucavam pessoas de quem gostava.
Bem, também houve o trabalho estranho para Tony quando ele era mais jovem. Mas aqueles dias
haviam ficado para trás. Ele ainda podia lidar com um kit de atirador quando precisava. Acontece que ele
não tinha a mesma necessidade de notoriedade que um dia governou sua vida.

*Rádio bidirecional
Ninguém precisava dele. Engraçado, o principal motivo de ele gostar da socialite era que ela fingia
ser indefesa e dependente. Ele gostou disso. Desde a morte de sua avó, não havia ninguém que se
importasse com ele, exceto Paul, e ninguém que precisasse dele. Em poucas palavras, ele ajudou seu primo
a proteger uma jovem de Jacobsville, Merrie Grayling, antes dela se casar com o fazendeiro do Wyoming.
Mas isso tinha sido temporário. Ele gostava muito dela, mas como uma espécie de irmãzinha adotiva, nada
romântico. Foi bom ajudar Paulie com aquela pequena tarefa, especialmente porque ele conhecia o
assassino contratado que foi designado para pegar Merrie. Ele sabia como fazer com que o contrato fosse
cancelado, na verdade, só foi preciso que Merrie, uma artista de grande talento, fizesse um retrato de Tony.
O assassino contratado terminou mal, mas isso acontecia às vezes. A maioria das pessoas sãs não iam
contra Tony, que disse ao cara para esquecer o contrato.
Mas tudo isso aconteceu há três anos. A vida mudou. Agora aqui estava Mikey, se escondendo de um
recém-chegado em Jersey, tentando proteger seu amigo Tony.
Ele pensou novamente na jovem que havia caído na frente da limusine. Ele se sentiu péssimo por tê-
la julgado mal. Ela era bonita. Como se chamava... Bernadette? Ele sorriu. Ele tinha estado na França, na
gruta onde Santa Bernadette cavou um buraco na lama, obedecendo às ordens de Nossa Senhora,
encontrando uma fonte límpida e viu a aparição a que ela se referiu como à Imaculada Conceição, e ele viu
Bernadete em seu caixão na igreja do convento em uma redoma de vidro. Ela não parecia mais velha do
que quando morreu, há mais de um século, uma bela jovem. Ele se perguntou se sua xará sequer sabia
quem foi Santa Bernadete. E se perguntou por que ela recebeu esse nome.
Tantas perguntas. Bem, ele ia ficar na mesma pensão, então provavelmente teria a chance de falar
com ela, de perguntar sobre sua família. Ela era legal. E não gostava de piedade, embora tivesse um
problema de saúde devastador e um gênio forte. Ele sorriu, lembrando-se daquela trança espessa de cabelo
loiro nas costas dela. Ele adorava cabelos longos. Devia ser difícil de cuidar, para alguém com suas
limitações.
Sua pequena avó grega tinha artrite. Ele se lembrou de suas mãos atrofiadas e dos momentos em que
ela não conseguia sair da cama. Mikey a carregava de cômodo em cômodo quando ela recebia uma visita
especial, ou para fora quando ela queria se sentar ao sol. Ele não conseguia se lembrar qual tipo de artrite
era a dela, mas estava na Bíblia* da família, junto com muitas outras informações familiares. Ele guardou a
Bíblia em um cofre em Jersey, junto com valiosas fotos de pessoas mortas há muito tempo. Havia uma da
socialite. Mas ele a queimou.
O carro estava percorrendo os quilômetros até San Antonio, onde Mikey deixou sua bagagem em um
hotel sob um nome falso. Ele pediria a Santi para ir buscá-la e pagar a conta, apenas por via das dúvidas,
enquanto esperava do lado de fora no estacionamento. Todo o cuidado era pouco. Ele precisava enviar uma
mensagem de texto para Paulie também, mas isso poderia esperar até que estivesse de volta a Jacobsville.
Devia perguntar a Paulie sobre os hackers, o que eles podiam descobrir e como. Ele ainda não estava
familiarizado com os métodos modernos de vigilância.
Ele se recostou no assento com um longo suspiro. Bernadette. Ele sorriu para si mesmo.

***

Bernadette tomou um banho quente, o que a ajudou a aliviar um pouco o desconforto. A Sra. Brown
teve a gentileza de adicionar um apoio para as mãos na lateral da banheira para que Bernadette pudesse
entrar e sair mais facilmente. Porém ela tomava banho de chuveiro, não de banheira. Era muito mais rápido
ficando em pé. Além disso, o banheiro era usado por todos os hóspedes do andar térreo, embora houvesse
apenas Bernadette há várias semanas e a pobre Sra. Brown já tinha o suficiente para fazer sem ter que
esfregar a banheira o tempo todo. A Sra Brown tinha uma diarista que vinha ajudar nas tarefas pesadas.
Mas Bernadette era meticulosa e a incomodava a ideia de banhos de banheira quando pelo menos um dos
ex-hóspedes era homem e gostava de muito óleo de banho com cheiro de almíscar. Para as mulheres,
especialmente, o banho em uma banheira que não estivesse impecavelmente limpa podia causar infecções.
Bernie já tinha o suficiente com que se preocupar sem elas. Então, ela tomava banho de chuveiro.
Ela vestiu a calça do pijama e uma das camisetas grossas e macias que usava com ele.
Houve uma batida na porta e a Sra. Brown entrou com uma bela xícara de cerâmica em seu delicado
pires.
─ Chá de camomila. ­ Disse ela com um sorriso. ─ Isso vai ajudá­la a dormir, querida.
─ Você está me mimando. ­ Bernadette reclamou baixinho. ─ Você tem o suficiente para fazer sem me
adicionar a seus fardos.

*Bíblia - Em sentido figurado, o termo bíblia é usado para se referir a um livro importante, uma espécie de “guia” que contém todas as informações relevantes
para áreas específicas.
─ Você não é um fardo. - Disse a Sra. Brown gentilmente. ─ Você mantém seu quarto impecável, nunca
bagunça nada e eu ainda não tive que pegar você em qualquer lugar. - Ela suspirou. ─ Eu gostaria que
pudéssemos dizer o mesmo das duas boas mulheres no segundo andar, e não se atreva a dizer a elas que eu
disse isso!
Bernadette riu.
─ Eu não vou. Você sabe que eu não fofoco.
─ Claro que não. ­ Ela colocou a xícara e o pires na mesa de cabeceira. ─ Que homem bom esse que trouxe
você para casa. - Acrescentou ela com um olhar especulativo que Bernadette não percebeu. ─ Ele alugou
um quarto aqui também!
Bernadette prendeu a respiração.
─ Ele... alugou? - Ela gaguejou e corou um pouco.
A Sra. Brown riu.
─ Sim. Aquele do outro lado do banheiro, mas isso não será um problema. Vou me certificar de que ele
bata primeiro quando precisar usá-lo.
─ Está bem então. ­ Ela tomou um gole de chá e sorriu com os olhos fechados. ─ Isso é tão bom!
─ Coloquei mel, em vez de açúcar, e apenas um pouco de canela.
Bernadette olhou para a mulher mais velha.
─ Sabe, ele pensou que eu tinha caído na frente do carro dele de propósito.
─ Você caiu? Você não me disse!
Ela tomou um gole de chá.
─ A calçada estava escorregadia e meu dedo do pé bateu em um desnível. Eu fui voando para a rua. Sorte
minha que o motorista dele tinha bons freios. ­ Ela franziu o cenho. ─ Era uma limusine.
─ Eu vi. ­ Disse a Sra. Brown com um sorriso irônico. ─ Ele também estava usando um terno muito caro.
Acho que o reconheci. Ele parece o primo de Paul Fiore.
─ Eu ouvi essa história. ­ Disse Bernadette. ─ Quando estava trabalhando como recepcionista em um grupo
escritório de advocacia, antes de obter me certificado assistente jurídica*na escola noturna e o Sr. Kemp
me contratar. Nunca o vi, mas as pessoas falavam dele. Ele estava ajudando a proteger Merrie Grayling,
não estava?
─ Essa era a fofoca. Meu Deus, imagine ter assassinos contratados perseguindo duas garotas locais da
mesma família! ­ Ela balançou a cabeça. ─ Eu soube pela governanta das meninas Grayling, Mandy
Swilling. Ela disse que o pai das meninas matou uma mulher local por entregá-lo aos federais sob a
acusação de extorsão, e o filho da mulher assinou contratos para as duas filhas de Grayling, por vingança.
Ele pensava que o pai as amava tanto que realmente o machucaria. ­ Ela suspirou. ─ Bem, o homem já
estava morto, e o filho da mulher foi acusado de tentativa de assassinato. Dizem que ele ficará na prisão
por um longo tempo, embora tenha tentado ajudá-los a encontrar os assassinos.
─ Suficientemente bom para ele. ─ Disse Bernie. ─ O assassinato é um negócio sujo.
─ Tem outra coisa. Dizem que Mikey, primo de Fiore, está envolvido com o crime organizado.
─ Primo dele?
─ O homem que a carregou para dentro de casa esta noite. - Respondeu a Sra. Brown.
Bernie estava sentada com a xícara suspensa em uma das mãos.
─ Oh. Ele. ­ Ela riu. Não estava realmente prestando atenção.
─ Ele. ­ Ela riu. ─ Mas eu não acredito. Ele foi tão gentil. E estava realmente preocupado com você.
─ Não, ele não estava quando eu caí. - Disse Bernie, franzindo o nariz. ─ Ele pensou que eu caí de
propósito para chamar a atenção dele .­ Ela hesitou. ─ Bem, ele é lindo de morrer. Quando o vi pela
primeira vez, mal conseguia respirar. - Confessou. ─ Foi como levar um soco no estômago. Eu nunca vi
um homem na vida real com aquela aparência. Ele poderia estar no cinema. ­ Ela enrubesceu. ─ Bem, ele é
bonito, quero dizer.
─ Suponho que algumas mulheres encontrem subterfúgios para atrair homens assim. - Disse a Sra. Brown
em defesa dele.
─ Eu acredito que sim. No entanto, ele mudou de ideia quando viu a bengala. ­ Seu rosto ficou triste. ─
Quando eu estava no colégio, havia um menino muito legal. Achei que ele ia me convidar para o baile de
formatura. Eu estava tão animada. Uma das minhas amigas disse que ele estava falando sobre mim para
outra pessoa, embora ela disse, não ter ouvido o que ele disse. - Ela olhou para a xícara agora vazia. ─
Então outra amiga me disse a verdade. Ele disse que eu era bonita, mas não queria levar uma garota com
deficiência para um baile. - Ela sorriu tristemente, ciente da expressão de raiva da Sra. Brown. ─ Depois
disso, meio que desisti de namorar.

* O Assistente Jurídico é o profissional responsável por prestar assistência aos advogados em audiências, na elaboração de documentos jurídicos, no controle e
organização de arquivos e documentos e em serviços externos. O profissional trabalha com advogados e demais profissionais da área de direito.
─ Devia haver meninos mais legais. - Respondeu ela.
─ Oh, havia. Mas havia garotas mais bonitas que não andavam com bengalas. - Ela largou a xícara e o
pires. ─ Eu não precisava da bengala o tempo todo, é claro. Mas quando eu tinha crises, simplesmente caía
se desse um passo em falso. - Ela balançou a cabeça. ─ Nenhum homem vai querer uma mulher que um dia
pode acabar inválida. Então, vou para o trabalho e economizo tudo que posso, e espero que, quando
precisar parar e solicitar um auxílio invalidez, eu tenha o suficiente para me sustentar até conseguir. - Ela
fez uma careta. ─ Puxa, não seria bom não ter problemas de saúde?
─ Seria. E eu sinto muito que você tenha. Mas, Bernie, um homem que ame você não vai se importar se
você os tiver. ­ Ela acrescentou. ─ Mais do que você se importaria se ele os tivesse.
Bernie sorriu.
─ Você é uma boa mulher. Tenho muita sorte de morar aqui. E obrigada pelo chá.
─ De nada. Durma um pouco. Amanhã é sábado, então você pode dormir até mais tarde para variar.
─ Uma boa mudança. ­ Ela fez uma careta. ─ Mas eu não quero que você atrase o café da manhã por mim!
─ Vou colocá-lo em um prato na geladeira e você pode aquecê-lo no micro-ondas. - Disse a Sra. Brown. ─
Então pare de se preocupar com as coisas.
Bernie riu.
─ OK. Obrigada novamente.
─ De nada. ­ Ela hesitou na porta. ─ Que bom que não temos muitas mulheres jovens morando aqui, exceto
você.
─ Por quê?
─ Bem, aquele bom homem que trouxe você é realmente bonito, e não queremos uma fila se formando na
porta dele, queremos? - Ela brincou.
Bernie corou, mas a Sra. Brown fechou a porta antes de ver.

CAPÍTULO DOIS
Mikey esperou por Santi em uma vaga perto da porta da frente do hotel San Antonio. Ele esperava
que não demorasse muito. As ruas estavam movimentadas, mesmo a esta hora da noite, e algumas das
pessoas que circulavam estavam usando cores de gangue e tinham várias tatuagens. Ele sabia sobre a
gangue Los Serpientes. Embora estivessem tecnicamente baseados em Houston, eles estavam presentes
aqui em San Antonio. Paulie lhe havia contado sobre eles. Eles cuidavam de crianças e idosos.
Surpreendentemente. Mais ou menos como a Yakuza no Japão.
O Japão era um ótimo lugar para se visitar. Mikey tinha ido para lá por várias semanas depois de sua
missão no Oriente Médio. Ele precisava relaxar e superar algumas das coisas que tinha visto e feito lá. Ele
estava com um grupo de militares no exterior que incluía dois homens daqui, Rogers e Barton, que tinham
protegido as garotas Grayling de assassinos contratados. Ele não serviu diretamente com eles, mas Cag
Hart e o promotor local, Blake Kemp, estavam no exterior na mesma época. Do Afeganistão ao Iraque, ele
carregou um rifle e serviu o seu país. As memórias não eram boas, mas ele tinha outras com as quais vivia.
Ele apenas adicionou as mais recentes a elas.
Ele ficou surpreso ao descobrir que o comandante de sua companhia estava envolvido com Merrie
Grayling. O rancheiro do Wyoming, Ren Colter, foi o comandante da companhia de sua unidade de
franco-atiradores no exterior. Na verdade, os protetores das garotas Grayling, Rogers e Barton, também
fizeram parte do grupo dele. Que reencontro tinha sido. Não muito bom, porque Mikey teve problemas
arranjando materiais para um bordel. Mas seu oficial comandante o livrou de problemas com Ren, porque
Mikey tinha a maior sorte do mundo no pôquer. Ele nunca perdia. Era uma das razões de ele ser tão rico.
Claro, ele não conseguia mais entrar nos cassinos. Ele não trapaceava. Não precisava. Mas aquela sorte o
impediu de ser derrotado em todo o mundo, até mesmo em Monte Carlo. Ele deu uma risadinha. era uma
espécie de marca de honra, ser barrado nesses lugares. Então ele não se importava muito. Tinha todo o
dinheiro de que precisava até morrer velho, então quem se importava?
O porta-malas do carro se abriu de repente. A mão de Mikey foi automaticamente para baixo de sua
jaqueta para a .45 que ele colocou lá antes de Santi entrar no hotel. Ele a mantinha em um compartimento
seguro sob o assento, feito sob medida. Ele não precisava disso em Jacobsville, mas este era um território
desconhecido, e era perigoso não andar armado. Ele tinha uma licença de transporte oculto, mas para
Jersey, não para cá. Ele supôs que teria que ir ver o xerife do condado de Jacobs, Hayes Carson e conseguir
uma autorização para o Texas. Ele conhecia o xerife há três anos. Eles se davam bem.
Santi abriu a porta e sentou-se ao volante.
─ Todas as malas estão no porta-malas, chefe. - Disse. ─ Precisamos parar em qualquer outro lugar antes
de seguirmos para o sul?
─ Não, a menos que você esteja com fome.
─ Eu poderia comer.
─ Bem, há um bom restaurante em uma parte melhor da cidade. Vamos procurar. ─ Ele olhou pelas janelas
escuras para um jovem que estava dando uma olhada na limusine. ─ Não estou muito feliz com a clientela
por aqui.
─ Nem eu.
─ Então vamos. Vamos dar uma volta e ver se podemos encontrar algum lugar italiano. Acho que Paulie
disse que um novo lugar tinha acabado de abrir recentemente. Carlo's. Coloque no computador.
Santi colocou o nome no GPS.
─ Achei, chefe. Apenas três quarteirões de distância.
─ OK! Vamos.
Eles estavam com seus pratos de espaguete quando Mikey notou alguns clientes de terno fazendo
uma inspeção superficial.
─ Federais. ­ Mikey disse baixinho. ─ Na segunda mesa. Não olhe. ­ Acrescentou.
─ Você os conhece?
─ Não. ­ Disse Mikey.
─ Você acha que são do FBI?
Mikey riu.
─ Se fossem, Paulie teria mencionado que eu tinha alguém me observando aqui na cidade.
─ Então de onde?
─ Se eu fosse arriscar um palpite, US Marshals. - Ele respondeu. O grande e moreno parece vagamente
familiar, mas não consigo identificá-lo. Ele estava trabalhando com Paulie durante o tempo que passei em
Jacobsville, três anos atrás.
─ US Marshall? ­ Santi perguntou, e se mexeu inquieto.
─ Relaxe. Eles não estão planejando jogar nossas bundas na prisão. Existe uma coisa chamada devido
processo.* - Disse Mikey imperturbável. ─ Teremos menos preocupações no Condado de Jacobs.
Jacobsville é tão pequena que qualquer estranho se destaca. Além disso, temos nossas próprias sombras.
─ Boas?
─ Pode apostar. ­ Mikey respondeu com um sorriso maroto. ─ Então coma seu jantar e eu irei me mudar
para minha nova casa temporária.
─ Não gosto de ficar na mesma rua em um motel. - Murmurou Santi. ─ Mesmo com todos os outros caras
cuidando de você.
─ Bem, eu não vou dividir o quarto. ­ Mikey disse categoricamente. ─ Mal é grande o suficiente para mim
e todas as minhas coisas, sem tentar encaixar você nele. Não há espaço para outra cama, de qualquer
maneira.
─ Acho que você tem razão.
─ Claro que eu tenho. Além disso, não é como se eu fosse ser atingido até que eles me localizem aqui.
─ A limusine vai chamar a atenção. - Disse Santi preocupado.
─ Sim, bem, não mais atenção do que a fofoca, mas não há um lugar no mundo onde eu estaria mais
seguro. Estranhos sobressaem aqui. Lembre-se, eu disse a você sobre a esposa de Cash Grier sendo
rastreada aqui por um assassino contratado, e o que aconteceu com ele?
Santi riu.
─ Sim. A esposa de Grier bateu nele com tanta força com uma frigideira de ferro que ele correu para a
polícia em busca de proteção.
─ Exatamente. Ninguém mexe com Tippy Grier. Espetacular. Uma estrela de cinema, casada com o chefe
de polícia e com dois filhos. Nunca pensei que Grier pudesse se estabelecer em uma cidade pequena. Ele
não parecia o tipo.
─ Isso é o que todo mundo diz. ­ Santi fez uma pausa. ─ Eu me sinto mal por aquela pobre garota que
quase atropelamos. - Acrescentou ele, surpreendentemente, porque não era sentimental. ─ Ela era legal, e
pensamos que ela estava tentando jogar conosco.
─ Sinceramente nos baseamos em nossas naturezas desconfiadas. - Mikey o lembrou. ─ Mas, sim, ela era
legal. Precisa de cuidados. ­ Ele disse calmamente. ─ Não que ela pareça o tipo de mulher que deixaria
alguém cuidar dela.
─ Eu percebi isso.
Mikey olhou para o relógio.

*Devido processo(em inglês: due process) é um princípio legal proveniente do direito anglo-saxão (e, portanto, de um sistema diferente das
tradições romanas ou romano-germanas), no qual algum ato praticado por autoridade, para ser considerado válido, eficaz e completo, deve seguir todas as etapas
previstas em lei. É um princípio originado na primeira constituição, a Magna Carta, de 1215.
─ É melhor irmos. ­ Ele sinalizou para um garçom pedindo a conta.

***

Bernadette estava lendo na cama. A dor era muito intensa, uma consequência da chuva e da queda.
Ela precisava de algo para distraí-la, então pegou o celular, no qual mantinha dezenas de livros. Muitos
eram romances. Ela percebeu que sua condição manteria a maioria dos homens afastada, e era bom sonhar
acordada sobre ter um homem gentil a carregando nos braços.
Ela não conseguia parar de pensar no homem grande de cabelos escuros que tinha feito isso no início
da noite. Ele era parente de Paul Fiore, que era casado com Sari Grayling. Bernie trabalhava com Sari no
escritório do promotor local. Ela se perguntou se conseguiria se safar se perguntasse qualquer coisa sobre o
homem, que foi muito gentil com ela depois de confundi-la com algum tipo de vigarista.
Ela não devia estar pensando nele. Um homem tão bonito provavelmente tinha mulheres agarradas
em seus tornozelos em todos os lugares em que ia. Ele era aparentemente rico também. Havia outra mulher
em seu escritório, a recepcionista, Jessie Tennison, uma linda morena no final dos vinte anos, que era louca
por homens e abordava abertamente qualquer cliente rico que entrasse no escritório. O Sr. Kemp, o
promotor, já a havia advertido sobre isso uma vez. Uma segunda advertência lhe custaria o emprego, ele
acrescentou. Seu cargo não incluía assédio sexual de clientes.
Que mundo novo, pensou Bernie, quando uma mulher podia ser acusada do que muitas vezes era
visto como uma ofensa masculina. Mas, claro, sua colega de trabalho era muito bonita. E era simplesmente
ambiciosa. Tinha um casamento fracassado nas costas. A fofoca era que seu ex-marido era rico, mas tinha
o hábito de jogar e perdeu tudo em um jogo de cartas. Ninguém sabia, porque a mulher não falava de si
mesma. Bem, não para as mulheres no escritório.
Uma comoção repentina chamou sua atenção. Houve um movimento no corredor. Algumas batidas e
uma familiar voz grave masculina. Seu coração deu um salto. Esse era o homem que a trouxe para casa
mais cedo. Ela já conhecia sua voz. Era difícil não conhecer, com aquele nítido sotaque de Nova Jersey.
Ela sabia disso por causa de Paul Fiore. Ele tinha um igual.
Houve mais barulho, então uma porta se fechou. Mais passos. Vozes. A porta da frente abriu e
fechou, e então um carro se afastou.
A Sra. Brown bateu na porta de Bernie e entrou, fechando-a atrás dela.
─ Desculpe pelo barulho. O Sr. Fiore está se mudando. - Acrescentou ela com um sorriso afetuoso.
Bernie tentou não demonstrar a alegria que sentia.
─ Ele disse se vai ficar muito tempo?
─ Na verdade, não. ­ Disse ela. ─ O motorista dele está hospedado em um motel na estrada. ­ Ela riu. ─ O
Sr. Fiore disse que de jeito nenhum iria dividir aquele quarto com outro homem, especialmente não com
um tão grande quanto seu motorista.
Bernie riu baixinho.
─ Imagino que não.
─ Então, você precisa bater antes de entrar no banheiro, como mencionei antes. - Continuou a Sra. Brown.
─ Apenas no caso dele estar usando. Eu disse ao Sr. Fiore novamente que ele precisava fazer a mesma
coisa, já que vocês vão compartilhar o banheiro. - Ela parecia preocupada. Bernie estava corada. ─ Eu sinto
muito. Se eu tivesse um quarto com banheiro privativo, eu...
─ Esses são lá em cima... ­ Bernie interrompeu gentilmente. ─ e nós duas sabemos que tenho um problema
com escadas. - Ela suspirou e balançou a cabeça. ─ A chuva, a caminhada e a queda me afetaram muito
hoje. Você estava certa. Eu devia ter vindo de táxi. Não é tão caro e não gasto muito do que ganho, exceto
em livros. - Isso era verdade. Seu aluguel incluía todos os serviços públicos e até mesmo o cabo que lhe
dava acesso à televisão, não que ela assistisse muito TV.
─ Eu sei que andar deve ser bom para você. - Respondeu a mulher mais velha. ─ Mas não quando está em
crise. ─ Ela respirou fundo. ─ Bernie, se você escrevesse para a empresa que fabrica esse medicamento
injetável, eles poderiam...
─ Eu já escrevi. - Disse Bernie suavemente. ─ Eles me ofereceram um desconto, mas mesmo assim é quase
mil dólares por mês. Eu não posso pagar isso, com desconto ou não. Além disso... - Ela disse
filosoficamente. ─ pode não funcionar para mim. Às vezes não funciona. É uma aposta.
─ Imagino que sim. ­ A Sra. Brown parecia triste. ─ Talvez um dia eles encontrem uma cura.
─ Talvez eles encontrem.
─ Bem, vou deixar você voltar ao seu livro. - Brincou ela, porque sabia sobre o hábito de leitura tarde da
noite. ─ Precisa de alguma coisa da cozinha antes de apagar as luzes?
─ Nada. Eu tenho minha água bem aqui. - Ela indicou duas garrafas de água que mantinha ao lado da
cama.
─ Você poderia ter um pouco de gelo em um copo para acompanhar.
Bernie balançou a cabeça.
─ Simplesmente iria derreter. Mas obrigada, Sra. Brown. Você é tão boa para mim.
A mulher mais velha sorriu.
─ Estou feliz por ter você aqui. Você é a única residente que já tive que nunca reclamou de nada. Você vai
me estragar por me mimar.
─ Essa fala é minha. - Bernie brincou, e riu. Isso a fazia parecer bonita.
─ Durma bem.
─ Você também.
A Sra. Brown saiu e fechou a porta.
Bernie pensou naquele medicamento injetável. Seu reumatologista em San Antonio havia lhe falado
sobre ele, encorajado-a a tentar obtê-lo. Na idade de Bernie, podia retardar o progresso da doença, uma
doença que podia levar a todo tipo de complicações, a pior das quais era a deformidade das mãos e dos pés.
Não apenas isso, mas o AR era sistêmica. Podia causar muitos problemas em outras partes do corpo
também.
Oportunidade, Bernie pensou, seria uma coisa boa. Ela teria que ser muito rica para pagar algo tão
caro como aquelas injeções. Bem, enquanto isso ela tomava seus outros remédios, e eles funcionavam bem
na maioria das vezes. Não era todo dia que ela caía em uma chuva fria quase na frente da limusine chique
de alguém. Ela sorriu para si mesma e voltou ao livro.

***

O café da manhã no dia seguinte devia ter sido interessante, Bernie pensou consigo mesma enquanto
tomava o dela em uma bandeja que sua gentil senhoria havia levado até seu quarto. Mas ela não conseguiu
se levantar. O tempo piorou, deixando cair ainda mais chuva, e o pobre corpo de Bernie ainda estava
tentando lidar com a queda de ontem. Que bom que era sábado. Ou ela teria dificuldade para ir trabalhar.
Assim que ela terminou a última gota de seu café, houve uma batida leve na porta e o homem que a
socorreu entrou.
Ela puxou o lençol sobre os seios. A camisola a cobria bem, mas ela nunca teve um homem em seu
quarto em sua vida, exceto o seu falecido pai e seu médico. Ela enrubesceu.
Mikey sorriu de orelha a orelha. Ele adorou essa reação. As mulheres em sua vida eram atrevidas,
fáceis e imperturbáveis. Aqui estava uma inocente, que corava porque um homem a viu de camisola.
─ A Sra. Brown disse que você gostaria de uma segunda xícara de café. - Ele disse suavemente,
aproximando-se da cama com uma xícara e um pires.
─ Oh, eu, sim, eu... obrigada. - Ela nem conseguia falar normalmente. Estava furiosa consigo mesma,
especialmente quando suas mãos tremeram um pouco quando pegou a xícara e o pires das mãos dele. Ele
retirou a xícara vazia da bandeja, para que ela tivesse um lugar para colocar a nova.
Ele inclinou a cabeça e olhou para ela, fascinado. Seu longo cabelo loiro estava em uma trança, um
pouco emaranhado por dormir. Ela estava usando uma camisola de algodão, e ele podia ver as alças com
acabamento de ilhós. Isso o lembrou de sua avó, que nunca gostou de tecido artificial.
─ Você não está se sentindo tão bem hoje, está? - Ele perguntou. ─ Precisa que eu a leve ao médico?
O rubor aumentou.
─ Oh. Obrigada. Não, eu estou... bem, é meio normal. Quando chove, dói mais. E eu caí. - Ela mordeu o
lábio porque ele parecia muito culpado. ─ Isso não foi sua culpa ou do seu motorista. - Acrescentou ela
rapidamente. ─ Eu sou desajeitada. Meu dedo do pé atingiu um desnível na calçada e isso me fez perder o
equilíbrio. É por isso que uso a bengala nos dias ruins. Sou desajeitada mesmo em superfícies planas...
─ Minha avó tinha artrite. ­ Disse ele suavemente. ─ Suas pequenas mãos e pés eram retorcidos como
raízes de árvores. - Ele não estava olhando, então não percebeu o desconforto no rosto de Bernie. Seus
pobres pés também não eram muito bonitos. ─ Eu costumava carregá-la para dentro e para fora de casa
quando ela tinha crises ruins. Ela adorava sentar ao sol. - Seus olhos escuros estavam tristes. ─ Ela mal
pesava quarenta quilos, mas era como um pequeno pit bull. Até os chefões tinham medo dela.
─ Os chefões? - Ela perguntou, perdida em seus olhos suaves.
Ele encolheu os ombros.
─ Na família. - Disse ele.
Ela franziu o cenho. Sem entender.
─ Você realmente é um pouco inocente. - Ele murmurou para si mesmo. ─ A família é como as pessoas de
dentro chamam a máfia. - Explicou ele. ─ Os grandes são os dons, os homens que dirigem as coisas. Eu
sou de Nova Jersey. A maior parte da minha família esteve envolvida com o crime organizado. Bem,
exceto Paulie. ­ Ele acrescentou com uma risada. ─ Ele sempre foi o cara estranho.
Ela sorriu.
─ Ele é casado com Sari Grayling, que trabalha em nosso escritório.
Ele assentiu.
─ É uma mulher adorável. A irmã dela é uma artista f... fantástica - Disse ele, alterando a palavra que
pretendia usar.
─ Ela realmente é. Eles pediram a ela para fazer um retrato do nosso reitor da faculdade local, que estava
se aposentando. Parecia exatamente com ele.
Ele deu uma risadinha.
─ O que ela pintou três anos atrás salvou a vida dela. O pai dela matou uma mulher cujo filho contratou
homens para irem atrás das filhas de Grayling. Merrie pintou o grande don da minha cidade e ele cancelou
o contrato. - Ele não acrescentou como Tony Garza havia cancelado o contrato.
─ Ouvimos falar de tudo isso. Eu não estava trabalhando no escritório do promotor público na época. Eu
trabalhava para um advogado local que mudou seu escritório para San Antonio. Mas todos nós soubemos. -
Acrescentou ela. ─ Todo mundo falava sobre isso. Ele realmente a entregou em seu casamento, não foi?
Ele assentiu.
─ A esposa de Tony morreu jovem. Ele nunca teve filhos, nunca se casou novamente. ­ Ele sorriu. ─ Ele
diz a todos que é o pai de Merrie. Causa uma reação, deixe-me dizer, especialmente quando ele menciona
que o cunhado dela é um Fed.
Ela tomou um gole de café, fascinada por ele.
Era mútuo. Ele sorriu muito lentamente, seu coração fazendo coisas estranhas em seu peito. Há
muitos anos ele não sentia tanta ternura por qualquer mulher, exceto por sua avó.
─ Você tem família? ­ Ele perguntou de repente.
Seu rosto ensombreceu.
─ Não mais. - Ela disse suavemente, sem dar mais detalhes.
─ Nem eu. - Respondeu ele. ─ Exceto por Paulie. Somos primos de primeiro grau.
─ O Sr. Fiore é legal. ­ Disse ela.
Ele assentiu. Estava pensando em Tony, escondido e esperando por acontecimentos que o salvariam
da prisão perpétua. Mikey tinha a prova que poderia salvá-lo. Mas ele tinha que permanecer vivo o tempo
suficiente para apresentá-la. Aqui, em Jacobsville, estava sua melhor chance. Ele concordou em vir, por
que sabia quantos ex-mercenários e ex-militares viviam aqui.
Mas enquanto olhava para aquela jovem doce e gentil, pensou sobre o perigo em que poderia colocá-
la. Mesmo em uma situação perfeitamente segura, poderia havercontratempos. Afinal, o assassino
contratado que estava atrás de Merrie na verdade entrou na propriedade de Ren Colter no Wyoming e
vigiou o quarto dela antes de ela voltar para casa com a irmã e o cunhado.
Bernie inclinou a cabeça.
─ Algo está preocupando você.
Ele se sobressaltou.
─ Como você sabe?
Ela respirou lentamente e desviou os olhos.
─ As pessoas me acham estranha.
Ele deu um passo mais para perto da cama.
─ Como assim?
Ela se mexeu inquieta.
─ Eu... bem, eu meio que sei coisas sobre as pessoas. - Ela enrubesceu.
Ele assentiu.
─ Como Merrie. Ela tem esse tipo de percepção. Ela pintou um quadro meu perfeito, e ela não me
conhecia.
Ela ergueu os olhos.
─ Oh. Então você não fica... intimidado por coisas estranhas.
Ele deu uma risadinha.
─ Nada me intimida, garota. ­ Ele brincou.
Ela sorriu.
─ Então. Você acha que algo está me preocupando. ­ Um olho castanho se entrecerrou. ─ O que
exatamente?
Ela respirou fundo e olhou nos olhos dele.
─ Alguém quer impedir que você conte algo que sabe. - Disse ela depois de um minuto, e viu o choque
atingir o rosto dele.
─ Droga.
─ E você está preocupado que alguém possa machucar as pessoas a seu redor.
─ Precisa conseguir uma bola de cristal, um lenço e abrir uma loja. - Ele brincou gentilmente. ─ Você está
com certeza perdendo dinheiro. Mas isso fica entre você e eu, ok? Quanto menos pessoas souberem das
coisas, menos podem falar sobre elas.
Ela assentiu.
─ Eu não falo sobre coisas que eu sei, como regra. Eu trabalho para o escritório do DA. Fofoca não é
encorajada.
Ele deu uma risadinha.
─ Eu imagino que não.
Seu café agora estava gelado, mas ela o bebeu, para ter algo para fazer.
Ele olhou para ela com emoções conflitantes. Ela era única, ele pensou. Nunca conheceu alguém em
sua vida como ela.
Ela retribuiu o olhar. Seu coração a estava quase sufocando com sua batida desenfreada. Ela estava
grata por ter puxado as cobertas, para que ele não pudesse ver sua camisola vibrando com seus batimentos
cardíacos.
Houve outra batida rápida e a Sra. Brown entrou.
─ Terminou, querida? - Ela perguntou enquanto pegava a bandeja. ─ Você pode simplesmente colocar a
sua xícara aqui, Sr. Fiore. - Ela disse a Mikey com um sorriso. ─ Eu vou...
Ele a colocou na bandeja e então pegou a bandeja das mãos dela.
─ Você é delicada demais para carregar peso. - Disse ele com um sorriso. ─ Eu carrego isso pra você.
─ Oh, Sr. Fiore. ­ Ela riu, e corou como uma menina. ─ Se precisar de alguma coisa, é só me chamar,
Bernie, ok?
─ Eu vou. Obrigada. A vocês dois. - Ela acrescentou.
A Sra. Brown sorriu. Quando Mikey passou pela porta, ele se virou e piscou para ela.
Essa piscadela manteve seu coração batendo forte o dia todo, e a manteve acordada a maior parte da
noite.
***

Ela foi capaz de ir para a mesa do café da manhã no dia seguinte, mesmo que se movesse com um
pouco de dificuldade. Seus remédios funcionavam lentamente, mas pelo menos funcionavam. Tinha
prednisona para tomar nas piores crises, e isso ajudava tremendamente.
─ Você parece melhor hoje. ­ Disse a Sra. Brown. ─ Indo para a igreja?
─ Sim. ­ Ela respondeu com um sorriso. ─ Estou pegando uma carona com os Farwalkers.
Mikey franziu a testa.
─ Os Farwalkers? Espere um minuto. Farwalker. Carson Farwalker. Ele é um dos médicos daqui. Eu
lembro.
Bernie riu.
─ Sim. Ele é casado com Carlie Blair. O pai dela é pastor da igreja metodista local. Não tenho carro, então
eles vêm me buscar aos domingos para os cultos. Às vezes é apenas Carlie e o filho, Jacob, se Carson
estiver de plantão.
Ele não mencionou que conhecia aquele pastor, Jake Blair. Ele também sabia coisas sobre o passado
do homem que não ia compartilhar.
─ Minha família inteira era católica. - Disse ele. ─ Bem, não Paulie. Mas então, ele sempre seguiu seu
próprio caminho.
─ A família Ruiz aqui é católica. - Disse ela. ─ Ele é um Texas Ranger. Sua esposa é enfermeira. Ela
também trabalha em San Antonio, então eles viajam diariamente. Eles são pessoas muito legais.
─ Nunca conheci o Ruiz, mas ouvi falar dele. Rancho do tamanho de um pequeno estado, dizem.
Bernie sorriu.
─ Sim. É bastante grande, mas eles não são esnobes, se é que você me entende.
─ Meu Deus, não. - A Srta. Pirkle uma das inquilinas disse com um sorriso. ─ Seu primo e a família dele
também são assim, Senhor Fiore. - Acrescentou ela, com o rosto magro animado enquanto falava. ─
humildes. Pessoas boas.
─ Obrigado. ­ Disse ele.
─ Temos muitas famílias abastadas em Jacobsville e Comanche Wells. - A velha Sra. Bartwell interrompeu
com um sorriso. ─ A maioria deles ganhou sua riqueza da maneira mais difícil, especialmente os
Ballengers. Eles começaram sem nada. Agora Calhoun é Senador dos Estados Unidos e Justin administra
sua enorme empresa de confinamento aqui.
─ Essa é uma história real da pobreza à riqueza. - Concordou a Srta. Pirkle. ─ Os filhos deles também são
legais. Imagine, dois irmãos, três filhos cada, e nenhuma menina no grupo. - Acrescentou ela rindo.
─ Eu não me importaria com uma menina. - Disse Mikey, surpreendendo a si mesmo. Ele não ousou olhar
para Bernie, que suspirou com o comentário. Ele quase podia imaginá-la com um vestidinho de babados
aos cinco ou seis anos. Ela certamente foi uma criança bonita. Ele não pensava em filhos há muito tempo,
desde que sua ex-noiva afirmou que não se casaria com um conhecido criminoso. Isso partiu o coração de
Mikey. As mulheres eram traiçoeiras.
─ Crianças são cativantes. - Bernie disse suavemente enquanto terminava seu bacon com ovos. ─ Os Griers
vêm muito ao nosso escritório com a filha, Tris, e o filho, Marcus. Adoro ver os filhos deles.
─ O chefe de polícia. - Disse Mikey, assentindo. E deu uma risadinha. ─ Não é o típico policial de cidade
pequena.
─ Nem um pouco. - Bernie concordou, irônica.
─ Isso é verdade. ­ Disse a Srta. Pirkle. ─ Ele foi um Texas Ranger!
Os olhos de Bernie e de Mikey se encontraram. Ele entendeu a mensagem. Sua companheira de café
da manhã idosa não sabia sobre o passado do chefe de polícia. Melhor manter isso em segredo.
─ Você é daqui também? ­ Mikey perguntou a Srta. Pirkle.
─ Não. Eu sou de Houston. ­ Ela respondeu, seus risonhos olhos azuis. ─ Eu vim aqui com minha mãe
cerca de dois anos atrás, pouco antes de perdê-la. - Ela respirou fundo e forçou um sorriso. ─ Eu amei tanto
a cidade que decidi simplesmente ficar. Eu realmente não tenho ninguém em Houston agora.
─ Eu também não sou daqui. ­ Disse a Sra. Bartwell. ─ Eu sou migrante do norte. Do estado de Nova
Iorque.
─ Pensei ter reconhecido esse sotaque. ­ Brincou Mikey.
A Sra. Bartwell deu uma risadinha.
─ Tenho uma sobrinha-neta que mora em Chicago com a avó. Família rica. Muito antiga. Eles têm
ancestrais que morreram na Revolução Francesa.
─ Meu Deus! ­ A Srta. Pirkle exclamou, toda ouvidos. ─ Minha irmã e eu não nos falamos há vinte anos. -
Acrescentou ela. ─ Tivemos um pequeno desentendimento que levou a uma briga terrível. Meu marido
morreu de câncer e não tivemos filhos. A mãe da minha sobrinha-neta era de Jacobsville. Ela era uma
Jacobs, na verdade.
─ Impressionante. - Disse Bernie com um sorriso. ─ Ela era parente do Big John?*
─ Sim, distante.
─ Big John? ­ Mikey perguntou curiosamente.
─ Big John Jacobs. - Respondeu Bernie, porque sabia a história de cor. ─ Ele era meeiro na Geórgia antes
do Exército da União incendiar sua fazenda e matar a maior parte de sua família, pensando que eram
proprietários de escravos. Eles não eram. Eles eram pobres, como a família negra que ele salvou de
verdadeiros donos de escravos. Um dos oficiais da União ia mandar fuzilá-lo, mas a família negra se
interpôs entre ele e o militar e o fez ouvir a verdade. Eles salvaram a vida dele. Ele veio para cá logo após a
Guerra Civil com eles. Ele nem mesmo tinha uma casa decente, então ele e as famílias moraram juntos em
um grande cabana. Ele contratou alguns homens Comanches e muitos cowboys do México e começou a
fazenda com Texas Longhorn.* Ele deixava as pessoas desconfortáveis porque não era racista em uma
época em que muitas pessoas eram. Casou-se com uma herdeira e convenceu o pai dela a construir um
ramal ferroviário para o rancho, perto da atual Jacobsville, para que pudesse embarcar seu gado para o
norte. Fez uma fortuna com isso.
─ Que história. ­ Mikey riu.
─ E tudo verdade. ­ Disse a Srta. Pirkle. ─ Há uma estátua de big John na praça da cidade. Uma de seus
descendentes diretos é casada com Justin Ballenger, dono de uma das maiores Empresas de confinamento
do Texas.
*Big Jonh Jacobs - Homens do Texas 27 (O Fundador).

*Texas Longhorns
─ Toda essa conversa de grandes homens me deixa com os joelhos bambos. - Brincou Mikey.
─ Você tem ancestrais ilustres, Sr. Fiore? - A Sra. Brown perguntou com um sorriso malicioso.
─ Não. - Ele disse. ─ Se tenho não sei. Minha avó foi a única pessoa ilustre que já conheci.
─ Ela era famosa? ­ A Sra. Bartwell perguntou.
─ Bem, ela era famosa em Jersey. ­ Ele murmurou. ─ Ela se aborreceu com um don e o perseguiu pela sala
com um salame.
Houve olhares confusos.
─ Gente da máfia. ­ Explicou ele.
─ Oh! Como em Os Sopranos, que costumava passar na televisão! ­ Disse a Srta. Pirkle. ─ Nunca perdi um
episódio!
─ Mais ou menos assim. ­ Disse ele. ─ Mais como Marlon Brando em O Poderoso Chefão. - Disse ele,
rindo. ─ Depois disso, todo o Natal ele mandava um grande presente para ela e até compareceu ao funeral.
Ela era feroz.
─ Ela era italiana? ­ A Sra. Brown perguntou.
Ele riu.
─ Ela era grega. Todos os outros em minha família eram italianos, exceto ela. Ela era uma coisinha
minúscula, mas feroz. Eu morria de medo dela quando era criança. Paulie também. Nossos pais não tinham
muito tempo para nós. - Acrescentou ele, sem explicar por quê. ─ então ela praticamente nos criou.
─ Não conheci nenhuma das minhas avós. - Disse Bernie enquanto bebia o café.
Mikey a estava observando de perto.
─ De onde eram seus avós? - Ele perguntou.
Ela se fechou como uma flor. E forçou um sorriso.
─ Não tenho certeza. ­ Ela mentiu. ─ Porém, meu pai e minha mãe eram de Jacobsville, e moramos aqui
desde que eu tinha idade suficiente para lembrar das coisas. Eu tenho que me preparar para a igreja. Estava
delicioso, Sra. Brown. - Ela acrescentou.
─ Obrigada, querida. ­ Disse a Sra. Brown, e fez uma pequena careta. Ela conhecia o passado de Bernie.
Muitas outras pessoas locais não o faziam. Ela quase podia sentir a angústia de Bernie. Não é culpa do Sr.
Fiore por tocar no assunto. Ele não sabia. ─ Quer uma segunda xícara de café para tomar enquanto você se
veste?
─ Se eu bebo dois, posso voar pela sala e pousar no varão da cortina. - Bernie provocou. ─ Já estou
hiperativa do jeito que está. Mas obrigada.
Ela olhou para Mikey, intrigada com a expressão em seu rosto. Ela sorriu para os outros e voltou para
o quarto.

***

Jake Blair era um enigma, Bernie pensou enquanto entrava na fila da porta da frente para
cumprimentá-lo após o belo sermão. Ele parecia ser muito convencional, exatamente como se esperava que
um pastor fosse. Mas ele dirigia um Shelby Cobra Mustang vermelho com um motor turbinado e havia
rumores sobre seu passado. O mesmo tipo de rumores que seguia o chefe de polícia de Jacobsville, Cash
Grier, onde quer que ele fosse.
Bernie agarrou sua bengala de dragão com força e olhou para a criança nos braços do Dr. Carson
Farwalker enquanto ele e Carlie caminhavam ao lado dela.
─ Imagine vocês dois com uma criança. - Bernie suspirou enquanto ia de um rosto para o outro.
Carlie sorriu.
─ Imagine nós dois casados! ­ Ela corrigiu com um olhar amoroso para o marido, que foi retribuído. ─ Eles
estavam fazendo apostas na delegacia de polícia no dia em que nos casamos, sobre quando ele iria partir
─ Eles estão esperando um longo tempo, você não acha? - Carson riu.
─ Muito tempo. ­ Ela concordou. ─ Imagine, nós costumávamos lutar um contra o outro no World of
Warcraft em campos de batalha e não sabíamos disso. Não até que minha vida estivesse em perigo e papai
pedisse a você para me vigiar.
─ Eu vigiei você muito mais do que ele me disse para fazer. - Provocou Carson.
Ela riu.
Eles estavam próximos a Jake agora e ele estava dando a eles um sorriso divertido.
─ Este é o meu garoto! ­ Ele disse suavemente, e estendeu os braços para Jacob, que recebeu o nome dele.
─ Gimpa. ­ O menino riu e abraçou o homem alto.
Jake o abraçou forte.
─ Se alguém tivesse me dito dez anos atrás que eu ficaria todo bobo por causa de um neto, acho que teria
rido.
─ Se alguém tivesse me dito dez anos atrás que eu estaria praticando medicina em uma pequena cidade do
Texas, eu teria desmaiado. - Carson riu.
─ Gosto de ter família. ­ Disse Jake, e sorriu para a filha e o genro. ─ Eu nunca pertenci a nenhum lugar na
minha vida até agora.
─ Nem eu. - Disse Bernie suavemente.
Jake olhou para ela com gentileza, e ela sabia que ele tinha ouvido os boatos. Ela apenas sorriu.
Afinal, ele era seu pastor. Algum dia talvez ela pudesse falar sobre isso. A Sra. Brown sabia, mas ela era
discreta. Muitas outras pessoas não tinham ideia sobre a história de Bernie porque ela viveu por alguns
anos, com seus pais, em Floresville antes de voltar para cá com seu pai pouco antes de ele morrer. Ela não
gostava de pensar sobre aqueles dias. De modo algum.
Jake olhou para trás de sua família para os poucos fiéis restantes, obviamente impacientes, e entregou
seu neto de volta para Carson.
─ Ah, bem, vejo vocês em casa mais tarde. Estou atrasando a fila. - Acrescentou ele, e olhou para trás de
Carson para um homem que realmente corou.
─ Sem problemas, Pastor. ­ Disse o homem. ─ É que a fila já está se formando para o almoço no Barbara’s
Café...
─ Não diga mais nada. ­ Jake riu. ─ Na verdade, eu mesmo estou indo para lá. Eu posso queimar água.
─ Você pode cozinhar. - Carlie o repreendeu.
─ Só quando eu quero. E eu não quero. - Ele confidenciou com um sorriso. Ele beijou sua bochecha e
apertou a mão de Carson. ─ Vejo todos vocês para o jantar. Você vai levar?
─ Claro. ­ Carlie respondeu com um sorriso. ─ Nós sabemos que você pode queimar água!
Ele apenas riu.
***

Bernie entrou na pensão um pouco cansada, mas feliz pelas poucas horas de convívio com os amigos.
Ela não estava olhando para onde estava indo, sua mente ainda estava no garotinho dos Farwalkers, a quem
ela sentou ao seu lado no banco de trás e arrulhou durante todo o caminho para casa. Ela esbarrou em
Mikey e quase caiu.

CAPÍTULO TRÊS

Mikey apenas olhou para ela, sorrindo fracamente enquanto a segurava pelos ombros e a poupava de
uma queda. Ela estava bonita, com seu longo cabelo loiro platinado solto sobre os ombros, usando um
vestido rosa em algum material macio que exibia sua bela figura sem torná-lo indecente. Ele pensou em
todas as mulheres que conheceu que desfilaram por aí em vestidos com fendas até a coxa e decotados, na
frente até a cintura. Ele as comparou com Bernie e descobriu que a preferia àquelas mulheres chamativas
de seu passado.
─ Obrigada. - Ela disse, uma nota rouca em sua voz quando ela olhou para ele com fascinados olhos
verdes pálidos. Era um longo caminho. Ele era robusto para sua altura e sua cabeça era leonina, larga, com
um nariz reto, lábios cinzelados e um queixo quadrado. Ele parecia uma estrela de cinema. Ela nunca tinha
visto um homem tão bonito.
─ Pensamentos profundos? - Ele perguntou suavemente.
Ela prendeu a respiração.
─ Desculpe. Eu estava pensando em como você é bonito. ­ Ela enrubesceu. ─ Oh, meu Deus. ­ Ela gemeu
quando isso escapou.
─ Está tudo bem. ­ Ele brincou. ─ Estou acostumada com as mulheres desmaiando por mim. Sem
problemas.
Isso quebrou o gelo e ela riu.
Ele amava a maneira como ela ficava quando ria. Todo o seu rosto resplandecia. A cor florescia em
suas bochechas. Seus olhos verdes brilhavam. Incrível que uma mulher com deficiência pudesse rir de
tudo. Mas, então, sua avó tinha sido assim. Ela nunca reclamava. Ela apenas aceitou sua sorte na vida e
continuou vivendo.
─ Você nunca reclama, não é? - Ele perguntou de repente.
─ Bem... não realmente. ­ Ela gaguejou. ─ Há uma citação que o chefe tem na parede do escriório, uma
citação de São Francisco de Assis...
─ Deus me conceda serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar; coragem para mudar as coisas
que posso; e sabedoria para saber a diferença. - Ele disse.
Ela sorriu.
─ Você a conhece.
Ele encolheu os ombros.
─ Minha avó me arrastava para a missa todos os domingos até que eu tivesse idade suficiente para me
recusar a ir. Ela tinha uma placa com essa frase. Eu decorei.
─ É bonita.
─ Eu acho.
Ele a deixou ir lentamente.
─ Você está bem?
─ Estou bem. Eu não estava prestando atenção para onde estava indo. Desculpe, eu caí em você.
─ Sinta-se à vontade para fazer isso quando quiser. - Disse ele, e seus olhos escuros brilharam. ─ Toda vez
que você cair, garota, eu estarei aqui para segurá-la, todas as vezes.
Ela enrubesceu.
─ Obrigada. Eu faria o mesmo por você, se pudesse. - Ela avaliou a altura dele. A cabeça dela chegava ao
ombro dele. Ele provavelmente pesava o dobro do peso dela, e o terno caro que ele estava usando não
disfarçava o corpo musculoso por baixo. ─ No entanto, eu não acho que poderia pegar você.
Ele riu.
─ Não se preocupe. Vejo você mais tarde.
Ela assentiu.
Ele a contornou e saiu pela porta, assim que ela ouviu um carro parar no meio-fio. Seu motorista, sem
dúvida. Ela se perguntou aonde ele iria no domingo. Mas, então, isso realmente não era da conta dela.

***

Na manhã seguinte, Bernie viu Mikey novamente, à mesa do café da manhã. Ele estava calado e
parecia muito triste. Ele estava preocupado. Alguém rastreou Tony até as Bahamas e Marcus Carrera
cobrou alguns favores para mantê-lo seguro. Tony usou um de seus telefones descartáveis para ligar para
Mikey, no número que Mikey enviou por meio de um aliado.
Carrera, ele lembrou, não era um homem com quem se podia mexer. Antes um chefão no norte, o
homem deu uma virada completa e se tornou honesto. Ele tinha um patrimônio de milhões. E se casou com
uma garota de uma pequena cidade do Texas há alguns anos e eles tinham dois filhos. A esposa era na
verdade de Jacobsville, uma menina que consertava roupas na lavanderia local. Seu pai era tão rico quanto
Tony. Sua mãe tinha fingido ser sua irmã, mas a verdade veio à tona quando Carrera foi ameaçado e sua
futura esposa o salvou. Mikey conhecia os sogros de Carrera, mas de vista. Pelo menos Tony estava
seguro. Mas se o haviam localizado, provavelmente tinham uma boa ideia de onde Mikey estava. Não
teriam muito trabalho para descobrir que Mikey esteve aqui em Jacobsville três anos atrás para ajudar seu
primo Paulie. No entanto, apesar disso, ainda era o lugar mais seguro em que ele poderia estar. Ele tinha
tanta proteção quanto precisava, de ambos os lados da lei.
Ele olhou para as mulheres à mesa. Seus olhos permaneceram em Bernadette. Ele não queria colocá-
la na linha de fogo. Tinha sido uma má ideia conseguir um quarto na pensão. Ou não tinha?
─ Pensamentos profundos, Sr. Fiore? ­ A Sra. Brown provocou. ─ Você está muito quieto.
Ele riu constrangido quando sentiu os olhos nele.
─ Sim. Eu estava pensando em um amigo meu que teve alguns problemas recentemente.
─ Todos nós já passamos por isso. ­ Disse a Srta. Pirkle calorosamente. ─ Acho que os amigos se tornam
uma família depois de um tempo, não é? Nós nos preocupamos com eles assim como nos preocupamos
com os parentes.
─ E isso é um fato. - Ele concordou.
─ Minha melhor amiga se afogou na piscina de um vizinho, quando minha família morou por um breve
período em Floresville. - Comentou Bernie.
─ Você viu acontecer? - Mikey perguntou.
Ela olhou para seu prato. Seu rosto inteiro se contraiu.
─ Sim. Não cheguei a ela a tempo.
─ Escute, garota, às vezes as coisas simplesmente acontecem. Como se estivessem destinadas a acontecer.
Não sou um homem religioso, mas acredito que a vida tem um plano. Cada vida.
Bernie ergueu os olhos para ele. Seu rosto relaxou um pouco. Ela deu um longo suspiro.
─ Sim. Eu também acredito nisso. - Ela sorriu.
Ele retribuiu o sorriso.
Os sorrisos duraram apenas um segundo a mais para serem casuais. A Sra. Brown quebrou o silêncio
colocando sua xícara ruidosamente no pires, sem olhar para seus pensionistas. Isso a divertia, o malandro
do Norte e a tímida garota do Texas, que achavam fascinantes um ao outro. O marido da Sra. Brown
morreu há anos, e a deixou com uma grande casa fora da cidade e um punhado de contas que ela não podia
pagar. Abrir sua casa para inquilinos tinha feito a diferença. Com o aumento da renda, ela conseguiu
comprar esta casa na cidade e transformá-la em uma nova pensão. A venda da primeira casa financiou a
compra e reforma desta. O novo local era perfeito para seus hóspedes que trabalhavam em Jacobsville. Ela
descobriu que tinha uma aptidão natural para lidar com as pessoas, e isso mantinha suas contas pagas e a
deixava em uma situação financeira confortável. Mas o romance estava faltando em sua vida. Agora ela
estava observando o desenrolar deste, com prazer.
Mikey olhou para seu pulso, para o relógio pequeno de ouro, muito caro que ele usava.
─ Tenho que correr. Vou me encontrar com Paulie em San Antonio, mas estarei em casa a tempo para o
jantar. - Disse ele à Sra. Brown. Ele se levantou e se inclinou na direção dela. ─ O que vamos comer?
─ Lasanha. ­ Ela disse com um sorriso. ─ E sim, eu sei como fazer. Mandy Swilling me ensinou.
─ Você é um anjo! - Ele disse, e riu. ─ Eu definitivamente voltarei na hora certa. Vejo vocês mais tarde.
Todos eles se despediram. Bernie corou quando ele se virou na porta e olhou para ela com olhos
escuros, suaves e um sorriso.

***

Ela se sentia bem o suficiente para caminhar os quatro quarteirões até o trabalho e quase não
precisava da bengala. Sua vida deu uma guinada. Ela estava feliz pela primeira vez em muito tempo. Só de
pensar em Mikey Fiore a fazia estremecer toda e aquecer por dentro.
Isso foi notado pelas pessoas com quem ela trabalhava, especialmente a nova garota, Jessie Tennison.
Jessie era mais velha do que os 24 anos de Bernadette. Ela devia ter no mínimo vinte e sete anos. Havia
sido casada e agora estava divorciada, sem filhos. Ela parecia estar sempre à caça de homens ricos. Isso já a
havia colocado em problemas com o chefe delas, o Sr. Kemp, o promotor público. Isso não parecia impedi-
la. Ela usava roupas muito reveladoras, o que a fez também ser advertida sobre isso, e não era amigável
com as mulheres no escritório.
Bernie largou a bolsa, dobrou a bengala e tirou o casaco antes de se sentar.
─ Eu não entendo por que você trabalha. - Disse Jessie casualmente, olhando para Bernie com um olhar
frio nos olhos azuis. ─ Eu simplesmente pegaria ajuda do governo e ficaria em casa.
─ Eu não preciso de caridade. Eu trabalho para viver. - Disse Bernie. E sorriu para a morena alta, mas não
calorosamente.
Jessie encolheu os ombros.
─ Como quiser. Estou indo ao tribunal no meu intervalo para falar com minha amiga Billie. - Acrescentou
ela, vestindo um casaco comprido.
Bernie quase mordeu a língua para não mencionar que o intervalo delas durava apenas dez minutos e
que Jessie demoraria muito para caminhar até o tribunal. O escritório do promotor distrital anteriormente
ficava no tribunal, mas este ano eles se mudaram para um novo prédio do condado, onde tinham mais
espaço. O aumento do espaço encantou o pessoal do escritório, que havia crescido consideravelmente. Seu
novo escritório ficava mais perto da pensão da Sra. Brown e do Café da Bárbara, mas mais longe do
tribunal. Ela não disse isso, mas sua colega de trabalho Olivia disse.
─ Quem está no tribunal hoje, Jessie? - Ela perguntou com uma expressão vazia. ─Algum homem da classe
alta realmente rico que pode precisar de uma companhia?
─ Vocês...! ­ Jessie começou assim que a porta do escritório do Sr. Kemp se abriu. Ela sorriu para ele, toda
doçura. ─ Vou ao tribunal no intervalo para ver minha amiga Billie por um minuto, Sr. Kemp. Tudo bem
para você? - Ela acrescentou com um olhar frio para sua colega de trabalho.
─ Se for absolutamente necessário. - Respondeu laconicamente. Ele não estava satisfeito com sua nova
funcionária. Na verdade, ele estava começando a achar que havia cometido um grande erro. Uma
recomendação entusiasmada de um advogado de San Antonio havia conseguido o emprego para Jessie,
principalmente porque não havia outras candidatas. Recepcionistas competentes com vários anos de
experiência não eram abundantes em Jacobsville.
─ É realmente. ­ Disse ela, e parecia que não era toda a verdade. ─ Eu tenho um amigo no hospital em San
Antonio. Billie foi vê-lo. - Acrescentou ela rapidamente.
─ OK. Tente não demorar muito. ­ Ele parou e olhou para ela por um longo tempo. ─ Você tem uma pausa
de dez minutos. Não uma hora.
─ Oh, sim, senhor. ­ Ela respondeu docemente e saiu pela porta em uma nuvem de perfume enjoativo.
A colega de trabalho de Bernie abanou o ar com uma pasta de arquivo, fazendo uma careta.
Menos de cinco minutos depois, a assistente DA Glory Ramirez entrou pela porta e fez uma careta.
─ Quem está filmando um comercial de perfume aqui? - Ela perguntou.
─ Alguém que está com raiva de mim, provavelmente. - Sari Fiore, a segunda promotora assistente, riu
quando entrou atrás de Glory. ─ Perfume me dá enxaqueca.
─ Vou ligar o ar condicionado por tempo suficiente para jogá-lo para fora do prédio. - Ofereceu o Sr.
Kemp.
─ Peça a ela para não usá-lo mais. Eu o desafio. - Sari disse ao chefe.
Ele riu e voltou para seu escritório. O telefone tocou. Sari atendeu, acenou com a cabeça, falou no
receptor e apertou um botão. Era para o Sr. Kemp. Ela desligou.
─ Onde está Jessie? ­ Sari perguntou secamente. ─ O telefone é trabalho dela, não nosso.
─ Há um cara rico no tribunal. ­ Disse Olivia a ela. ─ Ela recebeu um telefonema de sua amiga Billie, que
trabalha como assistente temporária no escritório do secretário do Tribunal. Acho que era sobre isso,
embora ela tenha dito que ia perguntar sobre um amigo doente.
─ Ela não pode fazer isso pelo telefone? - Sari perguntou, horrorizada.
─ Bem, ela não pode ver o cara rico pelo telefone. - Disse Olivia inocentemente e com um sorriso
malicioso.
─ Jessie é uma chata. - Acrescentou Glory. ─ Eu me pergunto como ela conseguiu passar pelo chefe e ser
contratada. Ela definitivamente não é como nenhuma recepcionista legal que eu já conheci.
─ Ela é de uma cidade grande, não de uma cidade pequena. - Disse Sari. ─ Ela tem um sotaque como o
daquele advogado de Manhattan que esteve aqui no mês passado.
─ Eu percebi. ­ Respondeu Glory. ─ Como você está se sentindo Bernie?
Bernie corou e sorriu.
─ Eu estou bem.
─ Oh? ­ Sari provocou. ─ Ouvimos sobre seu novo pensionista na Sra. Brown.
Bernie ficou escarlate.
─ Isso foi maldade. ­ Glory disse a Sari.
─ Desculpe. ­ Sari disse, mas ela ainda estava sorrindo. ─ Mikey é lindo, não é? ­ Ela adicionou. ─ Ele
poderia posar para comerciais.
─ Eu percebi. ­ Disse Bernie. ─ Ele é muito bonito.
─ Ouvimos falar da queda. Você está bem?
Bernie engasgou.
─ Ele conta tudo para vocês?
─ Bem, nem tudo. Apenas quando ele se sente culpado por alguma coisa. ­ Ela sorriu gentilmente. ─ Ele se
sentiu péssimo por ter julgado você mal. Mas não é surpreendente. Ele já fez mulheres pularem na frente de
seu carro antes.
─ Meu Deus! ­ Bernie exclamou, fascinada.
─ Ele é muito rico. ­ Destacou Glory. ─ E algumas mulheres são inescrupulosas.
─ É verdade. ­ Disse Bernie. ─ Mas eu não sou.
─ Ele notou. ­ Sari respondeu, ironicamente. ─ Ele disse que você o lembra da avó dele.
Os olhos de Bernie se arregalaram e ela parecia absolutamente horrorizada.
─ Não! ­ Sari disse rapidamente. ─ Ele não quis dizer que pensava que você era velha. Ele disse que você
tinha o mesmo coração bondoso e a mesma língua afiada que ela. Ele ficou maravilhado quando você o
comparou com aquele cara do filme Academia de Polícia. - Seus olhos azuis brilharam quando ela olhou
para Bernie. ─ Paul disse que ele realmente era como aquele cara também.
Bernie riu.
─ Ele é muito divertido na pensão. Ele deixa nossas duas senhoras muito agitadas. A Sra. Brown também.
─ Ele é lindo. Mas não é realmente um mulherengo, apesar da aparência. - Acrescentou Sari. ─ Na
verdade, ele não gosta da maioria das mulheres. Ele teve uma experiência difícil alguns anos atrás. Eu acho
que o afetou.
─ Todos nós tivemos experiências difíceis. - Observou Glory. E balançou a cabeça. ─ Se alguém alguma
vez me disesse que eu me casaria com Rodrigo...!
─ Se alguém me disesse que eu finalmente me casaria com Paul... - Sari rebateu, e as duas riram.
Ambas as mulheres tiveram um caminho difícil até o altar, com algumas experiências dolorosas ao
longo do caminho. Agora elas estavam felizes. Glory e Rodrigo tinham um filho, mas Paul e Sari não
formaram família. Apesar de serem podres de ricos, os dois eram voltados para a carreira. Paul era do FBI
no escritório de San Antonio e Sari era assistente da promotoria aqui no condado de Jacobs. As crianças
definitivamente estavam em seu futuro, Sari sempre dizia, mas não nesse momento.
Bernie adoraria ter uma criança. Seria difícil para ela com seus problemas físicos, mas isso não a
deteria se ela encontrasse um homem que a amasse o suficiente para se casar com ela. Ela pensou
rapidamente em Mikey e seu coração acelerou, mas ela sabia que não era bonita ou culta o suficiente para
atrair um homem tão sofisticado. E se ele tinha chegado a sua idade atual, que devia estar no final da casa
dos trinta, solteiro, era improvável que pensasse em se casar com alguém no futuro. Que pensamento
deprimente, ela percebeu, e antes de mais nada que tolice pensar nisso. Ele estava aqui apenas
temporariamente. E pertencia ao norte.
Ela se sentou muito quieta, ciente da conversa a seu redor e sem ouvi-la. Mikey pertencia ao norte.
Mas ele estava em Jacobsville sem motivo aparente e alugou um quarto em uma pensão, o que significava
que ficaria por um tempo. Por quê?
Ela sabia que ele estava preocupado com as pessoas a seu redor na pensão. Ele havia deixado alguém
realmente bravo, e eles estavam atrás dele? Ele estava em Jacobsville porque era seguro aqui? Ela ouviu
apenas um trecho da fofoca da Sra. Brown, que o Sr. Fiore estava sendo vigiado por um dos homens de Eb
Scott. Ninguém sabia por quê. Mas os homens de Eb eram mercenários, experientes em combate. Bernie
esperava que Mikey não estivesse sendo caçado.
Que palavra estranha para se pensar, ela meditou enquanto entrava no programa de computador que
usava em seu trabalho. Caçado. Ela adivinhou que Mikey estava apreensivo por outra pessoa. Seu coração
deu um salto. Seria uma mulher? Não. Sari disse que ele estava amargurado com as mulheres. Um homem?
Alguém de seu passado com ressentimentos? Ele sabia muito sobre o crime organizado. Talvez tenha sido
alguém que ele encontrou em seu trabalho, porque a Sra. Brown comentou que ele disse a ela que era dono
de um hotel em Las Vegas. Ele deve, ela pensou, ser muito rico, se possuía uma propriedade naquele lugar
caro.
Ela estava pesquisando um precedente* para um novo caso para o chefe quando Jessie voltou,
espalhando seu perfume caro por toda parte.
Sari olhou para ela.
─ Jessie, eu já disse que perfume forte causa enxaqueca. Eu odiaria ter que falar com o Sr. Kemp sobre
isso.
─ Oh, me desculpe! ­ Jessie disse, fingindo surpresa. ─ Não vou usar tanto de agora em diante.
─ Obrigada. ­ Sari deu a ela um olhar que ela não viu e voltou ao trabalho.
─ Bem, ele estava lá, seu alvo rico? - Olivia perguntou lentamente.
Jessie olhou para ela.
─ Eu não tenho um alvo rico.
─ Algum cavalheiro rico? ­ Olivia investigou mais.
Jessie tirou o casaco e sentou-se à mesa.
─ Eu não sei. Ele estava em uma limusine preta. E é de Nova Jersey.
O coração de Bernie acelerou. Ela só conhecia um homem rico em Jacobsville que andava em uma
limusine preta. Tinha que ser Mikey. Jessie era linda e sofisticada, provavelmente o tipo de mulher que
Mikey realmente iria querer. Jessie era uma coisa estranha em Jacobsville, onde a maioria das mulheres
não era moderna. A mulher mais velha provavelmente o encantou.
Enquanto ela pensava, os olhos frios de Jessie cravaram em seu rosto.
─ Ele disse que está morando na pensão da Sra. Brown. É onde você mora, não é, Bernadette?
─ Sim. ­ Disse Bernie sucintamente.
Jessie riu, seu escrutínio quase insultuoso.
─ Bem, você não vai ser nenhum tipo de competição, vai? Quero dizer, nenhum homem são vai querer se
envolver com uma mulher que não consegue ficar de pé sem uma bengala.
─ Isso é o suficiente. - Disse o Sr. Kemp laconicamente da porta aberta de seu escritório, e ele parecia
ainda mais temível do que o normal. ─ Você tem mais uma advertência Jessie, logo você voltará para San
Antonio. Não menospreze suas colegas de trabalho. Nunca.
Jessie realmente corou. Ela não percebeu que o chefe podia ouvi-la. Ela teria que ser muito mais
cuidadosa. Não havia nenhum outro emprego disponível em Jacobsville agora, e ela não podia perder este.
─ Sinto muito, Sr. Kemp. ­ Ela começou.
─ Bernie é a quem você deve um pedido de desculpas.
─ Sim senhor. ­ Jessie se virou para Bernie. ─ Eu sinto muito. Isso foi errado da minha parte.
─ Tudo bem. ­ Disse Bernie, mas ela realmente não olhou para a outra mulher.

*Precedente é a decisão judicial tomada em um caso concreto, que pode servir como exemplo para outros julgamentos similares.
O Sr. Kemp hesitou por apenas um minuto antes de voltar para seu escritório.
─ Descuidada, Jessie. ­ Disse Olivia em um tom baixo. ─ É melhor verificar se o chefe não está ouvindo
quando você começar a fazer comentários rudes sobre uma de nós.
Jessie parecia prestes a explodir. O telefone tocou e a salvou de piorar sua situação.

***

Na hora do almoço, Olivia e Bernie foram comer no Barbara’s Café. Glory e Sari foram para casa,
Glory tinha uma babá e poderia ver o filho enquanto comia. Sari almoçou com Mandy Swilling, a
governanta dos Grayling. Jessie ficou presa no escritório até que os outros voltassem, graças ao Sr. Kemp,
que insistiu que alguém deveria atender o telefone enquanto ele estivesse fora do escritório. Jessie estava
quase fumegando quando as outras mulheres saíram pela porta.

***

─ Jessie é um saco. ­ Disse Olivia secamente.


Os olhos verdes claros de Bernie brilharam enquanto ela comia a sua salada do chefe.*
─ Você realmente a deixou furiosa.
─ Bem, ninguém mais diz nada. ­ A outra mulher se defendeu. Sua voz se suavizou. ─ Muito menos você,
Bernie. Você é a mulher mais doce que já conheci, exceto por minha falecida avó. Você poderia encontrar
uma coisa gentil a dizer sobre o diabo. - Ela brincou.
Bernie riu baixinho.
─ Eu imagino que sim.
─ Pelo menos Sari finalmente disse algo sobre o perfume forte. Eu sei que ela tem enxaquecas por isso. Ela
está sujeita a enxaquecas apenas pelo estresse do trabalho. Jessie não se importa com o que faz ou diz, a
menos que o chefe perca a paciência. ­ Ela franziu o cenho. ─ O que ela está fazendo aqui? ­ Ela
acrescentou com uma carranca. ─ Quer dizer, ela trabalhava em San Antonio, onde os salários são muito
mais altos. Ela não conhece ninguém em Jacobsville.
─ O chefe disse que ela queria um ritmo mais lento. - Respondeu Bernie.
─ Certo. Como se ela tivesse algum estresse. A menos que atender o telefone cause úlceras. - Disse Olivia
secamente. ─ Ou curvar-se sobre a mesa para mostrar o máximo possível do decote quando um cliente rico
entra.
─ Oh, que vergonha! ­ Bernie disse, rindo.
─ Eu sei. Eu sou má. Mas Jessie é pior. Ela conheceu seu colega pensionista também. - Acrescentou Olivia
com um olhar aguçado para o rosto corado de Bernie. ─ Ela estará atrás dele em breve. Ninguém aqui anda
de limusine, exceto o primo de Paul, Mikey. Sari costumava fazer isso, mas ela dirige agora que todas as
ameaças a ela e sua irmã se foram.
─ Ele também está aqui por um motivo. - Disse Bernie.
─ Um palpite ou aquela intuição que deixa a maioria das pessoas nervosas? - Olivia brincou.
Bernie riu.
─ Talvez um pouco dos dois.
─ Ou talvez não. ­ Olivia olhou para cima e baixou o olhar novamente. ─ Alguma ideia sobre o que ele
pode estar fazendo hoje?
O coração de Bernie saltou e ela o sentiu palpitar. Incrível que ela soubesse exatamente onde ele
estava, sem nem mesmo olhar.
─ Ele está entrando pela porta.
Ela não olhou para cima ao dizer isso. Ela o fez agora, e lá estava ele, em um terno escuro com uma
gravata azul estampada, olhando em volta até que avistou Bernie. Ele sorriu ao ir até o balcão e fazer o
pedido, pagando antes de se juntar a Olivia e Bernie à mesa.
─ Tem espaço para mais um? ­ Ele perguntou com um sorriso para ambas as mulheres. ─ Eu realmente não
conheço mais ninguém aqui, e sou tímido.
─ Oh, claro que você é. - Disse Olivia com um sorriso irônico. Ela enxugou a boca. ─ Tenho que voltar
antes que Jessie fique roxa e diga que a estamos deixando com fome. Você fica e termina sua salada,
Bernie. - Ela acrescentou enquanto se levantava. ─ Você tem meia hora antes de voltar.
─ Jessie. Essa é a morena com roupa inadequada que trabalha no seu escritório? - Ele perguntou.

*Salada do Chefe(Chef's salad) - É uma salada americana que consiste em ovos cozidos, uma ou mais variedades de carne, como presunto, peru, frango ou
rosbife, tomates pepinos e queijo, todos colocados sobre uma cama de alface ou outras verduras. Várias receitas antigas também incluem anchovas.
Elas concordaram.
─ Não diga a ela que estou aqui, ok? - Ele pediu a Olivia. E balançou a cabeça. ─ Eu sei como os cervos se
sentem na temporada de caça.
Ambos riram.
─ Eu não vou. Prometo. - Disse Olivia. Ela piscou para Bernie e foi levar a bandeja de volta.
Mikey olhou para Bernie lentamente, observando a trança loira e o belo terno cinza que ela usava
com uma blusa rosa.
─ Você está bonita. - Ele disse suavemente.
Ela corou e riu timidamente.
─ Obrigada.
─ Você é um sopro de primavera em comparação com as mulheres que conheço. - Acrescentou ele em voz
baixa, observando-a. ─ Mulheres Atrevidas, arrogantes que não me atraem atualmente. Acho que estou
cansado.
Ela sorriu timidamente.
─ Você é muito bonito e rico. Eu acho que as mulheres perseguem você. Até estrelas de cinema e mulheres
ricas.
Ele franziu os lábios.
─ Elas costumavam. São as outras coisas que as desestimulavam.
Suas sobrancelhas finas arquearam.
─ As outras coisas? ­ Ela perguntou.
Ele deu de ombros.
─ Minhas conexões.
Ela ainda não estava entendendo. Enquanto tentava entender, Bárbara trouxe o prato dele com bife,
salada e uma xícara de café preto e o colocou na frente dele.
─ Espero que esteja bem feito. ­ Disse ela a Mikey. ─ Meu cozinheiro tende a fazer bife passado demais.
Um de nossos clientes o levou de volta para a cozinha e começou a mostrar a ele como grelhá-lo
corretamente.
─ Jon Blackhawk. ­ Supôs Bernie.
─ Como você advinhou? - Bárbara perguntou.
─ Ele é o único chef gourmet que conheço e é chefe de Paul no escritório do FBI em San Antonio. Ambos
estiveram aqui recentemente em um caso. E ninguém come em nenhum outro lugar em Jacobsville, exceto
aqui. - Ela brincou.
Bárbara deu uma risadinha.
─ Exatamente. Não chegaram a brigar, mas foi por pouco. Meu cozinheiro temporário é de Nova Jersey. -
Acrescentou ela.
Mikey ficou atento. Ele olhou para Bárbara.
Ela fez uma careta.
─ A família dele é extremamente federal, se é que você me entende. O irmão trabalha para os US Marshals
em San Antonio, e ele é um ex-policial de onde veio. Ele está aposentado.
─ Oh. ­ Mikey relaxou um pouco.
─ Eu ia adicionar... Meu Deus, com licença. ­ Ela disse, repentinamente nervosa enquanto voltava para o
balcão.
Os olhos de Bernie a seguiram, e ela sorriu para si mesma ao observar um homem robusto em um
uniforme de policial sorrir para Bárbara enquanto ela ia atendê-lo.
─ Ok, o que foi esse pequeno sorriso? ­ Mikey provocou.
─ Aquele cara no balcão. É Fred Baldwin. Ele trabalhou como policial aqui por um tempo, depois em um
rancho local. Agora ele está de volta à força policial. Ele gosta de Bárbara e vice-versa.
Mikey olhou naquela direção e riu baixinho.
─ Eu entendo o que você quer dizer.
─ O filho dela é tenente dos detetives da polícia de San Antonio. - Acrescentou Bernie.
Ele assentiu.
─ Eu o conheci da última vez em que estive aqui. Cara legal.
─ O pai da nora dela é diretor da CIA. - Acrescentou ela.
─ Eu ouvi isso também. O pai do filho dela é presidente em um país na América do Sul.
─ Ela tem algumas conexões interessantes. - Concordou Bernie.

***
Mikey terminou seu bife.
─ O que há para fazer por aqui à noite? - Ele perguntou.
Ela franziu os lábios.
─ Bem, às vezes as pessoas vão a eventos na escola secundária local nos fins de semana. Outras pessoas
dirigem em Linha.
─ Que diabos... é dirigir em linha? - Ele perguntou.
─ Um monte de gente dirige em uma fila. Adolescentes, pessoas casadas, às vezes até velhos. Eles têm um
líder e percorrem todo o condado, um atrás do outro, às vezes até San Antonio e vice-versa.
Ele balançou a cabeça.
─ As coisas que não entendo, vivendo na cidade. - Seus olhos escuros encontraram os dela. ─ Que tal
filmes?
─ Jack Morris e seu filho acabaram de abrir um cinema drive-in fora da cidade. - Disse ela. ─ Ele até
construiu uma lanchonete com banheiros. Ele diz que está trazendo de volta os anos 1950 sozinho. É muito
bem sucedido também.
─ O que está passando agora?
Ela nomeou o filme, um filme de ação sobre mercenários.
Ele sorriu.
─ Você gosta de filmes assim? - Ele perguntou.
─ Bem, sim. ­ Ela confessou.
Ele deu uma risadinha.
─ Achei que você tivesse uma natureza aventureira. A Sra. Brown me contou sobre aqueles livros que você
lê na cama. Ela disse que você usa algumas roupas como as do SAS britânico e a Legião Estrangeira
Francesa.
Ela corou.
─ Meu Deus!
─ Então, que tal um filme na sexta à noite? - Ele perguntou. ─ Vou mandar Santi alugar um carro menor,
que não chame tanta atenção da população.
Seu coração deu um salto e disparou.
─ Você quer me levar para um encontro?
─ Claro que sim. ­ Ele disse suavemente.
Ela pensou que fosse desmaiar.
─ Mas eu... eu tenho todos os tipos de problemas de saúde...
─ Bernadette, você tem um coração gentil. - Ele disse calmamente, seus compassivos olhos escuros no
rosto. ─ Nenhuma outra coisa importa. Muito menos uma doença que você não pode evitar. ­ Ele sorriu. ─
Não vou pedir que você vá escalar montanhas comigo. Eu prometo.
Ela riu.
─ Isso é um acordo, então.
Ele balançou sua cabeça.
─ Por que você acha que é intocável?
─ Um menino local me disse isso quando eu estava no colégio. Ele disse que não queria se envolver com
uma garota deficiente.
─ Idiota. - Ele murmurou.
Ela sorriu para ele.
─ Obrigada.
─ Quantos anos?
Ela piscou.
─ Quantos anos o que?
Ele alterou.
─ Maneira desajeitada de perguntar. Quantos anos você tem? - Ele refez a pergunta. Seus olhos escuros
brilharam. ─ É maior de idade? - Ele sondou. Ela se fechou e parecia desconfortável. Ele colocou uma mão
grande e quente sobre a dela na mesa. ─ Eu não faço propostas a mulheres com as quais ainda nem
namorei. - Disse ele suavemente. ─ E você não é o tipo de garota que receberia tal proposta de mim. De
verdade.
Ela prendeu a respiração. Ele era tão surpreendente.
─ Eu tenho vinte e quatro anos. Quase vinte e cinco.
Ele ficou chocado e demonstrou isso.
─ Você não parece ter essa idade, garota.
Ela sorriu.
─ Obrigada.
Ele riu e entrelaçou seus dedos aos dela, apreciando as sensações que o percorriam. A julgar pelo
rubor, ela estava sentindo algo semelhante.
─ Cuidado. ­ Ela disse baixinho enquanto mais pessoas entravam pela porta da frente.
─ Cuidado, por quê? Alguém com uma arma olhando em nossa direção? - Ele perguntou, e não
inteiramente de brincadeira.
─ Fofoca.
Ele fez uma careta.
─ O que?
─ Fofoca. ­ Ela repetiu. ─ Se as pessoas percebem você próximo ou de mãos dadas com alguém, começam
a falar sobre você, especialmente se for morador e solteiro. Vão falar sobre você.
─ Como se eu me importasse. ­ Ele brincou.
Ela se sentiu como se pudesse flutuar.
─ Sério?
Seus dentes eram perfeitos e muito brancos. Ela percebeu, porque ele não parecia sorrir muito.
─ Eu não me importo com fofocas. E você?
Ela hesitou. Mas, realmente, ninguém aqui iria fofocar sobre ela para ele, pelo menos. Poucas
pessoas sabiam sobre seus pais ou, principalmente, seus avós.
─ Não. ­ Ela disse depois de um minuto. ─ Eu também não me importo.
─ Muito bem. Não tenho planos de parar de ficar de mãos dadas com você. - Disse ele. ─ É uma sensação
agradável.
─ É uma sensação muito boa. ­ Disse ela.

***

Ele fez Santi levá-la de volta ao escritório. Ele até saiu, ajudou-a a sair do carro e a acompanhou até a
porta.
─ Aquela mulher no tribunal disse que trabalha aqui. É verdade? - Ele perguntou.
Ela fez uma careta e acenou com a cabeça.
─ Então eu não vou entrar. Ufa. - Acrescentou. ─ Ela poderia abrir uma perfumaria com o que estava
usando.
─ Ela poderia ficar lá também. - Disse ela.
Ele riu.
─ Bem, vejo você na casa da Sra. Brown mais tarde. Se começar a chover, me ligue e eu virei buscá-la.
Ela parecia hesitante.
─ Oh. Certo. ­ Ele puxou sua carteira, tirou um cartão de visita e entregou a ela. ─ Celular. Último número.
Você pode me ligar ou me enviar uma mensagem de texto. Enviar mensagem de texto é melhor. Eu odeio
falar no maldito telefone.
Ela riu.
─ Eu também.
─ Está bem então. Vejo você mais tarde, garota.
─ Até logo.
Ele voltou para o carro. Ela entrou em seu escritório e fechou a porta atrás dela.
Jessie estava assistindo. Seu rosto estava lívido. Ela tentou conseguir uma carona de volta para o
escritório naquela bela limusine, mas foi recusada. A deixou furiosa que a pequena senhorita Alegria havia
conseguido isso. E ela voltou tarde ao trabalho, pra começar!

CAPÍTULO QUATRO

Bernie não precisava olhar para sentir a fúria de Jessie, mas ela se sentou à mesa sem nem mesmo
olhar para a recepção. Aparentemente, Jessie não iria abusar da sorte atacando Bernie. Ela se acomodou em
sua mesa e ocupou-se digitando cartas para o chefe enquanto atendia o telefone.
Não foi difícil evitá-la na hora do intervalo. Jessie era sempre a primeira a sair, para o caso de o
telefone tocar e alguém ter que atender. Ela também nunca chegava na hora pela manhã, algo que
indignava todas as suas colegas de trabalho.
─ Ufa. - Bernie disse sinceramente agradecida quando Jessie sumiu de vista. ─ Achei que era o meu fim
quando voltamos do almoço.
─ Jessie não vai desistir. ­ Disse Olivia calmamente. ─ Ela tem aquele visitante rico e simpático em sua
mira e fará de tudo para chamar a atenção dele. Tome cuidado. - Acrescentou ela.
Bernie suspirou.
─ Acho que ela vai realmente ficar furiosa quando descobrir que vou ao cinema com ele.
─ Filme? ­ Sari perguntou, toda ouvidos.
─ Quando? ­ Glory perguntou.
Ela riu.
─ Sexta-feira à noite. Vamos ao drive-in.
─ Ooh. ­ Sari murmurou. ─ Artilharia pesada.
Bernie corou.
─ Ele é tão bonito. Sinceramente, me sinto deselegante em comparação com Jessie.
─ Ele não gostou de Jessie, não é? ­ Olivia a lembrou. ─ Ele me disse para não mencionar que estava
almoçando conosco quando voltei para o escritório. Ele não ficou impressionado com ela. Na verdade... -
Ela acrescentou com uma risada. ─ ele disse que sabia como os cervos se sentiam durante a temporada de
caça.
─ Isso não a deixaria irritada? ­ Sari provocou. ─ Eu não estava brincando sobre Mikey. - Acrescentou ela
a Bernie. ─ Ele realmente não é um mulherengo.
─ Ele poderia estar no cinema. - Disse Bernie.
─ Sim, ele poderia. ­ Glory concordou. ─ Eu me pergunto... - Ela olhou para Sari. ─ se ninguém nunca
tentou convencê-lo a fazer um teste para um filme?
─ Na verdade, Paul disse que Mike foi perseguido por um agente de Hollywood que o viu em Newark. Ele
apenas sorriu e foi embora. Ele é tímido, embora não demonstre. Ele representa bem. - Acrescentou Sari.
─ Ele é bom com as pessoas. ­ Bernie disse a elas enquanto saíam e trancavam a porta, pois o Sr. Kemp já
havia voltado para casa depois de um dia no tribunal. ─ As senhoras da pensão acham que ele é
simplesmente incrível.
─ E que sorte a Sra. Brown só ter uma vaga. - Disse Sari. ─ Ou Jessie estaria lá como um raio.
─Ainda não consigo entender o que ela está fazendo aqui. - Disse Glory. ─ Ela não se encaixa em nosso
escritório e não se relaciona com ninguém na cidade, exceto com sua amiga Billie, do escritório do oficial
de justiça. - Ela franziu o cenho. ─ Na verdade, Billie também não está aqui há muito tempo e ela é uma
garota da cidade de algum lugar do leste. Ambas estão em descompasso com a população local.
─ Elas ficam juntas? ­ Bernie perguntou.
─ Sim, em algum motel fora da cidade. Isso também deve sair caro, já que nenhum de nossos hotéis locais
serve refeições.
─ Em qual elas estão? ­ Glory perguntou.
─ Aquele onde todas as estrelas de cinema ficam quando estão na cidade filmando. - Sari disse a ela. ─
Aquele com banheiras de hidromassagem, travesseiros de plumas e frigobar.
─ Ai. ­ Glory riu. ─ Esse é o lugar mais caro da cidade. Jessie não ganha o suficiente aqui para pagar tanto
luxo.
─ Bem, ela e Billie compartilham. ­ Disse Sari. ─ Acho que elas dividem as despesas das refeições
também. Jessie nunca faria isso sozinha.
─ Não mencione seu próximo encontro no escritório. - Glory advertiu Bernie.
─ Posso não precisar comentar. - Disse Bernie, acenando um adeus para Olivia enquanto ela ia em direção
ao seu carro. ─ Estávamos de mãos dadas no Café da Bárbara. - Ela confessou.
Sari assobiou.
Bernie olhou para ela com curiosidade.
─ E Mikey conhece as cidades pequenas também. - Ela comentou. ─ Aparentemente, ele não se importa
que as pessoas saibam que ele gosta de você.
Bernie enrubesceu.
─ Sério? Você acha que ele gosta?
─ Paul acha. ­ Sari disse. ─ E ele conhece Mikey muito melhor do que qualquer um de nós.
─ Uau. ­ Bernie disse suavemente.
─ Essa é a minha carona. Meus meninos. - Glory disse, acenando para Rodrigo ao volante do carro e seu
filho no banco de trás. ─ Vejo vocês amanhã!
─ Tenha uma boa noite. ­ Bernie disse. Glory acenou ao entrar no carro e colocar o cinto de segurança.
Rodrigo acenou para as mulheres enquanto seguia seu caminho.
─ Há apenas um problema. - Disse Sari gentilmente, voltando-se para Bernie quando estavam sozinhas. ─
Mikey está aqui por um motivo, e é perigoso. Eu não posso falar sobre isso. Mas você deve saber que
existe um risco em andar com ele.
─ Eu sei. ­ Respondeu Bernie. ─ Eu não me importo.
─ Então, tudo bem. ­ Sari sorriu. ─ Eu me sentiria da mesma forma se Paul fosse como Mikey. Você sabe
que o passado de Mikey não é imaculado? - Ela acrescentou um pouco preocupada.
─ Você quer dizer, sobre seu ramo hoteleiro.
Sari não sabia o que dizer. Ela se sentia desconfortável inventando histórias. Bem, era melhor deixar
as coisas como estavam.
─ Foi há muito tempo. ­ Ela mentiu, sorrindo. ─ Ele mesmo contará quando estiver pronto.
─ Eu não me importo com o passado dele. - Disse Bernie suavemente, e sorriu. ─ Nunca estive tão feliz em
toda a minha vida.
─ A julgar pelo quanto ele sorri ultimamente, Mikey também não. ­ Sari riu. ─ Paul disse que ele era o
homem mais melancólico que já se viu até recentemente. Eles cresceram juntos.
Bernie acenou com a cabeça.
─ Eles foram criados pela avó. Mikey a amava.
─ Sim ele a amava. Paul e Mikey tiveram uma infância difícil. A avó deles era tudo que eles tinham. Bem,
e um ao outro, embora nenhum deles admita isso.
─ Eles parecem se dar bem, pelo que Mikey diz.
─ Eles se dão bem agora. Nem sempre foi assim. - Ela olhou para o meio-fio. Paul estava sentado ao
volante de seu Jaguar. Ele acenou. ─ Bem, eu vou para casa. Podemos deixar você em casa? - Ela
adicionou.
Bernie riu.
─ Estou indo muito bem hoje, e o Dr. Coltrain diz que preciso de exercício quando puder. Mas obrigada.
─ Sem problemas. A qualquer momento. Vejo você amanhã.
Bernie acenou para eles e andou os quatro quarteirões até a pensão da Sra. Brown. Ela sentiu como se
seus pés nem sequer tocassem a calçada. A vida era doce.

***

Ela passou o resto da semana relativamente incólume por Jessie, embora tenha recebido muitos
olhares irritados quando um casal de moradores locais entrando no escritório mencionou que Bernie tinha
sido vista de mãos dadas com Mikey no Café da Bárbara. Mas, aparentemente, Jessie ainda pensava que
Bernie não era uma rival para ela. Ela mencionou, em voz alta, que passaria mais tempo no Café da
Bárbara.
─ E boa sorte para ela. ­ Sari riu quando Jessie saiu antes de todas elas, como sempre, no final do dia. ─
Mikey está em San Antonio nos últimos dois dias.
Bernie sorriu com óbvio alívio. Ela não o via desde o almoço no café da bárbara. Aparentemente ele
estava fora da cidade. Ela se perguntoi se ele havia deixado a cidade. E esperou que ele se despedisse
primeiro, mas a ausência dele na pensão a preocupou. A Sra. Brown apenas disse que ele tinha negócios
para cuidar, mas não disse quanto tempo ele levaria para resolvê-los. Bernie percebeu que era algo a ver
com o hotel que ele possuía. Devia dar muito trabalho dirigir algo tão grande, e ele devia ter muitos
funcionários que também precisavam ser orientados.
─ Você não sabia. - Adivinhou Sari ao notar a expressão de Bernie.
─ Bem não. Ele disse à Sra. Brown que tinha negócios para cuidar. Não sabíamos onde ele estava.
─ Ele e Paul têm algo em andamento. - Disse Sari, sem mencionar o quê, embora soubesse. Era um assunto
ultrassecreto, nada que ela pudesse contar até mesmo para sua preocupada colega de trabalho.
─ Eu esperava que ele não fosse embora da cidade sem se despedir. - Respondeu Bernie.
─ Você está de brincadeira? Ele vai levar você ao cinema, lembra? ­ Sari provocou. ─ Como ele poderia ir
embora da cidade?
Bernie riu.
─ Acho que ele não faria isso. ­ Ela estava radiante. ─ Você sabe, eu só estive em alguns encontros na
minha vida. - Ela hesitou e olhou para Sari preocupada. ─ Mikey é sofisticado, sabe? E eu sou apenas uma
garota de cidade pequena com ideias antiquadas sobre as coisas.
─ Délia Carrera também era antes de se casar com Marcus aqui na cidade. - Ela lembrou a outra mulher. ─
Ninguém é mais sofisticado do que Marcus Carrera.
Bernie sorriu.
─ Eu imagino que não. - Ela franziu o cenho. ─ O Sr. Carrera era um chefão da máfia, não era? - Ela
acrescentou vagamente.
─ Ele era. No entanto, ele legitimou seus negócios. Na verdade, estava trabalhando com o FBI para prender
um criminoso que planejava abrir um cassino perto do dele.
─ Eu ouvi algo sobre isso. ­ Bernie balançou a cabeça. ─ Não entendo como as pessoas se envolvem com o
crime organizado. Parece uma maneira vergonhosa de ganhar a vida.
─ É isso aí. - Sari disse, mas se retraiu. Bernie não sabia sobre Mikey e ela não se sentia confortável em
estragar seu disfarce. ─ Bem, estou indo. Vejo você amanhã!
─ Tenha uma boa noite.
─ Você também.
Bernie os observou partir e voltou para a casa da Sra. Brown. Ela mal conseguia conter sua
empolgação com o próximo encontro com Mikey.
Mikey, por sua vez, esteve em uma reunião com Paul, Jon Blackhawk e um US Marshal em San
Antonio, enquanto três deles discutiam o que sabiam e o que não sabiam sobre Cotillo. Mikey havia ficado
em uma casa segura com o delegado enquanto eles discutiam o caso e o que iriam fazer a respeito da
ameaça.
─ Não quero que as mulheres da minha pensão se machuquem. - Disse Mikey durante uma longa reunião.
─ Apenas estar perto de mim pode colocá-las em perigo.
─ Elas não estarão. ­ Respondeu Paul. ─ Você tem mais proteção do que imagina.
─ Sim, bem, Merrie Colter tinha muita proteção também, e ela acabou no hospital quando aquele homem
contratado estava atrás dela. - Observou Mikey.
─ Nenhum plano é infalível. - Concordou Jon Blackhawk, assistente do SAC no escritório do FBI de San
Antonio. ─ Mas temos a maior parte de nossas bases cobertas. E, francamente, nenhum lugar será
perfeitamente seguro. Se você deixar sua pensão, as mulheres que moram lá ainda poderiam estar em
perigo se o contratado decidir que elas sabem onde você está.
Mikey se sentiu mal, embora nada aparecesse em sua expressão impassível.
─ Suponho que seja verdade. ­ Disse ele tristemente.
─ Eu não perdi uma pessoa que estava protegendo ainda. - Interrompeu o US Marshall McLeod. Ele era
alto e robusto como Mikey, mas tinha olhos cinza-claros em um rosto impassível e uma Magnum .357* em
um coldre de couro na cintura.
─ Você e esse canhão maldito. - Murmurou Paul. ─ Por que você não entra no século vinte e um, McLeod,
e exibe uma arma que não saiu dos anos oitenta?
─ É uma boa arma. ­ Disse McLeod calmamente. ─ Era do meu pai. Ele foi morto no cumprimento do
dever, trabalhando para o escritório do xerife local na minha cidade.
─ Desculpe. ­ Disse Paul timidamente.
McLeod deu de ombros.
─ Sem problemas.
─ Espero que você tenha tampões de ouvido quando tiver que atirar com essa coisa. - Mikey murmurou.
─ Eu tenho alguns, mas se eu demorar para colocá-los, vou usá-los do outro lado da terra.
Mikey riu.
─ Bom argumento.
─ Onde está sua arma? - Paul perguntou desconfiado.
─ Minha arma? ­ Mikey abriu seu paletó. ─ Eu não carrego uma arma, Paulie. Você sabe disso.
─ Eu sei que é melhor você conseguir uma licença do Texas para aquele grande .45 que você mantém em
seu carro, antes que Cash Grier saiba que você não tem uma. - Disse Paul com um sorriso malicioso.
Mikey suspirou.
─ Eu estava pensando nisso outro dia. Então. Onde está Cotillo?
Houve uma série de suspiros.
─ Bem, ele estava em Newark. ­ Disse McLeod. ─ Eu verifiquei com nosso escritório lá, mas ele está fora
de vista agora. Ninguém sabe para onde ele foi. Temos pessoas verificando. - Acrescentou. ─ Um de
nossos caras tem um Informante Confidencial que é próximo a ele. Nós o encontraremos.
─ É o assassino contratado dele que precisamos encontrar. - Interrompeu Paul. ─ Se ele acabar com Mikey,
não teremos nenhum caso, e Tony Garza vai ser preso por assassinato.
─ Falando apenas por mim, prefiro viver mais alguns anos. - Refletiu Mikey.
─ Especialmente porque você tem um encontro quente amanhã à noite, ouvi dizer? - Paul disse com um
sorriso diabólico.
Mikey envergonhou a si mesmo corando. A tonalidade era perceptível mesmo em sua pele oliva.

* magnum 357
─ Encontro quente? ­ Jon perguntou.
Mikey pigarreou.
─ Ela é uma garota legal. Trabalha como assistente jurídica para o escritório do promotor público em
Jacobsville.
─ Bernie. ­ Disse Paul.
Houve olhares curiosos.
─ Bernadette. ­ Mikey murmurou. ─ É a abreviação de Bernadette.
─ Bonito nome. ­ Disse Jon.
─ Ela é um amor. ­ Disse Paul. ─ Tira uma verdadeira carga do promotor público, e as outras mulheres que
trabalham no escritório a amam, especialmente minha esposa. ­ Ele olhou para Mikey. ─ O que levanta a
questão, por que você nunca a traz para comer em casa? Você sabe que Mandy não se importaria de
cozinhar mais.
Mikey mudou de posição.
─ Ainda é cedo. Acabei de convidá-la para um filme.
─ Um drive-in, na verdade. - Disse Paul com um sorriso.
─ Vocês têm um cinema drive-in em Jacobsville? ­ Jon exclamou. ─ Eles acabaram nos anos cinquenta,
não é?
─ Principalmente nos anos 60, mas temos um cara local que está tentando trazê-los de volta. Ele até
construiu um pequeno café com pizza no local e banheiros. Até agora, ele é um sucesso estrondoso.
─ Meu pai falou sobre ir a drive-ins. ­ McLeod murmurou. ─ Ele disse que era o único lugar onde podia
beijar minha mãe sem meia dúzia de pessoas olhando. Família grande. - Acrescentou.
─ Não consigo identificar esse sotaque, McLeod. - Disse Paul. ─ Você parece sulista, mas não é realmente
um sotaque texano.
─ Carolina do Norte. - Disse McLeod. ─ Minha família remonta cinco gerações nas montanhas de lá. Os
primeiros eram Highlanders de Argyll, na Escócia.
─ A minha veio da Grécia e da Itália. ­ Disse Paul. ─ Bem, minha e de Mikey. ­ Acrescentou ele com um
olhar para o primo.
─ A minha conheceu o barco em que a sua veio. - Jon disse com uma cara séria. Ele era parte Lakota
Sioux.
Houve uma rodada de risadas.
─ Eu tenho um pouco de sangue Cherokee em minha família. - McLeod disse. ─ Minha bisavó era do Clã
dos pássaros, mas somos principalmente escoceses.
─ Você consegue tocar gaita? - Jon perguntou curioso.
McLeod deu de ombros.
─ O suficiente para deixar os vizinhos desconfortáveis, de qualquer forma.
─ Eu tinha uma bateria. - Paul relembrou melancolicamente. ─ Tínhamos alguns vizinhos muito
barulhentos e desagradáveis no andar de cima quando eu morava em Newark, muito antes de me mudar
para cá. - Ele não acrescentou que na época tinha uma esposa e uma filha que foram mortas por assassinos
contratados por um homem que ele colocou na prisão. ─ Eu era péssimo tocando, mas com certeza calou o
vizinho de cima.
─ Seu menino mau. - Provocou Mikey.
─ Um homem precisa de algumas armas. - Disse ele de maneira divertida.
─ De volta a Cotillo. - Disse McLeod. ─ Temos alguém observando você do nosso departamento em
Jacobsville. Você não precisa saber quem, mas estamos trabalhando. Eu me ofereci, mas eles me
descartaram imediatamente.
─ Eles fizeram? Por quê? ­ Mikey perguntou.
─ Eles dizem que eu excedi a minha verba para restaurante.
Todos olharam para ele. Ele era enorme, mas todavia magro.
Um canto de sua boca puxou para baixo.
─ Dizem que como muito. Ei, eu sou um cara grande. É preciso muita comida. Além disso, ouvi que
algumas das melhores comidas do Texas está naquele café em Jacobsville.
─ É. ­ Paul concordou. ─ Todo mundo come lá.
─ Eu também comeria, se eles me deixassem. A chefe disse que precisávamos de alguém que gostasse de
saladas e tofu.
Agora todos eles realmente o encararam.
Ele retribuiu o olhar.
─ Ela é vegana. ­ Disse ele espirituosamente. ─ Ela fica chateada se alguém menciona um bife.
─ Tirania. ­ Brincou Paul.
─ Anarquia. ­ Apoiou Mikey.
─ Ela deve voltar para o leste, onde terá muita companhia. ­ Jon concordou. ─ Não vou desistir de bifes e
não me importo se a SAC é vegana ou não.
─ Isso é o que eu disse a ela. - Respondeu McLeod. Seus olhos negros brilharam. ─ Calei-a por dez
minutos, pelo menos. Mas foi quando ela me designou para ficar com ele. - Indicou Mikey. ─ Ela acha que
é uma tarefa ruim. ­ Ele deu uma risadinha. ─ Eu não tentei fazê-la mudar de ideia.
─ Bom. - Jon disse. ─ Eu conheço sua chefe. Ela tem um lado mau.
─ Ela saiu do Exército como major. - Respondeu McLeod. ─ Sinceramente, acho que ela acredita que
ainda está nele.
─ Eles são bons chefes de agências. - Disse Jon.
McLeod assentiu.
─ Mas ainda não vou comer tofu.
Todos eles riram.
─ E o Cotillo? ­ Mikey perguntou depois de um minuto.
─ Por que esse nome parece tão familiar? - Paul se perguntou. Então seu rosto clareou. ─ Claro. É aquela
cidade do outro lado da fronteira, você sabe, aquela onde uma pessoa não identificada que todos nós
conhecemos matou o traficante El Ladron e seus amigos em um comboio. - A pessoa não identificada era
Carson Farwalker, agora um médico em Jacobsville, que jogou várias granadas de mão sob a limusine de
El Ladron e nunca foi acusado.
─ Há um cacto chamado ocotillo. ­ Jon Blackhawk murmurou. ─ Mas aquela pequena cidade além da
fronteira foi na verdade colonizada por uma família italiana no final dos anos 1800.
─ Interessante. ­ Observou Mikey. E suspirou. ─ Mas o homem é mais preocupante do que a cidade agora.
Os rostos ficaram sombrios.
─ Quando nosso informante descobrir alguma coisa, eu vou repassar. - Disse McLeod. ─ Enquanto isso,
ele tem alguém vigiando Carrera nas Bahamas. - Ele indicou Jon.
Jon concordou.
─ Nosso escritório de campo o mantém sob vigilância. E Carrera tem alguma proteção própria, para si
mesmo e Tony Garza. Você sabe, só porque Carrera legitimou seus negócios, não significa que ele ainda
não tenha laços formidáveis com seus antigos camaradas. Sabemos que ele tem dois deles hospedados na
casa com Délia, sua esposa e seus dois filhos pequenos.
─ Dois dos melhores. ­ Concordou Mikey. ─ Eu os conheço dos velhos tempos.
─ Mikey... ­ Disse Paul com verdadeiro carinho. ─ você nunca deixou os "velhos tempos".
─ Bem. ­ Disse Mikey com um suspiro. ─ nós somos o que somos, certo, Paulie?
─ Certo.

***

Bernie não sabia realmente como se vestir para ir assistir um filme no drive-in, então ela se contentou
com uma calça azul marinho, uma camisa de botões xadrez azul e um colete azul comprido que ia até o
meio da coxa. Ela pensou em prender o cabelo em um penteado complicado, mas o deixou solto e sedoso
sobre os ombros. Ela cogitou em cortá-lo. Era difícil para uma mulher com deficiência mantê-lo limpo e
escovado, mas ela não suportava a ideia de abrir mão do comprimento. Tinha todos os tipos de fitas e laços
bonitos para prender o cabelo quando ia trabalhar. Até grampos de cabelo com joias para ocasiões
especiais. Não que alguma vez houve muitas dessas.
Ela se olhou no espelho e sorriu para a garota animada e quase bonita refletida nele. Tinha um
encontro de verdade com um homem que fazia as estrelas de cinema parecerem feias e ele gostava dela.
Ela quase resplandecia.
Houve uma batida forte na porta. Ela pegou o casaco, a bolsa e abriu a porta. Mikey estava vestindo
calça comprida e uma camisa de grife sob uma bela jaqueta. A camisa dele era azul, como a dela.
Ele sorriu para ela.
─ Bem, parece que combinamos.
─ Eu percebi. ­ Ela brincou.
Ele a avaliou minuciosamente e sentiu seu coração acelerar quando seus olhares se encontraram. Ela
era incomparável em sua vasta experiência com as mulheres. Ela era tão diferente das mulheres agressivas
e sensuais de que gostava na juventude. Seus gostos mudaram ao longo dos anos. Agora, Bernie era a coisa
mais querida de sua vida. Ele esperava não colocá-la em perigo por estar perto dela.
─ Você está pronta para ir? - Ele perguntou. ─ Nós dois devemos estar loucos. Um filme em um drive-in e
falta apenas uma semana para o Halloween! Está frio, mesmo para o sul do Texas!
─ Eu adoro drive-ins. - Ela disse suavemente. ─ E eu não me importo se nevar.
Ele deu uma risadinha.
─ Nem eu, garota. - Ele pegou a mão dela e a sentiu prender a respiração. Ele sentia exatamente o mesmo.
─ Vamos. Eu tenho algo um pouco menos chamativo do que a limusine para nos levar.
Um pouco menos chamativo, ela pensou com surpresa quando viu o que ele estava dirigindo. Era um
conversível de luxo, muito bonito e provavelmente muito veloz.
─ Nossa. - Disse ela.
─ Ele é veloz. - Disse ele, enquanto a ajudava a entrar no Mercedes conversível top de linha. Era azul
escuro. O interior em couro, com acabamento em madeira no volante e no painel. Ela afundou no luxo
enquanto prendia o cinto de segurança.
─ Nossa. - Ela disse novamente quando ele tocou um controle e seu assento aqueceu e começou a
massagear suas costas. ─ Isto é divino! - Ela fechou os olhos e sorriu. ─ Apenas divino!
Ele deu uma risadinha.
─ Estou feliz por você gostar. Eu gosto de luxo, garota. Sempre adorei, mesmo quando era jovem e cheio
de entusiasmo. - Ele não gostava de lembrar exatamente como conseguiu sua vida luxuosa. Ela o fazia se
sentir culpado pelas coisas que tinha feito em sua busca por riqueza. Ela não parecia cobiçar riqueza de
forma alguma.
─ Nunca andei em um carro com bancos aquecidos. - Disse ela entusiasmada. ─ E até massagem! É
simplesmente incrível!
Ele sorriu. Ele não havia considerado o quão luxuoso o carro era para alguém que provavelmente
andava em táxis que mal tinham aquecedores e ar-condicionado.
─ Você não dirige? ­ Ele perguntou.

***

Ela sentiu as palavras até seus dedos dos pés e desviou os olhos para que ele não pudesse ver a
tristeza neles. Não tinha condições de comprar um carro.
─ Eu costumava. ­ Ela disse suavemente. ─ Não mais.
─ Você deveria voltar a fazer. - Ele respondeu enquanto conduzia o carro para a estrada e acelerava. ─ Eu
adoro dirigir.
─ Este carro deve ir muito rápido.
─ Sim. Eu demonstraria... ­ Ele brincou. ─ mas você teria que ir pagar a minha fiança para me tirar da
prisão.
Ela riu, o antigo medo e a culpa diminuindo.
─ Eu o faria... - Ela disse suavemente. ─ inclusive se tivesse que vender tudo o que tenho. ─ Ele
enrubesceu. ─ Quer dizer, eu encontraria alguém que pudesse... - Ela começou, toda nervosa por causa do
que deixou escapar. Ela estava terrivelmente envergonhada.
Ele esticou a mão e segurou a dela.
─ Pare com isso. ­ Ele a repreendeu suavemente. ─ Você não deve se sentir culpada por desfrutar da
companhia de alguém. Especialmente não da minha. - Sua mão se contraiu ao redor da dela. ─ Estou
acostumado com mulheres que querem o que eu tenho. - Acrescentou ele friamente.
─ O que você tem? ­ Seus dedos levemente entrelaçados aos dela a deixavam confusa e trêmula.
─ Dinheiro, garota. - Respondeu ele. ─ Tenho o suficiente em bancos estrangeiros para viver bem na
velhice, mesmo que eu gaste desenfreadamente.
─ Oh. ­ A mão dela ficou rígida na dele.
Ele olhou para ela e riu.
─ Agora você acha que eu desconfio que você só está saindo comigo porque sou rico. Não você. - Ele
acrescentou em um tom profundo e rouco. ─ Você não é o tipo de mulher que prefere coisas às pessoas. Eu
soube disso imediatamente. Orgulhoso como o diabo, quando você caiu na frente do carro e eu fiz
comentários sarcásticos sobre por que você caiu. ­ Ele suspirou tristemente. ─ Foi o pior erro da minha
vida, pensar que você era assim. Acredite em mim, me senti com cerca de cinco centímetros de altura
quando Santi encontrou a sua bengala.
Ela mordeu o lábio inferior.
─ Às vezes sou desajeitada. ­ Disse ela. ─ Eu caio à toa quando estou tendo crises. Eu gostaria de ser
saudável. - Ela acrescentou tristemente.
─ Minha avó se sentava e chorava às vezes quando a dor ficava muito forte. - Lembrou ele em voz baixa. ─
Eu enchia uma bolsa de água quente para ela e lia suas histórias em grego para distraí-la.
─ Você fala grego? ­ Ela perguntou.
─ Grego, italiano, um pouco espanhol. - Respondeu ele.
─ Aprendi a ler caracteres gregos. - Disse ela. ─ Eles vêm o alfabeto copta, como o russo.
─ Legal. ­ Ele disse, olhando para ela com um sorriso. ─ Sim, eles vêm. É difícil para algumas pessoas
aprenderem também.
─ Eu adoro línguas. Na verdade, só falo inglês e espanhol.
─ Espanhol?
─ Bem, lidamos com muitas pessoas bilíngues, mas algumas das pessoas mais velhas que vêm de países ao
sul do nosso não entendem inglês tão bem quanto seus filhos. Posso traduzir para elas.
─ Gênio. ­ Ele provocou.
─ Na verdade não. Tive que estudar muito para aprender o idioma, assim como tive que estudar muito para
aprender a ser uma assistente jurídica. Eu fui para a escola noturna em nossa faculdade comunitária local. -
Acrescentou ela.
─ Imagino que tenha sido difícil. ­ Disse ele. ─ Trabalhar e estudar ao mesmo tempo.
─ Foi. ­ Ela confessou. ─ Eu queria aprender o trabalho, mas às vezes perdia as aulas. Havia uma garota
legal que estava estudando ao mesmo tempo, Olivia, que trabalha em nosso escritório, e ela fazia anotações
para que eu pudesse acompanhar o que perdi. O professor foi muito compreensivo.
─ Você é uma garota meiga. ­ Mikey disse suavemente. ─ Posso imaginar que a maioria das pessoas
quebra as regras por você.
Ela riu.
─ Obrigada. - Ela olhou para ele enquanto iam um pouco para fora da cidade para a área arborizada que
abrigava o novo drive-in. ─ Você estudou? Quero dizer, depois do colégio?
─ Tive alguns anos de faculdade quando estava no Exército. - Disse ele. ─ Nunca me formei. Eu era muito
disperso para me empenhar e fazer o trabalho.
─ O que você estudou?
Ele deu uma risadinha.
─ Justiça Criminal. Me pareceu uma boa ideia na época. Quer dizer, considerando como eu ganhava a vida.
Ela apenas olhou para ele, curiosa.
Ele sentiu seu rosto corar. E a olhou. Ela não entendeu.
─ Sari não falou sobre mim no trabalho? - Ele perguntou.
─ Só que você e o marido dela são primos em primeiro grau e muito próximos. ─ Ela respondeu, e seus
olhos eram inocentes.
Ela não estava fingindo. Realmente não sabia o que ele tinha sido, o que ainda era. Ele hesitou em
contar a ela. Ele adorava o jeito que ela o olhava, como se ele tivesse alguma qualidade que ela nunca tinha
encontrado em mais ninguém. Ela o olhava com afeto, com respeito. Ele não conseguia se lembrar de outra
mulher que se importasse com o homem em vez da conta bancária. Isso o tornou humilde.
Ele respirou fundo.
─ Bem, Paulie e eu somos próximos. - Ele concordou. Sua mão apertou a dela. ─ Quero dizer, você não
soube sobre o problema que Isabel e Merrie tiveram três anos atrás, quando estavam sendo perseguidas por
um assassino?
─ Oh, isso. ­ Ela disse, balançando a cabeça. ─ Houve muita fofoca sobre isso. - Acrescentou ela. ─ Não
me lembro muito do que ouvi, só que um homem que era um chefão do crime organizado no leste cancelou
o assassinato. Sei que Merrie o pintou. ­ Ela riu. ─ Eles disseram que ele a acompanhou até o altar quando
ela se casou com Ren. Eu não as conhecia naquela época, só sabia sobre a família e que eles eram ricos.
Nunca frequentei esses círculos. Eu sou apenas comum.
─ Querida, comum é a última coisa que você é. - Disse ele com voz rouca enquanto virava para a estrada
de terra que levava ao drive-in com uma enorme tela branca e um terreno de cascalho com alto-falantes em
postes a cada poucos metros. ─ E nós chegamos!
Ele pagou as entradas e os levou até uma boa vaga de estacionamento bem na frente da tela. Ele
olhou para o seu bilhete de entrada.
─ Temos uma espera de dez minutos. - Disse ele.
─ O que vamos ver? - Ela perguntou. ─ Não prestei atenção ao cartaz.
Ele riu enquanto desligava o motor e se virava para ela.
─ Você não percebeu? ­ Ele brincou, os olhos negros brilhando quando encontraram os pálidos dela.
─ Não realmente. ­ Ela confessou. ─ Eu estava animada apenas por sair com você. ­ Ela enrubesceu. ─
Existem algumas garotas solteiras muito bonitas em Jacobsville, incluindo Jessie, que trabalha conosco.
Seus dedos se entrelaçaram suavemente aos dela, acariciando, excitando.
─ Jessie não me atrai. - Disse ele. ─ Ela é como as mulheres com as quais eu costumava sair no leste.
Atrevidas e empenhadas em tirar tudo o que conseguissem de um homem.
─ Eu imagino. Não somos realmente assim aqui. - Acrescentou ela. ─ Dinheiro é bom, mas eu tenho tudo
que preciso. Eu não sou frívola. Minha maior despesa é na farmácia. E no médico. - Ela disse tristemente.
─ Não importa. ­ Disse ele solenemente. ─ Você não tem menos valor como mulher porque tem uma
deficiência.
─ A maioria dos homens locais pensava que eu tinha. - Respondeu ela. ─ Não vou melhorar a menos que
descubram uma droga milagrosa. - Disse ela. ─ Há injeções que eu poderia tomar, mas são muito caras e
não há garantia de que funcionariam. Também há infusão venosa, onde eles injetam drogas em você com
uma intravenosa e o efeito dura várias semanas. - Ela baixou os olhos para a grande mão segurando a dela.
Era forte e bonita, como as mãos dos homens. Dedos longos, com unhas perfeitamente cuidadas.
─ Eu li sobre essas injeções. - Respondeu ele. ─ Pouco antes de minha avó morrer, eu estava pesquisando
novos medicamentos que poderiam ajudá-la. A dor ficou tão forte que eles tiveram que dar opiáceos para
lidar com ela. ­ Ele fez uma careta. ─ Então o governo interveio e disse que todo mundo vai ficar viciado,
agora você não compra um só medicamento sem receita para a dor, mesmo se tiver câncer. - Acrescentou
ele com raiva. ─ Como se isso fosse ajudar a tirar os narcóticos ilegais das ruas! Inferno, se pode comprar
drogas, armas, o que se quiser no beco de qualquer cidade da América, mesmo em cidades pequenas.
─ Pode? - Ela perguntou curiosamente.
─ Claro que pode. Até na prisão.
─ Uau.
Ele deu uma risadinha.
─ Garota, você realmente não é conhecedora do mundo.
─ Acho que não. - Disse ela com um sorriso bem-humorado. ─ Eu não tenho uma vida muito social. Bem,
eu tenho Twitter e Facebook, mas não faço postagens com muita frequência. Principalmente, eu leio o que
outras pessoas escrevem. Meu Deus, devo ser reprimida porque algumas das coisas que as pessoas postam
eu nem contaria para a minha melhor amiga!
─ Que tipo de coisas? ­ Ele brincou.
─ Não vou dizer. - Respondeu ela.
Ele fez uma careta.
─ Isso não doeu, não doeu, não doeu... - E ele riu, baixinho e com tanta malícia que ela começou a rir
também.
Ele olhou ao redor.
─ Ainda não há tantas pessoas. Então... - Ele pegou um punhado de seu longo e bonito cabelo platinado e
puxou seu rosto para o dele. ─ Não entre em pânico. ­ Ele sussurrou enquanto abaixava a cabeça. ─ Este é
apenas um teste. Estou praticando a ressuscitação boca a boca, para o caso de ter que salvá-la...!

CAPÍTULO CINCO
Bernie prendeu a respiração enquanto observava seus lábios firmes e cinzelados pairando sobre os
dela. Ela podia sentir o gosto do café em sua boca, sentir a respiração dele enquanto seu rosto se
aproximava, de modo que seus olhos escuros enchessem o mundo.
Ela agarrou a jaqueta dele, mais tomada pela emoção do que poderia ter sonhado até algumas
semanas atrás.
─ Eu adoro seu cabelo, Bernadette. ­ Ele sussurrou enquanto sua mão se contraiu nele e sua boca
lentamente cobriu a dela pela primeira vez.
Ela ofegou com a pressão suave, mas não estava tentando fugir. Ele afastou os lábios e olhou para
ela. Seus olhos estavam fechados, as sobrancelhas franzidas. Ela parecia que ia morrer se ele não a
beijasse.
Era exatamente como ele se sentia. Ele colocou sua boca sobre a dela, suavemente porque podia
sentir o fascínio e o insegurança dela. Era difícil dar o controle a outra pessoa. Mas era uma lição que ela
teria que aprender. Ele estava feliz por ela estar aprendendo com ele.
Ele guiou os braços dela ao redor de seu pescoço enquanto seus lábios se tornavam lentamente mais
insistentes, dando-lhe tempo para assimilar a novidade, dando-lhe tempo para se soltar das suas inibições.
Isso se dissolveu enquanto ele a puxava para mais perto através do console, seus lábios se abrindo agora,
pressionando os dela suavemente para se separarem.
Ela ouviu o seu suspiro, sentiu seus braços envolvendo-a, protegendo-a. Ela gemeu quando a
sensação se tornou quase insuportável e seus braços se apertaram ao redor do pescoço dele.
─ É isso aí, bebê. ­ Ele sussurrou. ─ Bem desse jeito. Não se contenha. Vou devagar, prometo.
E ele fez. Não a forçou ou fez nada para deixá-la desconfortável. Sua boca finalmente deslizou contra
pela bochecha dela até descansar em seu ouvido. Seu coração estava dançando a hula no seu peito. E ele
podia sentir o dela fazendo a mesma coisa.
Era estranho ser recatado com ela. A maioria das mulheres em seu passado teria rasgado suas roupas
neste momento, mas Bernie era meiga e inexperiente. Ele podia sentir a necessidade dela porque ele a
sentia também. Era novo querer proteger e cuidar de alguém. Ele se sentia como se pudesse voar.
─ Você tem gosto de algodão doce. - Ele sussurrou em seu ouvido.
Seus braços se apertaram e ela riu baixinho. Ela não sabia o que dizer.
Sua grande mão alisou o comprimento do cabelo dela.
─ Estou feliz que você o deixou solto esta noite. - Ele murmurou. ─ Só para mim?
─ Apenas para você. ­ Sua voz soou rouca. Ela se sentiu estremecer toda. Era uma sensação deliciosa,
como descer de uma montanha-russa.
Seu rosto acariciou o dela.
─ Eu nunca esperei algo assim. - Ele disse em um tom profundo e lento. ─ Eu ia ficar nesta pequena cidade
por enquanto e esperar o tempo necessário, talvez encontrar um jogo de pôquer para jogar ou algo assim. E
bem na minha pensão, encontro uma linda violetazinha.*
─ Eu? ­ Ela gaguejou.
A mão dele deslizou sob o cabelo dela.
─ Você, Bernadette. ­ Sua bochecha deslizou contra a dela e sua boca cobriu a dela novamente, mas com
mais força desta vez, com mais avidez.
Ela não conseguia resistir a ele. E não tinha experiência para fingir que não gostava do que ele estava
fazendo. Os dedos dela se enredaram no cabelo espesso e ondulado dele. Ela amava o que ele estava
fazendo com ela. E não conseguia esconder.
E ele adorava isso nela. Adorava que ela sentisse a mesma atração que ele, e que fosse inocente,
intocada, vulnerável. Ela precisava de alguém para cuidar dela. Ele precisava de alguém para cuidar. Desde
a morte de sua avó, não havia ninguém em sua vida para preencher essa necessidade. A doença de Bernie
não o desanimava nem um pouco. Isso o fazia se sentir protetor.
O que o fez desacelerar. Ele estava levando as coisas longe demais, rápido demais. Ele recuou muito
lentamente, seus olhos escuros fixos no rosto dela, nos olhos semicerrados, na linda boca inchada, no corpo
quente e macio em seus braços. Ela irradiava ternura.
─ Já faz muito tempo que não me sinto assim. - Ele sussurrou nos lábios dela, roçando-os com os seus. ─ E
mesmo então, nunca foi tão doce.
Ela sorriu contra sua boca.
─ Nunca senti nada assim. - Confessou ela baixinho. ─ Com ninguém. ­ Ela fez uma careta. ─ Não que
houve alguém, exceto um menino que me beijou em uma festa quando eu tinha dezesseis anos. - Ela
suspirou. ─ Isso foi um pouco antes de ele dizer que gostava muito de mim, mas não queria se envolver
com uma garota aleijada.
─ Você não é aleijada. ­ Disse ele. ─ Você tem um espírito tão valente quanto qualquer pessoa que eu já
conheci. Você é forte e capaz. É uma mulher com uma deficiência, não uma mulher deficiente. Se isso faz
sentido.
─ Quer dizer, eu tenho uma deficiência, mas isso não define quem eu sou. - Ela traduziu.
Ele sorriu.
─ Sim. É isso. - Ele procurou seus olhos verdes pálidos. ─ Eu não me importo. Eu lhe falei sobre minha
avó, que ela também tinha artrite. Alguém que se importa com isso não está interessado em você da
maneira certa. Ele está procurando alguém mais... casual.
Ela sabia o que ele queria dizer. Seus dedos foram até o rosto dele e o traçaram enquanto ela o
estudava com fascinação.
─ Eu nunca conheci alguém como você. - Ela sussurrou.
─ Nunca conheci alguém como você. - Respondeu ele, sério. ─ Não consigo imaginar o que perdi por não
conhecê-la quando estive aqui antes, três anos atrás.
─ Eu ouvi sobre você naquela época. Eu trabalhava para uma firma de advogados. Mas as pessoas apenas
disseram que você estava ajudando seu primo em algum caso. - Acrescentou ela.
Isso podia ser uma coisa boa. Ele não tinha certeza de como ela se sentiria se soubesse a verdade
sobre ele, sobre exatamente por que e como ele ajudou as garotas Grayling.
─ Você não sabe muito sobre mim. ­ Disse ele após um minuto.

* A violeta é uma flor bastante apreciada, que floresce no fim do inverno e no início da primavera. Suas delicadas flores quase não necessitam de água. Trata-se
de uma planta que exige bastante conhecimento no cultivo, caso contrário não alcança o seu esplendor. Violetas em um vasinho denotam delicadeza, sutileza,
beleza e humildade. Para quem interessar a lenda da violeta estará no final do livro.
─ Tudo bem. Você também não sabe muito sobre mim. - Respondeu ela.
Ele sorriu.
─ Não me diga. Você é uma espiã e tem um sobretudo no armário da pensão.
─ Não se atreva a dizer a ninguém. - Ela o repreendeu. ─ Eles mandariam pessoas para me amarrar e me
levar embora.
─ Eu nunca faria isso. - Disse ele suavemente, e sorriu. ─ Nem em um milhão de anos.
No fundo de sua mente, ele estava ouvindo uma música gravada por Meatloaf sobre fazer qualquer
coisa por amor. Ele cantou baixinho, um pouco desafinado.
Ela prendeu a respiração.
─ É uma das minhas músicas favoritas. - Ela confessou. ─ Você viu o vídeo?
─ Eu vi. Eu assisto no YouTube às vezes. - Ele riu. ─ É um dos meus favoritos também. Que outro tipo de
música você gosta?
Assim que ela começou a responder, houve uma batida suave na janela. Assustado, Mikey soltou
Bernie e colocou-a suavemente de volta em seu assento antes de abrir a janela.
Cash Grier estava lá, com seu uniforme e um sorriso de quem sabe tudo no rosto.
─ Não andei em alta velocidade na sua cidade e nem sequer atravessei a rua fora da faixa. - Começou
Mikey. ─ Além disso, estamos fora dos limites da cidade.
Cash deu uma risadinha.
─ Não é por isso que estou aqui.
Mikey apenas esperou.
Cash fez uma careta.
─ Tivemos um desenvolvimento. ­ Disse ele. ─ Nada importante. Mas Paul quer falar com você, em casa.
─ Acabamos de chegar aqui. ­ Disse Mikey, visivelmente perturbado. ─ Não pode esperar?
─ Desculpe. Não, não pode. Paul disse para trazer Bernie com você. - Acrescentou ele com um sorriso na
direção dela.
─ Oh. ­ Mikey se iluminou. Ele se virou para ela. ─ Tudo bem por você?
Ela sorriu.
─ Tudo bem.
─ Vamos ver o filme outra hora. ─ Prometeu Mikey. Ele se voltou para Cash. ─ Você vai para lá também?
Cash assentiu.
─ Você também terá dois outros carros atrás de você.
─ Estão nos seguindo? ­ Bernie perguntou, preocupada.
Cash e Mikey trocaram um longo olhar. Mikey balançou a cabeça, apenas um leve movimento, mas
Cash entendeu imediatamente que ele não devia contar nada a Bernie.
─ Tem a ver com um caso em que Paul está trabalhando. - Disse Cash a Bernie com um leve sorriso. ─
Não se preocupe.
─ Tudo bem. ­ Disse ela, e sorriu timidamente.
─ Já vamos. - Mikey tirou o alto-falante da janela e o colocou em seu pedestal, fechando a janela depois. ─
Desculpe por isso. - Disse ele a Bernie.
─ Você é parente de um agente do FBI. - Disse ela. ─ E eu não me importo. Sério.
Ele segurou a mão dela ao virar para a estrada.
─ É fácil estar com você. ­ Disse ele suavemente. ─ Você não reclama, não se preocupa. Mesmo quando
você provavelmente deveria.
Ela riu.
─ Eu adoro estar com você. Em qualquer lugar.
─ É como eu me sinto. - Ele entrelaçou seus dedos nos dela e dirigiu o resto do caminho até a casa de Paul
em silêncio. Ele estava preocupado e não podia deixar transparecer. Devia ser algo grande para Paulie
interromper seu encontro. Seu primo não era o tipo de interferir, a menos que fosse justificado. O que levou
Mikey a se preocupar com o que exatamente aconteceu.
Seu primeiro pensamento foi que eles haviam encontrado Tony em uma condição horrível. Eles
sabiam que Cotillo tinha um assassino atrás dele, e que provavelmente descobriu que Tony estava nas
Bahamas, já que ele e Marcus Carrera eram próximos. Ele esperava que Tony ainda estivesse vivo, embora
isso colocasse Mikey em mais perigo.
Ele olhou para Bernadette e sentiu um aperto no coração. Ele já estava apegado a ela. Não conseguia
suportar a ideia de deixá-la se machucar por causa dele. E ela ainda não sabia nada realmente sobre ele, ou
o perigo que estava correndo. Ele a estava colocando em perigo. Se alguém viesse procurá-lo, iria atrás do
elo mais fraco. Uma hora em qualquer restaurante ou bar nas redondezas, e eles saberiam que Mikey estava
namorando aquela linda assistente jurídica que trabalhava para o promotor. Bernadette poderia ser usada
contra ele. Na verdade, a Sra. Brown e suas outras residentes também podiam. Mikey tinha um fraco por
mulheres maternais, e as pessoas sabiam disso.
─ Você está preocupado. ­ Disse ela suavemente ao lado dele.
Ele virou a cabeça. Sua expressão chocada dizia tudo.
─ Você esconde as coisas muito bem. - Ela continuou. ─ Você realmente tem uma cara de pôquer. Mas
está dentro de você. Eu posso sentir isso.
Ele soltou um longo suspiro e seus dedos se contraíram.
─ Você vê fundo, assim como a cunhada de Paulie.
─ Merrie sempre foi assim dizem, até na escola.
─ Você mora aqui há muito tempo, não é?
─ Bem, intermitentemente, sim. Eu nasci aqui, mas quando era pequena, meus pais se mudaram para
Floresville. Meu pai trabalhava em uma fazenda de gado como capataz. ­ Seu rosto se fechou. ─ Papai e eu
voltamos para cá quando eu tinha cerca de dez anos.
Ele estava lendo nas entrelinhas. Algo aconteceu em Floresville que ainda lhe causava dor depois de
todo aquele tempo. Ele se perguntou o que seria. Mas ele não ia perguntar. Ainda não. Eles tinham tempo.
─ Vivi toda a minha vida em Newark. - Disse ele.
─ Sim, você me disse. Você disse que é dono de um hotel em Las Vegas. - Acrescentou ela, fascinada. ─
Deve ser muita responsabilidade cuidar de algo tão grande. - Acrescentou.
Ele deu uma risadinha.
─ Você não tem ideia. Eu não sabia no que estava me metendo. Eu tinha algum dinheiro sobrando e pensei
que seria divertido ter algo grande e elegante. Não é o que parece ser. Só os problemas trabalhistas já são
suficientes para me mandar ao bar mais próximo.
─ Acho que muitas pessoas trabalham para você.
Sim trabalhavam, mas não no ramo de hotelaria. Ele empregava vários homens que trabalhavam um
pouco fora da lei em vários projetos para ele. E não ia discutir isso com ela. Ele pensou na vida que viveu,
nas coisas que fez para ficar rico. Parecia tão importante na época, como se nada fosse mais importante do
que ter coisas, ter coisas caras, ter dinheiro. Ele saiu das forças armadas com muitos contatos e ainda mais
ideias, e as colocou em prática desde então. Agora, quando pensava em Bernadette e em como ela era
certinha, ele se sentia incomodado. O que ela pensaria dele quando soubesse o que ele era, o que ele foi, o
que ele fez? A ideia de perder a confiança dela já era dolorosa.
─ Você tem que parar de se preocupar com coisas que não pode mudar. - Disse ela, lembrando-o de uma
conversa que eles tiveram há algum tempo sobre isso.
Ele deu uma risadinha.
─ É isso aí, garota. Há muitas coisas que posso mudar. Eu simplesmente não sei como fazer isso sem ser
jogado na prisão.
Ela riu porque achou que era uma piada.
Ele sorriu. Não era uma piada, de maneira alguma. Ele tinha homens que podiam enfrentar um
assassino contratado com grande sucesso, mas isso o colocaria em situação ruim com o FBI e o US
Marshals, que estavam ajudando a protegê-lo. Suas mãos estavam amarradas. Ele não podia colocar Paulie
na linha de fogo agindo por conta própria. Além disso, se ele ajudasse a afastar Cotillo, isso o colocaria em
uma ótima posição de barganha com o Tio Sam. Ele podia precisar de um favor um dia. Era vantajoso não
usar seus métodos usuais de lidar com ameaças.
─ Se você for preso, posso assar um bolo com uma lixa de unha dentro e levar para você. - Disse ela com
um sorriso malicioso.
Ele suspirou.
─ Querida, eles não têm mais barras de ferro do lado de fora das celas. Elas estão todas dentro e todas as
portas são trancadas ao longo do caminho. Você nunca sairia dessa maneira.
Ela franziu o cenho. Nunca tinha estado em uma prisão de verdade, mas ele parecia saber muito sobre
elas. Ela imaginou que ele provavelmente tinha estado com o primo para ver alguém na prisão por um caso
ou algo assim. Isso não a preocupava.
Ele a olhou e sorriu. Ela realmente não via a parte ruim dele. Era incrível que ela fosse tão
perceptiva, mas não conseguisse ver a maldade em suas ações. Provavelmente por que ela não procurasse
por isso. Aparentemente, sua própria vida tinha sido protegida.

***

A grande casa Graylings estava acesa quando Mikey parou na garagem. Havia dois sedans e um
SUV, todos pretos. Os carros tinham placas do governo.
─ Federais - Mikey disse com um suspiro enquanto ajudava Bernie a sair do carro.
Ela olhou para a parte traseira dos carros estacionados lado a lado. E sorriu.
─ Placas do governo. Eu imagino que eles pensam que as pessoas não saberão, desde que não tenham luzes
intermitentes piscando no teto do carro. - Brincou ela.
Ele deu uma risadinha.
─ Boa. - Ele pegou a mão dela enquanto caminhavam até a porta da frente. E respirou fundo. ─ Ouça,
garota... - Disse ele quando chegaram lá. ─ há coisas acontecendo que eu não posso contar a você.
─ Eu não me importo. ­ Disse ela, e olhou para ele com absoluta confiança. Na verdade, ela estava tão
envolvida que não se importaria se ele roubasse bancos para viver.
Ele sorriu lentamente.
─ Você é quase boa demais para ser verdade. ­ Ele riu. ─ Você não tem nenhuma coisa perversa e terrível
em seu passado?
A porta se abriu, mas não antes que ele visse a expressão que tomou conta do rosto dela, rapidamente
disfarçada quando Sari Fiore abriu a porta e sorriu ao vê-los de mãos dadas.
─ Desculpe ter que terminar o seu encontro. - Disse ela a Bernie. ─ Mas não tínhamos escolha. Você pode
me fazer companhia enquanto os homens conversam. Mandy foi para a cama com dor de cabeça, então
estou sozinha. Bem, quase sozinha. - Ela emendou quando três homens entraram no corredor.
─ Oi, Mikey. - Paul Fiore cumprimentou o primo.
─ Oi, Paulie.
─ Você já conhece McLeod. ­ Disse ele a Mikey, indicando um homem grande e moreno. ─ E este é o
agente sênior do FBI Jarrod Murdock, do nosso escritório em San Antonio.
─ Eu ouvi sobre você. ­ Mikey murmurou enquanto olhava para o alto e loiro Murdock, um homem
imponente que nunca parecia sorrir. ─ Eles não ameaçaram vestir você como um ninja e jogá-lo na traseira
de uma picape se você fizesse café de novo? - Ele brincou.
Murdock fez uma careta.
─ Não é minha culpa se não posso fazer um bom café. - Ele zombou. ─ Não fui criado para ser mulher.
As duas mulheres presentes olharam para ele com os olhos arregalados e chocados.
Ele pigarreou.
─ Bem, os homens não têm a constituição certa para fazer café. - Ele emendou. ─ Nossas mãos são muito
grandes. - Ele acrescentou aquela última ironia. E ele não estava sorrindo, mas seus olhos azuis pálidos
estavam brilhando do mesmo jeito.
─ Esse é o único comentário que o salvou de um protesto fora do seu escritório. - Disse Sari em um tom
ameaçador simulado.
─ Deus me livre! ­ Murdock disse. ─ Eles iriam me despedir com certeza.
─ Na verdade, não. ­ Comentou Paul. ─ Você é um atirador muito bom. Você e a esposa de Rick Marquez
detêm o recorde de pontuações mais perfeitas na cidade em um único ano.
─ Ela perdeu um tiro no mês passado. ­ Murdock respondeu. E sorriu. ─ Enjoo matinal. Portanto, eu
detenho o recorde agora.
─ Ela está grávida? ­ Perguntou Sari. ─ Oh, isso é tão bom! Espero que seja um menino desta vez.
─ Eles já têm duas meninas. - Disse Bernie a Mikey com um sorriso.
─ Gosto de meninas. ­ Disse Mikey. ─ Meninos também. Crianças são fofas.
─ Nem todos elas. - Agente McLeod disse friamente com brilhantes olhos prateados.
─ Oh, isso mesmo. ­ Comentou Paul. ─ Aquela família de quem você estava cuidando tinha um filho que
ficou no reformatório a maior parte da vida. O que ele pintou no seu carro?
Os olhos de McLeod se estrecerraram.
─ Caveira e ossos cruzados.
─ E você não podia tocá-lo, porque ele estava sob custódia protetora.
─ Oh, eu não diria isso. ­ Respondeu McLeod. ─ Tive uma longa conversa com o oficial de condicional
dele. Ele está recebendo visitas na escola, em casa, em seu trabalho de meio período...
─ Homem perverso. - Sari riu.
─ Talvez a caveira e os ossos cruzados fossem mais precisos do que imaginamos. - Comentou Murdock.
─ Cuidado. ­ Disse McLeod. - Ou vou comprar um traje ninja e uma caminhonete.
Todos eles começaram a rir.
─ Bem, entrem no escritório. ­ Disse Paul aos homens. Ele olhou para Sari.
─ Bernie e eu estaremos na cozinha, discutindo política mundial. - Respondeu Sari.
Bernie olhou para Mikey com olhos verdes bonitos e suaves.
─ Até logo.
Ele sorriu lentamente.
─ Até. - Ele levou os dedos dela aos lábios e os roçou com eles antes de seguir os homens para o escritório.
Bernie teve que ser instruído a seguir Sari até a cozinha. Ela estava fascinada.

***

─ Se alguém tivesse me dito que Mikey ficaria caidinho por uma garota do interior do Texas, eu teria
desmaiado. ­ Sari brincou. ─ Sinceramente, você é tudo do que ele fala quando ele e Paul ficam juntos!
Bernie enrubesceu.
─ Ele é tudo sobre o que eu falo na pensão. Eu nunca conheci ninguém como ele. Ele é tão... sofisticado,
charmoso e meigo.
─ Meigo? - Os olhos de Sari estavam arregalados.
Bernie riu.
─ Bem, ele é.
─ Suponho que as pessoas revelam qualidades diferentes para diferentes pessoas. - Disse Sari
filosoficamente enquanto preparava o café. ─ Eu devo muito a Mikey. Minha irmã também. Ele ajudou a
nos manter vivas.
─ Ouvi dizer que você foi ameaçada por causa de seu pai. - Disse Bernie baixinho. ─ Não os detalhes, é
claro, apenas que Mikey ajudou seu marido na investigação.
─ Mikey nos colocou em contato com um cavalheiro que salvou a vida de Merrie. - Disse Sari, sem entrar
em nenhum detalhe. ─ Ela quase foi morta.
─ Eu ouvi sobre isso. Um homem louco bateu com uma caminhonete no carro em que ela estava e morreu
na prisão.
Sari concordou. Ela esperou até o café passar e serviu duas xícaras. Ela as colocou na mesa. Ela sabia
por causa do escritório que Bernie bebia o seu preto, assim como Sari.
Sari se sentou em frente a ela.
─ Passamos por tempos difíceis. - Lembrou ela. ─ Nosso pai era um louco. Houve momentos em que
pensei que ele próprio nos mataria.
Bernie olhou para seu próprio café.
─ Meu avô tinha um temperamento imprevisível. - Disse ela. ─ Você nunca sabia como ele iria reagir.
Uma vez ele ria de algo que você dissesse, e na seguinte... Bem, mamãe e eu tínhamos que ter muito
cuidado com o que dizíamos a ele. Meu pai também.
─ Seus avós moravam em Floresville, não é? - Sari perguntou gentilmente.
O rosto de Bernie se contraiu. Ela encontrou os olhos azuis preocupados da outra mulher.
─ Você sabe, não é? - Ela perguntou.
Sari concordou.
─ Soube por um ex-xerife que se mudou para cá e tinha negócios com nosso escritório. Mas você sabe que
eu não fofoco.
Bernie sorriu.
─ Sim eu sei. - Ela colocou as duas mãos em volta da xícara de café, sentindo seu calor. ─ Meu avô não era
um homem mau. Ele apenas tinha um temperamento incontrolável. Mas ele podia ser perigoso. E foi, uma
vez. ­ Ela fez uma careta. ─ Nós morávamos fora da cidade em um rancho, mas a fofoca viaja entre os
camponeses. Depois que aconteceu, papai perdeu o emprego e não recebeu referências, então voltamos
para Jacobsville. Eu tinha apenas dez anos. Papai e eu fomos atacados uma vez por um dos parentes da
vítima.
─ Eu mesmo já passei por guerras. Mas não culpo as pessoas pelo que seus parentes fazem. - Acrescentou
ela com firmeza.
─ Nem eu. Mas houve alguma fofoca até aqui. Felizmente, não tantas que papai não conseguisse encontrar
um trabalho. Ele foi até Duke Wright e conseguiu um emprego. Ele nunca entendeu o vovô. Eu costumava
pensar que se ao menos alguém tivesse forçado meu avô a ir ao médico e tomar remédios. Se ao menos
tivéssemos percebido que ele tinha problemas mentais. - Disse ela com voz rouca.
─ Se. Essa é uma expressão horrível. Se apenas.
─ Sim. ­ Bernie acenou com a cabeça. Ela ergueu os olhos. ─ Você não vai contar a Mikey, não é? Quer
dizer, vou contar a ele eventualmente, mas ainda é cedo e...
─ Mikey também tem segredos. ­ Interrompeu Sari. ─ Ele não vai usar nada contra você. Ele está mais
preocupado com o que você vai pensar dele. Ele... teve alguns problemas no passado.
Bernie inclinou a cabeça.
─Você pode me falar sobre isso?
─ Acho que ele é quem deveria contar. - Respondeu Sari. ─ Eu não gosto de contar histórias. Ele não é um
homem mau. - Acrescentou ela com firmeza. ─ Todo mundo tem segredos vergonhosos. Alguns se contam,
outros nunca, e outros carregamos dentro de nós para sempre como feridas purulentas.
Bernie acenou com a cabeça.
─ Isso é como o meu. Ferida purulenta. Eles culparam todos nós, não apenas meu pai. Eles culparam
mamãe e eu também.
─ Bernie, você era apenas uma criança. Como alguém poderia culpar você?
─ Eles disseram que vovó não devia tê-lo irritado. - Ela explicou. E fechou os olhos. ─ Eu tinha apenas dez
anos, não tive nada a ver com isso. Nem papai. Mas pessoas morreram e eu vivo com a culpa.
─ Você não devia. - Disse Sari secamente. ─ Não havia nenhuma maneira possível de você ter impedido o
que aconteceu.
─ Perder minha avó e minha mãe foi o pior de tudo, especialmente para o papai. - Bernie confessou
baixinho.
Ela colocou a mão sobre a de Bernie.
─ Você não pode viver no passado. Eu também estou tendo dificuldades com isso. Meu pai matou uma
mulher. Ele provavelmente matou minha própria mãe. Tenho que viver com isso, e Merrie também. Temos
nossa própria culpa, embora eu não saiba o que podíamos ter feito para impedi-lo. Tínhamos medo de
nosso pai, e ele era tão rico que ninguém por aqui ia contra ele. Ele fazia ameaças e as pessoas faziam o
que ele queria. ­ Ela suspirou. ─ Foi como um pesadelo, especialmente quando ele foi preso. Ele tentou me
fazer casar com um príncipe estrangeiro para que ele tivesse dinheiro para seu advogado de defesa. - Ela
lembrou amargamente. ─ Ele veio para cima de mim com o cinturão e eu gritei por socorro. Ele morreu
com o cinto na mão. Eu pensei que o tinha matado.
─ Você nunca machucaria uma mosca. - Bernie respondeu suavemente. ─ Nem Merrie. Seu pai era um
homem mau. Isso não significa que você algum dia seria como ele. Você não poderia ser.
Sari sorriu.
─ Obrigada. Quero dizer. Muito obrigada.
─ Acho que somos todos produtos de nossa infância. - Ela comentou. E procurou os olhos azuis de Sari em
sua moldura de cabelo ruivo dourado. ─ Como era o Mikey? Ele disse que cresceu em Newark, e a avó o
criou, junto com seu marido.
Sari sorriu.
─ Ela os criou. Ela era grega, muito pequena e muito amorosa, embora fosse rígida com eles.
─ E os pais deles?
─ Quanto menos falarmos, melhor. ­ Disse Sari friamente. ─ Estou francamente surpresa que os dois
tenham se saído tão bem.
Bernie suspirou.
─ Eu sei como é a sensação, só que era meu avô, não meus pais.
Sari concordou. E sorriu.
─ Espero que você esteja preparada para segunda-feira. Quando Jessie descobrir sobre o encontro quente,
ela vai ficar difícil. Glory e eu vamos intervir por você. E não é como se Mikey gostasse dela.
Bernie suspirou.
─ Isso é bom. Ela é muito bonita.
─ Ela é. Mas, como nosso chefe de polícia gosta de dizer, algumas cobras também são.
Ambas riram.
No escritório, as coisas estavam menos divertidas. Um dos capangas de Cotillo tinha realmente
conseguido entrar no Cassino Bow Tie de Marcus Carrera nas Bahamas, enquanto Tony Garza estava lá, no
escritório particular de Marcos. Apenas o pensamento rápido do guarda-costas de Carrera, o Sr. Smith, que
percebeu algo fora do comum, salvou o dia. O capanga foi preso e levado a julgamento.
─ Eles encontraram o capanga morto em sua cela no dia seguinte, é claro. - Disse Paul ao primo.
─ Claro. ­ Mikey enfiou as mãos nos bolsos. ─ Aposto que Cotillo também sabe onde estou. Eu não tenho
nenhum outro lugar para ir no mundo onde eu teria uma proteção como esta. - Acrescentou.
─ É verdade. - Disse McLeod. Seus olhos cinzentos se entrecerraram. ─ Depois de testemunhar, temos
planos para você.
─ É melhor que sejam planos para duas pessoas, porque não vou sair daqui sem Bernadette.
As palavras foram um choque agradável para seu primo, que sabia que Mikey só levou a sério uma
mulher uma vez na vida, e isso acabou mal.
McLeod deu uma risadinha.
─ Podemos providenciar isso.
─ Está bem então.
─ Mas vamos ter que aumentar a proteção. - Disse Paul. ─ Eb Scott queria nos emprestar os "Vingadores”.
─ Acrescentou ele, referindo-se a Rogers e Barton, dois dos principais homens de Scott. ─ Mas eles estão
em uma missão ultrassecreta no exterior. Ele nos enviou Chet Billings no lugar deles. E nós temos o
Agente Murdock aqui designado para você também.
─ Contanto que ele não tente fazer café para mim, está tudo bem. - Disse Mikey com um olhar para o alto
agente do FBI. Murdock apenas riu. ─ E quanto a Carrera? ­ Mikey perguntou. ─ A família dele também
estará sob ameaça?
─ Ele contratou alguns velhos amigos. - Disse Paul. ─ Vários velhos amigos, de casa.
Mikey sabia o que ele queria dizer, sem maiores explicações.
─ Se eu fosse Cotillo, dobraria minha barraca e voltaria para Jersey.
─ Sem chance. ­ Paul disse calmamente. ─ Ele acha que tem o que é preciso para derrubar Tony Garza e
assumir toda a operação.
─ Ele parece ser um homem com um enorme complexo narcisista. - Murdock murmurou.
─ Ou um homem sob o efeito de drogas poderosas. - McLeod argumentou.
─ Talvez os dois. ­ Respondeu Paul. ─ Tem pessoas se envolvendo nisso que nem mesmo têm laços com
os negócios de Tony. Eles simplesmente não gostam da ideia de um recém-chegado arrogante e
inexperiente entrando em seu território e tentando colocar de lado todo mundo que está no negócio há
gerações.
─ Eu conheço vários pequenos chefes que odeiam Cotillo e adorariam removê-lo. Há até um boato de que
uma das maiores famílias de Nova York o quer fora. - Disse Mikey. ─ Mas Tony é o único com o poder de
tirá-lo de circulação. Se Cotillo não tivesse tentado incriminá-lo pela acusação de assassinato, Cotillo
estaria correndo para o sul o mais rápido que suas perninhas gordas o levassem.
─ Temos o vídeo que você fez. ­ Disse Paul a Mikey. ─ Tem até a data e hora.
─ Claro. ­ Mikey respondeu com um sorriso irônico. ─ Mas a defesa pode jurar que foi alterado, que menti
para salvar meu amigo.
─ Não, se você testemunhar. ­ Respondeu McLeod. ─ Você é a melhor garantia que temos de que Cotillo
não pode trazer sua operação assassina para Jersey. Ouça, ninguém pensa que você e Tony cantam com os
anjos, ok? - Ele adicionou. ─ Mas existem níveis de criminosos. Cotillo é um assassino sem consciência,
que só está nisso pelo dinheiro. Ele vai matar qualquer um que entrar em seu caminho. Tony tem mais
classe do que isso. E você... - Disse ele a Mikey. ─ nunca machuca uma pessoa, a menos que ela machuque
alguém de quem você gosta.
Mikey corou.
─ Pare com isso. ­ Ele murmurou. ─ Você vai estragar minha imagem.
Paul deu uma risadinha.
─ Mas ele está certo. ­ Disse ao primo. ─ Merrie disse isso depois que pintou você.
─ Que pintura incrível. ­ Respondeu Mikey. ─ E ela nem me conhecia.
─ Que pintura? ­ McLeod perguntou.
─ Espere um segundo. - Paul pegou seu celular e abriu o aplicativo de fotos. Ele procurou e mostrou a
McLeod. Era a pintura que Merrie fez de Mikey, que Paul fotografou antes de mandar para o primo.
─ Droga. ­ Disse McLeod, olhando do retrato para Mikey. ─ E ela não sabia o que você fazia para viver?
Mikey balançou a cabeça.
─ Ela pintou isso de algumas fotos que Paul tinha. Bem, de algumas imagens digitais, de seu telefone
celular, como essa. Eu fiquei maravilhado. Ela fez Tony também. Que artista!
─ Uma artista, de fato. - McLeod concordou.
─ De volta ao problema em questão. - Disse Paul, ao desligar o telefone. ─ Precisamos dobrar a segurança.
E você precisa encontrar outra maneira de sair com Bernie. Uma maneira mais segura do que um cinema
drive-in no campo.
Mikey murmurou baixinho.
─ Como o que, tomar chá no quarto dela na pensão? Isso vai ajudar muito a reputação dela.
─ Você pode trazê-la para cá. - Disse Paul. ─Temos a melhor segurança da cidade.
─ Sério? - Mikey perguntou.
─ Pode apostar. ­ Disse Paul. ─ Vocês podem assistir filmes juntos no telão ­ Ele franziu os lábios. ─ Onde
Cash Grier provavelmente não baterá na janela.
─ O que me traz uma questão. ­ Disse Mikey. ─ Por que Grier estava me procurando em um cinema fora
da cidade? Não é a jurisdição dele, é?
CAPÍTULO SEIS
─ Cash estava em casa e o xerife Carson não atendia o telefone. - Disse Paul. ─ Para encurtar a história.
Nosso chefe de polícia se ofereceu. Seus filhos estavam protestando contra a hora de dormir, então ele
praticamente se afastou e deixou Tippy e Rory lidarem com isso. - Acrescentou ele, citando a esposa de
Cash e o jovem cunhado.
─ Nesse caso, ele pode querer passar a noite na casa de um amigo. ­ Mikey riu. ─ Se o que eu ouvi sobre
sua esposa for verdade. Ela realmente usou uma frigideira de ferro naquele cara que entrou pela porta dos
fundos com uma .45?
─ Com certeza ela fez. ­ Confirmou Paul. ─ Ela ainda é uma celebridade por isso, sem mencionar que é
uma ex-modelo e estrela de cinema.
─ E linda. - Disse o agente Murdock com um suspiro. ─ Mesmo duas crianças não mudaram isso.
Paul deu uma risadinha.
─ Nem me fale. Não que eu mesmo esteja mal no departamento de esposas. Minha Sari seria um páreo
duro para as todas as estrelas de cinema.
─ Ela é linda. - Concordou Mikey. E suspirou. ─ Bem, o que vocês estão fazendo sobre Cotillo enquanto
ele planeja matar Tony e eu?
─ Achamos que ele tem alguém na cidade. - Disse Paul, repentinamente sombrio. ─ Não sabemos quem.
Várias pessoas começaram a trabalhar em Jacobsville recentemente, algumas delas com pronunciados
sotaques do norte, como o seu e o meu.
Mikey fez uma careta.
─ Acho que conheci uma delas. Ela trabalha com Isabel no escritório do DA. Uma mulher chamada Jessie.
­ Ele balançou a cabeça. ─ Aparentemente, ela gosta de homens ricos e é predatória. Ela realmente
conseguiu o número do meu celular e ligou para me convidar para sair.
─ Aposto que não deu certo. - Paul disse ironicamente, porque conhecia seu primo profundamente. Mikey
não gostava de mulheres agressivas.
─ Não deu certo. ­ Respondeu Mikey. ─ Eu disse a ela que o número era privado e não estava interessado.
Então desliguei e bloqueei o número dela.
─ Eu nunca atraio mulheres que querem namorar comigo. ­ Murdock suspirou. ─ Eu acho que você tem
que ser bonito.
─ Não há nada de errado com você, Murdock, apenas a maneira como você faz café. - Disse Paul. ─ E eu
salvei você daquele advogado visitante que mencionou como a planta ficus precisava de fertilizante.
─ Sim, ele estava olhando diretamente para mim quando disse isso. - Disse Murdock e suspirou. ─ Não é
minha culpa. Ninguém mais no escritório vai tentar.
─ Eu gostaria, mas nunca fico na minha mesa por tempo suficiente.
─ Eu vivo no maldito telefone. - Disse Murdock tristemente. ─ Sou escolhido sempre que o chefe precisa
de informações sobre pessoas de fora da cidade. Passo a maior parte do dia rastreando contatos.
─ Você deveria se inscrever para a equipe da SWAT. - Sugeriu Paul. ─ Você se daria bem.
─ Eu mataria alguém, é o que eu faria. ­ Murdock respondeu. ─ Não penso rápido o suficiente para um
trabalho como esse. Acho que, no geral, a coleta de informações é um trabalho importante e sou muito bom
em encontrar pessoas.
─ Ele costumava localizar pistas para um detetive em Houston. - Disse Paul a Mikey. ─ Ele era bom.
─ Ainda sou - Murdock disse com um sorriso. ─ Eu rastreei um assassino fugitivo há poucos dias, ligando
para a mãe dele e dizendo que era um velho amigo do Exército. Ela me disse exatamente onde ele estava.
Doce senhora. Eu me senti muito culpado.
─ Se as pessoas infringem a lei, cumprem pena. - Disse Paul. ─ Essas são as regras.
─ As regras são para meros mortais. - Mikey disse com uma risada. ─ Nunca segui nenhuma na minha
vida.
─ Até agora. ­ Disse Paul, com olhos negros cintilantes. ─ As regras são o que o mantém vivo.
─ Bem, isso e Bernie, eu acho. - Disse Mikey, e uma leve cor avermelhada apareceu em suas maçãs do
rosto salientes. ─ Fomos ao drive-in mais cedo. Estávamos nos divertindo muito até Grier bater na janela.
─ Que filme você viu? ­ Perguntou o agente Murdock.
Mikey pigarreou.
─ Foi uma espécie de filme de ação, eu acho. O título me escapa.
─ Aposto que sim. - Disse Paul baixinho. ─ Isabel me contou que Bernie serviu café com gelo quando ela
foi buscar uma xícara e depois derrubou uma estante, tudo no mesmo dia. E ela não é desajeitada.
Os olhos de Mikey brilharam.
─ Ora ora.
─ Ela é uma mulher meiga. - Disse Paul. ─ Sari é protetora com ela. Essa mulher, Jessie, que trabalha no
escritório, causa problemas para ela.
─ O promotor precisa tratar do assunto e demiti-la. - Mikey murmurou.
─ Ele a avisou de que ela perderia o emprego se causasse mais problemas. - Respondeu Paul. E colocou as
mãos nos bolsos. ─ Mas voltando ao assunto em questão. Liguei para Marcus Carrera e perguntei como
iam as coisas. Ele disse que Tony está ficando inquieto. Ele não gosta de se esconder de algum capanga
barato que quer dominar seu território. Ele está furioso por não ter previsto problemas vindos daquele
bairro quando o cara foi morar lá com seus capangas.
─ Se ele voltar, pode morrer aqui. - Disse Mikey. ─ Ele sabe que Cotillo terá gente olhando e esperando.
Paul concordou.
─ Foi isso que eu disse a Carrera. Ele disse que vai falar um pouco com Tony e garantir que ele fique
quieto, não importa o que aconteça. Ele tem alguns velhos amigos de seus dias de gangster ajudando. E
contratou um grupo de mercenários, um dos quais morava aqui, aquele tal de Drake cuja irmã se casou com
o veterinário, Bentley Rydel. Kell Drake, esse é o nome dele.
─ Esse é um excelente apoio. - Admitiu Mikey. ─ Espero que ele não tenha que ficar lá por muito tempo.
Mas e quanto a Cotillo?
─ Temos planos para ele. ­ Disse Paul. ─ Eu também tenho amigos em Jersey. Eles estão fazendo algumas
investigações para mim. A agência encaminhou um de nossos melhores agentes de campo para o caso, e
ele está investigando os antecedentes de Cotillo. Com alguma sorte, encontrará algo que possamos usar
como vantagem enquanto esperamos o julgamento de Tony.
─ Tony fugiu do país. - Disse Mikey com tristeza. ─ Isso vai contra tudo o que ele acredita. Fugir da
acusação.
─ Ele não fugiu, ele foi retirado por nós. - Disse Paul com um sorriso. ─ Então essa não é uma acusação
que ele enfrentará.
Mikey suspirou.
─ Seu passado não é imaculado. Nem o meu. Até agora, Cotillo nunca foi acusado de um crime, pelo que
sabemos.
─ Isso mesmo. ­ Respondeu Paul. ─ Pelo que sabemos. É por isso que estamos investigando. Há um
promotor federal também no caso e usando seus próprios investigadores para checar Cotillo e seus
comparsas. Eventualmente, alguém vai falar.
─ Contanto que eles não falem sobre mim e Tony e o que está em nosso passado. - Disse Mikey com um
suspiro resignado. ─ Tenho sido um homem mau, Paulie. Espero que isso não volte para me assombrar.
─ Não tão mau, e você não tem uma única condenação. - Disse Paul.
─ Não. ­ Mikey concedeu com um sorriso triste. ─ Mas isso não significa que eu não mereça uma.
Paul colocou uma mão magra no ombro largo de Mikey.
─ A gente vai um dia de cada vez e o amanhã cuida de si mesmo.* Certo?
Mikey sorriu.
─ OK. Certo. Bem. ­ Acrescentou ele. ─ É melhor levar Bernie para casa. Está muito tarde para filmes.
─ Temos filmes em DVD e pay-per-view. - Paul o lembrou com um sorriso. ─ Vocês podem assisti-los
juntos aqui mesmo, onde é seguro. E a porta tem uma fechadura. - Ele adicionou com olhos divertidos
quando Mikey corou.

***
Mikey contou a Bernie sobre isso quando ele a levou, relutantemente, de volta para a pensão.
─ Sinto muito por termos que cancelar esta noite. - Disse ele suavemente. ─ Mas Paulie diz que podemos
assistir o pay-per-view na casa dele, sempre que quisermos.
─ Eu gostaria disso. ­ Ela sussurrou enquanto ele a puxava para perto.
─ Eu também bebê. ­ Ele a beijou com fome e então a afastou suavemente. ─ Vou voltar para a casa por
um tempo. Mas vamos marcar um novo encontro para um filme mais tarde, ok?
Ela sorriu.
─ OK!

***
*Referência bíblica Matheus 6:34 - " Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal."
Mais tarde, durante o jantar em casa, Mikey bebeu uma segunda xícara de café preto. Ele estava
estranhamente quieto.
─ O que está perturbando você? - Paul perguntou.
Ele encolheu os ombros.
─ Eu estava pensando em Cotillo e seus lacaios. Sabe, continuo deixando Santi me levar de limusine.
Tenho estado bastante visível aqui...
─ Disfarces não funcionam com pessoas como Cotillo. - Respondeu Paul. ─ Além disso, este é um dos
lugares mais seguros do mundo quando alguém está caçando você. Isso salvou Sari e Merrie.
─ Sim. ­ Sari acrescentou à conversa. ─ Isso vai salvar você também, e Tony, espero. Merrie gosta muito
dele.
Mikey sorriu.
─ A boneca gosta de todo mundo. É assim que ela é.
─ Isso é verdade.
─ Por que você está tão taciturno? - Paul perguntou ao primo.
─ Estou preocupado em sair com Bernie agora que sei que estou sendo vigiado pelos capangas de Cotillo. -
Disse ele, afastando sua xícara de café.
─ Dissemos que você poderia trazê-la aqui quando quisesse. - Sari o lembrou com um sorriso. ─ Ela é tão
meiga. Eu adoro trabalhar com ela.
Mikey pareceu se animar um pouco.
─ Você realmente estava falando sério? Você não se importaria?
─ De jeito nenhum. ­ Respondeu Sari. ─ Há muitos lugares para caminhar à vista da casa. Temos bezerros
que ela pode acariciar e gatos no celeiro, e também há o gazebo. - Ela limpou a garganta e não ousou olhar
para Paul, porque algumas coisas importantes aconteceram lá antes de os dois se casarem.
Mikey riu.
─ Ok, então. ­ Disse ele. ─ Obrigado.
─ Sem problemas. ­ Paul disse a ele, seus olhos escuros brilhando. ─ Então. Que tal sábado?
─ Sábado parece bom. - Respondeu Mikey. ─ Vocês são ótimos.
─ Obrigada. - Disse Sari.
─ Você também é ótima, Mandy. ­ Acrescentou Mikey quando a governanta veio da cozinha com uma
forma de bolo.
Mandy sorriu.
─ Legal da sua parte dizer isso, e eu fiz um bolo de chocolate para você também!
Mikey hesitou, parecia culpado. Seu rosto se contraiu. Ele não queria contar a ela.
─ Mandy, ele não vai dizer, mas ele tem dores de cabeça terríveis de enxaqueca. - Paul disse a ela
suavemente. ─ Chocolate é um de seus gatilhos.
─ Oh, meu Deus, sinto muito! ­ Mandy disse.
─ Você é um amor e é a intenção que conta. - Mikey disse a ela com um sorriso. ─ Eu adoro chocolate. Eu
simplesmente não posso comer.
─ Bem, vou fazer um bom bolo de baunilha para você amanhã. Que tal? - Ela provocou.
─ Esse eu vou comer, e obrigado.
─ Sem problema. Você ajudou a manter minhas meninas seguras. Eu nunca vou esquecer você por isso,
não enquanto eu viver.
Mikey corou um pouco.
─ Elas são boas garotas, as duas. - Ele olhou para Sari. ─ Boas mulheres. - Ele emendou.
Sari dispensou o pedido de desculpas.
─ Eu não fico ofendida com cada palavra que as pessoas dizem. Além disso... - Ela acrescentou com olhos
azuis cintilantes. ─ fui chamada de uma palavra totalmente nova no tribunal por um homem que eu estava
processando por agressão. A juíza o condenou.
Mikey riu.
─ Bom para a juíza.
─ Ela é uma excelente juíza. ­ Concordou Paul. ─ Eu tive que conseguir um mandado de busca dela vários
anos atrás. Tivemos uma longa conversa sobre a mãe de Sari. A juiza era amiga dela.
─ Minha mãe era meiga, meio como Bernie. - Disse Sari. ─ Ela adorava plantar flores e cultivar coisas.
─ Minha avó também. ­ Disse Paul.
─ Sim, ela sempre teve um jardim de ervas e plantava tomates no quintal. - Acrescentou Mikey. ─ Foi
difícil perdê-la. Ela foi a única família real que Paulie e eu tivemos. Nossos pais não ficavam muito por
perto.
─ O que foi melhor. ­ Paul disse severamente.
Mikey acenou com a cabeça.
─ Bem, eu tenho algumas pesquisas para fazer. - Disse Sari, levantando-se. Ela se inclinou para beijar Paul.
─ Não coma minha parte desse bolo. - Ela avisou. ─ Volto para pegá-lo mais tarde.
─ Eu faria isso? ­ Paul disse com uma falsa atitude defensiva.
─ Claro que sim. ­ Respondeu ela. E riu enquanto saía da sala.
─ Droga, você teve sorte. - Disse Mikey depois que ela saiu.
─ Eu tive. Talvez você tenha sorte também. - Disse Paul. ─ Todo mundo que conhece Bernie a ama. - Ele
fez uma careta. ─ É uma pena o que aconteceu com ela. - Acrescentou.
─ Sim, a artrite é muito grave. - Concordou Mikey.
Paul franziu a testa e começou a falar quando seu telefone tocou. Ele olhou para o número e gemeu,
mas atendeu.
─ Fiore. ­ Disse ele.
Ele ouviu, olhou para Mikey e fez uma nova careta.
─ Eu entendo. Sim, vou garantir que ele saiba. Vamos dobrar aqui. Não se preocupe. Eu não gostaria de
arriscar que Carrera ficasse bravo comigo também, mas esses caras não estão sendo inteligentes, se é que
você me entende. Certo. OK. Obrigado.
─ Problemas? - Mikey perguntou.
Paul concordou.
─ Alguém fez um novo atentado contra Tony. O indivíduo está sob custódia e eles esperam que ele cante
como um pássaro quando o extraditarem para cá.
─ Uma oportunidade, talvez.
─ Talvez. Se eles não o "suicidarem", como fizeram com o outro.
─ Sim. ­ Mikey respirou fundo. ─ Sabe, minha vida estava indo tão bem até agora. Eu tenho o hotel. Tenho
todo o dinheiro de que preciso. E estava realmente pensando em um lar e uma família. Acho que perdi de
vista o que fui, o que fiz. ­ Ele olhou para Paul. ─ Talvez o universo esteja configurado para que você
receba de volta o que distribui, todas as vezes, em dobro. Eu não me importo comigo. Eu só não quero
colocá-la na mira. Ela é a mulher mais meiga que já conheci.
Paul não precisava que ninguém lhe dissesse que seu primo estava falando sobre Bernadette. Havia
uma expressão no rosto de Mikey que ele não via há muitos anos.
─ Temos todas as nossas bases cobertas. - Disse ele a Mikey. ─ Você tem que lembrar, os forasteiros se
destacam aqui. Já há fofoca sobre a mulher Jessie no escritório de Isabel, e até mesmo o novo cozinheiro de
Bárbara no café. Pessoas de fora chamam atenção.
─ Você verificou Jessie e o cozinheiro? - Mikey perguntou.
Paul lançou-lhe um olhar irônico.
─ O que você acha?
─ Desculpe.
─ Sem problema. Mas cavamos muito fundo. Acho que teríamos encontrado algo óbvio, como um registro
de prisão. Bem, a menos que o cara esteja trabalhando para uma das agências. - Acrescentou ele, referindo-
se às agências de inteligência e justiça.
─ Verdade.
─ Você vai trazer Bernie no sábado? - Paul perguntou.
Mikey riu.
─ O que você acha? ­ Ele disse, jogando as próprias palavras de seu primo de volta para ele, e os dois
riram.

***
Bernie não conseguia dormir. Choveu o dia todo e a dor era muito forte. Ela não gostava de tomar,
mas tinha analgésicos, doses elevadas de ibuprofeno para quando tudo o mais falhasse. O remédio afetava
seu estômago, mesmo quando o tomava com comida. Além disso, havia um período limitado de tempo que
ela poderia tomá-lo. Era tão forte que poderia causar problemas graves no fígado e nos rins se as pessoas o
usassem por um longo período de tempo sem interrupção. Isso a amendrontava.
Mas esta era uma ocasião em que precisava de algum alívio. Mal conseguia conter as lágrimas. Ela
saiu da cama dolorosamente e vestiu seu robe de chenile branco. Teria que ir buscar uma garrafa de água
na geladeira. A Sra. Brown, abençoada seja, guardava para seus inquilinos, que sempre eram bem-vindos a
pegar qualquer coisa para beber ou comer na hora de dormir que encontrassem em sua cozinha impecável.
Bernie entrou muito devagar na cozinha e quase colidiu com Mikey em uma calça de pijama de seda
cor de vinho com um robe combinando. O robe aberto mostrava seu peito nu, largo e coberto com pelos
crespos. Ele parecia bonito e sensual. O coração de Bernie saltou descontroladamente só de vê-lo.
Mikey sorriu. Ele podia perceber tudo isso no rosto dela. Ela não tinha nenhum artifício, pensou ele.
Uma mulher honesta, que não escondia o que sentia.
─ Você fica bonita com o cabelo solto, querida. - Ele disse suavemente.
Ela ficava. Seu longo cabelo platinado ondulava em volta dos ombros e descia quase até a cintura nas
costas. Com as bochechas ligeiramente coradas e os olhos verdes claros brilhando apesar da dor, ela era
muito bonita.
Ela riu timidamente.
─ Eu estava pensando em como você é lindo. - Ela confidenciou ruborizando ainda mais.
─ O que você precisa? - Perguntou. Ele estava segurando um prato de papel com biscoitos e queijo fatiado,
junto com algumas fatias de pêra fresca.
─ Só uma garrafa de água da geladeira e algo para comer. Tenho que tomar um dos comprimidos fortes. ─
A dor está insuportável. - Disse ela com relutância.
─ Aqui. Sente-se. Vou pegar um pouco de queijo e biscoitos para você.
─ Eu posso fazer isso...
─ Não se preocupe, querida. ­ Disse ele suavemente. Puxou uma cadeira e esperou até que ela se sentasse.
Em seguida, foi buscar água e fatiou um pouco mais de queijo e colocou mais biscoitos no prato de papel.
Ele se sentou também.
─ As peras estão boas. - Disse ele.
─ Eu gosto de frutas frescas. ­ Disse ela timidamente.
Eles mastigaram queijo em um silêncio agradável. Ela engoliu tudo com sua garrafa de água,
estremecendo cada vez que se mexia na cadeira.
─ Lamento que você tenha de ter uma doença que a faz sofrer o tempo todo. - Disse ele em voz baixa.
─ Coisas da vida. - Disse ela. ─ Aprendi a conviver com isso há muito tempo.
Ele franziu a testa.
─ Você não é tão velha.
─ Eu tenho vinte e quatro anos. ­ Ela o lembrou. ─ Mas tenho artrite desde os nove anos.
─ Nove anos de idade! ­ Ele exclamou.
─ Algumas crianças nascem com isso. - Respondeu ela. ─ A artrite não é apenas uma doença de pessoas
idosas. Tem um menino de cinco anos que vai ao mesmo reumatologista que eu. Ele tem osteoartrite e
precisa tomar doses de ibuprofeno assim como eu.
Mikey estremeceu.
─ Que vida infernal.
Ela assentiu.
─ Pelo menos eu tive tempo suficiente para saber como lidar com dias ruins e crises. É muito mais difícil
para uma criança.
─ Eu imagino.
─ Porque você está acordado tão tarde? - Ela perguntou.
Ele moveu os biscoitos pelo prato, ao lado de seu refrigerante aberto.
─ Você mencionou que eu estava preocupado em colocar as pessoas em perigo por morar aqui. - Disse ele,
relembrando sua estranha percepção.
Ela assentiu.
─ Você está com algum tipo de problema, não é, e seu primo está tentando ajudar.
─ É mais ou menos isso. - Ele se inclinou para trás com seu refrigerante na mão. Ele estava lindo com seu
cabelo preto e ondulado despenteado e seu robe aberto.
Ele riu da expressão dela.
─ Seus olhos me dizem tudo o que você está pensando, Bernie. - Disse ele suavemente. ─ Você não pode
imaginar como estou lisonjeado com isso.
─ Sério? ­ Ela perguntou, surpresa.
Ele olhou para ela em silêncio.
─ Eu sou um homem mau. ­ Disse ele depois de um minuto, e fez uma careta. ─ Se envolver comigo não é
sensato.
Ela apenas olhou para ele e suspirou.
─ Nunca tive muito bom senso.
Demorou um minuto para registrar isso. Ele começou a rir.
─ Oh. É isso?
Ela sorriu.
─ É isso aí.
─ Então, que diabos. Eu tenho todo tipo de pessoa cuidando de mim. Isso significa que eles vão cuidar de
você e de todos na pensão também.
─ Tudo bem. ­ Disse ela, sorrindo.
Ele inclinou a cabeça.
─ Você gosta de bolo de chocolate? - Ele perguntou de repente.
Suas sobrancelhas se arquearam.
─ Bem, sim. É o meu favorito.
─ Mandy fez um para mim e não consegui comer. - Disse ele com uma careta. ─ Tenho enxaquecas, dores
de cabeça muito fortes. Chocolate é um gatilho.
─ Meu pai costumava tê-las. - Respondeu ela. E franziu o cenho. ─ Nada curado é um gatilho? Quero
dizer, como queijo?
Ele olhou para ela e depois para o prato de queijo e soltou um suspiro.
─ Bem maldição. Eu nunca pensei sobre isso. Cada vez que como queijo fico com dor de cabeça e nunca
liguei uma coisa a outra!
─ O neurologista de papai disse que todo mundo tem mais de um gatilho, mas às vezes as pessoas não os
reconhecem. Ele não podia beber vinho tinto, comer qualquer fruta escura ou queijo. E ele adorava queijo.
─ Que tal chocolate?
Ela riu.
─ Ele nunca gostou de doces, então não era um problema.
─ Você tem dores de cabeça?
Ela balançou a cabeça.
─ Tive uma forte quando tinha treze anos. Nenhuma desde então.
─ Sorte sua. ­ Ele disse a ela.
─ Eu imagino que sim.
─ Paulie disse que posso levá-la à casa dele para uma visita no sábado, se quiser.
Seu coração saltou e saiu correndo.
─ Ele disse? Sério?
─ Sari também. Há gatinhos no celeiro e cavalos para acariciar. Acho que também tem um cachorro em
algum lugar.
─ Ooh, tentação. ­ Ela murmurou, e sorriu para ele.
Ele riu.
─ Eu imaginei que os gatinhos poderiam fazer isso.
Ela inclinou a cabeça e seus olhos o adoraram.
─ Os gatinhos seriam um bônus. Passar um tempo com você é o verdadeiro atrativo.
Ele prendeu a respiração. Incrível o efeito que ela exercia sobre ele. Ele se sentiu como se pudesse
flutuar.
─ É assim comigo também, garota. ­ Disse ele suavemente. ─ Eu gosto de estar com você.
Ela sentiu a alegria fluir por ela.
─ A bengala não desanima você?
Ele encolheu os ombros.
─ Eu vou usar uma também. Pareceremos um par combinado.
Lágrimas arderam em seus olhos. Ela nunca sonhou que um homem, especialmente um homem lindo
e experiente como este, a acharia atraente e não se incomodaria com a sua condição.
─ Ah, agora, não faça isso. ­ Disse ele suavemente. Ele se levantou, a ergueu em seus braços e sentou-se
com ela em seu colo. ─ Não chore. Tudo vai ficar bem. De verdade.
Ela colocou os braços em volta do pescoço dele e se aconchegou.
─ Você acha? ­ Ela perguntou chorosa.
─ Sim eu acho. - Ele esfregou as costas dela, sentindo-se protetor.
O som de uma porta abrindo quebrou o encanto. Mas ele não deixou Bernie levantar, mesmo quando
a Sra. Brown entrou na cozinha.
─ Oh, querida. ­ Disse ela, observando as lágrimas de Bernie e Mikey confortando-a. ─ A dor acordou
você, não foi?
─ Sim. Vim buscar uma garrafa d'água para tomar um daqueles comprimidos horríveis, mas primeiro
precisava comer alguma coisa. Espero que não se importe...
─ Bobagem. ­ Disse a Sra. Brown. ─ É por isso que mantenho salgadinhos e refrigerantes na geladeira.
─ O queijo é realmente bom. - Disse Mikey.
─ É queijo hoop.* - A Sra. Brown disse a ele com um sorriso. ─ Eu compro a peça no supermercado, corto
e empacoto. Eu gosto dele também. Fiquei com fome, então pensei em fazer um lanche. Está ruim, Bernie?
- Ela adicionou.
Bernie acenou com a cabeça.
─ Me desculpe se eu acordei você.
─ Eu não durmo muito. ­ Disse a Sra. Brown calmamente. ─ Você não me incomodou em nada.
Bernie desceu do colo de Mikey com relutância.
─ Obrigada pelo conforto. ­ Ela disse, enxugando os olhos. ─ Não sinto pena de mim mesma, mas a dor
está muito forte.
─ Vá para a cama, querida. Não se esqueça da água. - Disse ele. ─ Sábado, se você estiver melhor, vamos
ver os gatinhos no celeiro de Paulie. OK?
Os olhos de Bernie brilharam.
─ OK.
─ Quer que eu a carregue pelo corredor? - Ele ofereceu.
─ Obrigada. ­ Disse ela, um pouco constrangida com a expressão divertida da Sra. Brown. ─ Mas eu estou
bem. Eu seguro na parede quando fico vacilante. Boa noite. - Ela acrescentou para os dois.
─ Tente dormir, querida. ­ Disse a Sra. Brown. ─ Se você precisar de mim, chame, ok?
─ Eu vou. Obrigada. ­ Ela olhou para Mikey, corou, sorriu e saiu pela porta.

***

─ Ela tem coragem. ­ Disse Mikey à senhoria.


─ Sim, ela realmente tem. - Respondeu a Sra. Brown. ─ Todos nós tentamos cuidar dela, tanto quanto ela
nos permite. Ela é muito independente.
─ Eu percebi. ­ Ele riu.
─ Você está comendo queijo. ­ Disse ela preocupada. ─ Você não nos disse que tem enxaqueca?
─ Bem, sim...
─ O queijo é um gatilho. ­ Disse ela. ─ Como vinho tinto e chocolate.
Ele fez uma careta.
─ Não posso comer chocolate de jeito nenhum , mas nunca pensei em queijo causando dor de cabeça. - Ele
riu. ─ Sabe, eu costumava ter dores de cabeça o tempo todo e nunca entendia o por quê. Sempre era depois
de sair com um colega meu. Ele adora queijo, então sempre tinha um prato com o jantar, onde quer que
comêssemos. Eu mordiscava e quase morria durante a noite quando a dor vinha.
─ Você tem aura? - Sra. Brown perguntou.
Ele fez uma careta.
─ Sim. Luzes brilhantes ou cegueira de um olho até a dor chegar.
─ Você tem algo para tomar para isso? - Ela persistiu.
─ Apenas coisas sem receita.
─ Você deveria consultar um médico e conseguir algo mais forte. - Ela disse a ele. ─ Eles até têm um
medicamento que pode preveni-las, se você não tiver alergia a medicamentos.
─ Eles têm? ­ Ele perguntou, e estava realmente interessado.
─ Eles têm. ­ Ela riu. ─ É por isso que não as tenho mais. ­ Ela confessou. ─ O queijo é um dos meus
maiores gatilhos. Mas não tive enxaqueca desde o inverno. - Acrescentou ela.
─ Talvez eu deva fazer isso. ­ Disse ele. ─ Elas pioram conforme eu envelheço.
─ Você não é velho, Sr. Fiore. ­ Ela brincou.
Ele encolheu os ombros.
─ Trinta e sete. - Confessou. ─ Muito velho para Bernie...
─ Absurdo. Eu era quinze anos mais nova que meu falecido marido e tivemos uma vida maravilhosa
juntos.
Ele arqueou as sobrancelhas.

* Hoop cheese(queijo hoop) - É um queijo tradicional com leite de vaca, comum no sul dos Estados Unidos desde o início até meados do século XX. Ainda está
disponível hoje, embora seja muito menos comum. É um queijo simples, preparado pela separação do soro de leite da coalhada d e requeijão. Em 1903, um
cortador de queijo tipo hoop foi inventado e patenteado, projetado para cortar queijo hoop e outros queijos.

cortador de 1903.
─ As pessoas falaram sobre vocês?
Ela assentiu. E sorriu.
─ Nós não nos importávamos. Não era da conta de ninguém, apenas nossa. ­ Ela suspirou. ─ Estou tão feliz
que você e Bernie são amigos. Ela nunca teve muito companheirismo. Ela é tão sozinha.
─ Sim, eu também. ­ Ele confidenciou. ─ Depois que minha avó morreu, tudo que me restou foi Paulie. Ele
é um cara ótimo.
─ Foi o que ouvi.
Ele levantou.
─ Bem, vou para a cama e espero que o queijo não me mate. Mas valeu a pena. - Acrescentou ele com uma
risada enquanto colocava o prato vazio na lata de lixo. ─ O melhor queijo que comi há muito tempo.
─ Estou feliz que você gostou. E se você pegar o remédio preventivo, pode comer o quanto quiser. - Ela
riu.
─ Eu imagino que sim. Durma bem.
─ Você também.

***

Mas ele não dormiu bem. Acordou duas horas depois com uma dor de cabeça que quase o levou às
lágrimas. Ele entrou no banheiro, meio cego, e quase colidiu com Bernie, que estava molhando uma toalha
na pia.
─ Meu Deus, o que há de errado? ­ Ela perguntou, porque ele estava mortalmente pálido.
─ Enxaqueca. ­ Disse ele bruscamente. ─ Há algum Excedrin aí? - Ele perguntou, indicando o armário de
remédios. ─ Não consigo encontrar o meu. Acho que coloquei aqui...
Ela abriu o armário e olhou.
─ Sim há.
─ Me dê um comprimido, sim, querida?
─ Ok. - Ela obedeceu e entregou a ele. ─ Você precisa disso mais do que eu. - Disse ela, indicando a toalha
molhada. ─ Vamos. Eu o ajudo a voltar para a cama.
─ Você deve ir. ­ Disse ele, engolindo em seco.
─ Por quê?
─ Eu fico enjoado... - Antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, conseguiu apenas chegar até o vaso
e perder o jantar, o queijo, os biscoitos, o refrigerante e tudo mais.
Quando a náusea passou, ele encontrou Bernie ajoelhada ao lado dele com uma toalha molhada,
passando-a por seu rosto. Ela deu a descarga no banheiro.
─ Melhor agora? ─ Ela perguntou.
Ele engoliu em seco e respirou fundo.
─ Sim. Acho que sim. Querida, você não deveria... - Ele começou.
─ Você cuidou de mim quando eu estava tendo uma crise. - Ela o lembrou. ─ Olho por olho.
Ele conseguiu sorrir.
─ OK.
─ Vamos. Eu vou ajudá­lo a voltar para a cama.
Ele a deixou levá-lo de volta para seu quarto e ajudá-lo a deitar sob as cobertas. Ela colocou a toalha
sobre os olhos dele.
─ Vou pegar algo para você tomar o comprimido. Quer água ou refrigerante?
─ Ginger ale, se houver algum na geladeira. - Disse ele fracamente, amando o conforto do toque dela, a
compaixão em sua voz. Toda sua vida, as mulheres o quiseram por sua riqueza, seu poder. Esta mulher só o
queria. Era uma revelação.
─ Eu volto já.
─ Você não deveria andar. - Disse ele.
─ É só até a cozinha, e eu tomei a pílula grande. Isso está ajudando. Eu volto já.

***

A Sra. Brown estava preparando o café da manhã na cozinha. Ela se virou quando Bernie entrou.
─ Você quer um pouco de café, querida? - Perguntou a senhoria.
─ Eu adoraria, mas Mikey está com enxaqueca. Encontrei o remédio, mas ele quer ginger ale.
─ Sobrou uma garrafa que está gelada. - Disse a mulher mais velha. Vou pegar mais algumas e colocá-las
lá. Ele está bem?
─ Ele perdeu o jantar. - Disse Bernie. ─ E está muito doente. Vou sentar com ele por alguns minutos.
─ Se você precisar de mim, é só chamar. Podemos pedir a um dos médicos Coltrain que venha até aqui e
lhe dê uma injeção, se precisar. Essas dores de cabeça são horríveis. Eu costumava tê-las antes de tomar o
remédio preventivo.
─ Ele deveria consultar um médico. - Disse ela, enquanto pegava o refrigerante na geladeira.
─ Faça­o fazer isso. ­ Disse a Sra. Brown.
Bernie enrubesceu e riu.
─ Como se eu pudesse.
─ Bernie... ­ Disse a Sra. Brown suavemente. ─ você não pode ver que o homem está absolutamente louco
por você?

CAPÍTULO SETE
Bernie olhou para a Sra. Brown como se tivesse brotado grama no cabelo dela.
─ Ele o quê?
─ Ele a adora, isso é claro. - Respondeu a mulher mais velha, sorrindo. ─ Todo mundo percebeu, não só
eu.
Bernie enrubesceu.
─ Bem. ­ Ela disse, perplexa pela resposta.
─ Você simplesmente cuide do seu companheiro. ­ Disse a Sra. Brown. ─ Vou preparar o café da manhã.
Se ele puder comer qualquer coisa, farei o que ele quiser.
─ Eu direi a ele. ­ Respondeu Bernie. ─ Obrigada.
─ Venha comer quando quiser. Vou preparar um prato para você reaquecer, ok?
─ OK!
Bernie voltou para o quarto de Mikey e fechou a porta. Ela se sentou na beira da cama.
─ Ainda está com o comprimido? - Ela perguntou, porque ela entregou a ele mais cedo.
─ Sim.
─ Aqui. Está aberta. - Ela já havia retirado a tampa da garrafa antes de entregá-la a ele. Ele engoliu o
comprimido e devolveu a garrafa.
─ Obrigado, querida.
─ Sem problemas. ­ Ela colocou o refrigerante dele na mesa lateral. ─ Vai demorar a melhorar? - Ela se
preocupou. ─ A Sra. Brown disse que podemos ligar para um de nossos médicos locais e eles virão lhe dar
uma injeção se você precisar.
Ele engoliu em seco.
─ Talvez a pílula funcione.
─ Acontece normalmente?
Ele sorriu.
─ Não. Melhora um pouco. Nada para isso.
Ela alisou seu cabelo preto ondulado e úmido.
─ Você só precisa me dizer o que precisa. E eu faço.
Seus olhos a adoraram.
─ Nunca houve uma mulher em toda a minha vida que tivesse cuidado de mim do jeito que você fez. Bem,
só a minha avó.
─ Tenho certeza de que muitas quiseram. - Ela brincou.
─ Talvez umas duas. Mas eu sou estranho com as mulheres. A maioria delas são cansativas e
espalhafatosas. - Ele adicionou, seus olhos frios com a memória.
─ Talvez você esteja procurando por elas nos lugares errados. - Disse ela, irônica.
Seus olhos negros brilharam para ela.
─ Você acha?
─ É uma possibilidade.
Ele se deitou e fechou os olhos, estremecendo.
─ Era só o que me faltava, enxaqueca por causa do queijo. - Ele gemeu. ─ É minha comida favorita.
─ Você pode encontrar uma nova favorita. Talvez abóbora. ­ Ela brincou. ─ Ou quiabo.
─ Pare! Você está me matando!
Ela riu. A maioria dos homens com quem trabalhava odiava os dois vegetais ardorosamente.
─ Iogurte congelado, então.
─ Isso soa bem.
Eles ficaram em silêncio por alguns minutos, mas era óbvio que mesmo quando o comprimido teve
tempo de funcionar, ele não estava fazendo muito efeito.
─ A pílula está ajudando?
Ele cobriu os olhos com a mão.
─ Não muito. ­ Ele fechou os olhos e estremeceu. ─ É apenas uma coisa sem receita.
─ Deixe-me chamar um médico. Por favor.
Ele respirou fundo.
─ Tudo bem. ­ Disse ele finalmente.
─ Volto logo.
Ela ligou para o consultório de Lou e Copper Coltrain. A enfermeira disse que pediria a Lou para ir
imediatamente. Lou era o apelido de Louise, ela era loira, meiga e sabia exatamente o que fazer por Mikey.
─ Você deveria consultar um neurologista. - Disse ela depois de lhe dar uma injeção para a dor. Primeiro, é
claro, ela o examinou, perguntou o que ele já havia tomado para dor de cabeça e perguntou sobre qualquer
alergia a medicamentos. Ele não tinha nenhuma. ─ Mas, enquanto isso, vou prescrever uma receita para o
preventivo e algo para as dores de cabeça que funciona quando você tiver uma. - Ela se virou para Bernie.
─ Vou dar isso a você, Bernie. Compre-os hoje.
─ Eu vou. ­ Disse Bernie, sorrindo para a médica. ─ Obrigada por vir.
─ De nada. Se você tiver mais problemas, Sr. Fiore, ligue para o consultório, ok?
─ Sim, senhora. - Disse ele complacentemente. Ele sorriu para ela com os olhos arregalados. ─ Obrigado,
doutora.
─ De nada.
─ Eu não sabia que os médicos faziam mais visitas domiciliares. ­ Disse ele.
─ Jacobsville não é como a maioria das cidades pequenas. - Ela riu. ─ Fazemos o que é necessário. - Ela
olhou para Bernie. ─ Achei que você estivesse morrendo, pela descrição de Bernie. Ela estava muito
nervosa.
Ele abriu os dois olhos e olhou para Bernie.
─ Ela estava? ­ Ele perguntou suavemente, e sorriu para ela.
Ela corou ainda mais. Ele riu. Lou escondeu um sorriso, disse adeus e saiu.

***
─ Posso ajudá-lo em algo mais? - Bernie perguntou.
─ Não, mas você pode dar as receitas para Santi. Vou mandar uma mensagem para ele. - Ele puxou o
celular e fez uma careta. ─ Droga, eu não consigo ver. - Ele murmurou.
─ Só um segundo. ­ Ela pegou o telefone dele, abriu em mensagens e olhou para Mikey. ─ O que você
quer dizer a ele?
─ Peça a ele para vir imediatamente.
Ela digitou. A resposta foi imediata. “Estou a caminho”, dizia.
─ Ele vai pensar que estou morrendo ou que Cotillo me pegou. - Ele riu.
Ela franziu o cenho.
─ Quem é Cotillo?
─ Um homem mau. Ainda pior do que eu. - Ele disse em um tom rouco. Seus olhos tentaram se concentrar
em seu rosto. ─ Há muita coisa que você não sabe sobre mim, garota.
─ Bem, há muito que você não sabe sobre mim também. - Disse ela.
Sua grande mão procurou a dela e a segurou com força.
─ Vamos aprender um sobre o outro. Leva tempo. Certo?
Ela sorriu. Parecia um futuro. Ela se sentiu brilhar por dentro.
─ Leva tempo. ­ Ela concordou.
Ele respirou fundo e fechou os olhos.
─ Vou tentar dormir. Santi tem muito dinheiro para as receitas.
─ OK. ­ Ela concordou. ─ Se você precisar de alguma coisa, basta chamar, ok?
Ele sorriu sem abrir os olhos.
─ OK. Obrigado, querida.
─ De nada.
Ela saiu da sala, as palavras suaves persistentes, tocantes, fazendo-a se sentir valorizada.

***
Houve uma batida na porta da frente. Ela foi atender. Santi estava parado ali.
─ O que há de errado com o chefe? ­ Ele perguntou de uma vez.
─ Enxaqueca. - Disse ela. ─Tivemos que chamar o médico.
─ É um médico que você conhece, certo? - Ele perguntou, e seu rosto largo parecia preocupado.
─ Oh, sim, Dra. Louise Coltrain. Ela veio e deu a ele essas receitas. Ele pediu que você as aviasse para ele
na farmácia.
Ele as pegou dela e acenou com a cabeça.
─ Vou resolver isso imediatamente. ­ Ele fez uma careta. ─ Não gosto de ficar longe dele à noite, mesmo
com todos aqueles outros caras cuidando dele. Ouça, se ouvir ruídos estranhos ou se alguém tentar entrar
na casa, você me manda uma mensagem. Está com seu celular?
─ Sim. ­ Ela o puxou e entregou a ele.
Ele abriu a tela de contato e colocou informações nela. E o devolveu.
─ Esse é o número do meu celular. O chefe não é nervoso, então ele pode deixar passar algo que pode ser
perigoso.
─ Ligarei para você se alguma coisa acontecer aqui. - Ela prometeu. ─ Obrigada. ­ Ela adicionou
suavemente.
Ele sorriu.
─ Você é uma boa garota. Sinto muito por termos sido duros com você quando caiu na frente do carro. É
que as mulheres já tentaram isso antes no antigo bairro do chefe.
─ Sério? ­ Ela perguntou, e estava honestamente surpresa.
Ele assentiu.
─ Ele é rico, sabe? Muitas mulheres fariam qualquer coisa por dinheiro.
Ela sorriu.
─ Eu mesma conheci uma ou duas delas. Gosto de ter o suficiente para pagar as contas e comer fora de vez
em quando. Isso é tudo. O dinheiro não faz as pessoas felizes. Muitas vezes, faz exatamente o oposto.
─ Sim. ­ Ele ergueu as receitas. ─ Eu vou aviar essas e trazer de volta para você. O chefe, você tem certeza
que ele está bem?
─ Por que você não entra e vê, antes de ir? ­ Ela perguntou, levando-o pelo corredor. ─ Ele teve uma noite
difícil.
─ Eu costumava cuidar dele durante essas dores de cabeça. - Disse Santi. ─ Eles são um pesadelo.
─ Eu posso ver isso.
Ela bateu suavemente e abriu a porta. Mikey virou a cabeça, estremecendo de dor. Ele conseguiu
sorrir.
─ Ei, Santi. Teve que se certificar de que eu não morri, certo? - Ele brincou.
Santi riu.
─ Algo parecido. Você está bem?
─ Ficando melhor a cada minuto.
─ OK. Vou pegar seus remédios e já volto.
─ Bernie. ­ Mikey chamou, quando ela começou a sair também. Ela voltou para dentro e parou ao lado da
cama. ─ Você nem tomou café da manhã, não é? - Ele perguntou.
─ Bem, ainda não...
─ Vá comer alguma coisa.
─ OK. A Sra. Brown disse que você pode comer o que quiser, quando quiser.
Ele sorriu sonolento.
─ Ela é gentil. Igual a você. Ainda não estou com fome. Acho que vou dormir um pouco. Vá comer alguma
coisa.
─ Eu vou.
─ Ei... ­ Ele chamou suavemente quando ela estava na porta.
Ela se virou, arqueando as sobrancelhas.
─ Quando eu melhorar, podemos assistir a outro filme? Paulie diz que tem todos os filmes mais recentes
em pay-per-view e DVD. E uma porta com fechadura. - Acrescentou ele com um sorriso malicioso.
Ela riu, corando ao se lembrar do último filme que eles foram assistir, mas não viram. A memória de
sua boca na dela era emocionante.
─ Eu gostaria disso. ­ Disse ela.
─ Eu também.
─ Descanse um pouco. Venho ver você em alguns minutos.
Ele suspirou.
─ Doce menina. Nunca mude.
─ Farei o meu melhor.
Ela saiu e fechou a porta.

***
Paul veio ver o primo, alertado por Santi, depois que o guarda-costas deixou os remédios de Mikey.
─ Você parece mal. - Disse Paul, sentando-se ao lado da cama do primo. ─ Lembro-me de como essas
dores de cabeça são horríveis.
─ A dor é mesmo. Eu perdi tudo que comi. Bernie estava no banheiro comigo, me ajudando. - Acrescentou.
─ Que mulher incrível. Nunca conheci ninguém como ela.
─ Ela é única. ­ Concordou Paul. ─ Incrível como ela continua em frente. A deficiência nunca parece
abatê-la.
─ Ela tem dias bons e dias ruins.
─ Eles não têm injeções para isso agora?
─ Sim, tem. ­ Disse Mikey. ─ Eu ouvi a senhoria dela dizer que era uma pena que elas fossem tão caras.
Bernie não pode pagar por elas. ­ Seu rosto ficou tenso. ─ Eu posso, mas ela nunca me deixaria fazer isso
por ela. Ela é orgulhosa.
─ Ela é. Mikey, você conhece bem o Santi? - Paul perguntou.
As sobrancelhas de Mikey se ergueram.
─ Tão bem quanto eu conheço você. - Ele disse. ─ Honra é o seu grande diferencial. Ele nunca me trairia
porque pareceria desonroso para ele. Ele leva seu trabalho a sério. Por que você pergunta? - Ele adicionou.
─ Só alguma fofoca. Dizem que Cotillo tem alguém próximo a você.
─ Tem que ser a Sra. Brown, então. - Disse Mikey com olhos escuros cintilantes. ─ Certo? Quero dizer, ela
é a escolha óbvia. Amigável, doce, exatamente o tipo que arma uma cilada pra você com um assassino.
Paul deu uma risadinha.
─ OK. Eu entendo o que você quer dizer. Da qualquer maneira, estamos verificando todos que vivem aqui.
Apenas por precaução.
─ Isso não é uma má ideia. Você ainda tem o Billings em algum lugar com um kit de atirador?
Paul concordou.
─ Acho que ele nunca dorme. Ele parece se dar bem com cochilos, mas temos um substituto no lugar, de
qualquer maneira.
Mikey respirou fundo e riu roucamente.
─ Essas malditas dores de cabeça. Eu não sabia que havia uma maneira de evitá-las. A doutora prescreveu
algo, junto com uma receita para tomar quando a dor piorar. - Ele fez uma careta. ─ Eu odeio drogas, sabe?
Mas é um tipo de dor que dá vontade de bater na cabeça com um martelo só para fazer parar de latejar.
─ Vovó costumava tê-las. - Lembrou Paul. ─ Elas eram ruins.
─ Igual as minhas. Imagine uma mulher que não foge quando um homem vomita. - Disse ele. ─ Bernie não
me deixou por um minuto, não até depois que a médica chegou.
─ Ouvi dizer que você fez praticamente o mesmo por ela no dia em que a conheceu, quando ela caiu na
frente do seu carro.
─ Sim. ­ A boca de Mikey puxou para baixo. ─ Achei que fosse um truque. Você sabe como as mulheres
costumavam vir para cima de mim. Uma até fingiu cair de um lance de escada. Eu não conhecia Bernie .
Presumi que ela gostava da aparência da limusine e queria uma carona. Dedução errada. - Ele respirou
fundo. ─ Ela nos pediu para procurar sua bengala e não acreditamos nela. Santi a encontrou. Eu me senti
como um cachorro.
─ Seu passado não está cheio de mulheres inocentes. - Disse Paul com um sorriso. ─ Erro compreensível.
─ Eu imagino que sim. ­ Ele colocou a mão na cabeça. ─ Pelo menos o latejamento parou. Essa médica é
muito boa. Mulher bonita. Ela se casou com o médico ruivo?
─ Copper Coltrain. ­ Paul concordou. ─ Houve uma incompatibilidade no início. Ela trabalhou com ele por
quase um ano, e ele a odiava por algo que o pai dela fez no passado. Quando ela pediu demissão e resolveu
deixar a cidade ele assumiu que a amava. Foi um romance difícil.
Mikey apenas suspirou.
─ O meu não é nada difícil. - Disse ele. ─ Sabe, nunca pensei em ter uma família antes. Meninas são fofas.
─ Sim. - Paul não disse mais nada. Ele e sua ex-esposa tiveram uma filha. Sua esposa e a filha foram
mortas a tiros por um dos inimigos de Paul, como vingança por sua prisão e condenação. Era uma
lembrança triste.
─ Desculpe. ­ Mikey disse, estremecendo. ─ Eu esqueci.
─ Eu tento. ­ Disse Paul. ─ Quer dizer, estou mais feliz do que jamais sonhei ser com Sari. Mas há
momentos em que penso na minha garotinha... - Ele se interrompeu.
─ Todos nós temos memórias ruins, Paulie. - Disse Mikey. ─ As minhas não são tão ruins quanto as suas.
Sinto muito pelo que aconteceu com você. Mas o cara pagou por isso. - Acrescentou ele friamente.
Paul olhou para ele.
─ Sim, um dos policiais em Jersey disse que achou que você poderia ter algo a ver com isso.
Mikey apenas franziu os lábios.
─ Quem eu? Eu faço todo o possível para ser legal com as pessoas.
─ Sim, mas você conhece pessoas que não.
Mikey riu.
─ Muitas delas.
─ Você contou a ela? ­ Ele perguntou, sua cabeça apontando em direção à porta.
Mikey sabia a quem ele se referia. Ele recostou-se nos travesseiros.
─ Eu não sei como. No começo, não achei que houvesse um motivo para contar a ela. Agora, estou com
medo do que ela vai pensar de mim.
─ Ela é uma mulher meiga.
─ Meiga e inocente. Ela não vê maldade. Ela sempre busca o melhor nas pessoas. Até em mim. Eu não sou
o que ela pensa que sou. Mas como posso dizer a ela como tem sido minha vida? Como posso fazer isso e
mantê-la?
─ Você subestima o que ela sente por você, Mikey. - Disse Paul. ─ Você não ama ou odeia as pessoas
essencialmente por suas ações. Você se preocupa com elas por causa do que elas são, no seu íntimo. Bernie
sabe que você não é tão ruim quanto pensa que é.
─ Eu espero que você esteja certo. Não faz muito tempo, mas se eu perdê-la, será como ter um braço
arrancado, sabe?
─ Eu sei. É assim que me sinto em relação a Sari.
─ Ela é uma vencedora.
Ele sorriu.
─ Concordo. Ei, se você não estiver melhor no sábado, pode trazer Bernie para almoçar no domingo, será
bem-vindo. Você pode levá-la para passear pela propriedade, talvez até mesmo ver aquele filme que você
foi ver no drive-in. Não era novo, porque agora está no pay-per-view.
─ Parece bom. - Respondeu Mikey. ─ Espero que essa dor de cabeça estúpida passe antes disso. -
Acrescentou. ─ Elas geralmente duram dois ou três dias.
─ Eu lembro. Tome seus remédios. Talvez eles encurtem esta.
─ Acredito que sim. Obrigado pela visita primo. - Acrescentou. ─ Mais alguma notícia de Carrera?
Paul balançou a cabeça.
─ Ele diz que tem Tony em um lugar seguro, não se preocupe.
─ Estou em um lugar mais seguro. ­ Mikey riu. ─ Uma pequena cidade no meio do nada, com metade dos
mercenários aposentados do país. Sorte minha.
Paul sorriu.
─ Eu vou concordar com isso. Pergunte a Bernie sobre o domingo.
─ Eu vou. Obrigado.
─ Sem problemas. Até logo.
─ Até.
***

Bernie ficou encantada com o convite. Demorou alguns dias para Mikey superar a dor de cabeça, mas
ele estava bem no domingo.
─ Tem certeza de que eles não se imcomodam? - Ela perguntou.
─ Eles não iriam convidá-la se assim fosse, querida. - Ele disse a ela enquanto iam em direção à casa de
Paul e Sari. ─ Você está aquecida o suficiente?
─ Estou bem. - Disse ela, aconchegando-se em seu casaco quente. ─ Está frio esta noite.
─ Imagine só, frio no sul do Texas. - Ele brincou. ─ Agora, se você quiser sentir frio, precisa ir para Jersey.
Nós sabemos o que é tempo frio.
─ Imagino que vocês devam ter muita neve.
─ Costumávamos ter mais, quando Paulie e eu éramos crianças. Tivemos grandes batalhas de bolas de neve
na vizinhança. Uns meninos mais velhos ficavam à nossa espera e nos jogavam bolas de neve congeladas
sempre que tinham oportunidade. Então Paulie e eu pegávamos alguns cubos de gelo e os colocávamos
dentro de nossas bolas de neve. Ai! Os valentões correriam para salvar suas vidas.
Ela riu.
─ Aposto que sim.
─ Nossa avó era tão feroz que eles tinham mais medo dela do que até mesmo do chefão da vizinhança. -
Ele lembrou com um sorriso. ─ Eu lhe contei sobre ela bater nele com um salame. Ela o perseguiu até a
porta da frente com o salame, e seu pessoal não ousou rir. Isso ensinou a ele um respeito totalmente novo
pelas mulheres.
Ela riu suavemente.
─ Eu gostaria de ter conhecido sua avó.
─ Eu também, querida. Ela teria amado você. - Sua mão alcançou a dela e segurou-a com força. ─ Ela não
tinha paciência para mulheres modernas com ideias modernas.
Ela suspirou.
─ Nem eu. Eu sou um retrocesso para outra geração, eu acho. Meu pai praticamente me criou depois que
voltamos para cá. - Seu coração parecia chumbo em seu peito. Ela odiava lembrar por que eles tinham
vindo para Jacobsville.
─ O que há de errado? ­ Ele perguntou, sensível ao humor dela.
Ela fez uma careta.
─ Coisas sobre as quais não posso falar. Coisas ruins.
─ Querida, eu poderia escrever um livro sobre coisas ruins. - Ele comentou. E respirou fundo. ─ Um dia
desses teremos que ter uma longa conversa sobre o meu passado e não vai ser agradável.
─ Não fará diferença. - Disse ela calmamente. ─ A pessoa que você era não é o homem que você é hoje.
─ Isso não é tão verdade quanto eu gostaria que fosse. - Respondeu ele.
─ Não acredito que você faria algo terrível.
Mas ele fez. Coisas realmente terríveis. Elas não o incomodaram muito até agora. Esta meiga e
gentil mulher ao lado dele não tinha nenhuma ideia sobre que tipo de mal vivia em seu mundo real, o
mundo que ela nunca tinha visto.
─ Você lê livros? - Ele perguntou.
─ Sim. É como eu supero noites ruins quando os remédios não fazem efeito.
─ Tem um livro, vou dar o título a você. É sobre um homem que pinta casas.*
─ Um pintor? ­ Ela perguntou.
Seus dedos se contraíram.
─ É um tipo diferente de pintura. Se você ler o livro, começará a ter uma ideia do tipo de mundo em que
vivo. ­ Seu rosto ficou tenso. ─ É uma vida dura. Mundo cão, e digo isso literalmente. O homem para quem
trabalho está se escondendo de um homem ainda pior do que ele. O que eu sei, o que eu vi, pode ajudá-lo.
Os federais só precisam me manter vivo o tempo suficiente até o julgamento chegar. - Ele se virou e olhou
para ela. ─ É um negócio. Como os negócios normais, de certa forma. É só que alguém quer o que você
tem e pensa em maneiras de obtê-lo, a maioria delas ilegais e mortais.
Ela franziu o cenho.
─ Eu não entendo.
─ Como você pode? Criada em uma cidade pequena, cercada por cidadãos que cumprem a lei, muitos dos
quais amam você. ­ Seu rosto endureceu. ─ Em toda a minha vida, minha avó foi a única pessoa que
realmente me amou.
O coração dela quase parou. Ela o amava. E tinha acabado de perceber isso. E ficou levemente
desconcertada por uma revelação que deveria ter lhe ocorrido muito antes.
─ E seu primo Paul. - Disse ela depois de um minuto.
─ Sim, Paulie. Nós gostamos um do outro. Ele faria qualquer coisa que pudesse para me ajudar. Na
verdade, ele já está fazendo. Mas não é a mesma coisa que eu sentia por minha avó.
─ Não me lembro muito bem da minha. ­ Disse ela com firmeza.
Ele a olhou.
─ Más lembranças?
Ela engoliu em seco.
─ Elas não poderiam ser piores.
Seus dedos se uniram aos dela.
─ Você quer me falar sobre isso?

* Acredito que o livro em questão é I Heard You Paint Houses(em tradução livre “Eu ouvi dizer que você pinta casas) de Charles Brandt, que conta a história do
maior assassino da história da máfia. Adaptado em 2019 para o filme O Irlandês com Robert De Niro no papel principal . A expressão ” Eu ouvi dizer que você
pinta casas" é um eufemismo para "você mata pessoas". O sangue das vítimas seria a "tinta" nos muros e paredes.
Ela hesitou. Ele estava insinuando que sua vida tinha sido um pouco fora da lei. Talvez ele pudesse
entender melhor do que a maioria dos homens como tinha sido para ela e sua família.
─ Eu quero. ­ Ela disse. ─ Pode esperar até mais tarde?
Ele riu.
─ Isso pode esperar. - Ele ficou lisonjeado por ela querer lhe confiar algo que era obviamente um segredo,
algo que mantinha escondido. Era uma indicação dos sentimentos que ela estava começando a ter por ele.
Ele estava começando a ter o mesmo tipo de sentimento por ela. Se ela teve algo traumático em seu
passado, isso poderia ajudá-la a se relacionar com a própria vida dele.
Então ele parou e considerou o que faria em relação a ela, depois do julgamento, quando voltasse
para Jersey, de volta a velha vida. Ele jurou lealdade, sua vida, à família do crime a que pertencia. Trair
aquele código, aquele omertà,* o mataria. Não que ele tivesse planos de entregar sua família aos federais.
Na verdade, até mesmo Tony estava trabalhando com os federais agora, para evitar que Cotillo assumisse o
controle. Mas essa era uma trégua temporária. Nem um empregado de Tony delataria ninguém para os
federais, muito menos Mikey. Isso faria você ser morto rapidamente.
Por outro lado, se ele queria uma vida com a doce mulher ao seu lado, e estava começando a
imaginar que sim, como poderia arrastá-la para as sombras com ele?
Seria escolha dela no final. Mas ela era convencional e deficiente. Não que sua família fosse ruim
para ela, oh, não. Até as mulheres a acolheriam como uma parente. Seus subordinados a tratariam como
realeza. Portanto, não seria ruim desse ponto de vista. Mas os negócios em que Tony e Mikey se
envolveram eram ilegais. Eles se especializaram em jogos de azar online, em apostas, em cassinos em Las
Vegas. Uma das propriedades de Mikey era um cassino, na verdade. Ele disse a Bernie que era um hotel.
Era um hotel, mas não era em Jersey. Era em Las Vegas, e artistas de renome apareciam regularmente lá.
Ele administrava como um negócio legal, mas fazia coisas fora dos livros que poderiam levá-lo à prisão.
Bernie era uma alma tão gentil e confiante. Ela gostava do campo, do ar livre, de pequenos animais. Mikey
gostava de luzes brilhantes e cassinos. Seria um ajuste difícil, se ela estivesse disposta a fazê-lo.
─ Você está taciturno. - Ela acusou, observando as expressões em seu rosto bonito.
Ele riu constrangido.
─ Estou pensando. - Ele virou a cabeça por um minuto e olhou nos olhos dela. ─ Desculpe. Tenho coisas
em mente. - Ele fez uma careta. ─ Paulie disse que ele têm alguém próximo a mim.
─ Ele?
─ O cara que está atrás de mim e de Tony. - Explicou ele. E deu uma risadinha. ─ Eu disse a ele que
provavelmente era a Sra. Brown. Você pode dizer que ela é o tipo de pessoa que armaria uma cilada para
um homem. - Acrescentou ele com um sorriso.
Ela começou a rir.
─ Oh, isso é maldade.
─ Eu sou um homem mau, querida. - Disse ele, e não estava brincando.
Ela franziu o cenho.
─ Ele não tem ideia de quem seja? ­ Ela adicionou.
─ Ainda não. Ele está verificando as pessoas.
─ Eu verificaria aquela Jessie no meu escritório. - Ela murmurou. ─ Ela é uma das pessoas mais horríveis
que já conheci. Ela está sempre provocando as outras mulheres no escritório. Pobre Glory tem pressão alta.
Pode ser perigoso, você sabe, e ela tem um filho pequeno. Jessie faz todo tipo de comentário desagradável
com ela sobre os remédios que toma, até mesmo sobre a maneira como se veste.
─ Seu chefe deveria tirar aquela mulher do escritório. - Ele comentou.
─ Ele gostaria, mas é o promotor. Precisa ter um motivo legítimo para despedi-la ou ela pode levá-lo ao
tribunal. Ele gostaria que ela fosse embora também. Ela confunde compromissos o tempo todo, outra razão
pela qual Glory está tão estressada.
Seus dedos acariciaram os dela.
─ Todos nós temos nossas cruzes, não temos, garota?
Ela assentiu.
─ Ninguém passa pela vida sem alguns traumas. - Ela suspirou. ─ É muito triste, sabe. Ela é tão bonita.
Como pode uma pessoa com aquela aparência ser tão chata?
* Omertà - É um termo da língua napolitana que define um código de honra de organizações mafiosas do Sul da Itália. Fundamenta-se num forte sentido
de família e num voto de silêncio que impede os integrantes de cooperar com autoridades policiais ou judiciárias, seja em direta relação pessoal como quando
fatos envolvem terceiros. Caso o juramento seja violado, a punição é a morte. O principal motivo é a crença de que o governo e as autoridades em geral não estão
preocupados com o povo.
─ Você nunca sabe de que tipo de família as pessoas vêm. - Ele disse simplesmente. ─ Muitas vezes, as
crianças acabam mal por causa da maneira como foram criadas. Sabe, só vi meu pai algumas vezes em toda
a minha vida. Minha mãe morreu de ataque cardíaco quando tinha apenas 20 anos, não muito tempo depois
do meu nascimento. A mãe dela, minha avó, me acolheu. A mãe de Paulie morreu quase ao mesmo tempo,
então ele acabou ficando com a nossa avó também. ­ Ele fez uma careta. ─ O pai de Paulie era ainda pior
do que o meu. Ele levou algumas surras quando o velho estava em casa. Felizmente, não era frequente.
─ Seus pais trabalhavam em algum tipo de trabalho distante, como construção? - Ela perguntou
inocentemente.
─ Eles trabalhavam para os chefões. Iam para onde eram mandados e faziam o que era mandado - Ele
sorriu tristemente. ─ Essa é a vida, garota. Você se compromete a obedecer e o faz. Existe um código de
honra. Nós o chamamos de omertà. Significa que você promete sua lealdade a um don e nunca se esquece
disso. Se você trai seus colegas, você encontra um final rápido e triste.
Seu coração deu um salto.
─ Mas você vai testemunhar contra um homem que é, como você o chamou, um don?
Seus dedos se contraíram confortavelmente ao redor dos dela.
─ Isso é uma coisa diferente. ­ Disse ele. ─ Esse cara, Cotillo, está tentando se intrometer em um território
que não pertence a ele. As outras famílias são contra ele tanto quanto a de Tony.
Ela franziu o cenho.
─ Tony é sua família? Ele é um parente?
Ele deu uma risadinha.
─ Tony é um símbolo. - Disse ele. ─ Não, não somos parentes, mas morreríamos um pelo outro. Então,
nesse sentido, sim, acho que você poderia dizer que ele é família. Os federais o estão protegendo. Eu
também. O que sabemos pode prender Cotillo por muito tempo. As famílias estão trabalhando para esse
fim, até mesmo fazendo uma trégua temporária com os federais para impedi-los de se intrometerem muito
em nossos negócios.
Ela piscou.
─ Você fala sobre os federais como se fossem inimigos. - Disse ela. ─ Mas seu primo trabalha para uma
agência federal.
─ É apenas uma maneira de falar, querida. - Disse ele, voltando atrás. ─ Estamos todos gratos por sua
ajuda. Ninguém quer um cara como Cotillo no comando em Jersey. Ele é sorrateiro. Na primeira chance
que tivesse, ele começaria a alinhar outras famílias para eliminação. Eles sabem disso. Portanto, os federais
são o menor dos dois males.
─ Eu entendo.
─ Você não entende, mas vai. ­ Ele prometeu. E suspirou. ─ Só espero que não seja demais para você,
Bernie. Você viveu uma vida protegida.
─ Na verdade, não. Não muito.
─ Oh?
─ Bem, eu não vivi em uma comunidade ou tive amantes, ou algo assim. Mas fui tudo menos protegida. Eu
vou contar a você. ­ Ela acrescentou. ─ Eu prometo.
Ele sorriu.
─ Eu vou contar a você também.
─ Isso é um acordo.

CAPÍTULO OITO
Eles estavam descendo a longa entrada para Graylings quando os dedos dele se contraíram ao redor
dos dela.
─ Sem segredos de agora em diante. - Disse ele. ─ Eu vou lhe contar sobre a minha vida hoje e você pode
me contar sobre a sua.
─ Pode fazer diferença... - Ela disse preocupada.
─ Não vai. ­ Ele parecia muito seguro. ─ Nada do que você me disser vai mudar alguma coisa. - Um lado
de sua boca sensual puxou para baixo. ─ Por outro lado, o que eu tenho a lhe dizer, bem, isso pode mudar
muitas coisas. - Ele acrescentou tristemente, e estava se arrependendo de coisas em seu passado que
poderiam tirá-la de sua vida. Era um pensamento terrível. Ela já era parte dele.
─ Qualquer que seja o tipo de problema em que você esteja, eu estarei com você. - Disse ela.
Ele queria puxá-la para seu colo e beijá-la até perder o fôlego por dizer isso, mas tinha que se conter.
Seus dedos trabalharam sensualmente nos dela, acariciando-os.
─ Nunca pensei que me envolveria com uma garota de uma pequena cidade no Texas. - Disse ele, rindo. ─
Eu me sinto exatamente como Carrera deve ter se sentido.
─ Carrera? ­ Ela perguntou. ─ Oh, sim, o marido de Delia. ­ Ela sorriu. ─ Delia teve maus momentos. Sua
mãe acabou sendo uma mulher que ela sempre considerou como irmã, e seu pai acabou sendo o marido de
sua mãe. Ela salvou a vida do Sr. Carrera nas Bahamas, mas perdeu o bebê. Ela voltou para casa e estava
muito infeliz. Doeu-me vê-la quando tive que ir à lavanderia. ­ Ela suspirou. ─ Mas então o Sr. Carrera
apareceu com algum tipo de colcha que havia feito para ela e, a próxima coisa que soubemos, é que eles
iam se casar.
─ Sim, ele faz colchas. - Ele disse com uma risada suave. ─ O cara parece um mafioso. Ele é grande, rude
e intimida a maioria das pessoas. O hábito de fazer colchas lhe deu muitos aborrecimentos até que ele
começou a dar socos. Agora ninguém ri disso. Ele vence competições internacionais com suas criações
também.
Ela assentiu.
─ Têm uma de suas colchas em nossa biblioteca, em exibição permanente. É uma colcha de gravata
borboleta.* Dizem que ele tem uma igual em um cassino que possui. Puxa, imagine ter um cassino! Esses
são os lugares mais ricos e chamativos da Terra!
Ele não tinha contado a ela que seu hotel em Vegas também era um cassino.
─ Você já esteve em um? ­ Ele perguntou.
─ Uma vez quando eu era pequena, meus pais me levaram para as Bahamas em um cruzeiro, nas férias de
verão. Eu não pude entrar, mas eles me levaram para ver um na Ilha Paraíso. Era fascinante para mim,
desde criança.
Seus dedos se contraíram.
─ Suponha que eu lhe diga que o hotel que possuo é na verdade um cassino... - Disse ele lentamente. ─ e é
em Las Vegas?
Seus olhos se arregalaram.
─ Você é dono de um cassino em Las Vegas? - Ela exclamou. ─ Uau!
Ele riu, surpreso com a fácil aceitação dela.
─ Eu também o administro de forma legal. ­ Acrescentou. ─ Sem fraudes, sem irregularidades, sem
trapaças. Enlouquece os federais, porque eles não conseguem encontrar nada ilegal lá para me acusar.
─ Os federais? ­ Ela perguntou.
Ele respirou fundo.
─ Eu lhe disse, sou um homem mau. - Ele se sentia culpado por isso, sujo. Seus dedos acariciaram os dela
enquanto se aproximavam de Graylings, a enorme mansão onde seu primo vivia com a herdeira do haras de
cavalos de corrida Grayling.
Seus dedos se enroscaram confiantemente nos dele.
─ E eu disse a você que o passado não importa. - Disse ela teimosamente. Seu coração estava disparado. ─
De modo algum. Eu não me importo o quão ruim você tenha sido.
Seu próprio coração parou e acelerou. Seus dentes entrecerraram.
─ Eu não acredito que você é real, Bernie. - Ele sussurrou. ─ Acho que você é um sonho.
Ela corou e sorriu.
─ Obrigada.
Ele olhou para o espelho retrovisor.
─ O que eu não daria por apenas cinco minutos a sós com você agora. - Disse ele tenso. ─ Sem chance. ­
Ele adicionou ao notar o sedan discretamente atrás deles.
Ela se sentia radiante por dentro. Ela queria isso também. Talvez eles pudessem encontrar um lugar
tranquilo para ficarem sozinhos, mesmo que por apenas alguns minutos. Ela queria beijá-lo até que sua
boca doesse.
Ele dirigiu pelo caminho de acesso a garagem, e parou em frente a casa que estava toda iluminada.
Era uma enorme mansão de dois andares com belíssimos trabalhos em marcenaria e uma varanda longa e
ampla. A porta da frente se abriu depois que Mikey a ajudou a sair do carro, e enquanto se aproximavam da
casa de mãos dadas.
.
* Colcha de gravata borboleta
─ Paisano. - Paul o cumprimentou em italiano.
─ Salve! Come stai? - Mikey respondeu e largou a mão de Bernie por tempo suficiente para abraçar seu
primo.
─ Sto bene, grazie, e tu? - Paul respondeu.
─ Va bene. - Mikey respondeu com um sorriso. ─ Cosi, cosi. Non mi posso lamentare.
─ Benissimo!
─ Em inglês, inglês. ­ Sari Fiore os repreendeu. ─ Bernie não entende italiano. ­ Ela riu.
─ Apenas saudações, querida. ­ Mikey disse a ela, e levou a mão dela aos lábios dele. ─ Eu vou lhe ensinar
algumas palavras legais em italiano no minuto em que tivermos algum tempo juntos.
Ela sorriu.
─ OK.
─ Entre. ­ Acrescentou Paul quando dois federais saíram do sedan que estava atrás do carro de Mikey. ─
McLeod, você e o agente Murdock querem café?
─ Eu adoraria. ­ Disse McLeod, e olhou para Murdock. ─ Contanto que aquele cara não se ofereça para
fazê-lo. - Acrescentou ele com firmeza.
Murdock, um homem bem humorado, apenas riu.
─ Eu fico preso em fazer isso em nosso escritório. As pessoas derramam na árvore de ficus.
─ Sim, a pobre coitada treme o tempo todo. - Comentou Paul a caminho da cozinha. ─ Acho que está à
beira de um colapso nervoso. Ei, Mandy, você pode nos fazer um bule de café? - Ele perguntou a mulher
que estava limpando os balcões da cozinha.
─ Claro que eu posso! ­ Ela exclamou, e sorriu. ─ Ei, Mikey! Olá, Bernie. É bom ver vocês dois.
─ É bom ver você também, Mandy. ­ Mikey respondeu, e beijou sua bochecha. ─ Eu sinto falta da sua
comida. Não que a Sra. Johnson não seja boa.
─ Eu sei que ela é. ­ Respondeu Mandy. Ela deu a Mikey e Bernie um sorriso secreto quando os viu de
mãos dadas.
Mikey percebeu, mas não a soltou, mesmo quando eles se sentaram juntos na longa mesa da cozinha
com Paul e os dois federais.
─ Tudo bem. ­ Disse Mikey. ─ O que está acontecendo? Vocês nos seguiram por todo o caminho até aqui.
- Acrescentou ele a McLeod.
─ Cotillo enviou um de seus meninos aqui atrás de você. - McLeod respondeu baixinho, observando o
rosto de Mikey endurecer. ─ Nós o pegamos no tribunal ontem.
Mikey piscou.
─ Como?
─ Temos um software de reconhecimento facial. - Disse McLeod simplesmente. ─ Eu usei. Ele tem um
mandado de busca e apreensão pendente em Jersey. Nossos caras o levaram sob custódia e o estão
entregando às autoridades de lá.
─ US Marshals, isso sim. - Mikey sabia sem ser informado. Ele soltou um suspiro. ─ Acho melhor ser mais
cuidadoso e não levar Bernie a lugares públicos.
Seus dedos, escondidos, se contraíram ao redor dos dele.
─ Não precisa exagerar. - Disse o agente Murdock. ─ Contanto que sejam lugares bem públicos. Drive-ins
não são uma boa ideia. Muitas oportunidades para um trabalho encoberto.
Mikey suspirou.
─ Eu imagino. Maldição.
─ Está tudo bem. ­ Disse Bernie. ─ Podemos sentar na sala da Sra. Johnson a qualquer hora que quisermos
e conversar ou assistir televisão. - Ela o lembrou.
Ele sorriu para ela.
─ Você é uma garota rara, Bernie.
Ela enrubesceu e riu.
─ Nem tanto.
Mikey olhou para os agentes do governo.
─ Então, por que ele estava no tribunal? - Ele perguntou.
─ Achamos que ele estava procurando um contato lá. Mas ele chegou depois do fim do expediente, então
não tivemos a oportunidade de descobrir. Quando o questionamos... - Acrescentou McLeod. ─ ele disse
que estava a caminho de San Antonio e se perdeu. Ele estava apenas procurando informações.
─ Oh, isso parece muito sincero. ­ Mikey disse sarcasticamente.
─ Sim, considerando que ele foi de avião até o aeroporto de San Antonio. - Paul acrescentou secamente.
─ Aqui está o café. ­ Disse Mandy. ─ E que tal um bolo? Eu fiz um de chocolate!
Mikey fez uma careta.
─ Puxa, eu adoraria, mas estou acabando de superar uma enxaqueca muito forte. Chocolate é um dos meus
gatilhos. - Ele a lembrou.
─ Sinto muito. ­ Disse Mandy. E deu um tapinha no ombro dele. ─ Mas que tal uma bela torta de cereja? -
Ela brincou.
Ele deu uma risadinha.
─ Essa eu aceito. Obrigado. Sabe, ela cuidou de mim durante a dor de cabeça, enjôo e tudo. - Acrescentou
ele, olhando para Bernie com evidente afeto. ─ Ela não me deixou, e até chamou um médico para me
atender na pensão. Ela é uma garota e tanto.
O rosto de Bernie corou intensamente porque todo mundo estava olhando para ela.
─ Sim, ela é. - Disse Sari, sorrindo. ─ No trabalho, ela é sempre a primeira a chegar e a última a sair, e não
se importa em ficar se precisamos dela. ­ Ela fez uma careta. ─ Não é a mesma coisa com aquela nova
mulher que o chefe contratou, Jessie. Ela está constantemente atrasada e deixa os clientes desconfortáveis.
Ela assediou um rancheiro local rico e casado, e o chefe lhe deu uma advertência. ­ Ela suspirou. ─ Eu
gostaria que ela fizesse algo pelo qual ele pudesse despedi-la. Ninguém gosta dela.
─ Ela é estranha para uma cidade pequena. - Disse Bernie. ─ É excessivamente sofisticada.
─ Temos algumas pessoas excessivamente sofisticadas, como a esposa do chefe de polícia, mas ela é legal.
- Interrompeu Mandy, colocando uma travessa de bolo fatiado, pratos e talheres na mesa, junto com um
prato contendo uma fatia de torta de cereja para Mikey.
─ Isso parece delicioso. Obrigado, querida. - Ele disse à governanta e sorriu para ela.
─ De nada. Vamos lá, pessoal, comam. Nós não fazemos cerimônia aqui.
─ Não, não fazemos. - Disse Sari, sorrindo calorosamente para o marido.
─ Oh, esse é um bom café. ­ Disse Paul com um longo suspiro. ─ Eu odeio tentar beber no trabalho. -
Acrescentou ele com um olhar penetrante para Murdock.
Murdock fez uma careta.
─ Não é minha culpa. Minha mãe sempre bebia chá. Ela nunca me ensinou a fazer café e eu nunca bebo.
─ Não admira que tenha um gosto tão ruim. - Brincou Paul.
Murdock suspirou.
─ Tem havido ameaças. - Ele disse complacentemente. ─ Na verdade, o irmão do ASAC Jon Blackhawk,
McKuen Kilraven, estava falando abertamente sobre homens em trajes ninja, uma caminhonete e um
grande saco.
─ Você nunca caberia em um saco, Murdock. - Paul riu. ─ Além disso, Kilraven está muito ocupado com
sua nova filha para fazer tal coisa. Agora são dois filhos. Ele e Winnie estão nas nuvens.
─ Ela ainda está trabalhando no atendimento do 911 aqui? - Murdock perguntou.
Paul balançou a cabeça negando.
─ Ela está ocupada com duas crianças no maternal. Kilraven ainda está com a CIA, mas ele faz
principalmente serviço administrativo agora. Chega de ficar pendurado em helicópteros com uma perna
enrolada em uma rede camuflada enquanto atira em agentes inimigos.
─ Você está brincando! - Bernie engasgou.
─ Oh, não, eu não estou. ­ Paul riu. ─ O homem era um maníaco quando estava atrás de um criminoso. Ele
se acalmou um pouco desde que se casou, mas ainda é bom no que faz.
─ Ele foi um patrulheiro aqui, trabalhando para o chefe Grier como disfarce em uma missão federal
secreta, por um tempo. - Disse Bernie enquanto mordiscava um bolo e tomava um gole de café. Ela riu. ─
Corria o boato de que o chefe Grier queria colocá-lo em um barril, levá-lo até a fronteira e jogá-lo no Rio
Grande.* Eles bateram de frente algumas vezes durante a operação.
─ O chefe bate cabeças muito bem. - Garantiu Paul. ─ Ele reduziu a taxa de criminalidade pra valer, desde
que está a cargo da polícia local.
─ Ninguém pensou que ele ficaria aqui quando chegou. - Disse Bernie. ─ Ele era muito inflexível. Então
eles fizeram um filme aqui com a Pirilampo da Geórgia, Tippy Moore, e antes que qualquer um de nós
percebesse, ele estava casado com ela.
─ Ela é linda. ­ Disse Paul. E deslizou a mão sobre a de sua esposa. ─ Tenho preferência por ruivas. -
Acrescentou ele, sorrindo enquanto estudava o cabelo ruivo de Sari preso sobre grandes olhos azuis.
Ela retribuiu o sorriso.
─ Obrigada, querido.
─ Então, o que faremos sobre Cotillo, o julgamento e Tony Garza? - Mikey perguntou enquanto terminava
sua torta e seu café.

* Rio Grande - O rio Grande é um dos maiores rios da América do Norte. Nasce nas montanhas San Juan, no estado americano do Colorado, banha o estado do
Novo México e, a partir de El Paso, no Texas, serve de fronteira natural entre os Estados Unidos e o México, onde é conhecido como rio Bravo del Norte.
─ Uma coisa de cada vez. - Disse Paul. ─ Temos agentes seguindo Cotillo e seus homens, com a
cooperação entre agências. Cotillo matou muitas pessoas tentando formar novas alianças e assumir o
controle do território. Ele fez inimigos.
─ As mortes vão colocá-lo em apuros. - Disse Mikey. ─ Os grandes não gostam disso. Convida os federais
a entrarem. Eles querem problemas resolvidos com diálogo, não com armas automáticas.
─ Bem, eles matam pessoas que os delatam. - Respondeu Paul solenemente.
Mikey acenou com a cabeça.
─ Omertà. ­ Ele concordou. ─ Lealdade é a própria vida na máfia. O pecado número um é vender seu
pessoal aos federais. Ninguém gosta de um traidor. Eles são eliminados e, às vezes, toda a família também,
como um aviso. - Ele cerrou os dentes quando viu o rosto de seu primo. Isso havia acontecido com Paul.
Sua primeira família foi morta a tiros quando Paul prendeu um dos chefes menores e encerrou uma
operação ilegal lucrativa. O homem se vingou da pior maneira possível.
─ Me desculpe. - Disse Mikey ao primo. ─ Lamento de verdade. Eu nunca deveria ter tocado nisso.
O rosto de Paul relaxou.
─ Foi há muito tempo. Ainda dói. ­ Ele disse, e seus olhos estavam cheios de memórias horríveis.
─ Mesmo assim, sinto muito.
Paul sorriu.
─ Somos uma família. Não se preocupe.
Mikey suspirou.
─ Você é a única família que tenho. Bem, com exceção da família de Tony. - Ele olhou para os federais. ─
Espero que vocês entendam que só estou cooperando porque Tony está sendo falsamente acusado. Eu não
estou vendendo meu pessoal. De maneira alguma.
─ Nós sabemos disso, Mikey. ­ Paul disse calmamente. ─ Ninguém está pedindo para você delatar seus
colegas.
Mikey tomou um gole de café, sem olhar para eles.
─ Eu fiz um juramento de sangue. - Ele disse muito baixinho. ─ Fiz uma promessa solene. Eu jurei, é como
se você fizesse um voto na igreja. Não o romperei. Nem se eles me prenderem para sempre.
─ Só prendemos as pessoas quando podemos provar que elas infringiram a lei. - Garantiu Paul. Ele se
aproximou. ─ Portanto, certifique-se de que não possamos provar nada contra você. - Ele riu.
Mikey riu.
─ Eu não faço mais essas coisas. Eu tenho um cassino legalizado e o administro como um negócio
legítimo.
─ Eu sei disso. - Respondeu Paul. ─ Você não é tão ruim quanto parece, Mikey. Você salvou a vida de
Merrie. - Acrescentou ele, referindo-se à irmã mais nova de Sari. Ambas as mulheres foram alvos de um
inimigo de seu falecido pai, vítimas de assassinos profissionais. A contribuição de Mikey ajudou a salvar as
duas. ─ Na verdade, você ajudou a salvar Sari também.
─ Eu apenas fiz umas poucas ligações. - Respondeu Mikey.
─ Bem, essas poucas ligações nos ajudaram a pegar todos os criminosos. - Respondeu Paul.
Mikey sorriu.
─ Gosto da bonequinha. ­ Disse ele, referindo-se a Merrie. ─ Como ela está?
─ Ela e Ren estão esperando um bebê de novo. - Sari disse com um largo sorriso. ─ Ela está nas nuvens.
─ Ela ainda está pintando? - Mikey perguntou.
─ Ai sim. Ela nunca desiste desse hobby. - Sari disse a ele.
Ele olhou para Bernie avidamente.
─ Eu adoraria que ela fizesse um retrato de Bernie para mim. - Disse ele.
─ Você sabe que ela ficaria feliz! - Sari disse. Ela olhou para Bernie, que estava corada e radiante. ─
Bernie, você tem algumas fotos suas que possamos enviar a ela?
Bernie fez uma careta.
─ Bem, não. Eu não tenho ninguém para tirar fotos minhas...
Enquanto ela falava, Mikey pegou seu caro celular e tirou fotos dela de todos os ângulos. Ele as
mostrou a ela em seu aplicativo de fotos.
─ Você é muito bom nisso. ­ Disse ela, surpresa ao se olhar nas fotos. Ela parecia feliz, misteriosa, quase
bonita. Ela riu. ─ Estas nem mesmo se parecem comigo!
─ Sim parecem. Você não ri muito. - Respondeu ele. Seu rosto se contraiu. ─Adoro quando você ri,
Bernie. - Acrescentou. ─ Você fica linda quando está feliz.
Ela sentiu seu coração quase explodir. Ele a achava linda. E queria uma pintura dela. Ela poderia ter
flutuado até o teto, de tão feliz.
─ Obrigada. ­ Ela sussurrou.
Ele torceu o nariz para ela e sorriu.
─ Teremos que esperar até que o filme que estávamos assistindo saia em pay-per-view para podermos
assisti-lo juntos.
─ Eu não tenho pay-per-view. - Ela disse taciturnamente.
─ Nós temos. - Disse Sari, e sorriu. ─ Você pode assistir na biblioteca. Na verdade, já o temos. O drive-in
está anunciando como estreia, mas não é. Você não gostaria de ver o resto?
Mikey franziu os lábios.
─ Eu poderia! É um ótimo filme.
─ É, mas eu preciso de lenços de papel. - Confessou Bernie. ─ Um crítico disse que o filme era
emocionante.
─ Você pode ter lenços e mais café. ­ Disse Sari. ─ Mandy, você pode fazer mais café e encontrar uma
caixa de lenços para Bernie?
─ Claro! - Mandy disse, e foi buscar os dois.

***

Os federais foram embora pouco depois. Mikey levou Bernie para o escritório luxuoso com seu sofá
de veludo, cadeiras e o caro centro de mídia, com uma televisão de 55 polegadas.
─ Uau. ­ Disse Bernie enquanto Mikey fechava a porta atrás deles. ─ Isso é incrível.
─ Eles o redecoraram depois que o velho Grayling morreu. - Disse ele enquanto ligava a televisão e
preparava o filme. ─ Na verdade, eles reformaram a casa inteira. Tem algumas memórias ruins para Sari e
a irmã.
─ Lembro-me de ouvir sobre como o pai delas as tratava mal. - Disse Bernie. ─ Ele deve ter sido um pai
horrível.
─ Pelo que ouvi, era. ­ Ele fez uma careta. ─ O meu também foi muito ruim.
─ Meu pai era um homem doce e gentil. - Disse Bernie com tristeza. ─ Morreu muito jovem. Ele viveu
muitos traumas. Eu acho que isso afeta as pessoas, sabe? Afeta a saúde delas.
─ Talvez sim.
Ele ligou o filme e trouxe o controle de volta enquanto se jogava no sofá macio ao lado de Bernie.
Ele colocou o controle na mesa de centro e se virou para Bernie.
─ Puxa, estamos sozinhos. ­ Disse ele com um sorriso. ─ E não há carros ao nosso redor.
─ Isso não é fascinante? - Ela riu.
─ Oh, pode apostar. ­ Ele a puxou para seu colo, deitando a cabeça dela em seu ombro. ─ E tenho algumas
ideias muito interessantes sobre o que poderíamos fazer enquanto o filme está começando.
Os braços dela envolveram seu pescoço e seus olhos se fixaram em sua boca larga, sensual e
cinzelada.
─ Você tem? ­ Ela sussurrou.
Ele a puxou para perto e abaixou a cabeça, sorrindo.
─ Ai sim. Muito, muito interessantes.
Enquanto ele falava, sua boca cobriu lentamente a dela. Ela suspirou e se aconchegou contra seu
corpo grande e musculoso, deixando-o segurar seu peso enquanto a beijava.
─ Eu poderia me acostumar com isso. - Ele sussurrou.
Ela sorriu sob seus lábios.
─ Eu também.
Ele mordiscou o lábio superior dela e traçou por baixo dele apenas com a ponta da língua, adorando a
maneira como ela reagia a ele. Ela não era tímida ou reticente. Ela correspondeu. E se aqueles suspiros
longos e expressivos fossem qualquer indicação, ela estava adorando o que ele estava fazendo com ela.
Ele a mudou de posição e seus dedos correram suavemente para cima e para baixo em suas costelas,
provocando, excitando-a. Sua boca tornou-se lentamente insistente. Ela se contorceu contra ele, ávida e
ardendo com desejos novos.
Sua grande mão deslizou sob o suéter que ela estava usando e brincou em torno de seu seio enquanto
ele a beijava lentamente.
Ela gemeu e se virou para aquela mão enlouquecedora cujo toque a estava deixando louca por mais.
Ele sorriu de encontro aos lábios macios porque sabia disso. Seu polegar lentamente passou por baixo
do bojo do sutiã rendado e alcançou seu seio firme. Ela ofegou sob os lábios dele, mas não tentou impedi-
lo. Ele adorou isso. Sua boca se abriu sobre a dela, aprofundando o beijo, distraindo-a enquanto sua mão ia
para os ganchos que seguravam o sutiã no lugar e os abria. A mão dele, quente e forte, moveu-se
lentamente de volta, provocando logo abaixo do seio. Ele pode ouvir a respiração dela mudar, sentiu a
excitação dela aumentar, conforme a dele aumentava.
─ Oh, bebê. ­ Ele murmurou enquanto sua boca tomava a dela e sua grande mão abarcava terna e
totalmente o seio dela, sua palma acariciava suavemente a pequena protuberância que encontrou.
Ela prendeu a respiração e gemeu.
─ Isso é doce. ­ Ele grunhiu. ─ Oh, Deus, é doce como algodão doce...
Ele se moveu, virando-a para que ficasse de corpo inteiro debaixo dele, no sofá de veludo. Ele estava
de lado, seu cotovelo suportando seu peso enquanto sua mão tirava o sutiã do caminho para que ele
pudesse tocá-la com mais facilidade.
Ela arqueou o corpo, indefesa, enquanto reagia ao toque íntimo da mão dele. Ela não conseguia nem
fingir que não queria. Estava dolorida, latejando com um desejo que nunca havia sentido em sua vida. Um
leve gemido escapou da boca que ele estava devorando.
─ Sim. ­ Ele sussurrou com voz rouca. ─ Não é o suficiente, é? Tente não gritar. - Ele acrescentou
enquanto deslizava o suéter e o sutiã sob o queixo dela. ─ Eles podem nos ouvir...
O que ele estava dizendo não fazia sentido até que ele abaixou a boca, e ela o sentiu abocanhar todo o
seu seio, levando-o lentamente para a escuridão úmida e quente de sua boca, sua língua deslizando sobre o
mamilo e fazendo-a latejar da cabeça aos pés.
Ela teve que abafar um grito. E gemeu sob o toque experiente de sua boca, estremecendo, arqueando
enquanto implorava por algo mais, algo para aliviar a dor que lentamente a consumia.
Ele começou a sugá-la, mais excitado do que se lembrava de ter estado com uma mulher. Ela gemeu
como se ele a estivesse machucando, mas ele sabia que não estava. Sua perna longa e poderosa se inseriu
entre as dela por sobre a calça que ela usava e ele começou a se mover sensualmente, tornando a excitação
ainda pior.
Ele se colocou sobre ela completamente, hesitando apenas o tempo suficiente para abrir os botões de
sua camisa e afastá-la dos pelos grossos que cobriam seu peito musculoso. Quando ele desceu sobre ela,
era pele nua contra pele nua, algo que ela nunca havia sentido.
Os braços dela foram sob a camisa, ao redor dele, as mãos cravando em suas costas nuas. Estranho
como parecia ali, ela pensou vagamente, porque definitivamente havia uma depressão ali, em forma de
moeda. Mas ele estava se movendo sobre ela e ela sentiu o poder e o calor dele, o repentino entumecer do
seu corpo que lhe disse claramente o quão pronto ele estava.
Sua boca se apertou na dela. Ele gemeu enquanto empurrava entre suas longas pernas e exatamente
contra o seu âmago, naquela bifurcação macia do corpo dela. Ela se levantou, estremecendo, e ele se
moveu bruscamente sobre ela, sentindo a paixão queimar-lo vivo.
Mas sua mente congelou a paixão quando se deu conta do quão inocente ela era. Isso estava errado.
Ele poderia viver com isso, poderia amá-la, mas isso a envergonharia, a faria se sentir suja. Ele não podia
fazer isso com ela. Não podia, mesmo que fosse uma agonia parar.
Ele rolou, estremecendo, e a puxou com força contra seu lado.
─ Não se mova. ­ Ele sussurrou instavelmente. ─ Apenas fique quieta. Por favor, querida. Ajude-me. Dói
pra caramba!
Ela conseguia apenas isso. Ela estava pegando fogo e ele parou. Por que ele parou? Ela o queria tão
desesperadamente, tão desesperadamente quanto ele a queria.
Mas a sanidade voltou lentamente. Era isso que ela realmente queria, fazer sexo com um homem em
um sofá em uma sala com uma porta destrancada, um homem com quem ela não tinha laços reais, só
físicos? Ela era religiosa. E não acreditava em sexo antes do casamento. Mas ela queria Mikey.
Ela o queria tanto que teria cedido bem aqui, sem um único protesto. Na verdade, ela tinha feito isso.
Mas ele parou. Ela podia sentir o quão difícil tinha sido para ele fazer isso. O corpo dele tremia com
necessidades não satisfeitas. Agora ela se sentia culpada por ter deixado isso ir tão longe. Como teria se
sentido depois disso? Ela nem sabia como se proteger. E se ela tivesse ficado grávida? Como viveria com
isso em uma pequena cidade onde todos a conheciam e sabiam que o único homem com quem tinha saído
nos últimos anos era aquele deitado tão rigidamente ao lado dela agora? Não seria segredo quem era o pai.
Mikey tinha um cassino em Las Vegas. Ele era um homem da cidade grande. Era altamente improvável
que abandonasse tudo isso para viver em uma pequena cidade como Jacobsville com uma mulher que
poderia acabar inválida em poucos anos.
Além disso, ele tinha um passado, e homens maus estavam atrás dele por causa de um homem com
quem ele trabalhava, que estava se escondendo dos assassinos. Era um momento terrível para começar um
caso. Na verdade, ela devia admitir que não era o tipo de mulher que poderia ter um caso. Simplesmente
não era típico dela, apesar de seu desejo dolorido por Mikey e do veemente afeto que sentia por ele.
Ele estava respirando mais fácil agora. Ele se espreguiçou e riu baixinho quando sentiu os seios dela
contra seu peito nu.
─ Bem, isso foi por pouco. - Ele sussurrou enquanto se virava, virava-a de costas e olhava para seus seios
rosados e firmes com suas duras pontas escuras. Ele os tocou muito suavemente. ─ Eu não queria parar.
─ Estamos em um sofá. ­ Ela começou, corando.
─ Querida, tudo que eu tinha que fazer era abaixar suas calças e entrar em você. - Ele sussurrou
descaradamente, sorrindo para a expressão dela. ─ Não teria levado três minutos, de tão excitado que eu
estou. Teria sido fácil assim. Você não percebeu, não é?
Ela prendeu a respiração.
─ Sinceramente não. ─ Ela confessou. ─ Eu nunca...
─ Percebi. ­ Ele se curvou e roçou a boca sobre seus seios nus. ─ Deus, mulher, você é tão bonita. - Ele
sussurrou. ─ Vou sonhar com você todas as noites da minha vida depois disso!
─ Você vai? - Ela pensou o quão confortável estava com ele, quão facilmente eles deslizaram para a
intimidade. Parecia tão certo. Ela nem ficou envergonhada.
Ele deu uma risadinha.
─ Sim, eu vou. ­ Ele ergueu a cabeça e respirou fundo. ─ Quando tudo isso acabar, você e eu vamos sentar
e ter uma conversa muito séria. - Ele afastou o cabelo úmido e desgrenhado dela. ─ Muito séria.
Ela sorriu lentamente, seu coração acelerando.
─ OK.
Ele riu.
─ Tudo é tão fácil com você, Bernie. - Disse ele, tocando sua bochecha suavemente. ─ Você nunca causa
problemas, não é?
─ Não, não muito.
─ Eu adoro isso em você. - Disse ele. ─ Eu me sinto à vontade com você. Seguro.
─ Eu também me sinto assim com você.
Sua grande mão acariciou ternamente seus seios.
─ Acho que deveríamos recolocar nossas roupas e assistir o filme. - Disse ele com um suspiro.
Ela assentiu.
Ele a puxou para o lado dele, mas antes que ela pudesse puxar o suéter e o sutiã para o lugar, ele a
colocou em seu colo e a puxou para dentro de sua camisa, estremecendo ao sentir a pele nua dela esfregar
suavemente contra a dele. Seus braços se contraíram avidamente e ele a segurou, embalando-a, em um
silêncio devastador de paixão.
─ Você faria isso comigo, não faria? - Ele sussurrou em seu ouvido.
─ Sim. ­ Ela respondeu com uma vozinha rouca e trêmula.
─ Eu nem tenho nada para usar. ­ Confessou rispidamente. Ele a segurou ainda mais perto. ─ Você sabe o
mais interessante? Eu acho que não me importaria.
─ Não?
Sua mão foi para a base da coluna dela, e a roçou contra sua dureza, segurando-a ali firmemente.
─ Eu gosto de bebês. ­ Ele sussurrou.
Ela estremeceu.
─ Oh, Mikey. - Ela gemeu, e seus braços se apertaram.
Ele estremeceu também.
─ Oh, Deus, eu tenho que me levantar e trancar a porta. ­ Ele gemeu. ─ No sofá, no maldito tapete, contra
uma parede, eu preciso ter você, agora!
─ Sim. ­ Ela gemeu, se aproximando. ─ Sim!
Ele a afastou dele, seus olhos brilhando enquanto olhava para seus seios.
─ Vou trancar a porta... ­ Disse ele.
Só então, passos soaram no piso de madeira do corredor e houve uma batida repentina na porta.
─ Como vai o filme? ­ Sari perguntou.
Mikey e Bernie se entreolharam em um momento de vergonha e choque enquanto esperavam a
maçaneta girar...

CAPÍTULO NOVE
─ Só um segundo! ­ Mikey falou com uma voz rouca e tensa.
Houve uma risada abafada vinda da porta.
─ Mandy fez mais café. Venha quando seu filme terminar.
─ Nós vamos. Obrigado! ­ Ele respondeu.
Os passos se retiraram.
Ele soltou a respiração que estava prendendo. Bernie sentou-se ao lado dele como se estivesse
atordoada, a blusa ainda levantada em volta do pescoço, os seios pressionados com força nos pelos grossos
do peito largo de Mikey. Ele olhou para ela com admiração.
─ Eu imagino que teríamos sido descobertos se Sari tivesse aberto aquela porta. - Ele riu.
Ela sorriu sonhadora para ele.
─ Eu imagino que sim.
Ele respirou fundo.
─ Acho que é melhor pararmos enquanto podemos. - Ele recuou e olhou para seus seios nus com fascínio.
─ Ao longo dos anos, tenho visto muitas mulheres sem roupa. - Murmurou. ─ Mas nenhuma delas era tão
bonita quanto você, querida. - Ele acariciou seu seio macio, firme e se inclinou, colocando seus lábios
reverentemente nele. ─ Viverei com isso minha vida inteira.
Seu coração deu um salto. Ela apenas o olhou com tudo o que sentia por ele em seus olhos verdes.
Ele retesou a mandíbula. Ainda a desejava, agora mais do que nunca. Mas conseguiu se controlar enquanto
abaixava o sutiã e o fechava, então puxou o suéter até a cintura dela.
Ela sorriu e fechou os botões da camisa dele. Ele parecia amarrotado e seu cabelo estava despenteado
pelas suas mãos. Ela adorava a aparência dele. Ele estava um pouco corado também, e seus olhos escuros
dançavam ao encontrar os dela.
─ Você gostaria de Vegas. ­ Disse ele. ─ Para visitar, de qualquer maneira, é um lugar emocionante. Muita
música e luzes de néon. Um oásis no deserto.
Ela colocou as mãos no peito dele, por cima da camisa abotoada.
─ Eu não acho que você gostaria de uma pequena cidade do Texas em que todo o comércio fecha ao
anoitecer. - Disse ela sem encontrar seus olhos.
─ Eu gostaria de qualquer lugar que você chamasse de casa, Bernie. - Disse ele solenemente. ─ Viemos de
lugares diferentes. Mas isso não significa que nós dois não possamos nos adaptar a outra coisa, mesmo que
seja apenas por um tempo. - Ele se curvou e a beijou muito suavemente. ─ Eu não queria parar. Você sobe
a minha cabeça como uísque. Foi como navegar nas nuvens.
Ela riu e se aproximou.
─ Para mim também.
Seus braços se contraíram, abraçando-a e embalando-a.
─ É melhor terminarmos de assistir o filme. Pode haver um interrogatório depois.
Ela riu de puro deleite.
─ OK.
Ele a puxou suavemente para o lado dele e apertou a mão dela com força. Eles ficaram olhando a tela
até os créditos aparecerem. Mikey desligou o aparelho e levou Bernie junto com ele porta afora para a
cozinha.
Paul e Sari ergueram os olhos quando eles entraram na sala. Ambos estavam sorrindo.
─ Sim, nós ficamos um pouco amigáveis. - Mikey disse defensivamente. ─ Eu, principalmente.
─ Eu também. ­ Disse ela, e sorriu para ele.
─ Você não precisa explicar nada para nós. - Paul riu. ─ Estamos casados há apenas três anos.
─ Ele quer dizer que ainda estamos em lua de mel. - Provocou Sari. ─ Então, que tal aquele café?
─ Parece ótimo. ­ Disse Bernie, e estrelas brilhavam em seus olhos, quando ela se virou para Mikey, que
parecia muito satisfeito.

***
Essa expressão acompanhou Bernie para o trabalho na segunda-feira seguinte, onde Jessie a viu e se
tornou sarcástica e ofensiva.
─ Todos nós ouvimos sobre você e Mikey indo para a casa do primo dele. Certa mansão - Jessie falou
sarcasticamente, olhando para Sari enquanto ela parava na mesa de Bernie. ─ Você está de olho naquele
belo peixe rico, não está? Mas você acha que uma caipira como você poderia conseguir um homem tão
sofisticado?
O rosto de Bernie ficou vermelho, mas ela não recuou.
─ A origem não faz muita diferença quando as pessoas têm sentimentos umas pelas outras. - Disse ela.
─ Como se ele tivesse sentimentos por você. - Disse Jessie com uma risada. ─ Eu não o conheço
pessoalmente, mas eu sei sobre ele. Ele teve mulheres que eram estrelas de cinema, filhas de milionários e
socialites. É improvável que ele fique com uma mulher que estará em uma cadeira de rodas daqui a alguns
anos.
─ Isso é o suficiente. ­ Disse Sari friamente, levantando-se. ─ Mais uma palavra e o Sr. Kemp vai receber
uma reclamação.
Jessie sabia quando parar. Ela encolheu os ombros.
─ Apenas afirmando fatos, isso é tudo.
─ Ooh, alguém está com tanto ciúme que não está aguentando. - Olivia falou lentamente com um olhar
divertido para Jessie. ─ Qual é o problema, querida, ele deu uma cortada em você no tribunal e você está se
vingando?
Jessie realmente corou.
─ Ele não fez isso. ­ Ela rosnou. ─ Eu poderia tê-lo se quisesse.
─ Fique à vontade e tente. - Provocou Olivia. ─ Ouvimos dizer que você o deixou enojado.
Jessie estava quase vibrando agora. Ela começou a falar assim que a porta do Sr. Kemp se abriu e ele
saiu. Ela foi rapidamente para sua mesa com um sorriso forçado para o chefe e fingiu estar trabalhando.
Kemp, que não era tolo, olhou do rosto corado de Bernie para o rosto zangado de Sari e tirou uma
conclusão. Ele não disse uma palavra, mas o olhar que deu a uma Jessie alheia não foi o que a teria
encorajado sobre sua longevidade neste escritório.
Glory Ramirez entrou pela porta, um pouco cansada.
─ O tribunal está em recesso até amanhã. ­ Disse ela ao Sr. Kemp. Glory era assistente da promotoria,
como Sari.
─ Parece que o júri vai condenar? ­ Perguntou Sari.
Glory fez uma careta.
─ Quem sabe o que um júri fará? - Ela perguntou com um suspiro. ─ Espero ser boa o suficiente para
prender esse cara. Ele atraiu uma garota de quatorze anos com promessas de amor verdadeiro e ela se
apaixonou por ele. Ele tem trinta e cinco anos. - Acrescentou ela friamente.
─ Que sujeira. - Disse Sari.
─ É pior do que isso. Ela está grávida. - Disse Glory.
─ Oh, isso não é problema. ­ Jessie riu. ─ Ela pode simplesmente ir a uma clínica e tirar.
─ Ela e a família são profundamente religiosas. - Respondeu Glory. ─ Nem todo mundo pensa em aborto
como controle de natalidade, Jessie.
Havia um tom cortante em sua voz. As outras mulheres sabiam por quê. Glory perdeu seu primeiro
filho depois de uma briga horrível com seu marido antes da primeira vez que se casaram, antes de
realmente saberem a verdade um sobre o outro. Levou dois anos para ela engravidar novamente. Ela e
Rodrigo tinham um filho, um menino, e a saúde precária de Glory tornava improvável outro. Sua pressão
arterial estava extremamente alta e ela já havia feito uma angioplastia para uma artéria bloqueada que
causou um ataque cardíaco leve.
─ Vocês levam tudo muito a sério. - Jessie murmurou.
─ Bebês são um negócio sério. ­ Interrompeu o Sr. Kemp. Todos, exceto Jessie, sabiam que ele tinha se
apaixonado e ficado noivo, e sua noiva havia morrido depois que uma mulher local misturou uma droga em
sua bebida. A noiva dele estava grávida na época e a criança morreu com ela.
─ Os bebês são um incômodo. Eles choram e deixam todo mundo chateado, e você nunca mais recupera a
cintura. Eu nunca vou querer um. - Disse Jessie.
─ Eu quero. ­ Disse Bernie em um suspiro longo e feliz.
─ Boa sorte com isso, em sua condição física. - Jessie disse sarcasticamente.
─ Se eu pude ter um filho, com minha pressão arterial, não há razão para Bernie não ter um com suas
limitações.
Bernie sorriu para ela.
─ Obrigada.
─ Não é um risco que eu correria. - Jessie murmurou.
─ Obrigado por sua opinião, Srta. Tennison, e que tal aquela ligação que eu pedi para você fazer meia hora
atrás para o promotor no Condado de Bexar sobre o caso Ramsey? - Kemp perguntou rapidamente.
Jessie ficou nervosa.
─ Oh. Desculpe. Eu esqueci. Vou fazê-la agora mesmo, Sr. Kemp!
Kemp lançou-lhe um olhar zangado, sorriu para as outras mulheres e voltou ao escritório.

***
Bernie foi almoçar no Café da Bárbara e lá estava Mikey, segurando uma mesa para eles. Ele se
levantou quando ela se juntou a ele, depois que ela fez seu pedido e pagou por ele.
─ Eu poderia ter pago a conta, querida. - Disse ele.
─ Eu posso pagar minhas próprias coisas. - Ela brincou. ─ Mas obrigado pela intenção.
Sua mão deslizou sobre a dela e a segurou com força.
─ Você não parece tão bem. Manhã ruim?
─ Mais ou menos. ­ Disse ela. ─ Mas já está melhorando. ­ Acrescentou ela com um olhar amoroso para
seu rosto bonito.
Ele sorriu.
─ Assim é melhor. Eu gosto quando você está feliz.
─ Eu geralmente estou. - Ela não mencionou o confronto com Jessie ou as palavras duras da mulher. Ela as
empurrou para o fundo de sua mente enquanto ela e Mikey comiam pedaços de rosbife com purê de
batatas, molho e feijão verde caseiro.
─ Isso é tão bom. ­ Ela suspirou. ─ Eu adoro cozinhar, mas é difícil para mim ficar em pé por longos
períodos de tempo. Mesmo assim, costumava fazer isso quando morava em casa com meus pais.
─ Íamos conversar ontem à noite. - Ele murmurou.
Ela enrubesceu.
Ele riu sensualmente.
─ Nós não conversamos muito, no entanto, não é, bebê? - Ele sussurrou. ─ É difícil pensar em coisas assim
quando estou com você. Eu simplesmente enlouqueço quando a toco.
─ Eu também enlouqueço. - Ela sussurrou em resposta, e seu rosto ficou ainda mais vermelho quando
olhou para os lábios dele e se lembrou da devastação que podiam causar ao sugar seu seio. Ela prendeu a
respiração apenas com a lembrança de como os sentiu.
─ Oh, isso não vai funcionar. - Disse Mikey, e se mexeu desconfortavelmente. ─ É melhor não pensarmos
muito sobre a noite passada. Especialmente não em um lugar cheio de pessoas.
Ela riu suavemente.
Ele riu também.
─ Que doces lembranças estamos fazendo, querida. - Ele murmurou enquanto se forçava a voltar para seu
rosbife. ─ E faremos muito mais, eu prometo a você.
─ Você ainda tem sua sombra. - Ela respondeu baixinho, olhando pela janela da frente para o sedan preto
estacionado lá.
─ Eles estão sendo cuidadosos. Afinal, um cara quase conseguiu passar por eles. ­ Ele fez uma careta. ─
isso me faz desejar ter feito menos inimigos ao longo do caminho. Esta não é a primeira vez que alguém
vem atrás de mim por causa de território.
Ela estava olhando para ele com curiosidade aberta.
─ O que foi? ­ Ele perguntou.
─ Nada de mais. Apenas... bem, há uma depressão em forma de moeda em suas costas. - Ela começou. ─
Eu senti isso ontem à noite.
─ Percebeu, não é? ­ Ele não se ofendeu. Apenas sorriu. ─ Sim, levei um tiro ali quando estava no Oriente
Médio. Perfurou meu pulmão e quase me matou, mas sobrevivi.
─ Estou tão feliz por você ter sobrevivido. ­ Disse ela timidamente, e estava indescritivelmente grata por
ter acontecido em uma zona de combate e não como resultado de um conflito entre gangsters. Ele falava
daquele mundo como se o conhecesse muito bem. Certamente o conhecia, se estava envolvido com um
chefe da Máfia a quem estava protegendo. Isso a deixou um pouco preocupada. Ela não sabia muito sobre o
crime organizado. O que sabia era baseado no que viu nos filmes e leu nos livros e provavelmente não era
um espelho da coisa real. Aquela palavra que Mikey usou, omertà, ela a viu impressa em algum lugar. E
não conseguia se lembrar de onde. Ia fazer uma pesquisa no Google quando chegasse em casa naquela
noite, só para ver se conseguia encontrar a conexão. Não havia necessidade de contar a Mikey. Ela olhou
para ele com olhos cobiçosos que ela não conseguiu evitar. Ele estava se tornando a coisa mais importante
em sua vida.
Mas e se Jessie estivesse certa? Mikey era rico e sofisticado. Sim, ele gostava de sair com ela e beijá-
la, mas isso não era um futuro. Ela sabia que alguns gangsters eram casados, mas a maioria deles parecia
apenas viver juntos. Ou assim ela pensava. E ela não podia fazer isso.
Se Mikey não se sentisse da mesma maneira que ela isso quebraria seu coração. Se ele estivesse
apenas brincando, ela iria morrer.
─ Ei, o que há de errado? ­ Ele perguntou. ─ Você parece triste.
Ela forçou um sorriso.
─ Foi uma longa manhã, só isso. ­ Disse ela alegremente. ─ Muita gente infringindo a lei. Claro, isso não é
uma coisa ruim para nós.
─ De modo algum. ­ Ele olhou para cima e seus olhos escuros faiscaram.
Bernie seguiu seu olhar e lá estava Jessie, pagando uma salada e café no caixa. Estava em uma
bandeja, o que significava que ela não iria embora.
─ A peste bubônica chegou. ­ Murmurou Mikey.
─ Bem, olá Bernie. Eu não sabia que você vinha almoçar aqui. E Mikey, como vai você? - Ela acrescentou,
quase ronronando.
Ele olhou para ela com olhos frios e levou um minuto para responder.
─ Estamos tendo uma conversa particular, se você não se importa.
Jessie deu de ombros.
─ Bem, me desculpe. - Ela falou lentamente. E foi até uma mesa próxima, na janela, e colocou a bandeja
sobre a mesa.
Bernie estava desanimada. Ela esperava ter um almoço tranquilo com Mikey, mas Jessie já estava
olhando para eles. Tramando alguma coisa. Bernie tinha certeza de que a mulher estava procurando
maneiras de separá-la de Mikey, porque Mikey era rico e Jessie o queria.
─ Não fique assim. ­ Disse Mikey, sorrindo para ela. ─ Ela está tentando chatear você. Não a deixe fazer
isso.
─ Ela realmente gosta de você. - Disse Bernie, quase engasgando com as palavras.
─ Não é mútuo.
A maneira como ele olhou para ela enviou todos os seus medos voando para longe. Ela sorriu
lentamente. Ele também. O resto do mundo desapareceu até que restassem apenas os dois.
Eles nem olharam na direção de Jessie. Ela olhou para os dois o tempo todo. E não parou nem mesmo
quando eles estavam saindo do café.

***

─ Se olhar pudesse matar. ­ Disse Bernie com um suspiro profundo quando voltaram para a rua.
─ Por que Kemp não a despede? - Ele perguntou abruptamente.
─ Eu acho que ele gostaria, mas tem que ter uma razão que será mantida em um tribunal.
─ Advogados. - Ele murmurou.
Ela riu.
─ Você parece um dos homens que processamos por roubo. Ele tinha certeza de que todos os advogados
estavam destinados a arder no fogo do inferno.
Sua mão agarrou a dela.
─ Eu tenho tido minha parcela com os promotores. - Ele murmurou enquanto caminhavam em direção ao
escritório dela.
─ Você tem? ­ Ela perguntou, curiosa.
Ele olhou para ela solenemente.
─ Nós realmente vamos ter que ter uma conversa. - Ele disse a ela. ─ Há coisas sobre mim que você
precisa saber.
Ela deu um longo suspiro.
─ Há coisas sobre mim que você precisa saber também.
─ Venha para o almoço no domingo. - Ele convidou. - Paulie disse que Sari iria convidar você, de qualquer
maneira. Podemos caminhar pela floresta e conversar sem que as pessoas nos observem o tempo todo.
─ Você estaria seguro se fizéssemos isso? - Ela se preocupou. ─ Quero dizer, os atiradores adoram lugares
desertos, não é?
Ele deu uma risadinha.
─ Aquele que está me observando com certeza sim. - Ressaltou.
─ Oh! Eu esqueci.
Ele sorriu.
─ Estou feliz. Eu não quero você preocupada. Eu posso cuidar de mim mesmo, querida. Já estive em
situações piores do que essa. Nós vamos conversar sobre isso, domingo. - Ele fez uma pausa e se voltou
para ela. ─ Você acha que pode viver com meu passado. Eu não tenho certeza que você possa. Mas vou
deixar a decisão nas suas mãos.
─ Você se subestima. - Ela disse, procurando seus olhos escuros. ─ Eu disse que não importaria. É
verdade.
Ele sorriu e tocou sua bochecha suavemente.
─ Você acha que não. ­ Disse ele com tristeza. ─ Não é verdade.
─ Você pode me dizer no domingo.
─ E aí estão vocês de novo. - Jessie disse atrás deles.
─ Sim. ­ Disse Mikey, olhando para ela.
Ela fez uma careta e passou por eles para o escritório, batendo a porta atrás dela.
─ Má perdedora. - Ele murmurou atrás dela.
Bernie sorriu. Sentiu-se bem ao saber que Mikey a preferia no lugar da bela mulher que acabou de
passar por eles. Ela se sentiu valorizada.
─ Idiota. ­ Ele sussurrou. ─ Você vale dez de uma mulher assim. - Sua cabeça virou em direção ao
escritório. ─ Ela é de qualquer pessoa. Ela vai se divertir com um homem pelo que ele tem, nada mais.
Mulheres assim buscam muito dinheiro, não amor.
─ Não me importo com dinheiro. ­ Disse Bernie.
─ Eu sei disso. É uma das suas melhores características, e você tem muitas delas.
─ Eu? ­ Ela riu. ─ Eu sou apenas comum. ­ Ela respirou fundo. ─ Sabe, tenho crises no inverno. - Ela
começou. ─ Eu passo muito tempo na cama...
Ele colocou o dedo indicador sobre os lábios dela.
─ Isso também não importa. Você cuidou de mim durante uma das piores dores de cabeça que já tive. Se
você adoecer, eu cuidarei de você. - Acrescentou ele com voz rouca.
Lágrimas arderam em seus olhos. Ela os baixou para o peito largo dele.
─ Não chore. ­ Ele sussurrou. ─ As pessoas vão pensar que estou sendo mau com você.
Ela riu.
─ Desculpe. É que eu nunca tive realmente ninguém cuidando de mim, não desde que meu pai morreu.
─ Não quero ser seu pai. ­ Ressaltou. E franziu a testa. ─ Sabe, Bernie, sou muito mais velho que você.
─ Idiota. ­ Ela murmurou, levantando os olhos para o rosto dele. ─ Você nunca ficará velho. Não para
mim.
A respiração dele ficou presa na garganta. Ele olhou ao redor. Carros por toda parte. Pessoas nas
calçadas. Seu chefe, vindo em direção a eles.
─ Oh, droga. ­ Ele disse baixinho.
Suas sobrancelhas arquearam.
─ O que?
─ Bernie, quero tanto beijar você que dói e estamos rodeados de pessoas. Malditas pessoas!
Ela sorriu para ele.
─ Temos domingo. - Ela brincou.
Ele franziu os lábios. Seus olhos escuros brilharam.
─ Sim. Temos domingo.
─ A hora do almoço está quase acabando, Bernie. - Brincou Kemp ao se aproximar deles. ─ De volta à
rotina chata.
─ Nunca é chata, Sr. Kemp. ­ Disse ela, com sinceridade. ─ Tediosa e enlouquecedora, mas nunca chata!
Ele sorriu, acenou com a cabeça para Mikey e entrou no prédio.
─ É melhor eu entrar. Que horas? ­ Ela perguntou. ─ Domingo, quero dizer.
─ Cerca de onze está bom pra você?
Ela assentiu.
─ Isso parece ótimo.
─ Não vou ver você por alguns dias. - Disse ele. ─ Tenho que ver algumas pessoas em San Antonio. Santi
e eu temos um quarto reservado para isso. Mas estarei aqui para buscá-la no domingo, ok? E diga à Sra.
Brown para não alugar meu quarto enquanto eu estiver fora!
─ Eu digo, mas ela nunca faria isso. Ela acha que você é ótimo. Assim como os outros hóspedes. - Ela
baixou os olhos para o peito dele. ─ Eu também.
Ele se curvou e deu um beijo em sua testa.
─ Eu também acho você ótima, garota. ­ Ele sussurrou. ─ Agora vá trabalhar antes que eu derrube você na
grama ali e faça o que estou louco para fazer!
Ela ofegou.
─ Ela está a vista do público!
─ Nós também estaríamos, e eles tirariam fotos para o jornal local também. - Garantiu a ela. ─ Vejo você
no domingo, querida. Seja cuidadosa. Não saia à noite por nenhum motivo. Você está sendo observada,
mas não se arrisque. Eu não viveria se alguma coisa acontecesse com você. - Ele tocou sua bochecha e se
afastou antes que ela pudesse pronunciar as palavras que queria dizer.
Não importa, ela disse a si mesma. Ela poderia dizê-las no domingo.
***

Jessie era cautelosa com Sari e Glory, então guardou suas palavras ferinas para si mesma. Mas pouco
antes da hora de sair, ela esperou por Bernie quando as outras mulheres estavam pegando seus casacos e se
aproximou.
─ Você acha que ele está apaixonado? Apenas espere. - Ela suavemente ameaçou. ─ Nunca houve um
homem que eu não pudesse conseguir!
E antes que Bernie pudesse dizer uma palavra, ela saiu pela porta e foi embora.

***

Bernie estava angustiada sobre o que teria para dizer a Mikey no domingo. Ela sabia que ele tinha um
passado e estava certa de que poderia viver com o que quer que fosse. Mas ela não tinha tanta certeza de
que ele poderia viver, não apenas com seus problemas de saúde, mas com o que havia acontecido em sua
família. Foi tão horrível que ela nunca falou sobre isso. Apenas algumas pessoas em Jacobsville sabiam.
Seu pai era um bom homem, um homem gentil, que foi maravilhoso com a filha. Mas seu avô tinha sido
uma história diferente. Ele era famoso, na verdade, e a história era tão horrível que foi assunto para os
tabloides por quase um mês.
Nada daquilo foi culpa de Bernie. Ela só se envolveu porque ele era parte de sua família, mas doeu da
mesma forma. Ela se sentia suja por causa disso. Houve sobreviventes indignados. Seu pai foi alvo de um.
Apenas a rápida chegada do departamento do xerife salvou Bernie e o pai, porque o homem estava armado.
Ela não podia nem culpá-lo. A dor devia ser horrível. Mas seu pai não era mais responsável por isso do que
Bernie. Acontece que os sobreviventes não conseguiram chegar aos responsáveis, então foram atrás das
pessoas que restaram.
Isso eventualmente acabou. Os ânimos esfriaram, as pessoas voltaram à igreja e se lembraram de que
parte da fé religiosa era o muito difícil princípio do perdão até mesmo para os crimes mais horríveis.
Bernie e seu pai se mudaram de Floresville de volta para Jacobsville, e a distância ajudou. Mas isso não
significa que Bernie estava livre de ser alvo no futuro de algum outro parente que estava frustrado por não
ter um meio de vingança.
Ela teria que dizer isso a Mikey. Ela também teria que fazê-lo entender sobre sua doença. Não havia
cura para a artrite reumatóide. Havia muitos tratamentos, a maioria dos quais funcionava, mas os mais
eficazes estavam além do bolso de Bernie. Mesmo com eles, ela ainda teria crises, dias em que não
conseguiria trabalhar. E como os medicamentos necessários funcionavam na redução de seu sistema
imunológico para combater a AR, ela estava mais predisposta a doenças do que pessoas saudáveis. Ela
tinha problemas nos pulmões e frequentes infecções respiratórias. Mikey precisava entender que apenas
uma crise ocasional era o menor de seus problemas de saúde.
Se ele ainda a quisesse depois de tudo isso, bem, isso o faria um homem em um milhão. A má fama
de sua família poderia complicar as coisas.
Mas podia dar certo, ela disse a si mesma. Eles poderiam realmente ser capazes de fazer funcionar, se
conseguissem manter Jessie afastada. Ela era um tipo estranho de pessoa, muito narcisista e horrível. Ela
não sentia compaixão e tinha uma língua ácida. O que diabos ela estava fazendo em uma pequena cidade
como Jacobsville quando ela era obviamente mais adequada para grandes cidades? Era um enigma.

***

Uma chuva fria caiu na tarde de sexta-feira, quando Bernie se preparava para ir para casa. Ela não
tinha trazido uma capa ou um guarda-chuva, e estava chovendo a cântaros* lá fora. Mesmo no sul do
Texas, podia ficar bem frio no outono.
─ Deixe-me deixá-la na sua pensão, Bernie. ­ Sari ofereceu. ─ Você vai ficar encharcada indo para casa e
vai ficar doente.
─ Sim, você tem que ficar bem ou Mikey não será capaz de levá-la a lugar algum, não é, querida? - Jessie
ronronou ao passar por elas do lado de fora, o guarda-chuva levantado.
─ Um dia... ­ Sari disse venenosamente, e olhou para a outra mulher.
* Chover a cântaros - É uma expressão sinônima de chuva muito intensa, dando a ideia de que estar sendo despejada de vários cântaros ou vasos.
Jessie desdenhou e desceu a rua até onde seu carro estava estacionado. Estranhamente, era um caro
importado caro. Como ela poderia pagar por isso com o que ganhava como estenógrafa e recepcionista para
o promotor local, Sari se perguntou.
─ Você deveria ter um carro. - Sari a repreendeu suavemente quando o motorista da limusine começou a
descer a rua com seus dois passageiros atrás.
─ Eles quebram. ­ Disse Bernie com um sorriso. ─ Eu não posso pagar por um. E quase sempre consigo
caminhar para o trabalho, exceto quando estou tendo crises. Então eu pego um táxi.
─ Você sempre pode ir comigo. - Disse Sari. ─ Sempre que você precisar.
─ Obrigada. ­ Disse Bernie. ─ Mas eu estou bem.
Sari riu e balançou a cabeça.
─ Sinceramente, você é a pessoa mais difícil de se ajudar.
─ Eu sei. Desculpe.
─ Não é uma característica ruim. Jessie faria qualquer coisa por alguém com dinheiro. - Acrescentou ela
asperamente. ─ Essa mulher faz meu sangue ferver.
─ Mikey não a suporta. ­ Disse Bernie com um sorrisinho malicioso.
Sari riu.
─ É o que ele diz. Acho que ele viu tantas iguais a essa em sua vida que não tem mais interesse por elas.
─ Ele disse que era um homem mau. ­ Comentou Bernie.
─ Um pouco mau, um pouco bom, como todos nós.
Bernie olhou para ela calorosamente.
─ Eu disse a ele que não importaria o que quer que ele tivesse feito.
─ Essa é você. - Respondeu Sari. Ela estudou a outra mulher em silêncio. ─ Ele vai lhe contar a verdade.
Paul me disse. Ele e Mikey tiveram vidas difíceis quando crianças. Eles cresceram com pessoas que não
eram bons modelos. Mikey foi para o lado errado. Acho que ele está tentando deixar isso para trás agora.
Mas ... - Ela hesitou, notando como Bernie ouvia cada palavra. ─ Mas ele vai ter que lhe contar o resto. E
você terá que fazer uma escolha. ­ Ela fez uma pausa. Não queria dizer isso. ─ Essa escolha pode ser mais
difícil do que você pensa agora.
Bernie deu um longo suspiro.
─ É tarde demais para escolhas. ­ Disse ela suavemente. ─ Ele é todo o meu mundo, Sari. Ele é... tudo.
Sari sorriu.
─ Paul é o meu. Compreendo. É só... Bem, Mikey vai explicar para você. - Ela terminou.
Bernie estudou suas mãos, postas em sua bolsa em seu colo.
─ Eu acho que ele está de alguma forma envolvido com o crime organizado. - Disse ela sem notar
repentino estado de alerta de Sari. ─ Eu assisti o Poderoso Chefão, então eu meio que sei sobre essas
coisas.
Ela não sabia nada, nada, sobre a crueldade, o sangue e a violência com que os associados de Mikey
agiam e podiam agir. No entanto, Sari não queria contar a ela. Caberia a Mikey. Se Bernie o amasse de
verdade, eles encontrariam uma maneira de fazer funcionar.
─ Paul diz que nunca viu Mikey tão feliz. - Disse Sari, em vez de expressar seus pensamentos.
Bernie sorriu.
─ Nunca fui tão feliz, não em toda a minha vida. ­ Ela olhou para Sari. ─ Você sabe tudo sobre minha
família, sobre o que aconteceu. Mikey conseguirá lidar com isso? Quer dizer, tem gente que foi atrás do
papai, quando ele estava vivo, por causa do que meu avô fez.
─ Ninguém nunca veio atrás de você, e ninguém nunca virá. Se eles tentarem, vamos colocar o Sr. Kemp
sobre eles. Ele vai cuidar disso. OK?
Bernie soltou a respiração que ela estava prendendo.
─ OK.
─ E Mikey é a última pessoa que vai culpar você por algo que alguém de sua família fez. - Acrescentou ela.
─ Fiquei famosa por um tempo. ­ Disse Bernie, hesitante.
─ Só por um tempo, e nunca depois que você se mudou para cá com seu pai. - Acrescentou Sari.
─ Acredito que sim. - Ela abaixou o rosto. ─ Não quero que Mikey tenha vergonha de mim.
─ Como se isso fosse acontecer! Sinceramente, Bernie! - Ela riu. ─ Ele é louco por você. Não não vai
fazer diferença.
Bernie sorriu.
─ OK.
─ E o passado não importa. Para qualquer um de vocês.
─ Se eu ficar doente o tempo todo, pode ser. - Bernie expressou seu outro medo. ─ Eu já tenho um sistema
imunológico fraco, e os medicamentos que preciso tomar para a AR o tornam ainda mais fraco. Eu fico
muitas vezes doente, especialmente no tempo frio.
─ Não importa. ­ Disse ela com firmeza. ─ Além disso, Mikey podia pagar aqueles remédios absurdamente
caros que eles acham que podem ajudar você. - Acrescentou ela com um sorriso.
─ Como se eu fosse deixá-lo fazer isso. - Bernie retrucou.
─ Sob certas circunstâncias, você deixaria. - Sari falou lentamente e riu da expressão no rosto de sua colega
de trabalho. ─ A vida é doce. Você está apenas descobrindo isso.
─ Nunca foi tão doce, na verdade.
─ Portanto, viva um dia de cada vez. - Aconselhou Sari. ─ e deixe o amanhã cuidar de si mesmo.
─ Isso parece fácil. Não é.
─ Nada é fácil. Mas nós sobrevivemos. Certo?
─ Certo.
─ E se Jessie fizer mais um comentário sarcástico sobre como você é pouco saudável, vou encorajar Olivia
a derramar café na cabeça dela!
─ Oh, não sugira isso. Olivia faria disso em um desafio. - Bernie riu ruidosamente.
─ Eu ouvi sobre o incidente do café depois que voltei das férias neste verão. - Disse Sari maliciosamente.
─ Ninguém tinha feito o café. O agente Murdock veio ver o chefe em um caso, ele fez café apenas para si e
desligou a cafeteira. Olivia foi buscar uma xícara para si mesma. Mal estava morno até então, mas ela
pensou que iria beber de qualquer maneira. Ela tomou um gole, cuspiu, olhou feio para Murdock, que já
estava corado, e derramou a jarra bem sobre a cabeça e o terno dele. Sorte que não estava quente!
─ O Sr. Kemp saiu do escritório para receber o agente Murdock... - Bernie lembrou, rindo tanto que quase
engasgou. ─ e quando ele viu Olivia com a jarra vazia e o copo cheio na mão do Agente Murdock, ele
colocou a mão sobre a boca, voltou para o escritório e fechou a porta. Eu juro, ele riu por cinco minutos.
─ O que o agente Murdock fez?
Bernie assobiou.
─ Ele se levantou, com seu terno arruinado, olhou para Olivia por um minuto e, em seguida, derramou o
conteúdo de seu próprio copo de café sobre a cabeça dela.
─ E? ­ Sari perguntou.
─ Ele saiu pela porta bufando e ela foi para casa se trocar. Ainda estamos rindo disso. Só que, quando o
Agente Murdock entra pela porta, os dois fingem que o outro está invisível. Isso torna as coisas
interessantes.
Sari apenas sorriu.

CAPÍTULO DEZ
Domingo de manhã, Mikey veio buscar Bernie na pensão da Sra. Brown. Ele estava preocupado no
início, franzindo a testa.
─ O que há de errado? ­ Ela perguntou gentilmente. ─ Posso ajudar?
Ele se virou para ela e sorriu lentamente, alheio ao olhar breve e divertido de Santi no espelho
retrovisor do banco da frente.
─ Aí está essa doce compaixão que quase não tive em toda a minha vida. - Disse ele. ─ Você realmente é
uma em um milhão, garota.
Ela enrubesceu.
─ Como você. Mas posso ajudar?
─ Você pode ouvir, quando chegarmos à casa de Paulie. - Disse ele. E olhou para o banco da frente. ─ E
você pode ter o dia de folga até eu chamá-lo para nos levar para casa, Santi. - Acrescentou ele com um
sorriso. ─ Você pode ir assistir a um filme.
─ Não é uma má ideia, chefe. ­ Disse Santi com um grande sorriso. ─ Obrigado!
Ele encolheu os ombros.
─ Eu não sou um cara mau.
Santi fez um barulho sarcástico, mas Mikey o ignorou. Eles desceram na porta da frente da casa de
Paul e Santi levantou a mão e acenou enquanto dirigia.
Mikey segurou a mão de Bernie com força e colocou o dedo na campainha. Antes que ele pudesse
apertá-la, a porta se abriu. Sari e Paul os receberam.
─ Vamos almoçar. ­ Sari anunciou. ─ Mandy fez uma salada de macarrão com gengibre e frango e fatiou
algumas frutas para acompanhar.
─ Parece maravilhoso. ­ Disse Bernie.
─ Sim. Ninguém cozinha como Mandy. - Disse Mikey.
─ Eu ouvi isso. ­ Mandy falou da cozinha. ─ Entre. Estou quase com tudo sobre a mesa.
E estava. Os talheres eram imaculados, como os guardanapos de linho branco. Mikey puxou uma
cadeira para Bernie e depois outra para si mesmo.
Mandy voltou com uma cesta de muffins de mirtilo e os colocou na mesa.
─ Quem quer café?
Cada mão se levantou.
Mandy riu.
─ Isso foi o que imaginei. - Ela murmurou. ─ Já está saindo.

***

Bernie ficou um pouco constrangida no início. Ela não estava acostumada com mansões e talheres
arrumados em uma sala de jantar, e esta era sua primeira refeição real com os Fiores. Mas a conversa e a
atenção de Mikey a descontraíram em algum momento.
─ Está uma delícia. ­ Comentou Bernie, enquanto saboreava um pouco da salada.
─ Gostamos de uma refeição leve no almoço. ­ Disse Sari. ─ Nenhum de nós gosta de algo pesado no meio
do dia. Ou à noite, por falar nisso.
─ Não é à toa que vocês dois são tão esguios. - Bernie provocou.
─ As pessoas na aplicação da lei têm que ser rápidas. ­ Paul riu. ─ Tive que correr atrás de um falsificador
na semana passada. - Acrescentou. ─ Se eu comer demais, perco minha vantagem.
Mikey sorriu para ele.
─ Dificilmente. - Ele comentou. ─ Você está bem, primo.
─ Sari disse que Jessie está dificultando a vida de vocês dois. - Observou Paul.
O lábio de Mikey puxou para baixo.
─ Ela é persistente, admito. Mas ela tem o fascínio de um gambá drogado. Sabe o que eu quero dizer?
Paul riu.
─ Eu sei.
─ Além disso... - Disse Mikey, com os olhos em Bernie. ─ tenho outros interesses.
Bernie sorriu e quase derramou o café. Seu coração batia tão forte que balançava sua blusa. Mikey
percebeu isso e deu um sorriso malicioso.

***

Depois do almoço, Mikey pegou a mão de Bernie e a conduziu por um caminho arborizado que
levava aos estábulos onde os cavalos de corrida Grayling viviam luxuosamente.
─ Eu adoro isso aqui. - Disse Bernie, olhando para as árvores desfolhadas ao lado de altos abetos que ainda
estavam verdes. ─ Os abetos são fantásticos.
─ Sim, eles são. ­ Ele concordou. ─ No oeste, temos abetos azuis do Colorado* que vão direto para o céu.
─ Eles são realmente azuis ou isso é apenas uma descrição que pegou?
─ Eles são realmente azuis. - Respondeu. Ele parou de andar e se virou para ela. ─ Da próxima vez que eu
for a Las Vegas, você pode ir comigo. Vamos passar pelo Wyoming e dar uma olhada em Yellowstone e
Old Faithful. É uma visão que você nunca vai esquecer.
Ela hesitou.
Ele percebeu isso.
─ Eu tenho planos. ­ Ele disse suavemente. ─ Primeiro, tenho que ajudar Tony e tirá-lo da bagunça em que
ele está. Ele é família, entende? - Ele perguntou, franzindo o cenho. ─ É lealdade. Você faz um juramento.
Você o cumpre. Se você não fizer isso, haverá castigos terríveis. Ninguém nunca traiu ninguém de sua
família. Se o fizer, a pena é indescritível. - Ele não acrescentou que havia participado desses castigos. Ele
tinha que confessar o máximo que pudesse para ela, mas havia coisas que precisava guardar para si mesmo.
Ela olhou para ele com o coração nos olhos.
─ Não importa. - Disse ela teimosamente.
* Colorado blue(Abetos azuis)
Ele tocou sua bochecha com as pontas dos dedos.
─ Bernie, estou envolvido com a máfia desde que tinha idade suficiente para carregar uma arma. Eu fiz
coisas... - Ele hesitou. Isso nunca o incomodou antes. Agora era difícil conciliar o que ele tinha feito com o
que queria fazer agora. Ele respirou fundo. ─ Você assistiu os filmes O Poderoso Chefão, não é?
─ Ai sim. São ótimos filmes. - Disse ela.
─ Você se lembra da cabeça do cavalo na cama* com o produtor de Hollywood que não aceitou um cantor
amigo da família Corleone no seu projeto?
Ela assentiu.
─ E a forma como o irmão mais velho de Michael foi assassinado, um ataque organizado por uma família
rival?
Ela sentiu calafrios na espinha.
─ Sim. ­ Disse ela com voz rouca. ─ Eu também me lembro disso.
─ Bem, aquilo foi atenuado. - Ele disse categoricamente. - As vinganças da família são simplesmente
sanguinárias. Você não sabe o que aconteceu com Paulie, sabe?
Ela apenas balançou a cabeça.
─ Ele tinha uma esposa e uma filha antes de vir trabalhar para o velho Grayling como especialista em
segurança. - Disse ele. ─ Paulie foi a única pessoa em toda a nossa família que foi honesto. Ele trabalhou
para o FBI em Jersey e prendeu um dos chefes do crime. Ele se sentiu muito bem com isso. Mas quando
ele foi para casa naquela noite, sua esposa e sua filha tinham sido assassinadas com uma espingarda.
Bernie levou a mão à boca.
─ Oh, pobre homem! - Ela exclamou, chocada.
─ Ele levou anos para superar isso. - Disse ele. ─ Eventualmente, ele se apaixonou por Sari, mas se
arrependeu e deu uma desculpa para desistir. Passaram-se três anos antes que ele voltasse. Nesse ínterim, o
pai de Sari havia espancado as meninas até quase matá-las. Sari culpou Paul e não quis nada com ele
quando ele trabalhava no escritório do FBI em San Antonio. Mas ela estava nas Bahamas quando um
furacão varreu o país. Paul pensou que ela estava morta, ele e Mandy foram para lá trazer o corpo para
casa. Ela apareceu viva e eles se casaram na mesma semana. No entanto Paulie nunca superou a perda da
família. Ele se culpou por pressionar demais o chefe do crime e perseguir toda a organização.
─ O que aconteceu com o homem que matou a primeira família dele? - Ela perguntou.
Seu rosto endureceu.
─ Eu conhecia um cara que estava lá dentro. - Disse ele laconicamente. ─ Eu cuidei disso.
Ela sentiu o sangue se esvair do seu rosto.
─ Você...?
─ Eu cuidei disso. - Ele repetiu baixinho. ─ Sim. Eu tenho esse tipo de poder. Trabalhei meu caminho na
organização durante anos, para chegar onde estou agora. Eu possuo um dos maiores cassinos de Vegas e
sou podre de rico. Fui preso uma vez sob a acusação de assassinato, mas tive testemunhas que juraram que
eu não estava nem perto da cena do crime. Eles não tinham evidências reais, então arquivaram o caso.
Ela foi até um grande carvalho e se recostou nele. Esta era uma notícia que ela não esperava e foi
chocante. Ela olhou dentro dos olhos escuros e frios.
─ Eu sinto muito, querida. Não queria ter que confessar o quão homem mau eu sou. Mas você precisava
saber. - Disse ele. Por dentro, ele se agitava como nuvens de tempestade. Não queria dizer a ela essas
coisas, mas não podia lhe oferecer um futuro sem deixá-la ciente do passado. ─ Tem mais. ­ Ele disse a ela.
─ Muito mais. Mas isso é o suficiente por agora.
Seus lábios se separaram em uma longa respiração. Ela o olhou desamparada. Ela o amava. Ele era
um criminoso. E provavelmente nunca desistiria dessa vida. Ele disse a ela com todas as letras o que a
família a que ele pertencia faria se fossem traídos.

* Talvez o momento mais emblemático de “O Poderoso Chefão” é aquele em que o personagem interpretado pelo ator John Marley acor da coberto de sangue e
ao lado da cabeça de seu cavalo premiado. O grito de susto de Marley foi extremamente real na cena, isso porque o diretor decidiu usar uma cabeça de verdade
na filmagem, ao contrário dos ensaios com cabeças falsas. A cabeça foi adquirida em uma fábrica de alimentos para cães, o que na época desagradou muitos
ativistas de direitos dos animais.
─ Omertà. ­ Ela sussurrou tristemente.
Ele se aproximou.
─ Sim. Omertà. ­ Ele respondeu. ─ É o código pelo qual vivemos. Ou morreremos, se trairmos alguém de
nossa família. Eles não apenas matam você. Eles matam todos os que você ama. É como apagar toda a sua
vida.
Ela encostou a cabeça na casca dura da árvore e apenas olhou para ele. Não entendia o que ele queria
dela, por que ele estava lhe dizendo algo tão pessoal.
─ Então esse é o segredo que mantenho. ­ Disse ele. ─ É mau. É horrível. Mas é uma parte da minha vida
que você precisa entender se seguirmos em frente juntos. Então... que segredos você está guardando? - Ele
acrescentou com uma voz terna.
Ela respirou fundo.
─ Meu avô tinha uma pequena loja em Floresville. Ele e minha avó a administravam. Percebemos que
vovô era esquecido e, às vezes, ficava furioso quando via algo na televisão ou algo que um político dizia.
Nós não nos preocupamos porque pensamos que era apenas o produto do envelhecimento normal.
Ele se aproximou.
─ Mas não era?
─ Não era. Um dia, ele estava ouvindo o que um político dizia sobre a economia e os novos regulamentos
que iriam entrar em vigor. Vovô começou a gritar que aquelas pessoas precisavam ser mortas, massacradas.
­ Ela hesitou, depois continuou sem olhar para ele. ─ Talvez ele tivesse se acalmado, mas o prefeito estava
na loja comprando algumas ferragens e ele e o vovô discutiram sobre política. Eles eram completamente
opostos em seus pontos de vista. O prefeito tentou acalmar meu avô, e achou que tinha conseguido. Minha
avó o repreendeu por estar tão furioso simplesmente com política estúpida. Ela disse que ele precisava
deitar um pouco. Vovô não discutiu com ela. Ele saiu de trás do balcão sem dizer uma palavra. Minha avó
ficou aliviada, ela achou que ele havia superado a raiva. Menos de cinco minutos depois, ele voltou para a
frente da loja com uma pistola automática. - Ela engoliu em seco. ─ Ele matou minha avó e o prefeito,
depois apontou a arma para três clientes e os matou também. Os sobreviventes gritaram e correram para
fora da loja. Um policial local ouviu os gritos e entrou na loja com sua pistola na mão. Vovô atirou nele no
minuto em que ele entrou na loja. A polícia chamou a equipe da SWAT de San Antonio. Vovô estava
escondido na loja, ele não queria sair e largar a arma. ­ Ela suspirou. ─ Para encurtar a história, a equipe da
SWAT entrou e atirou no meu avô. Ele morreu a caminho do hospital. Minha mãe ficou tão envergonhada
e enojada com o que o pai tinha feito, tão triste com a perda da mãe e a fúria iminente da população da
cidade, que se trancou no banheiro e cortou sua própria garganta com uma lâmina de barbear. Achamos
que ela estava tomando banho. ­ Seus olhos se fecharam. ─ Quando percebemos que algo estava errado e
papai abriu a porta, já era tarde demais. Ela morreu.
─ Oh, Deus. ­ Disse ele. ─ Pobre criança!
Ela mordeu o lábio inferior.
─ Papai vendeu a casa e nos mudamos para cá. A repercussão foi horrível. Fomos odiados por tantas
pessoas que perderam entes queridos naquele dia. Eu não os culpei, mas papai e eu não tivemos nada a ver
com o que aconteceu. Nada mesmo.
Ele se aproximou e a puxou para seus braços, abraçando-a, acalentando-a enquanto ela chorava.
─ E eu pensei que tinha tido uma vida difícil. - Ele sussurrou em seu ouvido. ─ Querida, eu gostaria de ter
conhecido você nessa ocasião. Ninguém jamais a teria machucado!
Ela se aproximou, descansando a bochecha molhada sobre o coração dele.
─ Achei que você não ia querer mais nada comigo quando soubesse o que aconteceu.
─ Garota idiota. ­ Ele murmurou, e riu suavemente. ─ Estou viciado. Você não percebeu? Com quem eu
saio o tempo todo? Quem eu levo ao cinema e a salas onde fazemos coisas picantes juntos?
Ela riu em meio às lágrimas.
─ Eu, acho.
─ Você. - Ele respirou longa e lentamente. Seus braços se apertaram. ─ Eu jurei lealdade a Tony. Eu tenho
que cumprir meus votos. Eu não posso deixá-lo morrer, seja o que for que eu tenha que fazer para salvá-lo.
─ Família é mais importante do que sua própria vida, não é?
─ Sim. ­ Sua respiração estava quente em seu ouvido. ─ Estou muito envolvido nisso. Não posso assumir
compromissos agora. Mas quando acabar, quando eu inocentar Tony...
Ela não se mexeu. Seus olhos se fecharam.
─ Eu lhe disse. ­ Ela sussurrou. ─ Eu disse a verdade. Não importa.
─ Deus! - Sua boca se moveu sobre a dela e ele a beijou com a paixão antes reprimida, com pura
sofreguidão. Ele não tinha imaginado que ela poderia viver com as coisas que ele fez, que ainda poderia
querê-lo depois de conhecê-las. Ela era uma mulher extraordinária. ─ Bernie... - Disse ele vacilante. ─
você é o ar que eu respiro!
Ela não conseguia nem encontrar palavras para expressar o que sentia, então ela o beijou com todo o
seu coração, seus braços envolvendo seu pescoço, sua boca correspondendo a dele com a mesma paixão
que ele estava mostrando a ela.
Ele gemeu e suas mãos correram para cima e para baixo sobre as laterais do corpo dela, seus
polegares pressionando sob seus seios.
─ Aham.
Mikey ergueu a cabeça e olhou para Bernie fixamente.
─ O que você disse?
─ Eu não disse nada. ­ Ela começou.
─ Aham. - A voz veio novamente. Mikey franziu a testa e apalpou a lapela. Havia um dispositivo que havia
sido colocado lá em San Antonio. Ele olhou carrancudo para ele.
─ Sim? ­ Mikey perguntou abruptamente.
─ Eu tenho você na minha mira e, francamente, se você não parar isso, vou ter que deixá-lo indefeso e ir
buscar vários goles de bebidas fortes.
Os dentes de Mikey cerraram-se.
─ Droga, Billings. ­ Ele murmurou.
─ Muitas doses. - Continuou Billings. ─ Talvez uma maldita garrafa inteira. Foi um longo período de
abstinência e eu tenho que vigiar você. Entende isso? Vigiar você.
Mikey respirou fundo e olhou para Bernie com um pesar divertido.
─ OK. Vamos dar uma olhada nos cavalos.
─ Boa ideia. Blakely está lá. Você pode deixá-lo louco! - Houve um clique e o dispositivo silenciou.
Bernie ficou corada e envergonhada.
─ Ei - Disse Mikey, afastando o cabelo loiro, comprido e rebelde do rosto dela. ─ Billings está certo. Não é
a hora nem o lugar.
─ Ele ouviu tudo o que dissemos? ­ Ela se preocupou.
─ Não é provável. Ele não costuma escutar escondido. Acho que estávamos ficando bem ardorosos, hein? -
Ele riu. ─ OK. Vamos nos comportar. ­ Ele pegou os dedos dela e os entrelaçou com os dele. ─ Vamos dar
uma olhada nos belos cavalos.
Ela riu. A vida era doce. Ele não se importava com o passado dela. Ela não se importava com o dele.
Esta era uma relação com um futuro. Ela nunca esteve tão certa de algo.

***
Eles vagaram pelos estábulos. Havia um homem encarregado dos puros-sangues. Ele contou a Bernie
sobre a origem dos cavalos.
─ Eles são descendentes de três garanhões importados pela Inglaterra nos séculos XVII e XVIII, o início de
sua linhagem. Vencemos o Kentucky Derby com esse camarada. - Disse ele, sorrindo ao se aproximar da
grande baia onde o cavalo de corrida morava. ─ Ele tem seu próprio pasto e é um reprodutor. Recebemos
quantias fabulosas de dinheiro por seus potros. Ele é um grande camarada.
Bernie olhou para ele com admiração. Ele era grande, elegante e bonito, e ele sabia disso também.
─ Ele é lindo. ­ Disse ela.
O gerente do estábulo riu.
─ Nós também pensamos assim. Ele tem um potro que nasceu há apenas dois meses. Está aqui embaixo.
- Ele os conduziu pelo corredor pavimentado até outra baia, onde um belo e jovem puro-sangue estava
brincando com uma grande bola.
─ Cavalos brincam? ­ Bernie exclamou.
O gerente riu.
─ Claro. Eles são como cachorrinhos ou crianças nessa idade. Quando chegam à adolescência, ou o
equivalente do cavalo, é quando os problemas começam. No momento, eles são apenas crianças e é um
mundo totalmente novo para eles.
Bernie apenas assistia o potro brincar, fascinada.
─ Nunca estive muito perto de cavalos. - Ela confessou. ─ Tínhamos uma pequena fazenda em Floresville
onde minha família tinha algumas cabeças de gado de corte. Havia alguns cavalos para os vaqueiros, mas
nunca montei nenhum. Eu tinha medo deles.
─ Nunca deixe um cavalo saber disso. - Disse o gerente. ─ Eles vão tirar vantagem.
─ Provavelmente não serei colocada em um cavalo tão cedo. - Ela assegurou a ele.
─ Se você algum dia quiser cavalgar, temos um castrado de quinze anos, muito dócil, que seria perfeito
para você. Se você quiser. - Acrescentou.
Mikey riu e apertou os dedos dela com os dele.
─ Talvez um dia. - Disse ele com um sorriso gentil para Bernie, que retribuiu.
─ Talvez. - Ela disse.

***
Eles voltaram para a casa.
─ Você voltará logo. - Comentou Sari.
─ Sim. ­ Mikey disse com um sorriso triste. ─ O Billings é um estraga-prazer.
─ Chet Billings? Você o viu? - Ela perguntou.
─ Não. Nós o ouvimos. Ele tem este dispositivo comigo. - Acrescentou, indicando a coisa eletrônica em
sua lapela.
─ Oh. Ele falou com você?
─ Ele ameaçou ficar bêbado, foi o que fez. - Mikey olhou para Bernie e suspirou. ─ Acho que não sobrou
nenhuma privacidade real na terra.
─ Sim existe. O jardim de inverno é muito bonito, muito tranquilo e tem uma porta. No entanto... - Ela
acrescentou maliciosamente. ─ não sendo estúpida, vou chamar quando o jantar estiver pronto e
provavelmente vou abrir a porta para isso.
Mikey suspirou.
─ Chame alto, ok? - Ele brincou.
Sari riu.
─ Bastante alto. - Ela deu a eles um olhar compreensivo e voltou para a cozinha, onde ela e Mandy
estavam tomando café. ─ Você quer café? ­ Ela perguntou por cima do ombro.
─ Mais tarde. ­ Disse Mikey. ─ Quando o jantar estiver pronto. Obrigado, Sari. - Acrescentou.
─ Eu nem sempre fui casada. - Respondeu Sari, e sorriu.

***

Mikey tirou a caneta de lapela, colocou-a sobre uma mesa no corredor e puxou Bernie para a sala
com ele. Ele fechou a porta atrás de si e, pensando melhor, a trancou.
─ Só para esclarecer... ­ Disse ele enquanto a puxava gentilmente em seus braços. ─ nós damos
importância a inocência. Algumas pessoas podem nos chamar de antiquados, mas nós respeitamos nossas
mulheres e não as desonramos. Você entende o que quero dizer?
Ele estava dizendo a ela que não iria deixar isso ir muito longe. Ela sorriu.
─ Acho que você me conhece bem.
Sua boca roçou a dela.
─ Eu sei que você é inocente, Bernie. - Ele sussurrou. ─ Isso me excita e me enlouquece, tudo de uma só
vez.
─ Enlouquece?
─ Obstáculos são frustrantes. - Ele murmurou. E a beijou com movimentos lentos e famintos de sua boca,
sentindo a dela segui-lo impotente. ─ Mas nós vamos ultrapassar os limites. Quando as coisas ficarem
muito quentes, e podem ficar, tudo que você precisa fazer é me lembrar que prometi não deixar as coisas
irem longe demais.
Ela riu.
─ OK.
Ele sorriu enquanto a beijava novamente.
─ Você me deixa com fome de coisas que eu nunca quis antes. - Ele murmurou enquanto a colocava no
sofá confortável e sentava ao lado dela. ─ Uma casa, uma família, raízes. - Sussurrou. Ele tirou a blusa dela
e abriu o sutiã em segundos. ─ Pertencimento. - Ele murmurou enquanto sua boca se abria sobre seu
mamilo tenso e de repente o sugava com força.
Ela saiu do sofá, um minúsculo e chocado grito vibrou em sua garganta, um som que ela nunca tinha
ouvido antes.
─ Shh. ­ Ele sussurrou rispidamente. ─ Eles vão ouvir.
Ela mordeu o lábio inferior e puxou a cabeça dele para mais perto, seus dedos cravados em seu
cabelo preto espesso e ondulado enquanto sua boca fazia mágica no corpo dela.
─ Glória! ­ Ela gemeu. ─ Mikey, faça mais forte. ­ Ela sussurrou freneticamente. ─ Mais forte!
─ Eu vou machucar você. ­ Ele gemeu.
─ Não. Você não vai. Por favor...!
Ele tomou todo o seu seio firme em sua boca e sua língua trabalhou no mamilo até que ela estava se
contorcendo descontroladamente sob a pressão repentina de seu corpo forte.
Uma grande mão estava sob seu quadril, apertando-a contra a crescente dureza dele, deixando-a
sentir sua necessidade. Isso era desesperador.
Ela se sentiu culpada. Ela o estava incitando, e eles não podiam ter intimidades. De repente se
lembrou do que ele disse sobre carícias íntimas, que ele poderia tirar as roupas do caminho e estar dentro
dela em menos tempo do que levaria para ela reagir.
Ela pensou em senti-lo dentro dela e estremeceu com a necessidade repentina.
As unhas dela cravaram na nuca dele enquanto ela o segurava mais perto, arqueando para que ele
pudesse devorar mais facilmente o seu seio. Ela estremeceu ritmicamente enquanto ele a sugava, cada vez
mais forte. De repente, ela arqueou, gemeu e sentiu uma onda de prazer transpassá-la que era além de
qualquer coisa que já tinha sonhado. Ela convulsionou, estremeceu, voou para as nuvens e explodiu.
Então gemeu, envergonhada. Ele a abraçou, negando a seu corpo excitado a liberação que ele
implorava.
─ Está tudo bem. ­ Ele sussurrou. ─ É natural, bebê. Está tudo bem.
─ É realmente? Natural, quero dizer? - Ela sussurrou com a voz entrecortada.
Ele riu suavemente.
─ Isso só acontece com uma mulher em cem. - Disse ele. ─ Talvez uma em mil. Eu nunca vi isso acontecer
com uma mulher com quem estive. ­ Sua boca roçou a dela. ─ Deus, foi emocionante! Você nunca sentiu
isso, não é?
─ Não... até agora. - Ela admitiu.
Ele respirou fundo.
─ Sou melhor do que pensava. - Brincou ele.
Ela riu.
─ Você é melhor do que eu pensava que era, e isso significa algo.
Ele ergueu a cabeça e olhou para os seios nus dela.
─ Você sabe que me pertence, não é? - Ele perguntou, e encontrou os olhos dela. Eles estavam solenes. ─
Você é minha, Bernie.
Ela se derreteu no sofá sob a forte e doce pressão de seu corpo.
─ Sim. Eu sei disso.
Ele se moveu sobre ela, seu corpo pressionando-a para baixo. Ele lutou para tirar a camisa do
caminho para que seu peito musculoso e áspero roçasse seus seios nus. Ele estremeceu.
Ela também.
─ Se você quiser... - Disse ela vacilante. ─ eu serei.
─ Bem aqui? ­ Ele perguntou com voz rouca.
─ Bem aqui.
─ Você não sabe o quanto eu quero. - Ele rosnou.
Ela moveu os quadris apenas um pouquinho.
─ Oh, sim, eu sei. ­ Disse ela, sentindo-o inchar ainda mais.
─ Bebê. ­ Ele sussurrou. Se moveu entre as pernas dela e empurrou para cima, de forma a ficar
intimamente pressionado contra o âmago dela.
Ela gemeu, porque estava além de qualquer coisa que havia sentido antes. Suas pernas se separaram,
convidando-o.
─ Teria que ser rápido. - Ele disse rispidamente. ─ Muito rápido. E provavelmente vai doer.
─ Eu não... me importo. ­ Disse ela vacilante.
Ele a beijou suavemente, e sua mão foi sob a faixa da calça dela, sob a calcinha. Ela agarrou seu
pulso, envergonhada.
Ele ergueu a cabeça.
─ Você tem que me deixar fazer isso. - Ele sussurrou, sua voz trêmula. ─ Eu tenho que saber o quão
cuidadoso preciso ser com você. OK?
Ela mordeu o lábio.
─ Eu nunca...
─ Eu sei disso. Mas você pertence a mim.
Ela deixou seu corpo relaxar, deixou a dureza dele se encaixar contra ela de modo que fosse o paraíso
sentir.
─ Sim. ­ Ela disse, sua voz terna, seus olhos arregalados e extasiados em seu rosto tenso.
Sua mão alisou sua barriga e ele pensou em um bebê que seria parecido com ela ou com ele mesmo.
Ele tinha algo para usar, mas não queria usar. E não queria tê-la aqui com pressa, do jeito que ele tinha
feito com as mulheres em sua juventude. Ela precisaria de tempo, muito tempo, e ele não poderia dar a ela
se fossem longe demais.
Seus dedos desceram. Ela hesitou e contraiu quando ele de repente começou a sondar onde ela era
mais mulher. Ela mordeu o lábio com força suficiente para tirar sangue enquanto ele a explorava
intimamente. Mesmo amando-o como ela o amava, era difícil entregar o controle para outra pessoa.
Ele suspirou, quase gemendo ao retirar os dedos e passá-los sobre a barriga dela.
─ Vai doer como o inferno, e não tenho certeza se conseguiria passar pela barreira, entendeu?
─ Oh! ­ Ela estremeceu. ─ Desculpe.
Ele rolou para o lado e a puxou para seus braços, apertando seus seios em seu peito.
─ Não, me desculpe você. Nunca quis ir tão longe. ­ Seus braços se contraíram. ─ Deus, Bernie, eu quero
tanto engravidar você...!
Ele beijou sua boca chocada e gemeu novamente enquanto puxava os quadris dela para mais perto
dos dele.
─ Eu quero você. Eu quero entrar em você, tão fundo, tão forte, que você vai disparar como um foguete!
Ela enrubesceu sob a pressão de sua boca dura, gemendo ao sentir que ele a movia ritmicamente
contra seus quadris.
─ Eu sinto muito...
Ele deu uma risada rouca.
─ Pense nisso como um cinto de castidade. Isso vai me manter na linha até que possamos tornar as coisas
legais.
Ela escondeu o rosto contra sua garganta. Tornar isso legal. Será que ele queria dizer que queria se
casar com ela? Ela estava tão encantada que nem ouviu passos no corredor.
Nem Mikey, que a beijava como se não conseguisse parar.
A batida forte e insistente na porta e o barulho da maçaneta trancada sendo girada os separou.
─ Jantar! ­ Sari avisou.
Mikey riu.
─ OK! Já vamos.
─ Eu tenho uma chave mestra, você sabe disso. Ela se encaixa em todas as fechaduras - Sari ameaçou.
Bernie ficou vermelha como uma beterraba. Mikey apenas riu.
─ Estamos nos comportando, começando agora mesmo!
Houve uma risada do lado de fora da porta.
─ Última chance. Cinco minutos e destranco a porta.
─ Entendi! ­ Mikey respondeu.
Passos recuaram.
Mikey deu uma longa e última olhada no corpo seminu de Bernie e gemeu.
─ Eu odeio vestir você. ­ Ele murmurou, enquanto abotoava seu sutiã e puxava sua blusa para baixo.
─ Eu odeio vestir você também. ­ Ela brincou enquanto abotoava sua camisa novamente. ─ Eu adoro a sua
aparência sem roupa.
─ Sim. Eu sinto exatamente o mesmo por você.
─ Você não está chateado com o que eu contei? - Ela perguntou, preocupada.
Ele inclinou a cabeça e olhou para ela.
─ Eu fiz coisas quase tão ruins quanto seu avô. - Disse ele veementemente. ─ Não posso julgar outra
pessoa. Não é da minha conta. Mas agora que você sabe qual é o meu ramo de atividade. - Ele acrescentou
calmamente. ─ você tem que decidir se pode viver com isso. Não vou desistir de jeito nenhum. Eu não
posso. É para toda a vida.
Ela estava começando a perceber que, embora ele dirigisse um hotel cassino honesto em Las Vegas,
ele estava profundamente envolvido com um grupo que rotineiramente infringia a lei. Ele poderia ir para a
prisão em certas circunstâncias. Ela teria que estar na companhia de pessoas que pensavam no crime como
um modo de vida, uma ocupação. Ela seria a estranha. As mulheres em sua organização a odiariam? E
quanto às mulheres que ele teve antes dela? Elas estariam por perto? Seriam como Jessie e tornariam sua
vida miserável?
─ Pensamentos profundos, hein? ­ Ele perguntou baixinho.
─ Muito profundos. ­ Ela respirou fundo. ─ Mikey, eu não sou como você. Eu nem mesmo atravesso fora
da faixa. Meu bisavô era US Marshall. Tenho um primo que é Texas Ranger. Toda a minha família esteve
na aplicação da lei.
─ Entendo. ­ Disse ele tristemente. ─ Você não acha que conseguiria lidar com isso.
─ Não! ­ Ela se aproximou dele. ─ Eu seria a estranha. A aberração. Eles não me aceitariam.
─ Bobagem. ­ Ele murmurou. E sorriu enquanto enredava os dedos nos cabelos dela. ─ Você não tem ideia
do quanto eles a aceitariam. Eles iriam a lugares com você, se você precisasse de proteção eles a
protegeriam. Sentariam com você quando estivesse doente, quando você tivesse crises. É outro mundo,
bebê. Um que você nunca viu. É violento, sim. Mas as pessoas são como todas as outras. As mulheres são
um grupo muito unido, porque sempre há algum perigo envolvido com o qual os homens precisam lidar. -
Ele estremeceu com a expressão dela. ─ Não conheço nenhum outro estilo de vida, Bernie. - Concluiu. ─
Não posso mudar o que sou, o que faço. ­ Ele encolheu os ombros. ─ E não quero. Se isso é egoísmo, sou
egoísta.
Ela se aproximou mais, deslizando os braços ao redor dele.
─ Eu posso tentar. ­ Ela sussurrou.
Seu coração saltou. Ele se animou como se uma nuvem negra tivesse se dissipado à luz do sol. Seus
braços se apertaram ao redor dela.
─ É tudo o que peço. ­ Disse ele. ─ Isso é tudo o que eu quero.
Ela sorriu e fechou os olhos.
Houve um clique e a porta se abriu. Sari olhou para dentro com os lábios franzidos quando eles se
viraram para ela. Ela deu uma risadinha.
─ Eu avisei. ­ Ela disse, levantando a chave para mostrar a eles. ─ Jantar.
Mikey sorriu.
─ Estamos bem atrás de você.
─ Sim. ­ Concordou Bernie.
Mikey entrelaçou seus dedos aos dela e os dois pareciam, para Sari, como as duas metades de um
todo. Ela não tinha dúvidas de que haveria um casamento no futuro.
Bernie agarrou-se à mão dele e sorriu. Ela olhou para Mikey com admiração, com adoração.
Ele viu aquele olhar e isso o fez se sentir orgulhoso. Seus dedos se contraíram suavemente em torno
dos dela. E ela aumentou a pressão. Ela nunca tinha conhecido tanta maravilha, tanta alegria. Ele se
espalhou ao redor dela como o sol. Ela sorriu. Mikey também. Ambos sabiam onde isso estava levando,
agora mais do que nunca.

CAPÍTULO ONZE

O jantar foi tão agitado quanto o almoço. Paul tinha uma dúzia de histórias de coisas que
aconteceram com ele no desempenho de suas funções. A melhor foi a que ele ouviu de Sari sobre o agente
Murdock. Ele contou para Mikey e riu da diversão de seu primo.
─ Eu gosto da Olivia. ­ Disse Mikey. ─ Ela parece ser muito legal.
─ Ela é. ­ Bernie concordou. ─ O Sr. Kemp a contratou para que houvesse outra assistente jurídica no
escritório nos dias em que eu não pudesse trabalhar. - Acrescentou ela, e se sentiu desconfortável ao falar
sobre suas limitações.
─ Você se sai muito bem, considerando seus problemas. - Sari disse a ela. ─ Não pensamos em você como
deficiente, sabe disso. - Acrescentou ela. ─ Você tem uma deficiência. Muitas pessoas têm. Olhe para a
pobre Glory. Ela tem pressão arterial perigosamente alta e teve um leve ataque cardíaco. Mas superou isso
para trabalhar aqui, onde ela, o marido e o filho vivem.
─ Eu adoraria ter um garotinho. - Disse Mikey, olhando para Bernie, que corou. ─ Ou uma garotinha.
Aposto que as meninas são fofas.
Bernie riu.
─ Eu nunca fui fofa. - Ela brincou. ─ Eu tive muitos problemas quando era pequena. O pior momento foi
quando eu entrei no depósito de milho e não consegui sair, e uma cobra-rei* decidiu entrar comigo. Ela era
enorme. Mais de três metros de comprimento. Eu estava apavorada. Mas ela não me atacou ou mesmo me
ameaçou. Ele apenas se esticou no milho e olhou para mim.
─ Provavelmente caçando roedores. - Comentou Sari. ─ Elas adoram milho.
*A cobra-real ou cobra-rei(Ophiophagus hannah) é uma espécie de serpente peçonhenta da família dos Elapídeos. É a maior cobra peçonhenta
conhecida. Mede quando adulta de 3 a 4 metros de comprimento, sendo que a maior já registrada chegou a medir 5,85 m. É o único membro do
gênero Ophiophagus. É carnívora e a sua dieta consiste basicamente em outros ofídios, venenosos ou não, mas não despreza lagartos, ovos e
pequenos mamíferos. O nome científico Ophiophagus significa literalmente "comedora de serpentes".
─ Provavelmente. - Bernie concordou. ─ De modo geral, ela era uma cobra muito educada. Ele nem
parecia incomodada quando papai veio me encontrar e me tirou do milho.
─ Ela também podia ter comido alguns ratos e estava com preguiça. - Paul riu.
─ Igualmente possível. ­ Bernie riu.
─ Bem, eu tenho que ler alguns relatórios. - Disse Sari.
─ E eu tenho casos para trabalhar. - Acrescentou Paul quando os dois se levantaram. ─ Vocês dois podem
assistir filmes ou apenas sentar na estufa e observar as plantas crescerem. Vocês são sempre bem-vindos. A
qualquer momento.
─ Obrigada, Paul. ­ Disse Bernie.
Mikey ecoou o sentimento.
Eles ficaram com Mandy, que começou a retirar os pratos.
─ Vocês dois querem café? ­ Ela perguntou com um sorriso caloroso.
─ Não para mim. ­ Disse Mikey. ─ Eu não durmo bem. E café me mantém acordado.
─ Eu também. ­ Disse Bernie.
Mikey se levantou e ajudou Bernie a se levantar da cadeira.
─ Acho que vamos assistir o crescimento das plantas de Sari por um tempo, se você não se importa.
─ Fiquem à vontade. - Disse ela com um sorriso malicioso.
Mikey levou Bernie para a estufa e trancou a porta.
─ Provavelmente ninguém vai tentar abrir, mas quem sabe? - Mikey provocou. Ele puxou Bernie para os
seus braços e a beijou com avidez. ─ Sobremesa. ­ Ele sussurrou. ─ Mais doce que bolo.
─ Mais doce que mel. - Ela concordou com um gemido.
Ele a pegou e se sentou com ela em seu colo, beijando-a o tempo todo.
Ela não protestou contra as mãos dele sob sua blusa. Ele era tão familiar para ela agora, tão querido,
que ela gostava de qualquer coisa que ele fizesse.
Ele sabia disso e isso o mantinha controlado. Ele não queria tirar vantagem de uma atração que ela
não podia evitar. Ela era muito inocente. O impressionava, aquela falta de sofisticação. Ele adorava isso.
Ele desceu a blusa e o sutiã dela até a cintura e desabotoou a camisa, puxando-a avidamente para ele.
─ Oh, Deus. - Ela engasgou quando sentiu o pelo grosso, macio e os músculos quentes contra seus seios
nus. Seu rosto afundou em sua garganta enquanto ele a acariciava.
─ Somos bons juntos. ­ Ele sussurrou. ─ Melhor do que eu sonhei. Deus, eu quero você!
Seus braços se apertaram ao redor de seu pescoço.
─ Eu também quero você. ­ Ela sussurrou de volta.
As mãos dele acariciaram as pontas duras dos seios dela.
─ Já conversamos sobre isso. ­ Disse ele após um minuto. ─ Mas nada em particular. - Suas mãos a
afastaram e ele olhou para os seios dela com posse e apreciação. ─ Você é linda assim, Bernie. Fico
excitado só de abraçar você. Mas eu perco a cabeça rapidamente.
Ela arqueou para trás, seu corpo exigente, faminto, ignorando a tentativa de sua mente de ser sensata.
─ É isso que você quer, querida? ­ Ele sussurrou, e sua boca engoliu um seio pequeno e tenso quase inteiro.
Ela gemeu e estremeceu.
─ Eu imaginei que sim. - Sua voz estava rouca, mas sua boca era terna, enquanto ele estimulava o mamilo
duro, lenta e suavemente, sugando-o cada vez mais que logo a fez ficar rígida e de repente explodir de
prazer, o corpo inteiro convulsionando nos braços dele.
─ Deus, eu adoro isso. - Ele gemeu contra seu seio. ─ Eu adoro poder fazer você atingir o clímax quando a
sugo!
Suas unhas cravaram nele. Era um pouco embaraçoso, mas ela estava exausta demais de prazer, de
satisfação, para protestar. Ela estremeceu e se agarrou a ele depois disso.
─ Nunca senti nada parecido em toda a minha vida. - Disse ela, com a voz entrecortada. ─ Isso me
envergonha...
Seus braços se contraíram.
─ Não se atreva a ter vergonha de algo tão bonito. - Ele sussurrou em seu ouvido. ─ Nunca duas pessoas se
pertenceram mais do que nós neste momento, Bernie.
Ela engoliu em seco.
─ Você sente isso também?
Ele riu e a virou um pouco, de modo que seus quadris pressionaram aquela parte dele que era
masculina e muito dura.
─ Você sente isso?
─ Mikey! ­ Ela protestou.
─ Um homem não pode fingir isso, querida. - Disse ele em seu ouvido. ─ É tão verdadeiro quanto a
maneira como você reage quando coloco minha boca em você. - Ele recuou e olhou para ela com pura
posse. ─ Não há ninguém no mundo como você.
Ela estendeu a mão e tocou sua bochecha.
─ Ou como você. ­ Ela disse solenemente.
Ele inclinou a cabeça escura e acariciou seu seio com ternura. E respirou fundo.
─ Nós precisamos conversar.
─ Nós estamos.
─ Precisamos conversar quando estivermos ambos vestidos. - Disse ele com um sorriso divertido.
─ Oh.
Ele vestiu as roupas dela e abotoou a camisa. Quando eles estavam mais calmos, ele a puxou para a
namoradeira e segurou sua mão.
─ Bernie, não estou orgulhoso do que estou prestes a dizer a você. Mas há mais coisas sobre mim que você
precisa saber. ­ Ele respirou fundo. ─ Minha família pertenceu ao que é conhecido pelos pelas pessoas de
fora como La Cosa Nostra, por três gerações. Meu pai morreu trabalhando para eles. Estou com Tony
Garza desde os dezesseis anos. Eu não conheço nenhum outro estilo de vida.
─ Você quer dizer que você trabalha fora da lei. - Disse ela calmamente.
─ Isso é exatamente o que quero dizer. - Ele estudou seu rosto. Ela estava um pouco pálida, mas não estava
tentando fugir dele. ─ Somos como pessoas normais. Pagamos nossos impostos, vamos à igreja,
trabalhamos para causas beneficentes, todas essas coisas. Nós apenas ganhamos a vida de maneiras que não
são convencionais.
─ Eu disse que assisti os filmes O Poderoso Chefão. - Disse ela.
Ele afastou o cabelo despenteado do rosto dela.
─ Essa foi uma versão suavizada do que realmente acontece. - Disse ele após um minuto. ─ Não vou, não
posso, dizer o quão brutal pode ser. Você não se rende. E não delata seus associados. Existem penalidades
mortais para isso. Lembra do que eu disse sobre a família de Paulie?
Ela apenas concordou com a cabeça. Os olhos dela esquadrinhavam seu rosto duro como se ela o
estivesse pintando.
─ Eu poderia ser preso algum dia. - Ele persistiu. ─ Eu poderia morrer.
─ Um meteoro poderia cair na pensão e matar todos nós. - Disse ela com naturalidade. ─ Ninguém está
garantido nem mesmo mais um dia. - Ele apenas olhou para ela. ─ Não sou italiana. ­ Disse ela. ─ Isso me
tornaria uma estranha?
Ele sorriu lentamente.
─ As esposas vêm de todos os tipos de origens. - Disse ele, e notou que ela enrubesceu com a palavra. ─
Algumas são americanas. Outras italianas e espanholas, até polonesas. Mas elas têm uma coisa em comum
e isso é família. Todos nós pertencemos uns aos outros. Se você compartilhasse essa vida comigo... - Disse
ele. ─ faria parte dela. Você nunca seria uma estranha. E se alguma coisa acontecesse, qualquer coisa, você
seria cuidada enquanto vivesse. É assim que funciona.
Ela mordeu o lábio inferior. E respirou fundo.
─ Mikey, não vou melhorar. - Ela começou. ─ Não há cura para o que eu tenho. Eles podem controlar com
medicamentos, embora eu não possa pagar o tipo de medicamento que pode tornar isso mais fácil. Mas eles
não podem deter o avanço da doença. Um dia vou acabar com mãos e pés atrofiados, e mesmo que eu
consiga andar com uma bengala no início, há uma boa chance de que um dia eu esteja em uma cadeira de
rodas. - Ela disse isso sem um pedido de compaixão. Ela apenas declarou isso como um fato.
Ele ergueu o queixo dela.
─ Eu posso viver com suas limitações. Você pode viver com minha profissão?
Ela apenas acenou com a cabeça. Não disse uma palavra. Não precisava.
Ele a envolveu em seus braços e apenas a embalou lentamente, com o rosto em sua garganta. Eles
ficaram sentados assim por um longo tempo até que houve uma breve batida e o som de uma chave na
fechadura.
Sari espiou pela porta e começou a rir.
─ E eu estava com medo de ter que correr para salvar minha vida quando abrisse esta porta...
Mikey e Bernie riram.
Mikey se levantou e a puxou para o lado dele.
─ Estávamos conversando sobre o futuro. - Disse ele, sorrindo. ─ E ele parece ótimo.
─ Ótimo, de fato. - Bernie disse com um longo suspiro enquanto olhava para ele.
─ É melhor eu levá-la para casa. - Disse Mikey. ─ Ela tem que trabalhar amanhã.
─ Eu sei. Eu também. - Sari lamentou.
─ Calma, calma. ­ Bernie a confortou. ─ Mas sempre há o próximo fim de semana!
Todos eles riram.

***

Mikey a levou de volta para a pensão e a deixou na porta com um beijo discreto na testa porque a
Sra. Brown estava à espreita.
─ Foi um dia agradável. ­ Obrigada. ─ Disse Bernie.
─ Foi um de muitos que virão. - Respondeu ele. E sorriu para ela com o coração nos olhos. ─ Vejo você de
manhã, garota. Bons sonhos.
─ Oh, eles serão bons, certamente. - Ela sussurrou, e então corou.
Ele enrugou o nariz para ela e piscou.
Ela o observou por todo o corredor antes de voltar para o quarto e fechar a porta.

***

O trabalho foi difícil. A felicidade de Bernie a fez brilhar como uma árvore de Natal e ficou evidente.
Olivia a provocou. Mas Jessie assistiu e fumegou. Ela estava furiosa porque uma camponezinha como
Bernie, que provavelmente acabaria vivendo de pensão por invalidez, atraiu um homem que poderia
comprar metade de um condado com alguns trocados. Mikey era sofisticado, bonito e rico. Jessie o queria,
e ela não conseguia agradá-lo. Ele a evitava como uma praga quando estava na cidade.
Devia haver alguma maneira de tirá-lo da vida de Bernie para que ela tivesse uma chance com ele.
Ser rude e desagradável não adiantou nada. Mas se ela pudesse jogar um contra o outro enquanto fingia
virar uma nova página... Bem, essa era uma ideia promissora. Ela começou a traçar maneiras de conseguir
isso.
Seu primeiro passo foi parar de ser agressiva com as outras mulheres do escritório. Ela atenuou sua
atitude ruim e assumiu sua parte no trabalho, em vez de evitá-la. Se ofereceu para levar café para Olivia e
Bernie quando elas estavam atoladas com papelada, e até trouxe o almoço para elas uma vez.
Todos ficaram surpresos, até o Sr. Kemp, que na verdade elogiou Jessie por sua mudança de atitude.
Nada havia mudado, exceto que Jessie estava tentando eganar a todos. Mas ela sorriu e fez o possível para
parecer humilde. Ela até se desculpou pela maneira como se comportou antes. Era difícil ser uma garota de
cidade grande em uma pequena cidade do Texas, ela explicou as outras mulheres. Ela sempre teve que lutar
para seguir em frente, de onde ela veio, e era difícil parar. Mas queria se encaixar. E iria se esforçar mais.
As outras mulheres no escritório, sem suspeitar de nada, foram afetuosas com ela.
E Jessie apenas sorriu para si mesma. Até aí tudo bem, ela pensou. Ela até perdeu o medo de ser
demitida, o que ela não podia se permitir nesse momento. Tinha um trabalho a fazer. Então ela sorriu e
atendeu o telefone e parou de flertar com homens ricos.
Bernie mencionou a mudança de atitude com Mikey em um de seus encontros e ele riu. Bernie, ele
comentou, estava influenciando a outra mulher. Ele ficou feliz em ver isso. Então, da próxima vez que ele
encontrou Jessie no tribunal, onde foi com Paul para falar com um juiz, ele sorriu e foi agradável com ela.

***
Vários dias depois, houve uma complicação. Bernie estava voltando do trabalho para a pensão,
depois de recusar uma carona de Glory, e um carro saiu da estrada, subiu o meio-fio e por pouco não a
atropelou. Ele foi embora em alta velocidade enquanto ela estava se levantando. Ela estava muito abalada.
Pegou sua bolsa e sua bengala, e tremia enquanto tentava recuperar o fôlego. Foi um carro que perdeu o
controle acidentalmente ou foi deliberado? Ela preocupou-se com a questão durante todo o caminho para
casa.
Ela teria contado a Mikey, mas ele estava fora da cidade a negócios. Ele mencionou na pensão que
teria que se encontrar com um dos delegados de polícia em San Antonio, mas estaria de volta a tempo para
um encontro que haviam combinado para sábado. Ele e Bernie haviam planejado uma viagem turística a
San Antonio porque tinham muitos acompanhantes. Bernie sempre quis visitar o Álamo, mas nunca houve
tempo desde que ela se tornou adulta. Agora ela esperava ver aquela parte da história do Texas com o amor
de sua vida

***
Mikey a pegou na limusine, com Santi ao volante, logo depois que ela saiu do trabalho à uma hora no
sábado. Ela estava vestindo um suéter bege, saia com sapatilhas e uma bengala que combinava com sua
roupa.
─ Coordenação de cores, hein? ­ Mikey brincou enquanto a ajudava a se sentar no banco de trás e sentava
ao lado dela.
─ Eu gosto que as coisas combinem. - Ela brincou.
Ele indicou o terno bege que vestia com uma camisa branca e uma gravata marrom estampada.
─ E nós combinamos. - Ele riu.
Ela sorriu.
─ Nós de fato combinamos.
─ Eu queria ver o Alamo quando estive aqui da última vez, quando Merrie estava em apuros. Mas nunca
tive tempo. Vocês, texanos, têm muito orgulho disso, não é?
Ela assentiu.
─ Nós realmente temos.
Ele suspirou.
─ Não sei muito sobre história, nem mesmo de Jersey. - Comentou. ─ Bem, talvez um tipo de história, mas
não é contada em boa companhia. - Ele riu.
─ Eu não vou perguntar. ­ Ela respondeu, sorrindo para ele.
─ Você não tem usado a bengala ultimamente. ­ Ressaltou. ─ Teve uma crise?
─ Bem, na verdade não. Tive uma queda outro dia no caminho do trabalho para casa.
Ele fez uma careta.
─ Uma queda?
Ela assentiu. E mordeu o lábio inferior. Ela não queria mencionar isso.
─ Um motorista perdeu o controle do carro e subiu o meio-fio por onde eu caminhava. Não me acertou por
poucos metros. - Acrescentou ela.
─ Que tipo de carro? ­ Ele perguntou com uma raiva mal disfarçada.
Ela piscou.
─ Esse é o problema, eu realmente não tive tempo de notar. Eu caí e, enquanto me levantava, ele fugiu.
─ Carro grande, pequeno?
Ela franziu o cenho.
─ Médio.
─ Que cor?
Ela tentou se lembrar de como era.
─ Eu acho que era escuro. Não era preto, mas não era um carro colorido, como azul, vermelho ou qualquer
coisa assim.
Ele parecia preocupado. Ele pegou o celular e mandou uma mensagem para alguém. Ela não sabia
dizer quem.
─ Eu não acho que foi deliberado, Mikey. - Ela adicionou suavemente. ─ Quer dizer, não foi direto para
mim.
─ Avisos, não precisam. - Disse ele secamente. E digitou um pouco mais.
Seu coração deu um salto. Ele estava pensando que poderia ser um inimigo dele. Mas ela estava
pensando que poderia ser um inimigo de sua família, alguém que rastreou o único membro sobrevivente e
tentou vingar um ente querido. Não seria a primeira vez que isso acontecia. Isso a preocupou.
Ele desligou o telefone.
─ Eu gostaria que você tivesse me contado antes. - Disse ele. Sua grande mão se estendeu e tocou
levemente seu longo cabelo. ─ Eu não suportaria se alguma coisa acontecesse com você, Bernie.
Ela sorriu.
Ele pegou a mão dela e a segurou com força. Ele se recostou no assento, claramente preocupado.
─ Mandei uma mensagem para Paulie. Você contou a Sari sobre isso?
─ Não. - Ela disse. ─ Ela esteve no tribunal a semana toda e então teve que ouvir o depoimento de uma
testemunha em um caso de agressão que ela está processando. E sinceramente, também estivemos muito
ocupados no trabalho durante toda a semana.
Ele estava pesando. Sabia que Cotillo estava atrás dele, que o homem também poderia mirar em
Bernie. Mas não era assim que Cotillo fazia negócios. Ele já havia enviado um assassino atrás de Mikey.
Era assim que ele lidava com as ameaças. Jogar um carro para cima de uma mulher e errar por vários
metros, não era assim que um homem acostumado à violência fazia negócios.
A mão de Bernie apertou a dele.
─ Talvez tenha sido apenas um acidente. - Disse ela. ─ As pessoas perdem o controle de seus carros por
todos os tipos de razões.
─ Sim. Elas fazem. Mas é suspeito.
Ela encostou a cabeça no ombro dele ombro e riu.
─ Esse é você. Desconfiado.
Ele beijou o topo da cabeça dela.
─ Eu passei minha vida inteira sendo desconfiado. É por isso que ainda estou vivo, garota. - Ele a
provocou.
─ Eu suponho que sim. ­ Ela olhou nos olhos dele. ─ Poderia ser alguém do meu próprio passado, do
passado da minha família, ainda procurando vingança. Papai quase foi morto uma vez por isso.
─ Há quantos anos foi isso? ­ Ele perguntou.
─ Bem, alguns. ­ Ela lembrou.
─ É mais provável que seja alguém conectado a mim. - Disse ele. ─ Mas, em qualquer caso, os federais
vão resolver isso. - Ele passou o braço pelos ombros dela. ─ Sua colega de trabalho Jessie mudou. - Ele
comentou. ─ Até Paulie disse que Sari está falando sobre isso. ­ Ele olhou para ela. ─ Ela está fingindo?
Ela riu.
─ Você realmente é desconfiado. Ela disse que é difícil vir da cidade grande e se acostumar com uma
cidade pequena, que ela estava acostumada a ter que ficar atenta às pessoas.
─ Ela disse que cidade?
Ela balançou a cabeça.
─ Ela veio de San Antonio para cá. Mas é de algum lugar ao norte, eu acho, como a amiga dela Billie que
trabalha no tribunal. Elas ficam juntas.
Ele franziu a testa. Ele não havia considerado que as duas eram do norte.
─ Elas estão aqui há muito tempo?
─ Na verdade não. Jessie está aqui há apenas algumas semanas. Acredito que ela e a amiga se mudaram
juntas de San Antonio. Billie conhecia alguém no tribunal que queria uma secretária temporária depois que
a dele adoeceu. Eles também conhecem a cozinheira do Barbara's Café, ela é de Nova Jersey.
Mikey sentiu seu coração parar e recomeçar a bater. Ele não estava fazendo as perguntas certas. Nem
Paulie. E se as duas mulheres e a cozinheira fizessem parte do bando de Cotillo? No mínimo, o momento
estava certo. Ele iria sugerir a Paulie que arranjassem alguém para ficar de olho naquelas três também. Era
muito conveniente para ser uma coincidência.
─ Você está preocupado. ­ Disse ela, interrompendo seus pensamentos.
Ele sorriu para ela.
─ Nada importante. ­ Disse ele. ─ Só pensando. Vamos ver o Álamo. Não se preocupe por hoje, pelo
menos. OK?
Ela sorriu.
─ OK!

***

Eles caminharam ao redor do antigo forte como turistas, de mãos dadas e observando as folhas
caindo das árvores.
─ Vai ser Halloween na próxima semana. - Ele ressaltou.
Ela sorriu para ele.
─ Vamos brincar de doces ou travessuras, então?
Ele começou a rir.
─ Oh, isso ficaria para a história, não ficaria?
─ Eu costumava ir quando era pequena. - Ela lembrou. ─ Mamãe e papai me levavam de porta em porta a
alguns dos bairros amistosos de San Antonio para que eu pudesse pegar doces. Tínhamos apenas alguns
vizinhos próximos, e eles não comemoravam nada.
─ Paulie e eu saíamos com um bando de caras do nosso bairro - Lembrou Mikey. ─ Em uma casa, uma
velhinha sempre nos convidava para um chocolate quente. Isso era o máximo. Ela foi empresária em
Hollywood quando jovem. Ela contava tantas histórias!
─ Tenho certeza.
─ Eu imagino que as crianças em Jacobsville se divertem no Halloween. E nos outros feriados.
─ Elas se divertem. Porém, o Natal é a melhor época. Eles estendem guirlandas de azevinho e luzes por
todas as ruas e através delas. Há árvores de Natal em todos os lugares, e a loja de brinquedos local tem
trens passando pela vitrine. ­ Ela suspirou. ─ É simplesmente mágico.
Ele deu uma risadinha. Sua mão apertou a dela.
─ A vovó sempre tornou o Natal especial para mim e para Paulie. - Disse ele. ─ Claro, tínhamos que ir
com ela à missa da meia-noite toda véspera de Natal e durava algumas horas. Você sabe como são as
crianças. Nós nos contorcíamos e sofríamos, mas não ousávamos reclamar. Ela era assustadora para uma
velhinha minúscula. - Acrescentou.
Ela sorriu.
─ Eu sei o que você quer dizer. ­ Seus olhos estavam tristes. ─ Minha avó era tão meiga. Ela sempre levava
comida para a família de uma pessoa que morreu e sentava com pessoas doentes. Ela era maravilhosa. Meu
avô era violento e perigoso. Papai disse que vovô teve muitos problemas com a lei quando era jovem. Mas
nunca pensei que ele faria algo tão terrível.
─ Escute, garota, muitas pessoas fazem coisas terríveis que nunca planejaram. Crianças usam drogas e
matam pessoas. Os idosos ficam com demência e matam pessoas. Os alcoólatras vão para o volante de
carros e matam pessoas. Eu não acho que a maioria deles sai com a ideia de que vai fazer mal.
Simplesmente acontece.
─ Eu nunca usei drogas. ­ Disse ela.
Ele riu suavemente.
─ Por que não estou surpreso?
Ela encostou a cabeça no braço dele.
─ Eu sou previsível.
─ Muito. Eu amo isso. ­ Ele sussurrou.
Ela deu um longo suspiro.
─ Nunca estive tão feliz em toda a minha vida.
─ Nem eu, bebê. ­ Ele disse suavemente.
Ela olhou para ele e ele olhou para trás, e o mundo desapareceu.
Foi preciso uma buzina na rua para trazê-los de volta à realidade, e os dois riram.

***

Eles caminharam pelos corredores escuros do Álamo, pararam na porta do Long Barracks,* olharam
para o grafite nas paredes onde a última resistência havia sido realizada. Eles estavam solenes ao entrarem
na loja de lembranças.
─ É uma história triste. ­ Comentou ela.
─ A maior parte da história é triste. - Ele respondeu. ─ A vida é violenta.
─ Suponho que sim.
─ O que você gostaria? ­ Ele brincou, indicando os presentes na vitrine de vidro. ─ Vamos. Seja ousada.
Escolha algo ultrajante.
Ela olhou para ele, procurando seus olhos escuros. Ela olhou para as prateleiras e quando a
vendedora se aproximou, ela indicou um lindo anel turquesa incrustado.
A mão de Mikey apertou a dela.
─ Sim. - Ele disse baixinho.
A vendedora lhe entregou o anel e ela começou a experimentá-lo na mão direita, mas Mikey a
interrompeu e deslizou em seu dedo anelar esquerdo, os olhos fixos nos dela. Foi um ajuste perfeito.
─ Nós ficaremos com ele. ­ Disse Mikey.
A vendedora pegou o cartão de crédito que ele lhe entregou enquanto Bernie tocava no lindo anel.
─ Você pode pensar nisso como um anel de noivado até que possamos fazer a coisa certa. - Ele sussurrou
em sua testa.
Ela prendeu a respiração e lutou contra as lágrimas enquanto olhava para os olhos escuros famintos.
─ Um anel de noivado? ­ Ela perguntou.
─ Eu não posso deixar você ir. ­ Disse ele calmamente. ─ Eu não teria mais vida. Aconteça o que
acontecer.
Ela mordeu o lábio inferior.
─ Aconteça o que acontecer, Mikey. - Ela sussurrou com voz rouca.
E simplesmente, eles estavam noivos.

***

* Long Barracks Álamo - Era um forte, fundado por uma expedição missionária espanhola que tinha como objetivo catequizar os indígenas, convertendo -os ao
catolicismo. O nome oficial dessa expedição missionária era Mission San Antonio de Valero, que também era o nome original desse forte. O forte consistia
numa igreja e algumas construções, erguidas no início do século 18. Nos dias atuais é um museu.
A Sra. Brown chorou ao ver o anel e ouvir a história.
─ É um anel adorável! ­ Ela disse.
─ Ainda não é um diamante. ­ Mikey riu. ─ Mas está no lugar de um. Tenho que mandar uma mensagem
de texto para Paulie e contar a ele. - Ele se curvou e beijou a bochecha de Bernie. ─ Tenho que ir a San
Antonio amanhã, mas faremos isso de novo no próximo fim de semana, ok?
─ Ok. ­ Ela disse suavemente.
─ Vejo você no café da manhã, querida. Durma bem.
Ela se esticou e o beijou no rosto.
─ Você também.
Ele riu.
─ Eu duvido que vou pregar o olho. - Ele sorriu, sorriu para a Sra. Brown e foi até seu quarto.
─ Parabéns. ­ Disse a Sra. Brown.
Bernie a abraçou.
─ Estou tão feliz! ­ Ela exclamou. E então as lágrimas, finalmente, caíram.

***

Bernie mostrou seu anel no trabalho. Olivia ficou radiante, assim como Glory. E quando Sari viu, ela
apenas abraçou Bernie.
─ Ele nunca foi o tipo de homem que quis se estabelecer e levar alguém a sério. - Disse Sari a Bernie. ─
Mas posso ver por que ele quer isso com você.
─ Eu e minhas limitações. ­ Disse Bernie com um suspiro. ─ Ele poderia ter qualquer mulher que quisesse.
Alguém jovem, bonita e, bem... saudável.
─ Oh, você vai ficar bem. ­ Disse Jessie, e até sorriu. ─ Os homens não pensam nos obstáculos. Eles
simplesmente avançam quando querem alguma coisa. Parabéns. - Acrescentou ela.
─ Obrigada. ­ Respondeu Bernie.
Jessie percebeu que ninguém percebeu que ela estava sendo totalmente falsa. O que funcionou a seu
favor.
Mais tarde naquele dia, Billie a alertou para o fato de que Mikey estava no tribunal com seu primo
Paul, conversando com um homem de terno preto.
─ Vou almoçar cedo, então estarei aqui quando todas vocês forem embora, está tudo bem? - Jessie
perguntou a elas.
─ Claro. - Disse Glory.
─ Não demorarei muito. ­ Acrescentou ela, e sorriu novamente. Elas eram tão ingênuas, pensou
presunçosamente ao sair. Ninguém suspeitava de nada.

***

Mikey estava sozinho depois que Paul e o homem de terno foram para um escritório próximo. Jessie
caminhou até ele.
─ Oi. ­ Ela disse despreocupadamente. ─ Como vai? Ouvimos sobre o noivado. Parabéns!
Ele sorriu.
─ Obrigado.
Ela suspirou.
─ Eu sei que você será feliz com ela. ­ Ela fez uma careta. ─ É que ela estava falando sobre o seu passado,
sabe? Eu não pude deixar de ouvir.
Ele sentiu seu rosto ficar tenso.
─ Sobre o meu passado?
─ Ela é tão honesta. ­ Ela continuou. ─ Não é surpreendente que ela ficasse chateada quando soube que sua
família tinha ligações com o crime organizado. Ela disse que deu sua palavra e iria mantê-la, mas não sabia
como iria viver com um homem acusado de assassinato, um homem que vivia com outros homens que
matavam pessoas sem remorso. ­ Ela sorriu tristemente. ─ Eu realmente sinto muito. Acho que não deveria
ter mencionado isso...
─ Não, está tudo bem. - Disse ele. ─ Sério.
─ Ela mesma nunca diria a você. ­ Acrescentou Jessie. ─ Ela é tão meiga. - Ela fez uma careta. ─ Vai ser
difícil para ela se acostumar com outro estilo de vida. Mas, ela é jovem. Vai se adaptar, certo?
─ Certo. ­ Disse ele, mas não parecia convencido.
Ela olhou para o relógio.
─ Opa, vou me atrasar para voltar. Passei para ver o que Billie queria para o almoço. Eu vou trazer para
ela. ­ Ela sorriu para ele. ─ Eu tenho dois tios que trabalhavam para um chefe do crime local em Nova
York. - Disse ela. E deu de ombros. ─ Eu não tenho nenhum problema com isso. Mas algumas pessoas, não
entendem muito bem a vida. Até logo.
─ Sim. Até logo.
Ela caminhou em direção ao escritório de Billie, sentindo-se orgulhosa. Tinha acabado de colocar a
primeira pedra no relacionamento dele com Bernie. Ela o desequilibrou. Agora era apenas uma questão de
mantê-lo por aqui para algumas pessoas que ela e Billie conheciam.
O próximo passo seria conversar com Bernie e contar uma história semelhante sobre Mikey.
Engraçado como era fácil fazê-los acreditar em coisas um sobre o outro. Mas ela conhecia pessoas como
Mikey. Ele nunca perguntaria diretamente a Bernie se ela havia dito essas coisas porque ele realmente não
gostaria de saber. Ele teria medo de ferir os sentimentos dela acusando-a disso, e é claro que ela negaria,
porque não era verdade. Mas ele teria dúvidas. Grandes dúvidas. Jessie iria torná-las ainda maiores.

CAPÍTULO DOZE
Mikey voltou para San Antonio com Paulie para falar com os federais e estava mal-humorado. Bernie
poderia se sentir assim sobre seu estilo de vida e não estar disposta a dizer a ele? Ela certamente ficou
chocada quando ele lhe contou sobre o que aconteceu com o homem que matou a família de Paulie. Bem,
ele não confessou que ordenou a morte dele, embora o tenha feito. O que ele disse a ela foi o suficiente
para chocá-la, mesmo sem isso. Ele tinha sido muito sincero? Talvez ele devesse ter esperado até que eles
se conhecessem melhor antes de confessar o quão cheia de violência e turbulência sua vida tinha sido.
─ Sari alguma vez teve problemas com o seu passado? - Perguntou ao primo, que os conduzia em um
Bucar, o tipo de veículo usado pelo FBI.
Paul franziu a testa.
─ Bem, ela não ficou muito feliz, se é isso que você quer dizer. Ela é promotora assistente.
Verdadeiramente honesta. Acho que isso a incomodou um pouco, mas ela me amava o suficiente para não
deixar isso importar. Por quê? Bernie está tendo dúvidas? Ela disse a Sari que vocês dois acabaram de ficar
noivos.
─ Nós ficamos. Mas eu disse a ela muito sobre minha vida. - Mikey disse calmamente. ─ Ela tem violência
em seu próprio passado, algo trágico. Mas na vida dela foi causado por um parente desequilibrado. Eu não
sou desequilibrado. Eu tenho sido um cara mau, Paulie. Não tenho certeza se ela pode construir uma vida
comigo, do jeito que ela é.
─ Você deveria falar com ela.
─ E dizer o quê? Eu vou mudar? Que vou ser honesto e trair minha família? Sem chance, e você sabe por
quê. Você entra nesse ramo para o resto da vida. Ninguém sai, exceto de pés juntos.
─ Marcus Carrera saiu. - Paul comentou.
─ Sim, Carrera. Bem, ele era um peixe grande e as pessoas morriam de medo dele. Claro que ele saiu. Ele
sempre fez suas próprias regras. Eu não sou Carrera. Eu sou um peixe pequeno, comparado a ele.
─ Você é dono de um cassino em Vegas. ­ Paul o lembrou secamente. ─ Você dirige um Rolls na sua
cidade. Você tem milhões em bancos estrangeiros. E as pessoas também têm medo de você, cara.
─ Sério?
─ Sério.
Um canto de sua boca puxou para baixo.
─ Bem, isso não importará muito se eu virar as costas para o grupo.
─ Infelizmente, não, não vai. Ei, sempre há o programa de proteção a testemunhas. - Brincou Paul.
─ Eu percebi como isso funcionou bem para o cara que delatou um dos chefões. Ele foi atingido em
custódia protetora, não foi? - Mikey riu.
─ Ele foi.
─ Você não sai. Inferno, eu não quero sair. ­ Mikey murmurou. ─ É a única vida que conheci, desde que
éramos crianças. Gosto de fazer parte de uma grande família. Gosto do estilo e do prestígio.
─ Bernie vai gostar? Ela é mais uma garota de borboletas e flores silvestres do que uma vedete.
─ Sim. Eu sei disso. Mas ela é tão meiga, Paulie. ­ Ele respondeu tristemente. ─ Ela é o ser humano mais
doce que já conheci. E eu não acho que posso desistir dela, a menos que ela queira. Mesmo assim, não sei
como poderia continuar sem ela. Faz apenas algumas semanas e fico solitário quando não estou com ela.
─ Foi assim comigo quando eu estava sonhando com Sari e pensando como tudo era sem esperança. Ela
valia duzentos milhões e eu trabalhava por um salário.
─ Você ainda está trabalhando por um salário. - Observou Mikey.
─ Não sou o tipo de cara que fica em casa. Eu amo meu trabalho. ­ Ele olhou para Mikey. ─ Então o que
você vai fazer?
─ Enrolar até eu ter certeza de que ela pode lidar com isso. Então vou levá-la ao juiz de paz mais próximo
antes que ela mude de ideia. - Ele riu.

***

Bernie, enquanto isso, ainda estava se deleitando com a glória de seu primeiro pedido de casamento e
ansiosa por anos de felicidade com Mikey.
As outras se preparavam para almoçar. Bernie se levantou um pouco vacilante e pegou sua bengala.
─ Dia difícil, hein? ­ Jessie perguntou em um tom gentil.
─ Só um pouco. ­ Confessou Bernie. ─ Eu tive uma queda feia no meu caminho para casa outro dia. Um
carro perdeu o controle e quase me atingiu.
─ Puxa, aqui em Jacobsville? As pessoas precisam aprender a dirigir! - Jessie murmurou.
─ Exatamente o que eu estava pensando.
─ Bernie, vamos esperar por você lá fora. - Glory gritou enquanto saíam pela porta.
─ Já vou. ­ Disse ela, pegando a bolsa.
─ Mikey estava no tribunal quando fui levar o almoço de Billie. - Disse Jessie. E fez uma careta. ─ Eu
realmente não deveria dizer a você o que eu o ouvi dizer ao primo.
O coração de Bernie falhou uma batida em seu peito.
─ O que? - Ela perguntou, e parecia um pouco ofegante de preocupação.
Jessie suspirou.
─ Ele disse ao primo que estava preocupado com como você estaria em alguns anos, porque a avó deles
tinha o que você tem, e ela estava retorcida como raízes de árvores e quase incapaz. Ele disse que seria
difícil viver com alguém tão doente. Mas que tinha feito uma promessa e iria cumpri-la. Ele disse que ia se
casar com você porque prometeu. Mas que seria como arrancar um dente. Ele estava acostumado com
mulheres que conseguiam acompanhar o ritmo dele. Ele viaja pelo mundo todo em trabalhos para a família,
passa férias em países estrangeiros. Ele não sabia como você conseguiria viajar. É difícil para uma mulher
saudável, mas você nunca iria acompanhar. Ele disse... - Acrescentou ela com olhos tristes. ─ que não
parou para pensar por que estava apaixonado por você, e então era tarde demais para voltar atrás depois de
pensar nas dificuldades.
─ Eu entendo. ­ O coração de Bernie estava batendo como um tambor. Ela se sentiu internamente mal.
─ Eu sabia que não devia ter contado. ­ Jessie gemeu. ─ Eu sinto muito. Mas achei que você deveria saber.
Quero dizer, ele mesmo nunca lhe diria.
─ Claro que não diria.
─ Por favor, não diga a ele o que eu contei. ­ Jessie implorou. ─ Eu não quero fazer dele um inimigo. Ele
se vinga das pessoas. Você não sabe o quão perigoso ele é. - Acrescentou ela. ─ Eu venho do norte. Ouvi
coisas sobre ele. Ele assusta as pessoas. Mesmo pessoas más. - Ela riu fracamente. ─ Eu não quero acabar
flutuando em um rio...
Bernie sentiu-se mal. Até Mikey havia insinuado algo do tipo, que ele tinha poder em sua
organização. Ela se lembrou do que ele disse sobre cuidar do homem que matou a primeira esposa e a filha
de Paul. Isso a deixou gelada.
─ Não, claro que não vou contar.
─ Obrigada. Lamento profundamente. Eu sei que você é louca por ele.
Bernie esboçou um sorriso. Ela não respondeu. Saiu para a rua com suas colegas de trabalho e fingiu
que nada havia acontecido. Mas estava arrasada.

***

Jessie sorriu para si mesma. Ela iria colher grandes recompensas por seus pequenos atos de
"bondade". Desequilibrar Mikey foi o primeiro passo. Agora Bernie estava com dúvidas. A próxima coisa
iria acontecer exatamente como eles planejaram. E assim por diante.

***

Eles passaram muito tempo no tribunal do condado de Jacobs, Mikey estava pensando enquanto
esperava Paulie sair de um escritório onde ele estava comparando notas com um contato no escritório do
juiz.
Ele estava olhando para uma placa na parede, indicando a construção do tribunal quase sessenta anos
atrás, e os nomes dos homens da comissão do condado que autorizaram a construção. Mais abaixo, na
parede, havia retratos de juízes, muitos deles desaparecidos. Ele estava entediado demais.
─ Que bom ver você aqui de novo. - Disse Jessie com um sorriso. Ela estava carregando uma caixa com
comida e uma xícara de café dentro. ─ Vim trazer o almoço para a pobre Billie. Ela machucou o pé e não
pode andar muito.
─ Como vai você? ­ Ele perguntou, e sorriu, porque ela realmente parecia ter mudado na última semana.
Ela deu de ombros.
─ Não posso reclamar. É difícil acostumar com esses texanos. ­ Ela riu. ─ Eles não são como as pessoas do
norte.
─ Ninguém é. De onde você é?
Ela hesitou.
─ Originalmente do norte do estado de Nova York. Você?
─ Jersey. ­ Disse ele. E sorriu. ─ O sotaque não denuncia?
─ Sim, mais ou menos. ­ Ela inclinou a cabeça e o estudou. ─ Já ouvi falar da sua família. Você foi
subchefe de Tony Garza, não foi? Lamento por ele. Ele era um cara decente.
─ Ele ainda é. ­ Disse Mikey.
─ Eu realmente sinto muito que Bernie tenha tanta dificuldade com seu estilo de vida... - Ela parou e cerrou
os dentes. ─ Não quis dizer isso. ­ Acrescentou ela rapidamente.
Ele fez uma careta.
─ O que você quis dizer?
─ Bem, é só... ­ Ela hesitou. ─ Bernie não entende o mundo de onde você vem e ela tem medo dele.
Ele sentiu seu coração afundar.
─ Ela lhe disse isso? - Ele perguntou desconfiado.
─ Claro que não. Ela nunca falaria comigo sobre você. - Disse ela. ─ Eu lhe falei sobre isso antes, lembra?
Eu a ouvi conversando com Olivia, a outra assistente jurídica em nosso escritório. Ela disse que era louca
por você, mas que não tinha certeza se conseguiria lidar com a maneira como você ganhava a vida. Ela
disse que nunca se encaixaria com um bando de... bem... criminosos.
Ele mal conseguia encontrar as palavras. A dor percorreu todo o seu corpo. Ele duvidou da aceitação
de Bernie sobre o que ele era, e sobre ela dizer que não importava. Mas ela era uma garota que nunca
trapaceou em nada. Ela teve um passado trágico que a predispôs a amar a polícia. Afinal, eles a salvaram e
a seu pai de um assassino em potencial após a tragédia que seu avô causou.
Aparentemente, ele não estava pensando direito. Melhor, ele esteve pensando com o coração em vez
de com o cérebro. Bernie não era como ele. Eles tinham origens diferentes, e ela não entendia as forças que
transformaram sua família em um elemento criminoso ao longo dos anos. Os escândalos da era Kennedy, a
identificação das cinco famílias,* e a dispersão dos chefões foi uma ofensiva por atacado contra o crime
organizado. E foi bem-sucedida em grande parte. Ainda havia chefes como Tony, que comandavam o
poder, mas não havia mais Comissão* real que se reunia e decidia quem era atingido, quem tinha qual
território, que políticos apoiar. Agora os chefões eram amplamente autônomos até cruzarem a linha.
Ninguém gostava de chamar atenção para a máfia que sobrou, e quem fazia isso era punido.
Principalmente, os dias de exterminar os parentes de um homem para servir de exemplo acabaram. Mas
ainda havia renegados que retribuíam com sangue os insultos. Cotillo era um deles. Isso nunca iria
realmente acabar enquanto houvesse pessoas loucas por poder no circuito.
─ Sinto muito. ­ Jessie estava dizendo. ─ Eu não deveria ter dito nada.
─ Não é nada que eu já não estivesse pensando. - Confessou.
─ Você mora na via rápida. Carros rápidos, mulheres fáceis, dinheiro disponível. ­ Disse ela. ─ Bernie
gosta de shows de bandas no parque e de assistir televisão no quarto. ­ Sua boca se torceu. ─ Não é uma
boa combinação.

*A Máfia surgiu no sul da Itália na época medieval. Seus membros eram agricultores proprietários de pequenas terras que eram explorados e roubados pelos
poderosos senhores feudais donos de grandes terras. Então, vários camponeses se uniram e lutaram para vencer os poderosos donos de terras. No decorrer dos
anos, várias pessoas se juntaram aos camponeses com o mesmo intuito de se proteger, foi então que começaram a sistematizar um esquema de proteção e de
expansão de negócios, punindo os que não pagassem.
* A família Kennedy se viu envolvida em vários escândalos ao longo dos anos, em uma reportagem, um dos chefões da máfia afirmou que Joe Kennedy, pai de
JFK era seu "sócio" no contrabando de bebidas durante a Lei Seca e que a campanha de JFK foi financiada pela máfia. E depois que kennedy assumiu o governo
a máfia foi perseguida.
*Cinco Famílias é o grupo que, desde 1931, reúne as cinco famílias que têm dominado a máfia da cidade de Nova Iorque, nos EUA. Os nomes das famílias
envolvidas foi divulgado em 1963, com a prisão do delator Joe Valachi. Após sua detenção, Valachi se tornou um informante da polícia e forneceu os nomes dos
principais envolvidos com a máfia. Em seus depoimentos, ele relatou que o controle da Máfia nova -iorquina estava nas mãos de cinco chefões, cada qual
relacionado a uma família: Tommy Lucchese, Vito Genovese, Carlo Gambino, Joe Bonanno e Joseph Colombo (que sucedeu Joe Profaci, em 1959). Estas
organizações eram chefiadas por um líder, que ocupava um cargo conhecido como Capo di tutti i capi(chefe de todos os chefes).
*A Comissão era formada pelas cinco famílias mais poderosas.
─ Não. ­ Ele gostaria de poder esquecer o que ela lhe disse sobre Bernie, no outro dia e agora. Mas sabia
que era verdade. Ele viu a maneira como Bernie reagiu quando descreveu sua vida para ela. Ela disse que
poderia lidar com isso, que não importaria. Isso teria importância.
─ Por favor, não diga a Bernie que eu disse a você. ­ Disse ela suavemente. ─ Eu odiaria que ela ficasse
com raiva de mim agora que estamos nos dando tão bem.
─ Não vou mencionar isso a ela. ­ Disse ele distraidamente, e estava pensando que não havia como discutir
o assunto com Bernie sem colocá-la na defensiva, deixando-a com vergonha de seus sentimentos. Ele não
podia culpá-la. Seu estilo de vida seria difícil para qualquer mulher, a menos que ela viesse de uma origem
semelhante. Ele estava vivendo um sonho. Foi um sonho doce. Mas não era real.
─ É melhor eu levar o almoço de Billie para ela. Bom ver você. ­ Ela se afastou com um sorriso. Era
melhor não exagerar.
Paul saiu do escritório do juiz com um olhar preocupado. Ele ficou ao lado de Mikey e eles saíram.
─ Harvey... ­ Disse ele, referindo-se a seu contato interno. ─ me disse que Billie e Jessie, do escritório de
Sari, chegaram aqui ao mesmo tempo. É um pouco cômodo demais para ser coincidência.
─ Você acha que elas estão com Cotillo? ­ Mikey perguntou.
─ Elas poderiam estar. Faremos uma investigação completa sobre elas. E aquele carro que quase atingiu
Bernie? Ela lhe contou alguma coisa sobre isso?
Ele balançou a cabeça e enfiou as mãos nos bolsos da calça.
─ Só que era um sedan escuro. Aconteceu muito rápido. ­ Ele olhou para Paul. ─ Você sabe sobre o avô de
Bernie e o que ele fez?
Paul concordou.
─ Coisa trágica para acontecer a uma criança. Houve um sério atentado contra a vida do pai dela não muito
depois do ocorrido, por um membro da família de uma das vítimas. Ele está cumprindo pena.
─ Ela disse que pode ter sido alguém assim, tentando assustá-la. ­ Mikey franziu a testa. ─ Não é o estilo
do Cotillo, sabe? Ele manda matar pessoas se tiver algum problema com elas, como tentou comigo e com
Tony. Ele não faz ameaças.
─ Nem você. ­ Paul murmurou.
─ Ei, eu sou o que sou. ­ Ele caminhou ao lado de Paul. ─ Tenho pensado melhor sobre este noivado. -
Confessou.
─ O que? ­ Paul parou no meio da calçada. ─ Mas você é louco por Bernie. Ela é louca por você!
Mikey respirou fundo e sorriu cinicamente.
─ Ela gosta de cidades pequenas e shows de bandas, Paulie. Ela nunca teve problemas com a lei em sua
vida. Como ela vai se sentir convivendo com pessoas sofisticadas e influentes, misturando-se com
celebridades e vigaristas, usando roupas de grife, viajando pelo mundo comigo quando eu tiver pessoas
para conhecer? Como ela vai se sentir se eu for preso por alguma coisa?
Paul inspirou profundamente.
─ Eu não sei. Eu não vivo nesse mundo. Eu nunca vivi.
─ Bem, eu vivo. Eu tenho que viver. ­ Ele fez uma careta. ─ E há que considerar a saúde dela. Lembro-me
de nossa avó. Ela ficou torcida como uma árvore em um furacão. Ela estava na cama a maior parte do
tempo no final. Ela ficava chateada e tinha crises, lembra disso? Bernie ficaria estressada o tempo todo.
Isso afetaria sua saúde.
─ Você já pensou muito. ­ Disse Paul. Ele não estava dizendo nada, mas seu tom estava cheio de
curiosidade e suspeita.
─ Sim. Ela é a mulher mais gentil que já conheci. Eu gostaria que ela continuasse assim. Envolvida comigo
para o resto da vida? Isso iria... destruir algo nela.
Paul não falou. Ele sabia que o estilo de vida de Mikey envolvia estresse. Mas ele nunca tinha visto
Mikey envolvido com qualquer mulher tanto quanto estava envolvido com Bernie. Ele acreditava que o
amor resolveria todos esses problemas. Mikey claramente não acreditava.
─ O que você vai fazer? - Paul perguntou.
─ Calma. Me afastar aos poucos, assim não parece que a estou jogando para fora da minha vida. - Ele
sorriu tristemente. ─ Eu quero que ela seja feliz. Eu não posso dar a ela o tipo de vida que ela merece.
─ Você, sendo altruísta. Ligue para os jornalistas. - Disse Paul.
Mikey riu.
─ Fora do normal, não é? - Ele concordou.
Paul jogou um braço em volta dele.
─ Não mais, primo. - Disse ele calmamente. ─ Mas eu sinto muito por vocês dois.
─ Eu também. ­ Disse Mikey. Seus olhos estavam tristes. ─ Eu também.
***

Mikey e Bernie estavam deprimidos no jantar na casa da Sra. Brown. Nenhum dos dois falou muito,
embora tenham participado da conversa.
Mas depois, quando Bernie começou a ir para o quarto dela, Mikey a parou.
─ Escute... - Ele começou baixinho. ─ estive pensando...
─ Eu também. ­ Ela o interrompeu.
Ela parecia tão desconfortável quanto ele.
Ele enfiou as mãos nos bolsos e sentiu seu coração arrebentar dentro dele. Ele queria dizer algo, mas
o que poderia dizer? Sua vida não era simples. E, sinceramente, ela não era o tipo de mulher que poderia se
ajustar a festas, cassinos, viagens a jato e crime organizado. Era impossível, mas ele não tinha percebido
até Jessie contar a ele o que Bernie disse.
Ele olhou para ela com ternura. Ela estava tão estranha. Pareria como se não quisesse magoar seus
sentimentos ou fazê-lo se sentir mal sobre como era o seu mundo.
Ela estava pensando a mesma coisa sobre ele, que ele não queria ferir seus sentimentos admitindo
que não poderia viver com uma mulher que poderia ser inválida um dia, uma mulher que mal conseguia
acompanhá-lo, em um ritmo lento, numa caminhada pela floresta. Ele precisava de alguém vibrante e
saudável, que pudesse prosperar em sua empresa, não uma mulher que limitaria suas atividades.
─ Pode ser uma boa ideia desacelerar, só por um tempo. ­ Mikey disse finalmente. ─ Tenho pessoas
trabalhando naquele carro que quase atropelou você. Vamos descobrir quem foi.
─ Provavelmente algum bêbado que calculou mal o meio-fio. - Respondeu ela com um leve sorriso. ─ É
uma cidade pequena. Coisas estranhas acontecem aqui.
Seus olhos escuros pareciam ainda mais escuros enquanto procuravam os claros olhos dela.
─ Nunca gostei tanto de uma coisa como desse tempo com você.
─ Eu também. - Ela confessou, e tentou não mostrar que estava morrendo por dentro.
─ Mas precisamos dar um pouco de espaço um ao outro. Só por agora. - Acrescentou ele rapidamente para
que não soasse como se estivesse tentando terminar com ela. Ele não suportaria ferir os sentimentos dela.
Ela assentiu.
─ É uma boa ideia. ­ Ela tocou o anel que estava no lugar de um anel de noivado. E começou a tirá-lo.
Sua grande mão cobriu a dela.
─ Não. ­ Disse ele, parecendo angustiado. ─ Fique com isso. O mantenha para sempre. Pense em mim
quando o usar.
Ela olhou para cima, lutando contra as lágrimas.
─ Eu nunca o esquecerei. Não importa o que aconteça.
─ Sim. É assim comigo também. ­ Ele hesitou. ─ Santi não gosta de ficar afastado de mim à noite, do jeito
que as coisas estão indo.
Seus olhos se arregalaram de preocupação.
─ Eles não enviaram alguém atrás de você, não é...? ­ Ela perguntou quase freneticamente.
Ele quase mordeu o lábio. Essa preocupação suave o fez odiar a si mesmo.
─ Não. ­ Ele mentiu rapidamente. A rapidez de raciocínio de Paulie e dos federais já o haviam salvado. ─ É
que ele acha que um guarda-costas deveria ficar com o chefe, e ele não pode morar aqui no quarto comigo.
Então... bem, estou me mudando para o motel, e Santi e eu podemos ficar em quartos adjacentes.
Seu coração despedaçou. Ela se acostumou a vê-lo à mesa quando eles faziam as refeições, no
corredor, em todos os lugares.
─ Essa é provavelmente uma boa ideia. - Disse ela suavemente. E ergueu os olhos. ─ Cuide­se, ok?
Sua grande mão tocou a bochecha dela.
─ Faça isso também. Não saia sozinha depois de escurecer. Esteja atenta a seu redor.
─ Eu sempre faço isso. Bem, quase sempre. - Ela emendou. ─ Mas o carro surgiu do nada. Eu nem o ouvi
chegando.
Isso não era surpreendente. A maioria dos modelos de carros mais novos tinha motores silenciosos.
Ainda o incomodava que não soasse como um acidente. Paul estava verificando. Se houvesse algo sinistro,
ele encontraria.
─ Então... ­ Mikey disse. ─ nos vemos por aí.
Ela forçou um sorriso.
─ Sim. Bem adeus.
Ela entrou em seu quarto, resistindo à vontade de olhar para trás. Fechou a porta e deixou as lágrimas
caírem silenciosamente. Foi a maior dor de sua vida, quase tão ruim quanto saber o que seu avô tinha feito,
perder sua meiga avó e a comunidade onde ela havia crescido. Foi como perder um ente querido.
Do lado de fora da porta, Mikey estava sentindo algo semelhante. Mas ele tinha que fazer isso. Se ele
ficasse aqui, vendo-a todos os dias, ficaria louco. Ele não conseguiria ficar longe dela, a menos que fosse
morar em outro lugar. Era a coisa mais difícil que ele já fez na vida. E a única coisa que podia fazer. Bernie
não conseguiria viver com o homem que ele era. Ele não a culpava. Acontece que ela era a única mulher
com quem ele queria viver.
Ele soltou um suspiro cansado e foi para o quarto fazer as malas.

***

─ Você se mudou da pensão. ­ Comentou Paul uma semana depois, quando Mikey estava jantando com ele
e Sari enquanto Mandy se ocupava na cozinha fazendo um bolo.
─ Sim. ­ Disse Mikey. Ele moveu sua xícara no pires. ─ Santi continuou insistindo nisso. Ele disse que não
podia me proteger se estivesse a vários quarteirões de distância. Eu finalmente escutei.
Paul, lembrando-se de uma conversa anterior, sabia qual era a verdade. Mikey estava se distanciando
de Bernie, removendo a tentação.
Sari olhou para a cabeça baixa de Mikey e começou a falar, mas um movimento brusco da cabeça de
Paul a silenciou. Em vez disso, ela começou a falar sobre um reality show que ela e Paul estavam
assistindo recentemente.
Depois que Mikey voltou para seu motel, Sari questionou Paul sobre seu comportamento estranho.
─ Ele está fazendo isso para o bem dela. - Disse Paul com um suspiro. ─ Ele acha que ela não conseguiria
lidar com o estilo de vida dele. Você sabe, Isabel, não é a mesma vida que esta. De modo algum. Ele está
em constante companhia de pessoas que violam a lei. Ele viaja em altos círculos sociais da mesma forma,
socializa com estrelas de cinema, políticos e jogadores. Ele não poderia se estabelecer aqui nem se sua vida
dependesse disso, bem, a não ser temporariamente, como ele está tendo que fazer agora. Mas Bernie nunca
se encaixaria nesse tipo de mundo.
Sari encontrou seus olhos e balançou a cabeça tristemente.
─ Mas ela estava tão feliz. ­ Ela disse suavemente. ─ Brilhante como o sol. Ela quase irradiava com isso. E
agora ela está tão quieta que mal sabemos que ela está por perto. Ela não brinca mais nem sorri.
─ Nem meu primo. ­ Disse Paul. Ele a puxou para perto. ─ Você e eu viemos de mundos diferentes, mas
resolvemos isso, porque nos amávamos. Podemos dizer o que Mikey e Bernie sentem um pelo outro apenas
olhando para eles. Por que eles não conseguiram resolver isso também?
─ Eu não sei. - Disse ela com um suspiro. E encostou a cabeça em seu peito largo. ─ E as residentes
repentinas? Alguma informação nova sobre elas?
─ Não muito. ­ Confessou. ─ Jessie e sua amiga Billie são originalmente de Nova York. Elas têm laços
com a máfia, mas não com Cotillo ou Tony Garza. Suas conexões não são aparentes, mas estamos tentando
rastreá-las. Ainda há uma família que opera em Nova York, mesmo que secretamente, mas está
fragmentada e o chefe está na prisão.
─ Ele ainda pode fugir da prisão. Não é nem difícil.
─ Verdade. Ele tem um subchefe segurando o poder para ele. Jessie pode ter algo a ver com ele. Isso não
significaria necessariamente que ela ou o chefe favoreçam Cotillo. Ele é um estranho e faz um negócio
sangrento. Você sabe como isso acontece nos círculos da máfia. Eles não gostam de atenção. Cotillo está
recebendo muita dela.
─ Não seria ótimo se alguém de uma das famílias antigas decidisse tirar Cotillo da equação? - Ela
perguntou com um suspiro. ─ Que vergonha. Eu trabalho para o sistema judicial. Eu deveria ter vergonha.
─ Sim, sua menina má. - Ele a beijou avidamente. ─ Você precisa ser severamente repreendida. Venha
aqui e farei o meu melhor.
Ela riu quando ele a puxou para a cama.
─ Oh, esta é uma reprimenda que vou adorar. - Brincou ela.
Ele riu enquanto começava a tirar o vestido dela.
─ Pode apostar, você vai adorar!

***

O motorista do carro que quase atropelou Bernie era um empresário local que havia bebido três
drinques a mais no Shea's Bar e avaliou mal o meio-fio, assim como Bernie havia imaginado. Ele se
entregou a Cash Grier com muitas desculpas e Cash o levou para a reabilitação.
Bernie ouviu a explicação de Cash no escritório algumas semanas depois que Mikey se mudou da
pensão.
─ Eu imaginei que era algo assim. - Ela disse calmamente. ─ Quero dizer, se as pessoas do crime
organizado querem machucar alguém, elas simplesmente a matam, não é?
─ Mais ou menos. ­ Eles estavam sozinhos no escritório. Foi logo depois do almoço e as outras mulheres
ainda não haviam retornado. ─ E você e Mikey? Achei que isso seria permanente.
Ela enrubesceu.
─ Não sou saudável. ­ Disse ela. ─ A avó dele tinha o que eu tenho. Ela era inválida, acamada, quando
estava idosa. É provável que eu acabe nessa condição muito mais cedo. - Ela lutou contra o pânico ao
pensar que talvez nem fosse capaz de trabalhar. Ela era orgulhosa demais para pedir ajuda do governo,
embora um dia pudesse ser forçada a isso.
─ Existem novos medicamentos. ­ Destacou.
Ela sorriu tristemente.
─ Chefe Grier, o tipo de medicamento que você está falando custa mais de mil dólares por mês. Eles têm
programas para ajudar as pessoas a pagá-los, mas não é uma grande redução.
Ele fez uma careta.
─ Eu dou um jeito. Meu reumatologista me colocou com uma série de medicamentos que principalmente
cuidam da dor. Tenho crises, dias em que não consigo sair da cama e preciso usar uma bengala de vez em
quando. Mas há muitas pessoas em situação pior. Veja Glory em meu escritório e o que ela passou em sua
vida. Ela ainda manca de vez em quando porque seu quadril foi quebrado há muito tempo e ele tem artrite,
e sua pressão arterial está controlada, mas ainda sujeita a picos. Ela vive com isso. Eu vivo com meus
problemas.
─ Mas você não acredita que Mikey poderia? - Ele investigou, seus olhos penetrantes nos dela.
Ela brincou com uma caneta em sua mesa.
─ Alguém o ouviu dizer ao primo que não tinha certeza se conseguiria. ­ Ela ergueu os olhos. ─ Não se
atreva a repetir isso, nunca. Isso machucaria os sentimentos dele. Ele não pode evitar o que pensa. Ele vive
com pessoas glamourosas, anda de limusine, viaja pelo mundo todo. Terei sorte se conseguir chegar do
trabalho a minha pensão sem cair no chão. Como eu me encaixaria nesse tipo de estilo de vida? Eu seria
um pardal entre os pavões, se é que você me entende.
Ele entendia. Mas ela era uma mulher doce e gentil.
─ Se ele amar você, não importa.
─ Mas é isso. ­ Ela continuou. ─ Ele disse que seria melhor se deixássemos as coisas esfriarem. E ele
provavelmente está certo. Ele tem problemas suficientes agora. Eles não vão matá-lo, vão? - Ela perguntou,
e parecia agoniada com o pensamento.
─ Ele tem amigos poderosos. ­ Respondeu ele. ─ Marcus Carrera é um deles. Carrera dirige uma operação
legítima nas Bahamas, mas nem sempre foi um cara bom, e sua reputação ainda causa medo nas pessoas
que o conheceram naquela época. ­ Ele deu uma risadinha. ─ Ele tem Tony Garza tão cercado por
mercenários experientes que apenas um maníaco suicida tentaria alcançá-lo.
─ Sari disse que o Sr. Garza entregou a irmã dela no casamento com aquele fazendeiro do Wyoming. -
Disse Bernie.
─ Ele fez. Ele não é o que parece. - Ele inclinou a cabeça e a estudou. ─ Nem Mikey. Sua reputação é
assustadora. Mas ele não é tão ruim quanto as pessoas pensam que é.
─ Ele foi preso uma vez. ­ Disse ela.
Ele assentiu.
─ E acusado de tentativa de homicídio. Mas as acusações foram retiradas. - Ele lembrou a ela. ─ Ninguém
jamais foi capaz de levá-lo a julgamento por um crime grave. Para um homem que opera fora da lei, ele é
incrivelmente convencional.
Ela sorriu tristemente.
─ Ele é incrível, ponto. - Disse ela suavemente. ─ Eu nunca vou esquecê-lo. - Enquanto falava, girava o
anel turquesa e prata que ele lhe deu. Ela o usava na mão direita, porém, não na esquerda. Ela não queria
que ele soubesse que se considerava noiva, não quando ele estava se afastando.
Cash murmurou algo sobre homens serem tolos, sorriu e a deixou.

***

─ O que diabos há de errado com você? - Cash perguntou a Mikey quando o viu com Paul no Barbara’s
Café um dia no almoço.
As sobrancelhas de Mikey arquearam.
─ O que?
─ Você tem quase tanto dinheiro em bancos estrangeiros quanto eu. - Disse Cash ao se juntar a eles para
um café com torta. ─ Você poderia facilmente pagar pelos mais novos tratamentos para a artrite
reumatóide, custe o que custar.
Mikey olhou para ele.
─ Eu não tenho artrite.
─ Bernie tem.
Mikey desviou os olhos.
─ Eu sei.
─ Ela não o deixou pagar, no entanto. - Disse Paul, e ele estava dando pistas de expressão de Cash que lhe
pediam para esfriar. ─ Ela é muito orgulhosa.
─ Além disso, não somos... Bem, não somos mais um casal. - Acrescentou Mikey. ─ Ela tem a vida dela,
eu tenho a minha.
─ Sim, mas ela... ­ Cash continuou, ignorando Paul.
Antes que ele pudesse terminar a frase, Jessie entrou pela porta, viu Mikey e veio direto para a mesa,
sorrindo.
─ Não se esqueça, você vai me levar para jantar no Don Alfonso, certo? - Ela perguntou.
Mikey riu.
─ Pode apostar, boneca. Santi e eu vamos buscá-la por volta das cinco.
─ Eu pensei que talvez você pudesse dirigir e deixar Santi em casa. - Ela disse com uma risada rouca.
─ Desculpe. Santi dirige, eu não.
─ Bem, certo. Não importa. Eu estarei pronta na hora certa. Olá, Chefe Grier. Sr. Fiore. - Acrescentou ela,
um pouco perturbada quando Paul apenas olhou para ela sem falar. ─ Até logo.
Ela foi até o balcão para pegar seu pedido. Paul olhou para Mikey com muito mais censura do que
havia demonstrado para a mulher linda e bem vestida esperando seu pedido no balcão.
─ Ela não se importa em andar por aí com um criminoso. - Disse Mikey sarcasticamente. ─ Ela adora
cassinos, restaurantes sofisticados e é elegante o suficiente para ir em reuniões chiques. Então?
─ Você está prestes a arruinar sua vida. - Disse Paul secamente. ─ O que vai acontecer se Bernie
descobrir? Jessie trabalha no escritório com ela, pelo amor de Deus!
─ Eu disse a você... ­ Mikey disse, desviando os olhos. ─ Bernie e eu não somos mais um casal. Eu posso
namorar qualquer mulher que eu quiser. Jessie não é tão ruim.
Mas Paul estava pensando que Jessie era tão ruim quanto parecia. Ela estava esfregando no nariz de
Bernie no fato de que ela tinha a atenção de Mikey. Não só isso, ela estava pressionando Mikey para ficar
sozinho com ela, sem Santi. Isso era suspeito. Muito suspeito. Ele olhou para um taciturno Cash Grier e
teve a impressão de que o chefe de polícia estava pensando a mesma coisa.
─ Eu preciso de uma noite na cidade, de qualquer maneira. - Mikey disse enquanto terminava sua torta e a
engolia com café. ─ Eu estive vegetando aqui nesta cidade de cowboy.
─ Tome cuidado. - Disse Paul secamente. ─ Não se esqueça de que Cotillo pode ter pessoas aqui que nem
conhecemos.
─ Certamente você não acha que Jessie é uma delas, acha? ­ Mikey falou lentamente. ─ Você a investigou
e não encontrou nenhuma conexão com o pessoal de Cotillo.
─ Sim, eu verifiquei nosso último motorista de limusine também, e ele quase matou Merrie porque o
criminoso tinha conexões que eu não descobri. - Lembrou ele.
─ Eu posso cuidar de mim mesmo. - Mikey o lembrou secamente.
─ É melhor você ter uma licença de porte oculto se andar por aí com uma arma na minha cidade. - Disse
Cash com humor, mas com um brilho frio nos olhos.
─ Eu pedi uma no segundo dia que estava na cidade, para sua informação. - Mikey disse presunçosamente.
─ Eu conheço você, Grier. De jeito nenhum estou saindo da linha por aqui!
Cash apenas riu.

***
Paul o encurralou depois que Grier saiu, enquanto eles esperavam na calçada Santi buscar Mikey.
─ Isso vai arruinar qualquer chance que você tenha de voltar a ficar com Bernie. - Disse ele ao primo. ─
Você sabe disso, certo?
Os olhos de Mikey estavam vazios de dor.
─ Ela não pode viver com um bandido, Paulie. - Disse ele em breve. ─ Isso foi o que ela disse.
O queixo de Paul caiu.
─ Ela lhe disse isso?
─ Claro, que ela não me disse isso! Ela não machucaria meus sentimentos por nada. Mas alguém a ouviu
dizendo isso. - Acrescentou ele, e corou, lembrando-se de quem tinha lhe contado. ─ Ali está o Santi. Eu
tenho que ir. Vejo você por aí, primo.
─ Tome cuidado! ­ Paul disse a ele.
Mikey acenou e subiu na limusine.
Paul ficou observando-o se afastar do meio-fio. Algo que Mikey disse despertou sua curiosidade. Ele
falaria com Sari sobre isso quando chegasse em casa.

CAPÍTULO TREZE

Sari estava revisando um relatório quando Paul entrou no escritório e fechou a porta.
─ O que aconteceu? - Ela perguntou, porque ele parecia preocupado.
─ Bernie disse algo a você sobre ter um problema com o modo de vida de Mikey? - Ele perguntou
curiosamente.
─ Não. ­ Ela respondeu. E fez uma careta. ─ Mas ela realmente não discute Mikey comigo. - Acrescentou.
─ Acho que ela pensa que eu posso contar a ele o que ela disser. - Ela largou o lápis que estava usando para
marcar o documento no qual estava trabalhando. ─ Por quê?
─ Ele me contou que alguém a ouviu dizer que ela não poderia viver com um homem que ganhava a vida
fora da lei, com um criminoso. - Respondeu ele. ─ Ela contaria a alguém no trabalho algo tão pessoal? -
Ele persistiu.
Ela franziu o cenho.
─ Bem, eu realmente acho que não. Bernie é uma pessoa muito reservada. Ela não é o tipo de pessoa que
deixa escapar detalhes íntimos de sua vida para as pessoas com quem trabalha. Ela não é assim. E não há
realmente mais ninguém a quem ela possa contar. Ela não tem amigas íntimas.
─ Isso foi o que eu pensei. Mikey tem a impressão de que ela não consegue viver com o passado dele.
─ Eu sei que não é verdade. ­ Disse Sari gentilmente. ─ Ela o ama.
Um lado de sua boca puxou para baixo.
─ Eu tentei dizer isso a ele. Ele não quis ouvir. E está destruindo qualquer chance de voltar com Bernie.
─ Como?
─ Ele vai levar sua colega de trabalho Jessie para passear na cidade de San Antonio esta noite. - Disse ele
entredentes.
─ Ah não!
─ Eu tentei avisá-lo. Isso vai estragar tudo. Mas ele não quis ouvir. Está convencido de que é tão mau que
apenas uma mulher má o quereria.
─ Que idiota. Mesmo que ele seja seu primo.
─ Ei, sem discussão de minha parte. Eu disse a mesma coisa, na cara dele.
─ Isso vai matar Bernie se ela descobrir.
Ele riu friamente.
─ Se? Jessie vai contar ao mundo amanhã. Não tenho dúvidas de que ela vai enfeitar ainda mais do que é.
─ Jessie. ­ Sari fez um som áspero. ─ Ela foi nosso pior pesadelo por semanas. Então, da noite para o dia,
se tornou uma colega de trabalho cuidadosa e preocupada que fez tudo que pôde para tornar as coisas mais
fáceis para nós.
─ É tudo encenação. ­ Disse Paul. ─ Eu posso ver através dela. Eu gostaria que Mikey pudesse.
─ Eu não percebi. Nem Bernie, Glory ou Olivia. - Disse Sari.
─ Passei minha vida com pessoas que distorcem a verdade. Eu sou bom em reconhecer mentirosos.
─ Pobre Bernie.
─ Pobre Mikey, quando ele finalmente perceber que foi enganado. - Disse Paul categoricamente. ─ Estou
verificando uma conhecida de Jessie no interior do estado de New York. Suspeito que ela simplesmente
não apareceu aqui com sua amiga Billie.
─ E o cozinheiro de Nova Jersey que está trabalhando no Barbara’s Café?
Ele riu.
─ Vou lhe contar sobre isso. ­ Disse ele. ─ É hilariante. - E ele contou a ela.

***

─ Bem, este é o meu tipo de lugar. - Disse Jessie enquanto se sentavam no restaurante cinco estrelas.
─ O meu também. ­ Mikey disse, mas sem nenhum entusiasmo real. Ele estudou a linda mulher em frente a
ele com apenas um vago interesse. Ela estava usando um vestido de alta costura com brincos de diamantes,
colar, pulseira e vários anéis. Todos com diamantes. De melhor qualidade em ouro 18 quilates. Ele sabia,
porque gastou uma fortuna com eles para várias mulheres ao longo dos anos. Ele estava curioso para saber
como ela comprava esse tipo de joia com o salário de recepcionista.
Mesmo enquanto pensava, ele sentiu calafrios por dentro. Ele estava armado. Tinha um 38 em um
coldre nas costas e uma arma escondida em um coldre de tornozelo. Ele nunca ia a lugar algum sem estar
armado. Ele precisava estar? Santi estava na mesa ao lado, aparentemente alheio, mas atento.
Estranho, como de repente ele se lembrou de que, se a família ordenasse a sua execução, eles
enviaam seu melhor amigo para fazer isso. Ele era avisado de que se não o fizesse, outra pessoa o faria, e
ele terminaria tão morto quanto a vítima pretendida. Seu sangue gelou enquanto olhava para Santi.
Mas seu guarda-costas apenas sorriu para ele e começou a comer seu enorme prato de espaguete. Ele
estava ficando paranóico, Mikey considerou, assim como seu pai.
Ele se lembrava de seu pai com repugnância. O homem tinha sido um soldado de trabalhos sujos para
o subchefe em Nova Jersey, aquele que precedeu Tony Garza. O pai de Mikey matou homens repetidas
vezes, nunca sentiu o menor remorso e passou sua vida em um bar local onde a máfia ficava. Mikey
raramente o via e, se o fazia, seu pai o tratava como uma doença. Ele odiava Mikey e não escondia o fato
de que pensava que o garoto era filho de outro homem. A mãe de Mikey, morta há muito tempo, teve um
caso, ele disse ao menino um dia, e Mikey foi o resultado. Era para se vingar dele por algo que ele fez a
ela. Portanto, Mikey não teve família de verdade até que sua avó materna, a avó de Paulie também, levou
os dois meninos e os criou. A velha era grega. Ela ainda falava a velha língua. Mikey e Paulie foram
educados em italiano pelas outras crianças e famílias com as quais se relacionavam, mas a avó também lhes
ensinou grego. Mikey podia até ler em grego. Muitas pessoas não sabiam disso. Ele mantinha sua
inteligência oculta, se seus colegas pensassem que ele era estúpido, isso lhe dava uma vantagem.
─ Como foi que você ouviu o que Bernie disse no escritório? - Ele perguntou do nada.
A mão de Jessie, que segurava sua taça de vinho, estremeceu, mas ela se recuperou rapidamente.
─ Oh, ela e Olivia não sabiam que eu estava lá. - Respondeu ela. ─ Eu tinha acabado de sair do escritório
do Sr. Kemp e elas estavam no corredor.
─ Eu entendo. ­ Ele não conhecia Bernie muito bem, mas parecia estranho que ela confidenciasse algo tão
pessoal a uma funcionária do escritório, mesmo alguém de quem ela fosse próxima. Ela era, como ele, uma
pessoa muito reservada.
─ Este lugar é bom. ­ Disse ela, mudando de assunto. E sorriu para ele sedutoramente. ─ Sabe, posso usar o
apartamento de um amigo aqui na cidade. - Sua voz mudou para um ronronar gutural. ─ Nós poderíamos
ficar sozinhos lá.
Mikey apenas olhou para ela. Seus olhos escuros estavam frios, mais frios do que quando tinha outro
homem sob a mira de uma arma.
─ Sério?
Seu brilho a desconcertou.
─ Sabe, Bernie não mudará de ideia e nunca dirá o que realmente pensa de você. - Disse ela.
Ele inclinou a cabeça.
─ Você está se esforçando demais.
─ O que?
Ele apenas riu, mas tinha um som vazio. Ele estava começando a acreditar que havia sido enganado.
E ele saiu com esse tubarão-fêmea enfeitada, que voltaria ao escritório segunda-feira e contaria a Bernie
tudo sobre esse encontro, provavelmente enfeitando a história. Ele tomou um grande gole de seu Chianti e
amaldiçoou-se silenciosamente durante o resto da refeição.

***

─ Oh, foi o encontro mais maravilhoso! - Jessie disse entusiasmada as outras mulheres, incluindo Bernie,
na segunda-feira seguinte. ─ Mikey me fez sentir como uma princesa! E fomos para este apartamento que
um amigo me emprestou... - Ela parou quando o rosto de Bernie ficou branco. ─ Eu sinto muito, isso foi
cruel. ─ Acrescentou ela em tom conciliador. ─ Mas você sabe como ele se sente sobre você, querida.
─ Ela sabe o que você disse a ela. - Respondeu Olivia, os olhos entrecerrados e desconfiados.
─ Estranho, como você sabia de algo tão pessoal. - Sari acrescentou seu próprio comentário à discussão. ─
Quero dizer, Mikey não é o tipo de pessoa que discute coisas pessoais com Paul, mesmo em particular, e
Paul é a única pessoa de quem ele é realmente próximo.
Jessie parecia desconfortável.
─ Foi apenas um comentário que ele fez, ele não parecia pensar que era muito pessoal.
A porta do Sr. Kemp se abriu e ele parecia lívido.
─ Senhorita Tennison!
Jessie realmente deu um pulo.
─ Sim senhor?
─ Entre no meu escritório, por favor. - Ele disse friamente.
Jessie se recompôs rapidamente e forçou um sorriso.
─ Sim, senhor, imediatamente. - Ela deu um pulo e se dirigiu para ele sem olhar para trás.
─ Não acredite nela. - Disse Sari a Bernie com firmeza. ─ Mikey nunca disse a Paul nada sobre você,
nunca, nem em particular. Ele nunca deixaria escapar algo assim em um lugar público.
Bernie não se sentiu consolada. Ela forçou um sorriso.
─ Eu nunca conseguiria acompanhá-lo, você não vê? - Ela perguntou suavemente. ─ Ele mora na via
rápida. Alguns dias, eu nem consigo sair da cama. Ele se cansaria disso. Não gosto de bares e lugares
chamativos. Eu nunca tive um vestido de noite. - Ela inclinou a cabeça e sorriu para Sari. ─ As pessoas em
seu círculo pensariam que ele tinha perdido a cabeça se alguma vez olhassem para mim, e você sabe disso.
Sari não estava convencida.
─ Bernie, se alguém ama você, coisas como deficiências e passado, nada disso importa.
Os olhos verdes de Bernie estavam tristes.
─ Eu já acreditei nisso. Mas ele a levou para passear. - Acrescentou ela, indicando a porta atrás da qual
Jessie estava fechada com o Sr. Kemp. ─ E ele dormiu com ela. Acabou. Eu vou continuar com minha
vida. É óbvio que ele se deu bem com a dele.
E ela voltou a trabalhar.

***

Jessie saiu do escritório do Sr. Kemp com o rosto contraído e rosnando.


─ Estou despedida. ­ Disse ela friamente. ─ Só porque eu disse ao velho no telefone que o Sr. Kemp não
queria falar com ele e para ele não ir ao tribunal porque pensei que estava cancelado naquele dia!
─ Que velho? ­ Perguntou Olivia.
─ Oh, um fazendeiro chamado Regan.
As sobrancelhas de Olivia se arquearam.
─ Ted Regan?
─ Sim, acho que foi esse. - Jessie murmurou. E começou a puxar coisas das gavetas da mesa.
─ O velho Regan... ­ Sari disse a ela. ─ vale milhões. Ele possui o segundo maior rancho do condado de
Jacobs e propriedades em todo o país. Ele também é a testemunha principal em um caso que estamos
processando. ­ Ela franziu os lábios. ─ Ou ele era. Estou assumindo que o Sr. Kemp perdeu o caso, se você
disse a Ted para não aparecer. O juiz Drew estava presidindo e ele não queria julgar o caso para início de
conversa.
Jessie apenas rangeu os dentes.
─ Bem, não importa agora, estou demitida. - Ela murmurou. Olhou para cima e notou as expressões
satisfeitas em todos os rostos, exceto no de Bernie. Bernie nem olhava para ela. ─ Está tudo bem. ­
Comentou ela. ─ Eu fiz o que vim fazer. Que ingênuas vocês são, não é? Eu representei e todas vocês
acreditaram. Povinho misarável de cidade pequena, vocês nunca saberão o que é a vida.
─ É uma questão de família. ­ Disse Glory Ramirez.
─ É tudo uma questão de família. - Concordou Sari. ─ Algo que você nunca vai entender.
─ A única família que me interessa é aquela da qual recebo ordens. - Jessie murmurou distraidamente, e
então olhou para cima e corou ao perceber o que havia dito. ─ Meu pai, quero dizer. ­ Ela se corrigiu. - E
ele não é de alguma pequena cidade do Texas!
Mas Sari percebeu o que ela disse imediatamente e escondeu suas suspeitas. Ela voltou a trabalhar,
ignorando Jessie.
─ Bem, até logo. - Disse Jessie enquanto carregava a caixa de papelão com suas coisas dentro para a porta.
Ela se virou e olhou para Bernie. ─ Vou dizer a Mikey que você disse oi, Bernie. - Ela ronronou. ─ Afinal,
vamos nos ver muito. Eu conheço o mundo dele e adoro isso. Ao contrário de você, eu não me importo de
ser vista com ele e seus amigos criminosos. - Ela falou sarcasticamente.
Bernie ficou chocada.
─ O que você quer dizer?
Jessie escorregou novamente. Ela encolheu os ombros.
─ Nada mesmo. Adeus.
Ela saiu pela porta e fechou-a atrás dela.

***

Bernie não disse uma palavra. Ela meditou, no entanto. Mikey já estava envolvido com aquela
mulher cruel, mas talvez gostasse desse tipo de pessoa. Talvez ele estivesse frustrado porque queria Bernie
e ela não era do tipo que dormia por aí. Mas ainda doía pensar nele na cama com Jessie. Doía
terrivelmente.
─ Ela estava mentindo. ­ Sari disse gentilmente.
Bernie ergueu os olhos. Seus olhos estavam tristes e sensatos.
─ Não, ela não estava. ­ Disse ela calmamente. ─ E como eu disse, não importa. Éramos incompatíveis
desde o início. Os opostos se atraem, não dizem, mas a taxa de divórcios para casamentos como esse é
bastante sombria. É melhor eu voltar ao trabalho.
Sari não disse mais nada, mas estava lívida.

***

─ Mikey fez o quê? ­ Paul Fiore perguntou durante o jantar, seu garfo suspenso no ar.
─ Ele dormiu com Jessie. ­ Sari disse com raiva.
Ele assobiou, ciente do olhar curioso de Mandy.
─ Bem, caramba, é o fim de tudo.
─ Eu sei. ­ Sari beliscou sua comida. ─ Jessie foi venenosa. Estou feliz que o Sr. Kemp a demitiu. Era tudo
uma atuação, aquela doçura e atitude suave.
─ Nenhuma surpresa aí.
─ Ela deixou escapar algo quando estávamos falando sobre famílias e como elas eram importantes. -
Continuou Sari. ─ Ela disse que a única família da qual gostava era a que lhe dava ordens.
Paul largou o garfo.
─ Famílias. Como a de Cotillo.
─ Talvez. - Respondeu Sari, observando-o pegar o utensílio do chão e levá-lo para a pia antes de pegar
outro e voltar para a mesa. ─ Você não pediu a alguém para investigá-la?
─ Eu pedi. Vou ligar para ele depois que terminarmos de comer. Que sorte! Se ela está envolvida com
Cotillo, então sua amiga Billie também pode estar. Está bem debaixo de nossos narizes.
─ E aquele cozinheiro da Bárbara? - Mandy perguntou enquanto enchia as xícaras de café. Ela fez uma
careta para Sari. ─ E você deveria beber leite, não cafeína!
Sari corou.
─ Mandy.
Mandy estava sorrindo.
Paul, pego de surpresa, olhou para os olhos cintilantes de Mandy e os seus próprios dispararam para
sua esposa que parecia corada e culpada.
─ Ok, diga logo. - Ele disse a Sari. ─ O que está acontecendo que eu não sei?
Ela limpou a garganta e olhou para Mandy.
─ Eu ia lhe contar mais tarde.
─ Diga-me agora. - Ele persistiu.
Ela respirou fundo.
─ Estou grávida.
Paul ficou sentado imóvel por apenas um minuto, depois se levantou, pegou-a nos braços e a beijou e
a beijou, gritando com toda a força de seus pulmões.
Mandy apertou os lábios.
─ Bem... ­ Disse ela a ninguém em particular. ─ acho que não é segredo que ele está feliz com isso.

***

Bernie foi para casa, para seu solitário quarto, com o coração apertado. Mikey estava dormindo com
aquela ratazana, Jessie. Mikey também era um rato, disse a si mesma. Ele se comprometeu com ela, fingiu
se importar, depois recuou porque sua doença era incurável.
Se ele estava tão preocupado com a doença dela, por que não parou de vê-la no começo? Por que
passou quase todos os dias com ela? Por que comprou um anel e a pediu em casamento? Nada disso fazia
sentido, a menos que ele realmente pensasse que poderia fazer funcionar e então decidisse que não poderia
viver com as suas limitações. Ela se sentia miserável. Não podia evitar a doença. E não podia se curar.
Talvez pudesse ter se adaptado às viagens, aos amigos dele, aos lugares chamativos, se tivesse tido uma
chance. Mas o que isso importava agora? Ela nunca superaria o fato de que ele prometeu se casar com ela e
depois a traiu com outra mulher. Ela era muito orgulhosa.

***

─ Você está louco? - Paul perguntou a Mikey no dia seguinte, quando eles estavam almoçando rápido em
casa.
Mikey piscou.
─ O que?
─ Dormir com Jessie. Meu Deus!
Os lábios de Mikey se abriram.
─ Dormir... Meu Deus, pareço maluco para você? Eu não tocaria nela nem com uma vara!
─ Você a levou para passear na cidade, não foi? - Ele persistiu.
Mikey fez uma careta.
─ Eu estava me sentindo muito mal. Eu precisava me sentir como um homem de novo.
─ Bom trabalho.
─ Bernie não me queria! ­ Ele explodiu. ─ Ela disse que não poderia viver com um homem que foi um
criminoso a maior parte da vida!
─ Ela lhe disse isso, hein? ­ Paul perguntou.
Mikey suspirou.
─ Não. Ela nunca iria querer ferir meus sentimentos assim. Ela contou a outra pessoa e foi ouvida.
─ Deixe-me adivinhar... por Jessie.
Mikey fez uma careta.
─ O que?
─ Jessie disse a Bernie que você foi com ela a um apartamento em San Antonio.
Mikey fez uma careta. Ele só podia imaginar o quanto isso machucou Bernie. Ele estava sofrendo
com a rejeição dela, mas o machucou pensar que causou a ela ainda mais dor.
─ Ela deixou escapar algo mais. Ela tem uma "família" da qual recebe ordens.
Mikey perdeu a cor.
─ Inferno!
─ Eu tenho um homem investigando o passado dela a fundo. Ele chegou a alguns becos sem saída, mas
acha que está no caminho certo. Eu devo ter uma resposta hoje. - Paul disse a ele.
─ Você acha que ela está na folha de pagamento de Cotillo.
─ Eu acho que ela pode estar. ­ Paul respondeu. ─ Pense nisso. Ela e Billie estão tão deslocadas aqui
quanto baratas em um hotel luxuoso. Então, por que elas estão aqui? Talvez para observá-lo e relatar seus
movimentos a um terceiro.
─ Como um faxineiro. - Disse Mikey, referindo-se a um assassino contratado.
─ Talvez. Depende da família com a qual ela tem laços. Cotillo não é o único homem no jogo. Ele tem
inimigos. Ela é de Nova York. Cotillo está tentando tomar o lugar de Tony Garza em Jersey. Suponha que
outro chefe tenha Cotillo na mira e queira saber se você está protegido antes de ordenar o assassinato.
Mikey brincou com sua xícara de café.
─ Essa é uma possibilidade.
─ Cotillo chamou muita atenção para si mesmo e para a máfia ao tentar assumir o controle. Ele está
relembrando as guerras da máfia no passado, que foram sangrentas, públicas e terminaram nas audiências
do Congresso que separaram as Cinco Famílias. Eles realmente não podem se dar ao luxo de se tornarem
visíveis ainda hoje. Cotillo é uma ameaça para eles, assim como para você e Tony. Eles podem decidir agir.
─ Se Jessie estava planejando um assassinato, ela teve uma oportunidade perfeita enquanto estávamos no
restaurante. - Disse Mikey. ─ Santi estava em outra mesa. Claro, eu estava vigiando a porta. Eu sei como
os assassinos agem.
─ É por isso que não acho que o chefe dela seja Cotillo.
Mikey deu um longo suspiro.
─ Isso pode ser. ­ Ele olhou para a xícara de café para o líquido preto espesso. ─ Bernie nunca vai me
perdoar. Eu não acho que isso importe. Ela não me queria mais.
─ Ou então foi isso que Jessie disse a você. Ela gosta de homens ricos. Kemp já a advertiu sobre isso pelo
menos uma vez. Claro, ele a despediu esta manhã.
─ O que?
─ Ela falou para Ted Regan, de todas as pessoas, e disse a ele que o tribunal tinha sido cancelado. Já que
ela estava ligando do escritório do promotor, ele acreditou nela. Não compareceu e o caso foi retirado do
tribunal. Kemp estava irado.
─ Eu imagino. Ela vai conseguir outro emprego.
─ Ela e Billie deixaram a cidade no final da tarde. - Respondeu Paul. ─ Consegui saber disso através de
Mandy. Ela sabe tudo o que se passa nesta cidade. Mas tenho certeza de que Jessie manterá contato com
você. - Acrescentou ele sarcasticamente. ─ Quero dizer, já que você a está namorando e tudo.
─ Você não entende. ­ Ele explodiu. ─ Eu perdi tudo! Bernie não poderia viver com o que eu sou e não sei
como vou viver sem ela! Jessie não parava de perguntar se podíamos comer alguma coisa e eu disse que
sim. Eu sei que não deveria ter feito isto. Eu estava tão deprimido que não me importei como pareceria.
─ Jessie é venenosa. - Disse Paul. ─ Eu apostaria dinheiro de verdade que ela contou a Bernie alguma
história sobre você, também, do tipo você não ser capaz de viver com uma mulher que poderia ser inválida
mais tarde.
Mikey estava muito quieto. Ele apenas olhou para seu primo.
─ Pense nisso. Ela disse que Bernie odiava seu passado. Talvez ela tenha dito a Bernie que você odiava a
doença dela.
─ Meu Deus.! - Mikey disse com voz rouca, e enterrou o rosto nas mãos. ─ Oh, Deus, o que eu vou fazer?
─ Fale com Bernie.
Mikey tirou as mãos do rosto e bebeu o café.
─ Certo. Eu vou entrar no escritório e ela vai me jogar para fora de cabeça, ou o equivalente verbal. Ela
acha que eu dormi com a maldita Jessie. Ela deve me odiar.
─ Sari também me odiava quando voltei. ­ Paul sorriu. ─ Lembra o que eu fiz quando ela não quis falar
comigo?
─ Todo mundo em Jacobsville se lembra. ­ Mikey riu. ─ Eles até falaram sobre isso na pensão e foi há três
anos.
─ Faça o que for preciso. - Ele comentou incisivamente.
Mikey respirou fundo.
─ Vou pensar sobre isso.
─ Enquanto isso, tenho novidades.
─ Sobre Cotillo?
Paul deu uma risadinha.
─ Ainda não. Sobre Sari.
As sobrancelhas de Mikey se arquearam.
─ Ela está grávida. ­ Disse Paul, e sorriu de orelha a orelha.
─ Droga, isso é ótimo! Absolutamente ótimo! ­ Mikey explodiu. ─ Estou feliz por você.
─ É a melhor surpresa. ­ Confessou Paul. ─ Já estamos tentando há muito tempo, mas, bem, nada acontecia
e pensei que talvez não pudéssemos ter filhos. Não teria importado. Eu a amo tanto. Prefiro tê-la e não ter
filhos do que ter a maior família do país com qualquer outra mulher.
─ Eu sei como é isso. ­ Mikey abaixou sua xícara. ─ Eu os queria com Bernie. Não com mais ninguém.
Mesmo com suas limitações, ela poderia carregar um filho. Eu perguntei a um médico. ­ Ele enrubesceu. ─
Existem remédios que ela não pode pagar, mas que eu poderia comprar para ela, e eles teriam ajudado. Ela
poderia ter enfermeiras particulares, qualquer coisa que precisasse. Eu teria... cuidado dela. - Ele parou,
sufocado.
─ Não é tarde demais.
Mikey ergueu os olhos, com a expressão mais triste que Paul já vira.
─ Sim, é, Paulie. É tarde demais. E fiz isso comigo mesmo, não dizendo a ela o que Jessie disse e dando a
ela a chance de me dizer o que sentia.
─ Todos nós cometemos erros.
─ Mesmo você não está na minha classe, primo. - Disse Mikey. Ele se recostou na cadeira. ─ Pelo menos
você está tendo aquele final feliz com que as pessoas sonham. - Acrescentou ele com um sorriso afetuoso.
─ Você teve sorte.
─ Eu gostaria que você também tivesse.
Mikey encolheu os ombros.
─ Vamos apenas esperar que Cotillo não a tenha.

***
Foram palavras proféticas. Um dia depois, a história apareceu em todas as grandes redes de notícias.
Um mafioso de Nova Jersey chamado Anthony Cotillo foi encontrado morto em seu apartamento de causas
aparentemente naturais. Um amigo disse que o homem não tinha problemas aparentes de saúde e que isso
foi um choque para seus companheiros.
─ Eles podem detectar uma embolia aérea?* - Mikey murmurou. ─ Não importa, eles terão pessoas no
gabinete do legista para garantir que isso não vá para o relatório.
Paul suspirou.
─ Bem, é uma nova maneira de cuidar de um intruso sem alvoroçar todas as autoridades . - Concordou ele.
─ Sem bagunça, sem rastro de sangue, sem nada. Mas eu me pergunto... quem o matou?
Mikey sorriu.
─ Marcus Carrera tem muitos amigos de antigamente. - Ressaltou. ─ Alguns deles lhe devem favores
realmente grandes.
As sobrancelhas de Paul arquearam.
─ Realmente grandes. - Enfatizou Mikey. E sorriu.

***

Tony Garza voltou para casa em Nova Jersey em meio a promessas de uma obscura família da máfia
de Nova York de que a Associação informal de chefões que existia desde que as Cinco Famílias foram
dispersas pela pressão dos federais, não tinha problemas com ele. Eles lhe asseguraram que não se
esperavam mais problemas e que tinham várias pessoas certificando-se disso. A mensagem era clara
Carrera podia não ser mais uma figura da máfia, já que estava vivendo na legalidade, mas ainda era um
poder contra o qual lutar nos Estados Unidos. Muitas pessoas tinham medo dele. Tony estaria seguro.
─ Então, acho que vou para casa agora. - Disse Mikey com tristeza, enquanto jantava com Paul e Sari. ─
Eu voltarei para o batizado. - Ele provocou.
─ Igreja errada. - Brincou Paul. ─ Somos metodistas. Embora o reverendo Blair tenha uma espécie de
cerimônia de batismo, não é como aquela na qual você está pensando.
─ Podemos fingir. Eu venho mesmo assim. ­ Ele brincou com sua comida. ─ Acho que Jessie e Billie
trabalhavam para o chefe de Nova York.
─ Acho que sim. ­ Disse Paul.
─ Carrera era um terror quando mais jovem. - Comentou Mikey com um sorriso. ─ Você podia
simplesmente dizer o nome dele dez anos atrás e as pessoas começavam a correr para a porta.
─ Todos ficaram chocados quando ele decidiu viver dentro da lei. - Disse Paul. ─ Até os federais. Agora
ele tem mulher, dois filhos e é o homem mais feliz do mundo.
─ Famílias são legais. ­ Mikey disse distraidamente.
─ Você deveria se casar e ter uma. - Sari disse com firmeza.
─ Isso seria uma coisa boa.
─ Nunca se sabe. ­ Respondeu ela. ─ Coisas estranhas acontecem quando você menos espera.
Ele sorriu para ela.
─ É, não é? O que vocês querem, um menino ou uma menina?
─ Qualquer um. ­ Disse Paul.
─ Ambos. ­ Disse Sari, e sorriu.
─ Não há gêmeos do nosso lado da família, primo. - Disse ele a Paul.
─ Mas há muitos do meu lado. ­ Sari riu. ─ Primos distantes, mas pelo menos três pares de gêmeos entre
eles.
─ Filho da mãe! Você poderia ter toda a sua família em um ano.
Paul riu.
─ Quem sabe? ­ Ele brincou, e olhou para sua esposa com olhos que verdadeiramente a devoravam. Ela
olhou para ele da mesma maneira.
Mikey se sentiu mais sozinho do que nunca em toda a sua vida. Muito mais, embora estivesse feliz
por seu primo. Mas ele estava saindo da cidade. Seu coração ficaria aqui, com aquela pequena mulher triste
que vivia na pensão da Sra. Brown. Ela nunca o perdoaria por Jessie. Ele sabia disso sem perguntar. Foi o
pior erro de sua vida, e ele não podia consertá-lo. Ninguém podia.

***
*Embolia aérea significa a obstrução ou bloqueio súbito de um vaso sanguíneo, por ar, transportado pela corrente sanguinea.
Ele fez as malas e Santi fez as dele. Seu coração estava partido. Bernie era a luz de sua vida e a
estava deixando para trás. Ele não se sentia tão deprimido desde a morte de sua avó e o assassinato da
esposa e da filha de Paulie. Ele sentiu a dor como uma coisa viva.
─ Para onde vamos, chefe. ­ Perguntou Santi. ─ Vegas ou Jersey?
─ Vegas. ­ Mikey disse sem hesitar. ─ Eu preciso de uma distração. Uma diversão grande, brilhante,
chamativa e espalhafatosa.
─ Vegas é um bom lugar. ­ Disse Santi. E sorriu. ─ Há muitas garotas chamativas lá.
─ Aproveite tudo que puder encontrar. - Respondeu seu chefe sombriamente. ─ Você pode ter minha parte
também.
─ Isso é bom. ­ Respondeu Santi.
Eles colocaram suas coisas no conversível. Mikey foi ao escritório e cuidou da conta. Santi estava
esperando do lado de fora da porta da limusine quando ele saiu.
Mikey se sentou no banco de trás e recostou-se nele, cansado, enquanto Santi entrava no trânsito. Era
de manhã cedo, então provavelmente eles teriam atingido o tráfego de trabalho no caminho para o
aeroporto. Ele não se importou. Santi tinha sido o motorista de Mikey nos tempos antigos. Ele ainda era um
ótimo motorista.
─ Me faz um favor. - Disse Mikey de repente.
─ Claro, chefe. O que?
─ Dirija pela cidade. Depois do tribunal. - Santi não disse nada. Apenas sorriu.

***
As mulheres que trabalhavam no escritório de Kemp estavam entrando em fila. Ali estavam Glory
Ramirez e Sari Fiore. Olivia ia à frente de todas elas. E ali, atrás delas, em um velho casaco de tweed,
caminhando devagar com uma bengala, estava Bernie.
─ Devagar, ok? ­ Mikey pediu, parecendo meio ofegante enquanto observava o progresso lento de Bernie
até a porta. Ela estava sofrendo. Era um dia frio e chuvoso, e ele imaginou que ela estava tendo uma de
suas crises.
Se lembrava dela sentada com ele quando teve enxaqueca. E se lembrava de carregá-la para a pensão
no dia em que se conheceram, quando ela caiu na frente do carro e ele pensou que ela estava jogando com
ele. Parecia muito tempo atrás.
Ela entrou no prédio, sem olhar para trás. Seu lindo cabelo loiro estava preso em um coque. Ela
parecia cansada, com dor e esgotada. Ele fez uma careta ao vê-la desaparecer no escritório. A porta se
fechou atrás dela.
Mikey sentiu a perda de conexão como um golpe no peito.
─ Vamos embora agora, chefe? ­ Santi perguntou a Mikey.
Houve uma hesitação, apenas uma muito rápida hesitação.
─ Sim. ­ Mikey disse finalmente. E afundou um pouco. ─ Sim, vamos agora. Vamos para o aeroporto.
─ Com certeza. ­ Disse Santi, e acelerou passando pelo prédio comercial, deixando-o e a Bernie para trás,
talvez para sempre.

CAPÍTULO QUATORZE

Bernie, que nunca dormia tarde, acordou muito cedo na manhã seguinte. Ela não conseguia tirar da
cabeça o que Sari havia dito. E se Jessie tivesse contado mentiras tanto para ela quanto para Mikey? Ela
era muito tímida para falar com ele sobre algo tão íntimo, e ele provavelmente teria relutado em dizer
qualquer coisa a Bernie sobre a suposta aversão dela por seu passado.
Jessie estava fingindo. Por quê? A mulher estava claramente deslocada em Jacobsville, o que levou a
uma conclusão preocupante. E se ela estivesse vigiando para aquele homem que estava tentando matar
Mikey? Isso realmente a preocupou.
Ela se levantou e se vestiu, ansiosa e mal conseguindo andar por causa da dor e da rigidez. Depois de
alguns minutos, ela se sentiu melhor, mas ainda precisava da bengala, mesmo em terreno plano. As crises
de artrite reumatóide eram dolorosas e fatigantes. Ela tomava seus remédios regularmente, mas eles
começaram a ser menos eficazes, da mesma maneira que muitos medicamentos se tornaram ao longo dos
anos. Ela se lembrou da injeção maravilhosa que era usada para controlá-la, mas mesmo com um grande
desconto, ela nunca seria capaz de pagar as despesas mensais. Isso poderia ter feito diferença em sua
qualidade de vida. Dias como este, frios e chuvosos, eram uma agonia para quem convivia com artrite.
Ela não disse as outras mulheres que tinha ido a pé para o trabalho, porque elas teriam se preocupado.
Qualquer uma delas teria lhe oferecido uma carona com prazer, mas ela queria ser independente. Não era
bom confiar nas pessoas. Seu pai sempre disse que eles tinham que cuidar dos próprios problemas e não
divulgá-los para o mundo. Era um fardo compartilhado por pessoas honradas. Ela sorriu, lembrando-se do
homem maravilhoso que a criou. Ela sentia falta dele.
─ Você chegou bem na hora. ­ Sari Fiore brincou, sorrindo.
─ Eu sempre sou pontual. ­ Bernie respondeu com uma pequena risada. ─ Eu não gostaria que o Sr. Kemp
me despedisse.
─ Não há perigo disso, contanto que você não diga a Ted Regan que o tribunal foi cancelado. - Disse
Olivia, irônica.
Todas elas riram enquanto entravam no escritório.
Bernie foi a última a entrar. Ela quase tropeçou ao entrar, mas recuperou o equilíbrio rapidamente,
segurando a maçaneta. A nuca dela formigou. Estranho, ela pensou, esse sentimento. Mas provavelmente
não era nada. Ela o ignorou e entrou no prédio.

***

Sari estava grávida. Era uma boa notícia, e todo o escritório foi à loucura quando soube. Até o Sr.
Kemp a felicitou, sorrindo de orelha a orelha.
─ Você descobrirá que os bebês são viciantes. - Ele brincou. ─ É por isso que temos outro a caminho
também.
─ Isso é maravilhoso. - Disse Sari, sorrindo. ─ Eu sei que Violet está nas nuvens.
─ Como os gêmeos estão lidando com seu filho?
─ Os gêmeos? - Bernie perguntou curiosa.
─ Ele tem dois gatos siameses. ­ Explicou Sari. ─ Ele os deixou furiosos um dia e eles se juntaram,
morderam os tornozelos dele e correram para baixo de um móvel pesado depois.
O Sr. Kemp deu uma risadinha.
─ Eles se acalmaram. Bem, um pouco. Violet aprendeu cedo que eles gostam de salmão, então ela mantém
latas dele à mão.
Todos eles riram. Bernie estava pensando em crianças. Ela queria tanto uma com Mikey. Ainda bem,
ela percebeu, que nunca tinha sido íntima dele, considerando a maneira como as coisas tinham acontecido.
Em seu mundo de mulheres chamativas e cassinos, ele provavelmente tinha uma procissão de belas
mulheres à sua disposição. Incluindo Jessie.
Mas ela se lembrou de que Sari havia dito que Mikey não estava mais em perigo, nem seu chefe,
Tony Garza. Aparentemente, um grupo de chefes decidiu que Cotillo estava chamando muita atenção para
certas figuras do submundo, e ele foi retirado da equação. Foi atestada como "morte natural", mas Sari
disse que não foi natural, que a máfia sabia como causar uma morte súbita que parecia natural.
Esse era o mundo de Mikey. Morte. Violência. Glamour. Claro, ela estava bem fora disso. Sua saúde
não teria permitido que ela aguentasse o estresse da profissão dele, muito menos o estilo de vida intenso
que ele desfrutava.
Mas ela sentia muita a falta dele. Isso a levou a dias de depressão quando soube que ele tinha partido.
Ele partiu sem se preocupar em dizer adeus. Mas o que, ela raciocinou, ele poderia ter dito? Que ele não
podia viver com uma mulher deficiente, que preferia sua colega de trabalho sexy, que Jessie era ótima na
cama? Todas essas coisas? Isso a teria atormentado para sempre. Não. Foi melhor do jeito que aconteceu,
um final rápido, o mais indolor possível. Tinha acabado.
Agora tudo o que ela precisava fazer era se ajustar a sua nova realidade. Talvez um dia pudesse olhar
para trás e se lembrar de um homem bonito, impetuoso que a tomou em seus braços e a beijou como se
tivesse morrido por sua boca, que parecia amá-la. Talvez ela pudesse se lembrar apenas da alegria de estar
com ele, sem se lembrar de como tudo terminou. Seria uma bela lembrança, amarrada com fita e guardada
em um álbum de recortes.
***
Mikey observava as pessoas entrarem e saírem do cassino com quase nenhum interesse. Ao lado dele,
Tony Garza, que interrompeu sua viagem à Califórnia, parando em Las Vegas para ver Mikey, estava
bebendo um copo de uísque com soda.
─ Eles descobriram quem matou Cotillo? - Mikey perguntou.
─ Não. E nunca vão. A família de Nova York organizou tudo. Cotillo estava prestes a apontar o dedo para
um de seus subchefe. Isso teria devastado a família. Então, eles enviaram Jack the Mackerel e Billy
Tenspot para visitar Cotillo. Eles fizeram um cara no escritório do legista jurar que foi uma morte natural.
─ E a família de Cotillo? - Mikey persistiu.
─ Correndo assustada. Não era tão grande, e a maioria deles tentou convencer Cotillo a não dar um passo
maior do que a perna. O chefe de Nova York até falou com ele pessoalmente e o avisou. Ele não ouviu.
─ Erro fatal. - Comentou Mikey.
─ Muito. ­ Ele suspirou. ─ Pelo menos estamos fora de perigo. Eu devo uma a você, Mikey. Devo muito
mesmo. Sempre que você precisar de um favor, sabe onde me encontrar.
Mikey encolheu os ombros.
─ Não se preocupe. Você teria feito isso por mim, chefe.
Tony deu uma risadinha.
─ Sim. Eu teria. - Ele fez uma pausa. ─ O que é isso sobre uma garota do Texas com quem você se
envolveu?
O rosto de Mikey se fechou.
─ Capítulo encerrado. ­ Disse ele tenso.
─ Eu dei uma boa olhada nas mulheres do Texas quando entreguei Merrie Grayling no casamento dela. -
Ele lembrou Mikey. ─ Elas são boas pessoas.
─ Ela era. Mas não conseguiria viver com a minha profissão.
─ Ouvi dizer que você não poderia viver com a possibilidade dela ser uma inválida um dia.
Mikey se virou. Seus olhos brilhando.
─ Eu nunca disse isso. ­ Respondeu ele. ─ Nunca! Não teria importância para mim se ela nem pudesse
andar. Eu a teria carregado... - Ele parou, desviando os olhos.
Tony colocou uma grande mão em seu ombro.
─ Jessie Tennison pertence ao chefe de Nova York. Ela é amante dele. ­ Ele continuou. ─ Ela criou
problemas para você porque é o que ela faz. Ninguém gosta dela, e um dia a esposa dele vai reclamar alto o
suficiente para que o chefe tenha que fazer algo a respeito dela. Algo desagradável. Ela está cavando sua
própria cova e nem sabe disso.
─ Não vou ficar de luto por ela. ­ Disse Mikey.
─ Seu primo disse que ela contava histórias para vocês dois. - Disse ele. ─ Ela mentiu e vocês dois
acreditaram nela.
O rosto de Mikey endureceu.
─ A própria Bernie me disse que sempre esteve do lado certo da lei.
─ E você disse a ela que não importava se ela ficasse inválida um dia, certo?
Mikey trincou os dentes.
─ Não ia adiantar nada.
─ É a sua vida meu amigo. - Ele continuou. ─ Mas você tem estado lamentando por aqui como uma alma
penada desde que entrei pela porta, quando nós dois deveríamos estar comemorando. Se eu fosse você,
voltaria para o Texas e falaria com a mulher. Fale de verdade com ela.
Mikey fez uma careta.
─ Eu levei Jessie para passear na cidade. Eu sei, foi estúpido. Eu estava me sentindo mal por causa do que
tinha ouvido, o que Jessie me disse sobre alguém ter ouvido Bernie falar sobre o meu passado. Eu queria
me sentir melhor, então levei-a a San Antonio para jantar. Ela disse a Bernie que eu dormi com ela. É uma
mentira, mas Bernie tinha todos os motivos para acreditar nela. Então, mesmo que eu quisesse voltar e
conversar, ela nunca mais confiaria em mim. Ela provavelmente fecharia a porta na minha cara.
─ Existem essas coisas chamadas rosas. ­ Tony murmurou. ─ As mulheres enlouquecem por elas. Eu sei
que minha falecida esposa adorava. Chocolates. Cartões de felicitações. Passei por todas essas coisas
enquanto a estava cortejando. - Seus olhos estavam melancólicos com as memórias. ─ Ela nem gostou de
mim no começo, mas eu a cansei. Eu também era um homem mau, Mikey, e o pai dela era policial, mas
não importou. Ela tinha leucemia. - Acrescentou ele suavemente. ─ Eu cuidei dela quando ela teve
recaídas, até a última que a levou. Eu nunca me importei. Ela sabia disso. Nós nos amávamos. Nenhuma
das pequenas coisas importava. O amor nos manteve juntos, apesar das dificuldades que enfrentamos.
Mikey não disse nada. Ele apenas ouviu.
─ É muito parecido comigo e com Bernie. - Disse ele após um minuto.
─ Sim. O que acha disso?
Mikey respirou fundo.
─ Vou pensar sobre isso. ­ Ele olhou para o chefe. ─ Rosas, hein?
─ Peça que mandem amarelas. ­ Tony sugeriu. ─ Não tem alguma música sobre rosas amarelas e Texas?*
Mikey realmente riu. Pela primeira vez desde que deixou Jacobsville.

***
Era meio da tarde quando o florista as trouxe. Judy, dona da floricultura, veio ela mesma, sorrindo de
orelha a orelha enquanto as levava direto para uma Bernie chocada em sua mesa e as colocava sobre ela.
─ Oh! ­ A mão de Bernie foi para sua garganta. Ela não conseguia acreditar no que estava vendo. Devia
haver três dúzias de rosas amarelas no arranjo, junto com flores de todas as cores e folhas verdes
destacando tudo.
─ Eu sei, é mais perto do Dia de Ação de Graças do que da primavera. - Judy riu. - Mas o homem disse
rosas amarelas, então é isso que você está recebendo.
─ O homem? ­ Bernie ficou pasma. Suas colegas de trabalho sorriam de orelha a orelha.
─ Leia o cartão. ­ Sugeriu Judy, indicando-o em um suporte de plástico dentro do arranjo.
Bernie o puxou com as mãos trêmulas. Ela abriu o envelope. O cartão dizia apenas: “Sinto sua falta
terrivelmente. Você pode me perdoar? E estava assinado "Mikey".
Lágrimas rolavam por seu rosto. Ela leu o cartão novamente, apenas para ter certeza de que não
estava vendo coisas.
─ Bem? ­ Sari perguntou. ─ O que isso diz? De quem é? Ou devemos apenas adivinhar? - Ela acrescentou
com um sorriso.
─ Mikey. ­ Disse Bernie em um tom rouco. ─ As flores são de Mikey!
─ Ele não faz as coisas em grande estilo? - Olivia murmurou, estudando o enorme arranjo. ─ Incrível suas
costas não doeram com o peso, Judy. - Ela provocou a florista.
─ Eu tenho linimento. ­ Judy riu.
─ Elas são tão bonitas. - Disse Bernie, acariciando uma pétala de uma das rosas, a maioria das quais estava
em flor.
─ Acho que ele pensa que você também é, querida, porque, deixe-me dizer, eu quase poderia me aposentar
com o que custou esse arranjo. - Judy riu.
Bernie levantou-se com dificuldade e abraçou a florista.
─ Você sempre faz os arranjos mais bonitos, mas este é extraordinário.
─ Obrigada. ­ Judy a abraçou de volta.
O Sr. Kemp saiu de seu escritório, parou e ficou boquiaberto com o arranjo que ocupava a maior
parte da mesa de Bernie.
─ Alguém morreu? - Ele perguntou.
Todas elas começaram a rir. Kemp sorriu.
─ Mikey, hein? ­ Perguntou a Bernie, que enrubesceu. ─ Achei que ele resolveria mais cedo ou mais tarde.
Ok, pessoal, de volta ao trabalho.
─ Sim, senhor. ­ Elas disseram em coro.
Bernie e Judy moveram seu lindo arranjo floral para uma mesa lateral para que a mesa ficasse limpa,
mas durante todo o dia os olhos de Bernie se voltaram para ela, e ela sentiu como se pudesse andar nas
nuvens.

***
Paul e Sari Fiore a levaram para casa para que Paul pudesse carregar o arranjo para ela. Era muito
pesado.
─ Bem ali, se você não se importa. - Disse Bernie, indicando a parte limpa de sua cômoda. ─ É tão bonito!
─ Que bom que Judy faz arranjos que não têm um cheiro forte. - Brincou Sari. - Ou você sufocaria aqui
com o perfume.
─ Oh, eu nem me importaria. - Bernie suspirou. ─ Ninguém nunca me mandou flores em toda a minha
vida. - Acrescentou ela suavemente.
Paul e Sari trocaram olhares. Era óbvio que a oferta de paz de Mikey deu resultado.

***
Mikey ligou para Paul naquela noite.

* A música é Yellow Rose Of Texas(Johnny Lee).


─ Bem? ­ Ele perguntou. ─ Ela as doou para o hospital ou para a igreja? - Ele perguntou, e parecia
preocupado.
─ Não. Ela chorou. ­ Disse Paul. ─ Então Sari e eu a levamos para casa para que eu pudesse carregar as
rosas para dentro. Deus, Mikey, você comprou uma floricultura? Eu nunca soube que havia tantas rosas
amarelas em todo o maldito estado. - Acrescentou ele, rindo.
─ Eu queria causar uma boa impressão. - Respondeu Mikey. Havia um sorriso em sua voz. ─ Então ela
gostou delas, hein?
─ Ela as adorou.
Houve um suspiro.
─ Nesse caso, Santi e eu podemos ir para uma visita em uma semana aproximadamente. Apenas para saber
como estão as coisas.
─ Acho que seria uma ideia muito boa. - Respondeu Paul.

***
Bernie voltava para casa no final da tarde, aconchegada no casaco para se proteger do frio, usando
sua bengala porque estava chovendo e seu pé não estava bom.
Uma grande limusine preta parou ao lado dela e a janela abaixou enquanto seu coração quase a
matava de tanto bater.
─ Agora, não caia sob as rodas desta vez, ok? - Disse um homem com sotaque de Nova Jersey.
Bernie riu.
─ Oi. - Ela disse suavemente.
A porta se abriu. Mikey desceu, deixando Santi ao volante. Ele enfiou as mãos nos bolsos e se
aproximou de Bernie. Os olhos escuros procuraram o rosto pálido na penumbra do entardecer. Atentos
como se estivessem olhando para algo quase saído de um sonho.
─ Você parece bem. - Disse ele. ─ Um pouco cansada. Acho que você perdeu peso.
─ Só um pouco. - Ela confessou. Seus olhos percorreram o rosto magro. ─ Você também parece cansado.
─ Eu nunca dormi com Jessie. - Ele deixou escapar. ─ Eu gosto de ficar com minha própria espécie.
Ela riu contra a própria vontade.
─ Eu fiz uma coisa idiota. - Ele murmurou. ─ Eu deveria saber que você não abriria seu coração para
alguém em um lugar público.
Ela fez uma careta.
─ Eu deveria saber a mesma coisa sobre você.
Ele respirou fundo e sorriu.
─ Então....que tal recomeçarmos? Oi. Meu nome é Mikey. Às vezes eu desrespeito a lei, mas vou tentar me
restringir a atravessar a rua fora da faixa pelo resto da minha vida se você se arriscar comigo.
Seu coração deu um salto.
─ Oi. Meu nome é Bernadette, mas todos me chamam de Bernie. Eu nunca desrespeito a lei, mas arriscaria
com você, não importa o que você fizesse para viver.
Seus lábios se separaram em uma respiração áspera.
─ Oh, bebê. - Disse ele em um sussurro rouco. ─ Deus, eu senti sua falta...!
Ela teria dito a ele a mesma coisa, mas ele a tinha em seus braços e a estava beijando como se não
houvesse amanhã. Os braços dela estavam em volta do pescoço dele, sua bengala estava na calçada em
algum lugar, molhando. E ela estava retribuindo o beijo.
Longos minutos se passaram. A chuva caía em baldes e os dois estavam encharcados. Finalmente
Santi saiu do carro e parou ao lado deles, tossindo alto.
Mikey recuou, estremecendo um pouco com a fome avassaladora que sentia por Bernie. Ele olhou
para Santi inexpressivamente.
─ O que? Você está resfriado?
─ Chefe, está chovendo. Realmente chovendo. Entende?
Mikey piscou. O cabelo de Santi estava grudado em sua cabeça e rosto. Ele fez uma careta e olhou
para Bernie. O cabelo dela estava grudado na cabeça e no rosto também. Ele gargalhou.
─ Droga. Não é que está! Acho que devemos encontrar um lugar seco, hein?
─ Eu acho que sim. - Santi murmurou. Ele abriu a porta do carro.
─ Mas estou molhada. - Lamentou Bernie.
─ Os assentos são de couro, querida, eles vão secar. Santi, encontre a bengala dela, sim?
─ Pode apostar!
Santi fechou a porta.
─ Agora. - Mikey murmurou, puxando-a para perto. ─ Onde nós estávamos...?

***
Eles se casaram no tribunal, no escritório do juiz de paz. Bernie usava um estido branco de inverno e
carregava um buquê de rosas brancas. Ela usava também um chapeuzinho branco com véu, e Mikey o
ergueu ao beijá-la pela primeira vez como Sra. Michael Fiore.
Sari e Paul foram suas testemunhas, e Tony Garza veio com seus seguranças para o casamento. Na
verdade, Marcus Carrera, sua Delia, e seus filhos pequenos, também vieram à cidade para o evento.
─ Eu devo muito a você. ­ Disse Mikey a Marcus.
O homem grande acenou em agradecimento.
─ Sem problemas. ­ Ele riu. ─ Mas se você encontrar um pedaço de pano antigo, sabe para onde enviá-lo,
certo? - Ele brincou.
Mikey deu um tapinha nas costas dele.
─ Pode apostar que sim.

***
A lua de mel foi na Jamaica, em Montego Bay, onde nadaram e agiram como turistas. Bem, pelo
menos, depois da primeira noite em que estiveram juntos.
─ Você não precisa se preocupar com nada. - Mikey sussurrou para ela enquanto a despia muito lentamente
e a colocava sob as cobertas.
Ela estremeceu um pouco no primeiro contato com o corpo nu dele, mas ele a beijou e a acariciou até
que ela não se importou com o que ele fizesse, desde que não parasse.
Ele a levou de um platô ofegante para outro, de um lado da cama para o outro, pelo que pareceram
horas antes de finalmente se mover sobre ela intencionalmente. Ela estava tão excitada que mal sentiu o
pequeno lampejo de dor que caracterizou a penetração lenta dele em seu corpo acolhedor.
Ela o queria tão intensamente que não sabia de nada, não via nada, exceto o rosto dele acima dela
enquanto a paixão crescia e crescia e finalmente explodia em um prazer além de qualquer coisa que ela já
havia sonhado.
─ Oh, meu Deus. ­ Ela gemeu quando eles finalmente se afastaram. Ela mexeu seus quadris e as sensações
extraordinárias continuaram e continuaram.
Ele riu, puxando-a para o seu lado.
─ É viciante.
─ Muito!
Ele a puxou para si e olhou em seus olhos suaves.
─ Eu nunca senti falta de ninguém como senti a sua. Eu estava com vergonha até de ligar para você, depois
do que fiz.
Ela se curvou e o beijou ternamente.
─ Ambos acreditamos nas mentiras porque éramos inseguros.
─ Mas não mais.
─ Nunca mais. ­ Ela concordou.
─ Ainda há a questão das pequenas coisas ilegais. - Disse ele, fazendo uma careta. ─ Mas agora tenho um
cassino legalizado e dois dos maiores chefões da máfia da história do meu lado. Portanto, se eu quiser sair
desse mundo, contanto que não revele nenhum segredo, posso deixar a velha vida para trás. Não que eu
desista de minha casa em Jersey. Você vai gostar. ­ Ele acrescentou suavemente. ─ É antiga, mas tem
personalidade.
─ Eu vou adorar qualquer lugar que você more. - Disse ela simplesmente. ─ E eu vou lidar com isso, como
for preciso. - Seus olhos claros encontraram os escuros dele. ─ Eu o amo.
Ele a abraçou forte.
─ Eu também a amo, bebê. E não se atreva a pensar que eu me importo com a bengala e os dias em que
você tiver crises, ou se você ficar doente. Posso pagar enfermeiras, o que você precisar. Mas eu mesmo
cuidarei de você. - Acrescentou ele, erguendo a cabeça e seus olhos a adoraram. ─ Porque você é a coisa
mais importante em todo o mundo.
─ Você também é para mim. - Ela sussurrou, e o beijou.
─ Ouça, falei com sua médica. - Disse ele. ─ Louise Coltrain disse que existem medicamentos que você
pode injetar, que vão melhorar sua qualidade de vida cem vezes.
─ Sim, mas eles são muito caros.
─ Eu poderia financiar o tesouro nacional de um pequeno país, querida. - Ele a interrompeu. ─ Vai ser um
dinheiro bem gasto, principalmente quando os filhos vierem. Você não precisa tentar me acompanhar. - Ele
riu. ─ Eu carrego você, se precisar. Mas você precisará acompanhar nossos filhos...
Ela riu de puro deleite.
─ Vamos ter vários?
Ele sorriu.
─ Quantos você quiser. E vou aprender a trocar fraldas e dar mamadeiras, fique sabendo.
─ Nós podemos fazer isso juntos. ­ Ela disse suavemente.
─ Faremos tudo juntos. ­ Respondeu ele calmamente. ─ Enquanto vivermos. Sim?
Ela se curvou e o beijou avidamente.
─ Enquanto vivermos.
E eles fizeram.

FIM

A lenda da violeta
De acordo com a lenda, havia um rei na Inglaterra chamado de Rei Frost (frio, gelado). Em seu reinado era inverno rigoroso du rante todo o ano e a
população, sem recursos para se aquecer, padecia com o frio excessivo que o rei lhes impunha. Frost, em seu palácio, apreciava a paisagem gelada, como seu
coração. Ele não tinha amigos, não era apreciado pelos seus súditos e sentia-se só. Acreditava ser sua obrigação desposar uma rainha, tanto para ter um herdeiro
quanto para espantar a solidão em seu grande castelo.
Sendo assim, enviou seus serviçais para que saíssem em busca de uma linda e carinhosa jovem que o ajudasse a espantar a trist eza de seu frio coração.
A busca demorou a dar resultados, já que sua fama não era das melhores. Após andarem incansavelmente por muitos dias, os emissários encontraram, em um
distante povoado primaveril, uma linda camponesa que ali vivia com a sua família. A jovem era tímida, mas extremamente bela. Possuía profundidade no olhar.
Era humilde, caridosa e delicada, sendo, deste modo, a suposta esposa ideal para o rei Frost. Seu nome era Violeta.
Violeta aceitou ser levada para ver Frost. Este, ficou imediatamente apaixonado pela moça. Casaram-se e a ternura de Violeta aqueceu o coração gelado
deste homem, que se derreteu como a neve ao calor do sol da primavera. Frost tornou-se outro homem. Seu novo coração sentia pelos seus súditos e ele decidiu
que não seria mais inverno durante todo o ano e, quando fosse, seria um inverno ameno e tranquilo de se passar. Fr ost transformou-se em um homem feliz com a
sua Violeta e sua felicidade transbordava em bondade, humildade e delicadeza com o próximo.
No entanto, Violeta sentia saudades de sua família e de seu distante povoado, tendo pedido ao marido para lhe permitir vi sitá-los durante alguns meses
por ano. Frost atenderia ao seu pedido, com uma condição: voltaria durante os meses quentes do ano, e sob a forma de uma linda flor. A moça aceitou e, desde
então, durante a primavera, floresce como as lindas violetas que conhecemos, retornando como rainha durante o inverno, para o seu marido.

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