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{ 1 FUNDAMENTOS A Psicoloyia da Gestalt Qualquer abordagem racional da psicologia que nao se esconde por detrés de um jargio profissional deve ser compreensivel para o leigo inteligente e deve ser funda- mentada cm fatos do comportamento humano. Caso con- trério, ha algo basicamente errado com ela. A psicologia ida, afinal de contas, com um objeto do maior interesse para Os seres humanos: nés préprios e os outros. A com- preensiio da psicologia e de nés mesmos deve ser consis- tente, Se nao nos podemos compreender nem entender o que fazemos, nao podemos pretender resolver nossos pro- blemas nem esperar viver vidas gratificantes, Porem tal compreensiio do self envolve mais que o entendimento intelectual habitual, Requer sentimento e também sensi- bilidade. ‘A abordagem aqui exposta repousa num conjunto de premissas que nao sao obscuras nem irracionais, Ao con- trario, sio de um modo geral hipsteses de senso comum, que podem ser facilmente verificaveis pela experiencia, De fato, embora sejam freqiientemente expressas numa ter minologia complicada, que serve a triplice funcao de con- fundir 0 leiotr, aumentar a autoconsideragao do escritor € obscurecer pontos que supostamente deveriam ser esclare- cidos, essas afirmagoes so a base de grande parte da psico- Jogia contempordnea. Infelizmente, um niimero demasiado grande de psicdlogos as aceitam como verdadeiras ¢ as de- senvolvem na pritica, enquanto sua teoria foge rapidamen- te da realidade e do observavel. Mas, se expusermos essas premissas de modo simpies, aberto, seremos capazes de uti- 18 A ABORDAGEM GESTALTICA lizd-!as continuamente, como uma medida de coniparagao da contianca e utilidade de nossos conceitos, e nas podere- mos dedicar @ pesquisa com prazer e rendimento. Introduzamos a primeira premissa com um exemplo. Dissemos antes que a abordagem esbogada neste livro & nova em muitos aspectos. Isso nfo significa que este en- foque nao tenha relacio com qualquer outra teoria do comportamento humano ou com qualquer outra aplicagao da teoria do comportamento humano aos problemas do cotidiano e da pratica psicoterapéutica, Isso nao significa que este enfoque seja composto exclusivamente de princt- pios novos e revoluciondrios. A maior parte de scus funda. mentos pode ser encontrada em muitas outras abordagens do assunto. O que € novo aqui nao sao necessariamente as partes e fragmentos que vao constituir a teoria, mas o modo pelo qual sao usadas e organizadas é que dé a esta abordagem sua singularidade e seu apelo & nossa atencéo. A primeira premissa basica deste livro est4 implicita nesta Ultima frase. A premissa é que é a organizagao de fatos, percepgdes, comportamentos ou fendmenos, e nao os as- pectos individuais de que sio compostos, que os define © thes da um significado especitico e particular. Originalmente este conceito foi desenvolvido por um ipo de psicdlogos alemfes, que trabalhavam no campo da percepgao, e que mostraram que 0 homem no percebe s coisas isoladas e sem relagdo, mas as organiza no pro- cesso perceptivo como um todo significative. Um homem entrando num recinto“cheio de gente, por exemplo, nao percebe apenas gotas de cor e movimento, rostos e corpos. Pereebe 0 local como uma unidade, na qual um elemento, < o* selecionado entre os muitos presentes, sobressai, enquanto os outros fieam em segundo plano. A escolha de qual ele- men‘o se distinguird é 0 resultado de muitos fatores, ¢ todos eles podem, juntos, ser englobados no termo interes Enquanto hd interesse a cena total parecers organizada de { modo significativo. Apenas quando ha completa falta de interesse, a percepgio 6 atomizada e o lugar é visto como |_uma confuso de objetos sem relagdo entre si. Vejamos como este principio opera numa situacio sim- ples. Suponhamos que o recinto seja uma sala de estar, por ocasiéo de um coquetel. A maior parte dos convidados ja esta presente; os retardatérios estao chegando aos poucos. Funpamentos 19 Entra um recém-chegado. um alcodlatra cronico e quer desesperadamente um dringue. Para cle, os outros convi- dados, as cadeiras e sofds, os quadros nas paredes, tudo sera de pouca importéncia e ficaré em segundo plano, Ira direto ao bar; de todos os objetos da sala este serd o pri- meiro plano para ele. Agora entra outro convidado, # uma pintora e a anfitria acaba de adquirir um de seus quadros, Sua primeira preocupagio € descobrir como e¢ onde esta pendurado 0 quadro. Ela selecionara a pintura entre todos 0s objetos do lugar. Como o alcodlatra, estaré completa- mente desinteressada das pessoas e Tumara para seu tra- balho como um pombo correio. Ou tomemos 0 caso de um rapaz que velo & festa para se encontrar com a atual na- morada. Ble vai esquadrinhar a multidio, procurara entre 08 rostos dos convidados até que a encontre. Hla sera 0 primeiro plano, todo o resto o fundo, Para um convidado perambulador, que esvoaga de grupo em grupo, de con- versa em conversa, do bar ao sofd, da anfitria & caixa de cigarros, a sala parecer diferente diversas vezes, Enquanto esté falando com um grupo, aquele grupo e aquela con- versa serao primeiro plano. Quando, no final de sua prosa ele se cansa e decide sentar-se, o lugar vago no sofa ser © primeiro plano. A medida que seus interesses variam, muda sua percepeio da sala, das pessoas e objetos nela, ¢ até @ percepgio de si proprio. Primeiro e segundo planos so intercambiaveis c nfio permanecem estéticos, como, por exemplo, para 0 fovem enamorado, cujo interesse 6 fixo & invariavel. Agora vem nosso tiltimo convidado. Este, como muitos de nds em coquetéfs, em primeiro lugar nio queria vir, e nfo tem interesse real em tudo aquilo, Para ele toda 8 cena permaneceré desorganizada e sem sentido, a menos e até que ocorra algo que o faga fixar seu interesse e atengio. A esccla de psicologia que desenvolveu estas observa- g0es ¢ chamada Escola Gestallica. Gestalt ¢ uma palavra alema para a qual nao ha traducdo equivalente em outra Ingua. Uma Gestalt é uma forma, uma configuragdo, 0 modo particular de organizagao das partes individuais que entram em sua composicio. A premissa bisica da psicologia da Gestalt € que a natureza humans € organizada em partes ou todos, que € vivenciada pelo individuo nestes termos, € que s6 ‘pode ser entendida como uma fungao das partes ou todos cos quais é feita. 20 ‘A ABoRDAGEM GestALTiCA Homeostase Nossa premissa seguinte é que todos os eomportamen. tos so governados pelo processo que os cientistas chamam die Lomeostase ¢ que os leigos chamam de adaptagao. O ‘Proceso homeostatico é aquele pelo qual o organismo man. 4.lem seu equilibrio e, conseqiientemente, sua satide sob con- 's diversas, A homeostase é, portanto, 0 processo atra- “vés do qual 0 organismo satisfaz suas necessidades, Uma vez que suas necessidades siio muitas e cada necessidade perturba 0 equilibrio, 0 proceso homeostatico perdura 0 { tempo todo. Toda vida é caracterizaca pelo jogo continuo }de estabilidade e desequilibrio no orgenismo. Quando 0 “proceso homeostatico falha em alguma escala, quando © organismo se mantém num estado de cesequilibrio por muito tempo e é incapaz de satisfazer suas necessidades, est4 doente. Quando falha 0 proceso homeostatico o orga nistn6Trorre. Uns poucos exemplos singelos esclarecerio isso, O cor- po Eumano $6 funciona eficientemente quando o nivel de agicar no sangue € mantido dentro de cerios limites, Se a taxa de aglicar do sangue cai abaixo destes limites, as glandulas supra-renais secretam adrenalina; a adrenalina saz 0 figado transformar suas Teservas de glicogénio em ucicar; este agticar passa para o sangue e aumenta sua taxa de aguear. Tudo isto ocorre numa base puramente ft- siolégica; 0 organismo nao se dé conta do que esta aconte- cendo. Mas uma queda no nivel de agticat do sangue ainda tem outro efeito. F acompanhada pela sensagao de fome, € 0 organismo satisfaz seu desprazer ¢ desequilibrio co: mendo, A comida ¢ digerida, sendo que uma certa quanti- Gade se transforma em agiicar, eo agicar é reslituido a0 sangue. Assim, no caso de comer 0 processo homeostatico demanda um ‘estado de consciencia c alguma agio deli- berada por parte do organismo, Quando o actiear no sangue aumenta excessivamente, © plinereas secreta mais insulina e isto leva o figado a re mover aglicar do sangue. Os rins também ajudam a remo- ver este excesso; 0 agicar é excretado pela urina, Estes processos, como’ os primeiros descritos, so puramente fi- siolégicos. Mas a taxa de agticar do sangue pode ser baixa- la deliberadamente, como resultado de um ato de conscien- tizacdo. O termo médico para a falha crénica de homeosta- Foxpamextos a ‘se, que resulta num constante excesso de agucar no sangue, € diabetes. O sistema do diabético aparentemente nao pode se autocontrolar. No entanto, o paciente pode suprir um controle pela adigao artificial de insulina, através de inie- goes. Isto reduz a taxa de agticar do sangue ao nivel exato. ‘Tomemos outro exemplo. Para o organismo gozar de ‘boa satide, 0 volume de agua do sangue também tem que ser mantido num certo nivel. Quando cai abaixo do nivel, transpiragio, a salivagio e 2 excregio da urina sfo todas diminuides, e os tecidos do organismo passam parte de sua dgua para a corrente sangiimea. Assim, 0 corpo zele para que cla conserve agua durante um periodo de emer géncia, Este 6 0 lado fisiologico do proceso, Porém, quando a taxa de digua do sangue cai demasiadamente, o indiviauo sente sede. Faz, entdo, 0 que pode para manter o equilibria necessdrio. Toma um gole d’agua, Quando a taxa de agus do sangue € excessiva, todas estas atividades sfo invertidas, assim como 0 so no caso do agiicar sangitineo, Poderiamos dizer isto de modo ainda mais simples, O termo fisiol6- gico usado para perda de agua no sangue é desidratacio; quimicamente pode ser expresso como a perda de cerse numero de unidade de HO; sensorlalmente ¢ sentido come sede, com seus sintomas de secura na boca ¢ cansago; € psicologicamente ¢ sentido como o desojo de beber. Desta forma, poderiamos chamar 0 proceso homeos tatico de processo de auto-requlacdo, 0 processo pelo qual © organismo interage com seu meio, Embora os exemplos que citei aqui envolvam atividades complexas por parte do organismo, ambos lidam com as fungdes mais simples € elementares, todas operando a servigo da sobrevivencia do individuo e, através dele, da espécie. A necessidade de manter o nivel de acticar e agua no sangue dentro de certos limites ¢ dasica para toda a vida animal. Mas ha outras necessidades, nio tao proximamente ligadas as questoes de vida e morte, nas quais‘0 processo de homeostase tambem funciona. O ser humano pode ver melhor com dois olhos do que com um; mas se um olho é destruido a vitima é capaz de continuar a viver, Nao 6 mais um organismo de dois olhos. Trata-se de um organismo com um s6 olho e jogo aprende a funcionar eficientemente nesta situagao, a estimar quais so suas novas necessidades e achar meios adaptaveis de satisfazé.las. 2 A Anoepacem Gesriunica [© organimo tem tanta necessidade psicolégica como |. tisioisgica de contato; cla é sentida cada ves que o equili- “prio psicoldgico ¢ perturbado, assim como as necessidades fisioldgicas sho sentidas sempre que o equilibrio fisiologico € alterado. Estas necessidades psicolégicas sio agrupadas no que poderiamos chamar de correlato psicolégico do pro- eesso homeostatico, No entanto, quero tornar bem claro que este processo psiquico nao pode ser divorciado do fisiolgico; que cada um contém elementos do outro. AS necessidades que Sao, primariamente, de natureza psicol- gice ¢ os mecanismos hameostaticos ou adaptaveis pelos quais sio feunidas continuem parle do tema que a psico- logia estuda. (Os seres humanos tém milhares de tais necessidades no nivel puramente fisioldgico, E, de acordo com os niveis sociais, ha outros milhares de necessidades, Quanto mais intensamente as sentimos como essenciais para 0 prosse- guimento da vida, mais de perto nos identificamos com elas e mais intensamente dirigimos nossas atividades para fazé-las. ae também os conceitos estdticos das psicologias mais antigas dificultaram 2 compreensao, Observando c2r- tos impulsos comuns a todos os seres vivos, 0s tedricos pos- tularam os “instintos” como as forgas condutoras da vida e descreveram a neurose como resultado da repressdo da- queles instintos. A lista de instintos de McDougall incluia quatorze. Freud considerou que os dois basics e mais importantes so Eros (sexo ou vida) e Tanatos (morte) Mas se pudéssemos clasificar todas as perturbagoes do equi. Mbric organico encontrariamos milhares de instintos, que se diferenciariam entre si em intensidade. “Hé ainda outro ponto fraco nesta teoria. Podemos con- cordar, penso eu, que 2 necessidade de sobreviver age como (forga propulsora em todos os seres vivos e que todos mos- ‘tram, sempre, duas tendéncias: sobreviver como individuos e espécie e crescer. — ““stes so objetivos fixos. Mas os modos pelos quais se encontram variam de situagao para situagio, de especie para espécie, de individuo para individuo. Se a sobrevi- véne'a de uma nac&o for ameagada pela guerra, seus cida- dios recorrerao as armas. Se a sobrevivéncia de um indi- viduo for ameagada porque seu nivel de agticar do sangue esté muito baixo, ele procuraré comida. A sobrevivencia FUNDAMENTOS 23 de Sheherazade foi ameacada pelo Sultéo, e para fazer frente & ameaga ela lhe contou est6rias durante mil e uma noites. Poderiamos entao dizer que ela tinha um instinte contador de estérias? Toda teorla dos instintos tende a confundir as necessi- dades com seus sintomas ou com os meids que usamos para adguiri-los. E desta confusio 6 que surgiu 0 conceito de repressao dos instintos. Os instintos (se existem) n&o podem ser reprimidos, sto fora do alcance da nossa capacidade de percepgac €, portanto, fora do aleance de nossa agao deliberada, Nac podemos reprimir a necessidade de sobrevivéncia, mas po- demos impedir seus sintomas e sinais. Isto é feito pela interrupgéo do processo continuo, quando deixamos de efetuar qualquer acdo que seja apropriada, ‘Mas, 0 que acontece se varias necessidades (ou instin. tos, se preferirem) se originam simultaneamente? O or- ganismo saudavel parece operar através do que poderiamos chamar uma escala de valores. Desde que seja incapaz de fazer, adequadamente, mais de uma coisa de cada vez, se encarrega da necessidade de sobrevivéncia dominante, ante: de cuidar de qualquer das outras; age, em primeiro ‘lugar, de acordo com o principio das coisas’ fundamentais. Uma vez, na Africa, observei um grupo de veados pastando perto de um Dando de ledes, que dormiam. Quando um dos le6e: acordou e comegou a rugir de fome, os veados bateram em retirada rapidamente. Agora, tente, por um momento, se Imaginar no lugar dos veados, Suponha que vocé esteja, correndo para salvar sua vida. Logo estaria correndo sem ar, entao teria que diminuir a marcha ou parar completa- mente até tomar um segundo alento, Neste ponto, arfante, teria surgido uma emergéncia maior — uma necessidade maior — do que correr, assim como correr havia, antes, se tornado uma necessidade maior que comer. Formulando este principio em termos da psicologia da Gestalt, podemos dizer que a necessidade dominante do organismo, em qualquer momento, se torna a figura de primeizo plano e as outras necessidades recuam, pelo menos temporarlamente, para o segundo plano. O prix ‘meiro plano é aquela necessidade que exige mais aguda- mente ser satisfeita, quer seja, como em nosso exemplo, @ necessidade de preservar a vida, ou seja relacionada 3 reas fislologicamente menos vitais: sejam fisioldgicas ou 24 ‘A Anonpacem Grstaiica psicoldgicas. Parece que uma das necessidades das maes ©, po: exemplo, manter seus filhos felizes e salisfeilos; des. conforto nas criangas produz desconforto nelas. A mae de um bebezinho pode ser capaz de dormir profundamente com 0 barulho da passagem de cammhées ou mesmo de colisdes, com o estrépito ensurdecedor de trovées, mas acordaré no instante em que seu bebé — noutro quarto, no fim de um longo corredor — apenas choramingue. f- Para que 0 individuo satisfaga suas necessidades, feche a Gestalt, passe para outro assunto, deve ser capaz de ma- nipular a si proprio e ao seu meio, pois mesmo as neces- ‘Sidades puramente fisfoldgicas sé’ podem ser_satisfeitas mediante a interagio do organismo com o meio, A Doutrina Holistica ‘Um dos fatos mais notérios a respeito do homem ¢ que ele é um organismo unificado, F, todavia, este tato 6 completamente ignorado pelas escolas tradicionais de psiquiatria e psicoterapia que, nao importa como descre- vam seu enfogue, continuam a'operar em termos da velna ciséo corpo/mente. Desde o surgimento da medicina pst- cossomatica, a estreita relagdo entre atividade mental fisica se tornou cada vez mais flagrante. E nao obstante essa persisténcia do paralelismo psicofisico, este avanco no conhecimento nao progrediu tanto quanto deveria, Continua preso aos conceitos de causalidade, tratando a doenga funcional como um disttirbio fisico causado por um fato psiquico. Parece que 0 que aconteceu no desenvolvimento do pensamento psicolégico foi o seguinte: observamos que 0 homem 6 capaz de funcionar em dois niveis qualitativa- mente diferentes; 0 nivel do pensar e 0 nivel do agir. Fica- mos chocados com a diferenga entre ambos € pela epa- rente independéncia que um tem em relagio a0 outro. E assim estabelecemos que sao tipos diferentes de assunto. Entdo somos compelidos a declarar alguns modo uma enti- dade estrutural ainda nao descoberta, a mente, descrita como a sede da atividade mental. Desde 0 desenvolvimento da psicologia profunda veio & tona a observagao de que 0 hornem nao é uma criatura puramente racional. A mente, que antes era considerada exclusivamente como fonte da Fuspawentos 28 razio, agora se torna também a sede de um obscuro in- consciente e uma estrutura capaz de exercitar sua von. tade néo apenas sobre o corpo, mas sobre si mesma. Deste modo, pode reprimir pensamentos e recordagdes que ache desagradéveis, Pode mudar sintomas de uma area do corpo para outra. Fo pequeno deus ex-machina que nos con trola em todos os sentidos. Uma vez que a andlise quantitativa dos processos fisto. lgicos progrediu tio mais rapidamente que a analisc quantitativa’ dos processos mentais, tendemos também a aceitar mais dados sobre o corpo que sobre a mente. Nac discordamos dos fatos clentificos sobre a fisiologia e 2 anatomia. Podemos descrever 0 coragio, 0 figado, os sis- temas muscular e circulatério e sabemos como’ atuam. Reconhecemos que a habilidade de desempenhar certas atividades fisicas e fisloldgicas 6 construida no homem, € perdemos capacidade de nos surpreender com nossa maravilhesa eficiéncia. Também sabemos bastante sobre © cérebro e seu modo de funcionar e estamos aprendendc mais todas os dias. Mas até que tenhamos ampliado mais este estudo, ainda teremios uma compreensio limitada dc ‘Giltra das capacidades internas basicas do homem: a ha ‘bilidade_de aprender_e manipular_simbolos e abstragdes. Esta paroco estar assodiada ao maior desenvolvimento € complexicade de seu cérebro. E é t4o natural para ¢ homem quanto sua habilidade para cerrar os punhos, andar ou ter relagdes sexuais. Esta capacidade para usar simbolos mostra, através do que chamamos de atividade mental, se ¢ cirigida para a produgio de teorias clentificas ou para a produgio de uma afirmacao banal sobre o tempo. Mesmo 0 que const ceramos um baixo estado de atividade mental requer muita hadilidade para lider com simbolos e combinar abstracdes. Comparativamente, mesmo 0 que considera. mos um estado interior de atividade fisica -- 0 sono, por exemplo — requer um uso consideravel de capaciciades fisiologicas intemas. Os miisculos nfo permanecem 180 ativos durante 0 sono como quando em estado de alerta, mas ¢ inevitavel que haja algum estado de atividade, Dado, pois, que 0 ser humano tem uma habilidade interna pira usar simbolos e abstrair (e mesmo os beha- vioristas mais ortodoxos tem que admitir isto; se a habi- lidade nio existisse eles ndo poderiam manter uma dis- Pearcy nesses 26 A ABORDAGEM GESTALTICA cussio sobre sua existéncia), 0 que faz o ser humano quando a usa? Esta, afirmo, agindo em imagem, Esta fa- zendo simbolicamente o que poderia fazer fisicamente. Se ele rensa sobre uma teoria cientifica, poderia escrevé-la ou explicé.Ja verbalmente. Escrever e falar so agoes fisi- cas. Que ele possa inventar teorias cientificas é realmente notavel, porém no é mais notdvel que o fato de que possa escrever ou falar. BE claro que o pensamento nfo ¢ a unica atividade mental que nos octipa. A mente também possui outras fungées. Ha a fungio da atencdo. Quando dizemos: “Coloquei minha mente ‘trabalhando no problema”, nao _queremos dizer que tiramos um corpo fisico de dentro de nds e 0 ‘conectamos com 0 problema, Queremos dizer; “Concentrei muito de minha alividade e de minhas percepodes senso- riais nesse problema”. ‘Também falamos da capacidade de conscientizacao que poderia ser descrita como gémeo idéntico da atengao, Aguele € mais difuso que esta: implica numa percepgio globel da pessoa e mais relaxada que tensa. E falamos de vontade. Aqui a érea da atengio da conseiéncia esta fortemente restrita e a pessoa se fixa em iniciar e levar a cabo um certo mimero de atos dirigidos para fins especificos. Em todas estas atividades mentais, a relagdo entre © que fazemos e pensamos 6 muito clara, Quando nos cons- cientizamos de algo, fixamos nossa aten¢ao em algo, ou tentamos exercer nossa vontade sobre algo, hé alguns sinais explicitos, pelos quais o espectador pode ver que estes processos estio em aco. O homem que esté profunda- mente concentrado para entender 0 que 0 outro esté di zendo deve estar provavelmente sentado, inclinado para a frente em sua cadeira; todo seu ser paréce estar dirigido ¢ orientado para aquilo que o interessa, O homem que de- siste de pegar aquele quinto pedaco de doce, possivelmente fara um movimento na sua direcéo e pararé a mio Drus- camente, retirando-a antes que atinja o prato. Mas voltemos & area do pensar. E nela que surge @ maior parte da confusio, Entendemo: aL um_mimero de atividadés — sonhar, imaginar, teorizar abitecipar — fazéndo 9 uso tiikimo de’ nossa capacidade de manipular simbolos. Pare, abreviar, vamos Chamar tudo FUNDAMENTOS ar Isto de atividade de Jantasia. em vez de pensamento, ‘Ten. anit a nogdo de racional a pensar é irtacional a “Sonar e loaavil, as duas atividades sao multo semelhan- ies. Enitretanto, Gesejo tsclarecer qe 0 uso da paiavra Yaniasia por mim nao quer dizer que baja algo ireal, misterioso, estranho ou Talso em tais alividades, A ativ de fantastica, no sentido amplo em que uso o term Squem an que'b vet Hi ‘que o ser humuaiio, através da adog: log. tende & Teproduzir a reslidade numa escala reduzida Como atividade que envoive o uso de simbolos, deriva da realidade, uma vez que os préprios simbolos so, inicial- mente, derivados da realidade, Os simbolos comecam como ‘rétulos para objetos e processos; proliferam € crescem como rétulos para rétulos e rétulos para rotulos de rétulos. Eles podem até nao estar proximos na realida de, mas efetivamente comecam, ‘A mesma coisa é verdadeira para a atividade fantas- tica, que € 0 uso interno da atividade de simbolizacao, Nela, a reproducao da realidade pode se distanciar multe de suas origens, da Tealidade com a qual era conectada originariamente. Mas 6, de algum modo, sempre relacio nada com a realidade, que tem uma existéncia significativa para a pessoa, em cuja realidade fantastica entra, Nao vejo uma drvore real com 0 olho de minha mente, mas @ correspondéncia entre a rvore real de meu jatdim ¢ minha Arvore imaginaria é suficiente para fazer possivel que eu ligue uma & outra. Quando medito sobre um problema tentando determinar que rumo darei a uma atitude numa situagao dada, 6 como se eu estivesse fazendo duas coisas extremamente reais, Em primeiro lugar, mantenho uma conversa sobre meu problema — na realidade eu poderia ter esta conversa com um amigo. Depois, reproduzo com 0 olhar de minha mente a situacfo que minha decisia pre- cipitara em mim. Eu antecipo, em fantasia, 0 que aconte- cerd na realidade e, embora a correspondencia entre minha antecipagio imagindria ¢ a situacao real possa nao ser absoluta, assim como a correspondéncia entre a palavra “arvore” e 0 objeto é s6 aproximada, é suficientemente forte para que eu baseie nela minhas acdes. Portanto, a atividade mental parece agir como um economizsdor de tempo, energia ¢ trabalho para o indi viduo. A alavanea, por exemplo, trabalha segundo o prin- eipio de uma pequena fora aplicada num extremo do 28 A Anorpacem GESTALtiCA, objeto, que produz uma forca maior junto ao outro ex- tremo, Se en puser uma extremidade de uma alavanca sob uma pedra de 250 quilos e pressionar para baixo com forga do outro lado da ferramenta, posso movimentar um objets que de outro modo teria resistido a todas as minhas tentativas de mudar sua posicao. Quando fantasio ou dirijo minha atengio para um Problema, uso uma pequena quantidade de energia dispo- nivel intermamente, a fim de produzir um montante maior de erergia corporal ou externa, distribuida de modo efic!- fente. Pensamos nos problemas, em imaginagio, para ermos capazes de Tesolvé-los na Tealidade. Ao’ invés de simplesmente ir ao supermercado, sem ter qualquer idé1a do que vai comprar, a dona de casa decide antes 0 que necessita e 6, entao, capaz de agir mais eficientemente quando chegar ao mercado. Nao tem que sair correndo de prateleira em prateleira, decidindo a cada passo se neces- sita ou ndo daquele género exposto & compra. Ela econo- miza tempo, energia e atividade. Agora estamos prontos para formular uma definicao das fung6es da mente e uma definigdo de atividade mental como parte do organismo global a que chamamos ser hu- mane. A atiyidade mental parece sera atividade que a essoa “TOEAT exerce nium nivel energético inferior uo. Fi tomaaaee gue alividad’s que” dénomiriamos fisicas, Devo deter-me ‘aguipara dizer aie ao Usar'a palavfa “inferior”, nao estou fixando um valor de apreciagao. Sé quiero dizer que as ati- ‘Vidades qué deriominamos mentais exigem menos dispen- dio de substéncia corporal que as que chamamos fisicas. Todos nés acreditamos que o professor sedentario pode se sustentar com menos calorias que 0 cavador de fossas. Assim como a agua se transforma em vapor pela aplicagao do celor, a atividade corporal oculta se transforma na ati- vidace latente, particular, que chamamos de mental, de- vido a uma diminuic&o de intensidade.. organismo age fe reage a seu meio, walor_ou_menor_intensi £teage_a_seu_meio, com maior ou menor intensidade: a iedida que diminui a intensidade, o comportamento fisio se transforma_em_comportgmento ental, Quando a in- ‘tensidade aumenta, 0 comportamento mental forna-se “comiportamento fisico, ‘Mais um exemplo poderé tornar este conceito intel Tamente claro. Quando um homem est, de fato, atacando FUNDAMENTos 2 um inimigo, mostra abertamente uma enorme ativiaaae corporal. Contrai os musculos, seu coragao bate mais ra- pido, € jogada adrenalina em grandes quantidades na cor- rente sangilinea, sua respiragio se torna rapida e superfi- Gial, seus maniares Reams Seoreeagern® Tapida © super. corpo fica tenso. Quando fala sobre como detesta esse Ini- migo, ainca mostrara sinais fisicos explicitos, embora tates’ exisamn om numero menor eo Gaal ate mente hitando, Quando so sunte Furies ge, Sat eal © inimigo, ainda mostra mufles sina fokeee ae aaa estes inal sto menos vistas © memos iene ae eis esta realmente lutand, ou Toland sebte ieee ee Porlamente 6 agora, de intensidads alnds inecor Si Uidade eguliita se transformou om sividade: gee SO nccen copaclanas pare age iin nivel de Tntenstdade diminuida- = gd0iar uma. conus Tena ee fonda vaniagem, no apanas pasa ees Tai a oe SOMGIO Ge problemas Ie VAs: ese ae da a espécie. A energia que o homem economiza pensfndo nos Brobtemis em lugar de atuar em toda study pe oes Ser investida num enriquectmento de see vita ee es fazer e usar instrumentos que, mai: tarde, Ihe pouparao energie, portanto, Ihe ofeoérdo naioney onerbeeeae de enriquecimento. Mas essas nao so as unicas -vantagens ‘A habilidade do homem para abutter © sotinee eee: oes, aa eapacidade pare inventor simbsin ee arte e a cline, tudo isto esta intimaments hese nae capacidade de fantasiar. A capacidade bdsica de criar e usar simbolos esta acreseida pelos prodatos oes ae rss Ge simbolos, Cada geragao.Herda as fantasiae ae vous a8 geragoee anteriores, & assim acuie sac toes menos eomprenscaee Esta coneepedo da_vida © comportamento humanos como consttuidos por nivels Ge anaes wea eS Yea por todas com 6 paraleliame paleotieo waa satae insatisfatério, com que a psicologia vem lidando desde seu naseimento. ila nos ‘permite fer oy" lade soeraet fisico do comportamento huma Ino, Nao mo “entidades ihcependentes qu poderant ter existencias sepatadas dos” seres “humar Uma da outra,"o que foi.a_c I “nevitavel das psicologiag mais antigas, Permi- te-nos ve Séf Human como ele é, como um todo, e exa- 30 A. AporDace GESTALtica ortamento como _se manifesta, ao_nivel mental fma vez que reconhecamos que pensaméntos = ‘SiO feitos da mesma materia, podemos traduzir @ transpor de um nivel para outro. ‘Assim, podemos, finalmente introduzir_ns_psicologia um Sgneatte nomstices —-p-coneelia de campo untticade = que of cleniistas tem Sempre desejado achar e-em cuja dirego tém tateado os psicossomatas contemporincos, Em psicoterapia, este conceito nos dé um instrumento para lidar com 0 homem global, Agora potemos ver como suas agées mentais e fisicas esto entrelagndas. Podemos observar o homem de modo mais agudo e usar nossas observagées mais significativamente, Pois como agora mais ampla a superficie que podemos observar se as latividades fisica e mental sio da mesma ordem, podemos observar a ambas como manifestagio da mesma coisa: 0 ser do homem. Nem 0 paciente nem o terapeuta estio limi- tados pelo que 0 paciente diz e pensa: ambos podem agore Jovar om Conatd feragdo o que ele faz. O que ele faz fornece indicios para O que perisa, assim como o que, pensa fornece indicios para o que faz ou gostaria de fazer. Entre os nivers do pensar e do fazer h4 um’ estdgio ihtermedidrio de fazer de conta na terapia e, se observarmos acuradamente, no- taremos que © paciente faz de conta com uma porgiio de coisas, Ele proprio saberé_o que significam seus atos, suas fantasias, suas representagoes, sé ios limitarmos a chamar ‘sua atengao. Je mesmo fornecera suas proprias interpre- tagées. ~ . “Através da propria experiéncia nos trés niveis de ima- ginar, representar e fazer, se tornaré um entendedor de si mesmo. A psicoterapia, entdo, Geixa de ser uma excava- iio do pasado, em termes de repressées, conflitos edipia Thos € cenas primdrias, para se tornar uma experiencia de viver no presente, Nesta _situagio de vide, o paciente apronde por si come integrar seus pénsamentos, sent Tos e agdes RHO £6 quando @sti no consultorio, mas gurio_da vi O neurdtico, obvIaments, nai Senie Como uma pessoa total. Sente-se como se seus contli- tos > vivéncias inacabadas o estivessem rasgando em peda gos. Mas com o reconhecimento de que €, sendo humano, tum todo, vem a capacidade de adquirir aqucle sentido ae totalidade que 6 seu direito natural, FUNpaMentos 31 Limite de Contato [ Ninguetn ¢ autosuticiente o ina duo SO pode existir gicamente em si mesmo e o outro, moralmente em egoisme e aktruismo, cientificamente em Subjetivo e objetivo, ete, Quando _o objeto catexial, seja_sua_catexls positiva_ ou negative, foi apropriaio oti_destruido, contatatio ow f dele se fugit, ou relacionado de“aifim modo salislatorio com-oindividuo, tanto ele quate a necéssidade a que esta associado desaparecem do meio; a Gestalt estd Jechada_O_ objeto cafexial e @ necessidade tam tima Telagio quase ma. Sees Tea_entFe-sl, s6 a hvcessidede ¢ um menos, o objeté Gatedat 7 um Mais. Se um homem tem sede, sente unin fall WETIGNG, Siid necessidade 6 vivencieda como um meros para ele. Nesse momento, um copo d'igua tem uma catexis positiva para ele e é vivenclada como um mais. O ntimero exalo de unidades de liquide que precisa pode Ser mecido, e quando consegue tal numero do meio, suas ne- cessidades estio satisfeitas. A soma, se cla existisse, da necessidade e do objeto catexinl é zero. Este contato com o meio ¢ a fuga dele, esta aceitact € rejei¢a0 do meio, sdo as funcées mais importantes da perronalidade global. So aspectos positives e nogativos dos processos psicoldgicos pelos quais vivemos, Sio opos- tos fialéticos, parte da mesma coisa, a personalidad total. Os psicdlogos que mantém uma concepeao dualista_de Foxpasentos 7 ho’ véem operand ‘as _opostas que partem “0 indixiduo em podacos. Por outro ldo, nds os vemos como asperis a Isa a capmoMmrade ToT criminagao. Hsta pode se tornar confusa e funcionar imal, ‘iando"o faz, 0 individuo fica incapaz do se comportar apropriadamente e, em conseqtiéncia, o descrevemos como um neurctico, Mas quando g capacidade de discriminacag funciona tem, os componentes de aceltaguo ls de contato e uga, esta sempré presentes e ativos. ‘Na verdade, esta funcao parece ser parte de proprio ritmo da vida. Durante 0 dia, quando acordados, tocamos © mundo, estamos em contato com ele. Durante a noite, dormindo, fugimos, abandonamos 0 contato, No verao, em geral, saimos mais que n0 inverno. No tempo frio, a fuga € per‘eitamente exemplificada pelos animais que hi- bernam, dormindo durante toda a estagao. Soniviar o mcioé._ mum certo sentido, formar uma, Gestalt Figh @fechala completamente ou Feanly Torcas ‘Pate lornar o fechamento possivel. O pupllisia entra ém conlato coin o queixo de seu oporiente, mas nfo deixa 1a seu punho. Retira-o para o prdximo golpe. Se o contato € superprolongado, torna-se sem efeito ¢ doloroso; se a fuga é muito demorada, interfere no processo de. vida. Contato e fuga, num padrao ritmico, sio nossos meios de Satisfazer oss’ necessidade de continuar os progressivos processos da vida. ‘Temos agora a hierarquia das necessidades, 0 equiva- mento — sensorial motor —~coini_que satisiazé-las, as cae Bositivas © negativas do campo, coniato ¢ fuga,’ ym. moleneia--PAVOE Isto nos leva-a perguntar que fore Energia Tesieainenle todas as nossas agoes. Beta Tore parece S8F-a emocao. Porque, emibora a pSidiatria mo- ‘derma trate a8 tiiogdes como 'se fossem um acréscimo in- comodo que tem que ser libertado, as emocdes sao a nossa propria vida, Podemos teorizar e interpretar_as emogoes de qualquer forma que quetramos. Mus isto é uma perca de tempo. Pois as emogoes sao a propria linguagem do or. genismo; Todificam a excitagao basica de acordo com a situacao que 6 encontrads, A excitagio é transtormada em emogdes especificas ¢ as emogdes so Ltanstormadas em agées sensoriais e motoras, As emogdes o catexis ¢-moblizam os modos 2 Telos Ge saslagio ae Tecessidades ~ Ae 38 A Aporpace: Grstarica Eis, novamente, algumas indicagées para a psicote- ropin, Outrora, desoroviamos a. neuioge somo @ doonge, que surge quandgamtndieiuo, ds alguean Tore ATT eos Preestos continuos da"vida ese aobrecaitega coli Eirpetarmncser tmeorpletes cue Sip pode neous ‘Tatitoriamente com © ororeseo de. viver. As interrupcoes “Que Westrevemos como psicolégicas ou neuroticas eram, Guando contrastadas eom as que chamamos de TislOl0g1: cas, do tipo que ocorre num nivel da conscientizagio ou num nivel-que pode chegar a sé-lo. Agora vemos algo mais sobre 0 neurdtico, O ritmo do seu contato-afastamento esi fora de forma, Nf pode decide por sl mesmo quando participar e quando Tagy porgue-Vdas as tioOnetas inae “eabadas de sua vida, Toaae interripemes_do_processp ‘CoRPMD, perturheram seu sentido de orientagao e ele nag abjetos ou pessoas do ime que tem uma sitive e Of Guo tem tuna Cae YexsTegmtima; nao sabe domo-Gu do que fugir., Perdew Fikes We Geom WMO pode Seleclonar melos apron priados para seus objetivos finais porque néo tem a ca- pacidade de ver as opcGes que Ihe esto abertas, DOS pe abt

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