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1 5010319873247543702
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Para Recordar
1853
H T cambaleou pelo portão aberto. Seu cavalo veio logo atrás,
arrastando as rédeas. Momentos antes, tinha caído no sono induzido pelo
uísque, escorregando e acertando as costas no chão. Ileso, não conseguiu
montar outra vez, então caminhou. Ou melhor, andou aos tropeços.
Logo em frente, estava a Casa Palmerston, brilhando sob a luz da lua
numa demonstração extravagante da sua riqueza e maior conquista. Há
apenas três anos, havia terminado de construí-la: o testamento do quão
longe um homem era capaz de chegar com determinação e coragem.
Dedicada a outro homem, seu xará.
— Lembre-se dele. Ele foi um bom homem. — A voz do falecido pai,
William Temple, surgiu do nada, confundindo sua mente embriagada.
Quantas vezes o pai havia recontado a história da infância repleta de
pobreza, de um grupo de garotos mais velhos perseguindo-o, horrorizado,
dando de cara com um jovem de roupas impecáveis? Em vez do golpe que
esperou receber, William foi erguido, e o grupo mandado embora por Henry
John Temple – Visconde de Palmerston, o homem que se tornaria Primeiro
Ministro. O sobrenome igual inspirou o trabalhador a se esforçar mais.
O cavalo cutucou Harry, que cambaleava a seus pés. O pai teria
orgulho da mansão que o filho havia construído com madeira e cal. Poderia
não ser um visconde, mas Henry John Temple acreditava no pagamento de
dívidas, então conferir o nome de Casa Palmerston à propriedade grandiosa
foi sua homenagem a William.
Dentro, a esposa e a filha dormiam. Os funcionários estavam de olho,
esperando sua volta. Sem dúvida, todos com um copo de uísque na mão.
Sob a lua cheia de março, a vida estava tão perfeita quanto qualquer homem
poderia desejar.
Suas pernas cederam, e Harry caiu de bunda. O cavalo bufou e trotou
ao estábulo além do lago, recentemente escavado e cheio. Harry encarou a
Casa Palmerston, com a visão enevoada. Como contaria a elas? Como sua
doce Eleanor reagiria àquela notícia? Que tipo de homem joga fora o
trabalho de sua vida, tudo por mais uma chance de vitória?
Há menos de uma hora, havia entornado outra dose de uísque e caído
na armadilha criada por Eoin Ryan – o comerciante local de madeira que
havia fornecido as tramazeiras para a construção. Quantas vezes Eoin tinha
admirado a propriedade, até mesmo ajudado a construir certas partes? Os
jogos costumeiros de pôquer eram amigáveis. De certa forma. Até hoje à
noite, quando Eoin o encorajou:
— Mais uma rodada, não tem como você perder.
Com os braços ao redor do corpo, Harry balançou de um lado ao outro.
Havia apostado a Casa Palmerston. Vinte anos nutrindo sua riqueza para
perder tudo num jogo. Tinha sido enganado, e não havia como mudar isso.
F !
Do outro lado da porta da despensa, Bernie pressionou o ouvido contra
a madeira, desejando que as mulheres continuassem andando. Suas vozes
desapareceram. Girando a maçaneta com cuidado, abriu a porta alguns
centímetros. Pela brecha, não viu nenhum sinal de movimento, então a
empurrou o suficiente para passar.
Por mais de uma hora, estivera preso do outro lado, com medo de
descer pelos degraus rangentes, sendo atormentado pelos cheiros tentadores
de bacon e café. Muito mais interessantes do que o chazinho sem sabor que
havia compartilhado com a Elizabeth da outra vez.
Os últimos dois minutos da longa espera fizeram tudo valer a pena.
Martin Blake estava viajando e, ainda por cima, o cachorro também tinha
saído. Era hora de dar outra olhada no penhasco.
O som de passos se aproximando o arrancou de seus pensamentos. Ele
tirou a chave do bolso, jogou-a de volta ao gancho e agarrou a primeira
coisa que viu no balcão: um bule.
— Ah, te achei! — Elizabeth carregava uma bandeja.
— Bom dia. Fui dar uma caminhada e dei uma passada aqui pra ver se
conseguiria te convencer a me servir outra xícara do seu chazinho delicioso.
— Ele repousou o bule.
— É claro. Mas, olhe, aqui está o seu café da manhã. Leve isso e ache
um lugarzinho na sala de jantar. Bem, qualquer lugar, na verdade, desde que
já não haja ninguém sentado nele. — Entregou a bandeja a Bernie. — Vou
preparar o chá e te levo uma xícara daqui a um pouquinho.
— Maravilha. Obrigado, Sra. White.
— Me chame de Elizabeth. Pode ir.
Ela se voltou para o fogão e pegou a chaleira com a intenção de enchê-
la, enquanto Bernie partia com a bandeja. Na porta, ele olhou para trás.
Elizabeth encarou a porta. Não, para a porta não. Para a fileira de chaves,
onde a chave que ele tão descuidadamente havia devolvido ainda balançava
de um lado ao outro.
17- O SÓTÃO E A ESTAÇÃO
1853
A , E R e seu advogado estariam de volta, desta vez, para
levar as chaves, chutá-lo para fora e arruinar sua vida. Era o que pensavam,
mas cada segundo da última semana deixou Harry um pouquinho mais
feliz, ao passo que os planos ganhavam vida.
A maior parte das suas preciosidades, ele escondeu antes mesmo da
primeira visita. Exceto duas: o baú de madeira de Eleanor e o relógio de
pêndulo. O baú iria embora com ele. O relógio, não.
Harry atendeu a porta da frente na primeira batida, abrindo-a por
completo para deixar que Sam e Walter Brown entrassem. Os irmãos eram
trabalhadores e focavam no mar, em vez de nas minas. Tinham ajudado
Harry no projeto secreto durante a construção da Casa Palmerston. Em
troca, presenteou-os com um pedacinho de terra. Confiava neles.
— Rapazes, não foram vistos?
— Não, senhor. — Os olhos de Walter se voltaram ao relógio contra a
parede. — Mas parece refinado demais pra gente. Deixe-me vendê-lo por
você e te dar o lucro.
— Não está à venda, rapaz. Lembre-se disso, por favor. Quando for da
sua família, é onde deve ficar. Por isso, preciso de uma promessa solene.
Walter e Sam assentiram um ao outro. Então, Sam disse:
— Enquanto nossa família viver, nunca será vendido.
— Vamos colocá-lo na carreta. Não tem porquê arriscarmos sermos
vistos.
Depois que Harry enrolou o relógio nos lençóis da própria cama, os
três homens, com muito cuidado e uma boa quantia de resmungos, levaram
o objeto até a carreta que os esperava. Deitaram-no, com cuidado, numa
cama de feno. Foi coberto por uma velha vela de navio e amarrado.
Harry se sentou no degrau mais alto e observou os rapazes
desaparecerem de vista. Doeu. Era um relógio de pêndulo perfeito,
admirado por todos que o viam, mas o homem nunca mais o contemplaria.
Nem Eoin.
Agora, restava apenas o baú.
1853
H atrás do estábulo, esperando o anoitecer. A família
Ryan ainda não tinha chegado. O dia todo, carretas cheias de móveis
vinham pela rua. Reconheceu os trabalhadores da empresa madeireira de
Eoin Ryan, retirados das responsabilidades rotineiras para o trabalho
aparentemente mais importante de apagar qualquer traço da família Temple
na Casa Palmerston.
A última carreta foi embora, e Harry escalou ao segundo andar,
encontrando apoios para as mãos e os pés no calcário e se arrastando para
cima. A janela do quarto mais distante estava aberta, como ele rezou que
estaria. Em segundos, tinha entrado.
O baú não estava no quarto da filha, e a mobília nova enchia o cômodo
que, um dia, ele e Eleanor tinham decorado juntos. Não haveria mais
risadas, nem passos leves correndo dali ao quarto principal, de uma
garotinha com um grande sorriso.
— Maldito seja. — Bateu a porta ao sair, incerto quanto a quem havia
amaldiçoado. Sentou-se no topo da escadaria, construída baseada nas suas
especificações, com a madeira de Eoin Ryan. Abaixo, o saguão zombou
dele com lembranças: música do quarteto de cordas que havia trazido de
Melbourne; mulheres em vestidos esvoaçantes dançando com homens de
terno; os amigos, todos ali para a inauguração do século, há apenas dois
anos.
Onde estariam esses amigos hoje? Todos tinham dado as costas a ele
assim que pedira ajuda. Um deles, provavelmente, havia abrigado sua
esposa e filha, sem sequer avisar Harry de que estavam seguras. Sua vida
era um fracasso.
Depois de alguns momentos, sentindo pena de si mesmo, o homem
ligou a lanterna e foi procurar. O baú estava na sala de estar. Guardou a
chave num bolso, suspirando satisfeito, mas não havia tempo para se
deleitar com o momento, pois o som distinto de mais carretas atravessou a
janela.
Correu para fora da sala, em direção aos fundos da Casa Palmerston,
assustando-se com o som de uma chave na porta da frente.
Antes de chegar ao fim do corredor, a luz da lanterna de Eoin invadiu a
sala.
— Quem está aí? Pare!
Harry correu até alcançar a porta dos fundos. O ar gelado encontrou
seu rosto assim que irrompeu no quintal. Os passos pesados o seguiram, e
ele derrubou a lanterna, avançando pela trilha grosseira e adentrando a
noite.
— Volte aqui!
Harry se jogou atrás de uma árvore. Quando as luzes se aproximaram,
arrancou a chave do bolso. Não poderia ser encontrado, não com isso nele.
A prisão não era uma opção, mas era onde acabaria, se Eoin ou seus
homens o pegassem.
— Chefe, acho que ele foi por aqui — gritou uma voz, do outro lado.
Harry parou de respirar até ouvir Eoin voltar pela trilha e sumir de vista.
Saiu de trás da árvore, quase trombando com as costas de um dos homens
de Eoin.
— Aonde você acha que vai? — O homem se virou e tentou agarrar
Harry, que desviou e cambaleou para longe. O medo levou Harry até a
lagoa. Então, contornou-a, mas o perseguidor se aproximou.
Movendo o punho, jogou a chave no rasinho. Voltaria para pegá-la.
Seus pés escorregaram na terra macia da margem do lago, e ele se arrastou
até o terreno mais alto – direto ao punho de Eoin Ryan.
N estava pensando?
Charlotte olhou, pela janela, o carro de Trev e viu a paisagem ir das
costas para as montanhas. Por conta de um momento de fraqueza, agora
estava numa viagem de carro.
Uma hora mais tarde, sozinha na Casa Palmerston depois de Elizabeth
e Angus terem pegado a estrada para o dia em Warrnambool, um sedan
velho estacionou na frente do lugar e Trev desceu.
Ela abriu a porta, surpresa. Vestindo calça jeans e uma camiseta, o
sorriso dele era contagiante e a encorajou a aceitar o convite do homem.
— Não vamos voltar até o comecinho da noite, se você tiver outros
planos… — É claro que ela não tinha. — Você vai amar a minha mãe.
Charlotte encarou Trev.
— Tem certeza de que ela não vai ligar se eu aparecer na porta da casa
dela sem aviso?
— Sim. E não vamos visitar a casa dela. Vamos dar uma passada na
livraria.
— Ela tem uma livraria? — Agora, as coisas tinham começado a fazer
sentido. Quando Trev a convidou para ir com ele até Macedon Ranges
numa viagem para ver a mãe, Charlotte tinha se preocupado de que ele
pudesse estar esperando mais dela do que a amizade que tinham. — E você
sabe que eu amo livros.
— Exatamente. Então mesmo se você não estiver a fim de socializar,
vai poder dar uma olhada no lugar, enquanto falo com a mamãe.
Alívio preencheu Charlotte. Ele havia mencionado que a mãe estava
pensando em vender o lugar e que precisava de um tempinho para
conversar com ela. Com Bernie fora da Casa Palmerston, Trev tinha a rara
oportunidade de tirar um dia de folga. E gostaria de ter uma companhia na
longa viagem. Então ela estava ali apenas como companhia, com a
oportunidade de mergulhar nas maravilhas da livraria de uma cidadezinha.
— Você está sorrindo.
— Não estou, não.
— Está, sim, Charlie. Dizem que a comida ajuda a conquistar o
coração dos homens. No seu caso, seriam os livros? — Ele riu. — Não
precisa responder.
Ela não tinha a intenção de fazê-lo. Livros eram a sua fuga. O mundo
no qual ela podia se apoiar quando a realidade parecia estar desmoronando.
Olhou de soslaio para Trev. Ele era muito mais do que os braços
musculosos, o tanquinho e a beleza. Mas isso tudo era, com certeza, a cereja
do bolo.
— Eu te vi mais cedo. Com o Bernie. — Ela diria qualquer coisa para
deixar aqueles pensamentos tolos de lado.
— Ele achou que tinha deixado um livro no quarto, mas tudo que
Elizabeth encontrou foram garrafas d’água vazias.
— Um livro? Deve ter sido o diário de Harry Temple, imagino. Talvez
ele o tenha derrubado no lago.
— Não diga isso! Elizabeth não vai tolerar mais ninguém por lá,
mesmo que seja por uma prova.
— Provavelmente, deve estar no fundo de alguma mala. E você disse
que ela encontrou garrafas d’água amassadas?
Trev olhou para Charlotte.
— Por quê?
— Ele sempre faz isso. A mãe nunca o deixou beber nada engarrafado
enquanto o filho crescia. Nada de refrigerantes, nem água engarrafada. Ela
tinha algum tipo de fobia do som que faziam quando eram amassadas.
Bernie me disse que, no dia depois que ela morreu, ele comprou um pacote
de vinte e quatro garrafas d’água, esvaziou todas e, depois, amassou uma a
uma.
— E agora ele não consegue mais parar.
Charlotte olhou para as próprias mãos.
— Pensei que as garrafas fossem o foco da sua raiva, mas do jeito que
tratou a Christie…
— A inibição desaparece quando tem álcool envolvido, você sabe
disso. Se ele não tivesse bebido tanto, nunca saberíamos.
— Eu deveria ter dito algo antes.
— Deveria ter confiado em mim, eu usaria o seu conhecimento para
avaliar a situação. Mas admiro a sua ética, Charlie.
Talvez não admirasse mais se soubesse o porquê, o motivo verdadeiro.
— Por que você mora tão longe da sua mãe?
— Sempre muda de assunto quando escuta algo de que não gosta?
“Sim, Trev, eu mudo” seria a resposta correta, então não me olhe feio.
Mudando de assunto, então. Quando eu estava procurando emprego, não
achei nada mais perto de casa. Ela e o meu pai sempre moraram lá.
Conheciam todo mundo e nunca saíram dos Ranges. Eu cresci jogando nos
times locais de futebol e de críquete, frequentei as escolas da região e esse
tipo de coisa. Sempre quis encontrar algo pertinho deles.
— E está em Rivers End desde então?
— Eu amo aqui. Não teve nenhum dia em que me arrependi de vir
trabalhar aqui.
— Mas não vê mais a sua família todo dia.
— É verdade. Sinto falta da mamãe. Meu pai morreu faz tempo, mas
ela está rodeada de amigos e sempre recusa as minhas duas ofertas anuais
de vir morar aqui.
Com um suspiro breve, Charlotte voltou os olhos para a paisagem em
movimento. Uma mãe coerente e amorosa. Um pai, um dia. Um lar
enquanto crescia, e um lugar onde todo mundo se conhecia. Parecia um
tantinho com Rivers End. Quão diferente a criação de Trev tinha sido da
dela. Quão perfeita parecia ter sido. E quão totalmente fora de alcance
estava a chance de Charlie experienciar isso.
50- ALÉM DA DESPENSA
A outra vez assim que Trev fez uma curva longa e lenta,
descendo por um vale. Como se tivesse voltado no tempo, a primeira visão
que teve da vila quase o levou de volta à infância. Lembrou-se das tardes
longas e preguiçosas de verão, quando mergulhava no riacho do outro lado
da cidade e jogava bola com os amigos. Não havia mudado muita coisa ao
longo dos anos.
— Chegamos? — Charlotte se endireitou no assento, olhando
entusiasmada ao redor.
— Com certeza, está vendo aquele gramado? — Ele apontou para um
campo, aninhado ao lado de uma colina recoberta de árvores. — Fiz o meu
primeiro gol ali.
— Legal. Quão longe estamos de Hanging Rock?
— Não muito. Talvez uns quinze minutos.
— Eu amei o filme. E o livro.
— Minha mãe deve ter alguma edição. Pena não termos tempo de fazer
um piquenique por lá. — Ele riu da própria piada.
— Engraçadinho. Então, aqui parece muito com Rivers End.
— Exceto pelo oceano. Mas parece, sim.
Ali estava a loja. Ficou animado. Tinha tantas lembranças boas de
quando ajudava a mãe quando criança, de quando ganhava um dinheirinho
extra quando adolescente. Pela força do hábito, dirigiu ao estacionamento
que estava sempre aberto do outro lado da estrada, para deixar as vagas em
frente da loja livres para os clientes.
— Aqui estamos.
— Foi um bom passeio, obrigado.
— Não foi longo demais pra você? — Ele desafivelou o cinto.
— Não quando se tem uma livraria como prêmio — sorriu Charlotte, e
o coração dele deu uma cambalhota. Então, a mulher saiu do carro e
esperou que Trevor se juntasse a ela.
— Pensei que passar o dia comigo fosse o prêmio. — Ele trancou o
carro.
— Nada disso, é a livraria.
— Tem uma estação de trem não muito longe daqui. Você levaria…
talvez só um ou dois dias pra chegar em Rivers End.
— Bom saber.
— Ou poderia aceitar o fato de que gosta da minha companhia. Tome
cuidado, nada de atravessar fora da faixa, ou vou te prender. — Ele os guiou
até a faixa de pedestres.
— Você pode atuar aqui? Não que a estrada esteja movimentada.
— Regras existem por uma razão. — A conversa tola continuou
enquanto atravessavam a rua.
Em frente da loja, Charlotte fez uma pausa e deu um gritinho de
felicidade, algo que Trev nunca a ouviu fazer. Bisbilhotou a vitrine, com a
boca um tantinho aberta e os olhos arregalados.
— Quantos detalhes! Olhe como as flores foram perfeitamente
dispostas… assim como as pétalas no prato para destacar os cupcakes. E
são quase da mesma cor do livro que está no centro! Sua mãe faz tudo isso
sozinha?
— Entre e pergunte a ela.
Trev abriu a porta para Charlotte entrar primeiro. Ela esbarrou no peito
dele, e o aroma do seu cabelo invadiu os sentidos do homem. Não havia
como Trev se livrar do sorriso que surgiu no rosto.
A mãe estava nos fundos da loja, reorganizando alguns livros numa
prateleira. Ela ergueu os olhos, sorrindo, quando a porta se fechou. Seus
olhos se iluminaram quando reconheceu quem tinha chegado.
— Querido! Que maravilha.
— Oi, mamãe. Pensei em te fazer uma visitinha. — Encontraram-se no
meio do caminho, e ele se agachou para abraçá-la. Ela o apertou em
resposta, mas não com a força de que ele se lembrava. Um tanto da
felicidade dele se esvaiu. — A cadeira de rodas é nova? Quando foi que
você arranjou outra?
— Faz, no mínimo, uns seis meses.
— Ah. — Fazia tanto tempo desde que tinha estado ali. Quis xingar a
si mesmo.
— Hm, oi. Que loja linda.
Trev endireitou a postura.
— Charlie, venha conhecer a minha mãe – Sra. Rose Sibbritt. Mãe,
esta é a minha amiga, Charlotte Dean.
— Você prefere Charlie ou Charlotte, querida?
— Tanto faz, só não gosto de Lottie.
— Nunca vou te chamar de Lottie! E o meu nome é Rosie, por favor,
me chame assim. — Rosie esticou uma das mãos e Charlotte a apertou. —
É uma longa viagem para uma visitinha. Ou pretendem ficar? — Ela voltou
a cabeça para Trev.
— Desta vez, não. Desculpa. A oportunidade de tirar um dia de folga
surgiu hoje cedo, então aproveitei. A gente aproveitou.
— Tudo bem, querem um cafezinho?
— O que acham de eu ir atrás do café para que vocês dois possam
conversar? — ofereceu Charlotte. — Quem faz o melhor café na cidade?
Depois de algum direcionamento, Charlotte saiu pela porta. Trev a
observou ir embora.
— Eu aprovo. Ela gostou da minha loja.
Ele riu.
— Charlie sempre está com um livro na mão, parece. Eu não tinha
certeza de que viria comigo, mas quando mencionei a livraria, ela quase
pulou pra dentro do carro.
— Tem bom gosto.
— Obrigado, mamãe.
Rosie deslizou em direção ao balcão.
— Eu não estava falando de você.
— Eu sei. — Trev a seguiu. — Charlie vai se entreter aqui por horas,
então… o que acha de falarmos sobre a loja? Se você quiser.
Rosie virou a cadeira e se afastou um pouquinho, abrindo espaço para
que Trev tirasse um banco de baixo do balcão.
— Você dirigiu isso tudo por mim?
— Você precisava de mim, é claro que fiz isso.
Lágrimas inundaram os olhos de Rosie, e ela segurou a mão do filho.
— Temos muito sobre o que conversar.
1853
C balançando, Harry estava sentado na entrada da
caverna, com um copo numa mão, e uma garrafa de uísque requintado
noutra. Não havia razão para deixar toda a bebida boa ali. Brindou à noite e
entornou a dose, então, encheu novamente o copo.
Deveria faltar uma hora e pouquinho para a meia-noite. Estava cansado
demais para fazer algo além de se arrastar e voltar para a Casa Palmerston.
Depois que dormisse um pouquinho, traria a última leva para baixo, antes
que Eoin Ryan o despejasse. O sono e a comida o chamavam.
Mas, por alguns poucos momentos, quis apreciar a paz da noite. Ali.
Sozinho. O oceano se movia impacientemente sob uma lua quase cheia.
Ondas atingiam as rochas, e gotículas do mar molhavam sua calça e botas.
Seu corpo todo doía. Fisicamente, é claro, com a grande quantidade de
objetos que foram carregados e arrastados. Já foi difícil descer pelo túnel,
mas ainda havia a longa caminhada de volta. O coração ansiava por Eleanor
e sua garotinha. Pela vida alegre que compartilharam até aquela noite
fatídica.
Forçou-se a se levantar, jogando o copo no precipício. Acertou algo no
meio do caminho e despedaçou-se. Harry estremeceu. Ninguém gostaria de
cair dali. Tomou mais cuidado com a garrafa, fechando-a novamente com a
rolha e deixando-a em cima de sua mesinha de canto favorita. Ainda bem
que fez isso, pois a chave da porta abaixo da Casa Palmerston estava ali em
cima do tampo, e ele precisaria fechar a entrada ao sair.
A jornada de volta à casa levou um bom tempo. Harry parou muitas
vezes para descansar, arrependendo-se de ter bebido tanto. Assim que tudo
aquilo acabasse, pararia. Alcançou a porta de pedra e fechou-a com força,
trancando-a.
Havia apenas mais uma outra coisa para guardar ali. Faria isso quando
acordasse. No quarto da filha, sentou-se na cama, enquanto a tristeza se
misturava com triunfo. Poderia ter perdido muita coisa, mas impedira Eoin
de ter a satisfação de levar tudo embora. Um dia, muito em breve,
conseguiria devolver essas bonecas aos braços da filha e a veria sorrir. Por
ora, continuariam empilhadas no baú, esperando a última viagem até a
caverna.
No andar de baixo, o relógio de pêndulo badalou meia-noite. Harry
fechou a tampa do baú e girou a chave, trancando-o. Exausto, deitou-se na
cama e fechou os olhos. Quase adormecido, imaginou-se outra vez com a
família.
Mas alguém bateu na porta da frente, e Harry levantou-se num pulo.
60- O DIA DO CASAMENTO
D V
L 1
Thomas e Martha acreditavam que seu amor era invencível até que uma
série devastadora de eventos os separou. Para seu encontro final, eles
prometeram se reunir no cais onde se conheceram.
Cinquenta anos depois, Christie Ryan herda uma casa de campo em
ruínas em uma cidade litorânea da qual nunca ouviu falar. Com a descoberta
de um mistério comovente, se torna obcecada para desvendar velhos
segredos de família.
O artista recluso Martin Blake cresceu com seu avô depois de perder os
pais. A chegada em sua cidade de uma garota da metrópole com uma
conexão para o passado desafia tudo o que ele sabe sobre si mesmo.
Em lados opostos de um mistério, dois estranhos têm algo em comum e
correm o risco de ver seus mundos seguros destruídos. Cinquenta anos de
segredos estão prestes a ruir.
Uma história fascinante de amor perdido, coragem e redenção, e de
como as consequências da manipulação de uma mulher se espalha por três
gerações.
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L 2
Tendo arrumado o chalé de sua avó, Christie está pronta para deixar o
passado para trás e dar uma chance para um futuro com o artista local,
Martin. Quando Martin é abordado por uma desconhecida para um retrato,
ele aceita, ansioso para construir um novo lar para sua vida com Christie.
Você vai adorar este segundo livro da série Rivers End, por causa das
reviravoltas, do suspense que aumenta a pulsação e do calor que derrete o
coração.
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Sobre a autora
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