Adriano Cerqueira, Cientista Político e professor do IBMEC-BH
O Sete de Setembro deste ano virou um evento político com significação política específica: a comparação da capacidade de mobilização popular feita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro contra a atual capacidade de mobilização de Lula. Ou haveria grandes manifestações populares, como havia sido no mandato do presidente Bolsonaro, ou haveria baixa ou até mesmo nenhuma manifestação, como de fato aconteceu neste ano. Assim, o resultado foi negativo para Lula, em termos de sua popularidade e, também, de sua capacidade de gerar grandes mobilizações populares, o que foi uma de suas principais características como político e de seus dois mandatos do início deste século. As razões para a fria comemoração de nossa principal data são diversas, mas podemos elencar as cinco principais. Em primeiro lugar, Bolsonaro desenvolveu junto ao eleitorado brasileiro a marca da defesa da pátria e de nosso principal símbolo, a bandeira nacional. Mesmo os seus maiores adversários reconhecem que o verde e amarelo se transformou em um símbolo da direita brasileira, ou dos conservadores que estão conseguindo manter uma unidade de ação em torno dos símbolos tradicionais da pátria e da família. Esses valores são hoje publicamente defendidos por vários partidos políticos e movimentos sociais conservadores. O Sete de Setembro virou uma data política para esses grupos e, neste ano, houve uma mobilização de esvaziamento do evento, como protesto contra as ações repressivas contra grupos conservadores. Em segundo lugar, Lula não tem conseguido gerar uma mobilização popular como tinha conseguido no passado, em parte por causa das crises políticas dos governos petistas (crimes e prisões por causa da corrupção, principalmente) e pela grave crise econômica causada pela administração Dilma Roussef, que culminou com seu afastamento do mandato presidencial (impeachment dela em 2016). Em terceiro lugar, existe uma incapacidade de Lula, no terceiro mandato, de impor sua agenda política a um Congresso Nacional marcado por forte presença de partidos e políticos conservadores, especialmente na Câmara dos Deputados. Lula está sendo obrigado a negociar uma agenda híbrida com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, perdendo semanas e meses preciosos buscando alguma articulação efetiva com a Câmara, deixando de lado ações políticas de mobilização. Em quarto lugar, a popularidade de Lula está estagnada, segundo as pesquisas mais confiáveis, que mostram que a parcela do eleitorado que votou em Bolsonaro e, também contra Lula está mantida no patamar de 40% (é esse o índice de desaprovação do atual governo). Essa forte oposição está cristalizada e está aguardando, no mínimo, as oportunidades eleitorais para se manifestar, como as eleições municipais do próximo ano. Finalmente, em quinto lugar, está a má situação da economia brasileira, que não tem ainda um quadro favorável para a retomada de crescimento com baixas taxas inflacionárias, baixas taxas de juros e consistente crescimento do produto interno bruto (PIB). Pelo contrário, as projeções são de persistente inflação, taxas de juros acima dos 10 p.p. e pequeno crescimento do PIB. Logo, o governo está com pouca margem de manobra financeira para custear a pesada agenda de gastos do governo federal, comprometendo a promoção de uma agenda social que favoreça a popularidade do governo. O terceiro mandato de Lula está rapidamente se parecendo cada vez mais com o segundo mandato de Dilma (a propósito, Dilma tinha 39 ministérios e na semana do Sete de Setembro Lula anunciou seu 38º ministério...)