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O significado do Sete de Setembro de 2023

Adriano Cerqueira, Cientista Político e professor do IBMEC-BH


O Sete de Setembro deste ano virou um evento político com significação política
específica: a comparação da capacidade de mobilização popular feita pelo ex-presidente
Jair Bolsonaro contra a atual capacidade de mobilização de Lula. Ou haveria grandes
manifestações populares, como havia sido no mandato do presidente Bolsonaro, ou
haveria baixa ou até mesmo nenhuma manifestação, como de fato aconteceu neste ano.
Assim, o resultado foi negativo para Lula, em termos de sua popularidade e, também, de
sua capacidade de gerar grandes mobilizações populares, o que foi uma de suas
principais características como político e de seus dois mandatos do início deste século.
As razões para a fria comemoração de nossa principal data são diversas, mas
podemos elencar as cinco principais.
Em primeiro lugar, Bolsonaro desenvolveu junto ao eleitorado brasileiro a marca
da defesa da pátria e de nosso principal símbolo, a bandeira nacional. Mesmo os seus
maiores adversários reconhecem que o verde e amarelo se transformou em um símbolo
da direita brasileira, ou dos conservadores que estão conseguindo manter uma unidade
de ação em torno dos símbolos tradicionais da pátria e da família. Esses valores são
hoje publicamente defendidos por vários partidos políticos e movimentos sociais
conservadores. O Sete de Setembro virou uma data política para esses grupos e, neste
ano, houve uma mobilização de esvaziamento do evento, como protesto contra as ações
repressivas contra grupos conservadores.
Em segundo lugar, Lula não tem conseguido gerar uma mobilização popular
como tinha conseguido no passado, em parte por causa das crises políticas dos governos
petistas (crimes e prisões por causa da corrupção, principalmente) e pela grave crise
econômica causada pela administração Dilma Roussef, que culminou com seu
afastamento do mandato presidencial (impeachment dela em 2016).
Em terceiro lugar, existe uma incapacidade de Lula, no terceiro mandato, de
impor sua agenda política a um Congresso Nacional marcado por forte presença de
partidos e políticos conservadores, especialmente na Câmara dos Deputados. Lula está
sendo obrigado a negociar uma agenda híbrida com o presidente da Câmara dos
Deputados, Arthur Lira, perdendo semanas e meses preciosos buscando alguma
articulação efetiva com a Câmara, deixando de lado ações políticas de mobilização.
Em quarto lugar, a popularidade de Lula está estagnada, segundo as pesquisas
mais confiáveis, que mostram que a parcela do eleitorado que votou em Bolsonaro e,
também contra Lula está mantida no patamar de 40% (é esse o índice de desaprovação
do atual governo). Essa forte oposição está cristalizada e está aguardando, no mínimo,
as oportunidades eleitorais para se manifestar, como as eleições municipais do próximo
ano.
Finalmente, em quinto lugar, está a má situação da economia brasileira, que não
tem ainda um quadro favorável para a retomada de crescimento com baixas taxas
inflacionárias, baixas taxas de juros e consistente crescimento do produto interno bruto
(PIB). Pelo contrário, as projeções são de persistente inflação, taxas de juros acima dos
10 p.p. e pequeno crescimento do PIB. Logo, o governo está com pouca margem de
manobra financeira para custear a pesada agenda de gastos do governo federal,
comprometendo a promoção de uma agenda social que favoreça a popularidade do
governo.
O terceiro mandato de Lula está rapidamente se parecendo cada vez mais com o
segundo mandato de Dilma (a propósito, Dilma tinha 39 ministérios e na semana do
Sete de Setembro Lula anunciou seu 38º ministério...)

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