Você está na página 1de 28

0>2009, Editora Instituto Jose lu1s e Rosa Sundermann

A editora autoriza a reprodução de partes deste livro para fins acadêmicos e/ou
de divulgação eletrôníca, desde que mencionada a fonte.

Comitê editorial: João Ricardo Soares e Eduardo Perez


Produção editoríal: Luiz Gustavo Soares SUMÁIUO
Capa: Victor Alves Pontes
Editoração eletrônica: Oficina Anagrama
Revisão: Jo·ge Porf1rio
Revisão final: Diego Siqueira

Apresentaçào, 7

Dados internacionais de catalogação (CIP) elaborados no fonte por


lrací Sorges - CRB-8 - 2263
O fracasso dos planos neoliberais
na educação brasileira, 11
Costa, Áurea. ~mandes Neto, Edgard. Souza, Gtlberto. Edgard Fernandes Neto

A Proletariza<ão do professor: neoltberalismo na educação São Paulo: Editora


Instituto José lu1s e Rosa Sundermann, 2009.
Entre a dilapidação moral e a missão redentorista:
144 p.
o processo de a lienação no traba lho
dos professores do ensino básico brasileiro, 59
ISBN. 978 85 99 156-49-0 Aurea Costa

1. Situação na profissão 2. PolitKa e educação - Brasil. 3. Escolas públicas. 4 luta Das luzes da razão à ignorância uni versal, 101
de classe~., Titulo. li. Costa, Aurea Ili. Fernades Neto, Edgard IV Souza, G1lber10
COO: 371.15 Gilberto Souza

~j
',1111d, "" 11111
Editora ln~t11uto Josê Lu1s e Rosa Sundermann
Rua Matias Aires. 78 • 01309-020 • Consclação • São Paulo• Brasrl
.. 55 -11 3253 5801 (tel)
vendas ,ed,torasundermann.com.br • www.edítorasuodermann.com.br
APRESENTAÇÃO

Educação é o as~unto da moda: mt:'smo diante tia grave crise


econômica que atinge a economia capitalista, é o assunto mais dis-
cutido na mídia. Isso não poderia se dar de outra forma, pois a uni-
versalização do acesso à educação básica não significou o "paraíso
terreno" parn milhões de brasileiros desempregados ou subempre-
gados, wmo prometeram governos de direita e esquerda c10 longo
dos anos. A escolarização não garante, imediatamente, a inserção
no mercado de trabalho assalariado, com direitos e, consequente-
mente, melhor,\ d,\s condições de vida para a classe trabalhadora,
pois não é na escola que se criam os novos postos de trabalho. Na
conjuntura do neoliberalismo, houve a desintegração da promessa
integradora da escola.
A população brasileira, em sua grande maioria, é frmnada por
.,grafos e analfabetos funcionais, os quais se constituem em pessoas
i1ue passam pela escola e se certificam sem saber ler ou entender
lc.·xtos elementares.
Parafraseando Anísio Teixeira, ainda hoje temos que repetir:
"Educação não é privilegio".
Conforme a concepção de Estado foi mudando no ámbito do lí-
hl'ralísmo, foi mudando também sua relação com a educação escolar
lnrmalizada, o que é esperado, uma vez que as instituições escolares
-.:apitalistas são braços do Estado. Assim, no momenlo do Welfarc
8 A proletanzaçào dos professores Apresentação 9

Statc. em l}llt' o Estado tinha um c.:aráter fortemenll' interventor na tir dos grandes meios de comunicação contra os professores, alunos
economia, a escola era consi<lernda como estratégica na formação do e pais de alunos e, principalmente, contra o ensino público.
chamado capital humano, preparando a mão-de-obra para o ingres- Um exército de "especialistas" - pedagogos, psicopedagogos,
w no mercado, o que justificava um mínimo investimento público jornalistas, economísl.ts, psicólogos e outros produtores de ideo-
t'm políticas públícas para a Educação, a elaboração de um plano logias - resolveu "discutir" a crise da escola pública. Esse exército
nadonal de educaç.io e de um !>Jstema educacional de proporções mercenário, a soldo de governo~ e de grandes grupos económicos
nacionais e tendé1Kia mais c.:entralizadora. interessados na prívatízação da educação, descobriu a "pedra filo-
Na conjuntura neoliberal, o Estado assunw a forma de mínimo sofal": a crise da educação nada tem a ver, segundo eles, com a pe-
no que tange ao investimento no social; a escola permanece forman- quena dotação de verbas para a educação, com os baixos salários e
do mão-de-ohra para a nova organização do trabalho, mas agora condições de trabalho dos professores, muito embora a necessidade
contando wm financíamento cada vez mab restrito do Estado e in- brasileira seja de investimento de 10% do PIB para a educação, e as
serção de fontes ahl'rnatívas privadas de financiamento, que trazem agências internacionaís indiquem um investimento de 6% do PIB,
consigo ingerência da esfera privada sobre a educação escolar formal e o atual governo invista apenas cerca de 4,6%. Produz-se uma dis-
pública. torção da n.·alidade em que os grandes culpados são a má gestão das
É por isso que, nos discursos governamentais, a educação foi se verbas, os próprios professores que não sabem ensinar e os alunos
transformando de solução em problema a ser resolvido. Ela passou que não querem aprender.
a ser apresentada como um peso econômico para o orçamento pú- Mediante esse quadro os autores entenderam que os professores
blico, cada vez mais cobiçado e loteado pelo capital privado, nos dis- devem se apresentar para o debate, organizados nos movimentos so-
cursos e práticas dos diforentcs governos que passaram pelo poder ciais; mas, para além do movimento social em defesa do direito uni-
dc.sde o fim do ciclo militar ,tté no~sos dias. versal à educação pública de qualidade, é necessário um programa
É esse um mundo onde, cada vez mais, o capital invade todas as tJUe unifique a classe trabalhadora que atua na escola pública, seja
esferas da vída social e econômica, privatizando tudo, saqueando as ~orno pais, seja corno protessores e como juventude, em defesa do
finanças públicas - como a interminável e impagável dívida pública direito histórico de apropriação da filosofia, do conhecimento, da
demonstra - e com parcerias que servem como um sorvedouro de arte e da cultura universais - pois, para essa classe, a esi:ola pública
recursos antes destinados às chamadas áreas prioritárias, saúde e (• ll chance única de contato com esses saberes de forma sistemática e
educação. Podemos afirmar que a crise e a agonia da escola pública diária, durante a infância e a adolescencia, em especial.
está sendo gerada a partir do Estado capitalista, que de forma cada O livro foi organizado na forma de três ensaios que tém um eixo
vez mai!. despudorada assume a condição de instrmrn:nto da acu- ordenador comum; a crise da escola de educação básica pública no
mulação privada de capital. principalmente o financeiro, ratífkando Hrasil sob a égide do neoliberalismo, tendo como reterência o estado
seu caráter privado, transparecendo quão fictícias são suas funções dl· Sào Paulo. Empreendemos análises sobre a política educacional
de arbitragem dos interesses públicos, da realização da democracia e dos diterentes governos, a violencía da alienação no trabalho des-
da imptementaçào falaciosa de práticas sociais de cidadania. dl· .i formação dos protessores, a apresentação da conjuntura atual
Para justificar o desmonte consciente e deliberado do ensino pú· d.t cducaçáo básica brasileira. Pontuamo!> alguns elementos para a
hlíco, da educação básica a universidade, governos estaduais, muni- UHl'ilrução de um programa para a defosa da educação pública, de
cipais e o próprio governo federal orquestram uma campanha a par- •1u,1lidade e para todos, objetivando estimular o debate por todos
1O A proletarizaçào dos professores

os professores. pais, pesquisadores e militantes dos movimentos so-


ciais, poís ele tem sido realizado privadamente pelos tecnocrntas e
difundido na mídia, com vistas a produzir justificativas para as po-
líticas públicas de superexploração dos trabalhadores da educação.
sucateamento da escola pública em todos os níveis e privatização da
educação brasileira.
Enfim. agradecemos à Editora José Lu ís e Rosa Sunnderman
pela implementação do projeto do livro e dedicamos este trabalho a O FRACASSO DOS PLANOS
todos os professores das redes de ensino básico, num momento t'm NEOLIBERAIS NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
que vivem premidos entre a atribuição da missão de redimir a socie-
dade de todos os problemas por meio da educação e o veredicto de
responsáveis pelo fracasso da escola, que, na verdade, é produto de Edgard Fernandes Neto
uma política consciente do capital contra a dasse trabalhadora.

Os Autores
Novembro de 2008: a imprensa do ABC-SP, publica a notícia do
assassinato de duas crianças. uma de 12 anos e outra de 13 anos, na
cidade de Ribeirão Pires -SP. O pai, autor dos homicídios, asfixiou
os filhos e, l'.Om requintes de crueldade e sadismo, esquartejou os
corpos e colocou-os em sacos de lixo para o lixeiro levar. Antes Jo
crime hediondo, os dois irmãos tentaram fugir da casa e o Conselho
Tutelar os devolveu para os pais.
Abril de 2009: a grande imprensa divulga que uma professora
de Porto Alegre fora agredida por uma aluna e sofreu traumatismo
craniano, e que estava internada na U.T.I. do hospital.
Confesso que chorei diante destas notícias.
Não obstante, precisamos olhar a realidade como ela é. Nessa
medida. é explícito e elucidativo para nossa compreensão o que diz
Mário A. Manacorda no seu livro Marx e a pedagogia moderna:

"(...)O homem não nasce h,,mem: isto o sabem hoje tanto a fisiologia
quanto a psicologia. Grande parte do que transforma o homem em
homem forma-se durante a sua vida, uu melhor, Jurante o seu lon-
go treinamento para wrnar-::,e ele mesmo, em que se acumulam sen-
sações, experiéncías e noções, formam-se habilidades, constroem-se
12 A proletanzaçáo dos professores O fracasso dos planos neoltberats... 13

r~truturas biológicas - nervn~,1s e musculares - não d~1c.los J priori senso de Washington ( 1989) e na~ diretrizes da Declaração Mundial
pda natureza, m.1~ fruto do exercício que se desenvolve na, relações de Educação para Todos {1990). Ao contrário do final da década de
~oda b. gr.1ças às quais o homem chega a executar at()~ tantos "hu- 90 no séc. XX, hoje é possívd fazer um bala nço do neoliberalismo
manos" quanto "não naturais", como o fa lar e o trabal har segunúu definitivo t' não provisório, ("Orno afi rma,'a Perry A nderson no en-
um plano e um tlbjetívo. Ou talvez o homem nasça homem, mas ape- saio "Bala nço do Neoliberalismo" 2 : " . •. qualquer balanço atual do
nas enquanto possibilidade que, para se atualizar, requer, sem <lúvida, neoliberalismo ~ó pode ser provisório. Este é um movimento inaca-
uma aprendizagem num contexto social adequado...''1 bado." Por enquanto, porém, é possível dar um veredicto a("erca de
sua atualidade du rante quase 15 anos nos pa íses mais ricos do mun-
Podemos explicar tais fatos sob o ponto de vista sociológico, po- do, a única área onde seus frutos parecem. podemos dizer assim,
lítico, e tc. maduro~. Econo micamente o neoliberalismo fracassou, não conse-
Mas não podemos perder a sensibilidade. guindo nenhuma revitalização básica do capitalismo avançado. So-
Nãu podemos perder a capaddade de nos indignar. Podemos e cialmente, ao contrário, o neoliberalismo conseguiu muitos dos seus
devemos transforma r nossas lágrimas e no:.sa indignação cm or- obje tivos, c riando sociedades marG1damente mais desiguais. embo-
ganização e luta. Devemos di r igir a luta contra a sociedadt.> capi- ra não tJo desestatizadas como queria. Política e ideologkamentc,
talista que desumaniza o homem . Podemos e devemos lutar pelo ~odavia. o neoliberalismo alcançou êxito num grau com o qual seus
socialismo. fundadore~ provavelmente jamais sonharam, disse minando a sim-
ples ideia de que não há m ais alternativas para os ~eus principios,
Introdução que todos, seja confessando ou negando, têm que adaptar-se a sua-"
nor mas. Provavelmente nenhuma sabedoria convencional conse-
Em setembro de 2008 explode o mercado fin a nceiro norte-ame- guiu um predomínio tào abrangente desde o inído do séc ulo w mo
ricano. deflagrando. segu ndo os analistas. a maior ou de igual pro · o neoliberalismo hoje. Este fenómeno chama-se hegemon ia, ainda
porção c rise da economia financeira dos EUA desde 1929. O colapso que, naturalmen te, milhões de pessoas não acreditem em suas recei-
fin ancei ro se expande para a Europa, Asia e América Latina. Trata- tas e resistam a seus regimes. A tarefa de seus opositores é a de ofe-
i;e de uma agudização da crise estrutural do sistema capitalista que recer outras receitas e preparar outros regimes. Apenas não há como
atinge o seu epicentro, os EUA. prever quando ou onde vão s urgir. H istoricamente. o momento de
Na tentativa de amenizar a re..:essão econômica - alguns ana virada de uma onda é uma surpresa.
listas já falam em depressão -, os governos realizam intervenção Sem serm os pretensiosos ou arrogantes, podemos afirmar cate-
no mercado e drenam trilhões de dólares para salvar as instituições goricamente que, após mais de duas décadas d e hegemonia neolibe-
financeiras e as empresas capitalistas, estatizando total ou pardal- ral, este paradigma fracassou nos seus objetivos, nas economias dos
mente empresas, a exemplo dos governos dos EUA e d a Inglaterra. países sem iwloniais e dependentes. as1,im como no campo educati-
Este quadro agônico do sistema capitalista coloca a pá de cal que vo, que é o nosso foco. No entanto, não basta fazermos um balanço, é
faltava sobre o pa radigma neoliberal expresso nas diretrizes do Con- 1undamental apontarmos eleme ntos de programa para superarmos

l Manacorda. Maria Alighiero. Marx e II Pedagogia Modema. São Paulo: Cortez, 2 J_n &!der, Emir e Gentili, Pablo (orgs.). PJs-N,wfibtralísm<>. As políticas sociais
1996, pp. 2 e 3. ,. ,, l:stndo D.: mocmtico. São Paulo: Paz e Terra, 1995
14 A proletanzação dos professores O fracasso dos planos neoliberais.. 15

a crise estrutural da educação nacional. Nesse sentido, é vita l que as, cuja maiori,1 é mulher. Os índices de repetência e evasão e:.rnlar
os trabalhadores apresentem alternativas programáticas e políticas continuam elevados na maior parte das naçôes da América Latina .
p ..1ra superar este quadro agônico do sistema capitalista mundial, África e Ásia.
pois podemos estar frente a uma virada histórica. No caso do Brasil. os Governos FHC ( PSDB) e Lula (PT) nà11
A~sim. durante mais de duas décadas o imperialismo implantou conseguiram erradicar o analfabetismo; além di~so, vivenciamo~ o
planos dt' ajustes neoliberais n,\ educação, que alguns denominam crescimento do analfabetismo funcional. O~ índ1Ces de evasão e re -
reformas ou contra-reformas, no Brasil, América Latina. África e petência continua m os mais elevados do mundo. E o fraca sso esco-
Ásia, através de organismos multilaterais, como Banco Mundial lar é assustador. As avaliações externas como o SAEB, Prova Brasil,
(BIRD). FMI, UNESCO. BID etc. Os impactos dessas medidas :,fo ENEM, acumulam s ucessivamente baixos índkes de rendimento
desiguais de um país para outro. mas as diretrizes são semelhantes: escolar entre 1995 e 2007. Numa só frase: o Plano Decenal de Edu-
redução da participação do Estado e realização de parcerias, com cação para Todos fracassou.
fundações, ONGs, empresas e sociedade civil na área educacional.
Junto com isso, procurou-se fortalecer a perda do sentido da univer- A ingerência do imperialismo
salidade e gratuidade da Educação Pública, assim como da exclusi- nos sistemas educacionais do mundo
vidade do Estado como provedor. Porém, o redimensionamento das
funções públicas é diterente em .:ada um dos países; outro aspecto A evolução da educação é determinada pelas necessidades do
de destaque é a descentralização. No Brasil é a municipalização da desenvolvimento da economia capitalista que explora a classe assa-
Educação Fundamental e a política de fundos. No caso da Argenti- lariada. Assim, tanto o Estado .:amo a educação sempre Í<.)ram ins-
na, isso significou completar a provincialização, a transferênda da trumentos das elites que controlam o poder e a manutenção do siste-
responsabilidade da educação a todas as províncias iniciada pela di- ma capitalista. Por outro lado, as grandes transformações políticas,
tadura militar. No México, ainda que isso tenha ocorrido, esse pro- económicas e sociais determinam profundas mudanças no ~i-.tcma
cesso se deu em conjunto com uma forte cumplicidade entre Estado educacional brasileiro.
e Sociedade Mexicana. E no Chile, um país unitá rio e não federafü- Desta forma, vivenciamos desde a década de 1980 um aprofun-
ta, a descentralização é, de fato, a privatização subsidiada pelo Esta- damento da crise educacional no mundo. A glohalizaçào econômica
do, iniciada na ditadura de Pinochet. e a reestruturação produtiva provocam transformações profundas
Embora o neoliberalismo tenha obtido avanços significativos na no processo produtivo, exigindo um tipo de mão de obra melhor
implantação <fr suas políticas públicas nos <;istemas educativos do qualificada que questiona a qualidade da formação dos sistemas
Brasil e na América Latina, os objetivos expressos na Declaração educativos, colocando em xeque a escola e redimensionando o papel
Mundial de Edw::ação para Todos e depois reafirmados na Confe- da educação na medida em que questiona principalmente o papel da
rência de Nova Déli, no Plano Decenal de Educação para Todos, escola como unidade de formação para o mun<lo do trabalho e para
produzido pela Brasil cm 19()3, e no relatório para a UNESCO da .i vida social.

Comissão Internacional sobre Educação para o séc. X XI ( Relató- Nesse sentido, a crise da educação é reflexo da agudização da
rio Jacques Delors), na Confer~ncia Mundial em Dakar. etc., na sua nise estrutural da economia mundial. O aprofundamento da cri -
maioria não obtiveram êxito quanto às sua~ metas. O número de se econômica e financeira que levou inúmeros países à falência co-
analfabetos no mundo continua no patamar de um bilhão de pesso- locou o Brasil numa extrema vulnerabilidade, a dos especuladores
16 A proletanzação dos professores O fracasso dos planos neohbera,s... 17

mtcrnadona is, expressa em uma crise multifa.:etada dos sistemas BIR D. BID. UNESCO, USAID e UNICEF, patrocinaram e coorde-
educativos. naram, cm março de 1990, .1 realização da Conferência Mundia l de
l)s !,intomas mais eviJcntes estão no!! tfados divulgados pda Educação para Todo:,, em Jontien, Tailàndia, com a participação de
UNICEF e UNESCO: há cerca de um bilhão de analfobt'lo!,, Jus 155 países, centenas de agências bilaterais e multilaterais e ONGs
quais 1/3 !!.ào mulheres; 150 milhões de crianças não tem acesso internaciona is. Entre os principa is pa íses estavam os mais populo-
à escola; e o .111alfahetismo funcional é um problema de releván- sos como Chi na, Índia, Paquistão, Bangladesh. Brasil. Tailândia etc.,
cia na maioria da!, nações. A maior parte desses contingentes est.i que tinham e continuam com problemas crônicos no~ seus sistemas
ºº" países pobres ou dependentes. No entanto, essa crise crônica educadonais. como elevadas taxas de analfabetismo, repetência,
d;i educação também atinge os países ricos de ti.mna diversificada. evasão escolar etc.
Na Inglaterra, além do baixo desempenho da aprendizagem, há um Nesta confor~ncia foi aprovada a Declaração Mundial d e Educa-
alto índice de violência na!> escolas: em uma em cada cinco escolas, ção para Todos, uma carta-compromisso que estabelecia um prazo
os professores levam chutes, pontapés, empurrões ou cuspes de seus de dez anos para a aplicação de diretrizes educacionais patrocinadas
alunos. pelo Banco Mundial, UNICEF, UNESCO, 81[) etc., ern associação
O!, EUA. capital do imperialismo, estão seu sistema edu-
c(1111 com os governos e ONGs. Entre as principais metas, destacamos:
cacional em xeque. Há uma vísivd pauperizaçáo do nível d e en-
sino. adicionando a crescente escalada de violénda e de consumo l. Erradicar o analfabetismo:
de drogas nas escolas. Nesse sentido, é "exemplar'' o massacre da 2. Universalizar a educação fundamental;
escola Columbine. cm Littleton, subúrbio de Denver, no estado de 3. Eliminar a evasão e a repeténcia escolar;
Colorado, ocorrido no dia 20/04/99, no qual dois jovens mataram 4. Descentralização administrativa e financeira;
12 alunos e um professor e depois se suicidaram. Agora, no século 5. Priorizar a educação fundamental;
XXI, têm ocorrido inúmeros fatos com o mesmo grau de violência 6. Dividir a responsabilidade entre o Estado e a sociedade,
em escolas nos países imperialistas, principalmente nos EUA, Ingla- através de parcerias com empresas. n1munidade e a municipaliza.
terra e Alemanha. Isso não é um fenômeno isolado: é parte da crise ~ão do ensino fundamental;
estrutural da economia capitalista, que exclui milhões de pessoas 7. Avaliação de desempenho do(a) professor(a) e institucional;
ne~ses países e no mundo. 8. Desenvolver o ensino à distância e reestruturar a carreira
docente.
Plano decenal de educação
para todos: um plano neoliberal
FHC aplicou o plano neoliberal na educação
Há uma contradição entre a crise da es(ola pública e a necessi-
dade de uma escola que atenda as mudanças da economia. Assim. o Diante desse quadro, o governo FHC seguiu as políticas das ins-
imperialismo, tendo por base as experiências da implementação dos 1ituições do imperialismo, tanto na educação como na ecnnomia.
planos de ajustes neoliberais por Margaret Thatcher na lnglatel'l'a e Através do MEC. optou por uma política educacional subordi nada
Ronald Reagan nos EUA. cujos mentores foram Hayek (1985 e 1987) ,\i. diretrizes da Conferência Mundial de Educação para Todos. Essa
e Friedman {1977 e 1980). e através dos organismos multilaterais t)olitica está expressa no Plano Nacional de Educação (Lei 10.172/01)
18 A proletanzaçâo dos professores O fracasso dos planos neohbera,s... 19

que foi aprovaJo no Senado, sancionada pelo Exe,utivo, e cujo con- çào, houve um desvio durank oito anos de mais de RS 11 bilhões
teúdo vem sendo aplicado desde 1995 e tem como suporte a nova do Fundef e reduziu-se drasticamente a verba do ensino superior
legislação. (LDB n. 9697/96 e EC n. 14), aprovada em 19%. público. O governo FHC. seguindo a Declaração Mundial de Edu-
Assim. a política educacional desenvolvida pelo MEC está em cação, contrapõs o ensino basice.) ao ensino superior. Sucatearam as
consonância com as diretrizes dos organismos multilaterais inter- universidades públicas em detrimento da expansão desenfreada da
nacionais e possui dois pilares fundamentais: LDB n. 9697/96 e EC educação superior privada.
n. 14, e representou avanços na aplicação do plano de a_juste neoli- Assim, a herança de oito anos de aplicãçâo da política educacio-
beral no ensino, para combater a crise crônica que se expressa nos nal de FHC/Paulo Renato se expressa na agudização da crise crônica
mais de 20 milhões de pessoas analfabetas, no alto índice de evasão do sistema educacional nacional. Esta reforma educacional foi apli-
e repetência escolar. cada a serviço do FMI e do Banw Mundial para pagar as dívidas in-
Essa nova legislação está ~m sintonia com a política do Estado terna e externa. Agora sob o governo Lula, enfrentamos a aplicação
mínimo. O governo FHC adotou a estratégia de diminuir o tamanho <le uma política educativa subordinada aos acordos com o FMI e o
do Estado, reddinindo suas funções em relação aos serviços públi- Banco Mundial que se expressam no aprofundamento do plano de
cos. Dessa forma, as diretrizes essenciais da nova LDB e da EC n. l4. ,tjuste neoliberal.
como descentralização administrativa e financeira, prioridade para
o ensino fundamental, municipalização, reforma do ensino médio, Os desafios da educação nacional
parceria com a comunidade e empresa, avaliação do desempenho e
avaliação do rendimento escolar, estão todas a serviço de desobrigar Nesse início do século XXI. o sistema cducacíon.il bras1h:irn
o Estado em relação à educação e privatizá-la. .,travessa uma crise estrutural e crônica num contexlo rico de acele-
A avaliação de desempenho do professor, a avaliação institucio- rado avanço do conhecimento técnico e cíentífico. A decoditkaçàt,
nal e a avaliação do rendimento escolar (Sistema de Avaliação do do genoma humano, que expressa a revolução genética; a biologiil
Ensino Superior, ENEM, SAEB etc.) têm o objetivo de transformar nuclear, a biotecnologia, os saltos espetaculares da mkroeletrôni-
a escola em "empresa" sob a inspiração do programa de qualida- ca, a telemática, robótica e informática que revolucionam a relação
de e produtividade, adaptando-a ao mercado. Para tanto, nào hou- do homem com a natureza e transformam radicalmente o processo
ve aumento de verbas, apenas alocação de recursos para "melhores Jlrodutivo.
resultados". Nesse marco, também se agudiza a crise econômica e social com
Em sintonia com a reforma do Estado, o M EC propagandizava o aumento do desemprego e~trutural e a miséria que atinge 54 mi-
que as escolas teriam autonomia e que decidiriam a melhor forma lhôes de brasileiros, fazendo a crise educacional ter diversas facetas.
de utilizar as verbas. Entretanto, a nova LDB nào contempla nossa~ Assim, há um consenso entre empresários e governo de que a esco-
principais reivindicações e adota a gestão participativa. Na verdade la atual está descompassada com as transformações no mundo do
o governo t-:HC maquiou o projeto, querendo transparecer que esta- trabalho.
ria atendendo as reivindicações do movimenlo e que os problemas Após oito anos de aplkação do plano de ajuste neoliberal de
educacionais seriam resolvidos através da escola, sob a alegação de FI IC/Paulo Renato e sete anos de governo Lula, o balanço na educa-
que o problema da educação não é a falta de rernrsos e sim de ge- ç.\o é de resultados nefastos. Neste sentido, a publicação de dados do
rl'nciamcnto. Além de não ocorrer aumento nas verbas da educa- documento "Geografia e Educação brasileira", em março de 2003,
20 A proletarizaçào dos professores O fracasso dos planos neoliberais... 21

o i:-emo escolar de 200-L pelo INEP, e os resultados das avaliaçõe~ estes, 21 milhôes t~m três anos de idadt.>, 19 milhões são crianças de
externa~ (SAER, ENEM, Prova Brasil) entre 1995 e 2006 detfüHlS- 4 a 5 anos. 36.5 milhôcs estão t'lllre 6 e 14 anos, e 119 milhões tém
tram de form.l írrefutávd qut: esta política promoveu .t cxclusáo de idade igual ou superior a 18 ano!..
milhúes de crianças e jovens do Sistema Educativo Nacional. Os dados public.11.lu:. pdo INEP-MEC de 2003 a 2008 demons-
tram de forma cabal o fracasso do Plano Decenal de Educação para
O colapso da edlucação básíc.a públi:ca Todos e de seu alicerce, a Legislação furídica ( LDB n. 9394/56, EC
n. 14, agora EC n. 53), quanto a seus objetivos de superar a aise do
Em toda a história da educação brasileira, a escola básica pública sistema educacional nacional.
sempre foi e é excludente, segregacionista e racista. O resultado do Ct'nsu escolar de 2004 apresentava que tínha-
As escolas do ~istema educacional brasileiro ~1ào tem consegui- mos 55.027.803 matrículas na Educação Básica, das quais 88%
do ensinar e in!'.truir de maneira sólida e com competência os alunos (48.122.307) são de escolas públicas. Em 2005, o total de matriculas
que por ela passam. A política educacional, o Plano Decenal de Edu- era 56.471.787. Já em 2006, registram cerca de 55.949.047 matrkulas
cação para Todos, aplicado desde 1995, acentuou esta tendência. Os na Educação Búsica, das quais 86,5910 da escola pública. No ano de
alunos nfio tém se apropríado satisfatoriamente dos conhecimentos 2007, o total de malrkulas era de 52.969..156 na EdtKaçâo Báska,
escolares: não desenvolvem o raciocínio aritmético e matemático e, que representou uma variação negativa de 5,35% em relação a 2006.
assim, não aprendem as quatro operações fundamentais; não do- Em 2008, são 53 milhões de matrículas no Ensino Básico, entre as
minam corretanwntc a leitura e a esaita e saem da escola sem um quais 86% no ensino público.
domínio sólido da língua portuguesa; não desenvolvem o raciocí- Atuam na Educação Bá:-ica cerca de 2,5 milhões de profissio-
nio científico propíciado pelo estudo das ciências físico-biológicas; nais; se considerarmos os funcionários de apoio esse número é bem
não se preparam para o trabalho, nem tampouco para o vestibular: maíor. A maioria dos professores está no Ensino Fundamental, st'n·
enfim, passam pelas escolas sem conseguirem superar os saberes do que na:. turmas de 5" a 8• séries são 835.386 profissionais. Nas
dados pela experiência imediata, rumo aos conhecimentos mais sis- turmas de lª a 4ª série ,1tuam 822.671 docentes e no Em,i110 Médio
temáticos e científicos. 41J7.994 profissionais.
O siskma educacional nadonal tem contribuído para reprodu- O censo mostra que há 2U milhões de an,llfobt'lrn, tola is e t:crca
zir, grosso modo, a sociedade de classes brasileira, com su,\s extre- de 70 milhões de brasileiros que não possuem o Ensino Fundamen-
mas desigualdades sociais. Esta reprodução não se dá tanto pelos lill completo. Da mesma forma, existe uma queda de 1,2% no núme-
conteúdos que transmitem, mas pela exclusão d!a maioria dos alu- l'll de matrículas m1 Educação Fundamental. Atualincntc, 97% das
nos, pobres e das classes trabalhadoras dos bancos escolares. Des- , .. íanças de 7 a 1-1 anos estão matriculadas na Educaç,10 Fundamen-
sa forma, o Plano Decenal de Educação para Todos, aplicado desde 1,11. Constata-se que a Educação Infantil apresentou a maior taxa de
1995, nn governo FHC (PSDB), até o presente, no final do governo , rt·sdmento cm relação a 2003: 7,9%, passando de 6,4 milhões de
Lula (PT}, materializado pelo PDE., aprofundou a crise crônica e ,,hinos em 2003 para 6,9 milhües em 2004. Na creche, o aumento
estrutural da educação nacional. como poderemos comprovar com h1í de 8,9% e n,i pré-escola de 7,7%. O Ensino Médio, embora apre-
alguns dados que apresentamos a seguir. '1\'llt,rndo unu\ taxa inferior a 200.3, teve um crescimento de 1%, que
As demandas da educa<;ão básica são incomensuráveis; segundo , lll'rcsponde a 8.056.000 de matrículas. Enquanto o EJA. Educação
o IBGE, lemos uma população de 190 milhôes de habitantes. Entre 11.ira Jovens e Adultos, no Ensino ivtédio teve um aumenlo de 181Yo,
22 A proletarização dos professores O fracasso dos planos neoliberais... 23

equivalente a 1,2 milhões de estudantes. No total são 4.6 milhões de A Sinopsc Estatística da Educação Básica, divulgada em
m.Hrkulas na Educação de Jovens e Adultos. 15/05/2007. disponibilizada pelo INEP em seu site na internet. ex-
O rdatório do INEP, feito pelo governo FHC mas divulgado em pressa uma piora nos indicadores da educação. As taxas de reprova-
março de 2003. mostra a geografia da educação brasileira até 2001. ção no Ensino Médio voltaram a aumcnt,ir no Brasil em 2005, pelo
Este p.rnorama da educação demonstra a calamidade do ensino. De sétimo anu ~onsecutivo desde 1998.
cada 100 alunos matriculados no Ensino Fundamental, -11 deixam Esse crescimento fez com que o percentual de 11,5% de alunos
a escola sem completá-la. Os que conseguem se formar gastam em reprovados praticamente igualasse os níveis verificados no início da
média 10.2 anos. A relação entre alunos que iniciam e termin,un o década de 90: em 91, 11,6% dos estudantes foram reprovados.
curso é melhor no Ensino Médio. De cada IOO que ingressam, 74 No Ensino Fundamental, o percentual de reprovados ficou esta-
concluem. em média após 3,7 anos. Do total de matriculados na bilizado c:m 13% em comparação com 200-!. A taxa de abandono dos
13 série do Ensino Fundamental. apenas 40% concluem o Ensino estudos no Ensino Fundamental caiu nov,tmente em 2005, chegando
Médio. ' ,t 7,5%. Desde 2000, quando esse percentual era de l2%, essa tax,t vem
Este estudo demonstra que os alunos passavam 4,3 horas por ~aindo no Ensino Fundamental. O mesmo nào aconteCl' no Ensino
dia cm sala de aula e seus professores recebiam em média RS 530,00 Médio. Desde 1997, o percentual de jovens que abandonam esse nível
mensais, sendo que quase a metade deles (46,7%) tem formação de de ensino tem variado bastante, mas sempre ao redor de 15% e 17%.
nível médio. Aponta que 21.7% dos estudantes de Ensino Funda· A publicação dos resultados do ENEM e do SA EB em fevereiro
mental repetiram de série em 2000, que 39% dos alunos matricula- de 2007 pelo INEP (MEC) provocou em toda a sociedade brasileira
dos no Ensino Fundamental não tinham idade adequada à série que ~rande impacto, mas não surpresa, e coloca em xeque todo o sistema
cursavam e que no Ensino Médio esse número chega a 53,3% dos l'oucadonal nacional e a política póblica na educação aplicada desde
estudantes. 1996. São alarmantes os dados das avaliações da Educação Básica e
Ao contrário do que foi cantado e decantado pelo governo FHC Supei-ior, revelando a falência da educação brasileira.
e agora no governo Lula, a educação permanece numa profunda Os resultado!) indicam uma queda acentu.lda no desempenho
crise. Continuam elevadas as taxas de evasão e repetência, isto é, dos alunos da Educação Básica desde I 995. O SA EB (Sistema Nacio-
o ensino brasileiro é um funil. Temos uma pesada herança de des- nal de Avaliação da Educação 8.1síca) aplicado em 2005, que testa
cnso e sucateamento da educação. Em 2002 a taxa de repetência no l onhecimentos de português e matemática, revela os mais baixos

Ensino fundamental foi de I 1%; em 2003, 11,8%. No Ensino Médio, l11dices de rendimento entre estudantes da 8ª série do Ensino Fun-
em 2002 foi de 7,4% e ern 2003, 8,2%. Os dados indicam que hà um d.unental e Ja 3~ série do Ensino Médio, desde sua primeira apli-
crescimento das taxas de repetência escolar e uma queda no desem- l ô\ção, em 1995. Os estudantes da 4ª série do ensino Fundamental

penho dos alunos nos testes do SAEB. Ao mesmo tempo. segundo 11v~ram o melhor rendimento desde 1999, mas ainda abaixo daquele
dados do INEP. 53% do total da população é analfabeta funcional; ,,presentado em 1995.
no mês de setembro de 2005, foi publicada uma pesquisa do IBOPE, Os resultados expressam a dificuldade e o fracasso das políticas
apontando que 75% do total da população brasileira não conseguem 1·dm:acionais do!> últimos l2 anos, tanto do governo FHC (PSDB)
ler e escrever plenamente. A quase universalização do Ensino Fun- • 11111n do governo Lula/Haddad (PT).
damental não esconde a discriminação e a exclusão que as crianças São Paulo, o estado mais rico da federação, foi o estado onde
e os jovens sofrem na educação escolar. ,,,. llll~dias mais caíram nas provas da s• série de 1995 a 2005. Nas
24 A proletanzacão dos professores O fracasso dos planos neohbern1~ 25

provas do Ensino Médio, foi o estado que teve a maior queda no Na faixa de 7 a 1-t anos, na qual o ensino está prntKatnl'llh.· 1101
desempenho em portugues e o 3° em matemátk,1. versalizado (97,6%), o percentual dos qm: let'm e escrevem r l'!',l,10 11,1
Esta avaliação exlt'rn,1 foi aplicada rumo um instrumento para escola chl·ga a 87.2%, o eq u ivalente a 2, 1 milhões de críanç,l!..
mensurar o desempenho dos alunos ao longo do tempo. O SAEB é Na me!',ma linha. o Rdatúrio da UNESCO - órgão <l,1 l>Nll
aplicado a cada dois anos. Em 2005, foram avaliados 194.822 alunos "acima de qualquer suspeita"-, publicado i:m 25 de novembro 200H.
de 5.940 Escolas Públicas e Particulares. mostra que o Br,lsil conseguiu reduzir a reprovaçáo no Ensino h111
A comparação dos índices recém-divulgados com os de 2003 re- damental entre 1995 e 2005, mas a melhora não tirou o país dn li!->la
vela uma queda de rendimento de 9,1 pontos na midia de português dos paísci. de mau desempenho educacional. Do!> 150 países compa-
e 7,4 pontos na de matem.í.tka, numa escala de O a 500 pontos. Em rados. apenas Nepal, Suriname e l 2 países africanos tbn repelência
2005, a média da 3ª série do Ensino Médio foi de 257,6 em português maior.
e 271,3 cm matl'mática. Segundo o relatório anual da ('ntida<lc. que "mostra" o grau de
A publicação tios dados do ENEM (Exame Nacional do Ensino cumprimento das metas traçada!> em 2000 11.1 Conferéncia Mundial
Médio) de 2006 indica da mesma forma uma queda de rendimt!n- de Educação, o Brasil conseguiu reduzir sua repetência de 2-!% para
to entre os alunos do Ensino lvlédio comparado ao ano anterior. O 19%.
resultado também evidencia, mais uma vez, a diferença entre a rede O patamar é elevado quando confrontado com a média mun-
pública e a privada. dial. 3%, ou mesmo com os 13<¾, da África Subsaariana, região mais
O exame é aplicado de forma voluntária e anualmente. desde pobre do mundo.
1998, e feito por alunos que estão concluindo o Ensino Médio ou por As elevadas taxas de repetência não resultaram, no caso do Bra-
aqueles que já concluíram. É dividido em prova objetiva e redação. sil, em melhora do aprendizado.
Na sua primeira edição. cerca de 115 mil alunos partidparam. O rel,1tório lembra que mais de 60% dos alunos brasileiros não
Na última edição, 2,78 milhões se submeteram ao examt:. O grande conseguiram passar do nível básico de aprendizado escoh,r na pro-
aumento :.e deve ao fato de que as notas do exame são usada:. como va de ciência do PISA (exame que compara os estudantes ~m 57
base para holsas do Prouni (Programa Universidade para Todos) . A países).
média das notas na prova objetiva caiu de 39,4 t·m 2005 para 36,9% Tanto os resultados do ENEM como da SAEB confirmam o qut'
em 2006. Já l\,\ redação, a média caiu de 55,96 para 52,08. A nnta ;á foi comprovado pelos resultados <la Prova Brasil de agosto 2006:
máxima em ambas as provas é 100. o desempenho pífío dos alunos da Educação Básica pública na!> av.1
A síntese de Indicadores Sociais do IBGE divulgada em 24 de liações externas, sem entrar no mérito da natureza destas avali,1~úe!'>,
setembro de 2008 revela q1.11,' oito entre 10 crianças que não :rnbt:m revela que a escola pública não está cumprindo a sua função minim.1
ler e escrever estão na escola. de ensinar a ler, escrever e calcular.
Segundo a pesquisa, 8-1,5% das crianças de 8 a 14 anos que não
sabem ler frequentam a escola, o equivalente a II mi lhões de crian- A crise do ensino superior
ças. Deste total, 745,9 mil vivem no Nordeste.
fates dados reforente:. a 2007 expõem a fragilidades do Ensino A Reforma Educacional do Emino Superior ini.:iaJa por FIIC e
Fundamental no país, apesar dos avanços nos últimos anos em rela- agora o Prouni e a Reforma Universitária do governo Lula estão em
ção ao acesso à escola. !ti nton ia com as novas exigências da reestruturação produtiva e da
26 A proletanzação dos professores O fracasso dos planos neol1bera1s... 27

globali1..ição e(onúmica e têm o objetivo de dcsohrigar o fatado do to, através do repasse t.le recursos públicos, principalmente pelo
financiamento públirn e privatizá-lo. A contra-reforma universitá- BNDES e bols,1s de estudos. Os dJdos mostram que três instituições
ria e o Prouni obcdeet·m às diretrizes e tem como fonk inspirador,t particulares que nem se4uer apareciam no rnnking das 20 maiores
o do(umento t.h:·mHninadu "La EnseúJ.nz;1 Superior. Las lecciones universidc1dcs do país, em 1991. hoje despontam como as maiores
derivadas de La Experiência", do Banrn lv1undial. Este documento do Brasil.
foi publkado em 199-1 e segue a~ liliões aprovadas pela Conferência Estes conglomerados de ensino surgiram há menu~ de uma dé-
lnternacion.tl de Educaç.,o para Todos {L990). Entre as principais cada. É o caso da Vnip, Estácio de S,i. Vibra ( Universidade Luterana
orientações, destai.:amos: Brasileira). Em 1990, a rede de Ensino Superior era dividida em 6240
a) Incentivar a maior diferença das instituições e impulsionar as de privadas e 38~o de públicas, em 2000, 67% de privadas e 33% de
i nstituiçõcs privadas; públicas. Entre as dez maiores universidades, seis são privadas.
b) Dar condições e i1Kentivos para que a~ instituições públka~ Segundo dados do relatorio do Banco Mundial de 1994, o Brasil
diversifiquem as fontes de financiamento; situava-se entre os países do mundo com maior taxa de privatização
e) A redefinição da função do governo no Ensino Superior: da Educação Superior, no extremú oposto de países como a França,
d) Adoção de programas que priorizem os objetivos de qualida- EUA, Tailândia. México, Panamá. Paquistão etc ...
de e equidade; Em relação ao financiamento da Educação Superior, verifica-
e) Adequação do Ensino Superior às demandas do mercado de se que há uma redução do financiamento público iniciada com a
trabalho e as transformações da economia. democratizaçào (década de 80), que se aprofunda com o ajuste do
Estas díretrízes estão materializadas na política para a Educa- governo Collor e atinge o ápice na em FHC.
ção Superior e foram desenvolvidas como projeto piloto pela ONG Os cortes orçamentários reduziram o financiamento para 52
"Orus" pre~idida por Edgar Morin e que tem como diretor Tarso universidades federais a apenas 0.61% do PIB (2001). 1/3 a menos
Genro, atual ministro da justiça do governo Lula. que percentual de 199-l. Mais exatamente, a queda foi de 0,97% em
Nesse sentido, os dados do INEP/MEC demonstram de modo 1989 para 0,61 em 2001.
inequívoco a situação da Educação Superior. O número de matrícu- Em contrapartida, houve um incremento na demanda por vagas
las na rede de Ensino Superior do país teve um aumento de 13,7%, na graduação e pós-graduação. No início da década de 90, concluí-
em 2000. Em 2001, de três milhões de matrículas a rede privada ab- am anualmente o Ensino Médio cerca de 500 mil alunos. Em 2001,
sorveu 69% e a rede pública 31%; no entanto, a rede privada apresen- foram cerca de 2 mílhões, com um crescimento de 200%. Esse nú-
tou resultados qualitativos inferiores à rede pública. Nos últimos 20 mero pressionou a demand,1 por Educação Superior. passando de
anos o setor privado cresceu 58% e o público encolheu 25%. l,5 milhões de estudantes para 2,7 milhôes no ano seguinte. Nos
As instituições particulares são os principais responsáveis pelo próximos-lanosa demanda por Ensino Superior atingiria cerca de
aescimenlo do Ensino Superior no Brasil. De 1980 até hoje, o nú· 7 milhões de candidatos.
mero de estabdedmentos privados no setor cresceu 57,6%, indo de A demanda na pós-graduação é menor, mas tende a acelerar (l/2
682 para l075. No mesmo período, o número de instituiçõe~ públi· milhão de títulos na graduação). Dos 4 milhões de candidatos no
cas diminuiu de 200 para 150, uma queda de 25%. 1rno 2000, um ~m cada quatro conseguiu vaga. A projeção de matrí-
Na verdade, o setor privado se tornou "grandes conglomerados ,ulas no mestrado e doutorado deve ter um aumento aproximado de
de ensino". Este pl'ocesso se acentuou na gestão FHC/Paulo Rena- IOO%, nos próximos anos.
28 A proletanzação dos professores O fracasso dos planos neoliberais. . 29

ta(e a estas nt'l't'~:-.idades houve um~, acentuad,1 redução de re- cação promovida pelo governo 1.ula/Haddad, o lNEP divulgou no
cursos, o que levou a uma profunda crb~ financeira das universida- mês de ,\hril de 2007 os re~ultados (fa avaliaçào do Ensino Superior
des públicas, aprofundando ,1 política de criação de "fundaç<"ies" nas de 2006. que mostram o fracasso da reforma do Ensino Superior
universidades. As fundações :-.ào entidades de direito privado dentro aplicada nos últimos 12 anos.
da universi<lnde pública. Repre~entam uma privatização Jisfarç,u.la, De ac:ordo com 11s dados, 30,2% ou 1/3 dos cursos das in~titui-
pois podem driblar a burocracia e vender serviços, como cursos pa- ções particulares avaliadas pdo EN ADE tiveram um bnixo <lesem
gos, consultorias t.' pesquisas. A reforma universitáriu Ju governo penha, isto é, obtiveram conceitos I e 2, os mai!> baixo~ de uma esca
Lula aponta para a leg,1l izaçào destas fundações, dando passos pua la que vaí até 5. Entre .is públicas, o número é de 16,9%.
privatizar as universidades públicas. Apesar desse processo privati· Apenas l,6°-ii da!> instituições privadas alcançaram o conceito 5,
zantedas universidades, a pesquisa acadêmica no Brasil concentra-se contra 21,21.!-h das públicas. No total, o conceito 5 foi obtido por 5,1%
nas UniversiJades Púhlíc.ls. Estas instituições promovem 87,1% do~ das instituiçôes .walíadas pelo MEC - me~mo !tem a USP e a Uni-
cursos de mestrado e 89,2% dos cursos de doutorado. Respondem camp, que não participam da avaliação. Foram avaliados 5.701 cur-
por 97,2% dos projetos financíados pela FAPESP em que se identi- sos. O exame avaliou 386.524 alunos de l.600 instituições de Ensino
ficam impactos de natureza cientifica. sodal e econômica, segundo Superior em 15 área1>. Não participaram desta aval iaçâo 208 das 896
a!t informações do relatório "A presença da Universidade Públic.t'', públicas e l.59~ das 4.005 privadas.
da Comissão de Deba da Universidade Pública do IEA, da USP - a O ENADE, que faz parte de uma avaliação maior do governo
FAPESP, junto com a CAPES/CNPq, responde pela maior parte da lcderal, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sl-
pesquisa no país. NAES), completa sua terceira edição, tendo avaliado um grupo de
~raduaçôc~ de todas as instituições. Se os resultados da avaliação
A outra face da .c1r1j,se do ens,ino superior do ENADE indicam uma profunda crise de qualidade parn as ins-
tituiçües privadas. do mesmo modo a média geral inJi(,1 um baíxo
Tendo por base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de ,lcsempenho.
Domicílios (PNAD), publicada em setembro de 2007, o IBGE aponta Considerando a avaliação de conhecimento espedtko de ('ada
que o total de estud,mtes matriculados no Ensino Superior passou ,\rea, a situação geral é ainda pior: nenhuma ,,rea teve média geral
de 5,19 milhôes t'm 2005 para 5,874 milhões em 2006. Houve um maior que 50, sendo que o caso mais grave foi o de Ciências Econô-
cresc,i mento de 68-l mil estudantes, que é ,\tribuído ao envelheci- micas que cm média fez apenas 25,7 pontos de 100. Se observadas
mento da população e ao aumento da procura por cursos de nívd ,t'i regiões ,do país, a situação da Região Norte é a mais grave, pois
superior. qunse 50(¾, dos cursos tiveram conceitos J e 2. A melhor posição é a
A expansão ocorre majoritariamente no setor privado. A maior d., Região Sul. t:'om 28.3% de cmKeitos 4 e 5.
parte dos estudantes, 75,5%, está m,ltriculada em instituições parti- A crise da Educação Superior atinge tanto a!) instituições pri-
culares. Na região Sudeste. o percentual atinge 81,8%. O percentual v:idas quanto as públicas. Ela se expressa não só no baixo desem-
de alunos na rt'de privada 1m Educação Superior no país cresceu l'l'nho do!> alunos, mas tamhem no baixo ac~s~o à Educação Supe-
15,3%. 1 ior: não ultrapassa 209ú. Este quadro é o resultado de uma política
Além destes dados que demonstram a natureza e as consequên- m·olibcral aplicada na Educação e desenvolvida durnnte os oito
cias do aprofundamento da aplicação do plano neolíberal na Edu- ,mos da gestão de FHC/Paulo Renato e na duas gestões do governo
30 A proletarização dos professores O fracasso dos planos neol1bera1s... 31

Lula/1-laddad. Os baixos inve~tinwntrn. na Educação Básica e Su- rência entre as empre..as nacion,lis e estrangeiras, o que. segundo as
perior incidem diretamente na qualidade da Educação. Não é por norma~ <la OMC. pode acarretar graves sanções comerciai~.
m:.tso que l.'.re~cem as denúnciasd.,m,, qualidade na formação do Nesse Sl'llti<lo, é ilustrnliva a minuta do ,Kordo da ALCA no i:a-
médico, do advogado e do professor, entre outras. Neste marco, o pftulo de !.erviço~. tornada pública em julho de 2002. Nela é l'Xplkito
governo Lula/PT vem aplicando a Reform,, Universitária fragmen- o tratamento por um país de igualdade entre as empresas estrangci
1
tada, que aprofunda ;.1 criação de "Fundações" na~ Universidades rase empresa~ nacíonais; proíbe-se est.,belecer limiks com rd,,çfo
Públkas. São entidades de direito privado dentro da universidade ,w número de empresus privadas de educação e saúde para operar
pública que modificam a natureza destas imtituições. Ao mesmo 1nw:1 determina~o país; cont~m. p~oposta~ sobre auto-r~gulamen·
tempo, em nome da "inclus.io" repassa recursos financeiros públi· taçao sem harreiras para o comerem. Na verdade, o ,ap1tulo sobre
cos para a rede privada de Educação Superior, por meio de conces- liCrviços apresenta uma estrutura legal que possui uma sô estrntegia:
são de "empréstimos" do BNDES. isenção focal e bolsas de estudo: dar trânsito livre para a ação irrestrita das multinucíonais e llexíbi·
é o famoso Prouni. lizar os mer('alirn, nacionai~. As tr,rnsnacionais vào abocanhar até as
Esta política aplicada na educação sempre esteve e está subordi- \.Ompras governamentais, isto é, os governos poderão ser obrigados
nada às transformações da economia. Toda a reforma educ.1cional n importar até merenda escolar e reconhecer diplomas ou certifica-
de FHC/Paulo Renato ( 1995 a 2002) e de Lula/Fernando Haddad dos de empresas do ensino multinacionais de cursos 011-lint·.
(2002 a 2010) é aplicada a serviço do Banw Mundial e FMI. e da Tod,1 preocupação com a educaçào esá ,1ssentada no fato de ser
inserção nas transformações da economia mundial. 11111 setor ele possibilidades ilimitadas em rdaç.'io ao lucro. O banco
McrrHI Lynch cakulou o mercado mundial do conhecimento pela
A mercantilização da educação e a educação corno direito internet em 9,-J bilhôes de dólare~ no ano 2000 e estimulou que esse
valor poderá alcançar, ~rn três anos, a cifra de 55 bilhôes de dólares.
A ofensiva da mundialização do capital foz com que o imperia- hm janeiro de 2001, a revista O Corrdo UNESCO dedkou todo este
lismo tenha na mira os serviços, o que tem profunda conexão com a número a artigos que afirmam que a educaçào no mundo representa
educaçáo na América Latina e no mundo. A OMC incluí a educação um mercado que movimenta duis trilhões de dólares. No mês de
no setor de serviços, o que esta se definindo nas reuniões do GATS ,,hril de 2002, a revista Exame reporta. em edição especial. que a
(Acordo Geral sobre Serviços, na sigla em inglês). Isso significa que t•ducação no Bra~il moviment,1 90 bilhües de reais e nas próximas
o acesso à educação não será mais tratado como um direito social ,luas décad,1s serú o mercado mais promissor e dinâmico do mundo
da educação e sim como um serviço a ser comprado, negociado: llíl perspecti\'a de lucro. Por isso que a Apollo Internacional, empre-
em outra~ palavras, é um serviço comercial. Enquanto serviço, tem ,.,, parceira para investimentos estrangeiros da Apollo Group (maior
que ser oferecido ao mercado com qualidade e deve ser produtivo e y.r upo empresarial de ensino dos EUA). desde junho/2002, é sócia
competitivo. Os acordos objetivam diminuir as ações dos governos ,lo Pitágoras - Min.,s Gerais, do qual Claudío de Moura Castro e
na oferta dos "serviços educativos", pondo fim ao que chamam de , nnsultor.
monopólio do Eslatio, mm o objetivo de ampliar o mercado para Por essa razão, enquanto o projeto da ALCA nào se viabiliza.
a iniciativa privada, inclusive a estrangeira. Como consequência, ludo indica que o imperialismo começa ,l adotar outr,1 tática de rea·
os países perdem sua capacidade de est.1belecer leis e regras para a h1,u acordos paralelos. De qualquer forma, haverá impacto sem pre-
educação, pois elas poderiam contrariar o princípio da livre concor- ~cedentes nos sbh::1m,s cducati\·os latino-americanos; tanto a Al.CA
32 A proletanzac;ão dos professores O fracasso dos planos neoliberais... 33

quanto os TLCs representam a entrega dos serviços públicos às mul- Em relação ao custo-aluno, Lula baixou o decreto-ki que estabe-
1i n,tdnnai~ norte-americanas. leceu os valores mínimos do FUNOEF para 2005: R$ 620,56 (de P a
4R série) e R~ 651.59 (de S·• a 8·' série). Caso aplicasse o Art. 6" d,, 1.t•i
A política educacional do governo Lula está 9.42-t, o repasst." seria <le R$ 1.03.1,80 (de I·' a 4·' série) e R$ l.070.50
subordinada às diretrizes do Banco Mundial e ao FMI (de SJ a 8·' série). Assim, continua também nisso a política de !-=HC.
isto é. repete a mc.>sma metodologia de desrespeito ao Art. 6u da Lei
As mudanças na educação sempre esti veram subordinada~ às 9.424 . Agora, em 2009, ~om o fUNOEB. o custo-,1 luno representa
transformações na economia. Toda a reforma cducat.:ional de FHC/ uma média de R$ J .700 anuais.
Paulo Renato foi aplicada a serviço do Banw Mundial e FMI.
O governo Lula, já no periodo pré-eleitoral. através da "Carta O governo Lula aprofunda
,\O Povo Rrasileiro", assumiu publicamente que se eleito cumpriria a ofensiva neoliberal na educação
os acor<lol> com o FMI. Apó1- trê!> anos de govt'rno, no seu segundo
mandato, a sua política econômica mantém as mesmas diretrizes A polítka educ.icional do governo Lula é uma continuação do
da polítil:a económica do governo de FHC. em sintonia com o~ plano de a_juste neoliberal aplicado por FHC durante os oito anos de
organismos multilaterais, e exacerba a política de ajuste fiscal e de seu mandato. Ohcde..::e à lógica de adequar o sistenrn educativo na-
juros escorcha ntes para garantir o pagamento das dívidas externa cional às leb do nwrcado, às transformações da e.:onomia brasileira
e interna . a
e globalização econõmica. Isso significa que a tônica é o predo-
Nesse sentido, o governo tem pouca margem de manobra para mínio da aplicação das diretrizes educacionais do 131D e do Banco
fazer concessões para o movimento de massas, a não ser a ado- Mundial expressas no PNE e n.1 legislação educacional vigente.
ção de programa~ compensatúrios para a parcela miserável da O progrnma na área de educação do PT, divulgado no período
população. Como consequência, enfrentamos o processo de Re- pré-eleitoral, tem os seguintes eixos:
forma da Previdéncia aprovada no Congresso, que tirou direitos a) Valorização profissional: piso !.alaríal nacion,d e ,walia..;ão
dos servidores públicos e aprofundou a política de privatização da de desempenho:
segu ridade social que FHC não foi capaz de aplicar. Allim disso, bJ Regime de colaboração e gestão democrática: instituir o Sis-
provocou um.1 corrida de ped idos para aposentadoria dos profis - tema Nacional de Educação, implantação do Conselho Nacional de
~íonais em educação, tanto no Ensino Superior como no Ensino Educação, criação do Fórum Nacional de Educação:
Básico. c) Ensino Fundamental: expansão do programa bolsa-escola
A opção do governo do l'T em se subordinar aos ditames do articulado ao Programa Nacional Rt'nda Mínima:
FMI teve reflexos nos cortes dos orçamentos de 2003, 2004 e 2005 d) Educação Profissional: revisão da estrutura do Ensino Mé -
para garantir o superávit primário. A educação sofreu uma redução dio e profissional estabelecido pelo decreto 2208/97 com o envio de
de recun,os de R$ 432 milhões cm 2003 e em 2004 R$ 627 milhões. um projeto de lei ao Congresso;
Todos o~ programas sociais, inclusive o "Fome Zero", também so- e) Emino Superior: promover a autonomia universitária nos
freram cortes nos recursos. Além dos cortes nos orçamentos, desvia termos constitucionais; ampliar a oterta de vagas conforme metas
anualmente mais de RS 5 bilhões da educação através da DRU (Des- do PNE: implantação de uma rede nacional de ensino a distância;
vinculação de Re..::ursos da União). implant,u novo programa soda! de apo io ao estudante, com crédi-
34 A proletanzação dos professores O fracasso dos planos neoliberais... 35

to educativo p,tra J96 mil estu<lantes; criar um programa de bob,1:. pagamento de sal.irios dos professores. E na composição financeira
universitários para atender 180 mil estud.mtes e legislar .,s Funda- indica a adoção de um percentual dt.> 20% de todos o~ impostos es-
ções de Apoio Institucional criada nas IES públicas; taduais e municipais, a ser atingido <le fórnm gradual até 2009. O
f) Financiamento: instituir o Fundeb em substit uição ao Fun- projetl\ tambem prevê unrn complement.ição de recursos por parte
def, aplicar 7% do PlB na educação até o final da dt'c.ida e rewr os da União de forma gradual, a sab~r: R$ 1.9 bilhôcs cm 2006: R$ 2,7
vetos do PNE rdativo:, ao:, recursos. hilhões em 2007, ({$ 3,5 bilhões cm 2008 e R$ -1,3 bilhões em 2.00Y.
A diferença entre os que se propagandizou na campanha eleito - Em 2006, a educação teve um Cl)rte de R$ 600 milhões do total
ral e o que o governo Lula aplica efetivamente via MEC confirma a de RS 1,9 bilhào previsto de acréscimo, além do fato de não ser ga-
nossa caracterização. Esta política educacional representa um apro- rantido e::.tc:: acréscimo de recursos que estava muito aquém do ne-
fundamento do plano neoliberal na educação. 1.:"essário para superar a crise da Educação Básica. t necessário apli-
Há uma acentuada ênfase na política de focalização social na rnr lO°'o do PIB já, rumo aos 15 % do PIB. Sem aumento de rc>nir~os
educação. Apresenta como metas: erradicar o analfabetismo, propa- não conseguiremos universalizar a Educação Básica, que pelo Fun-
gandeando o "analfabetismo zero"; dobrar a oferta de vagas na:. uni- deb só ocorrerá e m 2010. Dessa forma a política de fundos - "nova
versidades federais através do ensino à distância e expandir a oferta ideia" para antigos problemas - náo superará a crise estrntural do
de vagas no Ensino Superior por meio de bolsas. Junto com isso, o sistema educativo brasileiro, apenas cumprirá o papel de maquiar a
governo vem sistematicamente defendendo a implantação da escola realidade e aprofundar a terceirização e a municipalização da edu -
ideal e a construção da universidade do futuro, de forma genérica e cação. Por essa razão, devemos lutar wntra o Fundeb ou a política
com exacerbada retórica. atual de fund0s.
Considerando o programa da área de educação do PT e as me- Além disso, o projeto não prevê a reversão da municipalização
didas do governo Lula/Haddad, podemos constatar que não rompe- tio Ensino Fundamental. O PT é a favor da municipalização do En -
ram com a lógica neolibaal. Toda a política educacional do gover- ~ino Fundamental, dizendo-se contrário à forma como foi mstitu-
no de Frente Popular tem com o referência a legil))ação educacional 1da. Nessa medida, aprovou a lei param, estados e município!> am -
(LDB n. 9.394, EC n. 14) e o PNE (Lei J0.712/01), que estão a serviço pliarem o Ensino Fundamental para 9 anos, absor\'en<lo a demam.la
da reforma do Estado e dos ditames do Ba,Ko Mundial e do Fl\.11. de 6 anos 1.lt- idade, com o objetivo de combater o analfabetismo na~
No tocante ao finandamento da educação, o cork de R$ -132 primeira!, séries do Ensino Fund,,mcntal.
milhões da educação, em 2003, e R$ 627 milhões, cm 200-l, deter- A política de financiamento de Lula/Haddad não modifica a po-
mina a política de financiamento para a educação. Neste sentido, " lil ica de FHC/Paulo Renato. Aloca recursos para o ensino privado
equipe económica do governo promoveu um corte na educação de ;1travês do crédito educativo e bolsas de estudo. Continua drenan·
RS 1,6 bilhões no orçamento de 2006. Assim, não houve aumento de do recur~o~ para os conglomerados do ensino através da conct>:.-
recursos e não foi derruhado o veto para a educação de 7% do PIB .,ão de "empréstimo" do BNDES. Por outro lado, acentua a política
no PNE, que estava indicado até o final da década. wmpensatória via bolsa-escola, renda mínima e outros programas
Em 2007, o Congresso aprovou o projeto da lei Fundeb - EC n. ~ociais.
53. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Bá- Em relação à valorização profissional, o programa do PT fala
sica e de Valorização do Magistério abrange toda a Educação Bâ- l'm valorização de forma genérica. Aponta como proposta o piso

sica e respectivas modalidades. Vincula 60% dos rccur~o::. para o ,alaria! nacional ~em definir qualquer parâmetro e associado à ava-
36 A proletanzação dos professores O fracasso dos planos neoliberaís... 37

liação de desempenho do profo,sional da educação. Apôs tres ,rno, ~asso, que é Sl' ,\ssocia r à focaliiaç,i() de políticas compensatórias:
do segundo mandato do governo Lula 11.'10 houve mudançall (!Ualita- isso represenl,l um.1 maquiagcm do plano neolibera l, que visa des-
tivas no que tange à valorização do profissional na edllc.ição, ,1 nfo rl'Sponsab1hzar 1> fataJo e suhmetê-los às diretrizes do Banco Mun-
ser o projeto de lei aprovado que estabelece o piso salJrial nacional díal e do FMI.
de R$ 950/-lüh., o valor a ser atingido em 2010. O 11<.l!>SO movimento A Educação Universalizada e Jc Qual idade e uma luta dos pro-
tradicionalmente tem reivindicado um piso salarial nadonal equi- lbsionais da educação e de tllda a comun idade escolar, para dcfcn-
valente ao salário mínimo do DIEESE por 20h semanais. e :,01110~ tb· uma das mais importantes conquistas da dasse trabalhadora
contra a avaliação de desempenho. ,11neaçada pelo plano ne1)liberal de plantão: o Ensino Público Esta-
A gestão democrática é tema de relevàncía de noss.1 luta na edu- 1,tl, Gratuito e de Qualidade cm Todos os Níveb.
cação. Nas esferas municipais e estaduais administrnda~ pdo PT
não h,1 significativos avanços. No programa e~sa te1mllic,\ também A tentativa de criminalizar o professor
é tratada de forma genérica. Com a experi~ncia da administração
petista. a politicado governo Lula se limita ao que está na legislação A publicação dos resultados da Prova Brasíl, em fevereiro de
educacional. Lutamos para conquistar a autonomi..1 universitária de 2007, do ENEI\I e do SAEB agudizou uma polêmica em rnrso há
fato; eleição direta para diretor nas escolas de Ensi no Básico; por um dl'·cadas, que segue sem tréguas, de como superar a crise estrutural
Con!)elho Nacional de Educação deliberativo e sem empresârios de d,1 Educação Básica. fate debate atravessa o chão da escola, pa!>sa
ensino. Enfim, lutamos para conquistar a democracia no -.:hão da pdos sindicatos, partidos pollticos, pelas administrações públicas,
escola. pda academia e se perde n,, imprensa falada e escrita.
A política educacional do governo Lula/Haddad não superou a Sob o impacto do que os dados revelam sobre o desempenho da
crise crónica que atravessa a Educação Nacional. Ao contrário, apro- hHcola Básica e do Ensino Superior no Brasil, a imprensa falada e es-
fundou o processo de privatização e terceirização do ensino básico 1 nla passou a apresentar reportageni. diárias sobre a F.scola Pública.
e superior. /\ Rede Globo, em especial, de forma intermitente, apresenta as par-
O programa de "alfabetização zero", apoiado em parcerias e no H'l'it\s que "dão certo" do projeto "Criança Esperança" e a campanha
voluntariado, não erradicou (1 analfabeti~mo. Segundo relatório de "Amígos da Escola". Através de seu programa humorístico "Casseta
De!.envolvimento Humano 2007/2008 do Programa das Nações 1· l'laneta" mostrou numa sala de aula a profü!)sora como uma pros-
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a taxa de analfabetismo lll11lu. Na novela da:, sete, num certo capítulo, apresentou na sala de
no Brasil entre 1995 e 2005 era de l l.4%. Os dados do I B(iE !)ão dis- ,1111,1 o professor dormindo sobre a mesa. 11cl frente de sem alunos.
crepantes. De acordo com a síntese de indicadores de 2008. a taxa de N., verdade. trata-se de um,l intensa campanha contra a Educação
analfabetismo na população com 15 anos ou mais caiu de 10,-1-Qú em l'uhlka. Alguns economistas e jornalistas de plantão, como Claudio
2006 para IO% em 2007, o que equ ivale a 14,1 milhões de pessoa~. t\l11ra de Castro, Eduardo Andrade e Gilberto Dimenstein. trat~1m
Contudo, a pesquisa também constatou que 87,2% dos analfabdo:. 1fr propagandear estudos e propostas para melhorar a qualidade da
entre 7 e 1-l anos frequentam a escola. rtluração. apon tando como solução a importação de modelo~ de
Como podemos perceber, o Plano Decenal fracassou quanto à 11v.1linção da escola e do professor do!) EUA e Inglaterra. Os dois pri-
sua meta de erradicação do analfabetismo. O governo Lula, par.1 n11·1ros são lígado:i a instituições privadas e o último é chefe de uma
esconder esta realidade, adota uma política para escamotear tal fra- t lNl; chamada "Aprend iz do Futuro". No caso de Gilberto Dimens -
38 A proletarização dos professores O fracasso dos planos neoliberais... 39

tein, chegou ao cúmulo de chamar o professor da rede púhlica deva- blicas para desenvolver programas ou projetos de formação conti-
gabundo, ao comparar a~ faltas e licenças do~ mcsnH)~. Até l{ubem nuada, de extt'nsão de. para o professor. Esta ação deve ser Je intei-
Alves, que é bastante respeitado t'm nossa categoria, d1egou a co- ra responsabilidade do Estado, l'.ombinanJo a adoção de um plano
mentilr em sua coluna na Folha de São Paulo que para superar a crise J e ca rreira docente e uma remuneração digna, o que implicará um
educacional é necessário tocar o coração e a cabeça do professor. primeiro passo para uma merecida valorização do professor.
O resumo da ópera está no fato de que há um wral aiinado con- Na con tramão dai. necessidades da educação, numa jogada po-
tra a Escola Públic.1 e contra o professor. A maioria das críticas cai litica e de propaganda, o governo Lula/Hadcfad lançou o Plano dl'
m1 m reducionismo e simplismo espantoso sobre a crise estrutural da Desenvolvimento da Educação (PDE) cm 2007, uma nova versão do
Educação Nacional, culpabilizando única e exclusivamentt' o pro- t>lano Decenul de Educação para Todos, com a retórica de que este
fessor. Em nenhum momento, o~ governos, a imprensa, o~ técnico~ programa tl'lll como met.i resolver a crise de qualidade da Educação
e os acadêmicos lembram ou sequer fazem um balanço da política B.isica pública até 2022.
educacional que está sendo aplicada desde 1995. A faléncia da Escola Nesse sentido, e~ta conjuntura Je ofensiva neoliberal na educa-
Pública é resultado da oft.>nsiva neoliberal aplicada no período FHC 1,'ÜO e de ataque aos dirt"1tos dos trabalhadores lançada pcl,1 hurgu~si,,
e aprofundada no governo Lula/Fernando I Iaddad, que é o Plano ~· pelo seu governo de plantão impõe-nos o desafio de aprofundar-
Decenal de Educação Para Todos. 111os o debate sobre a crise educacional. que não se restringe apenas
O professor e os demais profissionais da educação são vítimas do i) Educação Básica, pois atinge também a Educação Superior, o PDF.
plano neoliberal. Os ajustes neoliberais na educação têm uma política eseus reflexos para o trabalhador em educação e suas rnnsequencias
de formação continuada do profissional da educação que se resumt· para seu traba lho no chão da escola. Des_\a forma, elaboramm um
ao treinamento em serviço. Ê uma política que visa conter custos. A plano alternativo para a educação, que a coloque a serviço dn~ ink-
formação inicial do docente é precária e divorciada da realidade edu- rl'sses da classe trabalhadora.
cacional. Isto é assim porque os currículos dos cursos de licenciatura e
do curso normal superior são ultrapas!iados e predominantemente de
conteúdo propedêutico. Além disso, hoje, a formação inicial do pro- O que é o Plano de Desenvolvimento da Educação - PDE?
fessor é predominantemente na rede superior privada, que representa
mais de 70% das formaturas em licendatura. Frente â constatação do fracasso e falência do Sistema Educa-
Urge mudar radicalmenle tanto a formação inicial como a con- , innal Nacional, publicizado pelo M EC através dos resultados das
tinuada do profissional de educação. Em relação à formação inicial. ,1valiações externas SAEB, ENEl\'l e Prova Brasil, e) governo Lula/
representa realizar uma revolução nos cursos de licenciatura tanto 1l.1ddad anunciou em abril de 2007 o Plano de Desenvolvimento da
das universidades públicas comn das universidades privadas. Isto 1 tlucação - PDE, que. de uma forma que deveria soar irônica, est.1
significa unir a teoria e a prática na formação inicial do professor. wndo denominado de PAC da educação. Esse plano contém medi-
senão cont inuaremos formando um profissional parcial. debilitad11 tl,,ll que abrangem do Ensino Infantil ao Superior, mas tem como
e divorciado do mundo educacional. A formação continuada dew "prioridade'' a Educação Básic.1, e "ignora" o flagrante fracasso do
ser responsabilidade exclusiva do Estado. Ela náo pode ficar confir- Muno Decenal de Educação para Todos.
mada na "reciclagem do profissíonal ou treinamento em serviço". O Lançado mm toda a pompa pelo governo Lula, o PDE está sen-
poder público tem qut> realizar convénios com as universidades pú- 110 propagandizado na mídia como a tábua salvadora du educação e
4ú A proletarização dos professores O fracasso dos planos neoliberais... 41

apresenta melas p,1rn serem alingida~ só t'm 20~2. com eixo na me- 9. lnstal,,ção, em .J Jnos, de 150 e!.t.:olas técnicas em cidades
lhora da qualidade da educação, levando cm conta o desempenho consideradas polos de desenvolvimento regional;
dos ,tluno~ n,t Prova Brasil e as 1,txas de aprovação. N~o obst,\nle, é JO. Implementação, ainda m·ssl· ano. via parceria com as Uni-
importante ressaltar que este plano é uma junção de programas que versidades PúblkJs, de polos de formação de professores;
o governo Lula vêm aplicando com outros novo... programas e nada 11. Duplicação, até 2010, das vagãs 11.11> Universídades Federais
mais é llo que uma versão atualizada do Plano Decenal de Educação com recurso adicional;
Para Todos. 12. Investimento de R$ 800 milhões, entre 2007 e 2010, para
Como não poderia ser diferente, este plano educacional es tá su- ampliaçüo da~ instalações da Educação Infantil;
bordinado à política econômica do governo, conectado ao Phtno de 13. Levar luz a 18 mil escolas da Educ.1çâo Básica a partir de
Aceleração do Crescimento (PAC), e possui a estratégia de elevação 2009;
do superávit primário para garantir o pagamento dos serviços e os J4. Empréstimo de J00 milhôes do BNDES, entre 2007 e 2009,
juros da dívida pública. para financiar o transporte escolar;
Assim, o PDE é um conjunto de programas que apresentam me- 15. Reestruturação do Programa Brasil Alfabetizado, com uso
tas que visam superar a crise estrutural da Educação Brasileira. Para preferencial de Prntessores da Rede Pública;
tanto, apresenta 27 medidas , entre as quais destacamos: 16. Ampliação do Programa Bolsa Família através do aumento
I. Criação do IDE'B (Índice de Desenvolvimento da Educação do limite m,iximo de idade dos filhos para dkulo do benefício, de
Básica), com prioridade de investimentos, em até 12 meses, para os 15 para 17 anos.
mil municípios em pior situação; 17. Criação de um plano de melas de produtividade para .as
2. Foi aprovado o Projeto de Lei n. 619/07, que institui o piso Universidades Federais com melhora da relação professor/aluno e
~alariai nacional para os professores, cujo valor é de R$ 950,00 por diminuição do custo-aluno para aument.1r o numero de vagas. Em
40 h/sem., sendo que este valor será atingido cm 2010 e compreende 1roca, as instituições terão aporte extra de recursos.
todas as vantagens pessoais. Segundo o go verno Lula/Haddad, o Brasil terá que alcançar, até
3. Avaliaçào dos alunos de 6 a 8 anos (alfabetização) por meio .?022, nota 6 no JDEB. A Educação Brasíleí!ra tem uma média apro-
da Provinh.t Brasil. O primeiro teste ocorrerá no início de 2008; >.imada de 4 pontos, segundo as últimas avaliações.
4. Até 2009, todas as escolas públicas rurais do Ensino Funda- Há uma previsão de aplicar R$ 8 bilhões para financiar o PDE e
mental receberão uma parecia extra de 50% do Programa Dinheiro , olocar cm prática até 2010 todas as ações do pacote; em 2007, foram
Direto na Escola; ,,plicados mais R$ l bilhão.
5. Escolas P(1blicas urbanas que melhoraram seus indicadores O PDE possui como alicerce uma estrutura jurídica formada
também receberão esse extrn a partir de 2008; pd,l EC n. 53 e a Lei 11494/97 que cria e regulamenta o Fundeb
6. Investimentos de R$ 650 milhões para a informatização das (Fundo de Manutenção e Desenvolvimen1to da Educação Básica e
escolas públicas até 201 O; ,I,• Valorização dos Profissionais da Educação), o Projeto de Lei n.
7. Mudança na forma de pagamento do Fies por estudantes de hl9/07 do governo aprovado no Congresso, que indica a instituição
universidades particulares. Dessa forma, o governo estima que v,ü ,Ir um piso nacional de R$ 950,00 por 40h/sem. para os professores
gerar 100 mil vagas por ano no Prouni; (n,\O inclui os funcionários de escola) a ser implantado até 20IO, o
8. Criação de Institutos Federais de Educação Tecnológica; ,li·,reto n. 6094 de 24/04/2007 que dispõe• sobre a implementação
42 A proletanzação dos professores O fracasso dos planos neoliberais... 43

tio Plano <lc rvktas Compromisso Todos pela Educação e a l.egbl.t- incide diretamente no q_uadro agónicu Ju Em,ino Brasileiro. Para
ção, sustent,kulo da reforma universitária do governo Lulu. De todo termos ideia da dimensão da aisc. de ,Kordo com o JNEP-MEC, das
esse .ucabouço jurídico é pertinente rcs~.1ltar {l deaeto 6094/07. que 164 mil escol.1s do Brasil. 129 mil não tem acesso à internet. 25 mil
~stabdece 28 medidas como condições para os municípios, estado:-, não têm luz elétrica, 40 mil não possuem biblioteca, lO mil não têm
e DF aderirem ao Plano de Metas Compromisso Todos Pela E<lurn- banheiro e de cada 10 escolas apenas uma possui quadra esportiva.
çào, que 1,1., prática representa toda a estrutura do Pl.wn de Desen- Nesse sentido, é ilustrativo o estudo do IBGE. que fez uma re-
volvimento da Educação e segue as diretrizes do Ph1110 üeccnal de \'Ísão da metodologia de cákulo do PlB quanto ,,o investimento em
Educação para Todos. educação: com ela, o investimento, qut· caiu de 4,3% para 3,8%, fi-
Estas condições significam uma imposição para os sistem.:is ob- cou ainda mais distante do consider.1Jo ideal pela UNESCO, 60/o. E
terem recursos extras para o Ensino Básico público, que no artigo 2° o relatório da OCDE divulgado em setembro de 2007 mostra o Bra-
determina que se deve criar um sistema de avaliação dos professores; sil como o país de menor gasto por aluno, entre 34 países analisados:
implementar um plano de carreira docente, em que seja privilegiado somando gastos do Ensino Básico e do Superior, o gasto do governo
o mérito, a formação e a avaliação do desempenho; dar consequência é de US$ 1.303,00 por ano.
ao período probatório, tornando o professor efetivo após avaliação Como se não bastasse o baixo ínve~timento de recurso s no en-
e firmar parcerias externas à comunidade escolar, ('Oll.1 empresas, sino, a política de financiamento em educação do governo Lula/
ONGs, Fundações etc., visando a melhora da infra-estrutura da es- Haddad não resolveu o problema de desvio e corrupção, tanto nos
cola. E no artigo 3° indica que a qualidade da Educação Básica será sistemas federal, estadual e municipal. É escandalosa a demíncia do
medida pelo lNEP, a partir dos dados sobre o rendimento escolar, Jornal da Tarde de Sâo Paulo sobre algumas ONGs que re..:eberam
no SAEB e Prova Brasil. que servirão para o cálculo do mEB. Hoje, dinheiro do programa Brasil Alfabetizado, a exemplo da Agência
podemos afirmar sem receio de errar que todos os sistemas educa- de Desenvolvimento Solidário (ONG ligada à CUT), Instituto Paulo
cionais estão inseridos ou enquadrados ao PDE. Freire (ONG do Diretório Municipal de São Paulo do PT) e o Centro
de Educação, Cultura e Integração de S5o Paulo. que receberam um
PDE - l!J!m plano qw:e aprniunda
1
total de R$ 20 milhões para alfabetizar alunos a partir de 15 anos. A
o neoliberalismo, na educação ONG da CUT recebeu sozinha R$ 8 milhões, publicados no Diário
Oficial de 23/04/07: o programa deveria ter iniciado em dezembro de
A crise crônica da Educação Nacional é produto da crise estru· 2006 e encerrado em julho de 2007 e até hoje não se tem notícia do
tural da economia e da sociedade; por outro lado, é resultado de 14 início do projeto. Isto não po~sui outra denominação a não ser roubo
anos de aplicação do Plano Decenal de Educação Para Todo~. um l'Scancarado dos recursos públicos. Além desse descalabro, os jornais
plano do BID, BIHD e FMI. folha de Silo Paulo e O Estado de S. Paulo, em outubro do mesmo ano.
O mGE publicou, em setembro de 2007, os resultados da Pes- ll()ticiaram que houve "irregularidades" nas contas do sístema S (Se-
quisa Nacional por Amostragem de DomicíHos, indicando que a nac, Senai e Sesi). Leia-se: também há corrupção do dinheiro público
população do Brasil atingiu 187 milhões de habitantes. E o Instituto .1plicado nesse Sistema Educacional, o que não é novidade.
de Estudos do Trabalho e Sociedade. mm base nestas informações. Por isso. a política de financiamento Jo governo Lula/Huddad
afírma que há 50 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da não ataca as mazelas do Sistema Educativo Nacional e tampouco
pobreza; 33,6% das crianças também vivem na pobreza. Este cenário superará sua crise estrutural.
44 A proletanzação dos professores O fracasso dos planos neoliberais.. . 45

A prcvisào lle au1rn.·nto dos re...:ursos do Fundeb e do Pl.ino de na Educação Básica; fnrtab.:er a profissão de professor e trabalhar
Desenvulvimt·nto da Educação (PDE) representará uma elevação de junto aos ~indicatos para estabelecer alto!> padrões profissionais e
0.4% do PIB só a partir de 2011, o que é muito distante da real neces- desenvolver mcc,mismos para av.1li:1rem o dL·sempenho dos mes-
:.idade do e n::;ino brasikiro. Na verdade, a adiçjo dos recursrn, ser- tres: descentralizar os sistemas de educação de modo c1 ,\Umentar a
virá de farol para maquia r o colapso da educação, isto é, de retórka possibilidade de imputação dt.> responsabilidades e ampliar a parti-
para o palanque eleitoral. O Programa Educação para Todos, qul' cipação dos intcre:,sados nas decisões políticas.
envolve empresários, governo e instituições civis, possui o compro- Todas estas iniciativ:1:, do PREAI. estão presente:. no Decreto
misso de atingir o patamar de 5% do PIH em educação :,ome nh: no llO Gowrno F~dcr,,I n. 609-1/07, que dispôt> sobre o Plano de Me tas
ano de 202.2. Compromisso Todos pela Educaçin. São diretrizes para a educação
A lém d isso, o governo Lula/ H addad, na proposta de prorroga- tlos organismos multilaterais que visam desobrigar o fatado de sua:-
ção da CPM F, que não foi aprovada pelo Congresso, induía a pror- funções de manutenção e investimento na educação e a<lequar o sis-
rogação da DRU até 201 l. Através deste mecanismo, a Uni,1o pode km,1 educativo ao mercado.
retirar 20°11 dos recursos vinculados (18% do tútal da receita deve A política educacional implementada por Lul.1/Haddad está em
ser gasto com a educação) na educação e saúde e gastá-los em qual- ,intonia com J polítü:a do "Estado mínimo", redefinindo suas fun-
quer área que for conveniente. Por meio desse mecanismo n educa- ~ôcs em relação .10s serviços educacionais. Por essa razão. as dire-
ção perde por ano cerca de R$ 5 bilhões. De 2000 a 2007, o governo i rizes essenciaí!> do PDE, com a definição do índíce de "qualidade",
desviou, ou melhor, roubou da educação mais d e RS 45,8 bil hões, o I OEB. municipalização da educação fu ndamental. parceria com
pois embora a CPMF não tenha sido aprovada, a DRU permanecerá ,1 c.:omunidade, empresa e ONGs. avaliação do dcscmpenhu L' ava-

até 2011. 11,,ção do rendimento escolar, tem o objetivo de transformar a es-


Nesse sentido, o que fica evidenciado é que a política de financia- , t 1h1 e m empresa, sob a inspiração do p~ograma de qualidade total

mento da educação do governo Lula/ Haddad não modifica a políti· r produtividade, adaptando-a ao mercado. Para tanto, a elevação de
ca de FHC/Paulo Renato. Truta-se de um aprofundamento do Plano ll'l'l1rsos e su.1 alocaçào ocorred 11;.1 medida e de acordo com os re-
Decenal de Educação para Todos à luz da Confe rencia Mundial de 1111llados. É como afirmam alguns críticos meritocráticos.
Educação para Todos. O PDE é llm instrumento, um fio condutor
dessa política educacional, responsável pela agudização da c rise es- Conclusão
trutural da Educação Nacional. Está embasado em uma pedagogia
de resultados e subjacente a uma lógica do merendo capitalista, ten- Vivemos um aprofundamento da crise global do sistema capita-
do como objetivo a "qualidade total " na educação. lhl,t: isto significa que m setores sociais comn educação, sm'1de etc.
Da mesma forma, podemos afirmar que o PDE está em conso- 111•1,10 Jinda mais penalizados pa ra garantir que se drenem recurso~

nância com as principais iniciativas de políticas do PREA L (Pro- p11hlkos para empresas e institu ições financeiras capitalistas. A ve-
grama para Promoção da Reforma Educativa na América Latina e lli,, m.\xima prevalece: a socialização dos pre.iuízos durante a crise.
Caribe), que estabelece fazer d,1 educação uma prioridade política, 1..1.1d11 máximo para as empresas dividi rem os prejuízos na crise e
incluindo a divulgação das deficiências dos sistemas de educação, 111!,tdo mínimo para a sociedade durante a era de cresci mento ou de
atraves da avaliação externa e a construção de um amplo con:.enso pampcridade. É o que a imprensa tem anunciado no mês de abril de
político a respeito da reforma; concentrar o inwstimento público JIIO•): que o governo Lula/PT já liberou centenas de bilhões de reais
46 A proletanzação dos professores O fracasso dos planos neohberais... 47

para a~ montadoras, bancos e anuncia cortes no orçamento de 2009 as políticas publicas para educ.içào, tendo como parâmetro a avalia-
na educação, saúde etc. ção de resulrndos face ao desempenho dos sistemas, este!) e as escolas
Nesse sentido, as perspectivas de superação da crise estrutural terão mais ou menos rccunos, isto é, há adoção de uma política cujo
do sistema educativo nacional e mundial não estão no horizonte, caráter é de incentivar a concepção mercadológica do ensino.
pois a burguesia e o imperialismo nào tinham e nào têm política Da mesma forma, náo podemos deixar de destacar no balanço
para garantir a Educação Publica e de Qualidade para Todos, como do Plano Decenal que o governo FHC reali;,;ou a maior intervenção
está nos slogans de suas campanhas. Trata-se de uma tarefa demo- na educaç,10 brasileira desde,\ contra-reforma educacional de 1971.
crática e histórica que é ho_je dos trabalhadores. Segundo rel.1tório Todas as mudanças apoiadas na estrutura jurídica LDB n. 9354 e
da UNESCO de 2008, 774 milhões de pessoas com 15 anos de idade EC n. l.J obedeceram à estratégia de adequar a educação nacional à
ou mais são analfabetos. Desse total, 64% são mulheres. Mais de economia glob,tlizada sob a hegemonia do capital financeiro, a in-
75% dos adultos analfabetos concentram-se em apenas 15 países. trodução de novas tecnologias como a mícrodetrônica, robótica e
Em 2006, se completaram IOa nos de Pia no Detenal de Educação as novas formas de gerenciamento e a organização da produção e
para Todos e de sua legislação _jurídica LDB 9394/96 e EC n. 14/96; do trabalho.
em 2009, 3 anos do PDE e da EC n. 53/07 - e em ambos os casos não Esta legislação educacional, "renovada'' pelo governo Lula com
se conseguiu atingir as metas estabelecidas, como demonstram os ~• substituição da EC n. 1-l pela EC n. 53/07, obedeceu ao desmonte
sucessivos dados do INPE-MEC sobre o analfabetismo e da queda do Estado e teve a estratégia de construir o Estado mínimo. A des-
acentuada do desempenho entre 1995 e 2007. ~cntralizaçào administrativa, financeira e o maior controle ídeolú-
Por isso, o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), está ~ico, a prioridade para a educação fundnmental, a municipalização.
distante de resolver a crise crónica d,1 educação. É um plano ela- .i~ parcerias com a comunidade. ONGs e empresas, a avaliação c.le
borado em parceria com empresários, instituições privadas, ONGs desempenho e a avaliação do rendimento escolar, estáo todus in-
etc. .. É um plano que recupera todas as políticas públicas para a edu- i.cridas na política de desobrigar o Estado de todas as suas tarefas
cação que vinham sendo aplicada pelo governo FHC (PSDB) e pelo ,ociais, com a privatização e a terceirização dos serviços educacio-
governo Lula (PT), e está em consonância com o Plano Nacional de nais - note-se o vigoroso crescimento da transferéncia dos serviços
Educação (Lei 10172/01) e por consequência com o art. 87° da LDB- p.1ra fundaçôes, a exemplo da Fundação Civita, Roberto Marinho
9394/96 das disposições transitórias que estabelecem: "É instituída L' l.'.cntenas de ONGs que estão impregnando os sistemas de ensino

a década da educação, ,1 iniciar-se um ano a partir da publkação ~ 11111 sua "prestação de serviços''.
desta Lei": Nessa mesma linha, o governo Lula/Haddad não rompeu com
''Parágrafo lº - A união, no prazo de um ano a partir da publi- t•sla política: ao contrário, o PDE representa um aprofundamento
cação desta Lei, encaminhará ao congresso nacional o PNE, com tlt.•stas diretrizes, que estão subordinadas à política de "Fundos" ex-
diretrizes e metas para os dez anos seguintes em sintonia com a De- pressa na EC n. 53/07 que instituiu o Fundeb t.'m substituição ao
claração Mundial sobre a Educação para todos". hmdef e municipalizou o ensino fundamental. Cria mecanismo
Assim, apesar de todas as evidências do fracasso do Plano De- Jl,lra drenar recursos para empresas e ONGs, como está expresso no
cenal, o governo 1.ula/Haddad insiste nas principais diretrizes desse lkcreto 6.09.J/07.
plano. Por essa razão. afirmamos que o Pbno de Dt.'senvolvimento Alem da reforma do Estado, a contra-reforma educacional ou
da Educação possui uma natureza neoliberal à medida que imprime 111.1110 Decenal buscou mexer com o professor na escola e trouxe
48 A proletanzaçâo dos professores O fracasso dos planos neohbera1s... 49

transfúrmaçües no inlcrior da inslítuição escolar, através da buro- apóíam os st>us projetos. Por esta razão, urge construirmos um.i
cr.1tizaçào do cotidiano de c,1du escola, que recebe funçúes antes alternativa !.indkal nacional qut.> supere estas organizações tradi-
concentradas nas secretarias de governo. Isto significa um aument(1 cionais. cujo embrião é a Conlutas, a Coordenação N,Kional das
do trabalho administrativo e da gestão financeirn p,ira o profos:,or Lutas. Pois l'l)mtitui um desafio para todos trabalhadores em edu-
e para equipe de ge:,tores ou da direção. Este aumento de respon- cação garimparmos um programa altern,ltivo para superar a crise
sabilidade significa t.]Ue a escola tem de procurar t.lutras formas dt· da educação brasileira.
recursos além do financiamento público. É este processo gue abre
espaço para ações de ONGs e Fundações nos sistemas e nas escolas. Um programa alternativo dos trabalhadores
Hoje. elas estão impregnando a educação como um vírus no sislema para combater a crise da educação pública
fisiológico de um ser humano.
Tanto para esta finalidade quanto para o financiamento público A crise econômka e social do Brasil é parte da aise estrutu·
não-obrigatório. a distribuição de recursos e parcerias é realizada a ral do sistema capitalista mundial. A atual recessão econômica no
partir de projetos que cada unid.ide elabora. É preciso gerar projetos mundo tende a agudizar a crise educacional e econômica. Nesse
sistematicamente para ter acesso ao financiamento ou aumentar a sentido, a miséria e a fome que atingem cerca de 50 milhões de bra-
produtividade (seus índices aprovados, seus índice:, de reprovação, síleiros, assim como a falência do sistema educacional, são conse-
redução da evasáo escolar etc.), o que produz "ações institucionais" quências da ação de rapina das elites e do imperialismo. que, para
além da forte relação de competitividade entre as escolas. ,iumentar suas taxas de lucro, aumentam as taxas de exploração,
Outro caminho de aumento de responsabilidade dos docentes promovendo o saque de recursos públicos e de capital com os pa-
são as avaliações externas ou a cultura de avaliação, como alguns gamentos das dívidas externa e interna. Entre 2000 e 2005 foram
denominam para indicar que já sào práticas hegemónicas na maio- pagos pelo governo Lula R$ 1,2 trilhão a título de juros e serviços
ria dos sistemas educacionais do mundo. O professor passa a ser das dívidas. segundo dados do IPEA/2008.
responsável pelo aprendizado dos alunos e pela melhora dos indica- A crise da educação pública no Brasil e no mundo está inserida
dores nos rankings de avaliação. Há uma insistência em atribuir os na crise do modo de produção da sociedade capitalista. A burguesia
problemas dos rendimentos educacionais à necessidade de desregu- e seus governos de plantão, como o governo Lula, não se contentam
lamenta\ão da carreria, para incorporar o salário por desempenho, l'lll reduzir verbas, ,wançam também com ,\taques para sucatear o
<.:ontratos sem via de concurso públicos etc... l'nsino e alardeam o PDE como o plano que superará a crise educa-
Mas durante toda década de 90 do séc. XX e nesta primeira donal. apesar do fnKasso do Plano Decenal de Educação para To-
década do séc. XXI, os trabalhadores em educação realizaram de- ,los. No entanto, o governo Lula/Haddad desvia nxursos da educa-
zenas de greves e inúmeras mobilizações nacionais de resistência e \àO através da DRU, que, entre 2000 e 2007, desviou R$ -15,8 bilhões.
por melhores salários, melhores condições de trabalho e em defesa Segundo dados da OCDE, publicados em 2007, num quadro de 34
da Educação Pública, nas quais foram protagonistas as entidades palses. o Brasil é o que menos gasta com a educação.
estaduais como a APEOESP/Sindicato-SP. CPERS, SINTE-SC, Neste contexto, qualquer plano educacional que vise atacar a fa-
SEPE-RJ. entre outras. Estas lutas tiveram e tem como entrave as l~ncia do ensino tem de partir de um programa econômico alterna-
suas organizações sindicais nacionais como a CUT - e a UNE, que 11vo centrado no combate à miséria e à fome, razão primeira da crise
representa os estudantes - que são um braço do governo Lula e do sistema educacional, e no rompimento com o imperialismo,
50 A proletarização dos professores O fracasso dos planos neoliberais... 51

Por isso, cabe à vanguarda, aos lutadores socialistas e à Conlutas capitalista, sumos contra a escola unitária por entendermos que esta
encabeçar esta tarefa histórka de impulsionar o debate em torno dn concepção hoje, sob esse Estado, significa a defesa da inspeção esco-
construção deste programa alternativo. lar e o consequente controle político-ideológico das políticas educa-
Qualquer plano educacional comprometido com a causa soda- cionais. Assim, quando o governo defende a escola unitária, está de-
lista tem que estar associado ao não p.,gamento das dívidas externa fendendo que o Estado tenha o controle ideológico sobre a escola e
e interna; à redução da jornada de trabalho; .10 rea_juste mensal e à imponh.,-lhe o neoliberalismo. Isto significa aceitar seu receituário:
reposição das perdas salaríais: á reestatização das empresas privati- descentralização do financiamento, parceria -::om a comunidade e a
zadas sob controle dos trabalhadores; à reforma agrária rndícal e a iniciativa privada, o controle ideológico através Ja atual legislação
sobretaxar a burguesia. educacional. dos parámetros curriculares e da avaliação dJ escola e
Este plano só pode ser implementado por um governo dos trnha- do rendimento csi:olar.
lhadores. apoiado em sua mobilização. Somente o socialismo com de- A ccntraliz,tçào do livro "cli1.hítico melhorado" é o instrumento
mocracia operária e um Estado controlado pelos trabalhadores pode- de capacitaç,io e o sistema nacional de avaliação (SAEB, Prova Bra-
rá acabar com a exploração e a miséria que o capitalismo engendra. sil, ENA DE}. o instrumento de controle de "qualidade" e de mercan-
A defesa da eswla estatal pública, gratuita, de qualidade e laica tilizaçào do ensino.
em todos os níveis é hoje um património da classe trabalhadora e Contra a inspeçào escolar, defondemos a total ,tutonomia didá-
não só dos trabalhadores em educação. O capitalismo é incapaz de tica, pedagógica e administrativa e o fim dos órgãos de supervisão
conceder essa reivindicação, embora seja uma bandeira democrá- escolar.
tico-burguesa. Por isso, a luta por essa reivindicação é hoje parte A politecnia figura no programa da A.1.T., a I lntt'rnacional so-
das bandeiras de mobilização de toda a classe trabalhadora contra o cialista, de 1886. Hoje consideramo-na condição indispensável para
domínio do capital. que os jovens possam enfrentar os desafios da sociedade contem·
Um programa para garantir ess..1 conquista e barrar os ataques porânea, que introduz a automação e os novos processos produ·
do capital deve defender os dementos que descrevemos a seguír. tivos, altera relações de produção e do trabalho, destrói e inventa
novos postos de trabalho, cria o desemprego estrutural etc ... E exige
Concepção de escola mudanças na estrutura social e uma nova relação entre educação e
trabalho.
A concepção de educação tem como rcterência a luta por uma Portanto, como determinada pela LDB n. 9.394/96 e estabelecida
sociedade socialista, uma sociedade sem explorados e sem explora- pela política educacional em curso, a dualidade na rede escolar sepa-
dores. Na luta contra o Estado capitalista opinamos que a concepção ra a formação profissional da educação geral e engendra a formação
de escola que defendemos está baseada nas seguintes ideias: a auto· Je um homem parcial, limitado e anacrónico. Por isso, opinamos
determinação da escola, contra a inspeção escolar e pelo controle da que a escola deve articular de forma definitiva a teoria e a prática.
escola sobre a mesma, e a defesa da politécnica, ou seja, a defesa de
uma escola que una o ensino propedêutico ou formação geral com o Gestão da escola
ensino técnico profissional. Isto se torna uma necessidade à medidtt
que 86% das matrículas da educação básica estão na escola pública. Os avanços da democracia na sociedade brasileira não chegaram
Neste sentido, ao vivermos numa etapa de hegemonia do Estado :\ escola e tampouco ao chão da sala de aula. Ao contrário, a política
52 A proletarizaçào dos professores O fracasso dos planos neoliberais... 53

educacional vigente e a LDB n. 9394/96, expressa. nos seus artigos 8, • Fim dos vestibulares.
9 1 14, JS e 16. maior poder ao MEC. que utiliza inst rumentos como Pela Revogação da Lcgisl.1çào Educacional e por uma legislação
Parúmetro~ Curri,,;ulares Nacionais. avaliação institucional. centra- juríd ica que esteja a serviço da educação publica estatal:
liiaçâo do li vro Jidático eh.: ... fata legislação aborda o tema expres- • LDB - n. lJ.394/96:
sando a denominação "progressivos grau de .1uton()mía", que para • EC n. 53/07;
nada significa autonomia da escola. • l.ei 11.49-t/07 qut: regulamenta o FUNDEB;
Por isso, defendemos que ,1 gestão da escola rsteja apoi ada na • Revogação do Decreto Federal 6.09-1/07
democracia direta. Isto significa a total autonomia didática, pedagó- Fim da municipalização do Ensi110 Fundamental e reversão
gica e administrativa, e o combate à falaciosa autonomia do governo das es(olas municipalizadas.
subordi nado às diretrizes do Banco l\lundi,11 e do ~ID, UNESCO e
Unkef. Financiamento da Educação
Defendemos, ainda, que a organização da escola e o gerencia-
mento dos recursos sejam administrados pelo conselho de es.:o- A Carta Magnu de 1988 estabelece que ao mc>nos 18% da rect:ita de
la nu colegiado, ddiberativo, por um ano e revogável a qualquer impostos da União e 25% da dos estados, Distrito Federal e dus mu-
momento. nicípios devem ser investidos na educação. As despesas educacionais
Tanto os diretores como o vice ou assistente devem ser eleitos por incluem a remuneração e o aperfeiçoamento dt> professores, a manu-
um mandato de dois anos, tair1bém revogávd a qualquer mon1t:nto. tenção de instalações e equipamentos, os levantamentos estatísticos e a
Queremos a democracia 1101. sistemas de ensino. O Conselho concessão de bolsas de estudos a alunos de escolas públicas e privadas.
Nacional, fatndu.il e Municipal de Educação devem ser soberanos e A desvinculação de Receitas da União (DRU), criada no governo
deliberativos, ::.em a participação dos empresários do ensino eleitos FHC e mantida no governo Lula (PT), durnr,\ até dez/20 11. Através
pelo voto direto. desse expediente o executivo fede ral desvia anualmente da educação
A democrada tem que chegar ao chão da universidade. Por isso, mais dt· 5 bilbôes de reais.
defendemos: Com a agudização da crise económ ica o governo Lula promove
• Eleição direta para reitor e que os conselhos sejam paritá- corte:-- no orçamento d,1 educação de 2009 da ordem de R$ 1,3 bi-
rios, soberanos e autónomos; lhõe:,,, segundo os jornais O Estodo de S. Paulo e Foi/ia âe São Paulo
• Abolição de todo e qualquer controle ideológico por parte de 01/04/ 0Y, indkando a tendênda de aprofundamento da falência
do Estado; do sistema educativos.
Fim dos PCNs; A UNESCO, órgão insuspeito do imperialismo, indica que pa·
• Fim das avaliações imtitucionais: SAEB, ENEM e Prova íses como o Brasi l devem aplicar no mínimo 6% do PIB na educa-
Brasil; ção; também indicam nosso país como um do~ que menos investem
Fim dos órgãos de supervisão escolar: no ensino. Se considerarmos os problemas eslrutur,1is que atingem
Completa e total autonomia pedagógica e administrativa; o sistema educacional, os invest imentos devem ser muito maiores
• Eleição direta para diretor com mandato de dois anos, revo- para superá-los. Além disso, é necessário acabar com os desvios e a
gável a qualquer momento; corrupção e pôr fim à DRU, que é responsável pelo desvio de mais
• lt11:entivo à formação de grêmios livres; de R$ 60 bilhões nos últimos 10 anos.
54 A proletanzação dos professores O fracasso dos planos neoliberais ... 55

St.•m aumentar os rl'curso~ n,io haverá superação da crise estru- • Não pagamento d:1s <lívida!, interna e externa;
tural da educação brn5ileirn, que tanto sofre com a má qualidade da • Pris,io e con fisLo dos bens dos corruptos e sonegadores:
infraestrutura. a baixa remuneração dos professores e dos funcioná- • Fi m da!> isençõc:-; físic::11,: impostos progressivos e sobretaxas
rios, a falta de laboratórios etc. das grandes fortuna11;
A educação é um dever do Estado e um direito da população. • 30"o do ICI\ l S p.Ha a educação t·m cada estudo; 15% do PIB
Assim, a única coisa que queremos do Estado são as verbas. De- para a educação e aplkaçãu de 10% já;
fend emos o ensino público, gratuito, laico e e!itatal. de qualidade • Contra a política de fun<lo1. e o FU N DEB: LOnl ra a participa-
cm todos os níveis, financiado integralmente pe lo Estado e dirigi· ção em consel ho11 policlassistas e contrn a ingeréncia do BID, Banco
do por representante, democraticamente eleitos pela comu nidade Mundial e outros organismos multilatt-rais na educação nacional;
escolar. • hm da legislação que autoriza o repas5e de verbas públicas
No Brasil a educação pública e financiada por duas fontes dt· para o ensino privado, para ONGs e fundaçõ es; que o governo rom-
recursos: impostos e financiamento externo. As verbas estão muito pa com os organ ismos multilaterais internacionais.
abaixo das necessidades e constata-se uma redução acentuada dos A constatação do fracasso do Plano Decenal e da consequente
investimentos, tantn n,l educação básica como no ensino supe rior. não-superação da crise estrutural da educação levou a burguesia
Em relação ao PIB. o Brasil investiu: em 1989, 4,6%: em 1994, e o governo Lula a niminalizarem o professor, c ulpando-o por
3,2%; 1995, 3%; 1998, 3.5%; 1999. 3,7%; 2000, 4%; 2001 , 4%; 2002, todas as mazelas do ensino. Da m esm,1 forma, a imprensa falad a e
de 4%; 2003, 4,1%; 200-t 4,1%; 2005, 4,2%; 2006. 4,3%; 2007, 3,8%: escrita passou a responsabi li zar o m agistério pelo fracasso escolar,
2008, 1.1%. E ainda há desvios e corrupção, problemas que o FVN- escamoteando os verdadt'iros responsáveis pelas políticas públicas
DEF aprofundou, à medida que: socializou a miséria e legalizou os na educaçào.
desv ios. com o indicam as denú ncias sobre as prefeituras que não A aprovação do Piso Salarial NaciLmal de R$ 950/-lOh, valor a ser
cumpriram o que m andava a lei . Até 2002 , o governo FHC dt:ixou atingido em 20 10, está longe de ser um,1 remuneração digna e està
de repassar R$ 10 bilhões. dístank da reivindicação histórica dos trabalhadorci, da educação.
Em 2007, foi aprovado o FUNDEB, instituído pela EC n. 53 que Da mesma forma, os planos de carreira dos sistema!> de ensino náo
substitu iu o FUN OEF, cu_ja lógica do funcion amento é semelha nte valorizam o professor e tampouco constituem uma carreira de fato.
ao seu ;rntecessor. Não é por outrn razão que hú uma redução drá11tica na demanda
O governo Lula fi xou o valo r mínimo do FUNDEF em R$-l46,00 pelos c ursos de licenciatura.
de 1° ,1 --1° séries e R$ -16830 de s• a 8• séries, em 2003; em 200-t R~
583,41 e RS 564,50; e em 2005, R$ 620,56 e R:ii 651,59. São valore~ Pela valorização dos profissionais da educação e pela me-
gritantemente inferiores às mais modestas expectativas. Em 2008 o lhora das condições de trabafho:
valor per capita aluno do FUNDEB foi de R$ 1.700 por aluno.
Por esta razão, defendemos: • M.íximo de .20 alu nos por sala de aula para turmas de 1• a 4•
• Ensino público, estatal, gratuito, laico e de qualidade em todos ,éries do ensino tund,m1ental e m hímo de 25 alunos para turmas
o~ níveis: d~ SJ a 8ª séries e ensino médio;
• Contra a mercantilizaçào do ensino: contra a ALCA e a defini- • Realização de concursos dassificatúrios:
ção da educação como mercadoria; • Formação rnnt inuada do professor (que a cada três ,mos o
56 A proletarização dos professores O fracasso dos planos neol1bera1s... 57

professor seja afastado para atualização em universidades públicas, Documentos


.:om licença remunerada);
• f'ím das tele-salas; Lei de Diretrizes e Ba!)t::S da Educação N.1donal n" Y-'N-1/%.
• Contra a avaliação de desempenho do professor e avaliação Sinopsl' INEP·MEC 200-! a 2008.
institucional; Declaração Mundial de Educação parn Tudo~ - 1990.
• Jornada de ~O horas sem.mais e 20 horas de atividades (50% Geog rn fia d a Edm:açào - M EC - 1N EP - .!O<B.
na escola); Programa deitoral do PT para a Educação - 2002 ~ 2005.
• Piso salarial nacional com o valor do salário mínimo do DIE- Cen::.o I HGE 2000 E 2002.
ESE para 20h/sem. Plano Dccenal de Educação parn Todos - MEC - 1993-2003.
• Fim da avaliação de desempenho do professor. Relatório UNESCO - 2007, 2008

Um esboço de programa - Em Defesa da Universidade Referências Bibliográficas


Pública, Estatal e Gratuita
AN DFRSON, Perry. "Balanço do Neoliberalismo". ln: SADJER,
• Estatização do emino privado; Emir; GENTl LI, Pablo. Pós-Neoliberalismo. Rio de Janeiro: Paz e
• Verbas públicas só para a educação pública; Terra, 1995.
• 30% de bolsas financiadas pelo ensino privado; CARNOY, MJrtin. Mundialização e Reforma na Educação. Bra-
• Pela tederalização e estadualizaçâo do ensino privado em crise ~Hia: CNPQ. IfüCT, UNESCO. 2002.
financeira; DELORS, Jacqu~s- Educação: Um Tesou ro a Descobrir: Relittório
• Cotas para os negros e negras nas universidades como política ('11ra a UNESCO da Cv111issâo Internacional sal,re Ed111.:açào para o
transitória; ~,·e. XXI. São Paulo, Brasília: Cortez, UNESCO, MEC. 1999.
• Pelo fim das Fundações nas universidades públicas; GENTI LI , Pablo (org). Pedagogia da Exc/11s,1(). Petrópolis: Vo·
• Nenhuma intervenção do Ministerio da Educação nas ,cs, 1993
universidades; MANACORDA, Mario Alighiero. Marx e a Pedagogia ,Wodcr·
• Eleições diretas e paritárias para reitor; 11a. São Paulo: Cortez, 1996.
• Estatuintes paritárias e soberanas; PSTL'. Des,~(ios 1111 Edurnç,10, n" 1, 2 e 3, l99í e 1998.
• Fim do Provào e do EN ADE; TADF.U. Tomaz; ca-:NTILI, Pablo. Escola S.A. Brasília: CNTE.
• Não ao pagamento de men!).ilidades nas universidades púl li . 19%.
casou qualquer taxa; TOMMASI, Miriam; WANDER, Jorge; HADDAD, Sl'rgio. Jl:,111
• Não ao techamentu ou privatização das moradias estudantis e • 1> Mundial e as Políticas Ed11cacio11aís. S:io Paulo: Corll'z, J>llC/SP,
restaur.,ntes universitários; Ação Educativa.
• .Em defesa da assistencia estudantil gratuita;
• Em defesa das verbas da CAPES e CNPq, suplementação orça-
mentária para pesquisa.

Você também pode gostar