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Filosofia do Direito

Filosofia do Direito
Prof. Douglas Azevedo

Prof. Douglas Azevedo


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Equipe 1ª Fase Ceisc ♥

@prof.douglasazevedo

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Revisão Turbo | 36º Exame de Ordem
Filosofia do Direito

1. Contratualismo

Os autores a seguir analisados (Hobbes, Locke e Rousseau) buscam explicar o


surgimento da entidade estatal ou, mais precisamente, o motivo de os homens abrirem mão
de parte de sua liberdade, conferindo poderes a um grupo seleto de indivíduos – quer dizer,
analisam o surgimento dos Estados e as relações de poder. Para tanto, todos partem de um
mesmo ponto: um Estado de Natureza no qual o homem se encontrava antes do surgimento
do Estado.

1.1 Thomas Hobbes


O ponto de partida para Hobbes é o Estado de natureza, quer dizer, um momento
anterior ao surgimento do Estado e da sociedade. Nesse momento, o autor entende que os
homens, imbuídos de um forte senso de autopreservação, viviam num estado de guerra de
todos contra todos, no qual imperava a insegurança e o medo, razão pela qual afirmou ser o
homem o lobo do próprio homem.
Para romper esse estado de insegurança, os homens se juntam e, por um ato de
vontade, celebram o contrato social (que, como contrato celebrado, deve ser cumprido), pelo
qual transferem seus direitos e liberdades a outro homem, que passará a governar todos,
criando mecanismos para proteger o direito à vida.
O Estado, portanto, deveria ser forte e com o poder centralizado. logo, o autor defende
a ideia de um estado absolutista, pois seria o mais apto a impedir o retorno ao Estado de
Natureza. Nota-se, pois, que o direito passa a efetivamente surgir após a estrutura estatal estar
consolidada. Ao súdito deste poder absoluto caberia, assim, o dever de obedecer aos
comandos do soberano (ideia de liberdade dos súditos).

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1.2 John Locke


O Estado de natureza também é o ponto de partida, mas, diferentemente do modelo
hobbesiano, para Locke o homem tende a ser bom e viver bem. Existem alguns direitos no
Estado de natureza (direitos naturais), a saber: a vida, a propriedade privada, a liberdade.
Tem-se, pois, a adoção de uma visão jusnaturalista, na qual já existiam direitos na natureza
derivados da razão humana,mesmo antes do surgimento do Estado.
O trabalho era o critério para a propriedade de terras. Eventualmente poderia haver
disputas, configurando um estado de guerra temporário. Seria, portanto, interessante haver
uma instituição para julgar as disputas, prevenir abusos, punir os que descumprem as leis
naturais etc.
Surge, assim, o contrato social e, com o consentimento das partes, há a cessão de
direitos ao Estado com o intuito de se poder criar as próprias leis, um sistema coercitivo e
instituir juízes imparciais. A ideia, portanto, é a de melhorar algo que já era bom.
Assim, modelo de governo = democracia representativa; papel do Estado = garantia
das liberdades individuais.
Por fim, vale destacar o direito de defesa proposto por Locke. Para o autor, se o governo
representante não garante à população os direitos de liberdade e a propriedade privada, o
povo pode contra ele se insurgir.

1.3 Rousseau
No Estado natural de Rousseau, o homem é bom; ele era solitário (grupo familiar, no
máximo) e os indivíduos respeitavam a liberdade uns dos outros. O eventual crescimento
populacional acaba por instituir o chamado Estado de sociedade, no qual alguns homens
tomam para si propriedade, dando início a uma sociedade desigual e corrompida. As leis
protegem os ricos etc. Há, portanto, a corrupção do homem pela sociedade. Não há
liberdade, pois só alguns fazem as leis.
O contrato social seria celebrado para se sair desse Estado de sociedade para um
novo modelo. Para isso, seria necessário romper a alienação inicial dos oprimidos e instaurar
um modelo de democracia participativa pautada na ideia de vontade geral – entendida como o
substrato das vontades coletivas; o interesse comum “norteando” a sociedade; o que cada
homem quer em comum com seus semelhantes.

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2. Teorias Éticas – Kant e Utilitarismo

2.1 Immanuel Kant


Kant era Iluminista, ou seja, buscava romper com a moralidade anterior que tolhia a
liberdade dos indivíduos. Para tanto, Kant vai tentar elaborar uma teoria da moralidade
fundada na razão – caráter universal (vale para todo o mundo).
Em sua obra, Kant aborda a questão da ética da moral, bem como aspectos jurídicos e
políticos, sobretudo sob a lógica de como orientar nossa ação. Nesse contexto é que o autor
apresenta os imperativos. Estes (que são os princípios) podem ser hipotéticos (inclinações –
sede, fome, desejo, etc) como categóricos (baseados na razão). Nesses últimos, a ação
passa a ser um fim em si mesma –é o certo a ser feito, é o puro dever.
Transcrevendo os imperativos categóricos de Kant temos:
“Age de modo que a tua ação possa se tornar uma lei universal.”
“Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de
qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca como meio.”
As coisas possuem preço, as pessoas possuem dignidade.
Ex.: Por que não mentir? Segundo o imperativo hipotético, alguém pode contar uma
mentira buscando evitar sofrimento, ou para se livrar de uma situação negativa. Pela lógica do
imperativo categórico, o indivíduo não deve mentir pois não é o correto; é inviável para uma
ordem social que as pessoas mintam quando acharem que podem o fazer. Logo, o caráter
universal – por meio da razão, o ser humano já consegue chegar a esta conclusão, não
importa em qual cultura ele esteja inserido. Outrossim, a ação só estará conforme a
moralidade, para Kant, caso eu não minta por não querer mentir; se eu não o faço em virtude
de minha boa vontade, e não apenas por medo de uma punição. Logo, a boa vontade é
elemento fundamental na ação moral – o indivíduo deve agir daquela forma pois ela é correta,
independentemente dos fins.
Em outras palavras, o agente, ao agir, precisa querer o resultado bom, e não agir
apenas por interesse pessoal. A ação é boa independente dos fins que se alcança com ela.
Essa boa vontade, portanto, não deve ser afetada pelas inclinações, mas sim pela vontade de
agir por dever.

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Exemplo de boa vontade: O comerciante que pratica preços justos por receio de que,
caso cobre valores elevados, acabe perdendo clientes para os concorrentes. Embora o
resultado seja a prática dos preços justos e em conformidade com os demais vendedores, a
intenção do comerciante está moralmente maculada, pois não o faz pensando ser o certo, seu
dever e obrigação, mas tão somente para evitar seu prejuízo. Caso esse comerciante exerça
preços justos motivado por uma noção de dever e obrigação moral, estará, portanto, imbuído
de boa vontade. Isso não quer dizer que o homem não deva se preocupar com sua felicidade
(os imperativos hipotéticos), a questão é que esta não pode ser considerada quando a
questão permeia a esfera do seu dever moral. É esse agir que nos tornaria, portanto, dignos
da felicidade.
A lei, por sua vez, é algo cumprido pelo medo da coação, logo, é externa ao indivíduo.
A boa vontade, por sua vez, é interna – a vontade de agir de forma ética está dentro do
próprio sujeito.
Por fim, temos que, para Kant, a justiça consiste em agir conforme o imperativo
categórico, pois ao assim fazê-lo, estamos adequando nossa conduta a uma máxima
universal benéfica para todos.

2.2 Utilitarismo
O utilitarismo foi uma corrente filosófica pragmática e consequencialista, isto é, estava
preocupada com o resultado das ações, e não com os meios. Em outras palavras, o que
importa são os fins obtidos, e não os meios utilizados parase chegar até eles.

2.3 Jeremy Bentham


Para Bentham, as ações são boas quando promovem a felicidade (ação moralmente
correta) e más quando geram infelicidade (moralmente incorreta). Para melhor representar a
teoria do autor, vale citar o seu princípio da utilidade: toda ação deve ser aprovada/rejeitada
conforme tendência de aumentar oureduzir o bem-estar (seu e geral).
Deve-se, portanto, agir de forma a produzir uma maior quantidade de bem- estar.
Ex.: cinco pessoas estão amarradas em um trilho de trem e uma pessoa em outro. Um
indivíduo, puxando uma alavanca, pode escolher matar um ou cinco. Pela lógica utilitarista,
deveríamos sempre escolher poupar cinco vidas, independentemente de quem fosse essa
uma pessoa a ser sacrificada.

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Bentham trabalha a ideia, portanto, de quantidade de bem-estar/felicidade como critério


para a justiça.

2.4 John Stuart Mill


Trabalha também com a qualidade do prazer, não só a quantidade.
Em outras palavras, entende que alguns prazeres têm mais valor do que outros, como
os prazeres do pensamento, do sentimento e da imaginação, que resultam da experiência de
apreciar a beleza, a verdade, o amor, a liberdade, o conhecimento, a criação artística. Assim,
por exemplo, se uma grande mansão e uma pequena biblioteca estivessem pegando fogo,
deve-se salvar primeiro a biblioteca por ser mais importante, mesmo que menor.
Mill também é um crítico da chamada “ditadura das maiorias” – mostra que, num modelo
democrático, muitas vezes é possível que o interesse de grupos majoritários seja
prejudicial a grupos minoritários, os quais devem, portanto, ter seus direitos resguardados
pelo direito (ideia de caráter contra majoritário do âmbito de proteção). Ou seja, mesmo dentro
do cálculo utilitarista, Mill entende que violar direitos de uma minoria é pior para o todo.

3. Positivismo Jurídico e Jusnaturalismo

O positivismo jurídico apresenta-se de diversas formas ao longo da história e por meio


de diversas escolas. Para nossa prova, vale a pena destacar a escola da exegese, por ser a
pioneira e por já ter sido diretamente cobrada no exame Positivismo exegético é a tentativa de
prever todas as condutas humanas nos códigos; a simples aplicação da subsunção, ou seja, o
fato se amolda ao texto legal. O papel do juiz era o de “juiz boca de lei”, pois apenas
identificava o fato e aplicava a lei sem qualquer interpretação. Tal modelo, todavia, logo foi
entendido como insuficiente, pois impossível de se prever todas as condutas humanas em
códigos.
Para além do positivismo exegético, vale pontuar a ideia central das diversas
correntes do positivismo: a ideia de direito como ciência, o qual recebe validade quando posto
pela autoridade competente. Assim, se a lei foi criada pela autoridade devidamente incumbida
de tal tarefa, e submetida ao devido processolegislativo de elaboração, tal lei é válida e eficaz,
mesmo que grande parte da população a considere injusta ou insuficiente.
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Alguns autores, como Bobbio, ainda vão classificar o positivismo como uma espécie
de ideologia, pois além de uma teoria, no sentido em que descreve o direito, o positivismo
também é uma forma de querer o direito - a noção do deverabsoluto de se obedecer às leis.
Já no que toca ao jusnaturalismo, temos a ideia de leis naturais que independem de
leis positivas, ou seja, que existem regramentos na “natureza” e que o ser humano, sendo
dotado de razão, compreende e segue. Por exemplo, é preciso estar escrito em código penal
que matar alguém é errado ou o ser humano é capas de compreender, naturalmente, que tal
prática é incorreta?

3.1 Hans Kelsen


Kelsen abordou o direito como ciência: se existem leis que explicam a natureza e são
válidas em todo o mundo, o direito também deveria ter validade objetiva e uma base universal
(notamos aqui uma certa influência kantiana). Este aspecto é fundamental na compreensão da
obra do autor: a separação do direito entre o que ele é na prática jurídica (ser) do que ele é
como ciência (dever ser).
Kelsen não se preocupa em trabalhar o conteúdo do direito, pois este é relativo (cada
país tem leis diferentes, logo, impossível de se conceber bases universalmente validas). Logo,
direito não é aquilo que é justo, mas sim o que é posto por uma autoridade competente. O que
Kelsen verifica ser universal é a estrutura do direito; sua manifestação normativa (dever ser);
a relação de imputação que busca tornar válida/inválida uma conduta, entre outros aspectos.
A seguir, alguns pontos importantes de sua teoria que aparecem na prova.

3.1.1 Modelo Escalonado e Norma Fundamental


O ordenamento jurídico, para Kelsen, obedece a uma ordem escalonada de validade.
Quer dizer, as normas inferiores (sentenças, por exemplo) obedecem às normas (leis) e delas
adquirem sua validade, recebendo, por sua vez, validadeda norma superior (a Constituição).
Assim, o que dá “validade” a um sistema jurídico? Sua Constituição. O que dá
validade e objetividade a uma Constituição? A constituição anterior. Mas como proceder ante
esse retorno infinito? Por meio da norma fundamental.
A norma fundamental é fictícia; pressuposta (pelo intelecto, não pela vontade) – sem
ela, o retorno infinito só seria explicado por questões alheias ao direito. A Constituição, por
sua vez, dá objetividade e validade às normas gerais, que, por sua vez, darão objetividade e

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validade às normas individuais. A norma fundamental poderia, por exemplo, ser entendida
como o comando de que “devemos seguir a Constituição Federal”, muito embora isto não
esteja positivado em nenhum lugar – logo, pressuposta.

3.1.2 Moldura e interpretação


Kelsen aponta existirem duas espécies de indeterminação da lei:
1) Intencional (lei das alternativas a serem escolhidas. Ex.: trabalho comunitário ou
prestação pecuniária);

2) Não intencional (plurissignificância das palavras). Para enfrentar os limites da


interpretação, Kelsen imagina a figura de uma moldura de quadro, que representa o
limite dentro do qual uma interpretação é válida, limite este estabelecido pelas próprias
normas hierarquicamente superiores.
A norma superior = moldura (esfera de ação da norma inferior). Há, assim, dois
momentos:
1) Determinação objetiva da moldura colocada pela norma superior, por meio de um ato
cognoscitivo;
2) Escolha subjetiva, por meio de um ato de vontade, de uma das possíveis opções
apresentadas pela norma superior para transformação em Direito positivo.
Em outras palavras, primeiro o intérprete verificará os limites de aplicação impostos
pelas próprias normas e, assim, decidirá, e qualquer coisa que decidir dentro desses limites
configurará uma decisão válida.
Todavia, caso o magistrado realize uma interpretação fora da moldura, esta também
será direito, pois se trata de intérprete autêntico. O próprio Kelsen deixa claro em sua obra
que, pela via da interpretação autêntica (quer dizer, pelo órgão jurídico que a tem de aplicar),
também é possível se produzir uma norma que se situe completamente fora da moldura que a
norma a ser aplicada representa.
Por meio dessa interpretação, poder-se-ia, então, criar direito não só no caso em que a
interpretação tem caráter geral, em que, portanto, existe interpretação autêntica no sentido
usual da palavra, mas também no caso em que é produzida uma norma jurídica individual por
meio de um órgão aplicador do Direito, desde que o ato deste órgão já não possa ser
anulado, desde que ele tenha transitado em julgado (KELSEN, 2009).

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É notório que, pela via de uma interpretação autêntica deste tipo, é muitas vezes criado
Direito novo, especialmente pelos tribunais de última instância.

3.2 Herbert Hart


O que interessa da teoria de Hart para se enfrentar a prova de filosofia do direito reside
na distinção apontada pelo autor sobre as normas e na questão da indeterminação legislativa.
Inicialmente, o autor, um dos mais importantes positivistas, entende que um ordenamento
jurídico é composto por um sistema denormas primárias e secundárias:
*Para todos verem: esquema

• São regras de obrigação que impõem condutas ou abstenções.


Normas
primárias

• Surgem para corrigir defeitos das normas primárias. Se dividem


em:
a) Modificação
Normas b) Julgamento
secundárias c) Reconhecimento

As normas secundárias se dividem em:

a) de modificação (disciplinam mecanismos para modificação, revogação ou introdução de


uma norma primária);

b) julgamento (que outorgam a determinadas pessoas poder de julgar violações das


normas primárias);

c) reconhecimento → legitima o sistema das normas primárias → aceitação social da


norma, logo, questão fática, não normativa. Atenção especial a esta última informação,
pois já foi cobrada: no momento em que se fala de aceitação social da norma, abre-se
espaço para juízos valorativos no universo do direito, razão pela qual o positivismo de
Hart é chamado de soft (brando).

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Outro ponto relevante para a prova abordado por Hart é a questão da textura aberta
do direito que ocorrem por dois motivos:
1) imprecisão linguística na descrição de uma norma prejudicando o método da
subsunção e do silogismo;
2) impossibilidade de prever todas as condutas possíveis.

Para o primeiro caso, Hart utiliza como exemplo uma norma que proíbe o ingresso de
veículos automotores em determinado local, mas, conforme novas tecnologias se
desenvolvem, exsurge a questão acerca de se novos inventos de locomoção enquadram-se
na categoria de veículos automotores.
Muito embora exista tal indeterminação, ainda há grande margem de segurança na
maioria dos casos, quer dizer, as normas apresentam noção de sentido. Essa noção de
sentido é um núcleo de sentido fixo, o que, segundo Hart, afasta a ideia de que o direito é o que
os juízes dizem. Assim, a discricionariedade estaria em um plano intermediário entre
arbitrariedade e aplicação literal da lei.

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4. Outros temas e teorias de Filosofia do Direito

4.1 Norberto Bobbio


Norberto Bobbio, em sua obra Teoria do ordenamento jurídico, destaca que um
ordenamento precisa, para sua devida manutenção, de três elementos:

*Para todos verem: esquema

Unidade
• Norma fundamental que funda e sustenta o sistema
normativo.
Coerência
• Ordenamento sistemático - ideia de relação entre as normas.

Completude

• Possibilidade de que todo caso seja resolvido pelo


ordenamento.

É nesse último ponto que a Fundação Getúlio Vargas (FGV) tem insistidona prova: nas
lacunas e nas antinomias.

Lacunas podem ser:

1) próprias: espaço vazio no sistema;

2) impróprias: originam-se da comparação do sistema real versus ideal (Ex.: a lei sobre
aborto brasileiro é injusta se comparada com a legislação alemã sobre o tema).

As lacunas próprias podem ser resolvidas por meio da:

1) Heterointegração: busca-se alternativa em ordenamento diverso – direito natural,


internacionais, costume, doutrina etc.;

2) Autointegração: busca-se alternativa dentro do ordenamento (analogia, princípios


gerais do direito, interpretação extensiva).

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A analogia é utilizada naquelas situações não reguladas de forma expressa pelo


legislador, momento no qual se devem buscar regras previstas para casos semelhantes,
estendendo-se o alcance.
Princípios gerais de direito são aqueles postulados genéricos que, muitas vezes, dão
fundamento às regras inferiores de um ordenamento jurídico. Importante lembrar que eles
fazem parte do ordenamento, muito embora nem sempre estejam positivados em um texto.
Interpretação extensiva é aquela na qual se parte de uma norma e se procura
estabelecer seu significado e sua abrangência, quer dizer, nos casos em que o legislador
disse, no texto, menos do que tinha a intenção de dizer. A ideia, portanto, é a de se buscar a
real intenção do legislador na hora da aplicação.
As lacunas impróprias só podem ser solucionadas pelo próprio Poder Legislativo, já
as antinomias são duas normas válidas e vigentes incompatíveis entre si.
Elas podem ser:

1) aparentes/solúveis: critérios de solução:

a) critério cronológico: havendo duas normas incompatíveis, prevalece anorma posterior;

b) critério hierárquico: havendo duas normas incompatíveis, prevalece a


hierarquicamente superior;

c) critério da especialidade: havendo duas normas incompatíveis, uma geral e outra


especial (ou excepcional), prevalece a segunda.

2) reais/insolúveis: incompatibilidade, “impossível” de resolver.

Outro tema trabalhado pelo autor é a questão da sanção no âmbito do direito. Para
Bobbio, a sanção pode ser moral (aquela que obriga a consciência dos destinatários da
norma, produzindo um sentimento de culpa), social (aquela que resulta dos costumes e da
vida em sociedade, objetivando tornar o convívio social mais fácil) e a sanção jurídica (criada
para casos de violação de regras estipuladas pelas leis e aplicada por pessoas já
determinadas), ou seja, trata-se de sanção devidamente institucionalizado.

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Caderno de Questões – Filosofia do Direito
Douglas Azevedo

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Caderno de Questões – Filosofia do Direito
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XXXIII Exame
1) FGV – 2021 - OAB - XXXIII Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase – Q10
Norberto Bobbio, em seu livro Teoria da Norma Jurídica, considera a sanção uma das mais significativas
características da norma jurídica. Ele diferencia a sanção jurídica da sanção moral e da sanção social, pelo fato de
a sanção jurídica ser institucionalizada. Assinale a opção que, segundo Bobbio na obra em referência, expressa as
características da sanção institucionalizada.

A) A sanção que obriga a consciência dos destinatários da norma e que produz um sentimento de culpa, que é a
consequência negativa ou desagradável decorrente da eventual violação da norma.

B) A sanção que resulta dos costumes e da vida em sociedade em geral, e que possui como fim tornar mais fácil ou
menos difícil a convivência social.

C) A sanção que foi feita para os casos de violação de uma regra primária e que tem sua medida estabelecida dentro
de certos termos, para ser executada por pessoas previamente determinadas.

D) A sanção instituída pelo direito natural e que decorre da natureza mesma das coisas, da vontade de Deus e da
razão humana.

XXVIII Exame
2) FGV – 2019 - OAB - XXVIII Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase – Q9
Isso pressupõe que a norma de justiça e a norma do direito positivo sejam consideradas como simultaneamente
válidas. Tal, porém, não é possível, se as duas normas estão em contradição, quer dizer, entram em conflito uma
com a outra. Nesse caso apenas uma pode ser considerada como válida. Hans Kelsen Sobre a relação entre
validade e justiça da norma, o jusfilósofo Hans Kelsen, em seu livro O Problema da Justiça, sustenta o princípio do
positivismo jurídico, para afirmar que

A) a validade de uma norma do direito positivo é independente da validade de uma norma de justiça.

B) o direito possui uma textura aberta que confere, ao intérprete, a possibilidade de buscar um equilíbrio entre
interesses conflitantes.

C) o valor de justiça do ato normativo define a validade formal da norma; por isso valor moral e valor jurídico se
confundem no direito positivo.

D) a validade de uma norma jurídica se refere à sua dimensão normativa positiva, à sua dimensão axiológica, e
também, à sua dimensão fática.

XXVII Exame
3) FGV – 2018 - OAB - XXVII Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase – Q10
Concebo, na espécie humana, dois tipos de desigualdade: uma que chamo de natural ou física, por ser estabelecida
pela natureza e que consiste na diferença das idades, da saúde, das forças do corpo e das qualidades do espírito e
da alma; a outra, que se pode chamar de desigualdade moral ou política, porque depende de uma espécie de
convenção e que é estabelecida ou, pelo menos, autorizada pelo consentimento dos homens. ROUSSEAU, Jean-
Jacques. Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens. Coleção Os Pensadores.
São Paulo: Abril Cultural, 1978.Levando em consideração o trecho acima, assinale a afirmativa que apresenta a
perspectiva de Rousseau sobre como se coloca o problema da desigualdade.
A) As desigualdades naturais são a causa das desigualdades morais, uma vez que as diferenças naturais se
projetam na vida política.

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Caderno de Questões – Filosofia do Direito
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B) As desigualdades naturais são inaceitáveis; por isso, o homem funda a sociedade civil por meio do contrato
social.

C) As desigualdades naturais são aceitáveis, mas as desigualdades morais não o são, pois consistem em privilégios
de uns sobre os outros.

D) Todas as formas de desigualdade consistem num fato objetivo, devendo ser compreendidas e toleradas, pois
elas geram o progresso humano e produzem mais bens do que males.

XXV Exame
4) FGV – 2018 - OAB - XXV Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase – Q9
A ideia da existência de lacuna é um desafio ao conceito de completude do ordenamento jurídico. Segundo o
jusfilósofo italiano Norberto Bobbio, no livro Teoria do Ordenamento Jurídico, pode-se completar ou integrar as
lacunas existentes no Direito por intermédio de dois métodos, a saber: heterointegração e autointegração. Assinale
a opção que explica como o jusfilósofo define tais conceitos na obra em referência.

A) O primeiro método consiste na integração operada por meio de recursos a ordenamentos diversos e a fontes
diversas daquela que é dominante; o segundo método consiste na integração cumprida por meio do mesmo
ordenamento, no âmbito da mesma fonte dominante, sem recorrência a outros ordenamentos.

B) A heterointegração consiste em preencher as lacunas recorrendo-se aos princípios gerais do Direito, uma vez
que estes não estão necessariamente incutidos nas normas do Direito positivo; já a autointegração consiste em
solucionar as lacunas por meio das convicções pessoais do intérprete.

C) O primeiro método diz respeito à necessidade de utilização da jurisprudência como meio adequado de solucionar
as lacunas sem gerar controvérsias; por outro lado, o segundo método implica buscar a solução da lacuna por meio
de interpretação extensiva.

D) A heterointegração exige que o intérprete busque a solução das lacunas nos tratados e nas convenções
internacionais de que o país seja signatário; por seu turno, a autointegração está relacionada à busca da solução
na jurisprudência pátria.

5) FGV – 2018 - OAB - XXV Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase – Q10
Uma punição só pode ser admitida na medida em que abre chances no sentido de evitar um mal maior. Jeremy
Bentham Jeremy Bentham, em seu livro Princípios da Moral e da Legislação, afirma que há quatro casos em que
não se deve infligir uma punição. Assinale a opção que corresponde a um desses casos citados pelo autor na obra
em referência.
A) Quando a lei não é suficientemente clara na punição que estabelece.

B) Quando o prejuízo produzido pela punição for maior do que o prejuízo que se quer evitar.

C) Quando o juiz da causa entende ser inoportuna a aplicação da punição.

D) Quando o agressor já sofreu o suficiente em função das vicissitudes do processo penal.

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Caderno de Questões – Filosofia do Direito
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Gabarito das questões:

1-C 2-A 3-C 4-A 5-B

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Caderno de Questões – Filosofia do Direito
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