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es) ee =\ ny “Q pior coisa que existe Oevangelho \*< LF ’ j para o Brasil é a inflagao” | segundo Francisco pésitora aBL elicao 2333 - ano 46 ASSASSINO AO VOLANTE As mortes no transito no Brasil ja superam os crimes de homicidio ‘Aescolha é sua ma reportagem desta edigiio de [ VEIA revela com exclusividade os verdadeiros nimeros da maior tra- gédia brasileira, os assassinos ao volante. O levantamento do Observatorio Nacional de Seguranga Viaria, feito por encomenda da revista, baseou-se nos pedidos de inde- nizagdo ao DPVAT, o seguro obrigatério de veiculos. S40 dados mais confidveis do que as estatisticas oficiais, baseadas em atestados de Sbito que nem sempre infor- mam 0 que levou a pessoa a ser internada. Os miimeros revelados por VEJA mostram que a carnificina nas ruas e estradas € ain- da pior do que imaginavamos. Mata-se a0 volante no Brasil mais do que puxando 0 gatilho de revolveres. Motoristas que be- beram e os imprudentes fazem mais viti- mas fatais no pais em um ano do que a guerra entre o governo sirio e os insurgen- tes armados. Mais pessoas morreram em acidentes de transito aqui do que em trés anos de guerra no Iraque. S6 em 2011, segundo a pesquisa de VEJA, a conta m6rbida foi de 58000 pes- soas. As estatisticas oficiais registraram 43.000 mortos no transito naquele ano, 0 que ja seria um espanto. Mas os nimeros verdadeiros poem o Brasil em primeiro lu- gar no trégico ranking mundial de mortos no transito por 100000 habitantes. As auto- idades que gostam tanto de exibir dados sobre o desempenho internacional do pais deveriam deixar 0 ufanismo de lado e colo- car a letalidade nas ruas e estradas no pri- meiro lugar de sua lista de prioridades. Sim, so de responsabilidade dos governos a péssima sinalizacao, a fiscalizagdo porosa e as estradas malconstrufdas e carcomidas por falta de manuteng’o adequada As estradas sio ruins, mas « maioria dos ‘cidentes seria eviiada se, além do moworisa, se semtasse ao volante uma conscléncia Mas as responsabilidades ndo se esgo- tam no governo, Quem mata alguém no tnsito por estar ditigindo depois de inge- rir bebida alcodlica ou agindo irresponsa velmente ao volante fez a escolha indivi- dual de se comportar assim. Com os novos aplicativos de celular que tornam mais facil chamar um taxi, a oferta de cerveja sem al- cool € a solidariedade dos amigos, correr risco e pOr os outros em risco é uma deci- sdo pessoal. Um mau patrdo pode até obri- gar um motorista profissional a dirigir mais horas do que a lei permite, mas, ainda assim, existe escolha — e ela deve ser recu- sar-se a fazé-lo e denunciar 0 abuso. Se o Brasil quer avangar em seu processo civilizatorio, é hora de as pessoas serem res ponsabilizadas pelas escolhas que fazem na vida. Por a culpa da criminalidade na socie- dade, nos males do capitalismo, na desigual- dade social ou nos maus-tratos sofridos na infancia nao leva a nada, Atrapalha o diag- néstico do problema e torna impossivel sua solugdo. © mesmo raciocinio vale para 0 transito. Quem se senta ao volante de um carro ou pega o guido de uma motocicleta sem condigoes de dirigir € alguém que, ten- do a chance de estar no banco de passagei- ros, em um taxi ou Onibus ou, ainda, de ca- minhar, optou por correr riscos. Que as pes- soas paguem por suas més escolhas indivi- duais é uma das grandes garantias de bem- estar e progresso coletivo. Novas estatisti¢as mostram que a violéncia no transito é a segunda maior causa de OER IOs Lethe Ries ilieet cg OCR elem imo i- tne) CCS ert Se anon) EL BY Tae to sey Os acidentes de transito no Brasil Cee kc Bee Cee EO ec ‘a Guerra do Vietna em 16 anos’ ead mundo avanga, o Brasil retrocede. Na Alema- nha, as mortes em aci- dentes de tnsito caf- ram 81% nos ultimos ‘quarenta anos, e 0 go- verno tem como meta fechar um ano in- teiro sem nenhuma vitima fatal. A Aus- trélia reduziu a mortandade nas ruas e estradas em 40% ao longo de duas déca- das. A China precisou de apenas dez ‘anos para reverter uma situagdo calami: tosa em que 0s acidentes de transito ha- viam se tomado a principal causa de mone entre os cidaddos de até 45 anos de idade. Entre 2002 e 2011, 0 desperd cio de vidas chinesas por colisoes, que- das de moto ou bicicleta e atropelamen- tos diminuiu 43%. O assombroso suces- so desses e de muitos outros paises, ricos € emergentes, em combater a violéncia ‘no ansito deveria ser uma inspiragzo parao Brasil. Por enquanto, 0 éxito deles SO amplifica o absurdo desta que € a maior wagédia nacional, Um levanta- mento feito pelo Observat6rio Nacional de Seguranga Vidria para VEJA, com ba: ‘sens pedidos de indenizagaoa0 DPVAT, © seguro obrigatério de veiculos, revela que 0 niimero de vitimas no transito Muito superior ao que fazem crer as esta- Usticas oficiais (veja o quadro ao lado). Em 2012, foram registrados mais de (60000 mortos, um aumento de 4% em relagdo a 2011, e 352000 casos de inva- lidez permanente. Morre-se mais em aci- dentes de transito do que por homicidio ou cincer. Ou seja, nds, brasileiros, te- ‘mos mais motivos para temer um cida- ilo qualquer sentado a0 volante ou so- bre uma moto do que a possibilidade de

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