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5.8 PATOLOGIA DE REVESTIMENTOS, Com a fungo de revestir estruturas, alve~ narias e demais elementos de vedacio, seja nos pisos, paredes ou tetos, os revestimentos de- sempenham papéis importantes além das ques- Wes estéticas. A visualizagio da superficie final atém-se 0 seu compromisso para com aestética e 0 con- forto tctil 0 seu conjunto de camadas, forman- do o sistema de revestimento, é um dos elemen- tos responsaveis, juntamente com as vedagdes, pela capacidade de conforto actistico e térmico, além de proteger estruturas e alvenarias quan to a entrada de agentes agressivos e infiltragdes de Agua e gases no caso das fachadas (BAIA; SABBATINI, 2017). ‘Ao longo dos anos, houve mudangas subs- tanciais em relagdo & tecnologia dos materi as técnicas construtivas ¢ ao desempenho dos revestimentos, Hoje ha edificagdes antigas que necessitam de atengo e cuidado, o olhar téc- nico deve voltar-se as fungées relativas a cada camada do revestimento, possibilitando uma ampla avaliagao das condigdes em que estas se encontram; esta andlise auxiliaré no planeja- mento de intervengées eficazes. 5.8.1 Tipos de revestimento Ha uma vasta diversidade de tipos de reves timento, divididos em, basicamente, dois gru- pos: Revestimentos Aderidos e Nao Aderidos. No caso dos aderidos ~ mais tradicfonais no Brasil ~ as primelras camadas so compostas, em sua ‘maioria, por revestimentos argamassados, como €0 caso do contrapiso para pisos e do conjunto “chapisco + embogo (camada tinica)” para as pa- redes, Sobre esta composigzo ¢ aplicada a tltima camada do revestimento que, dentre as opgdes existentes, as mais tradicionais no Brasil sdo as pinturas, texturas e revestimentos cerimicos. 284 + MANUAL DE ENGENHARIA DIAGNOSTIC Existem alguns tipos de revestimentos que so aplicados diretamente sobre a base de alve- naria ou sobre uma camada de chapisco, no caso das estruturas em concreto, Dentre eles, é possi vel citar a monocapa (tipo de revestimento em monocamada com argamassa decorativa), muito utilizada em fachadas de edificios com alvenaria estrutural, € 0 gesso liso, utilizado em paredes internas. Com uma adogao cada vez mals cotidiana, temos os revestimentos nao aderidos, com des- taque para os sistemas de pisos elevados ¢ de fachadas ventiladas, na qual utiliza-se de estru- turas metalicas fixadas preferencialmente em estruturas de concreto; 0 revestimento é fixado por melo de encalxes e/ou ancoragens com pa- rafusos. Dentro deste grupo, destaca-se as placas cimenticias, marmores e granitos, porcelanato e concreto polfmero. Por se tratar de elementos metalicos, é ne- cessdria atengao quanto a especificacao do tipo dos materiais, bem como ao seu tratamento superficial, com 0 objetivo de evitar corrosdes € consequentemente queda das placas. As fixa- Ges na estrutura da base também precisam ser avaliadas e projetadas de forma a garantir a es- tabllidade de todo o sistema de revestimento. Nos pisos elevados, deve ser dada uma atencao especial quanto & resistncia mecanica da placa ,no caso das fachadas ventiladas, o olhar atento deve ser quanto a estanqueidade da base, uma vez que esta superficie ficaré mais suscetivel as Infiltragdes de agua e gases. 5.8.2 Definicdo da metologia Os revestimentos fazem parte dos sistemas de pisos internos, vedages verticais internas externas, e precisam ser projetacios de forma a garantir a minima vida itil de projeto de acordo com os parémetros da Norma ABNT NBR 15575 (ABNT, 2013). Tabela 49 - Vida itil de projeto (VPU) minima e superior. ‘sstema UP (em anos) ‘Minimo Intermediario Superior Estratura 250 268 275 Pisos interno 22 27 220 Vedagao Vertical Eterna 240 250 260 \Vedagao Vertical interna 220 225 =30 Cobertura 220 225) 230 Hidrossanitario 220 225 230 (s dados dependem da manutenga0 periédica recomendada pela ABNT NBR 5674 e especificada no manual de uso, pers ‘0 e manutenséo elaborado de acardo com a ABNT NBR 14037. Fonts: ABNT, 20% 6 imprescindivel que haja a elaboracao de projetos de produso especificos para cada sistema. No caso das fachadas em revestimento ceramico, a Norma ABNT NBR 13755 (ABNT, 2017a) declara sua obrigatoriedade. Para os demais sistemas, tals como contra- piso e revestimentos internos, o projeto de pro- ducao mantém seu grau de importéncia, pois 0 projeto arquitetonico apresenta a concepgio da- quilo que deverd ser construido; jé 0 projeto de produgio traré detalhadamente como as solu- des projetuais deverdo ser executadas, Incluin- do a determinacao de materials, equipamentos, téenicas e controles tecnolégicos. A norma de Desempenho ABNT NBR 15.575 (ABNT, 2013a) prevé, inclusive, que o projetista defina as ages de manutengao a serem implantadas pelos pro- prietirios na fase de Uso das edificagdes. A definicao de uma metodologia constru- tiva precisa seguir minimamente as determina- es das normas téenicas vigentes (prescritivas e de desempenho), levando em consideracao também as boas praticas construtivas, além de especificagdes dos fabricantes dos materiais que esto em constante evoluco, inovando em seus produtos. ‘A Engenharia Diagnéstica atua em todas as fases do Proceso Construtivo primando, de ponta a ponta, pela qualidade das edificagdes, prevenindo, inclusive, a evolugao das demandas para a judicializagao, ao fornecer subsidios para tratativas extrajudiciais. Atua também na identi- ficagio e aprofundamento das andlises das ma- nifestages patologicas, buscando entender os mecanismos e determinar suas causas ¢ origens, nas pericias. A aplicagao das ferramentas da En- genharla Diagnéstica se amplia nas demals fases da construgao, pois pode estar presente desde a concepgdo de uma nova edificagao para Identifi- car potenciais problemas patolégicos € contro- lar as etapas construtivas, através das vistorias, inspesdes, auditorias e consultoria 0 que pro- porciona um grande ganho quanto 8 qualidade construtiva, Na fase da reabilitagao de um edificio o de- safio & reestabelecer o desempenho do sistema de revestimento através da definigio de metodo- logias técnicas que considerem o estado da edifi- cacao naquele momento que antecede a interven- 40, para promover a ligagio e a aderéncia entre novos materiais e a estrutura, alvenaria e reves- timentos existentes, além da viabilidade logistica da execugio, pois, em muitos casos, as interven- ‘s0es serio realizadas em edificios habitados. As Normas Técnicas estabelecem o conjun- to de ensaios necessarios para cada etapa de DIAGNOSTICOS NA CONSTRUCAO CIVIL (MANIFESTACOES PATOLOGICAS) + 285 execugdo do sistema de revestimento. £ impor- tante constar no plano de controle tecnolégico os tipos a serem realizados na fase de constru- 40; na fase de reabilitacio, o profissional deve avaliar os sintomas para definir, com base nas normas vigentes, quais metodologias ¢ ensalos solicitar de forma a qualificar e quantificar a extensio dos problemas patol6gicos a diagnos- ticar, para poder prescrever a(s) solucao(oes) com conhecimento de causa e com justificativa correspondente. No caso de edificagdes conclufdas € neces sirio que haja uma maior investigagao, com 0 objetivo de encontrar a causa e a origem de de- terminaca anomalia dentro de um sistema de re- vestimento composto por diversas camadas de materials. 5.8.3 Revestimento de argamassa Cobrimento de uma superficie com uma ou mais camadas superpostas de argamas- sa, apto a receber acabamento decorative ou constitulr-se em acabamento final, de- corativo, ou nao, (ABNT, 2013b) O revestimento de argamassa é aplicado so- brea base de alvenaria ou de concreto, podenco ser constitufdo pelo conjunto “chapisco +emboco + reboco’, ou a aplicagdo de camada tinica, deno- minada de“embogo paulista’, sobre o chapisco; a argamassa regulariza a superficie dos elementos de vedagao, tornando-a adequadamente prepara- da para receber 0 revestimento posterior. Como acabamento final podemos considerara aplicago de texturas, pinturas ou revestimentos ceramicos dentre os mais utilizados. Suas principais fungdes so: garantir a pla- neza da superficie para receber a camada de acabamento; absorver as tensdes entre a base € 286 + MANUAL DE ENGENHARIA DIAGNOSTICA os revestimentos aderidos (io caso das placas ceramicas); contribuir com a estanqueidade; ¢ compor o sistema que cumpre os requisitos dos confortos térmico e actistico em consonancia com a Norma de Desempenho Norma Técnica ABNT 15575 (ABNT, 2013a). Para garantir um bom desempenho do sis- tema, é necessirio que este cumpra os requisi- tos de aderéncia, dentre os principais atributos, além de ter a capacidade de absorver deforma- Ges originadas pela estrutura ¢ variagdes tér- micas. £ importante atentar-se as espessuras ad- missiveis dos revestimentos internos e externos, conforme as determinagdes da Norma ABNT NBR 13749 (ABNT, 2013¢). ‘A Norma ABNT NBR 13755 (ABNT, 2017) estabelece a Espessura Limite Inferior (ELI) da camada de argamassa como sendo de 20 mm e a Espessura Limite Superior (ELS) sendo de 50 mm; para os casos que superarem a ELS, com limite de 80 mm, indica-se a aplicagao de telas metilicas especificas para este fim, que também podem ser utilizadas para reforgo do emboso nos cantos das Janelas e na interface entre 0 con- creto ea alvenaria, a serem previstas do projeto, a critério do projetista, analisando inclusive os efeitos decorrentes da esbeltez da edificagoes. Durante o processo construtivo, 0 processo de controle de qualidade construtiva é apresenta- do pela Norma ABNT NBR 13749 (ABNT, 2013c): Condigdes de aphcasto do ‘evetimento Condigtes da base Condigdesclimaticas durant apicacio “Espessura do revest Tipo de acabameato t Figura 168 - Fluxograma sobre controle da qualidade do revestimento aplicado, Fonte:(ABNT, 2013). As texturas, acrflicas e cimenticias, cum- prindo a fungao decorativa e protetiva, reduzem principalmente a permeabilidade do. sistema de revestimento; podem ser aplicadas sobre 0 substrato de argamassa pelos métodos projeta do, desempenado ou rolado, apés a aplicagao de uma camada de fundo selador, compondo o sis- tema de revestimento muito difundido no Brasil, ressalvando-se a necessidade de observar, rigo- rosamente, as prescriges dos fabricantes e que a mao de obra tenha treinamento continuado trabalhe sob fiscalizagao. Antes da aplicagao do revestimento textu- rizado, se faz necessério a avaliacao e aceitacao do substrato em argamassa dentro dos parame- tros estabelecidos na Norma ABNT NBR 13749 (ABNT, 20130), Com 0 objetivo de contribuir para o desem- penho adequado do sistema de revestimento nas fachadas, é necessario ater-se protegio das superficies horizontais por serem os locais mais suscetiveis a problemas patolégicos oriundos da movimentagao térmica e da infiltragao por percolagao; indica-se impermeabilizar o local e adotar a instalago de peitoris (respeitando-se © caimento), pingadeiras (observando-se a de- sobstrugao dos sulcos) e rufos, constitufdos ge- ralmente de materiais metdlicos, pétreos ou de elementos pré-moldados em concreto. 5.8.3.1 Problemas Patolégicos A auséncia ou 0 erro de projeto, bem como as falhas de execugao e de materiais, além da au- séncia de manutengo adequada, formam 0 con- junto de potenciais causas para os problemas patoldgicos, sabendo-se também da existéncia de falhas no processo de controle da qualidade, acompanhamento e inspecdo durante o proces- so construtivo (Fiscalizagao). Em um processo de manifestagao patologica em revestimento de argamassa, 0 problema pode DIAGNGSTICOS NA CONSTRUCAO CIVIL (MANIFESTACOES PATOLOGICAS) * 287 estar diretamente ligado ao produto em si, como no caso de fissuras mapeadas, que podem for- mar-se “por retragao da argamassa, por excesso de finos no traco, quer sejam de aglomerantes, quer sejam de finos no agregado, ou por exces- so de desempenamento” (ABNT, 2013c). Em ou- tros casos, a argamassa sofre a consequéncia de problemas da base e demonstra o sintoma, como ocorre na matoria das fissuras geométricas; a titulo de exemplo, podem ocorrer em fungao de um recalque diferencial ou da movimentagao em uma estrutura em balango, na interface entre estrutura ¢ alvenaria com deficiéncia de ligacdo (falha na posicionamento ou falta de tela), trans- ferindo para a argamassa de revestimento 0 sin- toma aparente: neste caso, através da incidéncia de trincas e fissuras. © surgimento das fissuras nas argamas- sas de revestimento, segundo SAHADE (2005), “iro depender, sobretudo, do seu médulo de deformagao e da sua capacidade para absorver as deformagdes impostas pelo substrato’, sendo possivel classificar as fissuras como ativas ou passivas ¢ sazonais ou progressivas. Os corretos diagnéstico e classificagao das fissuras e trincas, através das medigdes com fis- surémetro e monitoramento quanto a sua ativi- dade, que pode incluir a necessidade do apro- fundamento das investigagées, ira proporcionar aexata definicao do diagnéstico e determinagao da(s) causa(s) concorrente(s), que resultard na eficaz especificagao quanto ao tratamento a ser adotado, sendo necessrio verificar primeira- mente se estas manifestagdes nao sao sintomas de um problema maior, como por exemplo um problema estrutural. Uma grave consequéncia causada pela in~ cidéncia de fissuras e trincas nos revestimentos das fachadas mas também dos pisos, € 0 favore- clmento da entrada de gua, dando inicio a uma série de potenciais problemas patolégicos, como por exemplo a eflorescéncia; por uma falha na 288 + MANUAL DE ENGENHARIA DIAGNOSTICA estanqueldade, a agua, encontrando uma fonte de sais soltiveis, causa geralmente a dissolugio do hidréxido de calcio (Ca(OH2)) ¢, 20 cristalizar na superficie, se manifesta através de manchas, em sua maioria, esbranquigadas (SENA; NASCI- MENTO; NETO, 2020). 0 descolamento, causado por falhia na ade- réncia entre o sistema de revestimento ea base ow entre suas camadas, é evidenciado no teste percussivo através da identificagao das areas re- vestidas com 0 registro do som cavo (0co); ele ocasiona uma sucessdo de problemas patoldgi- cos, sendo o mais perigoso, quando associado as fachadas, 0 desplacamento e a sua consequente queda, podendo provocar prejufzos patrimo- niais, além do risco potencial a vidas humanas (sattde e seguranga dos usuarios). Grande parte dos problemas patolégicos em revestimentos argamassados estdo associados & utilizago de espessuras maiores do queas espe- ciflcadas pelas Normas ABNT, desprovidas de te- las de reforgo. A fim de compensar falhas, como varlagdes de medidas, nivel, alinhamento e loca- ¢40 durante a construgao, cria-se revestimentos com grandes espessuras; 6 0 caso da correcao do prumo nas fachadas. Tais problemas podem ser associados & deficiéncia de planejamento aliada A auséncia de projeto, Um ponto importante a ser analisado, tanto durante a fase de projeto ¢ execugo, quanto na fase de diagnéstico durante o uso da edificarao, €a correta implantacdo das juntas de trabalho, “cuja fungao € subdividir 0 revestimento para aliviar tensdes provocadas pela movimentagao da base ou do préprio revestimento” (BAIA; SABBATINI, 2017). Em razo das juntas de tra- balho atuarem como um indutor de fissuras, recomenda-se a realizasao de uma impermeabi- lizagao flexivel em toda sua extensdo. Seguem classificagdes dos principals fend- ‘menos patol6gicos relacionados com, respectiva- ‘mente, revestimentos de argamassa e pinturas: Tabela 51 - Classificarao de fenémenos patolégicos em argamassas e revestimentos. Fenémeno patolégico Principals causas Principals sintomas Podem se formar por etracdo da argamassa, por excesso de Fissuras em forma de mapa; casco Fissuras mapeadas finos no trago, quer seja de aglomarantes, quer seja de finos de tartaruga, fissuras aleatérias, ‘no agregado, au por excasso de desempenamento “pele de crocodilo" ‘Movimentagées estrutursis, recalques, corrosdo de armaduras nas estruturas,auséncia de reforcos no Fissuras revestimento, auséncia ou falha nas juntas de movimentacdo, seométricas dilatagao térmica, espessuras inadequadas, interacdo entre cestruturaealvenaria,auséneia de vergas e contravergas, fala na ligagao da alvenaria como pilar Fissuras geométricas, formando linhas horizontais, verticals ¢ inclinadas Falha na estanqueidade, presenca de agua no revestimento; revestimonto com presenga do sais soldves,resultando principalmente na dissolucdo do hide6xido de calcio (catoH2)) Manchas, na maior das vezes, cesbranquicadas na superlicie do revastimento Eflorescéncia ‘As vesiculas podem ser causadas por: ~ Hidratacao retardada do dxido de célcio nao hidratado, presentena cal hidratada (o interior beat lis Empolas no acabamente final, coma Vesicules parte interna podendo se apresentar = Presenca de concrecdes ferruginosas na areia (interior da pcan eaanahy bance, preta ou vermelha ~ Materia organica ou pita na areia (0 interior da vesicula é prelo) Expansio, fissuracao @ Expansto Presenca de gesso na argamassa, formando a etringita

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