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Os Oráculos Caldeus

Sandro Rinaldi Feliciano


Bacharel em Ciências e Humanidades - UFABC
Licenciando em Filosofia - UFABC
Resumo

Os Oráculos Caldeus podem ser considerados, um dos mais antigos textos


estudados da Antiguidade Tardia. Sua composição, ou coleção, é datada do século
II D.C. e é a base do que chamamos de Teurgia, palavra que deriva do Grego
theourgia (θεουργία) e significa “Trabalho Divino”1. A teurgia é mais relacionada a
dois filósofos, Juliano, o Caldeu, e seu filho Juliano, o Teurgo. São considerados
influencias, para Plotino, e para Porfírio, filósofos daquele período.2 Os oráculos
também podem ser chamados de “A bíblia dos neoplatonistas”, devido ao trabalho
de Jâmblico como seu comentador3, e posteriormente ao trabalho de Proclo, como
comentador de Jâmblico.

Abstract

Chaldean Oracle can be the oldest scripts from Late Antiquity. You composition,
or collection, send us to the II century AD, and is the basis for Theurgy, that’s come
from the greek word theourgia (θεουργία) that means “Divine Labor” Theurgy is
related to Julian, the Chaldean and his son, Julian, the Theurgist. Both influenced
Plotinus and Porphyry. The Chaldean Oracle can be named “The Neoplatonistis
Bible” after Iamblichus notes about the Oracle, and after Proclus notes after
Ianblichus

1
FELICIANO, J. P. Theurgy in Antiquity. Journal of the Western Mystery Tradition, 2013.
2
ULLMANN, R. A. Plotino, Um Estudo das Enéadas pág. 234
3
KUTASH, E. Tem Gifts of the Demiurge - Proclus on Plato's Timaeus Pag. 22
1. O que são afinal os Oráculos Caldeus?

Os oráculos foram traduzidos para o Inglês e publicados por Thomas Taylor, no


periódico “The Classic Journal” em 18174.
Alguns autores consideram os Oráculos, uma resposta ao crescente
cristianismo no século II D.C.,
Os oráculos caldeus são uma coletânea de sentenças
religiosas em versos, baseadas em pseudorrevelações divinas,
composta por um tal Juliano, o caldeu, e pelo filho Juliano II, no
tempo de Marco Aurélio (121-180). Esses oráculos nada mais eram
do que uma alternativa pagã para o paganismo, ou seja, uma religião
5
oposta à religião Cristã.

No entanto, os Oráculos são anteriores ao século II D.C., mas podem sim ter
esse viés anticristão, no começo da era cristã.
Tudo o que chegou até nós, ao que parece, foram fragmentos destes oráculos,
na verdade é bem possível que a maior parte que tenha chegado até nós, foram os
fragmentos dos comentários de autores dos primeiros séculos do cristianismo sobre
o mesmo.
Independente da exatidão a quem são atribuídos os Oráculos caldeus, são
uma coleção de textos, de sentido místico e religioso, que foram sendo adicionados
a uma coleção. Existe uma possibilidade do persa Zoroastro (ou Zaratustra),
considerado o fundador da primeira religião monoteísta ética da história, ter escrito
algumas partes, e assim este oráculo possuiria em alguns pontos uma versão
Masdeísta6, e também não é possível deixar de citar uma possível convergência
com o culto a Mithraismo7, como sugere alguns afrescos, segundo Edmonds8 Isso

4
Disponível digitalmente como coletânea,
https://play.google.com/books/reader?id=Voo_AAAAYAAJ&printsec=frontcover&output=reader&hl=pt
_BR&pg=GBS.PA335
5
ULLMANN, R. A. Plotino, Um Estudo das Enéadas pág. 234
6
Masdeísmo ou Zoroatrismo, Religião da antiga Pérsia, atual Irã, onde existia uma dualidade
entre o Bem e o Mal, personificados pelos deuses Ahura-Mazda, como deus do bem, e Arimã, como
seu nemesis. Seus princípios foram compilados em um escrito de nome Avesta
http://www.historiadomundo.com.br/persa/masdeismo-a-antiga-religiao-dos-persas.htm
7
Mithraismo é o culto a um deus Hindu-Iraniano, Mithra. Este é considerado um deus Solar e
corresponde ao védico Mitra. Aparentemente seu dia é comemorado no dia 25 de dezembro, devido
ser perto ao solstício de inverno, e deve ter influenciado o cristianismo. Também pode-se dizer que
com Anahita e Ahura Mazda, forma uma trindade. http://www.sapere.it/enciclopedia/Mithra.html
transforma os Oráculos em algo similar à bíblia cristã, que são diferentes livros, de
diversos autores, de diversos períodos da História, reunidos, podemos dizer de
maneira geral, em um único volume. Por outro lado, existe também uma dificuldade
prática em postular corretamente quais são os fragmentos comentados pelos
filósofos da Antiguidade Tardia, e não pelos adicionados recentemente embora
algumas fontes possuam a referencia de onde foi tirado.
Quanto a seus seguidores, Voltaire cita Ciro como um de seus representantes.

Deus não favorece menos Kir, Koresch, ou Kosroès, que nós


chamamos de Ciro; chama-o seu cristo, seu ungido, embora ele não
fosse ungido, segundo a significação comum desta palavra, e
9
seguisse a religião de Zoroastro (...) .

A bíblia confirma. Dizendo que Ciro é o Guerreiro escolhido, o Ungido de


Deus.10

2. Divisão das partes dos Oráculos

Diversas fontes identificam os oráculos caldeus como os Oráculos de


Zoroastro, provavelmente para que tenha um acento mais voltado para o misticismo.
Isto não muda a origem de cada fragmento, pois as melhores costumam dizer a que
fonte pertence ou seja, tem o cuidado de indicar de onde foi extraído o fragmento,
identificando comentador, obra, página como por exemplo, “Proclo em Teologia
Platônica, 321”, ou “Eusébio, em Preparação Evangélica Livro 1, Capitulo X”. Outra
coisa que as melhores coleções possuem, é dizer a quem pertence cada estrofe,
indicando Zoroastro (Z), Teurgos (T), (Z) ou (T), quando não está bem definido, e
nenhum, se existem duvidas, ou os mesmos foram adicionados posteriormente
pelos colecionadores, suspeitando que pudesse ser de algum dos anteriores.

8
EDMONDS, R. Did the Mithraists Inhale? A Technique for Theurgic Ascent in the Mithras
Liturgy, the Chaldaean Oracles, and some Mithraic Frescoes
9
VOLTAIRE. Tratado sobre a tolerância pág. 75 e 76
10
Bíblia Sagrada: Isaías: 44 e 45 pag. 944 a 947
A versão mais completa que pode ser encontrada digitalmente, possui 199
fragmentos11 , no entanto existem versões mais resumidas, ou que possuem apenas
parte dos fragmentos com comentários12.
Os oráculos podem ser divididos assim:
Da Causa: Deus, Pai, Mente, Monada do Fogo, Díade Tríade – fragmentos 1 a
38;
Das Ideias: Inteligíveis, Intelectuais, Iynges13, Synoches14, Teletarchae15,
Fontes, Princípios, Hécate, e Demonios. – fragmentos 39 a 77;
Das Almas Particulares: Almas, Vida, Homem – fragmentos 78 a 98;
Da Matéria: Matéria, o Mundo, e Natureza – fragmentos 99 a 143;
Dos Preceitos Mágicos e Filosóficos – fragmentos 144 a 199

3. Oráculos: Quais as fontes primárias?

Diversos autores, e diversas obras destes autores, foram referenciados por


Taylor, em sua tradução.
Proclo aparece com: Teologia de Orfeu, Teologia de Platão, Comentários ao
Timeu, Comentários aos Elementos de Euclides, Comentário ao Parmênides,
Comentário ao Crátilo e Comentário ao Alcebíades.
Michael Psellus é citado, mas não foi possível entender sua obra que está
escrito simplesmente Plet..
Eusébio de Cesaréia é citado com sua obra Preparação Evangélica.
Damáscio, com Dificuldades e Soluções dos Primeiros Princípios, Comentário
sobre Parmênides e A Vida de Isidoro.
Simplício da Cilícia, com Comentários à Física de Aristóteles.
Olimpiodoro, o Jovem é citado, com seu Comentário ao Fedon,

11
PHILALETHEIANS. The Chaldean Oracles of Zoroaster
12
THE HERMETIC LIBRARY. The Chaldæan Oracles Attributed to Zoroaster
13
Iynx, Synoches e Teletarches dos Caldeus, compõe uma ordem divina, que é chamada pelos
Platonistas O Inteligível, e ao mesmo tempo, Ordem Intelectual, e é celebrado por Platão em sua obra
Fedro, sob os nomes de Lugar Supercelestial, Céu, e Arco Subcelestial
“The Iynx, Synoches and Teletarche of Chaldeans compose that divine order which is called, by
the Platonists, the Intelligible, and, at same time, intellectual order; and is celebrated by Plato in
Phaedrus, under the names of the Supercelestial Place, Heaven, and the Subcelestial Arch
VALPI, A. J. (Ed.). The Classical Journal for September and December 1817. Pág. 335
14
Ibidem Pág. 335
15
Ibidem Pag. 335
Marcilio Ficino aparece com Da Imortalidade da Alma.
Sinésio é citado com sua obra Sobre Insônia, De insomniis
Por fim, também é citado Juliano, Imperador, com sua Oração Uma Defesa do
Helenismo e das Tradições Romanas.

4. Conclusão

Este trabalho não teve o intuito de analisar os fragmentos, em si, mas sim
procurar sua origem ou redescoberta durante os primeiros anos da Era Cristã e
novamente no Século XIX.
Podemos ver dois grandes trabalhos bibliográficos O primeiro dos “Julianos”,
no século II, o Segundo do Sr. Taylor, no inicio do século XIX.
Os oráculos foram reunidos para seguir uma ordem lógica, para fazer sentido
àqueles que quiserem utiliza-lo. É interessante notar que a palavra Oráculo tem um
sentido de adivinhação, de premonição, de magia, mas este parece não ter sido
arranjado desta forma. Os fragmentos tem sentido se forem lidos, da mesma forma
que os Elementos de Teologia de Proclo tem sentido, embora não seja necessário
ler o mesmo em ordem de página. Comparando com outro oráculo publicado, o I
Ching, por exemplo, é possível perceber que a leitura dos hexagramas em ordem
crescente, ou em qualquer ordem que for não tem um sentido, quer dizer, não é
possível ler o I Ching como um romance.
Dois autores foram mais citados por Taylor: Proclo e Psellus; então, é possível
imaginar que o oráculo que chega até nós possa ser na verdade duas obras
distintas, embora talvez, da mesma religião.

5. Bibliografia
CONFERENCIA NCIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Biblia Sagrada. 10ª.
ed. São Paulo: Canção Nova, 2010.
DE AGOSTINI EDITORA. Mithra. SAPERE.IT. Disponivel em:
<http://www.sapere.it/enciclopedia/Mithra.html>. Acesso em: 21 nov. 2015.
DE AGOSTINI EDITORA. mithraismo o mitraismo. SAPERE.IT. Disponivel em:
<http://www.sapere.it/enciclopedia/mithraismo+o+mitraismo.html>. Acesso em: 21
nov. 2015.
EDMONDS, R. Did the Mithraists Inhale? A Technique for Theurgic Ascent in
the Mithras Liturgy, the Chaldaean Oracles, and some Mithraic Frescoes. Bryn Mawr
College, 2001. Disponivel em:
<http://www.brynmawr.edu/classics/redmonds/inhale.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2015.
FELICIANO, J. P. Theurgy in Antiquity. Journal of the Western Mystery
Tradition, 2013. Disponivel em: <http://www.jwmt.org/v3n24/feliciano.html>. Acesso
em: 20 nov. 2015.
HELMIG, C.; STEEL, C. Proclus. The Stanford Encyclopedia of Philosophy,
2015. Disponivel em: <http://plato.stanford.edu/archives/sum2015/entries/proclus/>.
Acesso em: 22 nov. 2015.
KUTASH, E. Ten Gifts of the Demiurge - Proclus on Plato's Timaeus. 1ª. ed.
Londres: Bloomsbury, 2011.
PHILALETHEIANS. The Chaldean Oracles of Zoroaster. PHILALETHEIANS,
2015. Disponivel em: <http://www.philaletheians.co.uk/study-notes/theosophy-and-
theosophists/the-chaldean-oracles-of-zoroaster.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2015.
PINTO, T. Masdeismo, a antiga religião dos persas. História do Mundo, 2015.
Disponivel em: <http://www.historiadomundo.com.br/persa/masdeismo-a-antiga-
religiao-dos-persas.htm>. Acesso em: 21 nov. 2015.
PROCLO. Elementos de Teologia. 2ª. ed. Buenos Aires: Aguilar Argentina,
1975.
SOROR, I. D. D. The Chaldean Oracles Gnosis of Fire. The Hermetic Order of
the Golden Dawn. Disponivel em: <http://www.hermeticgoldendawn.org/sororidd-
chaldeanoracles.html>. Acesso em: 22 nov. 2015.
TAYLOR, T. The Classical Journal for September and December 1817.
Londres: [s.n.], v. XVI, 1817. Disponivel em:
<https://play.google.com/books/reader?id=Voo_AAAAYAAJ&printsec=frontcover&out
put=reader&hl=pt_BR&pg=GBS.PA335>.
THE HERMETIC LIBRARY. The Chaldæan Oracles Attributed to Zoroaster.
The Hermetic Library. Disponivel em: <http://hermetic.com/texts/chaldean.html>.
Acesso em: 21 nov. 2015.
ULLMANN, R. A. Plotino, Um Estudo das Enéadas. 2ª Edição. ed. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 2008.
VOLTAIRE. Tratado sobre a tolerância. São Paulo: Folha de São Paulo, v. 3,
Coleção Folha Grandes Nomes do Pensamento, 2015.
WILHELM, R. I Ching, O livro das mutações. 21ª. ed. São Paulo: Pensamento,
2003.

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