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PF RFDC 23-3
PF RFDC 23-3
23
JANEIRO/ABRIL - 2020 | PUBLICAÇÃO QUADRIMESTRAL
ISSN 2238-9695
Revista Fórum de
DIREITO CIVIL
RFDC
Coordenador
Marcos Ehrhardt Jr.
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Revista Fórum de
DIREITO CIVIL
RFDC
Revista Fórum de Direito Civil – RFDC
Coordenação (Editor)
Dr. Marcos Ehrhardt Jr., UFAL
Conselho Consultivo
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Dr. Gustavo Tepedino (UERJ)
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Msc. Marianna Chaves
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Editorial...................................................................................................................... 7
DOUTRINA E ATUALIDADES
DIÁLOGOS
VOZ UNIVERSITÁRIA
EXPERIÊNCIA ESTRANGEIRA
JURISPRUDÊNCIA
Superior Tribunal de Justiça
Recurso Especial – Ação de compensação de dano moral – Banco de dados –
Compartilhamento de informações pessoais – Dever de informação – Violação – Dano
moral in re ipsa. Recurso Especial nº 1.758.799............................................................. 207
TESES E DISSERTAÇÕES
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EDITORIAL
pacientes graves que, por estarem entubados e sedados, não apresentem condições
de adotar providências em relação ao atendimento de saúde e a demais atos da
vida civil. É ainda no campo da teoria geral e da presunção geral de capacidade,
a ser interpretada em conjunto com o disposto no art. 9º da Lei nº 10.741/03
(Estatuto do Idoso), que podemos extrair a diretriz para garantir à pessoa idosa a
proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que
permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade.
No campo das titularidades, as limitações impostas para o acesso aos bens de
uso comum do povo, como parques e praias, atrai atenção para o disposto no art.
103 do CC/02, que estabelece a prerrogativa da administração de regular a forma
de utilização desses bens, no interesse de toda a sociedade. Interessante e urgente
reflexão há de ser formulada em relação aos espaços comuns em condomínios
residenciais, a partir da constatação de que, nos termos do disposto no §3º do art.
1.331 do Código Civil vigente, a unidade autônoma é parte inseparável das áreas
comuns do prédio. Sendo, por conseguinte, o proprietário da unidade imobiliária,
também o é das áreas comuns na proporção prevista na instituição condominial.
Por essa razão, Rodrigo Toscano de Brito, em recente artigo, ao fazer referência
ao art. 1.335 do CC/02, coloca em discussão os limites e as possibilidades das
decisões de síndicos em todo o país sobre a utilização das áreas comuns, desde
questões atinentes ao uso de academia, piscinas e quadras, até problemas
relativos ao uso do elevador por condôminos que estão infectados pelo COVID-19
ou são profissionais da saúde e necessitam transitar pelas áreas comuns, até
para terem acesso às suas unidades privativas.1
Decisivo para o deslinde da questão é saber se decisões unilaterais do
síndico configuram (ou não) medidas urgentes no benefício da coletividade de
condôminos e se necessitam ser ratificadas ou, ainda, se podem ser alteradas
pela Assembleia. Em princípio, parece que o melhor encaminhamento é avaliar se a
adoção de tais medidas configura impedimento reflexo e abusivo ao uso das áreas
privativas, sendo necessário, em qualquer contexto, bom senso para se perceber
que existirão situações excepcionais que precisam ser avaliadas individualmente.2
Ainda no campo das titularidades, é possível constatar que as limitações de
acesso e funcionamento impostas a estabelecimentos privados (lojas, restaurantes,
1
Para aprofundamento, ver o artigo “Coronavírus: limitações ao uso de áreas comuns no âmbito do condomínio
edilício”, de autoria de Rodrigo Toscano de Brito. Disponível em: https://direitocivilbrasileiro.jusbrasil.com.
br/artigos/822552352/coronavirus-limitacoes-ao-uso-de-areas-comuns-no-ambito-do-condominio-edilicio.
Acesso em: 22 mar. 2020.
2
Imagine-se um advogado que necessita acessar seu escritório a fim de buscar documentos para a
propositura de uma ação urgente num edifício no qual existe condomínio empresarial, cuja proibição de
acesso (até mesmo para os condôminos) foi determinada pelo síndico, ao argumento de que necessita
assegurar o isolamento social. Ou ainda, médico ou serviço de ambulância que necessite utilizar área
comum para prestar atendimento a condômino infectado pelo COVID-19, que carece de pronto atendimento.
Pode-se ainda pensar na proibição de circulação de entregadores de serviços de delivery (para qualquer
condômino, mesmo para os idosos?) ou do uso do elevador por prestadores de serviços que pretendem
realizar conserto no receptor de TV por assinatura ou modem para conexão banda larga no apartamento
de um morador do prédio.
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EDITORIAL
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Sobre o tema, ver recente artigo de Anderson Schreiber, denominado “Devagar com o andor: coronavírus e
contratos: importância da boa-fé e do dever de renegociar antes de cogitar de qualquer medida terminativa
ou revisional”, publicado na coluna Migalhas Contratuais, sob a curadoria do Instituto Brasileiro de Direito
Contratual (IBDCont). Disponível em: https://m.migalhas.com.br/coluna/migalhas-contratuais/322357/
devagar-com-o-andor-coronavirus-e-contratos-importancia-da-boa-fe-e-do-dever-de-renegociar-antes-de-cogitar-
de-qualquer-medida-terminativa-ou-revisional. Acesso em: 23 mar. 2020.
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EDITORIAL
4
Para aprofundamento do tema, sugere-se a leitura do livro Responsabilidade Civil pelo inadimplemento
da boa-fé, editado pela Editora Fórum. Mais informações no seguinte endereço: http://loja.editoraforum.
com.br/responsabilidade-civil-pelo-inadimplemento-da-boa-fe-2a-edicao.
5
Para mais reflexões sobre o tema, ver artigo de Nelson Rosenvald, denominado “Os impactos do coronavírus
na responsabilidade contratual e aquiliana”, publicado em https://www.nelsonrosenvald.info/single-
post/2020/03/06/OS-IMPACTOS-DO-CORONAVIRUS-NA-RESPONSABILIDADE-CONTRATUAL-E-AQUILIANA.
Acesso em: 20 mar. 2020.
6
“Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade
resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção
de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.”
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7
Vide artigo “Covid-19 e os contratos de locação em shopping center”. Disponível em: https://www.
migalhas.com.br/depeso/322241/covid-19-e-os-contratos-de-locacao-em-shopping-center. Acesso em:
20 mar. 2020.
8
Sugestão de leitura sobre temas correlatos ao acima apresentado: “O coronavírus, a quebra antecipada
não culposa de contratos e a revisão contratual: o teste da vontade presumível”, artigo de autoria de
Carlos E. Elias de Oliveira. Disponível em: http://www.flaviotartuce.adv.br/assets/uploads/artigosc/360ec-
carloselias_coronavirusquebra.docx.
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EDITORIAL
9
Utilizando como exemplo os contratos de locação de shopping centers, Aline Miranda considera que a
pandemia do COVID-19 pode configurar impossibilidade superveniente e temporária do objeto contratual,
porque verificada após a celebração do contrato, sendo tal impossibilidade apenas parcial. Sua intensidade
depende do tipo de atividade exercida no imóvel, pois, “no caso dos cinemas e dos teatros, por exemplo,
a faculdade foi severamente reduzida, embora não de todo esgotada, já que o locatário ainda conserva
a posse do bem e nele mantém seus equipamentos”. Restaurantes e lanchonetes estão impedidos de
receber clientes em seus endereços, mas podem permanecer comercializando mediante serviços de
delivery (vide artigo “Covid-19 e os contratos de locação em shopping center”).
10
Ainda sobre o tema, Nelson Rosenvald afirma que “No tocante ao descumprimento por questões econômicas,
as cortes não associam a FM [força maior] ao fato de haver um encarecimento no custo do contrato,
sobretudo quando se verifique que outros fornecedores ainda viabilizam suas obrigações. Na maioria dos
casos, isso prejudicará a confiança em uma cláusula geral de FM, mas pode haver situações em que o
relevante não será apenas o vírus, mas a sua concreta eficácia no desempenho das partes contratantes,
sobremaneira quanto às consequências indiretas do evento (escassez de mão de obra, matérias-primas
ou um ato do governo como uma paralisação imposta pelo Estado). Ou seja, deve-se indagar em cada
caso se a base para o incumprimento se deve ao componente que ocorre naturalmente (o próprio vírus) ou
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EDITORIAL
que for compatível com o sistema do CDC. Essa solução encontra respaldo na
teoria do diálogo das fontes, ou na interpretação sistemática das referidas leis”.15
Por ser um campo de intensa regulação do Estado, diante da repercussão
social e da importância estratégica, vale citar a discussão sobre o alcance e
efeito da Medida Provisória nº 925/20, que dispõe sobre medidas emergenciais
para a aviação civil brasileira em razão da pandemia da COVID-19, que interfere
diretamente nos efeitos dos contratos de consumo de transporte aéreo.
O art. 3º da referida MP estabelece um prazo para reembolso do valor
relativo à compra de passagens aéreas (12 meses), caso o consumidor não aceite
créditos para utilização posterior, além de assegurar às fornecedoras do serviço
a possibilidade de aplicar as regras do serviço contratado, vale dizer, a imposição
de penalidades se a opção do consumidor for a do reembolso.16
Há quem sustente, como Carlos Elias de Oliveira, a “possível inconstitucio-
nalidade” da Medida Provisória,17 afirmando que a MP nº 925/20
15
Vide artigo denominado “Coronavírus e o CDC: o vírus que revela a vulnerabilidade da lei hospedeira”.
Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/coronavirus-e-o-cdc-o-virus-que-revela-a-
vulnerabilidade-da-lei-hospedeira-18032020. Acesso em: 20 mar. 2020.
16
“Art. 3º O prazo para o reembolso do valor relativo à compra de passagens aéreas será de doze meses,
observadas as regras do serviço contratado e mantida a assistência material, nos termos da regulamentação
vigente. §1º Os consumidores ficarão isentos das penalidades contratuais, por meio da aceitação de
crédito para utilização no prazo de doze meses, contado da data do voo contratado. §2º O disposto neste
artigo aplica-se aos contratos de transporte aéreo firmados até 31 de dezembro de 2020.”
17
Vide artigo de Carlos Eduardo Elias de Oliveira, denominado “A medida provisória 925/2020: aplicabilidade
apenas para contratos anteriores e sua possível inconstitucionalidade”. Disponível em: https://flaviotartuce.
jusbrasil.com.br/artigos/823511400/a-medida-provisoria-925-2020-aplicabilidade-apenas-para-contratos-
anteriores-e-sua-possivel-inconstitucionalidade. Acesso em: 22 mar. 2020.
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DOUTRINA E ATUALIDADES
O direito de laje é uma forma de
garantir o efetivo cumprimento do
direito à moradia com base na análise
da função social da cidade?
Resumo: O presente artigo explana de que forma o direito de laje, instituído pela Lei 13.465/2017,
sendo um dos instrumentos da regularização fundiária urbana, podendo ser vislumbrado nos famosos
“puxadinhos”, exemplificado por um tipo de construção corriqueira nas periferias dos núcleos urbanos
de baixa renda, pode ser uma nova forma de concretização do direito fundamental à moradia, previsto
na Constituição Federal de 1988. Assim, estabelecendo, em conexão, uma análise sobre a função
social da cidade, em relação ao exercício pleno da moradia, como forma de efetivação da dignidade
e da felicidade do ser humano, sendo isto, contextualizado pela teoria do geógrafo David Harvey, que
delimita o “direito à cidade”.
Palavras-chave: Função social da cidade. Direito à cidade. Direito de laje. Direito à moradia.
Concretização dos direitos fundamentais.
Sumário: 1 Introdução – 2 A função social da cidade – 3 O direito de laje como um direito autônomo
– 4 O direito de laje como um instrumento na regularização fundiária urbana como garantia do direito
à moradia – 5 O direito de laje como um direito real autônomo relacionado ao aspecto da moradia – 6
Conclusão – Referências.
1 Introdução
Quando a cidade é pensada na situação do Brasil, é fácil apontar as
divergências existentes nesse espaço urbano. Devido ao fenômeno da urbanização
ocorrido no Brasil, que aconteceu de forma extremamente acelerada na Era Vargas,
determinadas consequências foram geradas, como a diferença de desenvolvimento
dos centros urbanos em relação às zonas periféricas, sendo estas denominadas
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O direito de laje é uma forma de garantir o efetivo cumprimento do direito à moradia com base...
1
“Art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte,
o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição”.
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Rebecca de Moura Caldas, Adna Almeida de Albuquerque
É importante salientar que com base nos princípios da ordem jurídica, sendo
também os princípios constitucionais, estabelecendo como o seu principal a
dignidade da pessoa humana, prevista no art. 1º, III, da Lei Maior,2 o direito à
moradia é reafirmado como uma parte da concretização da dignidade humana, visto
que a efetivação desse princípio é com base em todos os direitos que possam
exprimir necessidades inerentes à vida, isto é, com base em garantias que possam
garantir ao ser humano que seja respeitado pela sua cidadania, sendo exercida pelo
seu direito de ter sua própria moradia na cidade em que vive, e não pelo simples
fato ter a sua existência humana perante as localidades urbanas.
Assim sendo, estamos afirmando que este direito está relacionado a inúmeros
outros, pois nenhum direito fundamental deve ser analisado em uma situação de
forma isolada, pois é preciso salientar que a forma sistêmica de análise de um
direito fundamental é que deve ser privilegiada, denota-se que esta concepção é
designada. De acordo com CAROLINO; JÚNIOR, (2014):
2
Art. 1º: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade
da pessoa humana.
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O direito de laje é uma forma de garantir o efetivo cumprimento do direito à moradia com base...
Assim posto, para Harvey (2014), a sociedade humana vivencia uma época
em que os direitos humanos entraram em plano de principal importância, tanto na
política quanto na ética, pois há uma dedicação muito importante na construção de
um mundo melhor em que se tenha cada vez mais o reconhecimento de direitos
humanos para a coletividade, e os que são existentes tenham uma maior eficácia
no plano coletivo e individual da sociedade.
O que Harvey (2014) explora é uma espécie de direito coletivo, que é o
direito à cidade, ressaltando o seu caráter principiológico, relacionado ao direito à
felicidade, sendo também denominado como uma concepção de que este mesmo
direito seria um direito humano no contexto atual de urbanização que vivemos na
modernidade.
Frisa-se, em relação ao contexto colocado por Harvey (2014), que o mesmo
remonta às ideias de Lefebvre (2008), que, em seu livro Direito à Cidade, reafirma
que este direito é o de viver uma vida urbana, sendo a cada tempo renovado, com
novos valores e com novas visões sobre o espaço urbano, sendo possível englobar
inúmeros outros direitos relacionados ao assunto, como o direito à saúde, moradia,
lazer, transporte e educação.
Sendo assim, o autor considera que o direito à cidade deve ser exercido como
uma nova forma de cidadania, visto que não pode ser exercida apenas pelo voto.
Deve ser exercida pelos cidadãos ao participar das decisões da cidade e também
ao ir atrás do que está acontecendo na cidade, visto que isso é uma forma de
conseguir exercer uma influência nas decisões que são tomadas no espaço urbano
pela (res) administração pública, como participantes da própria política urbana feita
pelo estado. Assim, o direito à cidade é equiparado a um direito humano universal
de cada ser humano, sendo de suma importância para entender como a cidade
cumpre uma função social na vida da coletividade.
Para entender como a cidade cumpre a sua função social, precisamos ressaltar
o que é a cidade em conexão com o que seria o direito à cidade, sendo conceitos
propriamente isolados. Dessa forma, é importante destacar o que é a cidade,
segundo as palavras do sociológico urbano Park (1967), citadas por Harvey (2014):
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ser considerado com uma abrangência bem maior do que um direito de acesso
individual ou grupal de recursos que a própria cidade incorpora, ou seja, este direito
é designado como um direito de reinventar a cidade, associado os desejos mais
profundos e subjetivos de cada habitante.
Além disso, esse é um direito mais coletivo que individual, visto que reinventar
a cidade depende inevitavelmente do exercício do poder coletivo sobre o processo de
urbanização. Isto é, está relacionado à liberdade de fazer e refazer a nós mesmos e
às nossas cidades, caracterizando-se como um dos direitos humanos mais valiosos
que o indivíduo e a coletividade detêm. Porém, é um dos mais menosprezados
perante o exercício das políticas públicas pelo estado administrativo.
Ademais, retomando o conceito de cidade de Robert Park, já exposto, o tipo
de cidade que deva cumprir a sua função social não está deslocado dos conceitos
referentes ao tipo de pessoas que queremos ser, que tipos de relações sociais
que buscamos ao longo de nossa existência na cidade, que tipo de relações com a
natureza satisfazem a vida como ser humano, qual é o nosso estilo de vida, quais
são os nossos valores estéticos e subjetivos que adotamos como forma de vida.
Ressalta-se, em relação a esses conceitos destacados, a relação intrínseca com
a realidade cotidiana de cada ser humano vivenciada na cidade.
A função social da cidade está extremamente ligada ao convívio da coletividade
em seus aspectos personalíssimos, como forma de ver a cidade como uma extensão
do direito à felicidade, concretizado, principalmente pelo direito à moradia, sendo
destacado como parte da função que a cidade exerce perante cada indivíduo.
Ademais, frisa-se o direito à cidade sendo mais um direito coletivo do que
individual, pois reinventar a cidade depende da soma de poderes individuais que
resultam em um poder coletivo sobre o processo de urbanização; ou seja, a liberdade
para refazer e fazer as nossas cidades é um dos nossos direitos humanos mais
preciosos, pois é parte da conduta cidadã de cada habitante para fiscalizar o poder
público diante dos seus afazeres na política pública urbana. Esse poder coletivo
também deve ser usado para participar de audiências públicas, no que compete
à mudança das leis municipais sobre o aspecto organizacional de cada cidade.
Todavia, é importante realizar um questionamento diante do exposto: O direito a
cidade está sendo exercido plenamente? Será possível dizer que a sociedade e
o estado realmente estão cumprindo a função social da cidade? Ou apenas está
se criando direitos sem aplicabilidade, sendo apenas uma utopia em uma norma
jurídica?
Como afirma Park (apud HARVEY, 2014), temos uma carência sobre a
consciência bem definida da nossa tarefa sobre refletir sobre para o que fomos
feitos e refeitos ao longo da história. Porém, ainda é questionável como a dramática
urbanização terá contribuído para o bem-estar humano, ou seja, é questionável se
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O direito de laje é uma forma de garantir o efetivo cumprimento do direito à moradia com base...
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Rebecca de Moura Caldas, Adna Almeida de Albuquerque
3
“Art. 1.510-A. O proprietário de uma construção-base poderá ceder a superfície superior ou inferior de
sua construção a fim de que o titular da laje mantenha unidade distinta daquela originalmente construída
sobre o solo”.
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O direito de laje é uma forma de garantir o efetivo cumprimento do direito à moradia com base...
4
“Art.1510, §1º: O direito real de laje contempla o espaço aéreo ou o subsolo de terrenos públicos ou
privados, tomados em projeção vertical, como unidade imobiliária autônoma, não contemplando as demais
áreas edificadas ou não pertencentes ao proprietário da construção-base”.
5
“Art.1510, §3º: Os titulares da laje, unidade imobiliária autônoma constituída em matrícula própria, poderão
dela usar, gozar e dispor”.
6
“Art.1510, §2º: O titular do direito real de laje responderá pelos encargos e tributos que incidirem sobre
a sua unidade”.
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Rebecca de Moura Caldas, Adna Almeida de Albuquerque
direitos de laje sucessivos são permitidas com a expressa autorização não apenas
do titular da propriedade-base, como também dos titulares do direito de laje, caso
houver, conforme o art. 1510-A, §6º, do Código Civil.7
Outro fator de interesse neste direito real é a constituição do mesmo, podendo
se dar por ato entre vivos através de contrato em que as partes têm a liberalidade
de contratar para dispor a respeito de uma série de preceitos sobre este direito,
por exemplo, renunciar ao direito de preferência; todavia, pode haver a estipulação
do direito de laje por disposição de última vontade por meio de testamento.
Desse modo, as despesas necessárias à conservação da propriedade que
constitui o direito de laje – como encargos e tributos incidentes sobre o benefício
comum ao titular da construção-base e ao titular da laje – serão distribuídas
de maneira igualitária. A forma de distribuição dessas despesas também pode
ser estabelecida por meio de contrato, tendo assim as partes liberalidade para
contratarem sobre esses fatores. A distribuição igualitária é a fim de evitar o
enriquecimento sem causa de uma das partes, pois existe um proveito comum por
ambas; logo, é preciso que se estabeleça um rateio, que é semelhante ao previsto
para o condomínio edilício. Todavia, o direito de laje não é a mesma coisa que o
condomínio, visto que a concessão do direito de laje não implica a atribuição de
fração ideal do terreno ao titular da laje ou a participação proporcional em áreas já
edificadas, o que é previsto no art. 1510-A, §4º8 e art. 1510-C, do Código Civil.9
A extinção do direito de laje, outro fator importante, é estabelecida quando
é extinta a ruína da construção-base, ou seja, se a mesma se extinguir, também
se extinguirá a laje construída sobre a construção-base. O conceito de ruína é
também um conceito jurídico e não apenas somente econômico, visto que é
necessário analisar se o aproveitamento econômico também se perdeu com a ruína
da construção-base. Todavia, existe uma exceção em que a extinção não ocorre
apenas quando no caso de ruína da construção-base, que é quando o direito real
de laje foi feito por subedificação, ou seja, se a construção se deu no subsolo, a
ruína da construção-base não irá afetar o direito real de laje. Para finalizar sobre
a extinção, a ruína gera extinção se no prazo de 5 (cinco) anos a construção-base
não for reconstruída.
7
“Art.1510, §6º: O titular da laje poderá ceder a superfície de sua construção para a instituição de um
sucessivo direito real de laje, desde que haja autorização expressa dos titulares da construção-base e
das demais lajes, respeitadas as posturas edilícias e urbanísticas vigentes”.
8
“Art.1510, §4º: A instituição do direito real de laje não implica a atribuição de fração ideal de terreno ao
titular da laje ou a participação proporcional em áreas já edificadas”.
9
“Art. 1.510-C. Sem prejuízo, no que couber, das normas aplicáveis aos condomínios edilícios, para fins
do direito real de laje, as despesas necessárias à conservação e fruição das partes que sirvam a todo
o edifício e ao pagamento de serviços de interesse comum serão partilhadas entre o proprietário da
construção-base e o titular da laje, na proporção que venha a ser estipulada em contrato”.
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O direito de laje é uma forma de garantir o efetivo cumprimento do direito à moradia com base...
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Rebecca de Moura Caldas, Adna Almeida de Albuquerque
É importante observar que, com essa lei, 6 (seis) conceitos importantes foram
trazidos, influenciando no processo de regularização urbana. O primeiro, designado
como núcleo urbano, é o assentamento humano com o uso e características urbanas,
constituído por unidades imobiliárias de área inferior à fração mínima de parcela,
previsto na Lei nº 5.868/1972. O segundo trata-se do núcleo urbano informal,
sendo aquele núcleo irregular, no qual não se possa realizar por qualquer modo
a titulação dos ocupantes, ainda que atendida a situação legislativa vigente. O
terceiro conceito diz respeito ao núcleo urbano informal consolidado, sendo aquele
de difícil reverso, considerado o tempo da ocupação, a natureza das edificações e
das localizações das vias de circulação e a presença de equipamentos públicos.
O quarto conceito designa a demarcação urbanística, sendo este o procedimento
destinado a identificar os imóveis públicos e privados abrangidos pelo núcleo urbano
informal. Em seguida, o quinto conceito é a certidão de regularização fundiária,
documento expedido ao final do procedimento da REURB, sendo instituído com a
legitimação de posse, que é o ato do poder público destinado a conferir o título
por meio do procedimento pelo qual o imóvel passa a ser objeto do REURB. Para
finalizar tem-se o sexto conceito, a legitimação fundiária, que é o mecanismo de
reconhecimento da aquisição originária do direito real de propriedade imobiliária
pelo ocupante, sendo esse aquele que mantém a fração ideal de terras públicas
ou privadas em núcleos urbanos informais.
Antes de se passar aos tipos principais de regularização urbana, destaca-se que
existem dois procedimentos a serem cumpridos para que seja aprovado o REURB
a nível municipal, quais sejam: a aprovação urbanística do projeto de regularização
fundiária e a aprovação ambiental, no caso em questão, o município deve ter um
órgão capacitado para tanto, conforme previsto no art. 12 da própria lei.10
Percebe-se que a Lei nº 13.465/2017, que institui o direito de laje, dispõe
forma ampla sobre a regularização fundiária rural e urbana. Nesse contexto, a
10
“Art. 12. A aprovação municipal da Reurb de que trata o art. 10 corresponde à aprovação urbanística do
projeto de regularização fundiária, bem como à aprovação ambiental, se o Município tiver órgão ambiental
capacitado”.
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O direito de laje é uma forma de garantir o efetivo cumprimento do direito à moradia com base...
11
“Art. 10. Constituem objetivos da Reurb, a serem observados pela União, Estados, Distrito Federal e
Municípios: III - ampliar o acesso à terra urbanizada pela população de baixa renda, de modo a priorizar
a permanência dos ocupantes nos próprios núcleos urbanos informais regularizados”.
12
“Art. 1.225. São direitos reais: XIII - a laje”.
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Rebecca de Moura Caldas, Adna Almeida de Albuquerque
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O direito de laje é uma forma de garantir o efetivo cumprimento do direito à moradia com base...
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Rebecca de Moura Caldas, Adna Almeida de Albuquerque
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“Art. 1.225. São direitos reais: XIII - a laje”.
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O direito de laje é uma forma de garantir o efetivo cumprimento do direito à moradia com base...
plena expansão quanto ao seu uso, que não é delimitado apenas às comunidades
originadas em favelas, que são as consideradas socialmente excluídas.
A criação legislativa desse novo direito real é uma forma de efetivar o direito
fundamental à moradia, visto que está relacionado ao aspecto da dignidade
humana de cada um, isto é, sem moradia, não há dignidade; logo, esse direito
deve ser, obrigatoriamente, titularizado por todos. Dessa forma, reconhecer um
padrão cultural que era vigente em núcleos urbanos informais é ressaltar o direito
a favor da sociedade, visto que a positivação do direito de laje concretiza um
aspecto cultural da população. Apesar de esse tipo de moradia ser informal, ele o
espelho da forma de moradia de uma população, que precisava ter o seu direito
fundamental reconhecido pela ciência do direito. Logo, a laje, apesar de uma
nova forma de aquisição da propriedade, também é uma forma de regularização
fundiária e urbana do solo, destacando o aspecto da influência da moradia na laje
como uma forma de efetivação do direito social à moradia, previsto na Constituição
e implicitamente interpretado na legislação civilista de 2002, através da função
social da propriedade.
6 Conclusão
Diante disso, podem-se extrair as seguintes conclusões:
Segundo Jose Afonso da Silva (2008, p. 96), a propriedade atenderá a sua
função social conforme o art. 5º, XXIII, da CF14 para a propriedade em geral. Tal
dispositivo por si só já seria necessário para que toda forma de propriedade fosse,
de fato, intrínseca, pelo princípio constitucional. No entanto, a Constituição Federal
de 1988, não se limitou e garantiu o direito de propriedade em geral, estabelecendo
outras formas ou modalidades de propriedade no corpo de seu texto e deixando
antever a importância com a qual distingue a matéria, à medida que dá tratamento
diferenciado a cada uma delas. Prova disso, é o art. 170, II e III,15 que institui a
propriedade privada e sua função social como princípios da ordem econômica, ou
seja, relativizando o significado.
A Constituição consagra a tese, que tem bases principalmente na doutrina
italiana, de uma noção pluralista do instituto, de forma que a propriedade não
constitui uma instituição única, mas várias instituições diferenciadas, em corres-
pondência com os diversos tipos de bens e seus titulares. Assim, o direito de
14
“Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXIII - a propriedade atenderá a sua função social”.
15
“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por
fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios: II - propriedade privada; III - função social da propriedade”.
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Rebecca de Moura Caldas, Adna Almeida de Albuquerque
propriedade, além de ser garantido de forma geral, como ocorre no art. 5º, ocorre
de forma específica nas referências a vários estatutos proprietários, como ocorre
com a propriedade urbana (art. 182, §2º16) e a propriedade rural (art. 5º, XXVI 17e
arts. 184,18 185,19 18620), de forma que se pode falar não em “propriedade”,
mas em “propriedades”. Não é difícil compreender tal situação se levarmos em
consideração que a propriedade deixou de ser uma instituição do Direito Civil, dado
que há muito se entende que seus efeitos extrapolam as relações meramente
intersubjetivas e que a determinação do conteúdo da propriedade dependerá de
centros de interesses extraproprietários, os quais vão ser regulados no âmbito da
relação jurídica de propriedade.
Desta forma, Harvey (2014) expõe que a função social da cidade está
extremamente ligada ao convívio da coletividade em seus aspectos personalíssimos,
ou seja, a forma de ver a cidade deve ser uma extensão do direito à felicidade, que
deve ser concretizado, principalmente, pelo direito à moradia, sendo destacado
como parte da função que a cidade exerce perante cada indivíduo.
Levando em conta que a cidade seria uma forma de extensão do direito à
felicidade e que se concretiza, juntamente, a partir do direito à moradia, pode-se
inferir que o indivíduo que esteja em uma situação informal, isto é, aquele cidadão
que está à margem da sociedade, estabelecendo a sua vivência em favelas, que
são espécies de moradias constituídas de condições precárias e sub-humanas, não
possuem de fato um acesso digno à moradia, logo, o acesso ao direito à felicidade.
Portanto, o direito de laje, instituído pela Lei nº 13.465/2017, vem para
formalizar essa condição de moradia, já que faz parte de um dos instrumentos
da regularização fundiária urbana. Esse direito, através de sua efetividade, está
16
“Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme
diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da
cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. §2º A propriedade urbana cumpre sua função social
quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor”.
17
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes: XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde
que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua
atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento”.
18
“Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural
que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida
agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do
segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei”.
19
“Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena e média
propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade
produtiva. Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas
para o cumprimento dos requisitos relativos à sua função social”.
20
“Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo
critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional
e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o
bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores”.
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O direito de laje é uma forma de garantir o efetivo cumprimento do direito à moradia com base...
Is the laje law a way to guarantee the effective compliance with the dwelling right based on the
analysis of the city’s social function?
Abstract: This article explains how the slab right, instituted by law 13.465/2017, is one of the
instruments of urban land regularization, and can be seen in the famous “pullers”, exemplified by a type
of construction in the outskirts of urban centers of low income, can be a new form of concretization of
the fundamental right to the dwelling, foreseen in the federal constitution. Establishing, in connection,
an analysis of the social function of the city, in relation to the full exercise of housing, as a form of
human dignity and happiness, being contextualized by the theory of the geographer David Harvey, which
delimits the “right to the city”.
Keywords: Social function of the city. Right to the city. Slab right. Right to housing. Implementation of
fundamental rights.
Referências
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a nova ordem mundial: uma nova visão para a vida humana. Nov. 2014. Disponível em: https://
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Rebecca de Moura Caldas, Adna Almeida de Albuquerque
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ordem-mundial-uma-nova-visao-para-a-vida-humana. Acesso em: 27 abr. 2019.
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A usucapião familiar e a questão da
rediscussão da culpa no ordenamento
jurídico brasileiro
Resumo: A usucapião familiar é um instituto novo no ordenamento jurídico brasileiro. Tendo sido
acrescentado em 2011, o instituto originalmente chamado de usucapião especial urbana por abandono
de lar, findou por resultar em inúmeras discussões doutrinárias acerca de sua legalidade, pois, segundo
alguns doutrinadores, traz de volta a análise da culpa, há tempos abolida do direito pátrio. Diante de
tal discussão, sérios problemas foram levantados pelos estudiosos do direito, de modo que gerou
inúmeras dúvidas sobre a aplicabilidade desse instituto. A presente pesquisa busca apontar quais são os
argumentos das referidas correntes, objetivando dirimir se, de fato, o instituto reacende ou não a análise
da culpa nas lides que envolvem o direito de família. Para a presente pesquisa, foi utilizado, quanto à
abordagem, o método dedutivo. Quanto aos métodos processuais, utilizou-se o método histórico, analítico
e interpretativo. No tocante ao tipo de pesquisa, a mesma se instrumentalizou de forma exploratória.
Quanto à técnica, a pesquisa se deu por revisão bibliográfica. Nesse sentido, valendo-se de todos os
argumentos históricos e técnicos, encontra-se que a usucapião familiar não volta a analisar a culpa.
Introdução
Com a criação da Lei Federal nº 12.416/11, que dispõe sobre o programa
Minha Casa, Minha Vida, foi introduzida no ordenamento jurídico brasileiro mais
uma modalidade de usucapião de propriedades imóveis. Trata-se da usucapião
familiar ou também conhecida como usucapião por abandono de lar, prevista no
artigo 1.240-A do Código Civil.
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A usucapião familiar e a questão da rediscussão da culpa no ordenamento jurídico brasileiro
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A usucapião familiar e a questão da rediscussão da culpa no ordenamento jurídico brasileiro
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A usucapião familiar e a questão da rediscussão da culpa no ordenamento jurídico brasileiro
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por um dos cônjuges, uma vez que a liberdade do divórcio deverá ser entendida
e aplicada.
A questão reside justamente no presente ponto. Ora, a usucapião familiar
traz como um de seus requisitos o abandono do lar por parte de um dos cônjuges
de imóvel que pertença a ambos, e a necessária permanência do outro sem a
oposição daquele que abandonou pelo período de dois anos.
Como no direito de família brasileiro não se cabe mais a discussão da culpa, e
a liberdade do divórcio bem como do casamento devem ser garantidas e oferecidas
pelo estado brasileiro, vários doutrinadores têm se posicionado contrários a tal
instituto sob o argumento de que a referida usucapião fere aquilo prescrito pela
Constituição Federal chegando a ser, portanto, inconstitucional. Outros, dizem
que a discussão deve permear a própria interpretação conforme a intenção do
legislador, e a análise sistemática do ordenamento jurídico, para que se interprete
de forma escorreita e não contraditória o referido instituto.
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Ainda no campo técnico, com base em tudo isso que fora levantado, essa
corrente tende a concluir que a nova modalidade de usucapião, além de trazer
uma acirrada discussão acerca do retorno da culpa como figura nas discussões
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Nessa toante, ainda dita Ricardo Henriques Pereira Amorim (2011, p. 4):
Como se percebe, tal tese traz a permanência de um dos cônjuges como sendo
o principal requisito que deva ser avaliado para se verificar a real concessão da
usucapião familiar. Aqui há, ainda, uma disparidade do conceito da medida mais
justa, com a medida cabível: embora em alguns casos seja mais justo observar as
questões de mera tolerância, por exemplo, estaria se adentrando necessariamente,
no campo da discussão da culpa, ou seja, estaria se avaliando a culpa daquele que
deixou o lar, devendo ser a permanência de um dos cônjuges, o fator chave – assim
se diga – para observar a configuração ou não da referida usucapião.
Outros pensadores, porém, além disto, levantam a tese de que a interpretação
deve ser feita com base na intenção do legislador. Tal entendimento encontra
aparato nos dizeres de Maria Conceição Amgarten (2016, p. 7):
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A usucapião familiar e a questão da rediscussão da culpa no ordenamento jurídico brasileiro
jurídica, não está a contribuir com o mundo do direito, de modo que a insegurança
jurídica já afeta por demais o Brasil.
3 Conclusão
A culpa fora um artifício apresentado pelo antigo sistema jurídico brasileiro
razão pela qual, com a mudança do conceito de família, não mais se encontrou
cabível por trazer uma série de discussões que invadem, inclusive, a intimidade
das partes litigantes.
Por sua vez, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 trouxe
a liberdade do divórcio com a ascensão da Emenda Constitucional nº 66/2010.
Portanto, qualquer meio que venha a mitigar essa liberdade, está indo de encontro
ao que dita a Carta Política em vigor.
Quanto à Usucapião Familiar, amplamente discutida, percebe-se que se trata de
um instituto completamente duvidoso, que difere, em vários aspectos, das demais
espécies de usucapião. Ora, o pouco decurso de tempo para a sua concessão,
bem como o termo abandono de lar, servem para demonstrar a particularidade do
referido instituto, além de servirem de sustentáculo para as discussões doutrinárias,
exaustivamente contempladas.
Quanto às correntes, afirmar a inconstitucionalidade ou defender a não
aplicação do instituto seria errôneo, uma vez que não se percebe, no texto do artigo
1240 – A do Código Civil, qualquer afronta Constituição Federal, até mesmo porque
o criticado termo “abandono de lar” não tem, por si só, o condão de reacender a
discussão da culpa, não sendo razoável alegar o retorno de tal instituto por uma
simples expressão.
De se observar, também, qual era o intuito da culpa, qual seja, zelar pela
indissolubilidade do matrimônio, estipulando uma série de reprimendas a quem
desse causa ao fim da relação. Na usucapião familiar o objeto não é o fim da
relação conjugal nem quem deu causa, mas sim a manutenção da família que
ficou desassistida. Enquanto na antiga culpa, se observa quem dá causa ao fim
da relação, na usucapião familiar se observa quem abandonou o lar sem qualquer
justificativa ou meio que pudesse servir para a subsistência da família.
Além do mais, relatar uma possível inconstitucionalidade com base somente
em uma espécie de reprimenda moral, não seria plausível, pois embora o tempo
requerido pelo instituto seja de simplesmente dois anos, o fato do curto período
de tempo não serve para demonstrar qualquer ilegalidade da lei e nem enseja na
análise da culpa em lides que envolvam a usucapião familiar.
Desta feita, diante da problemática apresentada, percebe-se que o instituto
não volta a analisar a culpa, sendo a corrente mais acertada a que defende
a aplicação do mesmo, e a devida interpretação deve perpassar pelo crivo da
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Rênio Líbero Leite Lima, Felipe Emanoel dos Anjos Gonçalves
Family usucapion and the issue of rediscussion of guilt in the Brazilian legal order
Abstract: Family adverse possession is a new institute in the Brazilian legal system. Having been
added in 2011, the institute originally called Special Urban Usucapion for Home Abandonment, ended
up resulting in countless doctrinal discussions about its legality, as according to some indoctrinators,
it brings back the analysis of guilt, long abolished from the law of the country. In the face of such a
discussion, serious problems were raised by law scholars, so that it generated numerous doubts about
the applicability of this institute. The present research seeks to point out what are the arguments of
the referred currents, aiming to determine if, in fact, the institute rekindles the analysis of guilt in
lawsuits involving family law or not. For the present research, the deductive method was used as to the
approach. As for the procedural methods, the historical, analytical and interpretative method was used.
Regarding the type of research, it was instrumentalized in an exploratory way. As for the technique,
the research took place through a bibliographic review. In this sense, making use of all the historical
and technical arguments, it is found that family adverse possession does not return to analyzing guilt.
Keywords: Family Usucapion. Abandonment of Home. Discussion of Guilt.
Referências
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20140910137562 - Segredo de Justiça 0013531-72.2014.8.07.0009. Relator: Nídia Corrêa
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DIÁLOGOS
Práticas abusivas e publicidades
enganosas na Black Friday no
contexto do direito do consumidor
brasileiro
Resumo: O presente artigo faz uma análise da Black Friday, a fim de esclarecer e identificar as práticas
abusivas e as publicidades enganosas, que, apesar de serem prejudiciais, são praticadas pelos
fornecedores para com os consumidores brasileiros nessa época do ano. Diante da importância do
tema, busca-se retratar algumas dessas condutas, com o objetivo de alertar e orientar quais atitudes
devem ser tomadas para que o consumidor possa evitar sofrer lesões ao seu direito consumerista com
descaracterização da Black Friday, que para alguns passou a ser conhecida como “black fraude”, por
descrever promoções um tanto quanto suspeitas, que infelizmente ainda são praticadas no brasileiro.
Para tanto, utiliza-se abordagem doutrinária e de artigos. Como resultados obtidos, destaca-se que,
embora ocorram atitudes ilícitas por parte do fornecedor, é notória a evolução da Black Friday, dos Órgãos
e dos Sistemas de Proteção e Defesa do Consumidor, responsáveis por fiscalizar e até aplicar sanções
de cunho administrativo, patrimonial e penal, visando a coibir que essas práticas sejam reiteradas.
Palavras-chave: Black Friday. Práticas Abusivas. Publicidades Enganosas. Black Fraude.
Sumário: 1 Introdução – 2 Práticas abusivas e publicidades enganosas comumente realizadas na Black
Friday – 3 Cuidados que os consumidores devem ter antes da aquisição de produto ou contratação de
serviço na Black Friday – 4 Proteção prevista pelo Código de Defesa do Consumidor – 5 Proteção pelo
Procon, pelas associações de defesa do consumidor e pelo Reclame AQUI – 5.1 Secretaria Nacional do
Consumidor; Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor; Sistema Nacional de Informações
de Defesa do Consumidor e Cadastro de Reclamações Fundamentadas – 5.2 Ministério Público –
5.3 Defensoria Pública – 5.4 Delegacia de Polícia do Consumidor – 5.5 Juizados Especiais Cíveis,
conhecidos também como Juizados de Pequenas Causas, órgãos dos tribunais de justiça estaduais
(ou do Distrito Federal) – 5.6 Reclame AQUI – 6 Conclusão – Referências.
1 Introdução
Com o advento do capitalismo, o mercado do consumo torna-se cada vez
maior, surgindo vários mecanismos para atrair o consumidor e aumentar a quan-
tidade de vendas. No Brasil, não foi diferente e, ano após ano, uma considerável
ferramenta promocional passou a ganhar relevância em nosso país, ferramenta
está conhecida como Black Friday ou, em português, “sexta-feira negra”, cuja
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uma queixa no Reclame AQUI, tinha a opção de marcar se aquele problema tinha
ou não relação com uma compra feita na Black Friday.
Além desse canal, existe a Fundação PROCON (Programa de Proteção e
Defesa do Consumidor), que similarmente verificou as irregularidades apresentadas
na BF, e as principais queixas foram sobre produtos ofertados não disponíveis,
mudanças de preço logo após a finalização da compra, pedidos cancelados após
o fim da venda, páginas bloqueadas devido ao congestionamento nos sites,
lentidão do servidor, desrespeito aos prazos de entrega dos produtos, preços
abusivos, sites de fachadas e maquiagem de descontos – inclusive essa foi a
reclamação mais feita no PROCON no ano de 2015, com cerca de 28,3% de
queixas, que oportunamente fizeram com que esse evento fosse caracterizado
como “black fraude”, muito conhecido como “metade do dobro”, pois o vendedor
anuncia 50% de desconto em um produto que já foi superfaturado 100% em época
anterior, motivando a realização das compras pelos mesmos preços e não com
descontos, aproveitando-se do momento de euforia da época para aplicar golpes
aos consumidores mais desavisados e desatentos.
Entre as técnicas publicitárias utilizadas neste período, temos a teaser, que
só é considerada enganosa se levar o consumidor a erro, criando uma expectativa
no mesmo com relação às ofertas que serão apresentadas no dia marcado para
o evento, sem trazer qualquer promoção efetiva.
De acordo, com o Reclame AQUI, o balanço final do monitoramento desde às
11h da quarta-feira, dia 21 de novembro até as 23h59 da sexta 23 de novembro,
se comparado com os mesmo períodos das outras edições, teve um aumento de
cerca de 20%, com 4.208 reclamações, contra 3,5 mil em 2017 e 2,9 mil em
2016, sendo os principais motivos de queixa: as propagandas enganosas 14,2%,
seguido de divergência de valores 7,6%, problemas na finalização da compra 7,6%,
atraso na entrega 3,9 % e estorno do valor pago 3% (RECLAME AQUI, 2019).
Com efeito, essas reclamações decorrentes da Black Friday não ficaram
restritas ao dia do evento promocional, mas também depois do dia oficial do evento,
como pôde ser observado pelo monitoramento do Reclame AQUI, que registrou,
de sábado dia 24 de novembro a domingo 25, 3.510 reclamações sobre BF – um
aumento de 22% com relação aos mesmos dias de 2017, quando foram feitas 2.874
queixas, perfazendo assim desde de às 11h do dia 21 de novembro até 12h do dia
26 de novembro, segunda-feira pós-evento, um total de 9.866 reclamações, sendo
os pontos mais reclamados os mesmos da data oficial, propagandas enganosas
12%, problemas na finalização da compra 8,9%, divergências de valores 6,7% e
atraso na entrega 3,6% (RECLAME AQUI, 2019).
Com relação ao ranking das empresas mais reclamadas das 11h do dia 21
de novembro de 2018 às 23:59h da data oficial do evento, constatou-se, pelo
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Porém, a camisa mais barata que havia custava R$ 29,99, numa nítida publicidade
enganosa, na qual se utiliza a técnica denominada “chamariz”, atraindo o consumidor
para dentro da loja, sem que tenha a oferta conforme anunciada. Em seguida,
numa outra bancada, observou-se também várias almofadas sendo anunciadas por
um cartaz promocional informando o preço a partir de R$ 19,99. Entretanto, todas
as almofadas estavam sem preço e, quando era consultado o código de barras,
o valor informado era de R$ 24,99. Apenas uma almofada, num universo de 60
almofadas, custava R$ 19,99, induzindo o consumidor ao erro, com propagandas
enganosas e abusivas, como cartazes com políticas de vedação indiscriminada de
trocas de roupas íntimas, tablets e celulares, ainda que os mesmos estivessem
com defeito (PROCON, 2018).
O Procon-RJ, através do monitoramento de preços, abriu uma autuação contra
a B2W por contratempos encontrados no site da Lojas Americanas, dentre eles,
dois produtos, um fogão e um aparelho de ar-condicionado, que estavam sendo
vendidos com preços aparentemente promocionais; no entanto, dias antes da
BF, eram ofertados por valores iguais ou até menores do que os anunciados na
“sexta-feira negra” (PROCON, 2018).
Esse monitoramento também observou que as Casas Bahia vendiam produtos
com prazos de entrega que superavam 90 dias sem qualquer justificativa para
demora. Razão que motivou a abertura de uma investigação preliminar contra a
empresa responsável pelo site.
Por fim, na loja Wöllner, havia cartazes promocionais de Black Friday informando
descontos de até 50%, mas a única blusa feminina que constava como se tivesse
o desconto de 50% tinha, na verdade, 41% de desconto (de R$ 109,00 por R$
64,00). E, mais uma vez, o consumidor estava sendo enganado, tal como aconteceu
na Ricardo Eletro do Via Parque, com cartazes informando descontos de até 80%,
que não existiam (PROCON, 2018).
Outra forma enganosa de publicidade utilizada na BF diz respeito ao anúncio
que traz ambiguidade. Nas palavras de Rizzatto Nunes1 (2012, p. 553) “se ao ler
o texto, assistir à imagem, ouvir a mensagem falada, restar possível mais de uma
interpretação e uma delas levar à enganosidade, o anúncio já será enganoso”.
Muitas empresas também acabam enviando produtos que divergem do
anunciado, em desrespeito à exigência de cumprimento da oferta conforme
anunciado, previsto pelo CDC nos arts. 30 e 312.
1
Segundo Rizzatto Nunes (2012, p. 551) “o ‘chamariz’ é, portanto, uma maneira enganosa de atrair o
consumidor, para que ele, uma vez estando no estabelecimento (ou telefonando), acabe comprando algo.
Muitas vezes, bem constrangido
2
Art. 30, CDC. “Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou
meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor
que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado”.
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Art. 31, CDC. “A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas,
claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade,
composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos
que apresentam à saúde e segurança dos consumidores”.
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que chegam por e-mail, pois criminosos se aproveitam dessa ferramenta confiável
de algumas lojas para aplicar golpes, e sempre procurar no site a identificação da
loja (razão social, CNPJ, endereço e canais de contato).
Em 2017, surgiram várias plataformas como sites e apps que permitem que
os consumidores consultem e acompanhem em tempo real os preços em diversas
lojas e a oscilação dos valores de vários produtos na “sexta-feira negra”. Entre eles,
podemos citar: Terra Shopping, Zoom, JáCotei.com.br, Buscapé Company, Busca
Descontos, Baixou Agora, Reclame AQUI, Bizoo e o Reduza (www.reduza.com.br).
Por último e não menos importante, a Serasa Experian, para auxiliar o
consumidor, liberou gratuitamente a consulta do CNPJ das empresas nos dias
22 (quinta-feira) e 23 de novembro de 2018, para que fosse possível acessar o
site da Serasa e consultar a razão social, ocorrência de protestos, cheques sem
fundo, ações judiciais, endereço, falências e a existência legal da empresa com
a qual pretende fechar negócio.
Além disso, o Procon-SP, com o objetivo de alertar as pessoas para não
caírem em golpes cada vez mais especializados, começou a divulgar uma lista
com os sites que deveriam ser evitados por consumidores na hora das compras
(PROCON, 2019).
Em 2018, essa lista foi atualizada no dia de 17 novembro, com um total de
419 endereços eletrônicos, virtuais, on-line e off-line, com um histórico negativo
no Procon, seguidos do nome de suas respectivas empresas responsáveis. Nessa
lista, elaborada de acordo com denúncias feitas pelos próprios consumidores, o que
mais chamou atenção foi o fato de todas as empresas citadas serem reincidentes
no ranking das reclamações e, embora notificadas sobre os problemas, não
ofereceram soluções aos casos ou não foram encontradas. Entre as principais
reclamações de consumidores, estão os fretes caros, atrasos nas entregas, e até
produtos danificados ou que divergem do anunciado.
Muitos desses sites foram retirados do ar, outros, no entanto, continuaram
on-line. Essa lista de sites reprovados pelo Procon já é feita desde 2011 e é
chamada de “Evite esses sites”, e levam em consideração os que, além de não
entregarem os produtos, também não possuem canal de contato com o consumidor,
nem por telefone, e-mail ou endereço.
A referida lista, além do endereço do site e a data de inclusão no mesmo, traz
também informações como CPF/CNPJ e o nome do responsável da loja citada, além
do status “No ar” e “Fora do ar”, mas é preciso ficar atento aos nomes da lista,
uma vez que as marcas nacionais conhecidas não estão presentes na listagem e
muitas empresas simulam nomes de grandes lojas, como é o caso das páginas
“gabimagazine.com.br”, “magazinefernando.com” e “magazinericardo.com.br”
supostamente referentes à Magazine Luiza.
Com isso, conclui-se que seja qual for o problema que o consumidor tenha
com as empresas, é essencial acionar a unidade do Procon mais próxima e também
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Amiga da Justiça, com o selo concedido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, o
maior TJ do Brasil (RECLAME AQUI, 2018).
Além disso, importa destacar as parcerias que o Reclame AQUI possui com
os Ministérios Públicos de Goiás, Bahia e Minas Gerais. “Para nós, isso significa
uma grande vitória. É o reconhecimento da importância de uma ferramenta criada
pela iniciativa privada, para defender os direitos do cidadão e do consumidor”,
afirmou Maurício Vargas, o então presidente do site (RECLAME AQUI, 2018).
6 Conclusão
Diante do exposto, o trabalho em tela também retratou os pontos negativos
da Black Friday, constatando por meio de sites de defesa do consumidor (entre
eles o Procon e o ReclameAqui.com), que houve um aumento nas reclamações
decorrentes de práticas abusivas (maquiagem de preços, propaganda enganosa,
fretes abusivos e mais demorados que o normal sem motivo justificável, etc.). Fato
que chamou a atenção é o de que muitos estabelecimentos que lideram de forma
negativa, com índices altíssimos de denúncias, já eram reincidentes.
Ressalte-se que o fornecedor se utiliza de diversas práticas abusivas e
publicidades enganosas na época da Black Friday brasileira, práticas que são
vedadas pelo Código de Defesa do Consumidor. Entre as mais comuns, destacamos
o emprego de informações distorcidas, de “chamariz”, e da utilização de falsos
descontos.
Diante disso, foram citadas diversas orientações para que o consumidor
possa evitar cair nessas fraudes, orientando-o que faça uma análise preventiva e
criteriosa, devendo analisar o site, o produto, o valor do frete e o tempo de entrega,
ficando atento aos detalhes, já que podem passar despercebidos devido à alta
expectativa do momento, fazendo com que uma compra que seria tão desejada
se torne uma frustração.
Por fim, para reverter a situação de fraude e falsos descontos, o presente
artigo destacou os meios existentes para coibir as práticas abusivas que podem
ocorrer nesse período, por meio de sites e órgãos públicos, entre eles: o Procon,
os Órgãos e Associações de Defesa do Consumidor, o site ReclameAqui.com, o
Ministério Público, a Defensoria Pública, a Delegacia de Polícia do Consumidor
e os Juizados Especiais Cíveis, bem como o CDC, que podem aplicar, inclusive,
medidas administrativas, cíveis e penais, como uma forma de garantir que a Black
Friday seja cada vez mais aceita pelo público, podendo ser mais real e confiável
para o consumidor, que aos poucos está se sentindo mais seguro e consciente
das compras e dos seus direitos consumeristas.
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Abusive practices and misleading advertising on Black Friday in the context of Brazilian consumer law
Abstract: This article analyzes Black Friday as a way to clarify and identify abusive practices and
misleading advertising, that despite being harmful, they are practiced by suppliers to Brazilian consumers
at this time of year. Given the importance of the theme, it seeks to portray some of these conducts,
with the objective of alerting and guiding what attitudes should be taken so that the consumer can avoid
suffering from injury to his consumer is entitled due the mischaracterization of Black Friday which for
some comes to be known as “black fraud” for describing promotions somewhat suspiciously, which
unfortunately are still part of Brazilian trade. Therefore, a doctrinal approach and articles approach is
used. As results obtained, it is noteworthy that although illicit attitudes occur on the part of the supplier,
is notorious the evolution of Black Friday, the Consumer Protection Organs and Systems, responsible
for supervising and even imposing administrative, patrimonial and criminal sanctions, in order to curb
that these practices are reiterated
Keywords: Black Friday. Abusive Practices. Misleading Advertising.
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VOZ UNIVERSITÁRIA
Mediação como método adequado
de resolução de disputas aplicado
à solução de conflitos familiares e
seus reflexos no âmbito do judiciário
brasileiro
Orientador: Leandro Rigueira Rennó Lima. Mediador, advogado, consultor, professor da PUC Minas,
coordenador dos cursos de pós-graduação lato sensu em Direito de Empresa e de Mediação de Conflitos
do IEC/PUC Minas, doutor pela Université de Versailles (França). E-mail: leandro.renno@pucminas.br.
Resumo: Trata-se de estudo referente à mediação, enquanto método adequado de resolução de
disputas, aplicado à solução de conflitos familiares e seus reflexos no âmbito do judiciário brasileiro. No
presente artigo, objetiva-se discutir por que a mediação seria o melhor método aplicável aos conflitos
de natureza familiar, expondo as peculiaridades desse tipo de conflito, bem como as características e
as vantagens da mediação. Tal empreendimento teorético-metodológico visa, ainda, a refletir acerca
da situação de sobrecarga do Poder Judiciário, em grande medida como decorrência da judicialização
dos conflitos familiares, e sobre os reflexos da aplicação da mediação aos referidos conflitos na esfera
judicial brasileira. Para tanto, propõe-se a revisitar a literatura jurídico-científica afeta às temáticas que
recortam o problema. Toma-se como ponto de partida o fato de que mediação, como política pública
disseminadora da cultura da pacificação no âmbito do judiciário, obteve avanços significativos em
território nacional, em virtude da Resolução nº 125 e das legislações, a saber, o Código de Processo
Civil e a Lei de Mediação, mas, ainda, está em evolução, sendo a mediação privada uma alternativa
para as famílias em situação de conflito. Assim, o estudo em tela tem o escopo de permitir a ampliação
do entendimento sobre o objeto.
Palavras-chave: Mediação. Resolução de disputas. Conflitos familiares. Poder Judiciário.
Sumário: Introdução – 1 Mediação: Aspectos gerais, técnicas e especificidades do método
que contribuem para a melhor solução dos conflitos familiares – 2 Conflitos familiares: natureza,
peculiaridades, posições interesses e necessidades – 3 Do judiciário brasileiro: legislação brasileira
de mediação e sua aplicabilidade – 4 Mediação como método adequado aplicado à resolução dos
conflitos familiares – 5 Conclusão – Referências.
Introdução
O presente trabalho consiste em um estudo que se debruça sobre a mediação,
método adequado de resolução de disputas, aplicado aos conflitos de natureza
familiar e os seus reflexos no âmbito do Poder Judiciário Brasileiro. A pesquisa é
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1
São métodos que compõem a Resolução Adequada de Disputas (RAD), a negociação, mediação, conciliação,
arbitragem, Práticas autocompositivas inominadas, além da Med‑Arb e outras hibridações de processos.
Mais informações sobre o tema vide: AZEVEDO, André Gomma de (Org.). Manual de Mediação Judicial. 6.
ed. Brasília, DF: CNJ, 2016. p. 17-26).
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escolhido pelas partes, que irá conduzir todo o procedimento de mediação, sem ter
relação direta com o conflito ou com os familiares em disputa, atuando de forma
neutra, imparcial e isenta, sendo um facilitador do diálogo das partes, abrindo os
canais de comunicação entre elas e auxiliando-as na compreensão recíproca e na
busca por soluções criativas e satisfatórias.
O Código de Ética de Mediadores do Conselho Nacional das Instituições de
Mediação e Arbitragem (CONIMA) define o mediador de conflitos da seguinte forma
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as outras posturas de cunho positivo que as partes optarem por adotar, visando
o sucesso da mediação.
O afago permite que qualquer atitude positiva, no sentido de colaborar com o
procedimento de mediação e buscar de soluções para os conflitos, que os familiares
litigantes tenham, seja validada e estimulada pelo mediador. No âmbito familiar, há
necessidade dos familiares em disputa terem este retorno afirmativo do mediador
para que eles percebam que estão seguindo em direção a resolução das suas
divergências e do fortalecimento dos seus vínculos familiares. A técnica ainda
evita que os familiares regridam na mediação, invocando mágoas e sentimentos
que obstem o diálogo saudável.
A sessão privada consiste em uma técnica em que apenas o mediador e uma
das partes do conflito permanecem na sala de mediação, na qual o mediador,
de modo imparcial, conversará com a parte, permitindo-a expressar emoções,
sentimentos, interesses, percepções, que não estaria à vontade para demonstrar
diante da parte contrária. É ideal que o mediador realize sessões privadas com
cada um dos conflitantes e com duração aproximada, quando necessário. A técnica
é importante para que o mediador conheça o interesse e as necessidades das
partes que podem ser ocultadas por elas ao longo do procedimento.
Por último, a técnica da inversão de papéis é comumente aplicada em
mediações familiares e prioritariamente durante as sessões privadas, nas quais
apenas uma das partes permanece na sala de mediação com o mediador. Nessa
ocasião, o mediador poderá, de forma neutra, provocar o familiar litigante a exercer
alteridade em relação a outra parte da disputa, o que significa que o profissional
convida o familiar a se colocar no lugar do outro e ver o conflito aos olhos dele,
com o escopo de se alcançar o entendimento.
Pelo exposto, as referidas técnicas são essenciais para que a mediação de
conflitos, em especial a mediação familiar, obtenha êxito. Todavia, cabe destacar
que o sucesso da mediação não está diretamente relacionado com a celebração de
um acordo entre os mediados, no sentido de que uma mediação será considerada
bem sucedida somente se houver acordo. Deve estar claro, ao se adotar o
procedimento de mediação, o entendimento de que o objetivo do método não é
necessariamente o acordo.
A mediação visa ampliar e melhorar os canais de comunicação entre as
partes, sendo o mediador um facilitador desse diálogo, para que as relações
anteriores ao conflito sejam preservadas e fortalecidas com o método, propiciando
melhor entendimento entre as partes e, por conseguinte, um acordo como meio
de formalizar a solução do conflito encontrada pelas próprias partes. Portanto,
fica nítido que o acordo não é objetivo da mediação e sim a sua consequência.
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Portanto, cabe inferir que o acordo entre as partes é algo desejável que
se realize na mediação, de modo a colocar fim ao conflito, o que não significa o
sucesso do procedimento, uma vez que uma mediação bem sucedida passa pela
satisfação das partes, com a melhora do seu diálogo e relacionamento. Restaurada
a comunicação, as partes conversam a fim de solucionar a disputa, mas pode
ocorrer de não haver aceitação ou mesmo viabilidade das soluções propostas e
discutidas por elas, o que faz o acordo não surgir, mas ainda sim a mediação
será bem sucedida.
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Mas o fato é que, seja por falha nesse sistema de triagem, seja pela busca
por maior agilidade na solução dos casos que batem às portas do judiciário, a
conciliação tem sido o método mais adotado, inclusive para casos em que o
procedimento adotado deveria ser a mediação, como é a situação dos conflitos
de família. O relatório A Justiça em Números de 2019 e produzido anualmente
pelo CNJ, comprova isso quando relata que,
(…) conciliação é uma política adotada pelo CNJ desde 2006, com
a implantação do Movimento pela Conciliação em agosto daquele
ano. Anualmente, o Conselho promove as Semanas Nacionais pela
Conciliação, quando os tribunais são incentivados a juntar as partes
e promover acordos nas fases pré-processual e processual. Por inter-
médio da Resolução CNJ 125/2010, foram criados os Centros Judi-
ciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSCs) e os Núcleos
Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (NU-
PEMEC), que visam fortalecer e estruturar unidades destinadas ao
atendimento dos casos de conciliação. (CNJ, 2019, p. 142)
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2
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Sérgio Prado de; TOSTA, Jorge; ALVES, José Carlos Ferreira. Estudos Avançados de Mediação e Arbitragem.
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3
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Janeiro: Nau, 2004.
4
FALECK, Diego; TARTUCE, Fernanda. Introdução histórica e modelos de mediação. In: TOLEDO, Armando
Sérgio Prado de; TOSTA, Jorge; ALVES, José Carlos Ferreira. Estudos Avançados de Mediação e Arbitragem.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.
5
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6
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Sérgio Prado de; TOSTA, Jorge; ALVES, José Carlos Ferreira. Estudos Avançados de Mediação e Arbitragem.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.
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5 Conclusão
Do estudo realizado, depreende-se que a mediação consiste no método
adequado de resolução de disputas melhor aplicável ao tratamento e solução dos
conflitos de natureza familiar, haja vista tratar todas as nuances da divergência
familiar, atuando na facilitação do diálogo entre as partes, reaproximando-as e
fortalecendo o vínculo entre elas, considerando os seus afetos, validando-os e
propiciando o acordo.
Verificou-se que, dada sua relevância, a mediação foi incorporada pelo Poder
Judiciário com o status de método parceiro e instrumento efetivo de pacificação
social, garantindo acesso à justiça e à ordem jurídica justa. Para tanto, foram criados
os Centros Judiciais de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSCs), os quais se
propõem a realizar audiências de mediação e conciliação, de acordo com o conflito,
mas que, na realidade, praticam conciliações de forma indistinta, inclusive em
casos de disputas familiares em que a mediação seria o método mais adequado.
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Mediation as an appropriate method of dispute resolution applied to the solution of family conflicts
and their reflections within the Brazilian judiciary
Abstract: This is a study on mediation, as an appropriate method of dispute resolution, applied to the
resolution of family conflicts and its consequences in the Brazilian judiciary. This paper aims to discuss
why mediation would be the best method applicable to family conflicts, exposing the peculiarities of
this type of conflict, as well as the characteristics and advantages of mediation. This theoretical and
methodological undertaking also aims to reflect on the situation of overload of the judiciary, largely as
a result of the judicialization of family conflicts, and the reflexes of the application of mediation to such
conflicts in the Brazilian judicial sphere. To this end, it proposes to revisit the legal-scientific literature
affects the themes that cut the problem. The starting point is the fact that mediation, as a public policy
that disseminates the culture of pacification within the judiciary, has made significant progress in
the national territory, by virtue of Resolution nº 125 and the laws, namely the Code of Civil Procedure
and the Mediation Law, but it is still evolving, with private mediation being an alternative for families
in conflict. Thus, the study on screen has the scope of allowing the broadening of the understanding
about the object.
Keywords: Mediation. Dispute resolution. Family conflicts. Judicial Power.
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TJMG. Conciliação, Mediação e Cidadania. 2017. Disponível em: http://www.tjmg.jus.br/portal-
tjmg/acoes-e-programas/conciliacao-mediacao-e-cidadania.htm#.XZJHF0ZKiM8. Acesso em: 29
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TJSP. Conciliação e Mediação. Disponível em: https://www.tjsp.jus.br/Conciliacao. Acesso em:
07 out. 2019.
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Juliana Melo Navarro
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EXPERIÊNCIA ESTRANGEIRA
Los registros públicos de beneficiarios
finales en Argentina: avances y
retroceso de un proceso inconcluso1
Resumen: El objetivo del presente trabajo es analizar la importancia y necesidad de contar con información
precisa y actualizada de los reales beneficiarios finales de las personas y estructuras jurídicas. Su llegada
a la legislación nacional y al derecho societario. Evolución del concepto. Relación con la criminalidad
económica. Sujetos obligados a recabar información, modo en que lo hacen. Organismo de control y
registro. El beneficiario final en la práctica. El beneficiario final en las sociedades extranjeras. Que ocurre
con los llamados “testaferros”. El Registro nacional de sociedades. Conclusiones, avances y retrocesos.
Palabras-clave: Beneficiario final. Legislación. Umbral.
Sumário: 1 Introducción – 2 La Unidad de Información Financiera – 3 La identificación del beneficiario
final en la práctica – 3.1 El Banco Central y las entidades financieras – 3.2 Organismos de fiscalización
de personas jurídicas y registros públicos de comercio – 3.3 Inspección General de Justicia (IGJ) –
3.4 Dirección de Personas Jurídicas de la Provincia de Buenos Aires – 3.5 Inspección General de
Justicia de Tierra del Fuego – 3.6 Registro Público de Estructuras Jurídicas: Contratos de Fideicomisos
– 3.7 Comisión Nacional de Valores – 3.8 Superintendencia de Seguros de la Nación (SSN) – 3.9 Las
sociedades extrajeras – 3.10 El Registro Nacional de Sociedades – 3.11 Los beneficiarios finales y
los testaferros – 4 Conclusiones.
1 Introducción
Ocultar la identidad de los verdaderos dueños de las empresas es una maniobra
recurrente entre quienes buscan evadir impuestos, esconderse de los organismos
de control, eludir a la justicia y dificultar investigaciones. Las acciones diseñadas
para mantener fuera del alcance de las autoridades regulatorias la identidad de las
personas humanas que, en última instancia, controlan las compañías, facilita, en
muchos casos, el lavado de dinero obtenido de actos ilícitos como la corrupción,
el narcotráfico, la trata de personas y diversas violaciones de los derechos
humanos. Las recientes megafiltraciones de información financiera dejaron al
1
“Elaborado y publicado originalmente por el Programa de Integración Regional y Financiamiento para el
Desarrollo de Fundación SES – Preparado en el marco de la 5ta Conferencia Internacional sobre Registros
públicos de beneficiarios finales de personas jurídicas y su vinculación con la corrupción, el lavado de
activos y la evasión fiscal”.
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2
Los guaridas fiscales, conocidas erróneamente como “paraísos fiscales”, son territorios que permiten a
personas humanas y jurídicas eludir normas, leyes y regulaciones. Entre las características que exhiben
esas jurisdicciones se destaca la baja o nula tributación que, mediante normas específicas internas,
garantizan la opacidad de las transacciones, con la ausencia absoluta de registros, formalidades y controles.
El elevado grado de opacidad impide estimar las fortunas que se administran a través de la red global de
guaridas fiscales. Otra característica particular es la extraterritorialidad, refiere a que el objeto no puede
cumplirse dentro de la jurisdicción de origen.
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La ley 25.246, sancionada el 13 de abril del año 2000, fue reformada por la ley 26.683 sancionada el
21.06.2011.
4
Son las Personas Físicas y Jurídicas y Organismos del Estado, señaladas en el artículo 20 de la Ley
25.246 y modificatorias. Los sectores determinados en dicho artículo son aquellos que los legisladores
consideraron vulnerables para el Lavado de Activos y la Financiación del Terrorismo o bien que puedan
recabar información de aquellos sujetos obligados considerados vulnerables. Ejemplo de ellos son: Los
organismos de control y registro de personas jurídicas, la Comisión Nacional de Valores, las entidades
financieras, los escribanos públicos, los contadores, el Registro de la propiedad inmueble, el registro de
la propiedad automotor, entre otros.
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5
Véase Art. 21 ap. c) Ley 25.246.
6
Resolución UIF 30-E-/2017, incorpora la posibilidad de identificar a las máximas autoridades de la persona
jurídica como beneficiario final.
7
Decreto del PEN 27/2018 denominado de “Desburocratización y Simplificación”, fue un decreto ómnibus
dictado el 11.01.2018 mediante el cual se reformaron muchas leyes del cuerpo normativo de nuestro
país.
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8
La UIF fue creada en el año 2000 y funciona con autonomía y autarquía financiera. Hasta el 26 de mayo
de 2016 bajo jurisdicción del Ministerio de Justicia y Derechos Humanos de la Nación. En el año 2016
pasó a estar bajo la órbita del Ministerio de Finanzas, actual Ministerio de Hacienda.
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El listado de sujetos obligados está formulado en el Artículo 20 de la Ley 25.246.
10
Por ejemplo: Resolución UIF 30/2011(Personas Jurídicas que reciben donaciones) Art. 2 inc g. Resolución
229/2011 (Mercado de Capitales) art. 2 inc g. Resolución UIF 140/2012(Fideicomisos). Art. 2 inc i.,
Resolución 22/2011 (CNV) art 2 inc f., entre otros.
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11
Art. 21 bis Ley 25.246 modificada por Ley 27.446 del 18.06.2018.
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Véase Ley de Entidades Financieras n 21.526.
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Con excepción de las sociedades de capitalización y ahorro en cuyo caso el alcance es nacional.
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A partir de la Resolución General IGJ 7/2015.
15
Artículo 518 del Anexo “A” de la Resolución General I.G.J. 07/2015.
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La declaración jurada debe presentarse con firma del propio Beneficiario Final
o de Representante Legal y certificado por Escribano o Dictaminante, y deberán
indicarse datos personales completos del beneficiario final (nombre y apellido,
número de DNI, número de CUIT, domicilio real, nacionalidad, fecha de nacimiento,
profesión y porcentaje de participación que directa o indirectamente posea en en
la entidad) y datos completos de la persona jurídica (denominación, número de
registro en la IGJ, tipo societario y número de CUIT).
Lo mismo ocurre con la normativa de las Sociedades por acciones simplificadas,
incorporadas al ordenamiento jurídico argentino en el año 2017 y reglamentada
por la IGJ mediante la Resolución IGJ 6/2017.
Es dable destacar que la presentación de dicha información es requisito para
la inscripción de los trámites, por lo que si bien no existen sanciones expresas
ante el incumplimiento, de no presentarse la sociedad no podrá contar con su acto
inscripto y por ello su operatoria comercial se podrá ver restringida.
Sin embargo, ante la declaración jurada que indica que la persona jurídica no
cuenta con beneficiario final, no existe un real control sobre dicha información. En
el caso de la IGJ existe la declaración Jurada de “no posee Beneficiario Final”, lo
que muchas veces no resulta ser tal. Siendo que este Organismo aún no adoptó
la nueva definición de beneficiario Final, no resulta posible la identificación de la
máxima autoridad del órgano de administración a los fines de cumplimentarlo.
Respecto de las sociedades extranjeras, previo al dictado de la Resolución
6/2018, las sociedades extranjeras también debían presentar la declaración
jurada de beneficiario final en oportunidad del cumplimiento obligatorio del régimen
informativo anual, mediante tal acto informaban también la composición accionaria
del capital. Al dictarse la mencionada resolución dicha obligación fue suprimida.
Asimismo cabe agregar que la IGJ lleva un registro de sociedades inactivas. Las
mismas fueron detectadas como tales luego de un proceso de reempadronamiento.
Si bien ello permitió conocer el estado de muchas empresas también dejó al
descubierto la cantidad de empresas que se constituyen y luego no presentan
movimientos. Detrás de tales sociedades también se esconden reales beneficiarios
y no contamos con información sobre ello.
16
Disposición General 130 /2017 del 22.12.2017.
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Véase art. 1666 Código Civil y Comercial de la Nación.
18
Véase art. 20 inc.22 Ley 25.246.
19
Vease Resolución UIF 140/2011.
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20
Por Decreto 300/2015 el Poder Ejecutivo del Gobierno de la Ciudad Autónoma de Buenos Aires estableció
el Registro Público de Contratos de Fideicomiso.
21
Recomendación 25 del GAFI “Los países deben tomar medidas para prevenir el uso indebido de otras
estructuras jurídicas para el lavado de activos o el financiamiento del terrorismo. En particular, los países
deben asegurar que exista información adecuada, precisa y oportuna sobre los fideicomisos expresos,
incluyendo información sobre el fideicomitente, fiduciario y los beneficiarios, que las autoridades competentes
puedan obtener o a la que puedan tener acceso oportunamente. Los países deben considerar medidas para
facilitar el acceso a la información sobre el beneficiario final y el control por las instituciones financieras
y las APNFD que ejecutan los requisitos establecidos en las Recomendaciones 10 y 22. https://www.
fatf-gafi.org/media/fatf/documents/recommendations/pdfs/FATF-40-Rec-2012-Spanish.pdf.
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22
La última Resolución de la UIF para la CNV fue la 21/2018 del 1.03.2018, su antecedente es la Resolución
UIF 229/2011 del 13.12.2012 la que definía al “Propietario / Beneficiario: a las personas físicas que
tengan como mínimo el VEINTE (20%) por ciento del capital o de los derechos de voto de una persona
jurídica o que por otros medios ejerzan el control final, directo o indirecto sobre una persona jurídica”.
23
Resolución CNV 604/2012 del 12.04.2012.
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24
“BENEFICIARIO FINAL. DEBER DE INFORMAR. ARTÍCULO 24.- Los accionistas, sean estos, personas jurídicas
u otras estructuras jurídicas, deberán informar a la sociedad sus beneficiarios finales. Las sociedades
deberán remitir vía AUTOPISTA DE LA INFORMACIÓN FINANCIERA, como “información restringida a la CNV”
bajo el título “Beneficiarios Finales”, la información sobre el/los beneficiario/s final/es. A tal fin, deberá
constar el nombre y apellido, nacionalidad, domicilio real, fecha de nacimiento, documento nacional de
identidad o pasaporte, CUIT, CUIL u otra forma de identificación tributaria y profesión. La información del
beneficiario final se deberá remitir en la forma dispuesta dentro de los CINCO (5) días hábiles de celebrada
la asamblea”. Resolución CNV 687/2017.
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Los registros públicos de beneficiarios finales en Argentina: avances y retroceso de un proceso inconcluso
hace mención a los supuestos de que se trate de personas jurídicas u otros entes
asimilables, “(…) la evaluación se hará respecto de cada una de las personas
físicas que se desempeñen como administradores, directores, gerentes y todos
aquellos que desempeñen funciones directivas dentro de la entidad, como así
también respecto de sus beneficiarios finales y de las personas humanas o
jurídicas que tengan como mínimo el 20% del capital o de los derechos de voto
de la entidad, o que por otros medios ejerzan el control final, directo o indirecto
sobre la misma (…)”.
Y continúa diciendo que “(…) cualquier designación de administradores,
directores, gerentes o personas con funciones directivas, que la entidad efectúe
con posterioridad a la autorización, deberá ser notificada a la Comisión para que
lleve a cabo la referida evaluación. De igual forma deberá notificarse respecto de
los beneficiarios finales y las personas físicas o jurídicas que adquieran como
mínimo el 20% del capital o de los derechos de voto de la entidad, o que por
otros medios pasen a ejercer el control final, directo o indirecto sobre la misma”.
En esta última parte el beneficiario final y personas que posea el 20% del
capital o derecho de voto, parecieran ser personas diferentes.
Lo mismo ocurre cuando indica que la Comisión no autorizará la oferta pública
de valores en los supuestos en que una entidad emisora, sus beneficiarios finales,
y las personas físicas o jurídicas que tengan como mínimo el 20% de su capital o
de los derechos a voto, o que por otros medios ejerzan el control final, directo o
indirecto sobre la misma, registren condenas por delitos de lavado de activos y/o
financiamiento del terrorismo y/o figuren en las listas de terroristas y organizaciones
terroristas emitidas por el Consejo de Seguridad de las Naciones Unidas.
Otro ejemplo de la poca claridad se advierte frente al deber informativo de
participaciones accionarias. Las personas físicas o jurídicas que, en forma directa,
por intermedio de otras personas físicas o jurídicas, o cualquier grupo de personas
actuando en forma concertada, que por cualquier medio y con una determinada
intención: (a) adquieran o enajenen acciones y/o valores representativos de deuda
convertibles en acciones de una emisora, o adquieran opciones de compra o de
venta sobre aquellos, (b) alteren la configuración o integración de su participación
directa o indirecta en el capital de una emisora, (c) conviertan obligaciones
negociables en acciones, (d) ejerzan las opciones de compra o de venta de los
valores negociables referidos en el inciso (a) o (e) cambien la intención respecto
de su participación accionaria en la emisora, al tiempo de verificarse alguno de
los supuestos indicados en los incisos anteriores.
En todos los casos, siempre que las adquisiciones involucradas y/o los hechos
referidos precedentemente otorgasen 5% o más de los votos que puedan emitirse
a los fines de la formación de la voluntad social en las asambleas de accionistas,
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25
Art. 12 y ss. del Título XII de las Normas de la CNV Res. 622 T.O. 2013.
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26
Véase art. 58 Ley 20.091.
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Los registros públicos de beneficiarios finales en Argentina: avances y retroceso de un proceso inconcluso
27
Decreto P.E.N. 891/2017.
28
La Resolución General 6/2018 sustituye varios artículos de la Resolución General 07/15 de la IGJ, y
deroga muchos otros, todos ellos vinculados a las sociedades extranjeras.
29
Sociedades extranjeras en los términos del artículo 118 y 123 de la Ley General de Sociedades.
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30
Ley 27440. De Financiamiento Productivo del 9.05.2018.
31
Art. 62 bis. LMC ap. “II. Las personas jurídicas constituidas en el extranjero podrán participar de todas las
asambleas de accionistas, incluyendo -aunque sin limitación- las contempladas en el presente artículo,
de sociedades autorizadas a hacer oferta pública de sus acciones a través de mandatarios debidamente
instituidos, sin otra exigencia registral”.
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ni del mismo modo en todas las jurisdicciones. Ello entorpece muchas veces la
propia función del Registro nacional. Y específicamente es lo que ocurre en materia
de beneficiario final en tanto sólo 3 de los 36 registros de todo el país recaban
información de los mismos.
Es importante destacar que los datos que requieren los registros nacionales
como información a brindar desde los registros jurisdiccionales locales, son datos
registrales públicos respecto de personas jurídicas y de aquellas que las componen,
sean jurídicas o humanas.
No se trata de datos sensibles, sino que la propia Ley 26047, reglamentaria
de los Registros Nacionales, establece cuáles son los datos necesarios y de interés
que constituyen la información que debe centralizarse a los fines de generar mayor
y mejor publicidad y transparencia. La mencionada norma fue modificada por la
hace poco menos de dos años y expresamente prevé que “las dependencias
administrativas y autoridades judiciales de las distintas jurisdicciones que, conforme
a la legislación local, tengan asignadas las funciones del registro público para la
inscripción de la constitución y modificación de sociedades locales y extranjeras
y las funciones para autorizar la actuación como personas jurídicas de carácter
privado de las asociaciones civiles y fundaciones locales y extranjeras, remitirán por
medios informáticos al Ministerio de Justicia y Derechos Humanos o al organismo
que éste indique al efecto, los datos que correspondan a entidades que inscriban.
modifiquen o autoricen a partir de la fecha que determine la reglamentación”.
Y agrega que “se incluirán entre las modificaciones las que indiquen cambios
en la integración de los órganos de administración, representación y fiscalización
de las personas jurídicas; las transmisiones de participaciones sociales sujetas
a inscripción en el registro público; el acto de presentación de estados contables;
los procedimientos de reorganización, disolución y liquidación de sociedades y
entidades y las declaraciones juradas de beneficiarios finales de las mismas”.32
Ello significa que el registro público de beneficiarios finales se encuentra en
cabeza del Registro Nacional de Sociedades.
Resulta de suma importancia que un registro único pueda conocer a los
verdaderos dueños de las personas jurídicas inscriptas en los Registros Públicos.
Sin perjuicio de ello, a nivel internacional aún se mantienen debates en torno a la
información que debería ser publicada y la que no. La Argentina no ha sido ajena
a dicha discusión y ello también ha sido motivo de retrasos. Temores como la
seguridad física y patrimonial de los sujetos son algunos de los temas que se
cuestionan, considero que los mismos son perfectamente subsanable a través de
otras medidas de protección de la información por lo que no debería ser una excusa
32
Véase art. 26 Ley 27.444, reforma y sustituye el artículo 4 de la Ley 26.047.
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33
Los textos anteriores de la ley 19.550 decían: Art. 34 “SOCIO APARENTE: El que prestare su nombre como
socio no será reputado como tal respecto de los verdaderos socios, tenga o no parte en las ganancias de
la sociedad: pero con relación a terceros, será considerado con las obligaciones y responsabilidades de
un socio, salvo su acción contra los socios para ser indemnizado de lo que pagare”. “SOCIO OCULTO: La
responsabilidad del socio oculto es ilimitada y solidaria en la forma establecida en el art. 125”. Art. 35
“SOCIO DEL SOCIO: Cualquier socio puede dar participación a terceros en lo que le corresponde en ese
carácter. Los partícipes carecerán de la calidad de socio y de toda acción social; y se les aplicarán las
reglas sobre sociedades accidentales y en participación”.
34
Informe de la tercera ronda de evaluación mutua del GAFI en la Argentina, del 16/12/2010.
35
ARTÍCULO 34 – Prohibición. Queda prohibida la actuación societaria del socio aparente o presta nombre
y la del socio oculto” (art. 3º Dec.27/2018). ARTÍCULO 35 – Responsabilidades. La infracción de lo
establecido en el artículo anterior, hará al socio aparente o prestanombre y al socio oculto, responsables
en forma subsidiaria, solidaria e ilimitada de conformidad con lo establecido por el artículo 125 de esta
Ley” (art. 4º Dec.27/2018).
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4 Conclusiones
La identificación de los beneficiarios finales de las empresas representa
una de las principales herramientas para combatir los flujos financieros ilícitos
relacionados con la evasión fiscal, el lavado de dinero, la corrupción y diversas
violaciones a los derechos humanos. La creación de registros públicos permite
individualizar a los “verdaderos” dueños, personas humanas, que finalmente poseen
o controlan a las estructuras jurídicas que operan cuentas bancarias, administran
propiedades u ofrecen bienes y servicios. Sin políticas sobre transparencia respecto
de los beneficiarios finales, la criminalidad económica puede ocultarse detrás de
vehículos jurídicos de cualquier tipo.
No se trata sólo de pedirle a las empresas que identifiquen e informen quiénes
son los verdaderos dueños, sino que se debe lograr que no mientan al momento de
brindar dicha información. Para evitar que ello suceda es fundamental que exista
una interconexión entre los todos los datos públicos existentes en el sistema a
los fines de garantizar que la información que proporcione sea válida y certera. Por
ejemplo: que los datos brindados sobre una persona humana argentina coincidan
con los registrados en el Registro Nacional de las Personas, conforme su nombre,
apellido y DNI, los mismo para el caso que se encuentre o no fallecida. Que los
domicilios informados sean reales, conforme cruce con google maps, entre otros.
Organizar bases de datos que reúnan la información de los diferentes registros
y entidades financieras a los fines de identificar operaciones sospechosas que
aumenten los niveles de inusualidad respecto de una maniobra de lavado de activos,
como ser un mismo beneficiario de muchas empresas, beneficiarios cuyos ingresos
no guarden relación con las ganancias declaradas, hoy en día ello no es posible.
Es necesario repensar la función y la importancia de los registros públicos de
personas jurídicas y su rol en la economía y en la lucha contra el lavado de flujos
financieros ilícitos. Siendo que son los propios registros públicos quienes de alguna
manera les dan vida al otorgarle la personalidad jurídica, permitiéndole de este modo
adquirir bienes, abrir cuentas, realizar negocios, etc. Su desempeño es vital para
el desarrollo de la economía de un país por ello deben dejar de ser considerados
como meros almacenes o buzones emisores de plantillas de inscripción.
Los registros deben ser considerados como bases de datos dinámicas certeras
que permitan a los sujetos involucrados en la dinámica empresarial – bancos,
escribanos u otros proveedores de servicios – hacer consultas en tiempo real
previo a que se efectivicen las operaciones, por ejemplo: la verificación de que una
empresa se encuentra activa, su autoridades debidamente inscritas y vigentes y
sus beneficiarios reales informados, previo a la compra de un inmueble.
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Los registros públicos de beneficiarios finales en Argentina: avances y retroceso de un proceso inconcluso
Aún restan muchos desafíos a nivel nacional e internacional por cumplir, como
así también revalorizar a las instituciones que lejos de ello cada día resultan más
disminuidas en algunos países, tal es el caso de la Argentina.
En efecto, si bien Argentina cuenta con normativa y legislación relacionada al
Beneficiario Final aún no cuenta con un abanico de herramientas y recursos que le
permitan implementar a nivel nacional y provincial efectivamente sus metodologías
de identificación. Entre ellas se pueden enumerar:
(1) Educativas, para la comprensión completa del tema y la importancia de
tener conocimiento del real beneficiario final de la empresa.
(2) Informáticas, que permitan procesar la información y cruzarla entre los
diferentes organismos del Estado o autoridades gubernamentales a los
fines de contar con registros ágiles y completos que nos permitan obtener
la información de manera rápida y eficaz.
(3) Legislativas, que permitan unificar los criterios de las distintas jurisdicciones.
(4) Operativas que permitan elaborar procesos y criterios uniforme en todo
el país.
La falta de un Registro Unificado que permita reunir la información de todas
las personas y estructuras jurídicas del país. Conforme se desarrolló a lo largo
del presente trabajo son varios los Organismo Nacionales y locales que recaban
información sobre los beneficiarios finales, pero aún no se ha logrado que dicha
información se centralice y resulte de uso efectivo.
Desde un análisis fundado en la criminalidad económica sabemos que las
grandes organizaciones operan a través de múltiples capas de personas jurídicas,
por ello Organismos Internacionales como el Grupo de Acción Financiera Internacional
(G.A.F.I.) y la Organización para la Cooperación y el Desarrollo Económico (O.C.D.E.),
entre otros han arbitrado diversas medidas y/o recomendaciones a los fines de
disuadir la utilización de sociedades ofishore, estructuras jurídicas como pantallas
para la comisión de delitos, violar la ley y frustrar derechos de terceros.
Para que un Estado pueda trazar un camino de crecimiento y una adecuada
inserción internacional es imprescindible que cuente en su ordenamiento jurídico
con normas claras y coherentes, sistemáticamente armonizadas. Es fundamental
un régimen jurídico preciso, que recepte los estándares internacionales y que
muestre al país ante un Estado confiable y dotado de seguridad jurídica.
Sin embargo, a lo largo del desarrollo y análisis de la normativa y la práctica
existente en nuestro país se advierte un doble juego. Vasta normativa, con defini-
ciones y trámites burocráticos que lejos de armar un claro registro, dejan mucho
que desear.
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Maria Eugenia Marano
Ello por cuanto, mientras por un lado se busca la identificación del real
Beneficiario Final por otro lado se dictan normas a nivel nacional y resoluciones
locales que tienden a evitar su correcta identificación.
Claro ejemplo se advirtió en materia de sociedades extranjeras, principales
vehículos utilizado para la fuga de capitales, la evasión de impuesto y el lavado de
activos, en la Comisión nacional de valores, en la ausencia de normas en 33 de
los 36 registros de control y fiscalización de personas jurídicas de nuestro país.
No contar con datos certeros, ni datos digitalizados imposibilita determinar
dónde nos encontramos parados. Sin una cantidad especificada de empresas
registradas a nivel nacional resulta casi imposible evidenciar los datos que estamos
perdiendo.
Más aún si tenemos en cuenta que sólo tres de las veinticuatro provincias de
la Argentina solicitan la información del BF, que la CNV no tiene normas claras y
una base unificada de todos aquellos sujetos que brindan la información, la tarea
se vuelve por demás compleja.
Otro grave problema, es que algunos organismos como la IGJ, dan la posibilidad
de que las empresas informen que no tiene beneficiarios finales. Estas opciones
no colaboran en los procesos de transparencia. Como así tampoco que la poca
información que se reúna de los beneficiarios finales se encuentre en soporte
papel. Lo mismo ocurre con las Sociedades por Acciones Simplificadas donde los
propios constituyentes pueden completar los formularios de solicitud de inscripción
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Los registros públicos de beneficiarios finales en Argentina: avances y retroceso de un proceso inconcluso
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Maria Eugenia Marano
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Los registros públicos de beneficiarios finales en Argentina: avances y retroceso de un proceso inconcluso
ownership in foreign companies. What happens with the so called “front man”. The National Companies
Registry. Conclusions, progress and setbacks.
Keywords: Beneficial Ownership. Legislation. Threshold.
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ENSAIOS E PARECERES
Perspectivas no campo contratual
para os próximos anos
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Marcos Ehrhardt Jr.
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Perspectivas no campo contratual para os próximos anos
exigindo de quem atua na área a máxima atenção com a boa-fé objetiva e o dever
de informação, que não deve se limitar à redação de cláusulas contratuais.
Lidamos com interesses diversos, acesso a informações de modo assimétrico,
o que se repete no campo financeiro e técnico. Lidar com assimetrias e com
questões que transcendem interesses individuais para o campo dos direitos
transindividuais e difusos faz-se presente na agenda de qualquer profissional. De um
trabalho tradicionalmente individualista, realizado na solidão de nossos escritórios,
passamos a experimentar um espaço aberto de colaboração, no qual múltiplos
saberes e competências são necessários para lidar com intricadas questões,
quer sejam sobre aplicações da engenharia genérica para a saúde, quer sejam
sobre a utilização de informações pessoais por terceiros para fins econômicos,
ou, ainda, sobre o risco do desenvolvimento de novas tecnologias em substituição
por máquinas de atividades exercidas por seres humanos.
Contrato combina com complexidade?
Acredito que a resposta seja afirmativa. O contrato, enquanto expressão
do exercício da liberdade negocial, vale dizer, da autonomia privada, é o espaço
privilegiado para lidar com o campo da inovação e das incertezas. Não é possível
ignorar a realidade e seus avanços. A vida não espera a regulamentação dos novos
campos de atuação pelo poder público. É justamente neste espaço de atuação que
o trabalho dos profissionais que atuam elaborando contratos se torna decisivo.
Além de definir partes e objeto do contrato, há de se analisar os efeitos da
avença para com terceiros, observar sua adequação às normas ambientais e demais
marcos regulatórios, o atendimento adequado às diretrizes de compliance do outro
contratante e por vezes dos seus parceiros, juntamente com o posicionamento
do negócio em relação aos demais stakeholders (funcionários, fornecedores,
acionistas e consumidores).
Em breve, entrará em vigor a Lei Geral de Proteção de Dados,1 adicionando
novas camadas de requisitos a serem observados em contratações que há muito
tempo não se limitam a aspectos materiais do negócio, passando a regular
também o procedimento da solução de controvérsias, na busca do mecanismo
mais adequado para a resolução de problemas de execução, seja no campo do
Judiciário, seja através de um método alternativo escolhido de acordo com as
peculiaridades do caso específico.
Mais do que definir as condições de preço, forma de pagamento e obrigações
das partes, deve o profissional que elabora contratos agir prospectivamente,
analisando futuros cenários do relacionamento negocial, elegendo ferramentas
1
O art. 65 da Lei nº 13.709/2018, publicada em 15.8.2018, estabelece um vacatio legis de 24 (vinte
e quatro) meses para o início da vigência, com exceção dos artigos indicados no inciso I do referido
dispositivo.
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Marcos Ehrhardt Jr.
Enfim as perspectivas...
Estamos acostumados a visualizar os contratos como um texto cheio de
itens registrados em papel e temos dificuldade em reconhecer, com o mesmo
grau de importância e necessidade de atenção, formas de contratação verbais e,
especialmente, aquelas realizadas por interação eletrônica. Ainda existem os que
pensam que “se não está registrado em papel no cartório, não é tão importante”.
Aqui não me refiro apenas à contratação em sites de comércio eletrônico, mas a
negócios celebrados em redes sociais (WhatsApp, Facebook, Instagram) e dentro
de aplicativos de jogos e utilitários. Juntem-se a isso as plataformas on-line de
resolução de conflitos e as transações negociais sobre direitos patrimoniais
disponíveis.
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Perspectivas no campo contratual para os próximos anos
2
BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei nº 487, de 2013. Reforma o Código Comercial. Disponível em:
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/115437. Acesso em: 25 mar. 2020.
3
Para aprofundar a questão, remete-se o leitor ao artigo: SIMÃO, José Fernando; KAIRALLA, Marcello.
A desnecessidade de uma teoria geral da obrigação empresarial e os equívocos do projeto de Código
Comercial. Migalhas Contratuais, 18 nov. 2019. Disponível em: link https://www.migalhas.com.br/Miga
lhasContratuais/136,MI315377,61044-A+desnecessidade+de+uma+teoria+geral+da+obrigacao+empre
sarial+e+os. Acesso em: 25 mar. 2020.
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Marcos Ehrhardt Jr.
4
Para outras considerações e críticas ao projeto, ver o artigo: FROTA, Pablo Malheiros da Cunha. A
interpretação do negócio jurídico empresarial no projeto de Código Comercial do Senado Federal nº
487/2013. Migalhas Contratuais, 16 dez. 2019. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/coluna/
migalhas-contratuais/317033/a-interpretacao-do-negocio-juridico-empresarial-no-projeto-de-codigo-comercial-
do-senado-federal-n-487-2013. Acesso em: 25 mar. 2020.
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Perspectivas no campo contratual para os próximos anos
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Efeitos econômicos da pandemia de
COVID-19 nos contratos empresariais
brasileiros e a possibilidade de uma
das partes contratantes majorar
economicamente a prestação contratual
em relação a outra parte contratante
Wesley Bento
Advogado com experiência em Direito Constitucional e Administrativo. Procurador do
Distrito Federal. Pós-Graduado pela PUC-SP. Conselheiro Titular da Ordem dos Advogados
do Brasil – Seccional do DF. Presidente da Comissão de Direito Administrativo da OAB/DF.
Coautor do livro Licitações, contratos e convênios administrativos: desafios e perspectivas.
Foi Assessor Jurídico no Governo do Distrito Federal, Conselheiro Suplente do Conselho
Superior da Procuradoria-Geral do DF e Vice-Presidente do Sindicato dos Procuradores e
dos Defensores Públicos do DF.
EMENTA:
1 – A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o surto da
doença causada pelo novo coronavírus (COVID-19) – doença respi-
ratória nova, cuja transmissão ocorre principalmente de pessoa a
pessoa – constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância
Internacional – o mais alto nível de alerta da Organização, conforme
previsto no Regulamento Sanitário Internacional.
2 – É indiscutível que a pandemia de COVID-19 produz efeitos na
saúde pública, na sociedade, na economia de cada país, o que não
é diferente no Brasil. Por isso, tanto a União como os Estados, os
Municípios e o DF têm adotado um conjunto de medidas para conter
todos os efeitos da citada pandemia.
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Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
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Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros...
1 Consulta
Consulta. A XXXXX honra-nos com a consulta acerca dos efeitos econômicos
da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros e a possibilidade
de uma das partes contratantes majorar economicamente a prestação contratual
em relação à outra parte contratante.
Divisão do parecer. Nessa senda, para cumprir a finalidade do parecer,
este foi dividido em quatro tópicos: (1) consulta; (2) aspectos metodológicos; (3)
fundamentos jurídicos do parecer e resposta à consulta; (4) conclusão.
1
Paulo Lôbo aduz: “O princípio da equivalência material busca realizar e preservar o equilíbrio real de
direitos e deveres no contrato, antes, durante e após sua execução, para re-harmonização dos interesses.
Esse princípio preserva a equação e o justo equilíbrio contratual, seja para manter a proporcionalidade
inicial dos direitos e obrigações, seja para corrigir os desequilíbrios supervenientes, pouco importando
que as mudanças de circunstâncias possam ser previsíveis. O que interessa não é a exigência cega de
cumprimento do contrato, em sua literalidade, mas se sua execução não acarreta vantagem excessiva
para uma das partes e desvantagem excessiva para outra, aferível objetivamente, segundo as regras
da experiência ordinária e da razoabilidade. Parafraseando Pietro Barcellona, a equivalência material
R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020 169
Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
se apresenta como ‘o direito desigual da racionalidade material’ (1998, p. 190) (...) O princípio da
equivalência material rompe a barreira de contenção da igualdade jurídica e formal, que caracterizou a
concepção individualista do contrato. Ao juiz estava vedada a consideração da desigualdade real dos
poderes contratuais ou o desequilíbrio de direitos e deveres, pois o contrato fazia lei entre as partes,
formalmente iguais. O princípio desenvolve-se em dois aspectos distintos: subjetivo e objetivo. O aspecto
subjetivo leva em conta a identificação do poder contratual dominante de uma das partes e a consequente
vulnerabilidade da outra. A lei presume juridicamente vulneráveis o trabalhador, o inquilino, o consumidor,
o aderente de contrato de adesão, entre outros. Essa presunção é absoluta, pois não pode ser afastada
pela apreciação do caso concreto. O aspecto objetivo considera o real desequilíbrio de direitos e deveres
contratuais, que pode estar presente na conclusão do contrato, ou na eventual mudança do equilíbrio em
virtude de circunstâncias supervenientes que acarretem a onerosidade excessiva para uma das partes.
A equivalência material é objetivamente aferida quando o contrato, seja na sua constituição, seja na sua
execução, realiza a equivalência das prestações, sem vantagens ou onerosidades excessivas originárias
ou supervenientes para uma das partes”. LÔBO, Paulo. Contratos. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. Item
3.6 – edição eletrônica.
2
O sentido de diálogo para este texto é aquele advindo da dialógica de Edgar Morin: “Unidade complexa
entre duas lógicas, entidades ou instâncias complementares, concorrentes e antagônicas, que se
alimentam uma da outra, se completam, mas também se opõem e combatem. Distingue-se da dialética
hegeliana. Em Hegel, as contradições encontram uma solução, superam-se e suprimem-se numa unidade
superior. Na dialógica, os antagonismos persistem e são constitutivos das entidades ou dos fenômenos
complexos. É convidar a pensar-se na complexidade. Não é dar a receita que fecharia o real numa caixa;
é fortalecer-nos na luta contra a doença do intelecto – o idealismo –, que crê que o real se pode deixar
fechar na ideia e que acaba por considerar o mapa como o território, e contra a doença degenerativa da
racionalidade, que é a racionalização, a qual crê que o real se pode esgotar num sistema coerente de
ideias”. MORIN, Edgar. Ciência com Consciência. 14. ed. Trad. Maria D. Alexandre e Maria Alice Sampaio
Dória. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. p. 140.
3
DWORKIN, Ronald. Justice for hedgehogs. Cambridge, US: Harvard University Press, 2011.
4
Essa ideia parte do pensamento de Ronald Dworkin do Direito como atividade interpretativa e de existências
de uma resposta correta para cada caso, cuja construção advém do “esforço de, diante da divergência,
encontrar a melhor interpretação possível para determinada controvérsia”. Neste processo o que está em
jogo é o valor/sentido da própria prática. Ou seja, sendo o Direito a prática social que garante legitimidade
para o uso da força pelo Estado, a melhor interpretação será aquela que articule coerentemente todos os
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Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros...
não dogmatizante, visto não ser possível “uma única resposta, mas há sempre a
possibilidade de encontrar a resposta correta no sistema jurídico, o desafio está
em percorrer os caminhos jurídicos reconhecendo as interfaces entre subjetividade
e objetividade, sem sucumbir demasiadamente em rígidas fortalezas teóricas nem
perder o rigor”.6
Uma resposta correta para a consulta. Nesse passo, somente uma das duas
hipóteses acima pode ser uma resposta correta ao problema posto, concepção
téorico-prática seguida na linha do que defendem, por exemplo, Menelick de Carvalho
Netto, Lênio Streck, Dworkin, Vera Karam de Chueiri, Fachin, entre outros, tendo
em vista ser possível “a existência de respostas corretas no Direito, constituídas
no esforço de, diante da divergência, encontrar a melhor interpretação possível
para determinada controvérsia. Neste processo o que está em jogo é o valor/
sentido da própria prática”.7
Possibilidade de se explicitar uma melhor interpretação. Por isso, a melhor
interpretação “será aquela que articule coerentemente todos os seus elementos
(regras, princípios, precedentes, etc.) a fim de que a decisão particular se ajuste ao
valor que é a sua razão de ser. Dito de outro modo, a divergência é resolvida com
a melhor justificação”.8 Torna-se indispensável, portanto, “a construção de uma
seus elementos (regras, princípios, precedentes, etc.) a fim de que a decisão particular se ajuste ao valor
que é a sua razão de ser. Dito de outro modo, a divergência é resolvida com a melhor justificação. Desse
modo, a resposta correta de Dworkin jamais poderia representar, por exemplo, uma proibição interpretativa,
uma antecipação de respostas aos problemas jurídicos ou, então, a existência de uma fórmula infalível
para certas controvérsias (pretensões que, sob certa perspectiva, aparecem na construção de súmulas
vinculantes brasileiras, por exemplo); ao contrário, a tese da resposta correta dworkiniana está centrada
numa abertura do jurista para o fenômeno interpretativo, o que faz parte da condição humana. E, nesse
aspecto, aparece outro diferencial da tese de Dworkin: a definição do Direito como prática interpretativa
não significa uma espécie de “especialidade” da esfera jurídica (como se da “vagueza e da ambiguidade
dos textos jurídicos” é que se extraísse o dever de interpretar do jurista). Pelo contrário, trata-se do
reconhecimento de que essa dimensão interpretativa é, por assim dizer, cotidiana, constitutiva das
práticas sociais, e o Direito consiste numa prática social (...) Ao mesmo tempo, tudo isso demonstra o
esforço de Dworkin em defender que existe certa objetividade no Direito, o que aparece em suas obras
a partir da defesa de certos elementos, tais como: moralidade política (construção de uma moral não
relativista); responsabilidade política do julgador (para promover a igualdade); interpretação jurídica como
romance em cadeia (vinculação do julgador a casos passados e comprometimento com as especificidades
da controvérsia)”. STRECK, Lenio Luiz. Coerência e integridade. In: STRECK, Lenio Luiz Dicionário de
hermenêutica: quarenta temas fundamentais da teoria do direito à luz da crítica hermenêutica do Direito.
Belo Horizonte: Letramento, 2017. E-book.
5
Destaca Streck: “interpretativo é aquilo que é emanado pelas instituições jurídicas, sendo que as questões
a ele relativas encontram, necessariamente, respostas nas leis, nos princípios constitucionais, nos
regulamentos e nos precedentes que tenham DNA constitucional, e não na vontade individual do aplicador
(mesmo que seja o STF). Assim como a realidade, também o direito possui essa dimensão interpretativa.
Essa dimensão implica o dever de atribuir às práticas jurídicas o melhor sentido possível para o direito de
uma comunidade política”. STRECK, Lenio. Hermenêutica e jurisdição. Diálogos com Lenio Streck. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2017. p. 91.
6
FACHIN, Luiz Edson. Direito Civil: sentidos, transformações e fim. Rio de Janeiro: Renovar, 2015. p. 2-3.
7
STRECK, Lenio Luiz. Coerência e integridade. In: STRECK, Lenio Luiz. Dicionário de hermenêutica: quarenta
temas fundamentais da teoria do direito à luz da crítica hermenêutica do Direito. Belo Horizonte: Letramento,
2017. E-book.
8
STRECK, Lenio Luiz. Coerência e integridade. In: STRECK, Lenio Luiz. Dicionário de hermenêutica: quarenta
temas fundamentais da teoria do direito à luz da crítica hermenêutica do Direito. Belo Horizonte: Letramento,
2017. E-book.
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Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
9
Sacrini, Marcus. Introdução à análise argumentativa (lógica). São Paulo: Paulus, 2017. Introdução. Edição
Kindle.
10
Sacrini alude sobre o sentido dos argumentos: “Entendo por argumentação uma prática social de defesa
de teses ou posições não evidentes por meio de justificativas racionais. Essa defesa normalmente envolve
uma confrontação lógica entre posições rivais, o que ocorre em diversos tipos de debates. O principal
instrumento para a progressão das argumentações, nesse sentido amplo, são os argumentos, estruturas
discursivas que buscam oferecer razões para teses não imediatamente óbvias”. Sacrini, Marcus. Introdução
à análise argumentativa (lógica). São Paulo: Paulus, 2017, Introdução. Edição Kindle.
11
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA. Conteúdo da Católica Ead para a disciplina de “Iniciação à Pesquisa
Científica”. Unidade 1 – Aula 1: Diversos tipos de conhecimento e o lugar da ciência. Disponível em:
https://minhasalaead.catolica.edu.br/course/view.php?id=1232#section-1. Acesso com login e senha.
Acesso em: 1º mar. 2020.
12
Método pode ser entendido como aporte teórico que orienta o(a) pesquisador(a) ou intérprete na investigação
de um problema para atingir o objetivo esperado, já que pesquisa pode ser compreendida como “um
procedimento sistemático que parte de um problema e que tem um objetivo a ser alcançado”. UNIVERSIDADE
CATÓLICA DE BRASÍLIA. Conteúdo da Católica Ead para a disciplina de “Iniciação à Pesquisa Científica”.
Unidade 3 – Aula 1: Fundamentos da pesquisa científica. Disponível em: https://minhasalaead.catolica.
edu.br/course/view.php?id=1232#section-1. Acesso com login e senha. Acesso em: 3 mar. 2020.
13
Como se sabe, os métodos de interpretação, normalmente, “são apresentados pela dogmática jurídica
como técnicas rigorosas ou operações interpretativas realizadas em partes para extrair o sentido do texto.
Seriam instrumentos ou mecanismos procedimentais de, passo a passo, acessar o conhecimento científico
do Direito. Toda essa discussão acerca da (in)validade dos métodos ou cânones de interpretação deita
raízes nas várias concepções filosóficas acerca das condições de possibilidades que tem o homem para
apreender as coisas, como nominá-las, como conhecê-las. Portanto, remetem a um quadro mais amplo
da história do pensamento, especialmente quando se tentou estabelecer regras para conhecer. Partiu-se
de uma metodologia de interpretação dos textos religiosos, intensificada pelos movimentos da Reforma,
proliferando-se por várias hermenêuticas especiais. Nisso a disciplina do Direito se destaca, ao lado da
Teologia e da Filosofia. Passam, então, por tentativas de unificação numa teoria geral da interpretação,
sobretudo pela busca de um rigor próprio das Ciências Humanas, embora ainda espelhando a exatidão
das ciências da natureza. Este paradigma achará fortes críticas em Heidegger, com quem a filosofia se
descobre hermenêutica. Chega-se, com o giro ontológico-linguistico, à desleitura do método moderno e
reabre a possibilidade de um ‘método autêntico’, guiado pela ‘coisa mesma’ na fenomenologia. Gadamer
faz o caminho de volta da filosofia à autocompreensão metodológica das Ciências Humanas: a própria
hermenêutica é filosófica. Demonstra, a partir dos exemplos privilegiados da arte, da história e da linguagem
que o acontecer da verdade não está condicionado a um método pré-estabelecido de conhecimento”.
STRECK, Lenio Luiz. Métodos de interpretação. In: STRECK, Lenio Luiz. Dicionário de hermenêutica:
quarenta temas fundamentais da teoria do direito à luz da crítica hermenêutica do Direito. Belo Horizonte:
Letramento, 2017. E-book. Desse modo, o método utilizado neste texto é condizente com a hermenêutica
filosófica.
14
Lenio Streck trata do método hermenêutico: “O método, no Direito, tem sido colocado como condição
de possibilidade. Assumiu características incompatíveis com aquilo que o conhecimento jurídico precisa
transmitir. Daí, perigosamente, o uso indiscriminado de diversos ‘métodos’, inclusive ‘ensinados’ em livros
sobre metodologia científica utilizados na área jurídica. De forma equivocada, tem sido recomendado o
uso do método dedutivo, que partiria do universal (categoria) para o particular, do geral para o individual.
Isso se mostra equivocado, porque as premissas (categoria ou uma tese geral) não são autoevidentes e
tampouco são enunciados sintéticos a priori. Isso transforma o ‘método dedutivo’ nas ciências sociais em
uma ilusão, falseando os resultados, que são produtos de categorias gerais construídas pelo intérprete ou
por ele escolhidas. Por outro lado, o método indutivo sofre de um problema similar. Como é possível partir
de uma coisa individual? Quais as condições de possibilidade para se dizer que ‘da análise do individual
se chegará ao geral’? Ou do empírico para o hipotético? Outro método que não apresenta qualquer clareza
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Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros...
epistêmica é o ‘dialético’. Interessante que quem o usa jamais o explica. Haveria uma tese e uma antítese?
O resultado da pesquisa seria uma síntese? Por tais razões é que o método hermenêutico-fenomenológico
adaptado e adotado pela CHD parece ter os elementos necessários para se chegar à compreensão de
um fenômeno. Revolve-se o chão linguístico em que está (sempre) assentada uma determinada tradição;
reconstrói-se-lhe a história institucional, fazendo com que o fenômeno se desvele, como em um palimpsesto.
Método fenomenológico-hermenêutico também quer dizer ‘desleituras’. O revolvimento do chão linguístico
implica desler as coisas. E, ao desler, a coisa exsurge sob outra vestimenta fenomenológica, como no
exemplo citado acerca do crime de escalada”. STRECK, Lenio Luiz. Método hermenêutico. In: STRECK,
Lenio Luiz. Dicionário de hermenêutica: quarenta temas fundamentais da teoria do direito à luz da crítica
hermenêutica do Direito. Belo Horizonte: Letramento, 2017. E-book.
15
STRECK, Lenio. Parecer. Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/manifestacao-politica-juizes-nao-
punida.pdf. Acesso em: 2 nov. 2017.
16
TRINDADE, André Karam; OLIVEIRA, Rafael Tomaz de. Crítica Hermenêutica do Direito: do quadro referencial
teórico à articulação de uma posição filosófica sobre o Direito. Revista de Estudos Constitucionais,
Hermenêutica e Teoria do Direito (RECHTD), v. 9, ano 3, p. 311-326, set.-dez. 2017, p. 325.
17
Nesse sentido alude Abbagnano: “Os analistas contemporâneos também rejeitam o primeiro pressuposto
da teoria do C., isto é, que o conhecimento é uma forma ou categoria universal que pode ser indagada
como tal: assumem como objeto de indagação os procedimentos efetivos ou linguagem científica, e
‘conhecimento’ em geral. Portanto, teoria C. perdeu seu significado na filosofia contemporânea e foi
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Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
substituída por outra disciplina, a metodologia (v.), que é a análise das condições e dos limites de validade
dos procedimentos de investigação e dos instrumentos linguísticos do saber científico”. ABBAGNANO,
Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi. Rev. Ivone Castilho Benetti. São Paulo: Martins Fontes,
2007. p. 174-183, p. 183. A metodologia pode ser entendida, também, como a forma como realizamos
a investigação aliada ao método. UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA. Conteúdo da Católica Ead para
a disciplina de “Iniciação à Pesquisa Científica”. Unidade 3 – Aula 1: Fundamentos da pesquisa científica.
Disponível em: https://minhasalaead.catolica.edu.br/course/view.php?id=1232#section-1. Acesso com
login e senha. Acesso em: 3 mar. 2020.
18
GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza. (Re)pensando a pesquisa jurídica: teoria e prática.
4. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2013. p. 21.
19
O sentido de posição jurídica “indica um conjunto de direitos, deveres e competências conjugados de
modo organizado e inter-relacionado. Sempre que o direito disciplina certas situações típicas, atribuindo
situações ativas e passivas indissociáveis entre si, surge uma posição jurídica. O conceito de posição
jurídica permite compreender a impossibilidade de reduzir o objeto de exame apenas a um dos ângulos
(ativo ou passivo). Há um conjunto de poderes, que se entranha com os direitos e os deveres, que somente
podem ser isolados para fins didáticos. É evidente que o conceito de posição jurídica não é privativo do
direito público. Assim, por exemplo, o titular do poder familiar ocupa uma posição jurídica, o mesmo se
dizendo quanto ao cônjuge”. JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. 13. ed. São Paulo:
RT, 2018. Capítulo 15, Item 13.2. Edição eletrônica.
20
OMS. Disponível em: https://www.who.int/es/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019. Acesso
em: 19 mar. 2020.
21
OMS. Folha informativa – COVID-19 (doença causada pelo novo coronavírus). Disponível em: https://www.
paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6101:folha-informativa-novo-coronavirus-
2019-ncov&Itemid=875. Acesso em: 19 mar. 2020.
174 R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020
Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros...
R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020 175
Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
22
OMS. Folha informativa – COVID-19 (doença causada pelo novo coronavírus). Disponível em: https://www.
paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6101:folha-informativa-novo-coronavirus-
2019-ncov&Itemid=875. Acesso em: 19 mar. 2020.
176 R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020
Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros...
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OMS. Folha informativa – COVID-19 (doença causada pelo novo coronavírus). Disponível em: https://www.
paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6101:folha-informativa-novo-coronavirus-
2019-ncov&Itemid=875. Acesso em: 19 mar. 2020.
24
OMS. Folha informativa – COVID-19 (doença causada pelo novo coronavírus). Disponível em: https://www.
paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6101:folha-informativa-novo-coronavirus-
2019-ncov&Itemid=875. Acesso em: 19 mar. 2020.
25
Informação obtida do sítio do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Disponível em: https://www.novo.
justica.gov.br/news/coronavirus-portaria-restringe-entrada-de-estrangeiros-de-oito-paises-no-brasil. Acesso
em: 19 mar. 2020.
R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020 177
Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
26
Informação obtida do sítio do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Disponível em: https://www.
novo.justica.gov.br/news/ministerio-solicita-informacoes-sobre-aumento-no-preco-do-alcool-gel-e-mascaras.
Acesso em: 19 mar. 2020.
27
Informação obtida do sítio do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Disponível em: https://www.novo.
justica.gov.br/news/senacon-orienta-empresas-e-consumidores-sobre-a-realizacao-de-campanhas-de-recall-
durante-o-periodo-de-calamidade-publica. Acesso em: 19 mar. 2020.
28
Informação obtida do sítio do CADE. Disponível em: http://www.cade.gov.br/noticias/cade-abre-investigacao-
no-setor-de-produtos-medicos-farmaceuticos. Acesso em: 19 mar. 2020.
29
Informação obtida do sítio do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Disponível em: https://www.
justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-publica/sinesp-1/bi/dados-seguranca-publica. Acesso em: 19
mar. 2020.
30
Informação obtida do sítio do Ministério da Saúde. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=
eyJrIjoiMjg1MjA0ZGUtYzc0Yy00NTc5LTk2YTgtZDgxOWI0MjFlMTVkIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDN
mNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9. Acesso em: 19 mar. 2020.
178 R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020
Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros...
Neste painel, até o dia 20.03.2020 foram confirmados 2 (dois) casos de COVID-19
em fevereiro de 2020 e de 902 (novecentos e dois) casos confirmados no mês de
março de 2020, com 11 (onze) mortes e 2(dois) casos curados;31
f) Medidas de prevenção da COVID-19 nos presídios brasileiros;32
g) O Ministério da Saúde fez um Plano de Contingência Nacional para Infecção
Humana pelo novo coronavírus (COVID-19);33
h) “Ministério da Saúde anunciou a liberação de R$ 432 milhões aos estados
para o reforço do plano de contingência encaminhado pelas unidades da federação
para o enfrentamento da COVID-19”;34
i) O Ministério da Economia tomou as seguintes medidas até o dia 19.03.2020:
16 de março de 2020:
Algumas medidas já tomadas podem injetar R$ 147,3 bilhões na
economia. A maior parte (R$ 83,4 bilhões) direcionados para a po-
pulação mais idosa e quase R$ 60 bilhões irão para a manutenção
de empregos;
Para dar mais capital de giro para as empresas, o governo suspen-
deu por três meses o prazo para empresas pagarem o Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e também a parte referente à
parcela da União no Simples Nacional;
Nesse sentindo ainda, as contribuições devidas ao Sistema S so-
frerão redução de 50% por três meses para não afetar o caixa das
empresas;
O governo antecipou a segunda parcela do 13º salário de aposenta-
dos e pensionistas do INSS para o mês de maio. Antes, já tínhamos
anunciado que a primeira parcela seria antecipada para abril;
Para colocar ainda mais recursos na praça para movimentar a eco-
nomia, vamos transferir os valores não sacados do PIS/Pasep para
o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para permitir novos
saques;
E antecipar para junho o pagamento do abono salarial;
Para reforçar a Saúde, o governo vai destinar o saldo do fundo do
DPVAT para o Sistema Único de Saúde (são mais R$ 4,5 bilhões);
Cortamos temporariamente o IPI para bens produzidos internamente
ou importados, que sejam necessários ao combate da COVID-19;
Facilitamos a renegociação de operações de créditos de empresas
e de famílias porque dispensamos os bancos de aumentarem a
31
Informação obtida do sítio do Ministério da Saúde. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=
eyJrIjoiMjg1MjA0ZGUtYzc0Yy00NTc5LTk2YTgtZDgxOWI0MjFlMTVkIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDN
mNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9. Acesso em: 19 mar. 2020.
32
Informação obtida do sítio do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Disponível em: https://www.
novo.justica.gov.br/news/ministros-moro-e-mandetta-definem-medidas-de-prevencao-do-coronavirus-nos-
presidios. Acesso em: 21 mar. 2020.
33
Informação obtida do sítio do Ministério da Saúde. Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/
images/pdf/2020/fevereiro/13/plano-contingencia-coronavirus-COVID19.pdf. Acesso em: 19 mar. 2020.
34
Informação obtida do sítio do Ministério da Saúde. Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/
agencia-saude/46547-estados-terao-r-432-milhoes-para-enfrentar-covid-19. Acesso em: 19 mar. 2020.
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Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
17 de março de 2020:
A taxa de juros do empréstimo consignado para aposentados e pen-
sionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) passará dos
atuais 2,08% ao mês para 1,80% ao mês, enquanto a taxa para o
cartão de crédito será reduzida de 3% ao mês para 2,70% ao mês;
18 de março de 2020:
Pedimos ao Congresso Nacional para declarar Estado de Calamidade
para que o governo possa gastar mais recursos para garantir a saú-
de e o emprego dos brasileiros. Com isso, o Ministério da Economia
poderá reavaliar a meta de resultado primário de 2020;
Reduzimos a zero as alíquotas de importação de produtos de uso
médico-hospitalar;
Camex zera Imposto de Importação de 50 produtos para o combate
ao coronavírus. A Resolução abrange desde luvas, máscaras e álcool
etílico até respiradores, para facilitar o atendimento da população e
minimizar os impactos econômicos da pandemia;
A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) suspenderá atos
de cobrança e facilitará a renegociação de dívidas em decorrência da
pandemia. As medidas serão publicadas no Diário Oficial da União;
A Receita Federal simplifica despacho aduaneiro de produtos de uso
médico-hospitalar destinados ao combate da COVID-19;
Suspensão, por cento e vinte dias, da exigência de recadastramento
anual de aposentados, pensionistas e anistiados políticos civis, e
também da realização de visitas técnicas, para comprovação de vida.
Ampliamos os valores destinados às medidas emergenciais de até
R$ 147,3 bilhões, inicialmente, para R$ 169,6 bilhões. Desse to-
tal, R$ 11,8 bilhões serão destinados diretamente ao combate à
pandemia; até R$ 98,4 bilhões para assistência a população mais
vulnerável; e até R$ 59,4 bilhões para manutenção de empregos;
O Governo anunciou a criação de um auxílio emergencial no valor R$
200, por pessoa, durante três meses, para apoiar trabalhadores in-
formais, desempregados e microempreendedores individuais (MEIs)
que integrem família de baixa renda. A medida vai beneficiar de 15
a 20 milhões de brasileiros e injetar até R$ 5 bilhões por mês na
economia custeados com recursos da União;
Esse auxílio emergencial não pode ser acumulado com benefícios
previdenciários, Benefício de Prestação Continuada (BPC), Bolsa Fa-
mília ou seguro-desemprego;
Criação de programa para evitar demissões neste período de pan-
demia. O Ministério da Economia vai criar o Programa Antidesem-
prego. O objetivo da iniciativa é facilitar as negociações trabalhistas
de modo a reduzir os custos do contrato de trabalho e preservar os
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Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros...
35
Informação obtida do sítio do Ministério da Economia. Disponível em: http://www.economia.gov.br/
noticias/2020/marco/confira-as-medidas-tomadas-pelo-ministerio-da-economia-em-funcao-do-covid-19-
coronavirus. Acesso em: 19 mar. 2020.
36
Informação obtida do sítio da Presidência de República. Disponível em: https://www.gov.br/planalto/pt-br/
acompanhe-o-planalto/noticias/2020/03/presidente-jair-bolsonaro-institui-comite-de-crise-para-supervisao-
e-monitoramento-dos-impactos-da-covid-19. Acesso em: 19 mar. 2020.
37
Informação obtida do sítio do Congresso Nacional brasileiro. Disponível em: https://www.congressonacional.
leg.br/materias/medidas-provisorias. Acesso em: 19 mar. 2020.
38
Informação obtida do sítio do Congresso Nacional brasileiro. Disponível em: https://www.congressonacional.
leg.br/materias/medidas-provisorias. Acesso em: 19 mar. 2020.
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Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
Saúde
Na área da saúde, foram assinados contratos emergenciais de ma-
nutenção preventiva e corretiva para os hospitais da capital. Dezes-
sete dos 19 documentos assinados com empresas de engenharia
e consultoria são para prestar serviços continuados de manutenção
39
Sobre os efeitos da COVID-19 no setor aéreo e as relações de consumo, veja: CATALAN, Marcos Jorge;
GERCHMANN, Suzana Rahde. Quando deixar de voar torna-se um problema: uma ligeira reflexão acerca da
necessária proteção dos consumidores de transporte aéreo em um mundo muito mais preocupado com
suas vias aéreas. Disponível em: https://emporiododireito.com.br/leitura/quando-deixar-de-voar-torna-se-
um-problema-uma-ligeira-reflexao-acerca-da-necessaria-protecao-dos-consumidores-de-transporte-aereo-em-
um-mundo-muito-mais-preocupado-com-suas-vias-aereas. Acesso em: 20 mar. 2020.
40
TERRA, Aline de Miranda Valverde. COVID-19 e os contratos de locação em shopping center. Migalhas de
Peso. Disponível em: https://m.migalhas.com.br/depeso/322241/covid-19-e-os-contratos-de-locacao-
em-shopping-center. Acesso em 20 mar. 2020.
41
Informação obtida do sítio do Ministério da Saúde. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=
eyJrIjoiMjg1MjA0ZGUtYzc0Yy00NTc5LTk2YTgtZDgxOWI0MjFlMTVkIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDN
mNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9. Acesso em: 19 mar. 2020.
42
Informação obtida do sítio do Governo do Distrito Federal. Disponível em: https://www.agenciabrasilia.
df.gov.br/2020/03/17/coronavirus-gdf-institui-teletrabalho-em-orgaos-publicos/. Acesso em: 19 mar.
2020.
182 R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020
Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros...
Investimentos e créditos
O governador Ibaneis Rocha também liberou R$ 1 milhão para re-
forçar o orçamento do Corpo de Bombeiros Militar do DF. O crédito
suplementar será usado para adquirir chips eletrônicos que serão
utilizados em equipamentos que detectam o vírus COVID-19.
Para manter aquecida a economia das pequenas e grandes empre-
sas no período de suspensão de atividades e serviços e de queda de
consumo, o BRB disponibilizará até R$ 1 bilhão de crédito com taxas
e prazos de pagamentos especiais, além de agilidade na análise da
documentação.43
43
Informação obtida do sítio do Governo do Distrito Federal. Disponível em: https://www.agenciabrasilia.
df.gov.br/2020/03/17/coronavirus-gdf-institui-teletrabalho-em-orgaos-publicos/. Acesso em: 19 mar.
2020.
R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020 183
Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
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Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros...
44
Informação obtida do sítio do Procon-DF. Disponível em: http://www.procon.df.gov.br/procon-e-df-legal-
intensificam-fiscalizacao-em-farmacias-a-partir-deste-domingo-para-coibir-abusos/. Acesso em 19 mar.
2020.
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Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
45
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. v. 2. p. 423.
46
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. v. 2. p. 423.
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Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros...
47
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. v. 2. p. 423.
48
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. v. 2. p. 423.
R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020 187
Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
49
MARTINS-COSTA, Judith. Art. 393. In: TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo (Coord.). Comentários ao novo Código
Civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009. v. 5. t. 2. p. 290 e 299.
50
Sobre o assunto, veja: PINTO, Almir Pazzianotto. A força maior e o coronavírus. Migalhas de Peso. Disponível
em: https://www.migalhas.com.br/depeso/321936/a-forca-maior-e-o-coronavirus. Acesso em: 19 mar.
2020. BLOCH, Francisco dos Santos Dias. Locações comerciais, coronavírus e redução dos aluguéis.
Migalhas de Peso. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/322040/locacoes-comerciais-
coronavirus-e-reducao-dos-alugueis. Acesso em: 19 mar. 2020. BONDAN, Heloisa Korb. O coronavírus
e a responsabilidade pelo descumprimento das obrigações. Migalhas de Peso. Disponível em: https://
www.migalhas.com.br/depeso/322000/o-coronavirus-e-a-responsabilidade-pelo-descumprimento-das-
obrigacoes. Acesso em 19 mar. 2020; LOPES, Lúcio Feijó; FERLA, Fernanda. Coronavírus é força maior
em contratos? Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/coronavirus-e-forca-maior-
em-contratos-18032020. Acesso em 21 mar. 2020.
51
TJSP. Apelação Cível 0038945-82.2009.8.26.0053. Relator (a): Lineu Peinado. Órgão Julgador: 2ª
Câmara de Direito Público. Foro Central – Fazenda Pública/Acidentes – 3ª Vara de Fazenda Pública. Data
do Julgamento: 09.11.2010. Data de Registro: 30.11.2010.
52
Informação obtida no sítio do Senado Federal. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/
materias/2020/03/19/primeira-votacao-remota-do-senado-tem-na-pauta-decreto-de-calamidade-publica?utm_
source=hpsenado&utm_medium=carousel_0&utm_campaign=carousel. Acesso em: 19 mar. 2020.
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Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros...
53
MEIRA, Silvio. Teixeira de Freitas – o jurisconsulto do império: vida e obra. São Paulo: Olympio, 1979. p.
347-365.
54
SIMÃO, José Fernando; KAIRALLA, Marcello Uriel. A desnecessidade de uma teoria geral da obrigação
empresarial e os equívocos do projeto de Código Comercial. Migalhas Contratuais. Disponível em: https://
www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-contratuais/315377/a-desnecessidade-de-uma-teoria-geral-da-
obrigacao-empresarial-e-os-equivocos-do-projeto-de-codigo-comercial. Acesso em: 19 mar. 2020.
55
FROTA, Pablo Malheiros da Cunha. A interpretação do negócio jurídico empresarial no projeto de Código
Comercial do Senado Federal nº 487/2013. Migalhas Contratuais. Disponível em: https://www.migalhas.
com.br/coluna/migalhas-contratuais/317033/a-interpretacao-do-negocio-juridico-empresarial-no-projeto-
de-codigo-comercial-do-senado-federal-n-487-2013. Acesso em: 19 mar. 2020.
R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020 189
Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
56
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. v. 3. p. 208-210.
57
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. v. 3,.p. 211-213.
58
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. v. 3. p. 213.
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Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros...
Art. 317 do CC. Ocorre que o dispositivo que recepcionou a revisão contratual
no Direito Civil brasileiro é o art. 317 do CC, visto que o art. 478 do CC trata de
resolução da relação contratual59:
Este autor não concorda com tal entendimento, uma vez que o citado
artigo está inserto no Capítulo II do Título V do Código, que trata da
“Extinção do Contrato” e não da sua revisão, objeto do presente
estudo. Por tal constatação, é forçoso concluir que, na verdade, o
dispositivo que trata da revisão do contrato por imprevisibilidade é
o art. 317 do CC:
“Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier despropor-
ção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de
sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo
que assegure, quanto possível, o valor real da prestação”.
Isso porque o comando legal por último destacado consta da parte
da codificação que trata do pagamento da obrigação. Sabe-se que o
contrato é fonte principal do direito obrigacional, razão desse nosso
entendimento. Compartilhando dessa mesma opinião cabe destacar
os ensinamentos de Paulo Luiz Netto Lôbo quanto ao art. 317 do CC:
“Essa norma tem significado distinto do que prevê o art. 478, pois
este é voltado para a resolução do contrato, em virtude de onerosida-
de excessiva da prestação de uma das partes, provocada por acon-
tecimentos imprevisíveis e extraordinários, enquanto aquela não
atinge o fato jurídico fonte da obrigação, inclusive o negócio jurídico,
mas apenas a prestação, com o fito de sua revisão ou correção”
(LÔBO, Paulo Luiz Netto. Teoria geral..., 2005, p. 205).60
Para que o juiz possa realizar a revisão contratual, deve haver i)
manifesta desproporção entre o valor da prestação no momento da
formação e o da execução e ii) a desproporção decorrer de motivos
imprevisíveis. Note-se que o contrato nasce equilibrado e o sina-
lagma funcional sofre um desequilíbrio. É por isso que estamos no
plano da eficácia a permitir a revisão contratual. (...)
O dispositivo tem por base dois princípios relevantes: a conserva-
ção do negócio jurídico e a função social em sua eficácia interna. A
conservação interessa aos contratantes e o equilíbrio garante que
se atenda à função social como norma de ordem pública que é (ver
art. 2.035 do CC). O art. 317 adota a teoria da imprevisão, que é
desdobramento da medieval cláusula rebus sic stantibus. A cláusula
59
“O Enunciado 176 da Jornada de Direito Civil CJF/STJ aponta que o art. 478 do CC se aplica à revisão
contratual: ‘Em atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos, o art. 478 do Código Civil de
2002 deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial dos contratos e não à resolução contratual’.
Percebe-se, pelo enunciado transcrito, a valorização da conservação contratual, ou seja, que a extinção do
negócio é o último caminho. Para a prática cível, é necessário que fique claro que o enunciado deve ser
considerado, ou seja, o art. 478 do Código Civil também deve ser utilizado para a revisão do contrato”.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. v. 3. p. 215.
60
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. v. 3. p. 211-213.
R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020 191
Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
61
SIMÃO, José Fernando. Art. 317. In: TARTUCE, Flávio; DELGADO, Mário; MELO, Marco Aurélio Bezerra de;
SCHREIBER, Anderson. Código Civil comentado. Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 182.
62
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. v. 3. p. 215.
63
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. v. 3. p. 215.
192 R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020
Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros...
64
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. v. 3. p. 215-216.
65
Sobre as mudanças do art. 113 do CC diante da Lei da Liberdade Econômica, veja: TARTUCE, Flávio. A
“Lei da Liberdade Econômica” (Lei n. 13.874/2019) e os seus principais impactos para o Direito Civil.
Segunda parte. Mudanças no âmbito do Direito Contratual. Disponível em: http://www.flaviotartuce.adv.
br/artigos. Acesso em: 10 dez. 2019; ELIAS, Carlos. Lei da Liberdade Econômica: diretrizes interpretativas
da nova lei e análise detalhada das mudanças no Direito Civil e nos registros públicos. Disponível em:
http://www.flaviotartuce.adv.br/artigos_convidados. Acesso em 10 dez. 2019.
R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020 193
Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
66
Anderson Schreiber aludiu: “A MP 881/2019 parece ter se deixado levar aqui por uma certa ideologia que
enxerga o Estado como inimigo da liberdade de contratar, quando, na verdade, a presença do Estado – e,
por conseguinte, o próprio Direito – afigura-se necessária para assegurar o exercício da referida liberdade”.
SCHREIBER, Anderson. Alterações da MP 881 ao Código Civil – Parte I. Carta Forense. Disponível em:
http://cartaforense.com.br/conteudo/colunas/alteracoes-da-mp-881-ao-codigo-civil---parte-i/18342?fbclid=-
IwAR0tAjJ4CtDj074LYaPUJShr2OWxUFg8ZDiUyY9EPqs2UOngIJ4gypNiHVI. Acesso em: 22 nov. 2019.
194 R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020
Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros...
67
Sobre o tema: “A correspectividade ou comutatividade consiste no liame funcional entre as obrigações
reciprocamente assumidas pelos contratantes. Trata-se do sinalagma que, por indicar o escopo funcional,
revela o equilíbrio pretendido entre as prestações. Percebe-se, assim, a relevância do princípio do equilíbrio
das prestações para a garantia da comutatividade, que se associa à função contratual e cuja preservação,
por isso mesmo, torna-se imperativo da boa-fé objetiva. (…)”. TEPEDINO, Gustavo. Hermenêutica contratual
no equilíbrio econômico dos contratos, p. 461-462. In: TEPEDINO, Gustavo. Soluções práticas de Direito:
relações obrigacionais e contratos. São Paulo: RT, 2012. v. 2. p. 451-472.
68
Alude a literatura jurídica: “Cumpre, desde logo, afastar certas confusões que têm contribuído para a
diminuta aplicação do princípio do equilíbrio contratual no direito brasileiro. Não se trata, em primeiro
lugar, de um mecanismo de redistribuição de riquezas que permita ao intérprete reordenar, de acordo
com a sua própria concepção de justiça, as transferências patrimoniais que integram o contrato (…) Não
se trata tampouco de reequilibrar posições subjetivas dos contratantes, concedendo-se ao intérprete a
discricionariedade para majorar ou reduzir vantagens asseguradas no contrato com o escopo de compensar
situações de desvantagem em que as partes possam se inserir, por características próprias que trazem
consigo, como suas inaptidões pessoais ou vulnerabilidade (…) Trata-se de um princípio aplicável a todo
e qualquer contrato, ancorado na contínua avaliação de merecimento de tutela do seu objeto, desde o
nascimento até a extinção da relação contratual”. SCHREIBER, Anderson. Equilíbrio contratual e dever de
renegociar. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 52-54.
R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020 195
Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
69
Afirma a literatura jurídica: “Do ponto de vista técnico, pode-se enunciar o equilíbrio contratual como princípio
que objetiva garantir a equivalência entre as prestações assumidas pelos contratantes, preservando
a correspectividade ou o sinalagma pactuado no decorrer da inteira execução do contrato, de modo a
satisfazer os interesses pretendidos por ambos os contratantes com o negócio. A equivalência não quer
significar correspondência objetiva de valores, mas a correspectividade entre as prestações que satisfaz os
interesses concretos das partes contratantes. Por outras palavras, o princípio do equilíbrio contratual tem
por escopo preservar a equação econômica entre as prestações, estabelecida pela autonomia privada a
partir dos mecanismos de alocação de riscos. O respeito à repartição de riscos efetuada pelos contratantes,
em uma palavra, preserva o equilíbrio contratual, desde que essa alocação de riscos observe os demais
valores e princípios que integram o sistema jurídico – complexo e unitário. (…) No âmbito dos mecanismos
de alocação de riscos, como visto, as partes distribuem os riscos econômicos previsíveis a partir das
cláusulas contratuais, efetuando a gestão positiva da álea normal. Tal alocação de riscos, identificada
a partir da vontade declarada pelos contratantes, define, portanto, o equilíbrio econômico do negócio.
Essa equação econômica, que fundamenta o sinalagma ou a correspectividade entre as prestações, há
de ser respeitada no decorrer de toda a execução contratual, em observância aos princípios do equilíbrio
econômico e da obrigatoriedade dos pactos”. BANDEIRA, Paula Greco. Contratos incompletos. São Paulo:
Atlas, 2015. p. 174-175.
70
Assevera a literatura jurídica: “A revisão judicial do contrato deve reestabelecer o contrato em uma dimensão
sinalagmática tal que, se existisse ao momento da execução do ajuste, não permitiria à parte onerada
demandar a resolução ou a revisão do ajuste”. DIAS, Antônio Pedro Medeiro. Revisão e resolução por
excessiva onerosidade. Belo Horizonte: Fórum, 2017. p. 187.
71
A literatura jurídica aponta: “O que interessa é que a equação económica do negócio, tal como foi querida
pelas partes, seja quebrada. Parte-se do princípio que a desproporção entre vantagens e sacrifícios foi
livremente querida, dentro do exercício normal da autonomia privada. Mas é esse equilíbrio voluntário que
pode ser posto em causa por alteração anormal; é nesse caso que a base do negócio é rompida. (…) A
revisão a que se procede no âmbito da alteração das circunstâncias não é inimiga da autonomia privada
e do poder auto-vinculativo da vontade. A autonomia não sai diminuída: sai pelo contrário dignificada. A
metamorfose em curso neste sector leva a que se consagre uma autonomia concreta e não uma autonomia
vazia. Respeita-se o que as partes quiseram, nas circunstâncias em que se encontravam. Havendo uma
proporção ou equilíbrio que as partes estabeleceram entre si, é essa equação que deve ser determinante.
É essa que é necessário antes de mais preservar. Até mesmo onde houver um elemento de liberalidade, ou
um desequilíbrio livre e conscientemente aceite, continua a ser essa proporção a base da vinculatividade
do negócio. Em caso de alteração das circunstâncias a preservação do negócio consiste na preservação
desse posicionamento recíproco básico. Haverá que recompor o equilíbrio substancial que as partes
pretenderam, e não insistir em poderes ou vinculações que deixaram de se justificar”. ASCENSÃO, José
de Oliveira. Alteração das circunstâncias e justiça contratual no novo código civil. In: DELGADO, Mário Luiz;
ALVES, Jones Figueirêdo Alves (Coord.). Novo Código Civil: questões controvertidas. São Paulo: Método,
2004. v. 2. p. 167-190, p. 176 e 190. (Série Grandes Temas de Direito Privado).
72
“Quando se passa, todavia, a uma abordagem centrada sobre o desequilíbrio (…) a alteração superveniente
passa a ser vista como algo inerente às relações contratuais que se prolongam o tempo (…) Nesse
novo cenário, a resolução torna-se não apenas um remédio excessivamente drástico ou uma resposta
196 R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020
Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros...
desproporcional a uma alteração normal em virtude do decurso do tempo, mas também uma consequência
injustificável à luz da teoria geral do contrato (…) Em uma abordagem que não encara a alteração
superveniente como ‘corpo estranho’ à relação contratual, desprotegido pelo manto legitimador do acordo de
vontades originário, e não se dirige a uma reconstrução artificiosa desse acordo à luz do novo cenário, mas
pretende, tão somente, manter a proporcionalidade econômica do contrato ao longo do tempo, a resolução
perde espaço, assumindo caráter preferencial o remédio da revisão judicial, que permite a manutenção da
relação contratual, com a correção apenas aquilo que a torna desproporcional”. SCHREIBER, Anderson.
Equilíbrio contratual e dever de renegociar. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 251-252.
73
Nesse sentido, na III Jornada de Direito Civil aprovou-se o Enunciado 176: “Em atenção ao princípio da
conservação dos negócios jurídicos, o art. 478 do Código Civil de 2002 deverá conduzir, sempre que
possível, à revisão judicial dos contratos e não à resolução contratual”.
74
TEPEDINO, Gustavo; CAVALCANTI, Laís. Notas sobre as alterações promovidas pela Lei nº 13.874/2019
nos artigos 50, 113 e 421 do Código Civil. In: SALOMÃO, Luis Felipe; CUEVA, Ricardo Villas Bôas; FRAZÃO,
Ana. (Coord.). Lei de Liberdade Econômica e seus impactos no Direito Brasileiro. São Paulo: RT, 2020.
E-book.
R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020 197
Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
75
SCHREIBER, Anderson. Manual de direito civil contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 493-494.
76
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. v. 3. p. 218.
198 R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020
Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros...
77
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. v. 3. p. 219.
78
SIMÃO, José Fernando. Art. 317. In: TARTUCE, Flávio; DELGADO, Mário; MELO, Marco Aurélio Bezerra de;
SCHREIBER, Anderson. Código Civil comentado. Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 182.
79
LEONARDO, Rodrigo Xavier; RODRIGUES JR., Otavio Luiz; PRADO, Augusto Cesar Lukascheck. A liberdade
contratual e a função social do contrato – art. 421-A do Código Civil. In: LEONARDO, Rodrigo Xavier;
RODRIGUES JR., Otavio Luiz; MARQUES NETO, F. P. (Org.). Comentários à Lei da Liberdade Econômica.
São Paulo: RT, 2019. p. 309-325, p. 324.
R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020 199
Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
80
SCHREIBER, Anderson. Manual de direito civil contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 497-498.
200 R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 167-203, jan./abr. 2020
Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 nos contratos empresariais brasileiros...
A quebra desse dever – seja pelo silêncio, pela sua recusa, pela sua
ruptura ou pela ausência de comunicação imediata da intenção de
renegociar – configuraria a violação positiva do contrato, gerando
a responsabilidade civil do violador, segundo propõe o doutrinador.
Acrescente-se que se pode falar, ainda, em desrespeito à eficácia
interna da função social do contrato, mais uma vez na perspectiva
de conservação do negócio jurídico (Enunciado n. 22 da I Jornada
de Direito Civil). Eis uma tese que deve ser debatida nos âmbitos
doutrinário e jurisprudencial nos próximos anos, tendo o meu apoio
integral.81
4 Conclusão
Ante o exposto, a síntese dos fundamentos deste parecer é:
1 – A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o surto da doença
causada pelo novo coronavírus (COVID-19) – doença respiratória nova, cuja trans-
missão ocorre principalmente de pessoa a pessoa – constitui uma Emergência
de Saúde Pública de Importância Internacional – o mais alto nível de alerta da
Organização, conforme previsto no Regulamento Sanitário Internacional.
2 – É indiscutível que a pandemia de COVID-19 produz efeitos na saúde
pública, na sociedade, na economia de cada país, o que não é diferente no Brasil.
81
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. v. 3. p. 225.
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Pablo Malheiros da Cunha Frota, Wesley Bento
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JURISPRUDÊNCIA
Recurso Especial – Ação de compensação de dano moral –
Banco de dados – Compartilhamento de informações pessoais
– Dever de informação – Violação – Dano moral in re ipsa
EMENTA
Recurso Especial. Fundamento não impugnado. Súmula nº 283/STF. Ação de compensação de dano
moral. Banco de dados. Compartilhamento de informações pessoais. Dever de informação. Violação.
Dano moral in re ipsa. Julgamento: CPC/15.
1. Ação de compensação de dano moral ajuizada em 10/05/2013, da qual foi extraído o presente
recurso especial, interposto em 29/04/2016 e atribuído ao gabinete em 31/01/2017.
2. O propósito recursal é dizer sobre: (i) a ocorrência de inovação recursal nas razões da apelação
interposta pelo recorrido; (ii) a caracterização do dano moral em decorrência da disponibilização/
comercialização de dados pessoais do recorrido em banco de dados mantido pela recorrente.
3. A existência de fundamento não impugnado – quando suficiente para a manutenção das conclusões
do acórdão recorrido – impede a apreciação do recurso especial (súm. 283/STF).
4. A hipótese dos autos é distinta daquela tratada no julgamento do REsp 1.419.697/RS (julgado em
12/11/2014, pela sistemática dos recursos repetitivos, DJe de 17/11/2014), em que a Segunda
Seção decidiu que, no sistema credit scoring, não se pode exigir o prévio e expresso consentimento do
consumidor avaliado, pois não constitui um cadastro ou banco de dados, mas um modelo estatístico.
5. A gestão do banco de dados impõe a estrita observância das exigências contidas nas respectivas
normas de regência – CDC e Lei 12.414/2011 – dentre as quais se destaca o dever de informação,
que tem como uma de suas vertentes o dever de comunicar por escrito ao consumidor a abertura de
cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo, quando não solicitada por ele.
6. O consumidor tem o direito de tomar conhecimento de que informações a seu respeito estão
sendo arquivadas/comercializadas por terceiro, sem a sua autorização, porque desse direito decor-
rem outros dois que lhe são assegurados pelo ordenamento jurídico: o direito de acesso aos dados
armazenados e o direito à retificação das informações incorretas.
7. A inobservância dos deveres associados ao tratamento (que inclui a coleta, o armazenamento e
a transferência a terceiros) dos dados do consumidor – dentre os quais se inclui o dever de infor-
mar – faz nascer para este a pretensão de indenização pelos danos causados e a de fazer cessar,
imediatamente, a ofensa aos direitos da personalidade.
8. Em se tratando de compartilhamento das informações do consumidor pelos bancos de dados,
prática essa autorizada pela Lei 12.414/2011 em seus arts. 4º, III, e 9º, deve ser observado o
disposto no art. 5º, V, da Lei 12.414/2011, o qual prevê o direito do cadastrado ser informado
previamente sobre a identidade do gestor e sobre o armazenamento e o objetivo do tratamento dos
dados pessoais
9. O fato, por si só, de se tratarem de dados usualmente fornecidos pelos próprios consumidores
quando da realização de qualquer compra no comércio, não afasta a responsabilidade do gestor do
banco de dados, na medida em que, quando o consumidor o faz não está, implícita e automatica-
mente, autorizando o comerciante a divulgá-los no mercado; está apenas cumprindo as condições
necessárias à concretização do respectivo negócio jurídico entabulado apenas entre as duas partes,
confiando ao fornecedor a proteção de suas informações pessoais.
10. Do mesmo modo, o fato de alguém publicar em rede social uma informação de caráter pessoal
não implica o consentimento, aos usuários que acessam o conteúdo, de utilização de seus dados
para qualquer outra finalidade, ainda mais com fins lucrativos.
11. Hipótese em que se configura o dano moral in re ipsa.
12. Em virtude do exame do mérito, por meio do qual foram rejeitadas as teses sustentada pela
recorrente, fica prejudicada a análise da divergência jurisprudencial.
R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 207-215, jan./abr. 2020 207
Superior Tribunal de Justiça
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior
Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por
unanimidade, conhecer em parte do recurso especial e, nesta parte, negar-lhe provimento, nos termos
do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas
Cueva, Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Brasília (DF), 12 de novembro de 2019 (Data do Julgamento).
RELATÓRIO
208 R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 207-215, jan./abr. 2020
Recurso Especial nº 1.758.799/MG
VOTO
No que tange à alegada inovação recursal, a recorrente não impugnou o fundamento utilizado
pelo TJ/MG de que, “embora o apelante não tenha sustentado a aplicabilidade das disposições do
Código de Defesa do Consumidor, não há óbice para a apreciação da matéria sob este enfoque, por
este egrégio Tribunal de Justiça, em atenção ao princípio de que o juiz conhece a lei” (fl. 426, e-STJ).
Aplica-se, na hipótese, a Súmula 283/STF.
Inicialmente, faz-se necessário distinguir a hipótese dos autos daquela tratada no julgamento
do REsp 1.419.697/RS (julgado em 12/11/2014, pela sistemática dos recursos repetitivos, DJe de
17/11/2014), cujo acórdão está ementado nestes termos:
R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 207-215, jan./abr. 2020 209
Superior Tribunal de Justiça
Na ocasião daquele julgamento, explicou o eminente Relator, Ministro Paulo de Tarso Sanseverino,
no voto condutor do acórdão, que o sistema credit scoring “não se trata de um cadastro ou banco
de dados de consumidores, mas de uma metodologia de cálculo do risco de crédito, utilizando-se de
modelos estatísticos e dos dados existentes no mercado acessíveis via ‘internet’“, e que “constitui,
em síntese, uma fórmula matemática ou uma ferramenta estatística para avaliação do risco de
concessão do crédito”.
A partir dessa premissa, concluiu Sua Excelência que “não se pode exigir o prévio e expresso
consentimento do consumidor avaliado, pois não constitui um cadastro ou banco de dados, mas um
modelo estatístico”.
No particular, a PROCOB S/A afirma que “não faz negativação, sendo apenas uma fonte de
validação cadastral que visa evitar a ocorrência de fraudes a partir do confronto das informações
prestadas pelo consumidor ao comerciante e as informações disponibilizadas no banco de dados”,
bem como que “possui um sistema de banco de dados meramente cadastrais, que é alimentado por
dados pessoais, tais como nome, endereço, data de nascimento, signo, etc” (fls. 489-490, e-STJ).
Infere-se, portanto, que a tese firmada no julgamento do REsp 1.419.697/RS (tema 710) não
se aplica à hipótese dos autos.
Nos termos do art. 2º, I e II, da Lei 12.414/2011, considera-se banco de dados o conjunto de
dados relativo à pessoa natural ou jurídica, armazenados com a finalidade de subsidiar a concessão
de crédito, a realização de venda a prazo ou de outras transações comerciais e empresariais que
impliquem risco financeiro; é administrado pelo gestor, a quem a lei autoriza a coleta, o armazenamento,
a análise e a concessão de acesso a terceiros dos dados armazenados.
De fato, as informações sobre o perfil do consumidor, mesmo as de cunho pessoal, ganharam
valor econômico no mercado de consumo e, por isso, o banco de dados constitui serviço de grande
210 R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 207-215, jan./abr. 2020
Recurso Especial nº 1.758.799/MG
utilidade, seja para o fornecedor, seja para o consumidor, mas, ao mesmo tempo, atividade potencialmente
ofensiva a direitos da personalidade deste.
É o que bem adverte o Ministro Herman Benjamin, ao tratar das condições de utilização dos
arquivos de consumo:
Não é qualquer pessoa que pode ter acesso às informações arquivadas sobre o
consumidor. Os arquivos de consumo só se justificam quando destinados a servir ao bom
funcionamento da sociedade de consumo. Não são instrumento de bisbilhotice da vida
alheia. Têm uma função econômica e só esta.
As informações dos arquivos de consumo só podem ser prestadas uma vez
preenchidas duas condições: uma solicitação individual decorrente de uma necessidade
de consumo. Fora disso, qualquer utilização implicará mau uso, sujeitando os infratores
(o que dá e o que recebe) às sanções próprias contra a invasão de privacidade. (Código
de Defesa do Direito do Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. Rio de
janeiro: Forense Universitária, 1998. p. 330 – grifou-se)
Nessa toada, a gestão do banco de dados impõe a estrita observância das respectivas normas
de regência – CDC e Lei 12.414/2011 – como leciona Leonardo Roscoe Bessa:
Art. 4º O gestor está autorizado, nas condições estabelecidas nesta Lei, a: (Redação
dada pela Lei Complementar nº 166, de 2019) (Vigência)
I - abrir cadastro em banco de dados com informações de adimplemento de pessoas
naturais e jurídicas; (Incluído pela Lei Complementar nº 166, de 2019)
II - fazer anotações no cadastro de que trata o inciso I do caput deste artigo; (Incluído
pela Lei Complementar nº 166, de 2019) (Vigência)
III - compartilhar as informações cadastrais e de adimplemento armazenadas com outros
bancos de dados; e (Incluído pela Lei Complementar nº 166, de 2019)
IV - disponibilizar a consulentes: (Incluído pela Lei Complementar nº 166, de 2019)
R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 207-215, jan./abr. 2020 211
Superior Tribunal de Justiça
Embora o novo texto da Lei 12.414/2011 se mostre menos rigoroso, no que diz respeito ao
cumprimento do dever de informar ao consumidor sobre o seu cadastro – já que a redação originária
exigia autorização prévia mediante consentimento informado por meio de assinatura em instrumento
específico ou em cláusula apartada –, o legislador não desincumbiu o gestor e/ou a fonte de proceder
à efetiva comunicação.
A propósito, o STJ, há muito, firmou a tese de que “a ausência de prévia comunicação ao
consumidor da inscrição do seu nome em cadastros de proteção ao crédito, prevista no art. 43, §2º do
CDC, enseja o direito à compensação por danos morais, salvo quando preexista inscrição desabonadora
regularmente realizada” (tema 41, súmula 385/STJ).
Essa orientação jurisprudencial, construída sob a enfoque do registro de informações negativas
sobre o consumidor, tem incidência também para o registro de informações positivas sobre o consumidor,
com base no que prevê o §2º do art. 43 do CDC, observadas as especificidades do art. 4º da Lei
12.414/2011.
Isso porque, em qualquer das circunstâncias, tem o consumidor o direito de tomar conhecimento
de que informações a seu respeito estão sendo arquivadas/comercializadas por terceiro, sem a sua
autorização, porque desse direito decorrem outros dois que lhe são assegurados pelo ordenamento
jurídico: o direito de acesso aos dados armazenados e o direito à retificação das informações incorretas.
Oportunas, mais uma vez, as palavras de Leonardo Roscoe Bessa:
212 R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 207-215, jan./abr. 2020
Recurso Especial nº 1.758.799/MG
Assim, a inobservância de qualquer dos deveres associados ao tratamento (que inclui a coleta,
o armazenamento e a transferência a terceiros) dos dados do consumidor – dentre os quais se inclui
o dever de informar – faz nascer para este a pretensão de indenização pelos danos causados e a de
fazer cessar, imediatamente, a ofensa aos direitos da personalidade.
Na espécie, os serviços oferecidos pela recorrente são assim descritos em suas razões:
R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 207-215, jan./abr. 2020 213
Superior Tribunal de Justiça
Assim, forçoso reconhecer que a recorrente descumpriu o seu dever de informar ao recorrido
sobre a abertura do cadastro e o compartilhamento dos seus dados, obstando-lhe, por conseguinte, o
acesso ao conteúdo das informações pessoais armazenadas e a sua eventual retificação.
A título de esclarecimento, cabe também ressaltar que, em sua página eletrônica, encontram-se
as seguintes informações relativas a um dos serviços prestados pela recorrente, denominado “know
your customer – CPF/CNPJ completo”:
O QUE É
Relatório geral do documento informado, contendo informações de várias pesquisas
como: Dados Pessoais, Endereço, Telefones (fixo, celular, comercial e outros), E-mails,
Situação na Receita Federal, Geomarketing, Possíveis parentes, Residentes no mesmo
endereço, Vizinhos dos endereços pesquisados.
A QUEM SE DESTINA?
Empresas que necessitam confirmar dados cadastrais e realizar análise de concessão
e recuperação de crédito.
FORMAS DE ACESSO?
Consulta Online (usuário/senha);
Via API https://api.procob.com/
COMO CONTRATAR?
CPF / CNPJ Completo
Com Mensalidade
R$ 0,20 por consulta
Com Anuidade
214 R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 207-215, jan./abr. 2020
Recurso Especial nº 1.758.799/MG
Como se vê, além de violar o dever de informação, o banco de dados mantido pela recorrente
faz anotações de informações excessivas – como as relativas aos possíveis parentes, aos residentes
no mesmo endereço, e aos vizinhos dos endereços pesquisados – as quais em nada contribuem para
a avaliação da situação econômica do cadastrado, como exige o §1º do art. 3º da Lei 12.414/2011,
e que, por isso, são expressamente proibidas pelo §3º, I, do mesmo dispositivo legal.
Convém salientar que o fato, por si só, de se tratarem de dados “usualmente fornecidos pelos
próprios consumidores quando da realização de qualquer compra no comércio, que não se afiguram
como os chamados dados sensíveis ou sigilosos” (fl. 496, e-STJ), como assegura a recorrente, não
afasta a sua responsabilidade.
Evidentemente, quando o consumidor fornece seus dados para a realização de uma compra
no comércio ele não está, implícita e automaticamente, autorizando o comerciante a divulgá-los no
mercado; está apenas cumprindo as condições necessárias à concretização do respectivo negócio
jurídico entabulado apenas entre as duas partes, confiando ao fornecedor a proteção de suas
informações pessoais.
Do mesmo modo, o fato de alguém publicar em rede social uma informação de caráter pessoal
não implica o consentimento, aos usuários que acessam o conteúdo, de utilização de seus dados para
qualquer outra finalidade, ainda mais com fins lucrativos.
Por todo o exposto, não merecem reparos os fundamentos do TJ/MG para reconhecer a
caracterização do dano moral; vejamos:
Assim, tenho que a conduta da apelada enseja indenização por danos morais,
considerando, sobretudo, o sentimento de insegurança experimentado pelo apelante ao
perceber que seus dados pessoais como número de telefone, CPF, endereço e filiação
se encontravam disponibilizados em banco de dados de fácil acesso por terceiros.
A conduta da apelada é no mínimo inconsequente na medida em que facilita o
acesso aos dados pessoais da pessoa cadastrada, sem o seu consentimento expresso,
o que favorece prática de atos ilícitos ou contratações fraudulentas por terceiros de
má-fé. A invasão de privacidade é flagrante. (fl. 432, e-STJ)
Configura-se, pois, a ocorrência de dano moral in re ipsa.
3. DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL
Em virtude do exame do mérito, por meio do qual foram rejeitadas as teses sustentadas pela
recorrente, fica prejudicada a análise da divergência jurisprudencial.
4. DA CONCLUSÃO
Forte nessas razões, CONHEÇO EM PARTE do recurso especial e, nessa extensão, NEGO-LHE
PROVIMENTO.
Deixo de majorar os honorários advocatícios porque arbitrados pelo Tribunal de origem no
percentual máximo previsto na lei.
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AGENDAS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL
Liberdade e família: uma proposta
para a privatização das relações
conjugais e convivenciais*
Sumário: 1 Introdução – 2 Liberdade e família – 3 Uma proposta para a privatização das relações
conjugais e convivenciais – 4 Limites e justificativas para e intervenção estatal – 5 Conclusão
1 Introdução
O Direito existe sempre “em sociedade”, isto é, as soluções jurídicas são
contingentes a determinado ambiente.1 A tradição de leitura e de reutilização
sucessiva dos textos, dos conceitos e das construções dogmáticas cria novos
conteúdos ou sentidos, em virtude da interação entre as figuras do texto e os
sucessivos contextos.2 Por isso, as normas jurídicas apenas podem ser entendidas
se estão integradas aos complexos normativos que organizam a vida social, pois
a própria produção do Direito é, ela mesma, um processo social.3
É na tomada de consciência pelo jurista que reside a importância dessa
contextualização, sendo um grave erro pensar “que, para todas as épocas e para
todos os tempos, haverá sempre os mesmos instrumentos jurídicos. É justamente o
oposto: cada lugar, em cada época, terá os seus próprios mecanismos”.4 Conceitos
como “liberdade”, “democracia”, “contrato” e “família” são conhecidos como
*
Anteriormente publicado em: MULTEDO, Renata Vilela. Liberdade e família: uma proposta para a privatização
das relações conjugais e convivenciais. In: EHRHARDT JÚNIOR, Marcos; LÔBO, Fabíola Albuquerque;
ANDRADE, Gustavo (Coord.). Direito das relações familiares contemporâneas: estudos em homenagem a
Paulo Luiz Netto Lôbo. Belo Horizonte: Fórum, 2019. p. 105-132. ISBN 978-85-450-0700-5.
As ideias deste artigo também foram desenvolvidas por esta autora no livro Liberdade e família: limites
para intervenção do Estado nas relações conjugais e parentais. Rio de Janeiro: Processo, 2017.
1
HESPANHA. A cultura jurídica europeia: síntese de um milênio. Coimbra: Almedina, 2012. p. 13.
2
HESPANHA. A cultura jurídica europeia, 2012. p. 51.
3
HESPANHA. A cultura jurídica europeia, 2012. p. 25-27.
4
PERLINGIERI, Pietro. Normas constitucionais nas relações privadas. Revista da Faculdade de Direito da
UERJ, n. 6 e 7, p. 63-64, 1998/1999.
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Renata Vilela Multedo
5
HESPANHA. A cultura jurídica europeia, 2012. p. 59.
6
“(…) patrimonium era a missão do pai: gerar e manter os bens de Roma no ager romanus (campo romano)
sem desvio algum. E matrimonium era a missão da mãe: gerar e criar na domus romana (casa romana),
também sem desvio algum, os futuros cidadãos e chefes das famílias e gentes romanas, herdeiros
das coisas romanas, a dar continuidade à civitas romana” (BARROS, Sérgio Resende de. Matrimônio e
patrimônio. Revista Brasileira de Direito de Família, Porto Alegre, v. 2, n. 8, p. 6-7, 2001).
7
COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. São Paulo: Martin Claret, 2002. p. 45-46.
8
MONTEIRO FILHO, Carlos Edison do Rêgo. Rumos cruzados do direito civil pós 1988 e do constitucionalismo
de hoje. In: TEPEDINO, Gustavo (Org.). Direito civil contemporâneo: novos problemas à luz da legalidade
constitucional. Anais do Congresso Internacional de Direito Civil-Constitucional da cidade do Rio de Janeiro.
São Paulo: Atlas, 2008. v. 1. p. 263.
9
PERLINGIERI, Pietro. O direito civil na legalidade constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 138.
10
BODIN DE MORAES, Maria Celina. A nova família, de novo: estruturas e funções das famílias contemporâneas.
Revista Pensar, Fortaleza, v. 18, n. 2, p. 587-628, maio/ago. 2013. p. 593.
11
Ver, por todos, BOBBIO, Norberto. Da estrutura à função: novos estudos de teoria do direito. São Paulo:
Manole, 2007. Na definição de Luiz Edson Fachin (2015, p. 49), “a travessia é a da preocupação sobre
como o direito é feito para a investigação a quem serve o direito”.
12
VILLELA, João Baptista. Repensando o direito de família. In: COUTO, Sérgio (Coord. Cient.). Nova realidade
do direito de família. Rio de Janeiro: COAD, SC Editora Jurídica, 1999. t. 2. p. 52-59.
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Liberdade e família: uma proposta para a privatização das relações conjugais e convivenciais
13
PERLINGIERI. O direito civil na legalidade constitucional, p. 972.
14
BOBBIO, Norberto. Da estrutura à função: novos estudos de teoria do direito. São Paulo: Manole, 2007.
p. 13.
15
BODIN DE MORAES, A nova família, de novo..., p. 591-593.
16
Art. 5º, X, da Constituição Federal de 1988.
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Renata Vilela Multedo
17
V., por todos, GIDDENS, Anthony. A terceira via: reflexões sobre o impasse político atual e o futuro da social-
democracia. Rio de Janeiro: Record, 2000 e A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo
nas sociedades modernas. São Paulo: UNESP, 1992. A expressão “família democrática” de Anthony
Giddens foi analisada no Brasil por Maria Celina Bodin de Moraes (A família democrática. In: BODIN DE
MORAES, Maria Celina. Na medida da pessoa humana: estudos de direito civil constitucional. Rio de
Janeiro: Renovar, 2010. p. 207-234).
18
TEPEDINO, Gustavo. Dilemas do afeto. Jota, 31 dez. 2015. Disponível em: https://jota.info/especiais/
dilemas-do-afeto-31122015. Acesso em: 18 jul. 2017.
19
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. União estável e casamento: o paradoxo da equiparação. 2016. Disponível
em: http://www.rodrigodacunha.adv.br/uniao-estavel-e-casamento-o-paradoxo-da-equiparacao/. Acesso
em: 30 mar. 2020..
20
PEREIRA, União estável e casamento..., [n.p.].
21
VILLELA, João Baptista. Repensando o direito de família. In: COUTO, Sérgio (Coord. Cient.). Nova realidade
do direito de família. Rio de Janeiro: COAD, SC Editora Jurídica, 1999. t. 2. p. 52-59. Ora tb. em: jfgontijo.
com.br/2008/artigos_pdf/Joao_Baptista_Villela/RepensandoDireito.pdf. Acesso em: 03 dez. 2016.
22
VILLELA, Repensando o direito de família, 1999. p. 52-59.
23
VILLELA, Repensando o direito de família, 1999. p. 52-59.
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Liberdade e família: uma proposta para a privatização das relações conjugais e convivenciais
24
VILELA MULTEDO, Renata; BODIN DE MORAES, Maria Celina. A privatização do casamento. Civilistica.
com, Rio de Janeiro, ano 5, n. 2, 2016. Disponível em: http://civilistica.com/a-privatizacaodo-casamento/.
Acesso em: 05 jul. 2017.
25
LÔBO, Paulo. Estado laico é conquista de todos e das famílias. Revista Consultor Jurídico, 06, dez. 2015.
Disponível em: http://www.conjur.com.br/ 2015-dez-06/processo-familiar-estado-laico-conquista-todos-
familias. Acesso em: 13 jul. 2016.
26
BODIN DE MORAES, Maria Celina. A nova família, de novo: estruturas e função das famílias contemporâneas.
Revista Pensar, v. 18, n. 2, p. 587-628, maio/ago. 2013.
27
De modo que, por exemplo, a união estável entre irmãos é de ser considerada nula e não geradora de
efeitos jurídicos para o casal.
28
VILELA MULTEDO, Renata; BODIN DE MORAES, Maria Celina. A privatização do casamento. Civilistica.
com, Rio de Janeiro, ano 5, n. 2, 2016. Disponível em: http://civilistica.com/a-privatizacaodo-casamento/.
Acesso em: 5 jul. 2017.
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Renata Vilela Multedo
2 Liberdade e família
O Direito de Família positivado fotografa instantes de uma realidade mutante.29
Se é assim, só é possível ver as entidades familiares previstas em lei como
exemplificativas, admitindo-se a liberdade das pessoas de constituírem o modelo
de família que melhor corresponde a seus anseios. Uma vez engajados por ato de
autonomia, um se torna responsável pela construção do outro: conviver e escolher
permanecer juntos, em expressão da liberdade, origina a solidariedade, pois faz
do outro algo especial a ser cuidado.30
A família recuperou sua função e rompeu com os obstáculos em sua vasta
casuística, por meio da solidariedade que emerge nas relações familiares. É grupo
unido por desejos e laços afetivos, em comunhão de vida, e passa a exigir uma
“tutela jurídica mínima, que respeite a liberdade de constituição, convivência e
dissolução; a autorresponsabilidade; a igualdade irrestrita de direitos, embora com
reconhecimento das diferenças naturais e culturais entre os gêneros”;31 a igualdade
entre cônjuges e conviventes; igualdade entre irmãos biológicos, socioafetivos
e adotivos; com respeito aos direitos fundamentais, fundada na solidariedade
recíproca, que deve ser protegida acima de quaisquer interesses patrimoniais.
Com a Constituição de 1988, o Estado inimigo das minorias, protagonista da
repressão e da imposição da moral dominante, como se fosse a única legítima,
cedeu passo ao Estado solidário, agente da tolerância e da inclusão social.32
Inaugurou-se uma nova fase do Direito de Família, baseado na adoção de um
pluralismo familiar em que arranjos multifacetados são igualmente aptos a constituir
família, recebendo todos eles a especial proteção do Estado. Por isso, não há
que se negar o casamento para as famílias que por ele quiserem optar, se esta
recusa for baseada em razões discriminatórias, tal qual foi durante tanto tempo
com as homoafetivas.
A família transcendeu do modelo de uma rígida organização autoritária para
tornar-se uma forma de convivência solidária na qual se desenvolve, de modo livre,
a personalidade humana.33 Desse modo, a liberdade de se casar convive, é claro,
com o espelho invertido da mesma liberdade, a de não permanecer casado.34 O
29
FACHIN, Luiz Edson. Direito de família: elementos críticos à luz do novo Código Civil brasileiro. Rio de
Janeiro: Renovar, 2003. p. 55.
30
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; RODRIGUES, Renata de Lima. O direito das famílias entre a norma e a
realidade. São Paulo: Atlas, 2010. p. 97.
31
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Constitucionalização do direito civil. Revista de Informação Legislativa, Brasília,
v. 36, n. 141, p. 99-100, jan./mar. 1999.
32
BARROSO, Luís Roberto. Diferentes, mas iguais: o reconhecimento jurídico das relações homoafetivas no
Brasil. Revista Brasileira de Direito Constitucional – RBDC, n. 17, p. 105-138, jan./jun. 2011. p. 113.
33
BIANCA, Cesare Massimo. Famiglia: Diritto. Disponível em: http://www.treccani.it/enciclopedia/
famiglia_%28Enciclopedia_delle_scienze_sociali%29/. Acesso em: 13 de jan. 2016.
34
FACHIN, Direito de família..., p. 169.
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Liberdade e família: uma proposta para a privatização das relações conjugais e convivenciais
35
Em tradução livre: “A licença conferida pelo Estado era uma forma de garantir que a atividade sexual não
seria um crime; além do que era difícil adotar crianças fora da relação conjugal. Mas o casamento oficial
já não tem essa função. Na verdade, as pessoas agora têm o direito constitucionalmente garantido de ter
relações sexuais mesmo se não forem casadas – e de se tornarem pais, inclusive pais adotivos, sem o
auxílio do casamento. Agora que o casamento não é uma condição jurídica, nem para se fazer sexo nem
para se ter filhos, o papel de licenciamento do Estado parece menos importante” (Nudge, Cap. Privatizing
Marriage. SUNSTEIN, Cass R.; THALER, Richard H. Nudge: improving decisions about health, wealth and
happiness. New Haven, CT: Yale University Press, New Haven, 2008a. p. 219).
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36
RUZYK, Carlos Eduardo Pianovski. Institutos fundamentais do direito civil e liberdade(s): repensando a
dimensão funcional do contrato, da propriedade e da família. Rio de Janeiro: GZ, 2011. p. 318.
37
RUZYK, Institutos fundamentais do direito civil e liberdade(s)..., p. 322.
38
RUZYK, Institutos fundamentais do direito civil e liberdade(s)..., p. 325.
39
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito civil: famílias. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 172.
40
Da mesma forma entendem: SCHREIBER, Anderson. Famílias simultâneas e redes familiares. In: SCHREIBER,
Anderson. Direito civil e Constituição. São Paulo: Atlas, 2013. p. 300; NAMUR, Samir. Autonomia privada
para a constituição da família. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014. p. 164-166.
41
FACHIN, Luiz Edson. Famílias: entre o Público e o Privado. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Org.). Família:
entre o Público e o Privado. Porto Alegre: Magister/IBDFAM, 2012. p. 162.
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Liberdade e família: uma proposta para a privatização das relações conjugais e convivenciais
42
TEPEDINO, Gustavo. Contratos em direito de família. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Org.). Tratado de
direito das famílias. Belo Horizonte: IBDFAM, 2015. p. 476.
43
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; KONDER, Carlos Nelson. Situações jurídicas dúplices: controvérsias na
nebulosa fronteira entre patrimonialidade e extrapatrimonialidade. In: TEPEDINO, Gustavo; FACHIN, Luiz
Edson (Org.). Diálogos sobre direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2012, v. 3. p. 14-15.
44
TEIXEIRA; KONDER, Situações jurídicas dúplices..., p. 15.
45
TEIXEIRA; KONDER, Situações jurídicas dúplices..., p. 15.
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Renata Vilela Multedo
46
“A expressão direito de família mínimo é colhida do direito penal, seara na qual se presencia fenômeno
semelhante, propugnando-se um direito penal mínimo, uma vez que o Estado somente deve utilizar o
direito penal para tutelar os bens mais caros à sociedade (fragmentaridade) e como extrema ou última ratio
(intervenção mínima propriamente dita), quando insuficiente a tutela promovida por outros instrumentos
sociais, como a família, a coletividade, o direito administrativo, o direito civil etc.” (ALVES, Leonardo Barreto
Moreira. Direito de família mínimo: a possibilidade de aplicação e o campo de incidência da autonomia
privada no direito de família. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. p. 144).
47
Assinala Marília Xavier que as questões ligadas à família figuram como a terceira causa que motiva o
cidadão brasileiro a buscar o Poder Judiciário. Lamentavelmente, destaca que ainda há em nosso país
uma cultura de submeter ao crivo do Poder Judiciário o deslinde desses casos, embora a vivência dos
profissionais militantes na área revele que a eleição dessa via nem sempre será o melhor caminho.
(Disponível em: http://virtualbib.fgv.br/dspace/bitstream/handle/ 10438/7727/RelICJBrasil3tri2010%.
Acesso em: 15 dez. 2015). (XAVIER, Marília Pedroso. Contrato de namoro: amor líquido e direito de família
mínimo. 2011. 128 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade Federal do
Paraná, Curitiba, 2011. p. 60).
48
“Código Civil, art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão
de vida instituída pela família”.
49
CARBONERA, Silvana Maria. Reserva de intimidade: uma possível tutela da dignidade no espaço relacional
da conjugalidade. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 268-269.
50
Nesse sentido é artigo de opinião de Stephanie Coontz, publicado no New York Times, intitulado “Taking
Marriage Private”. Disponível em: http://www.nytimes.com/2007/11/26/opinion/26coontz.html?_r=3
&em&ex=1196226000&en=5e70532fce256fe0&ei=5087%0A&oref=slogin &. Acesso em: 20 set. 2015.
51
SUNSTEIN, Cass R.; THALER, Richard H. Privatizing Marriage. The Monist, v. 91, n. 3 & 4, p. 377-387, July/Oct.
2008b. Disponível em: http://secure.pdcnet.org/monist/content/monist_ 2008_0091_0003m_0377_0387.
Acesso em: 20 set. 2016.
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Liberdade e família: uma proposta para a privatização das relações conjugais e convivenciais
52
SÊCO, Thaís. A autonomia da criança e do adolescente e suas fronteiras: capacidade, família e direitos
da personalidade. 2013. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2013. p. 76.
53
DALSENTER, Thamis. Autonomia existencial na legalidade constitucional: critérios para interpretação da cláusula
geral de bons costumes no Código Civil brasileiro. 2015. Tese (Doutorado) – Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, UERJ, Rio de Janeiro, 2015. p. 64-65.
54
Macario Alemany define que haverá uma intervenção paternalista quando dois requisitos estiverem presentes:
(i) A exerce poder sobre B; (ii) esse poder de A é exercido com o propósito de evitar que B pratique ações
(ou deixe de praticar) que causem danos a si mesmo ou representem um aumento de risco de dano. Por
esse raciocínio, seria possível afirmar a intervenção como decorrente do paternalismo jurídico se o exercício
de poder de A sobre B for respaldado pelo Direito, ou seja, se A tem poderes jurídicos para determinar, por
si, modificações na situação jurídica de B (mesmo que B não queira). (ALEMANY, Macario Garcia. El paternalismo
jurídico. Madrid: Iustel, 2006). Nesse sentido, ver também SILVA, Denis Franco. O princípio da autonomia:
da invenção à reconstrução. In: BODIN DE MORAES, Maria Celina (Coord.). Princípios do direito civil
contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 152.
55
SÊCO, A autonomia da criança e do adolescente e suas fronteiras..., p. 76.
56
Os conceitos de “soft paternalism” e de “hard paternalism” foram desenvolvidos pelo filósofo Joel
Feinberg no livro Harm to Self (FEINBERG, Joel. Harm to Self. Oxford: Oxford University Press, 1986). Para
uma didática classificação das modalidades de paternalismo, v. SCHRAMM, Fermim. A autonomia difícil.
Bioética, Brasília, v. 6, n. 1, p. 27-37, 1998. Gerald Dworkin classifica o paternalismo em “pure” and
“impure”: “In ‘pure’ paternalism the class of persons whose freedom is restricted is identical with the
class of persons whose benefit is intended to be promoted by such restrictions. In the case of ‘impure’
paternalism in trying to protect the welfare of a class of persons we find that the only way to do so will
involve restricting the freedom of other persons besides those who are benefited” (DWORKIN, Gerald.
Paternalism. In: SARTORIUS, Rolf. Paternalism. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1983. p. 22).
57
A concepção de John Stuart Mill sobre a liberdade estabelece que é legítimo instituir obrigatoriedade de
comportamentos somente para a proteção de terceiros, nunca para a proteção do próprio indivíduo. V.
MILL, John Stuart. A liberdade: utilitarismo. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 17-18.
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58
Ver por todos SUNSTEIN, Cass R.; THALER, Richard H. Libertarian Paternalism is not an Oxymoron. Civilistica.
com – Revista eletrônica de direito civil, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, 2015. Disponível em: http://civilistica.
com/libertarian-paternalism-is-not-an-oxymoron. Acesso em: 5 jan. 2017.
59
SUNSTEIN; THALER, Libertarian Paternalism is not an Oxymoron.
60
SUNSTEIN; THALER, Libertarian Paternalism is not an Oxymoron, p. 3-4.
61
Por meio de um sistema denominado opt-out, através do qual se presume que todas as pessoas estão
incluídas naquela regra, a não ser que se manifestem expressamente em contrário (SUNSTEIN; THALER,
Libertarian Paternalism is not an Oxymoron, p. 4).
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Liberdade e família: uma proposta para a privatização das relações conjugais e convivenciais
62
SUNSTEIN; THALER, Libertarian Paternalism is not an Oxymoron, p. 5.
63
SUNSTEIN; THALER, Libertarian Paternalism is not an Oxymoron, p. 5.
64
“Em suma: quando as pessoas se casam, elas recebem não apenas benefícios materiais, mas também
uma espécie de legitimidade oficial, um selo de aprovação por parte do Estado”. (SUNSTEIN; THALER.
Nudge…, p. 220).
65
SUNSTEIN; THALER. Nudge…, p. 215-224.
66
SUNSTEIN; THALER. Nudge..., p. 215-226.
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Renata Vilela Multedo
67
Os autores fazem uma ressalva expressa de que não pretendem adentrar na questão do poliamor.
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Liberdade e família: uma proposta para a privatização das relações conjugais e convivenciais
68
Como é o caso da Lei Maria da Penha ou dos estatutos protetivos, como o Estatuto da Criança e do
Adolescente e o Estatuto do Idoso.
69
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; RODRIGUES, Renata de Lima. O direito das famílias: entre a norma e a
realidade. São Paulo: Atlas, 2010. p. 91.
70
“Mas, ao mesmo tempo em que é necessária a configuração de um ‘Estado ausente’, permitindo que as pessoas
constituam suas relações segundo uma liberdade vivida, é igualmente necessário que determinados
direitos sejam tutelados pela presente intervenção do ente estatal, mormente em face daqueles que se
encontram mais vulneráveis e desamparados” (FACHIN, Famílias: entre o Público e o Privado, 2012. p.
164).
71
FACHIN, Famílias..., p. 162.
72
“Esta ideia de igualdade dos dois parceiros da relação aliada com a privatização do amor e com o
enfraquecimento das referências externas dadas ao casal por outros ordenamentos tradicionais – a
religião, os costumes, a vizinhança – têm produzido a diminuição do conteúdo imperativo do casamento,
do conjunto dos chamados efeitos pessoais do casamento, tal como estávamos habituados a entendê-los”
(OLIVEIRA, Guilherme de. Temas de direito de família. 2. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2001. p. 338).
73
SUNSTEIN; THALER, Nudge..., p. 215-226.
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Renata Vilela Multedo
74
NEVARES, Ana Luiza Maia. A tutela sucessória do cônjuge do companheiro na legalidade constitucional.
2. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 161-162.
234 R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 219-241, jan./abr. 2020
Liberdade e família: uma proposta para a privatização das relações conjugais e convivenciais
75
Conforme registrado no censo realizado em 2010, “o tipo de união conjugal que mais cresceu no período
intercensitário foram as uniões consensuais. Esse crescimento se deu em todas as Unidades da Federação
com diferentes intensidades, evidenciando uma mudança de valores culturais” (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Demográfico 2010: nupcialidade, fecundidade e migração –
resultados da amostra. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/98/cd_2010_
nupcialidade_fecundidade_migracao_amostra.pdf. Acesso em: 12 jan. 2017).
76
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Entidades familiares constitucionalizadas. In: Anais do III Congresso Brasileiro
de Direito de Família. Família e cidadania: o novo CCB e a vacatio legis. Belo Horizonte: Del Rey/ IBDFAM,
2002.
77
“O Brasil era oficialmente católico até a proclamação da República em 1890, quando Estado e Igreja foram
oficialmente separados, o que foi expressamente reforçado com a Constituição de 1891. Todas as constituições
seguintes se pronunciaram como uma república laica, embora sob a proteção de Deus. De fato, uma república
laica não significa a ausência de religião, mas apenas que nenhuma delas será privilegiada, uma vez que
a liberdade de crença é uma questão de foro íntimo de cada pessoa” (LÔBO, Paulo Luiz Netto. Estado
laico é conquista de todos e das famílias. Revista Consultor Jurídico, 06 dez. 2015. Disponível em: http://
www.conjur.com.br/ 2015-dez-06/processo-familiar-estado-laico-conquista-todos-familias. Acesso em: 13
dez. 2016).
78
Ao se referirem sobre o tema Sunstein e Thaler frisam que: “Para dizer o mínimo, há um imenso e
diversificado conjunto de benefícios e nós, de forma alguma, listamos todos eles. Os benefícios também
tendem a ser relativamente estáveis ao longo do tempo; recorde-se que o status quo é poderoso, e existem
sérias restrições políticas a qualquer esforço de se repensar isso” (SUNSTEIN; THALER, Nudge..., p. 217,
tradução livre).
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5 Conclusão
O que legitima uma relação amorosa? A resposta jurídica não está ligada
somente a preferências morais e éticas pessoais, mas insere-se num quadro de
princípios dentro do qual pode ser colocado um direito ao amor.79 Tais princípios
são a igualdade e a liberdade, a solidariedade e a integridade psicofísica, os quais,
juntos, concorrem para definir a dignidade e, portanto, o limite da autodeterminação,
ao mesmo tempo em que reclamam a necessidade do respeito recíproco fazendo
emergir, assim, seu nítido caráter relacional.
Como relata Stefano Rodotà, na experiência histórica o direito se apoderou do
amor. Fechou-o em apenas um perímetro, considerado como o único juridicamente
legítimo: o casamento, um contrato de direito público vigiado pelo Estado; baseado
na estabilidade social, na procriação e na educação dos filhos; e portador de uma
moral considerada como prevalente, a católica. Era a obediência e a subordinação
para as mulheres, uma lógica autoritária e patrimonial, um bloco compacto no
qual o amor conseguia, com esforço, abrir alguma brecha. Hoje, conclui o autor,
79
RODOTÀ, Stefano. Diritto d’amore. Bari: Laterza, 2015. Disponível em: https://tolinoreader.ibs.it/library/
library.html#!/epub?id=DT0245.9788858123645. Acesso em: 3 fev. 2017.
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Liberdade e família: uma proposta para a privatização das relações conjugais e convivenciais
80
RODOTÀ, Diritto d’amore.
81
Para um exemplo, v. BODIN DE MORAES, Maria Celina. Danos morais em família? conjugalidade, parentalidade
e responsabilidade, ora em Na medida da pessoa humana. Rio de Janeiro: Editora Processo, 2016, p.
423-455.
82
CARBONERA, Reserva de intimidade..., p. 271.
83
BODIN DE MORAES, Maria Celina. Do juiz boca-da-lei à lei boca-de-juiz: reflexões sobre a aplicação-
interpretação do direito no início do século XXI. Revista de Direito Privado, São Paulo, v. 56, p. 11-30,
2013, segundo a qual: “o deslocamento foi radical e parece imprescindível sua rápida identificação, para
que se comece, doutrinariamente, a sugerir limites e a indicar possibilidades”.
84
Sobre os bons costumes v. DALSENTER, Autonomia existencial na legalidade constitucional...
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Renata Vilela Multedo
85
RODOTÀ, Stefano. Solidarietà: un’utopia necessaria. Bari: Laterza, 2014, p. 54-56.
86
BODIN DE MORAES, Maria Celina. Do juiz boca-da-lei à lei boca-de-juiz: reflexões sobre a aplicação-
interpretação do direito no início do século XXI. Revista de Direito Privado, São Paulo, v. 56, p. 11-30,
2013.
87
RODOTÀ, Stefano. Amore ‘a bassa istituzionalizzazione’. In: Diritto d’amore. Bari: Laterza, 2015. Disponível
em: https://tolinoreader.ibs.it/library/library.html#!/epub?id=DT0245.9788858123645. Acesso em: 3
fev. 2017.
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Liberdade e família: uma proposta para a privatização das relações conjugais e convivenciais
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TESES E DISSERTAÇÕES
Projetos parentais ectogenéticos
LGBT: o desafio da construção
das famílias homoparentais e
transparentais perante o ordenamento
jurídico brasileiro
Resumo: Pode-se dizer que a Constituição de 1988 representou um marco histórico que modificou
completamente a interpretação normativa em torno do Direito das Famílias pátrio, instaurando um
paradigma pautado na inclusão, na pluralidade de configurações e no respeito entre os membros
do núcleo familiar, pondo em xeque o modelo patriarcal anterior. Não obstante, em que pese tais
transformações, a base heterocisnormativa, na qual estão sedimentadas as tradições da sociedade
brasileira, ainda acaba por interferir no reconhecimento legislativo expresso de direitos por parte da
população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros). Afinal, a despeito
dos nítidos avanços doutrinários e jurisprudenciais na tutela dos direitos dessas pessoas, a exemplo das
uniões homoafetivas e da possibilidade de retificação registral sem prévia submissão a procedimento
cirúrgico de redesignação genital, a inércia do Congresso Nacional ocasiona um cenário de insegurança
jurídica para essas pessoas. Diante disso, o presente trabalho buscou contribuir para o debate da
emancipação desses indivíduos, na seara jusfamiliarista, levantando a seguinte problemática: apesar
da escassez legislativa na matéria, é possível conferir às famílias LGBT uma autonomia legítima para o
exercício do direito fundamental ao Planejamento Familiar na concretização de seus projetos parentais,
máxime no tocante à escolha pelo uso das técnicas de reprodução humana assistida? Para tanto,
pretendeu-se analisar o direito fundamental ao exercício da autonomia existencial nesse Planejamento
Familiar das famílias LGBT à luz de uma metodologia civil-constitucional, notadamente no tocante
à opção por projetos parentais ectogenéticos, ou seja, aqueles que advêm do uso da reprodução
humana assistida. Diante disso, foram adotadas as técnicas da pesquisa bibliográfica e documental,
a partir de um método de raciocínio analítico-dedutivo e de um estudo qualitativo, a fim de construir um
embasamento teórico-jurídico que estabelecesse critérios para a configuração da homoparentalidade
e da transparentalidade por meio da procriação medicamente assistida. Dessa forma, constatou-se
que os projetos parentais LGBT encontram-se protegidos pela sistemática constitucional vigente,
particularmente pelas regras que norteiam o Planejamento Familiar, devendo ser garantida a autonomia
no seu exercício por esses indivíduos, desde que respeitados os limites impostos pela Dignidade da
Pessoa Humana e pela Parentalidade Responsável. Não obstante, demanda-se ainda uma atuação do
Poder Legislativo no sentido de promover o reconhecimento expresso dessas garantias no âmbito legal,
com a finalidade de promover a Igualdade Material e a proteção específica da Diversidade Sexual e de
Gênero no ordenamento jurídico pátrio.
Palavras-chave: Famílias LGBT. Homoparentalidade. Transparentalidade. Reprodução Humana
Assistida. Planejamento Familiar.
R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 245-246, jan./abr. 2020 245
Manuel Camelo Ferreira da Silva Netto
LGBT ectogenetic parental projects: The challange of building homoparental and transparental
families before the Brazilian legal order
Abstract: It can be said that the 1988 Constitution represented a historical landmark that completely
changed the normative interpretation around the homeland Family Law, establishing a paradigm based
on the inclusion, the plurality of configurations and the respect among the members of the family
nucleus, putting in check the previous patriarchal model. However, despite these transformations, the
heterocisnormative basis on which the traditions of Brazilian society are based still interferes with the
express legislative recognition of rights by the LGBT population (lesbian, gay, bisexual, transvestite,
transsexual and transgender). After all, despite clear doctrinal and jurisprudential advances in the
protection of their rights, such as homo-affective unions and the possibility of registration rectification
without previous submission to surgical procedure of genital reassignment, the inertia of the National
Congress causes a scenario of legal insecurity for those people. Given this, the present work sought
to contribute to the debate on the emancipation of these individuals in the jusfamiliarist field, leading
to the following problem: despite the lack of legislation on the subject, it is possible to give LGBT
families a legitimate autonomy to exercise the fundamental right to Family Planning, in the realization
of their parental projects, especially regarding the choice for the use of assisted human reproduction
techniques? To this end, it aimed to analyze the fundamental right to the exercise of existential
autonomy in this Family Planning of LGBT families in the light of a civil-constitutional methodology,
notably regarding the choice of ectogenetic parental projects, that are those that come from the use of
human assisted reproduction. Thus, the techniques of bibliographic and documentary research were
adopted, based on a method of analytical-deductive reasoning and a qualitative study, in order to
build a theoretical-legal basis that established criteria for the configuration of homoparentality and
transparentality by through medically assisted procreation. In that sense, it was found that the LGBT
parental projects are protected by the current constitutional system, particularly by the rules that guide
Family Planning, and should be guaranteed autonomy in their exercise by these individuals, as long as
respected the limits imposed by the Dignity of the Human Person and by the Parental Responsability.
However, there is still a demand for action by the Legislative Power to promote the express recognition
of these guarantees in the legal framework, with the purpose of promoting Material Equality and the
specific protection of Sexual and Gender Diversity in the homeland legal order.
Palavras-chave: LGBT Families. Homoparentality. Transparentality. Human Assisted Reproduction.
Family Planning.
SILVA NETTO, Manuel Camelo Ferreira da. Projetos parentais ectogenéticos LGBT:
o desafio da construção das famílias homoparentais e transparentais perante
o ordenamento jurídico brasileiro. Revista Fórum de Direito Civil – RFDC, Belo
Horizonte, ano 9, n. 23, p. 245-246, jan./abr. 2020. Resumo de dissertação.
246 R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 245-246, jan./abr. 2020
Instruções para os autores
R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 247-248, jan./abr. 2020 247
INSTRUÇÕES PARA OS AUTORES
textos. Os trabalhos recebidos e não publicados não serão devolvidos. Não serão
devidos direitos autorais ou qualquer outra remuneração pela publicação dos trabalhos.
O autor receberá gratuitamente um exemplar da revista com a publicação do seu texto.
As opiniões emitidas pelos autores dos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.
Eventuais dúvidas poderão ser aclaradas pelo telefone (31) 2121.4910 ou pelo
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248 R. Fórum de Dir. Civ. – RFDC | Belo Horizonte, ano 9, n. 23, p. 247-248, jan./abr. 2020
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