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1. ALUTA PELA CIDADANIA Cidadania é a condi¢go de ser reconhecide como membro de um grupe poli- tico (por exemplo, um Estado) € de ter os direitos @ deveres associados a essa condigao. Na definicgo da filésofa alema Hannah Arendt (1906-1975), cidacanie 670 direito de ter direitos". Quando disse isso, Arendt pensava nas pessoas que foram expulsas de seus paises durante a Segunda Guerra Mundial e, por isso, clei- xaram de ser reconhecidas como cidadas de qualquer pals: quer, nessa situacao, poderia garantir os direitos dessas pessoas? Pense no que significa ser cidadao de urn pals (por exemplo, 0 Brasib). Significa ser, antes de tudo, reco- nhecido pelos brasileiros como cidada, tanta quanto les, e reconhecé-las como cidadaas, tanto quan- to voc’. Se uma pessoa rica ou poderosa acha, por exemplo, que a lei nao se aplica a ela, nas apenas aos mais pobres, essa pessoa esté desrespeitanc os prin= clpios da cidaciania, Assim, ser cidadgo também envalve ter direitos @ ce- vores. E esses direitos @ deveres nao s80 0s mesmos em. todos os palses nern em todas as épacas. Os direitos que compéem @ cidadania foram conauistados por meio de longas lutes politicas, A analise classica sobre a evolucao da cidadania dos direitos que a compéem fol feita pelo sociéloao: ingles T.H. Marshall (ver Perfil neste capttulo). Marshall identifcou trés tipos de direitos que formaram a c= dadania mogerna na Inglaterra, Sao eles: 1. Direitos civis: aqueles que permitem ao cidadao exercer sua liserclade indivi- dual. Por exemplo, o cireito de cada um dizer 0 que pensa (liberdade de ex- pressao), © direito de acreditar na religiae que quiser (ou nao acreditar em nenhuma), © dirsite de fazer acordos @ contratos com outros e'dadaos € 0 d= reito a propriedade, Os direitos civis foram os primeiros a surgir na Inglaterra, se consolidando a partir do século XVI Direites politicos: sao aqueles que permitern ao cidladiao participar do exercicio do poder paltica. Sao exemplos de direitos politicos o direito ao voto, 0 direito de se organizar com outros cidadiaos para defender propostas (incluide af o direite 1 formar partidos polticos) ¢0 direito de ser eleito para cargos politicos, Os direl- tos politicos se consolidaram na Inglaterra entre o final do século XIX eo comeco do século XX. primeiro coma ampliagao do direito ao voto para toclos os hornens depois cam a raconhecimento das direitos politicos das mulheres. Vir deselara resolver al fde mulher éna cozinha’). Panflatosathicoestadunidense de 191 homens no deveriam poder votat pel hhomem é ne Exército; (2) nenhum homem realmente ven for pel (G) se 0: homens adotarem matador pacicor, 235 mulheres no vo mals se Intressar por eles: (a) os homens perderbo seu enatme 303 s0u lugar naturale s9interessarom por coisas que nie ‘envolvam fardas, ambores « arm Hie emotivas demals, come se pode Comportamente em eventos esportves ("0 objetivo fete nfo eraodirelto das homens, mas mest ‘come nie fazia sentido aplicar 0 mesmo raciocinio 8s mulheres (come quando se diia que eas nao fam participar da polities porque “lugar ‘UnipapEsicariroLo1s Veja na seco BIOGRAFIAS quem 6 Hannah Arendt 1906-1975). rom de (5) os homens ASOCIEDADE DIANTEDOESTADO 105 sociais: s0 aqueles que garantem ao cidadéo um minimo de bem- estar econdmico @ uma vida digna, de acordo com 0 vadlrao do pals ¢ da Epoca. Sao exemplos de direitos socials o diveito & educacao, a satide, a uma aposentadoria na velhice ou em caso de invalidez. Os direitos sociais ganha- ram fora no século XX, quando 0s mavimentos operarios europeus consegui- ram obrigar 0 Estado a prover @ todos os cidadéos saiide e educacéo publi- cas, entre outras direitos. Em resumo, a cidadania é uma condig3o que nos permite participar como iguals da discussao politica © uma reivindicagao de que todos participem do que Marshall chamou de "heranga comum” da sociedade, da riqueza que ela produz e da discusséo sobre os valores que a sustentam, Como veremes no Capitulo 14, no Brasil a consolidacao dos trés direitos fo! significativamente tarda am relagao 20 pais de T. H. Marshall. Além disso, segun- do alguns autores, eles teriam sido obtides em uma ordem diferente do aue acon- teceu nos paises europeus e nos Estacios Unidos. Muitas caracteristicas da socie- dade brasileira atual s8o consequéncias desse processo. PERFIL T.H. MARSHALL © socidlogo briténico Tho- mas Humphrey Marshall (1893- “1981 estudou em Cambridge dos direitos politicos @ dos direitos socials, nos sé- culos XVIII, XDCe XX, respectivamente, Introduziu © conceite de direitos sociais, sustentanda que a ea partir de 1919 passou alecionar na London School of Economies, onde dirigit © Departamento de Cién- clas Sociais de 1939 a 1944, Também trabalhou na Unesco como diretor do Departamento cie Ciéncias Sociais de 1956 a 1960, Tornau-se conhecido princi- ppalmente por seus ensaios, entre as quais se destaca Citizenship and Social Class ("Cidadania ® classe so- cial”), publicacla em 1950, Marshall analisou © desenvolvimento da cidada- nia como um progresso dos direitos civis, seguidos cldadania $6 € plena se dotada des trés tipes de direito. Um aspecto fundamental do trabalho de Marshall 6 que ele nos permite compreender as sociedades modernas como formadias @ partir de duas cinami- cas confltantes: de um lado, a economia de merca- do tende a procuzir crescente desigualdade; de ou- tro, @ luta pela cidadania tende a reduzir as desigualdades, € em meio a essa tensao que se de- senvalve a politica moderna, 292 ‘UnipapEsicariroLo1s ASSIM FALOU... T. H. MARSHALL Acidadanta ¢ um status concedido 2queles que so membros integrals de uma comunidade, Todos aqueles que possuem o status sao Iguais com respeito aos direitos e obrigactes pertinentes ao status. Nao ha nenhum principio universal que determine 0 que estes direitos e obrigacoes sero, mas.as so Gledades nas quais a cidadania é uma instituico em desenvolvimento criam uma imagem de uma cl dadanla ideal em relacdo qual a asplraco pode ser dirigida. A insisténcia em seguir o caminho assim determinacio equivale a uma insisténcia por uma medida efetiva ce igualdade. um enriquecimento da matéria-prima co status ¢ um aumento ne nimero daqueles a quem é conferido 0 status. MARSHALL, TH, Cidastana clase S00 statue. Re be vane: Zana 1967.9. 76. 2, OS MOVIMENTOS SOCIAIS E durante a luta pela cidadania que se formam os cidadaos. Os movimentos socials foram — e sao — fundamentais na tarefa de exigir do Estado 0 reconhec- mento dos direitos que compdem a cidadania e em favorecer que os proprios dadaos discutam entre si quais devem ser esses dire tos, ‘Chamamos de movimento social um grupo de pessoas que atua canjuntamen- te para transformar algum aspecto da sociedade. Os movimentos socials $80 ferentes dos partidos politicos porque ndo precuram, necessariamente, conquis- tar o controle do Estado, Em outras ép0cas, os movimentos sociais atuaram ce modi diferente. No dizer do socidlogo estaduniclense Cherles Tilly, em cada épo- c2 0s Movimentos saciais ter am um “repertério”, um conjunto de praticas utiliza~ das para reivindicar. No mundo contemooraneo, esse reperiério incluiria, entre outros recursos, campanhas na internet, protestos, passeatas @ outras formas de atuasdo politica ngo relacionadas a disputa pelo Estado, Embora nao tenham, necessariamente, 0 Estado como foco principal, os mo vimentos sociais exercem influéncia sobre ele porque muitas de suas campanhas @ protestos atetam a opinido dos eleitores. Por sso, 0s polticos podem leva-los ‘em conta, Veja na secao| Ha varios tipos de movimentos socials. Uma rmaneita de entender a dliferenca _BIOGRAFIAS quem entre eles, proposta pela flésofa norte-americana Naney Fraser (19474), seria fe- _& Naney Fraser zer a distingao entre dois tipos de luta aue eles empreendem aluta por redistri= 947+, buigao e a luta por reconhecimento, Fotogratlatada durante ImanifestagSo indica do ia ee mato de 1819, na praca 1a Sé_ cm Sto Paulo (SP). Ao Fedor do mundo, © movimento perio fol importante nao penes na conguista dos Sietos socal, mas também ha lute pelo direte a0 voto, {ue 0m muitos pases ora privlegie de inv sma de determinados rivets de rend. ASOCIEDADE DIANTEDOESTADO A luta por redistribuigao buscaria corrigir ou eliminar 0 que os membros do movimento consicloram injusticas econmicas @ socials. O exeralo mais claro é a luta dos sindicatas, que buscam a redistriouiedo de renda por meio de salarios ais altos e ou! os socials que ciminuam a distancia entre a qualidade de vida das diversas classes sociais. No Brasil, um exemplo de luta par redistribuigo seria 6 Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que reiv redistribuigéo de terras, os dire km ar e201, cores do *"partram do de Santana On), rune 8 ei purede Aorivermetnes vera astra Iimprodutvas, 0 que revela um contite entre um deo eras ocupadas), Alluta por reconhecimento, por sua vez, buscaria corrigir ou elim nar injustigas fais, como 8 humilhagao, o desrespeito e a negacao de direitos a pessoas de "TI (movimento de lésbicas, gays, bissexuals, travestis, transexuais, transgéneros e intersexuais), que combate a homofobia e a transfobia e defende a livre expressao sexual. (Os movirmentos por reconhecimente tém relvindicagées com relacée & politica do Estadio (por exemplo, pelo reconhecimento do casamento civil entre homos- sexuis e do uso do nome social por transexuals), Porém, parte importante de sua luts 6 cultural é @ luta para aue a sociedadle aceite os homossexuais e transexuais como cldadlaos com os mesmos direitos que os clemais. ‘Alem clos casos mais evidentes cle movimentos por redis- tribuigdo © de movimentos por reconhecimente, alguns “no vimentos lutam nas duas frentes: s80 0 que Nancy Fraser chamou de movimentes bivalentes. © movimento feminista, por exemple, lute pelo res mento clos direitos das roulheres. Grande parte da luta ‘emin sta 6 por redistribuigac: pelo fim da desigualdade salarial entre mu- Ineres @ homens, por exemplo, ou pata que o govern invista ern pplfticas sublicas que methorem a vida cas mulheres (corno a ga~ de prote tra.a violoncia doméstice). Mas a luta ferni- nista & também por reconhecimento: para sejam julgadas pelo corpo ou pela forma com que se vestem, 1ndo sejam esterectipadias como futeis, vaidosas ou fracas, Algu- mas pautas envolvem as duas coisas: exigir creches piiblicas de qualidade 6 uma luta por redistribuigao e por reconhecimento (de quue mulheres e homens necessitam igualmente de boas con dig6es para trabalhar e tom as mesmas responsabilidades na ceriagao de seus fithos). © caso de movimento negro & semelhante. Parte im- portante da luta é por redistribuicao: fim da diferenca sa- Décima nona ediséo da Parada de Orguho LGBT.na arial entre negros ¢ brancos, desenvolvimento de ac Bion Mantutttbescone sae coremaifornes — voltadas 8 reducéo da desigualdade social ex fentidades e pessoas que tam por reconhecimente, _brarncos © negros, como cotas em universidades pulblicas, 294 determinados grupos. Um exemplo disso seria 0 movimento nheci- 1ue as mulheres nao ete, Mas parte essencial da luta do movimento negro & contra ideias racistas © esterestipos (de que negros sé s80 bons em esportes e musica: o esteradtipe da “mulata", que reauz mulheres negras & sensualidade; ou que so- mente brancos podem ter "aparéncia de lider"). 0 movi- mento negro também luta para que a histéria da resistén- cia negra seja contada nas escolas e para que a heranca cultural afro-brasileira seja reconhecids, ‘9 movimento indigena talvez seja aquele em que estao mais entrelagadas as lutas por reconhecimento e por redis- tribuigdo. Parte importante da luta indigena é pelo direito de ser reconhecido como tal (como membro de um dos diver 508 povos ind'genas existentes no Brasil), pelo direito de ter sua cultura aceita e de néo ser forcado a se adaptar aos p ares da Sociedade ocidental, Mas, pare que tuclo isso se to ne realidade, é fundamental lutar pelas terras que ocuparn ha muitos sécullos, ¢ longe das quals seus costumes e sua or- ganiza¢so social dificilmente sobreviveriam. Por isso, boa parte da luta indigena no Brasil se da contra gerimpos, f Zendas ¢ projetos governamentais (como usinas hidrelétr cas) que invaclem terras e reservas ou as prejudicam de algue ma forma (20r exemplo, poluindo 0s rios). 3. PROBLEMAS DA ACAO COLETIVA Pode parecer fécil organizar um movimento social. Por exemnplo, é bastante claro que as mulheres sofrem com a desigualdade de género em diversas situa 9625 ¢ tm, portanto, interesses comuns. Logo, pederlamos conclu, é natural que elas se organizem para lutar por seus direitos. O mesmo poderia ser dite sobre os lrabalhadores pobres, os negros, os indigenas ¢ tantes outros grupos discriminades. Entretanto, a ago coletiva esta longe de ser tao simples. Diversos estudos mostram que organizar pessoas em tarno de um objetive comum pace ser bas- tante dificil, mesmo quando o grupo a ser organizado constitul a maioria da po- pulacdo, O economista estadunidense Maneur Olsen (1932-1998) estudou varios problemas de acdo coletiva, relatives a tentativas das pessoas de agirem juntas pata fazer coisas que séo do interesse de todos. Poderiamos pensar que se algo é do interesse de um gruvo, o grupo vai se organizar para consegui-lo. Mas nem sempre assim. Por exemple, imagine que no seu bairro é do interesse de todos fazer um protesto exigindo a insta- lacao de agua encanada pela prefeitura, Temos, entéo, a seguinte situacao: 2) E do seu interesse que o bairro receoa agua encanada, ) Voce sabe que participar do protesto tem um custo. Vacé talvez prefira as- Sistir & tevé na hora do protesto ou trabalhar nesse horério e ganhar mais dinhelro. Se participar do protesto, ndo poderd fazer nada disso, © Voce sabe que os demais moradores se interessam em ter gua encanada. Luma cena cot Entretanto,tatarre Important toto 6 Ros ‘rebelou contra a legislagso Segundo a qual passageiros snegros deverlar cede lugar 3 um branee quando a Sepde reserv ativerse lotads. No ¥ de dezembre do 1955, Rosa Parks ve recuzou a fazer v0 e foi press. sso ‘derencadeou uma onda ‘de protestos por todo © pals, A foto morta Parks ‘tm um gnibus, no dia 21 de sda revogacio da! Voja na seco BIOGRAFIAS quem Mancur Olson (41932-1998). ASOCIEDADE DIANTEDOESTADO ‘Assim, ha um sério risco de que voc pense 0 seguinte: “o melhor para mim é deixar aue ©s outras facam o protesto: quando instalarem agua encanada, eu também vou me beneficiar, ¢ ndo vou pagar o custo de part’cipar do protesto’ Isto 6, muita gente pode preferir "pear carona” no esforgo politico dos outros. 0 problema € que, se todos pensarem assim, 0 pro 19 aconteceré e ninguém conquistara agua encanada sara o barro, O problema do carona No quadro a0 indo, toms Urnresume das quatro ‘As outras pessoas As outras pessoas shuagber posives no nosso resolvem participar resolvem nao participar Na situagSo 0, aumssaten parr o Ce eee ere protesto acontece joce perde tempo indo até ‘ebem-sucedidoe todos | Vocé resolve | ° Veet p " jnham sou enc © 0 bairro ganna agua once seria o protesto, ue Na hipstese 2) voct se | Particlpar encanada nao acontece. O bairro n&o ‘mobili mas o protesto no ., nada dacontece Na situagso genha gua encanada todos ganham Agua encanada = (och inclusive). mas vors @ w nao precisa ira protesto, Se © bairo ganha égua © protesto ndo acontece, 0 ‘eos Vocé resolve | encanada, e voce néo bairro néo ganha agua “que angus nde participar | orecisa perder tempono | encanada, mas voce nao protesto. perde tempo. Ehorade oelos autores 0s problemas da agao coletiva nao sao insuperdveis: se fossem, nao existria, nenhum partido, movimento social, nem mesmo a sociedade, pois todos conte- n fe que os outros cidadaos vo concordar em certas coisas, como curprir as leis ou respeitar os sinais de transito. A grande maioria clos cidadaos, alls, faz essas duas coisas na maior parte do tempo, Entretan ecisa encontrar formas de resolver o proble- ma de carona: 0s membros de uma igreia, por exemolo, podem parar de convidar pare as festas comunitérias pessoas aue tém dinheito para ajudar na menutencao da igreja mas nao 0 fazem, esperandlo que outros arquer cor esse custo. Cada forma de resolver o problema clo carona \s, 6 mais ou menos eficiente em cada situacao. Mancur Olson estudou ro fendmeno: se & verdade que pode ser muito dificil organizar a maioria, por outre lado pode ser multe fécil organiza minoria, Ou seja, existe a possibilddade de um governo contvolado por grupos que defendem seus préprios interesses, mesmo quando esses interesses véo contra 0s da populago como um todo. ava grupe social rm suas vantagens & +. 48 0%, some Es © Totes ee) | sg SRRRE eas wg o et iee cd == = ‘aid Py Bt || Sees » ge Fee ORGANIZEM-SE! [As imagens acima representam muito bem um problema de ar3e coletiva. Se 0s pe na imagem da delta), vencerso 9 peixe grande. Mat se permanecerem desorgani 3s por ele. © problema da So Coletiva 6 come levar 0: pels expathados da imagem 8 esquorda a 0 organizaram no cardume roprosentade a drlta, 296 e! ‘UnipapEsicariroLo1s E bem mais fécil organizar um grupo quando o numero de pessoas ¢ pequeno e quando seus membros s6 recebem benaficios se particiearem da acao coletiva, isto 6, se for impossivel utllizar a estratégia do carona. No exemplo do quadro da pagina ao lado, isso ocorteria se fosse possivel conseguir gua encanada apenas para as pessoas que particinassem do protesto. Imagine que duas empresas, Ae B, tém interesse em conseguir do governo autoriza¢ao para explorar um garimpa. O problema 6 que a exploracao desse garimpo vai poluir a agua consumida por 100 mil pessoas. Para as empresas, 4 facil se organizar para pressionar © governo (talvez mesmo por meio de su bornos) € obter autorizacdo para o garimpo, Se a empresa A resolver pegar carona no suborne da empresa 8, esta pode perfeitamente exigir que o gover no dé autorizacdo sé para ela, Isto é, nenhuma das duas empresas tem incen- ‘tivo para ser carona, @ a a¢do caletiva das duas provavelmente vai acontacer, No exemple do garimpo, considers a situacao das 100 “nil pessoas que serdo prejudicadas. Nao é facil organizar 100 mil pessoas. Se cada uma delas resolves- se pegar carana na acao das outras 99999, naga seria feito para impedir @ poli ‘:80 da agua, Ou seja, neste caso, na lute entre o interesse de duas emaresas con tra 100 ml pessoas, provaleceria o interesse da minoria, Situacoes como essa acontecem freauentemente na vida real minorias bem organizadas, ou que lutam por interesses particulares, muitas ve7es vencem maiorias desorganizadas, Isso tem consequéncias importantes para a politica nos dias atuais. Muitas politicas inadequadas postas em pratica pelos governos se deve™ a influéncia de grupos particulares que conseguem exigir medidas que contrariam o inte~ resse da maiaria, Quando isso acontece, dizemos que houve “captura do Esta- do” por esses grupos. (OCE JA PENSOU NISTO? r - CAPITAL SOCIAL E PARTICIPACAO CivICA Se é verdade que as minorias organizadas podem dominar as maiorias, de que adiantaria buscar se organizar coletivamente? Nao seria melhor que cada cida~ ao culdasse apenas de seus préorios problemas? Em alguns casos, é claro que vee na secdo no: conquistas como as dos movimentos negro € feminista so inegavels. Mas, BIOGRAFIAS quem ent8o, nao seria © caso de valorizar apenas esses movimentos que defender —_é Robert Putnam grandes causas ¢, fora 'sso, cada um cuidar da sua vida? cisat9. Tdo indica que ndo. Se les forse verdade, os pases orde hé menos moc mentos soci, ends @ bopulacéo participa Menos Ga vida social onde cada um cuida apenas dos sous proprioe problemas, seram os mais Préspsros eben Or sonizedos Mas as pesaisas indcam exatemente 0 contri, Segundo o centsta police esledunidense Robert PutnaRVC8419,regibes com altos niveis de partiipacto social teriam mals prosperidade economics, EMCI maior respeito a lei e menos corrupcao. A participacdo BiMIGS descrita por Putnam Meo nck, apenas pertcper de movmentos socs! nel também equentor AEH igrejas, clubes de futevol, grupos de coral, associagées de bairro, associacées de —_®° cidade como pais de alunos € qualauer atividade que leve a pessoa a se organizar em conjunte _!ntegrante de um_ com outros cidadaos. Eatado, ASOCIEDADE DIANTEDOESTADO Por que acorreriam as situagées descritas por Putnam? Embora nao se tenha chegado uma conclusio, hé sinais de que a participacao civica é parte impor tante do que socidlogos, cientistas politicos e economistas chamam de capital social. Capital social ¢ o conjunto de regras, redes de contatos pessoais (amigos, familia, grupos de convivencia) e relagées de confianca que ajuda os cidadaos a superarem os problemas de acao coletiva, Vela o esquems a seguir No esquema ae lado, um fexemplo de uma rede de Felacionamentor ou rede social. Voce taver conhera ‘terme “rede soci relacionado § internet estrutra come a da Figure ‘ect tem seus amigos, Famila das os eles pessoas do tacignamentes tera Amigos do "eutare ‘eubaire mais estudam ‘s redes socias a via real ‘da internet) para deseobrir de Pessoas da sua lor labored aes autres De que modo a confianga, por exemple, favoreceria a acao em grupo? Lem= bre-se do problema do carona: se cada urn achar que © outro é um carona, nunca nos organizaremos para fazer naca, Mas se tivermos confianga uns nes outros, & bern mais provavel que nos organizemos para lutar por nossos direitos, para que nossos filhos tenham boas escolas ou para que nosso bairro receba mais atencac, das autoridades, Por outro lado, a conflanga seria reforcada pela particinagao em atividades sociais. Vejamos um exemplo. Imagine do's comerciantes que nunca se viram na vida e nunca mais se verao depois de fechar um negécio. Imagine que um deles ndo conhece ninguém que © outro conhece. Se um aeles quiser ser desonesto (por exemplo, entregando mercadoria de baixa qualidade), ao outro sé restara entrar na justia contra ele, & processos judiciais levam tempo, custam dinheira, Por outro lado, se 0s dois comerciantes frequentarem a mesma igveja, o mes~ mo terreiro, a mesma associacao de moradores, o mesmo grupo que joga futebol togo séoaco ou 0 mesmo sindicato, o prego da ciesonestidade passa a ser maior: O dosonasto pore ter que enfrentar a reprovacao das outras pessoas nesses avu- pos. Sua fama de descnesto pode fazer com que muitas delas desistam de fechar negécio com ele, Ou seja, a particinagao na vida social d’minui o incentive para determinadas praticas, 298 No entar bam que os alunos de uma turma sejam amigos alguém, por a seja excluido da turma. Polit ue freq festas, as mesmas associa ter mais facilidade de fechar negécios ilegais entre si. Criminosos bem relacionados nos bairros once © capital social tem dois lados: € imos, mas é ruim qu entam 0 nos clubes, as mesmas moram podem ter mais chance de fugir da £m foto de 2014, Projeto Vile Olimpiea da Mangucia, re Rio de Janeiro (R). que prepara pessoas de bala Tenda a serem atletas. Alem de organizardesfles de Carnaval, az ercolas de samba derempenham funcSer Inmportantes nas comunidades. Sao pontes de encontr stvidades esportivas« edueacionas. Assim, 580 lmpertantes cents de producde de capital social jal de diferentes 10 de impostos em 19 a5 pessoas par suas pesquisas {nam comparou © capital so estadios dos Estados Unidos com a criminalidacle e a sonega cada um deles. Segundo os resultados, a ticipam mais de atividades civicas teriam menores taxas de criminalidade e sonega¢ao de impostos. £ cificil saber se o capital social seria responsavel po! are pr esses erva-los: os cient politicos ainda ndo chegaray Mas é possivel pelo o$ Supor que a participacao cidada pode Ler consequéncias importantes pay senvolvimento dos paises. Se essa suposicao for valida, a situacéo 1ons resultados ou se apenas contribuiria atual 6 preocupante, pois os astudos > nos Estados Unidos come em outros de Putnam mostram que tan pessoas cada vez menos participam para pratt salta que colhem a carreira de advogado (mesmo em comparacéo co lucrativas), Para Putnam, esse dado su esolver problemas na justica de que por rei icar esportes, frequentam nos Estados Uniclos aumentou muito a proporeao de pessoas que es outtas earreiras que mais pessoas estariam preferindo de relagdes de confianca. ‘UntpapEsicaPiruzo: partie extremist arose (grupo prega o édio 20s S80 exempios de movimentos ts direitos de certos grunes de cidadion 13 ASOCIEDADE DIANTEDOESTADO Capital social nos estades dos Estados Unides (2000) me, \ oceano! acinico\ . \ si)

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