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Toni Wolff-Introdução Nas Bases Da Psicologia Complexa
Toni Wolff-Introdução Nas Bases Da Psicologia Complexa
1. Tudo que é inconsciente é sempre projetado, isto é, aparece como particularidade ou conduta do objeto e
só por um ato de autoconhecimento os conteúdos correspondentes podem ser integrados no sujeito e com isso
desligados do objeto e reconhecidos como fenômenos psíquicos.
2. A conscientização do inconsciente corresponde, então, a uma expansão e diferenciação da consciência. O
inconsciente é, epistemologicamente, o ainda não consciente (expressado de modo simples) sobre o qual nada
pode ser pronunciado enquanto não possuir uma adequada intensidade energética para que seja percebido. A
noção "inconsciente" deve ser entendida de modo análogo à definição kantiana de "coisa em si", isto é, antes
de tudo como apenas uma noção limítrofe negativa. Ela aponta os limites da consciência a não pronuncia nada
quanto aos conteúdos. Por isso nem é possível descrever e integrar os conteúdos do inconsciente sem
relacioná-los com a consciência.
3. Sabe-se que a disposição de consciência em relação ao inconsciente pode ser adequada ou inadequada. A
integração do inconsciente pela consciência tem como consequência um efeito sobre o inconsciente
influenciando, de modo decisivo, sua "linguagem" ou forma de expressão. Por isso o agrupamento
fenomenológico do inconsciente e, ao mesmo tempo, também funcional. De modo conciso pode ser
caracterizado assim:
Os sintomas ou complexos são infrações, isto é, o inconsciente penetra de uma forma inadequada em
uma disposição extrema da consciência, por ex., o inconsciente está tentando compensar uma disposição
inadequadamente conscientizada.
O sonho é uma interpolação compensadora.
A fantasia, especialmente sua forma arquetípica, é uma cooperação entre o inconsciente e a consciência
(a consciência acompanha a decorrência inconsciente).
O símbolo é uma integração, isto é, um produto da ligação do inconsciente com a consciência.
4. O sintoma neurótico pode manifestar-se de modo meramente psíquico ou como sintoma somático
psicogênico. Aparece quando o consciente se fecha perante o inconsciente, isto é, não admite certos fatos que
poderiam ser conscientizados.
5. O sonho, quanto ao seu material, é uma combinação de componentes inconscientes e conscientes. Quanto
a sua fenomenologia é um resultado "puro" do inconsciente e da atividade psíquica da imaginação. O sonho é
ura símbolo e só pode ser compreendido através de um procedimento específico de interpretação.
6.1. As fantasias são produtos espontâneos do inconsciente. Ha certa relação com o sonho, já que, como
“sonhos acordados” são conhecidos por todos. Emergem por si mesmas no caso de estado de consciência mais
rebaixada, ligam-se a conteúdos inconscientes e desenvolvem uma situação real de maneira lúdica,
correspondendo aos desejos ou preocupações subjetivas. Seu sentido é mais ou menos patente e reflete a
conduta do indivíduo, na maioria dos casos em conexão com os componentes pessoais das funções psíquicas
inferiores.
6.2. Essa espécie de fantasias origina-se do inconsciente pessoal e seus conteúdos são antecipações ou
retrospecções com acentuação positiva ou negativa. Já que a consciência durante o processo comporta-se de
modo passivo, são chamadas fantasias passivas.
6.3. De acordo com suas intensidades energéticas influenciam a consciência; por exemplo: uma fantasia
angustiante paralisa, ou uma antecipação por demais intensa de um evento faz com que a realidade
posteriormente ocorrida fique inteira mente desinteressante ou falseada.
6.4. As fantasias passivas podem decorrer de modo inteiramente inconsciente sem que isto diminua seu efeito
energético sobre a consciência. Ao contrário, são, com frequência, as motivações reais de reações pessoais
demais positivas demais negativas. Para esclarecer sua índole em relação com a realidade externa é necessário
seguir conscientemente a decorrência do evento fantasioso, e se for necessário, trabalhar a fantasia como se
fosse um sonho.
6.5. As fantasias realmente importantes que mostram a atuação "pura", o trabalho da imaginação, são as
fantasias do inconsciente coletivo. Tal categoria de fantasias não se faz perceber em casos normais, isto é,
seus conteúdos não aparecem por si mesmos na consciência, a não ser em determinados sonhos significativos.
6.6. Os sonhos significativos podem ser reconhecidos quanto ao seu material de imagens e quanto ao seu efeito
emocional, como expressões do inconsciente coletivo. Aparecem quando o objetivo-psíquico (isto é, o
inconsciente) está ativado, ou também como sonhos iniciais no caso de uma supervalorização mórbida do
inconsciente coletivo. Sua conexão com representações arquetípicas é patente entre os primitivos, para os
quais a mesma palavra significa sonho e a época mítica ou também onde os mitos estão sendo revelados por
sonhos.
6.7. Por isso sua efetividade energética é muito mais intensa do que a das fantasias pessoais e é necessário
deduzir de determinados sinais, como por exemplo, entre outros, de reações afetivas exageradas e depressões
não explicadas pela situarão consciente, que conteúdos coletivos-inconscientes estão sendo constelados. São
mobilizados pela intensificação de elementos coletivos, os quais aderem-se às funções psicologicamente
inferiores.
6.8. Como fantasias, porém, aparecem apenas se há uma concentração ativa da consciência sobre o fundo
psíquico tornado efetivo. Por isso são chamadas também fantasias ativas. Para deixar expressar sua
fenomenologia específica é necessária uma determinada disposição. Primeiro, pela concentração sobre a
decorrência psíquica no inconsciente acrescentar-se-á a ela tanta energia consciente que poderá tomar uma
forma. Segundo, as fantasias coletivas-inconscientes ou arquetípicas possuem suas atividades e leis
características. Por isso a consciência, embora tenha que se dirigir a elas, deve se refrear de qualquer
interferência arbitrária nessa disposição e decorrência particulares. Por causa disso, interpretações e
julgamentos precisam ser contidos para que as imagens simbólicas possam desenvolver sua vida autônoma e
com isso atuar sobre a consciência.
6.9. A objetivação dos fenômenos do inconsciente coletivo só é possível se a integridade da personalidade
está reestabelecida pela assimilação dos conteúdos do inconsciente pessoal. Só um Ego integrado pode encarar
o objeto interno como um oposto real e distinguir-se do processo autônomo das imagens psíquicas.
6.10. As fantasias arquetípicas constituem o primeiro acesso ao objetivo-psíquico (inconsciente). Apresentam
em forma simbólica conteúdos e processos psíquicos independentes do Ego, os quais atuam sobre este por
suas configurações e significados. No decorrer das séries de imagens do objetivo-psíquico (inconsciente) o
Ego encontra-se oposto a esse processo pelo fato de que está adotando una atitude receptiva e contemplativa
em conexão com eventos e seu prosseguimento. Por enquanto não pode fazer nada com eles para seus fins
pessoais e tem que orientar-se, antes, nesse desconhecido mundo interno para poder conhecer essas
configurações estranhas.
6.11. As imagens psíquicas formam as configurações daquela energia que se manifesta na consciência como
todos os tipos de afetos e reações incomensuráveis, como intrincados emaranhamentos humanos, etc. Elas são
reprodução e índole dessa intensidade energética. Com seu configurar em imagens simbólicas está sendo
expressado seu sentido e criada uma forma para este de modo autônomo a automático.
6.12. Em reações intensas, nas complicações singulares, no caso de depressões, etc., somos sujeitos à condição
do momento e o objetivo-psíquico, isto é, o inconsciente, dispõe de nós, vive-nos, faz algo dentro de nós, o
que altera o nosso Ego. Ao concentrarmo-nos sobre tal condição, objetivando-a em um processo imagético,
estamos outorgando-lhe forma e encontramos seu sentido. Entregamo-nos, então, intencionalmente, ao
processo, o qual sem este relacionamento, decorreria como um evento automático e de natureza cega.