Você está na página 1de 112
Faculdade de Psicologia e Ciéncias da Educagao Universidade do Porto ESTUDO DOS VALORES PROFISSIONAIS NO MERCADO DE TRABALHO Vitor Manuel Dias Marinho Outubro, 2013 Dissertagao apresentada no Mestrado Integrado de Psicologia, Faculdade de Psicologia e de Cigncias da Educagio da Universidade do Porto, orientada pelo Professor Doutor Joaquim Coimbra (F.P.C.E.UP.). i ‘Vitor Manuel Dias Marinho ' Presidente: Doutora Sandra Cristina da Sika Reis Torres Arguente: Licenciado José Manuel Almeida de Castro Oriemtador: Doutor Joaquim Luis Braga dos Santos Coimbra Classfcagio: 16 valores Resumo © objectivo deste estudo passa por verificar se existem diferengas de médias significativas, relativamente aos valores profissionais, numa amostra de 867 individuos, residentes no concelho de Pagos de Ferreira, regido Norte de Portugal. Através da realizagio de estudos diferenciais pretendemos estudar a amostra em fungdo das varidveis género, idade, situagao sécio-laboral ¢ nivel de escolaridade. Os resultados mostraram a existéncia de valores profissionais tendencialmente similares entre 0 género masculino e 0 género feminino. Foram detectadas diferengas significativas em um dos dois factores (50%), que constituem o instrumento. Esta igualdade entre género aponta para a constatagiio de valores profissionais andréginos, com tendéncia para a aproximago ideolégica a0 modelo dos novos significados do trabalho. Em fungdo da idade dos inquiridos (até 35 anos e mais de 35 anos) as diferengas significativas verificam-se igualmente em um dos dois factores. Esta tendéneia de valorizagao profissional entre grupos indicia que a idade pode ser condicionante dos valores profissionais que os inquiridos revelam. Relativarnente a situagio sécio-laboral, as diferengas significativas registam-se nos dois factores. Esta tendéncia, de divergéncia na valorizag3o profissional, entre individuos empregados © desempregados, manifesta-se prineipalmente no factor “Realizagdo Pessoal Através do Trabalho”. O valor elevado das médias neste factor € revelador da importancia que os inquiridos empregados a prazo e empregados efectivos atribuem a estes aspectos do trabalho. Quanto ao nivel de escolaridade, verificam-se diferengas significativas nos dois factores que compdem o instrumento. Os valores do factor “Realizagdio Pessoal Através do Trabalho” revelam que quanto maior for a escolaridade maior é a preferéncia dos inquiridos por essas caracteristicas do trabalho. Os escaldes com menor escolaridade so 0 que mais valorizam o factor “Seguranga Relacional ¢ Instrumental”. Palavras-Chave: Valores Profissionais, Trabalho, Androginia. I Abstract The aim of this study is to see if there are significant differences in medium, concerning professional values, in a sample of 867 individials, resident in the municipality of Pagos de Ferreira, Northern Portugal. By performing differential studies we plan to study the sample as a function of variables gender, age, socio-labour situation and level of schooling. The results showed the existence of professional values tend to be similar between males and females. Significant differences were found in one of the two factors (50%), which constitute the instrument. This equality between genus points to the finding of professional values androgynous, with tendency to the ideological approach to the model of the new meanings of work. Depending on the age of respondents (up to 35 years and over 35 years), significant differences also occur on one of two factors. This trend, of professional valuation between groups, suggests that age can be etching of professional values that respondents reveal. In relation to the socio professional, the significant differences are recorded in two factors. This trend of divergence in professional valuation, between employed and unemployed individuals, manifests itself mainly in the form factor "personal fulfilment through work”. The high value of the averages, this factor, is revealing the importance that respondents employed in the Jong term and effective employees attach to these aspects of the work. As for the level of education, there are significant differences in the two factors that make up:the instrument. The values of factor "personal fulfilment through work", shows. that the higher the educational level the greater the preference of respondents for these features to work. Levels with less schooling are the ones who most value the factor “Relational and Instrumental Safety". Keywords: Professional Values, Work, Androgyny Tl Résumé Le but de cette étude est de voir si il y a des différences significatives dans le milieu, concernant des valeurs professionnelles, dans un échantillon de 867 personnes, résidant dans la municipalité de Pagos de Ferreira, nord du Portugal. En effectuant des études différentielles nous avons I'intention d'étudier |'échantillon en fonction des variables sexe, Age, situation socioprofessionnelle et le niveau de scolarité. Les résultats ont montré I'existence de professionnel valeurs ont tendance a étre similaire entre males et femelles. Des différences significatives dans l'un des deux facteurs (50 %), qui constituent linstrument. Cette égalité entre points de genre la découverte des valeurs professionnelles androgynes, avec tendance A approche idéologique au modéle des significations nouvelles du travail. Selon age des personnes interrogées (jusqu’a 35 ans et plus de 35 ans), des diffférences importantes se produisent également sur un des deux facteurs. Cette tendance, de Vévaluation professionnelle entre groupes, suggére qu’dge peut étre une gravure de valeurs professionnelles qui révélent des intimés. En ce qui concerne le socio professionnel, les différences significatives sont enregistrées dans deux facteurs. Cette tendance de divergence dans I'évaluation professionnelle, entre individus salarige et chOmeur, manifeste principalement sous la forme facture « épanouissement personnel par le biais de travaux ». La valeur élevée des moyennes, ce facteur, est révélateur de V'importance que les répondants salariés 4 long terme et efficaces employés attachent a ces aspects du travail, En ce qui conceme le niveau 'éducation, il y a des différences significatives dans les deux facteurs qui composent l'instrument. Les valeurs du facteur « épanouissement personnel par le biais de travaux », montre que plus l'éducation niveau le plus élevé la préférence des répondants pour ces fonctionnalités s‘exécute. Niveaux qui ont moins de scolarité sont ceux qui ont le plus de valeur au facteur « Sécurité relationnelle et Instrumental ». Mots elés : Valeurs Professionnelles, Travail, Androgynie Iv Agradecimentos ‘Ao meu Pai, obrigado pela presenga ¢ apoio incondicional. Pela facilitagio das condigdes, indirectas mas indispensaveis, que permitem almejar, percorrer e atingir objectivos. Para a minha querida Mae, fonte de inspira¢do e motivacao. Se existiu um caminho a percorrer e metas a alcangar é a ti que devo grande parte dessas vitérias. Aos meus irmios e restante familia, é um orgulho poder fazer parte, viver & partilhar momentos. Margarida Carvalho, meu amor, fiel companheira, amiga, confidente ¢ critica € uma sorte e um grande privilégio poder contar com a tua presenga sempre activa € constante. Ao orientador, Prof. Dr. Joaquim Coimbra, pela andlise critica ¢ rigorosa. Pelos comentarios e sugestes que ajudaram a dar objectividade e sentido cientifico a este estudo. ‘Acs meus amigos, a todas as pessoas e instituigdes que colaboraram e tornaram, possivel este estudo, com o seu trabalho, com os meios necessdrios e com a disponibilidade indispensavel. MUITO OBRIGADO! Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho indice Introdugio.. 1. Os valores humanos ¢ os valores profissionais. 1.1, Os valores humanos... 1.2. A origem dos valores profissionais e a sua diferenciagao de outros conceitos.....11 1.3. Definigao do significado do trabalho............... 1.3.1. A centralidade do trabalho... 16 1.3.2, Evolugao do significado do trabalho... «18 1.3.3, Fungdes psicossociais do trabalho. .... 2.25 2. Os valores profissionais € o género 2.1. Modelos tedricos............. 2.1.1. Modelo dos Esteredtipos de Género.......-...: scree 2.1.2. Modelo da Androginia........... 2.1.3. Modelo dos Novos Significados do Trabalho. 2.2. Estudos sobre os valores profissionais em fungao do género. 3. Os valores profissionais e a idade.... 3.1.Estudo sobre os valores profissionais em fungao da idade..............6 cece 4. Os valores profissionais ¢ a situagio sécio-laboral. 4.1. Estudos sobre os valores profissionais em fungdo da situagdo sécio-laboral... 5. Os valores profissionais e o nivel de escolaridade. . 5.1.Estudos sobre os valores profissionais em fungao do nivel de escolaridade.............41 6. Estudo empirico.... 6.1. Objetivos de estudo. Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho 6.2, Hipéteses de estudo.. 7. Método. 7.1, Participantes... 7.2. Material... ..ccceccceeteecccceeeteeeeneee 7.2.1. Questionario Sécio-Demografico............0:eeecceerereeeteeer teenies 7.2.2. Inventario de Valores Associados ao Trabalho............0:000+ 7.3, Procediment0..........6..ccccseeeecseeeseee ents eeeeeeee 7.4. Analise das qualidades psicométricas do instrumento..... 7.4.1. Validade. 7.4.2, Fidelidade...........+. 7.4.3, Semsibilidade..........c cece eee eee eect tees er sceeecisueenereseceren 8. Apresentacio dos resultados...... 8.1. Perfil dos valores profissionais da amostra global... 8.2. Estudos diferenciais . 8.2.1. Anilise da variavel Género.... 8.2.2. Anilise da variavel Idade... 8.2.3. Anilise da varidvel Situagao Sécio-Laboral..... 259 8.2.4. Anilise da variavel Nivel de Escolaridade................- seseeeenresseen6L 8.3. Analise de contetido as questdes do Questiondrio Sécio-Demografico.............64 9, Anilise e discussao dos resultados... Conclusio. Bibliografia. Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho indice de Anexos Anexo A. Questionatio Sécio-Demografico. Anexo B. Questiondrio de Valores Associados ao Trabalho (Q.V.A.T). Anexo C. Anilise das qualidades psicomeétricas do instrumento (Validade). Anexo D. Diferengas significativas encontradas em fungdo do género por item e por fator Anexo E. Differengas significativas em fungdo da situaco sécio-laboral, para os fatores, “Realizagdo Pessoal Através do Trabalho”e “Seguranga Relacional ¢ Instrumental”, Anexo F, Diferengas em fungao do género para 0 fator, “Realizagiio Pessoal Através do Trabalho”, (valor de médias). Anexo G. Nivel de escolaridade para o fator, “Realizagtio Pessoal Através do Trabalho”, (valor de médias). Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho indice de Figuras Pag. Figura 1. Piramide das necessidades de Maslow, no contexto das necessidades, valores, WAS interesses e comportamento......... Figura 2. Papel dos estereétipos de género na formagdo de um sistema de valores 29 profissionais............... Figura 3. Fatores influentes na formagao de um sistema de valores profissionais. Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho Indice de Quadros Quadro 1. Anélise fatorial apés rotagao varimax e indices de validade interna por item ..... Quadro 2. Coeficientes de consisténcia interna das dimensées teéricas do Q.V.A.T. Quadro 3. Medidas de tendéncia central, de dispersao ¢ de distribuigao dos resultados por fatores retirados do Q.V.A.T ss... Quadro 4, Identificagdio do género por fator ¢ respetivos valores de niimero, média ¢ desvio- PAU... cesscseesseeessseassessvesnesesteesesses Quadro 5. Diferencas encontradas em fungo do género por item .... Quadro 6. Diferengas encontradas em fungao do género por fatores......... Quadro 7. Resultados dos valores profissionais para as diferengas em fungao da idade.......57 Quadro 8. Diferengas encontradas em fungao da situagio sécio-laboral .. a) Quadro 9. Resultados dos valores profissionais para as diferengas em fungao da escolaridade 61 Quadro 10. Diferencas de médias nos fatores “Natureza do trabalho”, “Relacionamento Interpessoal e Prosperidade” e “Aspetos Intrinsecos”, em fungo da escolaridade...........u62 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho indice de Graficos Pag. Grafico 1. Preferéncia da valorizacao profissional pela amostra total. ... 52 Grafico 2. Diferengas significativas em fungao do género por item. 355 Grafico 3, Perfis de valores profissionais em fungao do género...... . Griifico 4. Perfis de valores profissionais em fungio da idade.... Grafico 5. Perfis de valores profissionais em fungo da situagao sécio-laboral........ Grafico 6. Valor de médias dos fatores em fungdo da escolaridade............6000200 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho Introdusao Os objetivos deste estudo consistem na andlise dos valores profissionais, numa amostra de individuos empregados ¢ desempregados. Paralelamente, pretendemos verificar se existem diferengas em fungdo das varidveis género, da idade, da situagao sécio-laboral e da escolaridade, Como objetivo secundério pretendemos verificar quais as estratégias argumentadas pelos individuos empregados para a questo, “Qual é a melhor forma de manter © trabalho?” e quais as atitudes dos desempregados para a questo, “O que é mais importante para arranjar trabalho?”. suporte tedrico que sustenta 0 estudo dos valores profissionais em fungao do género é fundamentado por trés grandes tendéncias. A primeira tendéncia aponta para a manutengao de valores profissionais tipicamente masculinos ou femininos. Este modelo € referido por Neto, Cid, Pomar, Pegas, Chaleta, e Folque (2000), como um “conjunto de crengas estruturadas acerca dos comportamentos ¢ caracteristicas particulares do homem e da mulher”. Segundo este modelo tedrico, os homens tendem a valorizar os valores materiais € instrumentais, enquanto as mulheres dio maior preferéncia a valores sociais orientados para a expressividade emocional ¢ para o relacionamento interpessoal (Feather, 1984, citado em Lima Santos & Pina Neves, 2002). A segunda tendéneia aponta para uma valorizagao profissional com referencial andrégino, que se caracteriza pela combinagio de atributos femininos e masculinos, eliminando 0 pressuposto do dualismo de género. Este modelo induz & flexibilidade do individuo em ser assertivo ou compassivo, ser expressivo ou instrumental, ser feminino ou masculino, mediante circunsténcias mais apropriadas as diversas situagdes ¢ contextos (Bem, 1981). A terceira e mais recente tendéncia ¢ suportada pelos estudos de Lima Santos ¢ Pina Neves (2002). A principal caracteristica deste modelo situa-se no aparecimento de valores profissionais contrarios aos tradicionalmente apresentados em fungio do género © trabalho foi realizado na rea geogrifica de Pagos de Ferreira: deste modo, a amostra de individuos empregados saiu do universo do comércio, industria ¢ servigos local. A amostra dos desempregados foi retirada do universo do Instituto de Emprego ¢ Formagao Profissional (1.E.F.P.), de Penafiel, inscritos na drea de residéncia de Pagos de Ferreira. A metodologia empregue neste estudo passa por definir o significado dos valores profissionais, relatar a sua evolugo histérica e fazer a sua distingdo de outros constructos congéneres. Passa também por definir 0 conceito de trabalho e a sua centralidade enquanto 7 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho condicionados dos valores profissionais para os individuos, Posteriormente, apresentamos os modelos te6ricos que fundamentam os valores profissionais em fungio do género ¢ a apresentago de estudos em fangdo das varidveis género, idade, situago sécio-laboral e nivel de escolaridade. © estudo empirico foi realizado com uma amostra de 867 individuos, aos quais foi administrado um questionério sécio-demografico e um questionério de valores associado a0 trabalho. De seguida, apresentamos, analisamos ¢ discutimos os resultados da andlise fatorial ¢ dos estudos diferenciais em fungaio do género, da idade, da situagdo sécio-laboral e da escolaridade. Para finalizar 0 estudo, € realizada uma conclusio acerca dos valores profissionais e a sua articulagao com 0 conceito de trabalho e é elaborada uma sintese acerca dos principais resultados encontrados. Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho 1.0s valores humanos e os valores profissionais 1.1. Os valores humanos Os valores humanos acompanharam a evolugao do homem ao longo da sua historia, de modo que a preocupagiio de conhecer do homem, e o surgir das teorias do conhecimento se fundem em diferentes épocas e contextos sociais com os proprios valores humanos. Na Grécia antiga, o homem organizava-se baseado em principios miticos e acreditava que a sua vida era organizada por deuses. Os Gregos consideravam que o conhecimento verdadeiro pertencia a uma ordem diferente da humana (in Rocha & Magalhaes, 1987). Com. os primeiros filésofos (VII e V1 ac.), os homens come¢am a fundar os seus valores baseados na observagao da natureza, as leis da natureza fundamentam os principios da moral ¢ 0 homem deve reger a sua atuagdo no mundo por essas leis e principios. Para Sécrates (IV ac.), o homem passa a ser o centro dos valores morais, 0 que constitui uma primeira nogdo de individualidade, Na Idade Média, o Cristianismo realgou a centralidade do homem ¢ transfere para si 0 centro de qualquer valor a ser desenvolvido quando refere que o homem ¢ a imagem de Deus. Isto provoca uma unido entre corpo e alma, os valores humanos, antes centrados na polis, no cidadao, assumem uma dimensio pessoal seguindo as normas do Cristianismo, exemplo de Deus. Nos finais da Idade Média, com Descartes, surge 0 pensamento industrial, racionalista que faz a separacdo entre corpo e razdo (Deus). Os valores humanos modificam-se, 0 corpo ja nao € sagrado, a razio € 0 centro de tudo, “coisa que pensa”, Unica certeza da existéncia humana, iinica ligagdo a Deus (in Rocha & Magalhdes, 1987). Este pensamento prevalece porque a superioridade racional do homem assim o exige, o homem € o senhor da natureza ¢ a razao senhora do universo. Autores como Copérnico, Newton ou Galileu marcam um novo periodo da historia do homem, marcado pelos valores do humanismo exacerbado. A revolugdo industrial evidencia um homem separado da terra, da natureza, capaz de tudo criar ou recriar. Nasce um homem modemo com novos valores humanos, agora mais egoistas ¢ mecanicistas. A Europa do século XVII é dominada por uma instabilidade econémica, politica e ideolégica, no plano social a renovagao da arte e da cultura langam as bases de uma nova organizagdo social ¢ politica. Os principios teolégicos decadentes, nesta época moderna, sio Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho ameacados por uma nova ordem de valores humanos onde nao fosse condenada a atividade comercial, 0 desenvolvimento cientifico e cultural. O século XX caracteriza-se pela preocupagdo de alguns autores numa definicao ¢ caracterizagio dos valores humanos, numa perspetiva meramente cientifica, isenta de quaisquer conotagées politicas, teoldgicas ou culturais, que anteriormente influenciavam e se fundiam com a propria nogdo e evolugao do homem e do conhecimento. Neste sentido, os valores humanos sao considerados como motivadores da conduta humana (Salanova, Gracia, e Peiré, 1996). Kluckhohn (1951) define um valor como “ uma concegdo explicita ou implicita, caracteristica de um individuo ou de um grupo, dos aspetos desejaveis que influenciam a selegiio de modos, meios ¢ fins disponiveis de ago” (pp. 57, 58). Desta forma, os valores humanos influenciam a ago através da realizagZo de condutas que no seu entender englobam aspetos desejaveis para a pessoa (in Salanova, Gracia, & Peird, 1996). Loccke e Henne (1986) salientam que os valores so 0 que as pessoas consideram de bom e benéfico, tendo consciéncia disso ou nao. Para Schwartz e Bilsky (1987), os valores so conceitos ou crengas, sobre comportamentos desejaveis, transcendem situagdes especificas, constituem-se como um guia de selecaio e avaliagaio do comportamento e estdo ordenados no que respeita ao seu grau de importancia. Segundo Allport (1961, citado em Fonseca, 1993), um valor é uma crenga a partir da qual o individuo age, tendo por base a sua preferéncia. Para Rokeach (1973), os valores enyolvem julgamentos do que ¢ certo, adequado, desejavel ¢, portanto, servem para predizer tendéncias de ages e escolhas das pessoas. Brown & Crace (1996, p. 94), defendem que “Valor ¢ uma crenga duradoura de que um modo de comportamento ou estado existencial ¢ pessoal ou socialmente preferivel a outro comportamento ou estado existencial oposto ou inverso”. Deste modo, 0s valores so representagdes cognitivas de necessidades que, quando desenvolvidas, produzem modos de comportamento, orientam as pessoas para estados desejados de comportamento e constituem-se como base da defini¢do de objetivos. Neste sentido, os valores humanos sdo aprendidos; diferem em intensidade e contetido, em fungdo de individuos ou grupos sociais; determinam as decisdes, assim como as reagdes emocionais: constituem-se como um nivel mais basico que as atitudes, e em certa parte regula-as, sendo um conceito mais central para o individuo que as atitudes e tem um carater normativo (Rokeach, 1973). 10 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho Fonseca (1993) refere que um valor se assume também como uma crenga duradoura, ndo negando A partida a possibilidade de mudanga. Os valores ndo sao totalmente estiveis, apesar de serem definidos como uma crenga duradoura “enduring belief”: se os valores fossem um constructo estavel o préprio desenvolvimento pessoal e social estaria condicionado, Mais recentemente, Gouveia (2008, p. 55) aponta as caracteristicas dos valores como conceitos ou categorias; sobre estados desejaveis de existéncia, transcendem situagdes especificas, assumem diferentes graus de importéncia, guiam a selegéo ou avaliagdo de comportamentos ¢ eventos, e representam cognitivamente as necessidades humanas. 1.2. Os valores profissionais, sua origem e diferenciagao de outros conceitos © estudo dos valores profissionais, numa sociedade cada vez mais marcada pelas novas tecnologias da informagao ¢ da comunicagdo!, manifesta um papel de extrema importancia para a compreensio daquilo que as pessoas consideram mais importante nas varias dimensdes e contextos de vida. Para melhor pereeber aquilo que representam os valores profissionais, na vida das pessoas, 6 importante definir e caracterizar este constructo, que ao longo dos tempos foi sofrendo evolugio. Fonseca (1993) revela que, numa fase inicial, a sua definigo gerou divergéncias, pois era naturalmente confundido com as nogdes de necessidades, interesses ou atitudes. Descombes (1980) identifica trés correntes, entre 1925 ¢ 1975, para caracterizar os valores profissionais. A primeira corrente, entre 1925 ¢ 1960, era designada como “A dos pioneiros”, e aqui a nogao de valor confunde-se com a nogdo de motivagao e interesse, ndo existindo uma distingo precisa entre elas. A segunda corrente, entre 1960 e 1970, ficou caracterizada por um grande esforgo a nivel de categorizago ¢ classificagdo dos valores estudados ¢ pela criagdo de instrumentos mais objetivos para a sua avaliago. A partir de 1975, surge a intitulada corrente atual, que se define pelo estudo sistematico (de tipo longitudinal), cuja medigdo é efetuada através de instrumentos objetivos construidos para 0 feito. Super (1974, 1982), afirma que a construgdo do significado do trabalho é uma questio de valorizagao, comparavel com a de outras atividades. Para algumas pessoas, o trabalho é Sociedade da informagao uma sociedade que preferencialmente utiliza 0 recurso as tecnologias de informagao € da comunicago, que podemos conceptuatizar como instrumento facilitador da partilha e troca de informagio por mediagao eletrénica (Lima Santos, 2004), ll Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho valorizado intrinsecamente ¢/ou extrinsecamente (work oriented persons), mas para outras pessoas isso niio se verifica (non work oriented persons). Para Almeida (1990), a combinag&o de valores intrinsecos e extrinsecos, com predomindncia dos primeiros nos sistemas de preferéncias relativas ao trabalho, parece ser um elemento estruturante das configuragées culturais com tendéncia a perdurar nas proximas décadas. Pryor (1982) considerava a definigéo “work values” bastante pobre e confusa ¢ propunha a substituigao por “work aspect preference”. Mais tarde, Macnab ¢ Fitzsimmons (1987) concluem que os conceitos “needs” de Lofquist ¢ Davis, “work value” de Super e “work aspect preference” de Pryol se referem a conceitos similares. Lévy-Leboyer (1987), diz que o trabalho representa um valor fundamental na vida pessoal de cada individuo, assume significados diferentes de acordo com interesses € objetivos pessoais, sociais e profissionais. Logo, € percecionado de modo diferente e a sua atribuigdo ¢ pessoal e unica, a implicagtio e o empenho do mesmo, o seu valor econémico social, assim como o seu papel psicolégico mudam significativamente em fungiio de politicas sécio-econémicas, do meio ambiente, da cultura, tipo de tecnologia utilizada ou mesmo durante 0 ciclo da vida do individuo. E, pois, neste sentido que Schmitt ¢ Mellon (1989) referem que a satisfacdo com a vida necessita da satisfagiio no trabalho e nio 0 inverso, Segundo Super, Zytowski, Prior e MOW (Meaning of Working) (1987), os valores profissionais sfio qualidades que “as pessoas desejam do seu trabalho, sendo mais fundamentais do que os interesses”; “So reflexo de uma relagdo entre uma necessidade manifesta ¢ a satisfagao da mesm: '; “Sao indicativos de preferéncias laborais ¢ nao imperativos morais”; do ato de trabalhar” (p. 59) De acordo com o projeto MOW (1987), sdo identificadas duas propriedades basicas “Contém informagio sistematica, de que resultados procuram as pessoas nos valores profissionais. Primeira: “Os valores profissionais t8m um conteddo, que se refere a0 que as pessoas querem obter”, Sendo este uma referéncia usada nos juizos de valor acerca da desejabilidade e das caracteristicas de um trabalho, Segunda: “Os valores tém um equilibrio e um ponto étimo”. A importéncia que um valor representa pode variar em fungao da quantidade e possibilidade de coneretizagao do mesmo; desta forma, o valor de um. determinado aspeto do trabalho esté relacionado com o valor atribuido a outros aspetos. Paralelamente as mudangas epistemologicas, existem mudangas mais bisicas nos sistemas de valores profissionais e no profissionais das pessoas ¢ das sociedades. Estas so responsiveis pela emergéncia do interesse ¢ da valorizagdo da realizaglio pessoal e da qualidade de vida, da mesma forma que tendem a ser procuradas nos varios contextos de vida. 12 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho © autor refere ainda que a importéncia do trabalho, para um individuo, depende da sua percecdo individual acerca das possibilidades de obtengao ou aquisigado de beneficios que o trabalho the pode proporcionar, ¢ que so salientados através dos valores profissionais (Sverko 1989). Sinisalo e Shvets (2000) afirmam que os valores profissionais se referem ao que as pessoas consideram importante na sua vida profissional, ou seja, a importncia que as pessoas atribuem as varias dimensdes/aspetos da sua vida profissional. Os valores profissionais podem ser vistos, segundo Sinisalo ¢ Shvets (2000, p. 92), como “expressdes mais gerais dos valores humanos”. A atividade individual que conduz a escolha de uma profissd, ao desenvolvimento da atividade profissional ou ao desenvolvimento da carreira, sto aspetos que revelam e so reveladores da adogio de diferentes padrdes de valores profissionais que, de modo geral, se tm constituide como um dos organizadores mais significativos da nossa vida social, profissional ¢ pessoal. Jiménez (2008) refere que “los valores son principios que nos permiten orientar nuestro comportamiento en funcién de realizarnos como personas. Son creencias fundamentales que nos ayudan a preferir, apreciar y elegir unas cosas en lugar de otras, 0 un comportamiento en lugar de otro. También son fuente de satisfaccion y plenitud”. ‘A conceptualizagao dos valores profissionais é suportada por dois pontos fundamentais: (1) atribuigdo de importincia as varias dimensdes da vida profissional e (2) preferéncias ¢ interesses por essas dimensées. O primeiro ponto foi definido por Lima Santos e Pina Neves (2004), como internalidade, que consiste na natureza interna dos aspetos da vida profissional e nos remete para o nivel de dependéncia que esses aspetos apresentam relativamente a atividade e as tarefas que o trabalhador desempenha. Como exemplo, os autores referem “a variedade é um aspeto interno ¢ intrinseco 4 atividade, pois constitui-se como uma caracteristica sua, sendo, por conseguinte, dependente dela, enquanto que a relagio com os colegas de trabalho representa um aspeto mais extrinseco a tarefa, pois esta, para ser executada, nfo depende diretamente das relagdes sociais que o trabalhador estabelece no seu local de trabalho” (p. 252). O segundo ponto a considerar remete para a instrumentalidade dessas preferéncias ¢ interesses, uma vez que diz respeito ao carter mais ou menos instrumental que os diversos aspetos da vida profissional possuem para o trabalhador. Desta forma, para Beutell ¢ Brenner (1986) os valores profissionais nao sio operacionalizados como sinénimos de imperativos morais, tal como os valores humanos, mas sim enquanto indicadores de preferéncias. Fonseca 13 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho (1993) considera que o facto de distinguirmos valores profissionais como instrumentais ou terminais, no impede a unido das duas categorias, podendo um valor instrumental tornar-se num fim, comparativamente a outro valor profissional. Esta faculdade leva Schwartz e Bilsky (1987) a discussdo dos valores profissionais enquanto constructos transituacionais uma vez que no derivam propriamente das situages profissionais, mas antes daquilo que as pessoas valorizam nessa situagiio, Ou seja, os valores profissionais ndio dependem das situagdes especificas do trabalho, a atribuigdo de importdneia as diferentes dimensdes da vida profissional, ¢ a sua observacdo enquanto meio ou fim, é que depende, entre outros determinantes, dessas situagGes profissionais. Estas reflexdes levam & questo da origem dos valores profissionais e de como estes influenciam o comportamento humano, pondo-se assim em questio, por um lado, o lugar que os valores profissionais ocupam no processo motivacional do comportamento e, por outro, qual a sua diferenciagdo em relagio aos constructos que The so proximos. Precursor nesta tematica, Super (1973) propée um quadro de referéncia, no qual as necessidades surgem como elemento basico da personalidade, derivando os valores das necessidades ¢ os interesses dos valores, o que faz destes iltimos dimensdes mais importantes ‘ou primordiais do que os interesses. Segundo Super (1970), os valores so objetivos que procuramos atender, quando queremos satisfazer necessidades, enquanto os interesses sfio atividades efou objetos, através dos quais os valores sio atendidos e as necessidades satisfeitas. Desta forma, para Sverko (1989), valores © interesses sao indicadores de necessidades e encontram-se mais proximos do comportamento. Para Maslow (1970, citado em Rodrigues, 1998), 0 comportamento humano € comandado por necessidades que se organizam segundo uma hierarquia, na qual as motivagdes humanas se enquadram em trés niveis hierdrquicos, sendo ainda subdivisiveis os niveis basicos e intermédio. Partindo da base para o vértice, os fundamentos do modelo explicativo das motivagdes seguem a seguinte ordem de apresentagdo: na base da pirdmide esto as necessidades fisicas ¢ de seguranga, ao nivel central encontram-se as necessidades psiquicas e, no topo da hierarquia, esto as necessidades de autorrealizag3o. Ao tornar possivel realizar uma descrigo das motivagdes humanas, através de uma pirdmide, 0 autor consegue mostrar ¢ explicar de forma clara ¢ percetivel alguns fenémenos, acontegam cles em contexto familiar, social, ou no mundo do trabalho e das organizagées. Com base no esquema original, e com o objetivo de salientar a importancia ¢ adequabilidade da hierarquia das necessidades de Maslow aos varios contextos, apresentamos na Figura 1 a relagdio entre necessidades, valores, interesses e comportamento. Verificamos 14 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho que na base da piramide, e desempenhando 0 papel basico da agdo, esto as necessidades que conduzem ao surgimento dos valores humanos. Consequentemente, os interesses, derivados dos anter ‘es niveis, constituem-se como atividades garantes da ago, no sentido em que permitem atender aos valores ¢ satisfazer as necessidades basicas. No cume da piramide, 0 comportamento operacionaliza a realizagdo das necessidades, sejam elas basicas ou secundarias. Figura 1. Pirfimide das necessidades de Maslow, no contexto das necessidades, valores, interesses e comportamento. 1.3, Definigao do significado de trabalho Sverko ¢ Vizek-Vidovie (1995) referem que o trabalho assume trés fungdes basicas; uma fungiio econémica, uma fungdo social que permite o reconhecimento social, status ¢ prestigio e fonte de satisfagao das necessidades de convivéncia e interagdes. E, uma fungao psicolégica, enquanto fonte de identidade, auto-estima e realizagao, Salanova, Gracia, ¢ Peird, (1996, p. 38) definiram 0 trabalho, como um constructo psicossocial, considerando este como “aquele conjunto de atividades humanas, de caréter produtivo ¢ criativo, que mediante uso de técnicas, instrumentos, materiais ou informagdes disponiveis, permite obter, produzir ou prestar certos bens, produtos ou servigos”. Nessa atividade a pessoa adquire habilidades, conhecimentos ¢ outros recursos ¢ obtém algum tipo de compensagao material, psicolégica e/ou social. Considerando tanto a aproximagdo te6rica como a empirica, Salanova, Gracia, e Peiré (1996, pp. 36-37), afirmam: “O trabalho € definido fundamentalmente como uma atividade 15 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho que nao tem um fim em si mesmo, cujo objetivo néo ¢ simplesmente trabalhar, mas sim um meio para atingir um fim, para se obter algo em troca”. Para Freire (1997), 0 trabalho é entendido como uma atividade deliberadamente concebida pelo Homem consistindo na produgdo de um bem material, na prestago de um servigo ou no exercicio de uma ago, com vista 4 obtengao de resultados que possuem simultaneamente a utilidade social e valor econémico, através de dois tipos de mediagdes necessérias, uma técnica e outra organizacional. Em estudo realizado sobre o significado do trabalho, MOW (1987), os autores referem que 0 significado do trabalho € considerado como um constructo psicolégico multidimensional que é delimitado em fungaio de cinco dimensdes: A centralidade do trabalho como um estilo de vida; As normas sociais sobre o trabalho; Os resultados valorizados do trabalho; A importancia dos objetivos laborais e a identificagao com um estilo laboral. Desta forma, este é um constructo que nao se mantém estatico, ele é dindmico, o seu significado vai- se configurando, modificando e reafirmando constantemente. 1.3.1. A centralidade do trabalho O projeto MOW (1987) identifica a “centralidade do trabalho como papel social” como uma das cinco dimensées principais de significados do trabalho. Neste sentido, a centralidade do trabalho consiste no grau de importancia geral que o trabalho tem na vida de um individuo, em determinado momento, independentemente das razbes pelas quais esta importéncia & atribuida. Para Salanova, Gracia, ¢ Peird (1996, p. 49), “A centralidade do trabalho refere-se ao grau de importiincia que 0 trabalho tem na vida das pessoas”, ou seja, de que forma os individuos se identificam com o seu trabalho e até que ponto este € central para a sua identidade. Porém, a centralidade do trabalho nio deve ser interpretada como sinénimo de exclusividade na vida de cada pessoa, 0 que implicaria uma aboliggo de outras atividades ligadas familia, & vida social e ao lazer, em dettimento da atividade profissional. Super (1990) afirmava que “Essa centralidade parece ndo estar a ser colocada em causa pela crescente valorizagio de outras atividades, podendo estar a ser apenas partilhada” Embora a transigio da sociedade industrial para a nova sociedade da informagio e da comunicagio tenha conduzido a alteragdes, nos dominios individual e sécio-laboral, entre outras, com influncia direta nas dimensdes tempo e espago (Lima Santos, 2004), “A 16 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho centralidade da atividade profissional parte de um processo de atribuigaio de importincia que tem por referéncia sistemas hierarquizados de valores” (Lima Santos & Pina Neves, 2001, p. 218). A centralidade da atividade profissional é considerada pelas pessoas em fungdo de duas dimensées: a da importdncia que Ihes é atribuida e a da percecdo da sua concretizagao pela atividade profissional. Neste sentido, a importancia dos valores profissionais nao determina a centralidade do trabalho, mas sim a percegdo de que a atividade profissional pode possibilitar a concretizagdo dos valores profissionais mais importantes, Lima Santos e Pina Neves (2001, p. 219). Super (1980) considera que a centralidade da atividade profissional, por comparagao com outras atividades desempenhadas, dita a sua importancia relativa no quotidiano ¢ no estilo de vida da pessoa, quer em termos de tempo despendido no seu desempenho, quer em termos de envolvimento neste mesmo desempenho. Para Almeida (1990), nas sociedades contemporaneas, 0 contexto das atividades profissionais é visto como um dos principais niicleos estruturadores de toda a vida social, considerada sob o ponto de vista das instituigdes ¢ dos processos coletivos, mas também das biografias ¢ quotidianos pessoas. Na perspetiva de Brown (1984), 0 trabalho, como sinénimo de aco mais relevante na vida das pessoas (“work as the major life role”), nio & dogma absoluto, pois para muitos individuos, como afirma Super (1982), 0 trabalho ¢ “one of several major life career roles”, isto é, a familia ou os amigos so to ou mais centrais do que a atividade profissional. Os individuos ao representarem diferentes atividades e papéis nos varios contextos de vida, atribuem-lhes diferentes graus de valorizagao ¢ importancia, desta forma isso faz, com que sejam responsdveis pela atribuig&o do seu proprio estilo de vida. A este respeito, 0 projeto MOW (1987), define a centralidade do trabalho como “uma crenga geral acerca do valor que trabalhar tem na vida de uma pessoa” ¢ como “o grau de importancia geral que trabalhar tem na vida de uma pessoa em qualquer momento da sua vida". Para medir este conceito, os autores utilizam dois procedimentos distintos que permitem diferenciar entre centralidade absoluta e centralidade relativa do trabalho. A centralidade absoluta implica um valor ou crenga da importancia de trabalhar em termos globais ou absolutos. Desta forma, a centralidade absoluta do trabalho determina em que medida este ¢ central para a autoimagem e a referéncia de valorizagao esta no proprio trabalho. Por outro lado, a centralidade pode ser relativa, quando comparada com a importancia que o individuo concede ao trabalho, em relagéio com a importéncia que concede a outras areas relevantes da 17 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho sua vida, como a familia, os amigos ou a comunidade. Desta forma, o trabalho é comparado com outros segmentos ou areas da vida. Estas ultimas tendéncias, segundo Super (1953, citado em Lima Santos & Pina Neves, 2001), corroboram as abordagens do desenvolvimento humano, no sentido em que deixam de yer 0 trabalho como aspeto central da vida, passaram a consideré-lo como um dos aspetos da mesma. Schnapper (1998) afirma que em investigagdes recentes conclui-se que o trabalho continua a ser um instrumento poderoso de autonor e de integragéio psicossocial, sendo mais relevante que os objetivos de realizago pessoal, os amigos, a cultura e o lazer. Apenas a familia se sobrepdem A dimensio profissional. Segundo dados do projeto International Social Survey Programme (1990), as atividades nao profissionais, como a familia e o lazer, evidenciam um acentuar de importéncia na vida das pessoas, na Europa em geral, embora o trabalho continue a manter o seu papel central. Neste sentido, o valor do trabalho para os homens parece manter um lugar central nas suas vidas. De acordo com 0” Neil ¢ Fishman (1992), o trabalho constitui-se numa fonte de masculinidade, no sentido em que € uma fonte de oportunidades para manifestar valores, atitudes e comportamentos tipicos do esteredtipo associado ao sexo masculino. Podemos considerar que, nas sociedades modemas, o trabalho mantem uma centralidade ¢ importancia muito relevante na vida das pessoas; contudo, estas no se limitam apenas as atividades profissionais. A. vida é mais do que trabalho remunerado (dimenstio instrumental ¢ produtiva da profiss4o), ela pode ser valorizada com outros aspetos que a complementam (dimensdes mais intrinsecas do trabalho ao servigo da autorrealizago), como a familia, o lazer, as atividades domeésticas, os tempos livres, as atividades culturais (Laville, 1999, citado em Gongalves & Coimbra, 2002). Desta forma, considerando o anterior referido e partindo da afirmagio de Sinisalo e Shvets (2000, p. 92), “a atividade profissional possui um importante papel na vida das pessoas”, Importa tentar perceber a influéncia, ou nfo, do facto de as pessoas terem uma vida ativa, isto é, uma vida produtiva, uma vida de trabalho, pois o trabalho é um dos modos do agit humano (Lima Santos, 1995), verifiear de que modo o facto de estar empregado ou desempregado e ser homem ou mulher, poder influenciar na obtengdo e manutengao dos valores profissionais. 18 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho 1.3.2, Evolugio do significado do trabalho Neste capitulo, vamos considerar e fundamentar a ideia de trabalho, segundo uma categoria historica da cultura ocidental. O trabalho nas épocas pré-civilizadas tinha uma conotagao diferente da atual. Atividades como casar, cultivar um terreno ou cagar eram atividades que se realizavam de forma natural, © que tora impossivel distinguir trabalho de écio. O conceito de trabalho como atividade forgada surge com as guerras, com a escravatura e da divisio de classes. As pessoas derrotadas ¢ capturadas na guerra seriam forgadas a realizar as atividades menos desejadas, libertando assim os homens livres dessas atividades menos estimulantes (Heller, 1991, citado em Salanova, Gracia, & Peiré, 1996). Etimologicamente, a palavra “trabalho” deriva da palavra latina ¢ripalus (trés paus), que no latim popular designava um dispositive ainda hoje chamado “tronco”, usado para ferrar animais de grande porte, resultando dai o verbo tripaliare, que significa, torturar (Freitas, 1998, citado em Gongalves & Coimbra, 2002). Dai o fato de algo penoso e dificil ter andado sempre associado ao trabalho, que até a Idade Média era uma atividade desempenhada pelos escravos e pessoas de condigdo social baixa. Durante a Idade Média, o trabalho foi percebido, principalmente, como uma atividade corporal depreciativa, enquanto opera servilia (trabalho servil), ou ponos (trabalho penoso), exclusivamente realizado por classes sociais inferiores. Os escravos e mercenarios séo as classes mais desprezadas, eles realizam as tarefas servis, que se destinam exclusivamente a satisfagao dos senhores, ocupam 0 corpo mas nao a mente. Na cultura grega, com o seu ontolégico corpo/espirito, o trabalho corporal era considerado como uma atividade indigna dos homens livres, obstaculizando a fruigao do cio, da contemplacao, da arte, e das atividades de reflexdo filoséfica dos sdbios (Wissen, 1998, citado em Gongalves & Coimbra, 2002). A humanidade do homem consiste na primazia da raz&o sobre 0 corpo, 0 uso elevado da razéo faz o homem afastar-se da anormalidade e aproximar-se da divindade, do belo ¢ da eternidade. O que tora o trabalho degradante € o facto de ele implicar uma relagao de servidao e de dependéncia em relagiio a outrem. (Ramos, M. 2001). Na época Moderna, resultado dos ideais humanistas do Renascimento, verifica-se uma nova atitude face ao trabalho. Com 0 Cristianismo, surge uma alteragao ao sentido do trabalho. A ideia de criagao divina, resultado da interpretagdo dos textos sagrados, abre novos contornos a ideia de 19 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho trabalho. Santo Agostinho interpreta a criagdo divina como obra de Deus e afirma que durante seis dias Deus retira de si matéria com que faz o mundo. Ao afirmar que Deus trabalha, institui-se também como modelo de referéncia para o homem. Também associada a esta ideia, impera a necessidade de defenir normas de vida para o povo de Deus. A Igreja comeca a definir o trabalho como via para a virtude, por oposigdo ao ofium, preguiga inimiga da alma. Neste periodo, o trabalho assume um sentido de realizacao histérica do homem, uma vez que 0 mundo ¢ 0 trabalho divino, cabe ao homem contribuir com o seu trabalho para expandir a sua criagdo, A Santo Agostinho se deve a conjungao de dois conceitos distintos para os romanos, labor © opus, ao assinalar o trabalho (labor) humano enquanto obra (opus), & imagem da obra divina (Ramos, M. 2001). A partir do século XVIII, 0 trabalho passou a adquirir um sentido modemo, por influéncia das transformagies sociais, de natureza demografica, técnica, teolégica ¢ filoséfica. Deu-se um enorme aumento demografico rural e também despontam grandes centros urbanos € 0 trabalho adquiriu o sentido moderno de esforgo arduo e penoso de forma a conseguir um nivel de qualidade de vida superior. ‘A Reyolugao Industrial foi um acontecimento que ditou 0 sentido do trabalho como hoje o entendemos. O desenvolvimento das técnicas permite a mecanizagao da produgao, possibilita responder as necessidades da populagiio em constante crescimento ¢ proporcionar postos de trabalho. Acontecem mudangas na pratica do trabalho, 0 trabalho passa a ser coletivo, realizado por operarios, mecanizado e dividido por setores ¢ tarefas, passa a ser concentrado preferencialmente em fabricas. Mais do que alterar a fisionomia do trabalho, a Revolugao Industrial modifica a forma de o conceber, uma vez impulsionada a produtividade abre a janela no sentido do lucro e da importancia da riqueza (Ramos, M. 2001). Com esta tendéncia, verifica-se uma transformagdo que vai de uma condigio social de inferioridade para © trabalho como um dispositive eficaz de autonomia e superagio de situagdes sentidas como gravosas & condig&o ¢ dignidade humana. Com o capitalismo o destino do Homem centra-se em contribuir para o crescimento do sistema econémico ¢ da acumulago de capital, sendo que o trabalho passa a ser encarado como um fim em si mesmo, Salanova, Gracia, e Peird, (1996). Durante 0 século XIX, devido ao desenvolvimento industrial das sociedades ocidentais, 6 trabalho, que normalmente era efetuado por relagdes salariais dependentes, evolui para uma categoria social central, transformando-se o seu significado antropoldgico e ético. Neste sentido, o trabalho, enquanto colabora¢do com Deus, d4 lugar ao trabalho como ato produtivo © conduz a autonomizagao do homem, o que origina uma mudanga de uma visio teocéntrica 20 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho para uma perspetiva antropocéntrica, caracterizada na transi¢ao do sentido do trabalho como “suor do rosto” para “a venda da forga do trabalho” (Gongalves & Coimbra, 2002). E no pensamento econémico oitocentista que residem as caracteristicas atuais do trabalho, enquanto atividade que produz riqueza, elemento que valoriza cada individuo e fator que sustenta a organizagao social (Ramos, M. 2001). Deve-se a Hegel o principal tributo do século XIX 4 nogdo de trabalho, ao defini-lo como atividade criadora e como expresso humana. Para o autor, o trabalho é a realizagdo espiritual do homem, ele revela-lhe as suas capacidades, possibilita que ele as crie e, com elas, se crie a si proprio. O trabalho é um mediador entre natureza e espirito. Doravante, o trabalho éa esséncia do homem (in Ramos, M. 2001). A evolugao histérica do significado do trabalho tem vindo a acompanhar a evolugéo da sociedade, de forma que atualmente é visto como um dos principais pilares da sociedade industrializada, representando um dos aspetos mais importantes da vida do individuo. Segundo Salanova, Gracia, e Peiré, (1996), fazer uma delimitagdo do constructo revelou-se uma tarefa dificil, em parte pela sua natureza complexa € multifacetada, por outro lado, as diversas areas do saber, que na sua atividade de categorizagdo tentam explicar o trabalho segundo as bases tedricas e empiricas que Ihe sio mais proximas e/ou pela facilidade com que se identificam como similares os constructos de trabalho, emprego, ocupagéio ou posto. Neste sentido, surgiram ao longo do tempo varias definigdes com 0 objetivo de o caracterizar. Com uma visdo instrumental, Dubin (1958, citado em Salanova, Gracia, & Peird, 1996), define trabalho como uma atividade na qual os individuos produzem bens ¢ servigos em troca de um ordenado, ou entao o trabalho era visto como uma forma de contribuir para a sociedade, proporcionando bens e servigos de valor. Por sua vez, Steers e Porter (1975, citado em Salanova, Gracia, & Peird, 1996), propuseram que o trabalho implicava uma motivagao laboral que tinha em conta a aproximagio individual e as relagdes emocionais, Defendiam que poderia ser uma fonte de identidade e autoestima resultantes de sentimentos positivos (clevam_ a implicagao no trabalho) ¢ de sentimentos negativos (diminuem o nivel de implicagao no trabalho). Marshall (1980, citado em Salanova, Gracia, & Peiré, 1996) defendia que o trabalho consistia num esforgo do corpo e da mente, realizado total ou parcialmente, sem que 0 objetivo fosse a obtengio de satisfagdo do individuo. Posteriormente, com 0 projeto MOW (1981, 1987, 1991), onde um dos objetivos era explorar as definigdes que as pessoas atribuem ao trabalho, de um total de 14 definigdes 21 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho apés a realizaglio de andlise fatorial, os autores identificam 4 categorias que definem o trabalho: . Definigdio concreta de trabalho. As pessoas que definem o trabalho desta maneira destacam os aspetos mais objetivos duma atividade laboral, como: “Se é realizado num local proprio de trabalho”, “Se tem um hordrio determinado e se recebe dinheiro por realizé-lo”; * Definigdo social. Onde ressalta 0 aspeto social em contexto de trabalho, como: “ Fazer sentir-se membro de um grupo ou coletivo mais amplo ou de contribuir para o desenvolvimento da soviedade através do trabalho”; * Definigéio do trabalho como carga, onde os individuos despendem um enorme esforgo fisico e/ou mental: © Definiggo do trabalho como um dever, onde implica o cardter obrigatério do trabalho. Importa registar que os individuos consideram primeiramente que uma atividade & trabalho quando recebem dinheiro pela sua realizagdo e, em segundo, se faz parte das suas tarefas. A percentagem de pessoas que definiu o trabalho como uma atividade que requer esforgo, fisico ou mental, foi muito diminuta, Leplat & Cuny (1983) consideram o trabalho como sendo um comportamento adquirido por aprendizagem e que deve adaptar-se as exigéncias de uma tarefa. Consequéncia da transig&o do anterior periodo em que 0 ordenado era o principal fator a ser valorizado pelos trabalhadores, passam agora a set Valorizadas as motivagdes laborais ¢ a satisfagio profissional, e por fim a visdo do trabalho como valor fundamental. Lévy-Leboyer (1987) refere que o trabalho representa um valor fundamental, ¢ no quotidiano de cada um de nés assume significados diversos, de acordo com interesses € objetivos pessoais, sociais e profissionais: para além de o percecionarmos de modo diferente e de Ihe atribuirmos um valor particular e Unico, a implicagfo e 0 empenho no mesmo, o seu valor econdmico e social, bem como o seu papel psicolégico mudam significativamente em fungdo de politicas sécio-econémicas, do meio ambiente, da cultura, do tipo de tecnologia usada e, até mesmo, durante o ciclo de vida do individuo. As tiltimas décadas do século XX aumentam o lugar ¢ 0 tempo do trabalho na vida das pessoas, assim como a correspondente compensagio causada pelo consumo. 22 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho Surgem contribuigdes importantes que obrigam A redefinigtio do conceito de trabalho, através do movimento das relagées humanas, do desenvolvimento dos servigos, da globalizagaio da economia e da revolugdio das tecnologias da informagiio e da comunicagio, Os fatores psicossociais, eleitos por Elton Mayo revelam a sua importancia na influéncia no trabalho e deitam por terra os pressupostos da organizagao cientifica do trabalho, ao salientar a importancia do grupo no desempenho individual, “O trabalho nao € individual ¢ isolado, mas coletivo e cooperativo, pois os individuos sdo eminentemente seres sociais”. Surge assim a nog&o de trabalhador emocional e relacional com necessidade de realizar o desejo de intimidade, consisténcia e previsibilidade (in Ramos, M. 2001). Autores como, Maslow, McGregor, Herzberg, Moreno ou Lewin, so convictos defensores do movimento das relagdes humanas e concebem 0 trabalho como oportunidade de crescimento, de realizagdo, de expresstio das potencialidades pessoais, de reconhecimento interpessoal e da relago social impulsionadora da individualidade. Contudo, estes principios que pareciam fazer ascender a humanidade do trabalho e da sua importancia para as organizagdes, parecem nao conduzir a outro destino sendo o de ser um mero instrumento ao servigo da produgao, mas agora centrado nos fatores humanos. ‘Atualmente, o trabalho parece deixar de obedecer as leis implacaveis da produgio- consumo, para uma tendente submissio aos imperativos da competitividade (Cooper, 1998). A ideia de emprego/trabalho estvel, certo e seguro esta ultrapassado no século XX, indiciando para o futuro 0 contrdrio da concegao humanista. Consequéncia desta tendéncia, surgem indices objetivos que apontam para a insatisfagao profissional, elevados niveis de absentismo, aumento de divércio e de familias monoparentais resultado do excesso de horas dedicado ao trabalho, stresse no trabalho, aumento de consumo de antidepressivos e outras substancias. Estas mudangas véo fazer com que cada vez mais pessoas desenvolvam o seu tabalho-atividade em néio-locais de trabalho (Lima Santos, 2000), podendo estes ser “espagos votados a individualidade solitéria, a passagem, ao provisorio ¢ ao efémero, espacos onde se acumulam solidées e itinerarios individuais” (Aguiar Coelho & Lima Santos, 1999). Nestas tltimas décadas o trabalho transforma-se numa fonte de mau estar, insatisfagdo, desequilibrio emocional, doenga ¢ declinio da vida pessoal, familiar e social. As alteragdes conceptuais previstas para o século XXI apontam para a redugdo dos trabalhadores nas empresas, para a realizagio do triplo do trabalho e para auferir 0 dobro do salario (Handy, 1989). 23 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho Segundo Lima Santos (2000) as mudangas e desenvolvimentos alteraram o trabalho em quatro aspetos: Quanto ao niimero e localizago dos postos de trabalho; Quanto as exigéneias de qualificagtio; Quanto aos risco e condigdes de trabalho; Quanto aos modos de gesto dos individuos e do trabalho. As organizagées modernas caracterizam-se pela flexibilidade e pela énfase nos servigos, sdo mais pequenas e com menos trabalhadores permanentes. Os empregados sfio mais qualificados e mais jovens ¢ os seus salérios est4o dependentes do valor de mercado, das suas competéneias ¢ conhecimentos (in Ramos, 2001). Esta agilidade empresarial é influenciada pelas crescentes exigéncias dos consumidores, © que leva as organizagdes a preferir trabalhadores criativos, flexiveis, recetivos & aprendizagem constante, com elevadas aptiddes relacionamento interpessoal, boa capacidade de adaptagao e consisténcia, superiores competéncias cognitivas e disponibilidade de horario (Cascio, 1995). Os restantes trabalhadores esto no mercado de trabalho, disponiveis para realizar projetos especificos, em fungi das suas qualificagdes e talentos, vendendo as suas competéncias profissionais as empresas. Sennett (2001), acerca das consequéncias pessoais do trabalho no novo capitalismo, alerta para os perigos desta flexibilidade que considera como “o subtil fim da carreira profissional ¢ 0 desprezo pela experiéncia acumulada”. Neste sentido, o trabalho deixa de se basear na execugdo da tarefa, para se basear na prestago do servigo, no processo. ‘As implicagdes mais expressivas destas mudangas implicam o desaparecimento do conceito de trabalho enquanto um conjunto fixo de tarefas (Cascio, 1995). O trabalho/emprego deixa de ser um dado estavel, quer na perspetiva social, quer como atividade intrinsecamente estdvel conceptualmente. O novo milénio indicia que o proprio conceito de emprego pode ser substituido pelo conceito de “empregabilidade”. Segundo Minarelli (1995), a empregabilidade implica a capacidade de adequagao do profissional as novas necessidades e dindmica dos novos mercados de trabalho. Com o advento das novas tecnologias, globalizagdo da produgiio, abertura das economias, internacionalizacao do capital e as constantes mudangas que vém afetando o ambiente das organizagdes, surge a necessidade de adaptacao a tais fatores por parte dos empresarios e profissionais. Remete a capacidade de um profissional estar empregado. Mas muito mais do que isso, & capacidade do o profissional ter a sua carreira protegida dos riscos inerentes ao mercado de trabalho. 24 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho Simultaneamente, regista-se a diferenciago de dois tipos de trabalhadores, os das organizagoes e os de portfolio, disponiveis no mercado de trabalho. Sendo que os das organizagdes estio mais permissivos a sofrer as vicissitudes de um trabalho neo-taylorizado, caracterizado pela exigente domesticagdo das superiores capacidades humanas ao servigo da competitividade (Ramos, 2001). 1.3.3. Fungées psicossociais do trabalho 0 trabalho nem sempre foi uma atividade que tenha servido o ser humano na sua plenitude. Ele desenvolveu-se com 0 propésito principal de satisfazer as razdes econémicas. Contudo, em alguns casos assim no acontece, ¢ 0 tempo dispensado ao trabalho serve apenas para cumprir objetivos da realidade social absolutamente secundaria e acessétia ou de satisfago das necessidades basicas, tais como a alimentag4o. Nestes casos, o trabalho no se constitui como meio de afirmagio do ser humano, nem fator de regulago social ou forma de explorar e dominar a natureza. O valor atribuido ao individuo ¢ baseado em lagos familiares € sociais partilhados e em habilidades pessoais reconhecidas pela comunidade (Ramos, 1999). Importa, pois, caracterizar o trabalho e perceber se determinada atividade € considerada trabalho ou lazer. Considerando que sé 0 ser humano trabalha (Leplat, 1971), trés principios so identificados no ato de trabalhar: Esforgo, Orientagdo para um objetivo e Constrangimento. O esforgo implica mobilizagao de energia e atengdo (Lévy-Leboyer, 1987), no cumprimento de um objetivo. Assim, 0 trabalho caracteriza-se por uma tensao fisica ou intelectual no sentido de cumprir um determinado objetivo. O que vai determinar se uma atividade € lazer ou trabatho é 0 constrangimento com que a tarefa ¢ realizada, ele vai diferenciar o trabalho de outras atividades humanas. Leplat (1980) afirma que o trabalho é uma atividade forgada e que existe um efeito de natureza coerciva no trabalho que obriga as pessoas a trabalhar. O constrangimento quando interno resulta da vertente social do trabalho, O contacto do individuo com outras pessoas implica compromissos duais que se traduzem em constrangimentos intrinsecos ao proprio trabalho, como seja as tarefas a realizar, a qualidade do trabalho realizado ou o horario de trabalho. O constrangimento externo representa a obrigatoriedade do trabalho que ultrapassa as motivagdes econdmicas ¢ constitui-se como um meio primordial da satisfagdo das necessidades basicas ¢ também de motivos afetivos e éticos (Ramos, 1999). 25 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho Reinberg (1994, citado em Silva, 1999), referia que o trabalho comporta fungoes psicossociais que se tornam bastante importantes, tem uma fungdo integrativa ou significativa, proporcionando status e prestigio social, e € uma fonte de identidade pessoal na medida em que influencia a identidade pessoal e a construgio da mesma, perante os outros. A avaliagdo daquilo que 0 trabalho ou a organizagdo representa, nos seus diversos momentos ou contextos, ¢ reflexo e atribuigdo subjetiva de cada trabalhador. Neste sentido, o sujeito enquanto organizador primordial das suas representagdes e atribuigdes laborais constitui-se como a unidade de andlise por exceléncia, que retira do clima organizacional a compreensdo do trabalho ¢ das suas relagdes sociais (Lobo, F. 2003). Salanova, Gracia, e Peiré (1996) identificam onze fungdes psicossociais do trabalho. A fungdo integrativa que o trabalho cumpre, enquanto fonte que pode dar sentido a vida e que pode permitir a realizagiio pessoal através do seu desempenho. Tem a fungiio de proporcionar status € prestigio social, enquanto fonte de autorrespeito ¢ reconhecimento ¢€ respeito pelos outros. O trabalho enquanto fonte de identidade pessoal, no sentido em que o trabalho é uma das maiores dreas de desenvolvimento e formagio da nossa identidade. Os nossos éxitos e fracassos profissionais contribuem em parte para a nossa propria identidade. O trabalho tem igualmente uma fungao econémica, com um duplo sentido. Por um lado, permite manter um minimo para a sobrevivéncia, por outro, possibilita a obtengao de bens de consumo. O trabalho a troco de dinheiro permite independéncia econdmica, autonomia e gestdo de atividades de lazer ¢ de divertimento. O trabalho deve construir-se como sendo uma fonte de ‘oportunidades e contactos sociais, isto porque no local de trabalho estabelecem-se relagdes sociais ¢ de amizade com muitas pessoas que nao seria possivel no contexto familiar. O trabalho desempenha também uma fungdo de estruturar 0 tempo, permite definir 0 dia, as semanas, 0s meses, 0 tempo livre para atividades de lazer ou o perfodo de férias. Cumpre a fungao de manter 0 individuo circunscrito a uma atividade, que se traduz num dever para com a sociedade ou enquanto fungao de servir a sociedade O trabalho é uma fonte de desenvolvimento de habilidades e virtudes. O trabalho desempenha um papel socializador, na medida em que é uma fonte de transmisso de normas, crengas expectativas sociais, no s6 relacionadas com o trabalho, mas também com politica, a religif, a familia ou as atividades de lazer. E visto como uma fonte de poder e controlo sobre diversas coisas ou pessoas. Enfim, 0 trabalho é um elemento fundamental na estruturagaio da personalidade, pois permite a expresso e realizado de uma personalidade em 26 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho construgdo que naturalmente proporciona matéria para a sua propria reinvengaio (Ramos, 1999). No entanto, o trabalho pode representar também uma fonte de disfungao. Face a um trabalho repetitive, monétono, humilhante, desumanizante, sem autonomia e que inibe a plena expresso humana, pode ser disfuncional para a pessoa que o realiza e, em termos afetivos, para muitas pessoas, ele representa tristeza, insatisfadio, depressio, neurose, mal-estar, desequilibrio, frustragao e doenga (Lévy-Leboyer, 1987). Este tipo de procedimento pode conduzir a fatores de desmotivacao, pois impede 0 individuo de pensar e de imaginar o trabalho, retira-Ihe toda a riqueza psiquica e conduz 4 despersonalizacdo, sendo a consequéncia mais grave a desvalorizagiio pessoal, 0 isolamento social, a depresséio, a descompensagiio ou a psicossomatizagao. E neste sentido que Locke (in Cardoso, 1998b) alerta para as premissas basicas do trabalho favordvel para o individuo, “deve representar um desafio mental com 0 qual o trabalhador lida e supera adequadamente que leva ao seu interesse ¢ desenvolvimento, contribuindo para a clevagéio da sua alta estima, nfo devendo ser fatigante nem cansativo. A recompensa deve ser justa ¢ ir de encontro as aspiragdes (do trabalhador). As condigdes devem ser adequadas as necessidades fisicas ¢ facilitar os objetivos do trabalho”. Segundo, Gongalves e Coimbra (2002), igualmente disfuncional pode ser a falta de emprego, isto porque quem nao tem emprego parece estar condenado socialmente a uma vida dependente dos outros. A ideia do cidadao produtivo esta muito enraizada nas sociedades, de forma que uma pessoa que ndo tenha trabalho corre o risco de perder toda a sua autoestima e © seu sentido de cidadania. Para os autores, “o emprego é bem mais do que uma fonte de rendimento, & frequentemente a medida do valor pessoal, estar desempregado é sentir-se improdutivo e cada vez mais destituido de valor”. Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho 2 Os valores profissionais e o género 2.1. Modelos teéricos 2.1.1. Modelo dos Estereétipos de Género Segundo Golombok e Fivush (1994), os esterestipos de género so um conjunto de crengas largamente partilhadas e organizadas acerca das caracteristicas dos homens e das mulheres, pensamento que pode nao corresponder a realidade (in Matlin 2000). No mesmo sentido, Neto, Cid, Pomar, Pecas, Chaleta, e Folque (2000) referem que o modelo teérico que valoriza a existéncia de valores tipicamente femininos ¢ tipicamente masculinos é definido como um “conjunto de crengas estruturadas acerca dos comportamentos e caracteristicas particulares do homem e da mulher”. Os homens tendem a valorizar os valores materiais ¢ instrumentais, enquanto as mulheres dao maior preferéncia a valores sociais orientados para a expressividade emocional e para o relacionamento interpessoal (Feather, 1984, citado em Lima Santos & Pina Neves, 2002). Os tragos de personalidade, como a independéncia, agressividade e domindncia continuam a ser associados aos homens, 20 passo que a sensibilidade, emocionalidade e gentileza so mais atribuidas as mulheres (Powell, 1993). Erez, Borochov, ¢ Mannheim (1989) ressaltam a importancia dos esteredtipos de género, nas diferengas encontradas nos valores profissionais entre homens e mulheres, uma vez que essas diferengas so fruto da agdo desses mesmos esterestipos, Neste sentido afirmam que as diferencas encontradas nao derivam do sexo de pertenga, mas sim das definigdes sociais acerca dos papeis desejdveis pata ambos sexos. De acordo com Sherif (1982, citado em Vala & Monteiro, 2000), os esteredtipos de género originam uma diferenciacdo social, em que a énfase nao esta no modo em como ambos os sexos se diferenciam, mas sim como os individuos pensam que homens e mulheres se diferenciam. Os esteredtipos de género, enquanto conjunto de esquemas que organizam categorias sociais, acerca do que é adaptado ¢ desejavel para ambos os sexos, tém um papel moderador na formagdo dos valores profissionais. West e Zimmerman (1991) referem que as sociedades produzem e mantém as diferengas de género através da socializagao, da agdo das instituigdes sociais e da interagdo entre as pessoas. Sandra Bem (1993) revela trés crencas fundamentais relativas a homens e mulheres, na cultura ocidental, 1, Homens ¢ mulheres tém naturezas psicolgicas e sexuais distintas 28 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho 2. Os homens sao inerentemente superiores ou dominantes, 3. Quer a natureza quer a superioridade masculina s4o naturais. ‘A autora associa estas crengas ao que designa por “Lentes do género”. Estas funcionam como suposigdes ocultas, enraizadas nos discursos culturais, nas instituigdes sociais, na psicologia individual e que, invisivelmente ¢ de forma sistemética, reproduzem o poder masculino. Muito do que se nos apresenta como sendo diferengas naturais séo apenas construgées da interagao social, mas as quais é conferida realidade pela pesquisa nas ciéncias sociais (Crawford, 1995). A diferenciagdo sexual é para Denzin (1995) a classificagdo das pessoas em categorias baseadas no sexo de pertenga, que comega com o nascimento. A masculinidade e feminilidade so termos socialmente definidos e que so associados a essas categorias biologicamente determinadas de individuos. Esta tipificagio ou estereotipificagao de género é definida por Shaffer (1994) como o processo através do qual a crianga adquire uma identidade do género e também de motivagdes, valores ¢ comportamentos considerados apropriados na sua cultura para os membros do seu sexo biolégico. ‘Segundo Lima Santos e Pina Neves (2002), as crengas que originam os esterestipos de género séo também percebidas como socialmente desejaveis, exercendo assim uma influéncia nos sistemas dos valores profissionais. Socializag’io Sistema de Sexode = |, >)“ "Valores Pertenga Profissionais Esterestipos de Género Desejabilidade Social Figura 2: Papel dos esterestipos de género na formagio de um sistema de valores profissionais, Adaptado de Lima Santos ¢ Pina Neves (2002). Na Figura 2, verificamos que todo 0 processo de formagdo dos valores profissionais é influenciado diretamente pelo processo de socializagao em fungdo do sexo de pertenga. Indiretamente ¢ influenciado, quer pela desejabilidade social, acerca do modo como as pessoas pensam que homens ¢ mulheres se diferenciam, em fungio do sexo de pertenga, ¢ também pelos esteredtipos de género que softem influéncia da desejabilidade social. Ambos 29 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho originam a criagdo de categorias sociais (socializacao) acerca daquilo que € desejavel para cada um dos sexos, Importa realgar a importancia da influéncia das variéveis psicolégicas ¢ sociais implicitas no proprio processo de socializagéio, uma vez que, de certa forma, sao responsaveis pela tendéncia destes padrdes sexuais. O’Neil e Fishman (1992) falam do medo da feminilidade por parte do sexo masculino, sendo que este medo é salientado pela rejeigéo dos homens relativamente aos valores, as atitudes e aos comportamentos tipicamente femininos que podem ser identificados pelos outros e colocar a sua masculinidade em causa. Segundo Neto, Cid, Pomar, Pecas, Chaleta, e Folque (2000), se considerarmos que a transmisstio social dos esteredtipos de género e a aprendizagem do que é socialmente desejavel fazem parte do processo de socializagao, ent&o é provavel que homens e mulheres revelem padrées de valorizacao profissional tipicamente masculinos e tipicamente femininos. 2.1.2. Modelo da Androginia © conceito de androginia surge no principio dos anos setenta do século XX. Tem como propésito contrariar o paradigma dicotémico anterior, assente na diferenga natural entre género e caracterizado pela imutabilidade e essencialismo conceptual. Na sua esséncia, a androginia caracteriza-se pela combinagao de atributos femininos e masculinos, eliminando a suposigdo do dualismo de género. Nao assume ligagao entre sexo biol6gico e género psicolégico (Morawski, 1990), pretende essencialmente que as mulheres se libertem das orientagdes comportamentais consideradas adequadas ao seu sexo (Amancio, 1994). © coneeito de androginia psicologica implica a flexibi idade do individuo em ser assertivo ou compassivo, ser expressivo ou instrumental, ser feminino ou masculino, mediante circunstancias mais apropriadas as diversas situagdes e contextos (Bem, 1981), podendo ainda fazer combinar diferentes modalidades numa mesma agao. Neste sentido, Saavedra (1995, p.46) afirma que “um individuo andrdgino dispde, pois, de um maior leque de comportamentos que lhe permitem ser autonomo, flexivel e adaptado aos diversos contextos”. Considerando que o paradigma dos estereétipos de género considera que as diferengas entre sexos assentam em dados biolégicos, Lorenzi Cioldi (1988) salienta que as diferengas e variagdes de identidade entre individuos do mesmo sexo se tornam téo ou mais importantes que as diferengas entre individuos de sexos diferentes. 30 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho Segundo Lima Santos e Pina Neves (2002), a objetivagdo da medida de androginia que representaria um equilibrio entre a masculinidade (M) e a feminilidade (F), avaliado pela expresso numérica “F — M" em que quanto maior o valor obtido, maior o nivel de femninilidade (valor positive) ou de masculinidade (valor negativo) e menor o nivel de androginia, sofreu uma atualizagdo e passou apenas a reportar-se a individuos com elevados niveis de masculinidade ¢ feminilidade, organizando uma tipologia de quatro. grupos: individuos tipicamente masculinos e tipicamente femininos, andréginos ¢ indiferenciados No que respeita ao mundo do trabalho, surge a emergéncia de um perfil de valores profissionais com caracteristicas andrdginas associada a fatores histéricos e sociais e a fatores relacionados com o desenvolvimento profissional. Fatores Histéricos Mundo do Trabalho: ¢ Sociais Experiéncia | | Individual Sistema de Valores Profissionais Figura 3: Fatores influentes na formasaio de um sistema de valores profissionais. Adaptado de Lima Santos e Pina Neves (2002). Os fatores histéricos e sociais so movidos pelo aumento quantitative da oferta e procura de mao-de-obra, principalmente do sexo feminino, ¢ os fatores qualitativos derivados do enriquecimento da experiéncia de trabalho feminino, que conduzem a criagaio dos valores profissionais de tipo andrégino Fonseca (1993) refere as alteragdes no trabalho feminino como a fonte da homogeneizagio na atitude face aos valores profissionais, que se reflete no fim da estratificagiio classica das profissdes segundo o sexo, no aumento das oportunidades profissionais, na agdo dos sistemas educativos ou no acesso a profissdes habitualmente reservadas a homens. De salientar a tendéneia, segundo Deaux (1985, citado em Lima Santos & Pina Neves, 2002), para uma valorizag&o profissional, entre sexos, mais homogénea & medida em que a experiéncia profissional aumenta, contribuindo para a formagao de perfil de tipo andrégino. 31 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho ‘A. igualdade, enquanto valor universal, conduz também a desvalorizagdo das diferengas nos valores profissionais levando a uma igual valorizagao do trabalho entre sexos, De tal forma que a inexisténcia de diferencas significativas em determinadas dimensdes possa ser interpretada como sinénimo de igual significado ou igual atribuigdo dos valores profissionais por ambos os sexos. Cristina Vieira (2006), apoiando-se em estudos de Maccoby (2000), salienta algumas diferengas entre raparigas e rapazes em relacdo as brincadeiras. As raparigas constroem fantasias e brincadeiras “em tomo de guides domésticos ou roménticos, que integram personagens empenhadas em fomentar as relages sociais e em manter, ou restaurar, a ordem e a seguranga das pessoas” (p.37). Os rapazes escolhem atividades que envolvem perigo, conflito, demonstragao de forga fisica e destrui¢dio. Quanto as interagdes sociais, as raparigas tendem a respeitar 0 outro, evitar dar ordens e manter a harmonia do grupo, nas amizades privilegiam a partilha de detalhes privados. A amizade dos rapazes caracteriza-se pela partilha de atividades (Vieira, 2006). O que se conclui do estudo, revela que ambos os sexos tem mais semethangas psicolégicas do que diferengas e, quando se encontram discrepiincias elas séo pequenas e baseadas no comportamento médio do grupo de pertenga. 2.1.3. Modelo dos Novos Significados do Trabalho O estudo das diferengas sexuais esta historicamente vinculado ao desejo masculino em compreender a natureza das mulheres, uma vez que esta natureza esteve sempre imbuida de um certo conflito ¢ mistificagio (Hare-Mustin & Marecek, 1994). Desde a Antiga Grécia até ao século XX, se afirma a distingio entre sexos, a superioridade masculina e 0 seu posicionamento como grupo de referéncia e comparagao (Bem, 1993). Contudo, numa revisio com cerca de 1400 estudos que comparavam homens e mulheres, realizados por Maccoby ¢ Jacklin (1974), concluem que poucos esterestipos de género tinham fundamentagdo empirica (In Saavedra 1993), A existéncia de um modelo que considera os novos significados do trabalho deve-se, em grande parte, A constataco de valores profissionais contrarios a0 modelo dos esterestipos de género. Diferengas essas encontradas principalmente no sexo feminino. Os estudos realizados por Lima Santos ¢ Pina Neves (2002) revelam que so as amostras do sexo feminino que tendem a contribuir mais para essas transformagdes, no 32 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho sentido em que so valorizados pelo sexo feminino aspetos tipicamente masculinos, como a independéncia, a seguranga, 0 éxito ou o desenvolvimento profissional. Segundo Neto, A. Cid, M., Pomar, C., Pegas, A., Chaleta, E., ¢ Folque, A. (2000), esta tendéncia deve-se ao facto de os homens se centrarem mais a padrdes de atitudes, valores ¢ comportamentos tipicamente masculinos, mas também na resisténcia em valorizar aspetos considerados mais caracteristicos do sexo feminino. Zunker (1989, citado em Lima Santos & Pina Neves, 2002) afirma que as mulheres parecem estar 2 apostar na construgdo e desenvolvimento de uma carreira profissional. Assim, enquanto vio desenvolvendo esse interesse pela construgio e desenvolvimento de uma carreira profissional, o seu perfil de valores profissionais vai integrando aspetos mais caracteristicos do sexo masculino. O resultado da maior presenga das mulheres no mundo do trabalho ¢ da maior importancia que o trabalho representa nas suas vidas, leva a atual reconfiguragdo dos papéis desempenhados por ambos os sexos, aos homens no sentido de partilharem 0 seu papel de trabalhadores com as mulheres, ¢ as mulheres no sentido de conciliar duplo papel de profissional com o papel da vida doméstica (Lima Santos & Pina Neves, 2002). Tipping (1997) realiza estudos acerca do significado do trabalho, com homens ¢ mulheres, ¢ identifica trés percegdes: (1) trabalho como fonte de independéncia econémica: (2) trabalho como fonte de realizagfio pessoal e de identidade ¢ (3) trabalho como sustento da familia. Embora reconhega que estas percegdes estejam presentes em ambos os sexos, sao visiveis diferengas na percegdo e valorizagao do papel de ambos enquanto trabalhadores. Para os homens o valor do trabalho mantém-se, ocupando um lugar central nas suas vidas, 0 trabalho representa um papel primério e prioritario. Para as mulheres o valor do trabalho parece ser secundario, continuando estas a ceder na carreira em detrimento da familia, mesmo existindo um maior investimento na carreira profissional, a vida familiar continua sob a sua aigada, representando o trabalho um valor mais instrumental nas suas vidas (Lima Santos & Pina Neves, 2002). A crescente tendéneia de conquista do mundo do trabalho, assim como a aproximagao das mulheres a valores profissionais mais homogéneos entre sexos, leva Tipping (1997) a considerar que “esta é a década da supermulher”, no sentido em que € “ela” quem mais contribui para essa alteracdo. Verificou-se deste modo, um maior investimento na construgao no desenvolvimento da carreira profissional, por parte das mulheres, paralelamente a0 33 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho interesse manifestado em continuar a assumir a responsabilidade das tarefas ligadas lide doméstica e a familia (citado em Lima Santos & Pina Neves, 2002). 2. Estudos sobre os valores profissionais em fungio do género Desde os tempos de Helen Thompson Wooley que se assiste & afirmago das diferengas sexuais para justificar a inferioridade feminina, baseada num determinism. biolégico assumido como natural e moralmente correto. Intimeros estudos diferenciais realizados, em fungio do género, apresentam resultados significativos quanto a diferenciagao dos valores tipicamente masculinos ou tipicamente femininos. Tradicionalmente os homens preferem os valores instrumentais, como a “seguranga”, “bons salérios”, a “chefia”, a “independéncia” e a “responsabilidade”, enquanto as mulheres preferem os valores sociais e emocionais, como 0 “altruismo” e a “amizade” (Buchholz, 1978, Feather, 1984, Herzog & Bachman, 1982, Maguire, Romaniuck, & MacRury, 1982, Maxwell & Cumming, 1988, Staats, 1981, Tittle, 1988, Witjing, Amold, & Conrad, 1978, citados em Erez, Borochov & Mannheim, 1989). Wagman (1965, citado em Descombes, 1980), recorreu a0 questionério Job Values and Desires, para realizar um estudo com uma amostra constitufda por 259 estudantes do ensino universitirio. Os estudantes tinham de ordenar, por ordem de preferéncia, 10 valores profissionais. Os resultados revelam a existéncia de valorizagdes com diferengas estatisticamente significativas, em relagdo aos itens “lucros obtidos no trabalho”, na “estima” € no “servigo social”. Sendo que os dois primeiros, “Iucros” e “estima”, sdo mais valorizados pelo sexo masculino, enquanto que o “servigo social” revela maior valorizagao pelo sexo feminino. Super (1970) utilizando 0 questionario Work Values Inventory, com uma amostra de 8144 alunos do 7° ano de escolaridade, nao foram encontradas diferengas estatisticamente significativas entre género. Contudo, com 0 mesmo instrumento, numa amostra de 6324 alunos do 12° ano, foram encontradas diferengas significativas em fatores relacionados com a “independéncia”, maior no sexo masculino ¢ com o “altruismo”, valores superiores no sexo feminino. Singer (1974, citado em Descombes, 1980), pediu a uma amostra de estudantes para selecionarem por ordem de preferéncia 24 valores profissionais. Os resultados do estudo indicam diferengas estatisticamente significativas em fung&o do género nos fatores “salario”, 34 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho “responsabilidade” e “utilidade social”, com 0 sexo masculino a valorizar mais 0 “salario” ¢ a “responsabilidade”, enquanto o sexo feminino valoriza mais a “utilidade social” Numa revisio com cerca de 1400 estudos, que comparavam homens e mulheres, realizados por Maccoby e Jacklin (1974), concluem que poucos esterestipos de género tinam fundamentagao empirica e apenas quatro tinham apoio na investigagao (Jn Saavedra 1993), a saber: 1 — As raparigas desenvolvem competéncias verbais ao nivel da compreensio, vocabulério e fluéneia mais precocemente que os rapazes. 2 — Os rapazes superam, no muito acentuadamente, as raparigas nas capacidades visuais e espaciais. 3 — A partir da adolescéncia, os rapazes demonstram uma pequena vantagem no raciocinio numérico, 4—A partir dos dois anos, os rapazes so mais agressivos, verbal ¢ fisicamente que as raparigas, Elizur (1994) realiza uma investigagdo com estudantes de varios paises da Europa e verificou que os homens preferem os valores de tipo instrumental, tais como 0 “salério”, a “responsabilidade”, a “independéncia” ¢ a “influéncia no trabalho”. As mulheres também valorizam os aspetos instrumentais, mas valorizam mais que os homens aspetos relacionados com os “bons colegas de trabalho”, “bom hordrio”, 0 “relacionamento interpessoal”, 0 “emprego seguro” e as “regalias sociais”. As tiltimas décadas do século XX evidenciam estudos com tendéncia a apresentar resultados diferentes dos realizados anteriormente. Num estudo realizado com 208 individuos, Kaufman ¢ Fetters (1980) verificaram que ambos os aspetos, intrinsecos ou extrinsecos, séo valorizados no trabalho, nao regista diferengas estatisticamente significativas entre género, nas diversas variaveis que caracterizam 0 trabalho. Brenner e Tomkiewics (1979, citados em Beutell & Brenner, 1986), também nao encontram diferengas significativas entre sexos, 0 que os leva a apontar para a homogeneizagaio da valorizagao profissional entre homens e mulheres. No estudo de Beutell ¢ Brenner (1986), intitulado “Sex differences in the work values”, com 202 estudantes do ensino superior, foram encontradas diferengas em fungéo do género em grande parte dos 25 itens referentes a valores profissionais. As diferengas encontradas indicam que o sexo masculino valoriza mais 9 “saldrio”, a “progressio na carreira” e a “tesponsabilidade”, da mesma forma que valoriza a “seguranga no trabalho” ¢ os “tempos 35 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho livres”. O sexo feminino valoriza mais o “ambiente de trabalho” ¢ o “relacionamento com os colegas”, da mesma forma que valoriza a “independéneia”, a “estimulagdo intelectual” ¢ a “formagao ¢ desenvolvimento profissionais”. A hipétese inicialmente formulada apontava para a inexisténcia de diferengas significativas entre género, relativamente aos valores profissionais, em individuos com a mesma orientagao profissional. Os resultados obtidos por Walker, Tausky, e Oliver (1982), vdo no sentido da diminuigao das diferengas encontradas, quando a atividade profissional assume 0 mesmo nivel de importineia para ambos os sexos. Os estudos realizados por Fonseca (1993) vao no mesmo sentido, demonstrando a existéncia de valores profissionais tendencialmente andrdginos em ambos os sexos, embora exista uma diferenga significativa na dimensio “preocupagao social”, mais valorizada peto sexo feminino, Consequéncia da similar tendéncia de valorizagéio profissional, 0 autor afirma: “a partir do momento em que o trabalho passa a ser to central na vida da mulher como na do homem, seria natural que se desvanecesse a tendéncia para cada um dos sexos apresentar diferentes quadros de valores profissionais” (p. 134). Waclawski, Church, & Burke (1995) realizaram um estudo que teve por objetivo determinar os valores, priticas e diferengas entre homens ¢ mulheres relativamente ao desenvolvimento do trabalho. O instrumento utilizado: “Values and belliefs often associated with carrying out OD work”. Nao foram encontradas diferengas significativas na amostra composta por 416 individuos (150 mulheres ¢ 266 homens), Ambos revelam similaridade acerca daquilo que ¢ importante no contexto de trabalho. Contudo, as mulheres revelam maior importancia aos “valores humanos”, no desenvolvimento de trabalho no futuro. Os autores, Abu-Saad e Isralowitz (1997), verificam que as diferengas entre género tendem a desaparecer quando as outras varidveis, como a idade, as habilitagdes literdrias, competéncias profissionais ou a fungéio desempenhada, so mantidas constantes. A consequéncia dos fatores sociais e educacionais herdados mostra que os homens sio influenciados a valorizar 0 sucesso na carreira profissional, e os trabalhos prestigiantes e bem remunerados. Jé as mulheres preferem dar menor importancia a esses valores, no sentido de tornar compativel a atividade profissional com a vida familiar. As mulheres tendem ainda a valorizar mais as condigdes gerais de trabalho e o relacionamento interpessoal. Lima Santos © Pina Neves (2001) realizaram um estudo diferencial dos valores profissionais, avaliados pelo Questiondrio sobre Valores da Vida Profissional (Q.V.V-P.), administrado a uma amostra de 338 alunos, do 9° e 11° anos de escolas do Grande Porto. Verificam a importancia atribuida ao “Altruismo™ e ao “Exito”, pelo sexo feminino, e que 0 36 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho “saldrio” ¢ a “Independéncia” sio mais valorizados pelo sexo masculino, 0 que vai de encontro as tendéncias da valorizago profissional em fungi dos esteredtipos de género. Contudo, a valorizagao do “Exito” pela amostra feminina, assim como a homogeneidade nas restantes dimens6es avaliadas, mostra a tendéncia para um perfil de valores profissionais de tipo andrégino, Neste mesmo estudo, mas em relagio ao nivel de escolaridade, sio encontradas diferengas significativas em cinco dimensdes. Regista-se uma maior valorizagao do “Altruismo” e da “Chefia” pelos alunos do 9° ano, assim como a maior importancia atribuida, pelo 11° ano, & “Variedade”, A "Criatividade” e ao “Estilo de Vida", quando pensam no desempenho de uma atividade profissional. Posteriormente, Lima Santos e Pina Neves (2002), com uma amostra de 243 trabalhadores do setor publico e privado da regiéo Norte de Portugal, evidenciam a inexisténcia de diferengas, em fungao do género, em dezasseis das vinte dimensdes avaliadas, pode sugerir uma tendéncia para a aproximagao dos valores profissionais em ambos sexos. Porem, é de considerar as diferengas encontradas nas dimensdes “variedade”, “promogiio” € “progressiio na carreira”, “pouca exigéncia fisica” ¢ a “relagdo com os superiores”, sendo que ai se verificou uma maior valorizagao do sexo feminino em relagao ao sexo masculino, As diferengas encontradas nas dimensdes “variedade” e “promogao e progressao na carreira” nao se mostram consistentes com 0 modelo dos esteredtipos de género. Nao foram encontradas diferengas significativas em dimensdes anteriormente consideradas mais caracteristicas do sexo masculino, tal como a “independéncia”, a “responsabilidade” 0 “saldrio” ou a “seguranga”, so neste estudo igualmente valorizados pelos dois sexos, As diferengas encontradas nas dimensdes “pouca exigéncia fisica” e “relagdo com os superiores” mostra que © sexo feminino esta a valorizar mais 0s baixos niveis de esforgo fisico desempenhado na profissio e as boas relagdes com os superiores, manifestando-se, assim, consistentes com o modelo dos esteredtipos de género. Gongalves ¢ Coimbra (2002) apresentam um estudo que teve como objetivo analisar e perceber o significado que os portugueses constroem para a sua experiéneia profissional. Foi realizado um primeiro estudo, que faz parte de uma investigagao mais alargada, com uma amostra de 422 sujeitos. O estudo foi realizado na regido Norte de Portugal, em contexto escolar com 264 adolescentes em fase de formagdo, 97 adultos profissionalmente ativos ¢ 82 adultos desempregados. O objetivo da variedade da amostra consistia em verificar se existem diferengas em relacdo aos significados que cada grupo atribui ao trabalho. Os sujeitos foram confrontados com uma unica questo aberta: “Que ideias (representagdes, pensamentos ¢ sentimentos) lhe surgem espontaneamente quando pensa em trabalho/emprego/atividade 37 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho profissional? Responda & questdio usando apenas palavras soltas (substantivos, adjetivos e verbos) que refletem o que pensa ¢ sente sobre o trabalho, por exemplo: chatice, criativo, transformar...”. Os resultados mais relevantes, relativamente aos adultos, afirmam que existem duas constelagdes de dimensdes do trabalho que se agrupam de forma equivalente. A primeira é constituida pelas dimensées da Realizagdo Pessoal (19,9%), onde estio itens como a realizagdo, a motivagao, desenvolver, aprender, pensar ou conhecer. A dimensio Sécio- Afetiva ou Interpessoal do trabalho (19,6%) inclui os itens ajudar, relacionar, equipa, amigos, educar, colaborag&io ou apoiar e comunicar. A dimensio Penosidade/Dureza ou Emocional Negativa (17,9%) contém os itens cansa¢o/cansativo, stress, frustragao, chatice, trabalhoso, problemas, preocupagio e obrigagao. A segunda constelagio de dimensées do trabalho relaciona-se com a dimensao Emocional Positiva (13,6%), os itens comportam a satisfacao, interesse, liberdade, prazer ou 0 gosto. A dimensao Criativa do Trabalho (13,3%) inclui os itens criar, transformar, mudanga, dinamica e inovar. O Investimento no Trabalho (13,1%) inclui a responsabilidade, empenho, dedicagao, objetivos, necessidade e horario. A dimenséo Econémica do Trabalho (2.6%) inclui o dinheiro ¢ o salario, ‘A amostra dos adultos desempregados revela dimensdes bastante equilibradas, embora atribuam maior significado as dimensdes econdmicas do trabalho (15,2%), quando em comparagdo com a amostra dos adultos empregados (2,6%). Na amostra dos adultos verificamos que as varias dimensdes se organizam de forma semelhante ao subgrupo dos adultos empregados. Os adolescentes valorizam mais a dimensao emocional negativa (27,5%) e depois, de forma semelhante, valorizam a dimensdo emocional positiva, investimento no trabalho, realizagao pessoal e dimensao econémica. As palavras mais referidas pelos adolescentes, relativamente ao trabalho, foram: “dinheiro” (109-41,6%) e “cansativo” (67-25,6%); os adultos empregados: “cansativo” (23- 23,7%) e “responsabilidade”, “realizagio” © “criatividade” (20-20,6%); 0s adultos desempregados: “criatividade” (36-43,9%) e “dinheiro” (28- 34,1%). Marinho, V. (2005) realiza um estudo no concelho de Pagos de Ferreira, a Norte de Portugal, com uma amostra de 203 individuos empregados e desempregados de longa duragio. Este trabalho teve por objetivo verificar quais os valores profissionais manifestados pelos individuos, em fung&o das varidveis género, idade, situagao profissional, nivel de escolaridade e estado civil. O instrumento utilizado foi 0 Questionario de Valores Associado ao Trabalho (Q.V.A.T), da autoria de Pentti Sinisalo e Larissa Shvets (1995), adaptado ao 38 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho contexto portugués por Lima Santos (1999). E composto por 20 itens sobre as caracteristicas do trabalho, avaliados numa escala tipo Likert, com cinco opgdes de resposta, em que “A” significa, “Nao é mesmo nada importante”, e “E” significa “E mesmo muito importante”. Os resultados apontam para nao existéncia de diferengas de género, relativamente aos valotes profissionais, uma vez que encontram valores profissionais nao significativos, de tipo andrégino, em quatro dos cinco fatores que compéem o instrumento. Relativamente as preferéncias e diferengas encontradas, verifica-se que ambos os sexos valorizam mais os aspetos relacionados com “Ambiente de Trabalho”, “Natureza do Trabalho” e “Seguranga e Estabilidade”. O fator menos valorizado por ambos os sexos, “Aspetos Intrinsecos”, é, também, o tinico fator onde so encontradas diferengas de médias significativas entre género. Neste fator, 0 sexo feminino valoriza, mais que 0 sexo masculino, aspetos relacionadas com a independéncia no desempenho do trabalho, com a nao dureza fisica do trabalho e com o baixo nivel de exigéncia intelectual no trabalho. 3.0s valores profissionais e a idade 3.1.Estudo sobre os valores profissionais em fungdo da idade A varivel idade foi neste estudo considerada como sinénimo de geragio. Deste modo, consideramos como segunda geragao os inquiridos com idade até aos trinta e cinco anos, e de primeira gerago os inquiridos com mais de trinta e cinco anos. Um estudo recente, realizado por Hansen & Leuty (2012), com o instrumento Minnesota Importance Questionnaire (MIQ), teve como objetivo investigar os valores profissionais em trés geragdes de individuos. Os resultados demonstram a maior importancia atribuida, pela gerago mais antiga, aos aspetos do trabalho relacionado com 0 estatuto ¢ com a autonomia, As geragdes mais recentes atribuem maior importancia as condigdes do trabalho, a seguranga, as relagdes entre colegas e remuneragdo, O estudo sugere que, quando se verificam pequenas diferengas entre as trés geragdes, a geragdo em si influencia mais os valores profissionais do que a idade do individuo 0 faz. 39 Estudo dos valores profissionais no mercado de trabalho 4.0s valores profissionais ¢ a situago sécio-laboral 4.1. Estudos sobre os valores profissionais em fungao da situagiio sécio-laboral Relativamente aos estudos dos autores anteriormente apresentados, em fungao da varidvel género, apresentamos apenas aquilo que se revela mais importante em fungaio da varidvel situagao sécio-laboral © estudo realizado por Gongalves ¢ Coimbra (2002) teve como objetivo analisar e perceber 0 significado que os portugueses constroem para a sua experiéncia profissional. O estudo, realizado em contexto escolar com 264 adolescentes em fase de formagao, 97 adultos profissionalmente ativos ¢ 82 adultos desempregados, revela que os adultos associam a atividade profissional emogdes negativas, como stresse, cansago ou desgaste. Contudo, consideram principalmente o trabalho como uma fonte de realizagdo pessoal ¢ oportunidade de estabelecer relagdes interpessoais. Os adolescentes salientam a dimensao emocional negativa do trabalho. As principais diferengas entre os dois grupos centra-se na valorizagéio econémica do trabalho por parte dos adolescentes que assumem explicitamente esta dimensio mais instrumental do trabalho. No trabalho realizado por Marinho, V. (2005), com uma amostra de 203 individuos empregados e desempregados de longa duragiio, no concelho de Pagos de Ferreira, verifica-se, face aos resultados apresentados, a inexisténcia de diferengas na varidvel atividade profissional (empregado/desempregado) relativamente aos valores profissionais. Podemos assim, verificar uma tendéncia para a apresentago de valores profissionais andlogos entre individuos empregados e os individuos desempregados. Relativamente a situago profissional (empregado ou desempregado de longa dade e Autonomia” (p = 0,012). Neste fator, os individuos desempregados de longa duragao (DLD) duragdo), apenas se verificaram diferengas de médias significativas na “Responsal apresentam niveis superiores, comparativamente aos empregados. Isto significa que os DLD valorizam mais que os empregados os aspetos relacionados com “Trabalho onde possa desenvolver novas formas de trabalhar”, “Trabalho interessante” e “Trabalho onde possa desenvolver as minhas capacidades”. Podemos ainda verificar que tanto o grupo dos empregados como o grupo dos desempregados valoriza mais o fator “Ambiente de Trabalho” ¢ valoriza menos o fator “Aspetos Intrinsecos” 40

Você também pode gostar