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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE DIREITO

Sistemas político e jurídico: tensões e movimentos

DFD0130 - Sociologia da Constituição


Resumo:
Sistema Jurídico e Sistema Político: A diferenciação funcional (2011); Direito, movimentos
sociais e expectativas (2012).

Daniel Sthefano Valente


NUSP 7614870

São Paulo
2022
O presente trabalho intende resumir os principais conceitos apresentados nos excertos
disponibilizados e articulá-los com os conteúdos das aulas expositivas. Primeiramente, serão
abordados os conceitos de sistema político e sistema jurídico, depois será tratado dos
movimentos sociais e como estes se relacionam com o sistema jurídico. Por fim, questões da
atualidade serão postas sobre as tensões existentes entre essas entidades.
O Prof. Campilongo em sua obra Sistema Jurídico e Sistema Político: A diferenciação
funcional trabalha as diferenças entre o sistema político e o sistema jurídico, para isso tomo a
teoria luhmanniana de direito. Um sistema é caracterizado pela diferença com seu ambiente,
sendo estabelecida uma primeira distinção importante para a compreensão dessa teoria:
sistema/ambiente. O autor diz que “os sistemas sociais das sociedades modernas são
funcionalmente diferenciados em diversos sistemas parciais” (CAMPILONGO, p.66, 2011),
sendo exemplos de sistemas parciais o sistema político, o sistema jurídico, o sistema
econômico. Completa o autor que os sistemas político e jurídico são auto-organizados e
autodeterminados, ou seja, são intrínsecos à sociedade e ao sistema social. Veremos como
esses sistemas operam e o que os diferencia, para tal analisaremos as condições de fechamento
e abertura desses sistemas, uma vez que eles só podem operar dentro de seus próprios limites.

O sistema político
O sistema político atua no âmbito de tomada de decisões, estas coletivamente
vinculantes. Um exemplo de procedimento deste sistema é a eleição política, do qual será
eleito um governo e que terá como mecanismo de atuação a dualidade governo/oposição. Esse
sistema atuará num ambiente democrático, promovendo a redução e manutenção de sua
complexidade. Na teoria luhmanniana, a redução de complexidade não significa suprimir
embaraços do processo decisório, do contrário, paradoxalmente ela contribui para a
manutenção desse processo. O que se deve levar em consideração é a capacidade de
fechamento do sistema político para que ele mantenha sua complexidade interna. A
democracia, bem como todo o seu aparato formal promovem o incremento de possibilidades
de escolha.
O sistema político é sistema complexo, não se pode dizer que hierarquizado, mas
composto por inúmeras fontes de comunicação política que se organizam de maneira
circunferencial, cujo centro, representado pelo Estado e com uma função de orientação e
subordindação, tende a ser mais hierarquizado. A periferia é composta por várias organizações
políticas, estas diferenciada por segmentos não coordenados.
Com relação ao par centro/periferia, Campilongo nos ensina que:
“pode-se dizer que a democracia do sistema político possui desníveis de
complexidade: na periferia a tematização da política das pretensões é mais
intensa e o incremento das possibilidades de escolha mais veloz; no centro
estão os mecanismos seletivos e de autocontrole dessas pretensões
(CAMPILOGO, p.74, 2011).
Essa relação de assimétrica complexidade é importante para a o fechamento do
sistema, para sua capacidade de controlar o ambiente por meio do controle de si mesmo. Vale
lembrar que a “diferença entre sistema e ambiente envolve um desnível de complexidade. O
ambiente é sempre mais complexo e rico de possibilidade que o sistema” (CAMPILONGO,
p.73, 2011).

O sistema jurídico
Como já vimos, um sistema reage dentro de seus próprios limites, ele deve observar o
duplo valor de código e ter a comunicação que lhe é cabida. O problema básico dos sistemas
autopoiéticos é o de “conectar referências internas e externas sempre mediante operações
internas”. O código do sistema jurídico é o direito/não direito. Esse sistema possuí programas
normativos, tais quais como leis, contratos, regulamentos e jurisprudência. O direito se
autorreferencia e se autorreproduz (autopoiese) é através do próprio direito, só o direito diz o
que é direito.
Sobre esse sistema é relevante mencionar a indeclinabilidade de jurisdição, que é
condição de fechamento operativo e de abertura cognitiva do sistema. Essa negação ao
sistema jurídico força sua operabilidade e faz garantir respostas aos outros sistemas. A
distinção periferia/centro também se aplica a esse sistema, o centro não é hierarquicamente
superior à periferia, e esta opera com maior complexidade que o centro.

Ligações entre os sistemas


A política e direito possuem muito em comum: estão ligadas a produção de leis do
Estado, e usam o Direito Constitucional como fonte normativa de seus princípios. O direito se
utiliza de legislação e de força física. Luhmann traz o conceito de acoplamento estrutural para
lidar com as essas inter-relações, em especial a utilização do termo double interchanges –
duplo intercâmbio (Parsons). Double interchange traz uma ideia de mão dupla, contudo, não
se trata de uma simples troca, mas uma troca dupla. O sistema jurídico, primeiramente,
desonera o sistema político de ser um sistema com muitos poderes, dilui-se o poder, ainda o
sistema jurídico oferece as premissas para o emprego da força física em contrapartida o
sistema político: oferece ao sistema jurídico suas premissas de decisão, também, fornecem
aparato político os mecanismos para a execução da decisão judicial. Essas operações
aproximam direito e política e ao mesmo tempo proporcionam o afastamento entre eles, esta é
a função social das constituições. Percebe-se que direito e política criam dependências
reciprocas. Adicionando o conceito de acoplamento estrutural, a teoria dos sistemas
autopoiéticos substitui a explicação dos sistemas abertos (input/output).

Movimentos sociais e o direito.


Em seu texto Direito e movimentos sociais, Campilongo discute a relação dos
movimentos sociais com o direito. Movimentos sociais, de maneira geral, provocam o sistema
judiciário para atender seus interesses perante os outros sistemas, podendo inclusive
questionar o próprio direito. Eles procuram voz no sistema jurídico após terem perdido espaço
no sistema político, mas também, podem questionar os procedimentos e operações do direito.
Os movimentos sociais possuem relações com o direito que podem ser de dois tipos:
integração ou de desintegração, sendo os do primeiro tipo aqueles que induzem o direito a
tomar o lugar dos demais sistemas e os do segundo aqueles que forçam o direito a reagir
juridicamente às disfunções dos demais sistemas.
Os movimentos sociais de integração são menos flexíveis com relação ao conflito,
enquanto os de desintegração estão mais abertos à negociação, litigância estratégica é um
exemplo disso. Ambos os tipos operam sobre as binariedades:
“equilíbrio/desequilíbrio, igualdade/desigualdade, contra/pró o
movimento; constrangimento/liberdade; convenção/invenção;
regularidade/criatividade; rigidez/decomposição;
repetição/improbabilidade” (CAMPILONGO, p.116, 2012).
Em suma, os movimentos podem se valer do sistema jurídico como também fazer-lhe
oposição. Isso faz com que
Conclusões
Por fim, podemos pensar nos entraves entre os sistemas político e jurídico, bem como
este responde às demandas de movimentos sociais. A dita politização do judiciário e a
juridificação da política são originadas pela dificuldade de auto-observação e de autolimitação
dos sistemas. O sistema político tende a abarcar muitos temas, trazendo mais possiblidades
para dentro de si. O sistema jurídico não pode eximir-se de atuar na prestação jurisdicional,
interferindo nos demais sistemas, de modo que acaba por ganhar espaço e poder, mas nem
sempre dispõe dos melhores mecanismos ou elementos para poder julgar. O juiz, figura que
representa o judiciário, não é administrador, político nem economista, interferir nesses
sistemas de forma artificial em outras esferas, contudo, não pode se eximir de uma resposta,
como pode o sistema político, por exemplo.
A título de exemplo, temos a criminalização da LGBTfobia pelo Supremo Tribunal
Federal, que foi provocado pelos movimentos LGBTQIA+ para cobrar uma resposta do
Estado, exigindo a declaração de mora do Legislativo. O sistema político eximia-se de tratar
do tema, contudo, dados levantamos por aparatos do estado e ONGs demonstravam que a
LGBTfobia era um tema que deveria ser tratado com mais apreço pelo Estado, através de
políticas públicas mais efetivas de conscientização e através da penalização mais severa
quando as agressões serem motivadas pela LGBTfobia, tal demando feita por movimentos
sociais ligados ao tema.
O sistema jurídico teve de se debruçar sobre o assunto, utilizando de meios internos:
decisão judicial da suprema corte (de efeito vinculante), equiparando tal conduta (LGBTfobia)
ao crime de racismo, além de declarar mora legislativa. Decisão que causou discussão na
sociedade, críticas ao STF por invadir a competência legiferante, aclamada por outros por dar
voz a uma minoria e corrigir um erro estatal.
Este caso é uma clara exemplificação da atuação dos sistemas político (no caso a não
atuação), e do sistema jurídico, este provocado por movimentos sociais, utilizando-se de
meios de desintegração, ou seja, conforme os procedimentos esperados. Assim, vemos a
atuação desses integrantes no sistema social. A teoria de Luhmann tenta dar uma visão mais
ampla à práxis social e de como operam a política e o direito.
Referências Bibliográficas:
CAMPILONGO. Celso Fernandes. Sistema Jurídico e Sistema Político: A diferenciação
funcional. In: Política, sistema jurídico e decisão judicial. 2ª São Paulo: Editora Saraiva.,
2011.
CAMPILONGO. Celso Fernandes. Direito, movimentos sociais e expectativas. In:
Interpretação do Direito e Movimentos Sociais: Hermenêutica do Sistema Jurídico e da
Sociedade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

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