PRODUÇÃO DE ALHO NOBRE VERNALIZADO

Marco Antônio Lucini

Engenheiro Agrônomo

Curitibanos, fevereiro de 2009.

 PRODUÇÃO DE ALHO NOBRE VERNALIZADO
Introdução
O alho é a quarta hortaliça de maior
demanda no Brasil, ficando atrás apenas da
batata, da cebola e do tomate. O consumo
“per capita” é de 1,1 Kg/ano. O volume
comercializado de alho “in natura” no
Brasil em 2008 foi de 216 mil toneladas.
O alho nacional foi responsável apenas por
um terço do abastecimento. Os outros dois
terços foram de alhos importados da China
e Argentina.
A Anapa (Associação Nacional dos
Produtores de Alho), tem denunciado a
entrada de alho chinês sem o devido
pagamento de impostos, em especial a taxa
de anti-dumping de US$ 5,20/caixa
importada. Afora esse problema a
Associação também denunciou a baixa
qualidade dos alhos argentinos que na
última safra atingiram 57% do tipo
comercial, na classificação oficial do
Ministério da Agricultura realizada nas
fronteiras.
A importação desenfreada desses alhos no
Brasil está dizimando com os pequenos
produtores dessa hortaliça em Santa
Catarina e no Rio Grande do Sul podendo
chegar ao Cerrado. No sul, isso ocorreu,
devido a baixa competitividade dos
produtores, por questões climáticas,
tecnológicas, trabalhistas, custos de
insumos, máquinas/implementos e pelo
câmbio fora da realidade nos últimos anos.
O Cerrado, com seu clima invejável, está
conseguindo permanecer na atividade pela
Marco Antônio Lucinii
sua competitividade, produtividade e por
“brigar” no mercado apenas com o alho
oriundo da China.
O Brasil, importando dessa forma, está
gerando 30 mil e empregos diretos na
China e 24 mil empregos na Argentina em
detrimento dos mesmos em solo nacional.
O nosso Estado precisa urgentemente ser
protecionista como fazem os demais países.
O alho nobre roxo para produzir necessita
de frio e fotoperíodo. Essas condições
climáticas são conseguidas naturalmente
no sul, especialmente no planalto de Santa
Catarina e na Serra Gaúcha. No Cerrado o
alho necessita de frio artificial, por isso é
colocado em câmara fria para adquirir a
habilidade de produzir sob o clima quente.
Esse alho que passou pelo choque frio
chama-se de vernalizado.
O conhecimento e o domínio da dormência
do alho, a superação da mesma e o manejo
da câmara fria pré-plantio é a chave do
sucesso para a produção do alho nobre
roxo vernalizado.
Vários são os fatores que afetam a
produtividade do alho no Cerrado, mas os
mais importantes e decisivos são:
variedade, tamanho e qualidade do alho
semente, a vernalização, a época do
plantio, o ciclo, a rotação de culturas, o
manejo da irrigação, a adubação e o
controle fitossanitário.
Produção de alho nobre vernalizado Conseguimos isso em apenas 135 dias de
ciclo quando nossos concorrentes levam o
A área de plantio de alho vernalizado, dobro do tempo. Pode-se dizer que os
cultivado sob pivô central, na região do produtores de alho vernalizado brasileiro
Cerrado do Brasil, cresceu rapidamente. têm conseguido operacionalizar as
Passou de 600 hectares em 1994 para em tecnologias existentes e sempre estão atrás
pouco mais de 10 anos de plantio de novos conhecimentos.
estabilizar-se na casa dos 5 a 6.000 ha até
2009, quando voltou para 4.500 ha.
Principais tecnologias de produção
Área de plantio de alho vernalizado
O alho nobre roxo é cultivado desde o
ALHO NO CERRADO DO BRASIL norte do Paraná, passando por São Paulo,
7000 6500 6200 Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Distrito
6000
Hectares
5200
Federal até nas chapadas da Bahia.
5500
5000
4250
5000
4500 As melhores regiões são as chapadas com
4000 3500 altitudes superiores a 900 metros, uma vez
3000 2400 que as noites são mais frias. Em regiões
1800
2000 1500
1200
mais baixas o ciclo do alho fica muito
1000 600 800
curto, as noites são mais quentes e a
0
94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09
produtividade não ultrapassa os 12.000
Kg/ha de alho.
Fonte: Anapa, Agopa, Apamig, Epagri As maiores produtividades, com 15.000 a
22.000 Kg/ha de alho, são conseguidas nas
O incremento da área de plantio nesse regiões dos municípios de Cristalina, Unaí,
período deve-se basicamente ao domínio Paracatu, Santa Juliana, Distrito Federal,
da tecnologia de produzir alho nobre Mucugê, Monte Carmelo, Formosa, Água
vernalizado aliado ao bom preço médio Fria, Serra Bonita, Campo Alegre, Buritis,
recebido nesses últimos dez anos. Guarda-Mor, Ibiá, Rio Paranaíba e São
A aplicação da taxa de anti-dumping e Gotardo entre outras.
principalmente o estabelecimento de cotas Entre os fatores que afetam a
de importação em meados dos anos 90, no produtividade do alho nobre vernalizado,
alho chinês, também contribuíram para que os principais que serão descritos a seguir,
o Cerrado aumentasse as áreas de plantio. são baseados nas minhas observações a
Grande parte dos produtores pioneiros de campo nesses trinta anos com a cultura do
alho no Cerrado do Brasil teve sua origem alho, onde a cada safra aprendemos com os
no sul do Brasil e/ou fizeram parceria com produtores e colegas pesquisadores: a)
produtores e técnicos de Santa Catarina e Variedade, tamanho, origem e qualidade
Rio Grande do Sul em busca de semente e do alho-semente; b) Manejo da câmara fria;
tecnologia de produção. c) Época de plantio e ciclo, e d) Manejo da
Hoje não existe no mundo produção de irrigação.
alho nobre roxo que tenha produtividade
maior que a do cerrado do Brasil.
 O ideal é que o produtor cultive todo ano
a) Variedades de 5-8% da área com sementes do sul ou
De uma maneira geral, todas as variedades livre de vírus, destinando no ano seguinte
de alho nobre roxo produzem no Cerrado essa produção para o plantio de alho
do Brasil. Para cada variedade e região consumo, renovando assim anualmente
produtora existe sempre uma combinação sua semente.
ideal de dias de frio na câmara e época de
plantio, fazendo com que aquela variedade
produza.
A origem da semente tem grande
importância devido à questão da
dormência. Semente produzida na região
do Cerrado, por superá-la mais cedo e
entrar na câmara fria mais cedo, consegue
produzir precocemente, sendo muitas
vezes é desejável.
A semente vinda do sul do Brasil,
normalmente mais vigorosa, deve ser
plantada mais tarde, em final de abril até
Foto 1 Bulbo de alho vernalizado produzido sob pivô
meados de maio. Como a superação da
dormência é mais tardia, a colocação dessa
semente na câmara fria deve ser feita mais
tarde também. Semente do sul plantada
precocemente apresenta um alto grau de
desuniformidade durante todo o ciclo.
Apresenta também alto índice de bulbos
duplos, cebolões e superbrotados.
As variedades mais plantadas atualmente
são: Ito, Caçador, Quitéria e São Valentin.
Pela cor da túnica externa branca e
principalmente pelo dente roxo, nos
últimos anos, cresceu a área cultivada no
Foto 2: Bulbo de alho produzido no Cerrado
Cerrado com o Ito, que tem sua origem no
alho colorado argentino selecionado pelo
saudoso produtor Shingo Sugiyama em
b) Manejo da câmara fria
Curitibanos, Santa Catarina.
Planta-se o alho no Cerrado no momento
Quanto maior o peso do dente plantado
em que é colocado na câmara fria. É sem
maior é o bulbo colhido, mas a taxa de
dúvida o fator de sucesso número um,
conversão é inversamente proporcional ao
aliado a uma boa semente. Investir em
peso do dente. O alho semente deve ser das
câmara fria de qualidade e saber manejá-la,
classes 6 e 7, na base de 1,8 a 2,4 mil quilos
assim como conhecer e dominar o processo
por hectare de bulbo, ser isento de
podridão branca e nematóide.
de dormência e a superação da mesma é
indispensável para altos rendimentos.
O controle da dormência está ligado aos
hormônios inibidores e promotores do
crescimento. Altas temperaturas, acima de
25ºC e baixas temperaturas ao redor de
zero grau inibem a quebra da dormência
do alho.
Agora, para produzir bulbo de qualidade
na região quente é necessário que todo o
alho semente receba o estímulo do frio.
Quando da entrada da semente na câmara
fria o IVD (Índice Visual de Dormência) da
mesma deve estar entre 30 a 40%. Esse
índice, que mede o tamanho do broto, é
facilmente conseguido com alhos
produzidos no Cerrado.
Para os alhos vindos do sul, muitas vezes é
indispensável o uso de uma pré-câmara a
14 graus, até que o IVD chegue entre 30 a
40%, para só então baixar a temperatura
para a correta vernalização.
Dependendo da região, variedade e época
de plantio o alho-semente (em bulbo) é
colocado na câmara fria de 2º a 4º C por 48
a 60 dias com 65-70% de umidade relativa,
antes do plantio. Para os bulbos das
variedades Ito, Caçador, Jonas e Quitéria,
sugerimos entre 48 a 52 dias de frio efetivo
na câmara fria. Além das sementes do sul,
as variedades Chonan, São Valentin e alhos
LV (livre de vírus) devem ser vernalizadas
por um período maior, entre 55 a 60 dias.
O que não pode acontecer é a falta de frio.
Sempre é preferível vernalizar um pouco
mais a semente do que faltar frio. Deve-se
evitar o excesso de frio com temperaturas
menores que 2°C, pois é um dos fatores
que pode induzir a anormalidade
fisiológica conhecida como Filipe ou bulbo
duplo/triplo.
A falta de frio ou a desuniformidade do
mesmo dentro da câmara é um problema
sério que precisa ser controlado, pois será
responsável pela produção de uma lavoura
desigual, com pouca haste floral, alho
cebolão, superbrotado e uma diferenciação
longa.
A presença uniforme de haste floral nas
variedades plantadas no Cerrado indica
que a vernalização foi bem realizada e que
a cultivar foi plantada na época ideal e está
adaptada a região. Dependendo do vigor,
variedade e época de emissão o corte do
“pito” pode aumentar a produtividade.
Pode ocorrer a desvernalização da semente
quando a mesma ficar de 7 a 10 dias em
temperatura ambiente superior a que
estava submetida na vernalização.
A debulha pode ser mecânica ou manual e
o ideal é que seja realizada logo em
seguida da saída do lote da câmara quando
o alho está com baixa umidade o que
facilita essa operação, com menos danos
aos dentes.
A uniformidade da lavoura é conseguida,
entre outras coisas, pela qualidade do
preparo do alho-semente na debulha e
classificação do dente.
Foto 3: Falta de frio na vernalização nos três bulbos da
esquerda.
c) Época de plantio e ciclo
O ponto ideal do plantio do alho
vernalizado, após passar pela câmara para
receber o estímulo do frio, é quando o IVD
atinge 90%. Isso é muito raro de acontecer
com sementes oriundas do Cerrado cujo
plantio na safra anterior foi em março a
meados de abril. Nesse caso o IVD quase
sempre é de 100%.
A sugestão é plantar o alho semente
próprio em maio, com colheita mais tardia
assim como o corte da raiz e haste. Dessa
forma a dormência se prolongará e por
ocasião da entrada da semente na câmara
fria o IVD não será superior a 40%.
As safras recentes e inúmeros trabalhos de Foto 4 : Preparo do solo com rotativa 2,20 m
pesquisa têm mostrado que as melhores
produtividades de alho nobre roxo
vernalizado são conseguidas com plantios
em abril até meados de maio. O alho
produzido nesse período apresenta
menores índices de anormalidades
fisiológicas, maior ciclo, túnica externa
mais branca e em geral dentes mais roxos.
Os altos preços no período da entressafra
têm estimulado os produtores a plantarem
o alho já em início de março. As
produtividades nesse caso são menores,
devido ao menor ciclo da cultura. Foto 5: Preparo do solo com rotão de 3,60 m
Com o aumento das ofertas de alho no
Brasil e a eliminação da entressafra o
produtor deverá sempre buscar melhores
produtividades para permanecer na
atividade com competitividade. Isso passa
necessariamente pela mudança da época de
plantio, aumento do ciclo do alho,
redimensionamento das suas lavouras,
construção de câmaras frias, barracões para
a cura e manejo adequado na pós-colheita.

Foto 6: Plantio de alho vernalizado é todo manual


Foto 7: Plantio de alho no Cerrado, todo manual.
Os gráficos a seguir, mostram o que
acontece no ciclo do alho com plantio
precoce e preferencial no Cerrado do
Brasil.
No plantio de início de março, com as
variedades: Caçador, Ito, Jonas o ciclo fica
muito curto, em torno dos 100 dias. Do
plantio à diferenciação são apenas 40 dias.
Com o ciclo curto e a emissão de apenas
10-11 folhas é impossível produzir mais
que 15 toneladas por hectare de alho.
Empiricamente, a relação da área das
folhas emitidas por hectare/produtividade
nesse caso é de 1,20 a 1,35 mil quilos/folha.
Plantio precoce – início/março
PLANTIO DIFERENCIAÇÃO COLHEITA
60 DIAS
40 DIAS
100 dias de ciclo
No plantio na época preferencial, nos
meses de abril até meados de maio o ciclo
fica maior, temos de 13-15 folhas/planta e
a produtividade aumenta. Nesse caso o que
realmente aumenta é o período do plantio
até a diferenciação, onde a planta emite
folhas. A diferenciação ocorre quando as
necessidades de frio e fotoperíodo daquela
variedade são completadas, é quando a
planta “modifica” a folha nova em dentes,
a lavoura fica estabilizada por 10-12 dias
sem crescer. Após esse período a planta
apenas transfere fotoassimilados das folhas
para o bulbo.
Resultados a campo mostram que uma
planta com maior número de folhas, pés
mais desenvolvidos produz mais,
chegando até 22 toneladas de alho por
hectare. O exemplo abaixo mostra um ciclo
de 135 dias, mas pode haver ciclos maiores
com sementes vindas do sul e com a
variedade São Valentin ou sementes livre
de vírus.
Plantio época preferenical em
abril/maio
PLANTIO DIFERENCIAÇÃO COLHEITA
75 DIAS
60 DIAS
135 dias de ciclo
e) Manejo da irrigação
Todo o alho plantado no cerrado necessita
de irrigação, já que nesse período não
chove a não ser de forma esporádica.
Quase todas as lavouras são cultivadas sob
pivô central. A disponibilidade de água, a
uniformidade da lâmina de irrigação são
fatores determinantes a produção que
necessitam de acompanhamento
especializado diário, sob pena de
frustração na produtividade. A falha na
irrigação é facilmente notada
principalmente pós-diferenciação, quando
o estrago já está feito, com a formação de
anéis com plantas e produtividades
menores.
A arrancada inicial do alho é muito
importante. Por isso deve-se plantar e
molhar em seguida, não sendo necessário
cobrir o dente, já que a água da irrigação
faz esse serviço. Assim, o bulbilho do alho
emite rapidamente as raízes e o broto
ganhando a concorrência com os fungos
pela reserva do dente e se estabelecendo
como nova planta vigorosa, pronta para
realizar a fotossíntese e ser autossufiente a
partir dos 12-15 dias.
Em regiões com orvalho a noite sugere-se
que a irrigação seja feita nesse período
também. Assim, logo cedo com a presença
do sol há o secamento da folha,
diminuindo em muito a ocorrência de
doenças em especial a bacteriose e
alternaria.
Foto 8: Alho sob pivô central
Do plantio até a pré-diferenciação a
irrigação deve ser feita a cada dois ou três
dias em média, conforme a região, a
evapotranspiração e o estádio de
desenvolvimento do alho. Véspera da
diferenciação deve-se reduzir e/ou cortar a
água, dependendo do estado geral da
lavoura, voltando a mesma após a
completa definição dos bulbilhos.
O excesso de irrigação ou um período
encoberto, com pancadas de chuvas, por
ocasião da diferenciação, pode induzir o
superbrotamento, anormalidade fisiológica
indesejável. O mais comum nessa fase do
ciclo é a aplicação do stress hídrico com a
diminuição da lâmina d’água e mesmo a
suspensão da irrigação até a completa
definição dos dentes do bulbo.
O alho é muito exigente em água
principalmente pós-diferenciação, período
em que o solo deve sempre estar em
capacidade de campo.
Foto 9: Vigor e uniformidade das plantas.

Foto 10: Uniformidade da lavoura
Foto 11: Uniformidade e vigor por ocasião da
diferenciação.
Foto 12: Irrigação com pivô central
f) Alguns aspectos das demais
tecnologias utilizadas
Na adubação, sem dúvida o manejo
adequado e o parcelamento do nitrogênio
são fundamentais para altas
produtividades. Dependendo do teor de
matéria orgânica no solo, do tamanho do
alho semente, do espaçamento utilizado,
da irrigação o alho necessita em torno de
300 Kg/ha de nitrogênio. Esse volume é
aplicado um terço na base e dois terços em
coberturas acompanhando a curva de
absorção do mesmo pela planta.
Para altas produtividades na faixa de 18 e
22 toneladas por hectare, o alho necessita
entre 450 a 900 Kg/ha de P205 e de 350 a
600 Kg/ha de K20, dependendo dos teores
desses macro-elementos no solo.
Muitos produtores utilizam a adubação
orgânica e mineral e outros apenas a
mineral. O diferencial de produtividade
entre eles, na maioria dos casos, não está
ligado a adubação, mas sim ao tamanho e
qualidade da semente, época de plantio,
stand, irrigação e o manejo geral da
lavoura.
A densidade de plantio e o stand são
muito importantes. Leva-se em conta
sempre o tamanho/peso do dente,
variedade, adubação, época de plantio para
definir a área útil para que o bulbilho possa
desenvolver seu potencial produtivo. Em
geral, utiliza-se de 300 a 330 cm²/planta
para dentes com 6 a 8 gramas, com um
stand de 300.000 a 330.000 plantas por
hectare. Áreas com 270 a 300 cm²/planta
são indicadas para dentes com 4 a 6 gramas
e stand de 330.000 a 370.000 plantas/ha. Já
uma área de 250 cm²/planta é ideal para
dentes de 2 a 3 gramas e um stand de até
440.000 plantas/ha. Quando se planta um
bulbilho graúdo num espaçamento
pequeno teremos uma planta bem
desenvolvida, mais alta e um bulbo menor
do que o potencial produtivo daquele
dente. Essa situação ocorre muito ainda na
região devido ao medo dos produtores
com o superbrotamento.
No cerrado a topografia é praticamente
plana, o cultivo do alho é no sistema de
canteiros baixos com quatro a seis fileiras
duplas, com enxada rotativa de 2,20 a 3,60
metros, variando o espaçamento nas entre
linhas e entre plantas.
Foto 13 Sistema de plantio quatro fileiras duplas no
canteiro.
Foto 14: Sistema de plantio com rotão de 3,60m, com 6
fileiras no canteiro
Foto 15: Sistema de plantio com rotão de 3,60m, com 6
fileiras no canteiro
No controle fitossanitário a maior
preocupação na parte aérea do alho é com
a alternária, o tripes e a bacteriose. Novos
produtos lançados no mercado,
especialmente misturas de princípios
ativos, estão sendo usados com muito
sucesso pelos produtores no controle do
tripes e alternária.
O controle da bacteriose é basicamente
manejo cultural. O maior espaçamento nas
entre linhas de plantio e a diminuição do
tempo de molhamento foliar contribuem
no controle dessa doença.
Hoje a maior preocupação em doenças de
solo é o avanço da podridão branca na
região que exige medidas urgentes
preventivas como: semente de qualidade,
rotação de culturas, controle de trânsito de
máquinas/implementos e mão de obra.
O nematóide da haste e do bulbo do alho
aparece com freqüência na região. Isso
ocorre devido a problemas no alho-
semente e a falta de rotação de culturas.
Alhos consumo produzidos no sul sempre
foram cultivados com nematicidas de solo,
até a proibição do mesmo. Muitos desses
bulbos introduzidos do sul levaram
consigo o nematóide. A solução para o
problema é plantar semente livre desse
verme (a limpeza de vírus também elimina
o nematóide) e fazer rotação de cultura
com milho. O controle do nematóide do
alho é muito mais simples que o da
podridão branca.
Foto 16: Controle fitossanitário na cultura do alho, região
do Cerrado Brasileiro.
Foto 17: Controle fitossanitário
Na colheita que pode ser manual ou
mecânica, a maioria dos produtores do
Cerrado faz a pré-cura/cura em leiras ou
camalhões para alhos precoces colhidos até
início de setembro.
O preparo do alho é feito na lavoura, já que
nesse período quase não chove. Além
disso, o custo fica mais barato quando
comparado com a cura no barracão. A
desvantagem da cura a campo em
leiras/camalhão é o curto período do ponto
de corte ideal da haste e raiz, sob pena da
perda das túnicas externas do bulbo, em
especial nos anos muito quentes e secos.
A cura em barracão destina-se mais para as
cultivares tardias devido as chuvas que
começam na região no final de setembro. O
espaço entre as camadas no estaleiro do
barracão deve ser bem ventilado para
possibilitar o perfeito secamento da água
das folhas, haste e bulbo, sem problemas
de podridões que mancham as túnicas do
mesmo.
O mercado de São Paulo, nosso principal
centro consumidor e distribuidor de alho,
prefere e paga mais pelo bulbo com dentes
bem roxos. O alho da variedade Ito hoje é
um dos mais procurados, devido a essa
característica da variedade. Outras
cultivares também podem produzir
bulbilhos roxos, desde que plantados na
época preferencial, como o Caçador,
Quitéria, Jonas e São Valentin. Para
melhorar a cor roxa do dente a cura deve
ser realizada na sombra (camalhão ou
barracão), sem a incidência direta do sol
nos bulbos numa temperatura amena. A
cura dos plantios precoces, mesmo que seja
da variedade Ito, na leirinha em cima do
canteiro dificilmente produzirá um bulbo
com dente roxo. O sol e a temperatura alta
são inimigos da cor roxa dos dentes,
característica que não está ligada à
nutrição.
Foto 17 - Colheita e cura na leira
Foto 18 – Colheita e cura na leira dupla
Foto 19 - Cura na leira e corte da haste e raiz no campo.
Foto 20: Cura a campo no camalhão.
A comercialização de alho nobre roxo
vernalizado do Cerrado é feita de maneira
mais profissional e empresarial que no
resto do país, de acordo com as exigências
do mercado nacional.
O preparo do alho consiste no corte da
haste e raiz com tesouras. A classificação
dos bulbos faz-se em máquinas
“tamanhadoras” com malhas, na sua
grande maioria com intervalos de 5/5 mm,
como o mercado tem sinalizado nos
últimos anos. Com relação a qualidade o
alho mais comercializado hoje no país é o
escovado, sendo apenas maquinado e com
um repasse manual para retirar as túnicas
externas sujas de terra. O alho toaletado
destina-se aos mercados mais exigentes e
exportação. Nesse caso as túnicas externas
são retiradas manualmente uma a uma. A
outra forma tradicional de apresentação do
produto é o “alho sorriso”, cujos bulbos
não possuem túnica externa e os dentes
roxos ficam a mostra.
Foto 2 : Máquina classificadora de bulbos Foto 23: caixa comercialização alho

A embalagem mais utilizada é a caixa de

papelão, pela praticidade de manejo,
armazenamento e transporte.
Nos próximos anos os produtores do
Cerrado deverão investir em tecnologia de
pós-colheita e conservação como o anti-
brotante e câmara fria, além de agregação
de valor ao produto, visando abastecer os
clientes doze meses por ano.
O destino do alho consumo do Cerrado, na
sua grande maioria, é para o mercado
interno. À medida que o bulbo vai curando Foto 24: Testeira da caixa de comercialização.
no campo ele é cortado, classificado,
embalado e comercializado.
Com a desvalorização do real frente ao
dólar, o alho produzido no Cerrado do
Brasil fica mais competitivo ainda, desde
que o produtor consiga acima de 15
toneladas por hectare, uma vez que o custo
de produção oscila entre R$ 2,30 a 2,80 o
quilo.
O câmbio favorável possibilitará também a
retomada das exportações de alho nobre i
Marco Antônio Lucini, Engenheiro Agrônomo, Epagri,
roxo para os mercados mais exigentes. Curitibanos, SC. Caixa Postal 202, CEP 89.520-000.
E-mail: marcolucini@gmail.com