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 Cancioneiro – Autores 

A chusma salva-se assim-----------------------------------------------------44


A moda das tranças pretas----------------------------------------------------63
A senhora Chamarrita------------------------------------------------------------5
Achégate a mim, Maruxa------------------------------------------------------26
Alecrim-----------------------------------------------------------------------------22
Ao longo de um claro rio de água doce------------------------------------72
Ao romper da bela aurora-----------------------------------------------------13
As sete mulheres do Minho---------------------------------------------------14
Atrás dos tempos----------------------------------------------------------------47
Bailia--------------------------------------------------------------------------------90
Bailinho da Madeira-------------------------------------------------------------25
Barnabé----------------------------------------------------------------------------66
Canção de embalar-------------------------------------------------------------89
Canção terceira------------------------------------------------------------------32
Canoas do Tejo------------------------------------------------------------------18
Cantar brejeiro--------------------------------------------------------------------15
Cantar de emigração-----------------------------------------------------------41
Cantigas do Maio----------------------------------------------------------------87
Carteiro em bicicleta------------------------------------------------------------28
Casa comigo Marta-------------------------------------------------------------36
Chamarrita-------------------------------------------------------------------------14
Charamba-------------------------------------------------------------------------11
Chula--------------------------------------------------------------------------------23
Coça barriga----------------------------------------------------------------------70
Com um brilhozinho nos olhos-----------------------------------------------68
Contos Velhinhos----------------------------------------------------------------35
E alegre se fez triste------------------------------------------------------------32
Ei-los que partem----------------------------------------------------------------26
Endechas a Bárbara escrava-------------------------------------------------90
Entrudo-----------------------------------------------------------------------------88
Epígrafe para a arte de Furtar (roubam-me Deus)----------------------29
Eu vim de longe------------------------------------------------------------------37
Fado das fogueiras--------------------------------------------------------------60
Fala do Homem nascido-------------------------------------------------------57
Fala do Velho do Restelo ao astronauta----------------------------------51
Há festa na Mouraria-----------------------------------------------------------34
Já o tempo se habitua----------------------------------------------------------86
Lágrima de preta-----------------------------------------------------------------51
Laurinda-----------------------------------------------------------------------------7
Lira------------------------------------------------------------------------------------8

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 Cancioneiro – Autores 

Livre (não há machado que corte)------------------------------------------52


Malhão------------------------------------------------------------------------------24
Manuel cuco----------------------------------------------------------------------74
Maria Faia-------------------------------------------------------------------------84
Mariana das sete saias---------------------------------------------------------43
Menina------------------------------------------------------------------------------48
Menina estás à janela----------------------------------------------------------20
Milho verde------------------------------------------------------------------------83
Moleirinha--------------------------------------------------------------------------75
No vale de Fuenteovejuna----------------------------------------------------78
O barco vai de saída-------------------------------------------------------------5
O charlatão------------------------------------------------------------------------67
O fado dos passarinhos--------------------------------------------------------10
O homem da gaita---------------------------------------------------------------85
Ó minha amora madura--------------------------------------------------------23
Ó patrão dê-me um cigarro---------------------------------------------------21
Oh Coimbra do Mondego------------------------------------------------------83
Oliveira da serra-----------------------------------------------------------------19
Onde vais ó caminheiro--------------------------------------------------------38
Os bravos---------------------------------------------------------------------------9
Os meninos de Huambo-------------------------------------------------------40
Pedra filosofal--------------------------------------------------------------------16
Pedro Só---------------------------------------------------------------------------55
Pequenos deuses caseiros---------------------------------------------------54
Poema da malta das naus-----------------------------------------------------53
Poema da Pedra Lioz-----------------------------------------------------------58
Poema do fecho éclair----------------------------------------------------------56
Por Aquele Caminho------------------------------------------------------------82
Por trás daquela janela---------------------------------------------------------79
Postal dos correios (querida mãe, querido pai, ...)----------------------61
Qualquer Dia----------------------------------------------------------------------79
Quatro quadras soltas----------------------------------------------------------63
Que amor não me engana----------------------------------------------------81
Rainha------------------------------------------------------------------------------77
Rama-------------------------------------------------------------------------------19
Ribeira vai cheia-----------------------------------------------------------------76
Samaritana------------------------------------------------------------------------16
Sapateia----------------------------------------------------------------------------11
Se tu fores ver o mar (Rosalinda)-------------------------------------------42
Senhor poeta---------------------------------------------------------------------34
Tejo que levas as águas-------------------------------------------------------49
Timor--------------------------------------------------------------------------------62
Tu gitana---------------------------------------------------------------------------30

3
 Cancioneiro – Autores 

Uma flor de verde pinho-------------------------------------------------------33


Vejam bem------------------------------------------------------------------------31
Verde Gaio------------------------------------------------------------------------75
Verdes são os campos---------------------------------------------------------30
Vira de Coimbra------------------------------------------------------------------27
Vou-me embora vou partir-----------------------------------------------------22

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 Cancioneiro – Autores 

A senhora Chamarrita
popular: Açores : A senhora Chamarrita
Letra e música: popular: Açores
(não tenho a certeza, pode haver erros.)

A senhora Chamarrita
É uma santa mulher
Sai de manhã para a missa
Entre à noite quando quer

Dá voltas à Chamarrita
Quem manda voltar sou eu

A senhora Chamarrita
É uma santa mulher
Dá os ossos ao marido
Come a carne com quem quer

Se a Chamarrita não volta


Eu grito "aqui d'el rei"

O barco vai de saída


Fausto : O barco vai de saída
Letra e música: Fausto
In: "Por este rio acima" gravado em 82
José João

O barco vai de saída


Adeus ao cais de Alfama
Se agora vou de partida
Levo-te comigo ó cana verde
Lembra-te de mim ó meu amor
Lembra-te de mim nesta aventura
P'ra lá da loucura
P'ra lá do Equador

Ah mas que ingrata ventura


Bem me posso queixar
da Pátria a pouca fartura
Cheia de mágoas ai quebra-mar
Com tantos perigos ai minha vida
Com tantos medos e sobressaltos
Que eu já vou aos saltos

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 Cancioneiro – Autores 

Que eu vou de fugida

Sem contar essa história escondida


Por servir de criado essa senhora
Serviu-se ela também tão sedutora
Foi pecado
Foi pecado
E foi pecado sim senhor
Que vida boa era a de Lisboa

Gingão de roda batida


corsário sem cruzado
ao som do baile mandado
em terra de pimenta e maravilha
com sonhos de prata e fantasia
com sonhos da cor do arco-íris
desvaira se os vires
desvairas magias

Já tenho a vela enfunada


marrano sem vergonha
judeu sem coisa nem fronha
vou de viagem ai que largada
só vejo cores ai que alegria
só vejo piratas e tesouros
são pratas, são ouros,
são noites, são dias

Vou no espantoso trono das águas


vou no tremendo assopro dos ventos
vou por cima dos meus pensamentos
arrepia
arrepia
e arrepia sim senhor
que vida boa era a de Lisboa

O mar das águas ardendo


o delírio do céu
a fúria do barlavento
arreia a vela e vai marujo ao leme
vira o barco e cai marujo ao mar
vira o barco na curva da morte
e olha a minha sorte
e olha o meu azar

e depois do barco virado


grandes urros e gritos
na salvação dos aflitos

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 Cancioneiro – Autores 

estala, mata, agarra, ai quem me ajuda


reza, implora, escapa, ai que pagode
rezam tremem heróis e eunucos
são mouros são turcos
são mouros acode!

Aquilo é uma tempestade medonha


aquilo vai p'ra lá do que é eterno
aquilo era o retrato do inferno
vai ao fundo
vai ao fundo
e vai ao fundo sim senhor
que vida boa era a de Lisboa

Laurinda
Vitorino : * Laurinda
Letra e música: popular
(rimance)
jfc

Ó AmLaurinda, linda, Amlinda


Ó AmLaurinda, linda, Amlinda
Dm
És mais Dmlinda do qu'o AmSol(e) Am
DeiDmxa-meDm dormir uma Amnoite Am
E
Nas borEdas do teu lenAmçol

Sim, sim, cavalheiro, sim


Sim, sim, cavalheiro, sim
Hoje sim, amanhã não
Meu marido, não esta cá
Foi pr'a feira de Marvão

Onze horas, meia-noite


Onze horas, meia-noite
Marido a porta bateu
Bateu uma, bateu duas
Laurinda não respondeu

Ou ela está doentinha


Ou ela está doentinha
Ou encontrou outro amor
Ou então procur'a chave
Lá no meio do corredor

De quem é aquele chapéu?


De quem é aquele chapéu?
Debroado a galão

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 Cancioneiro – Autores 

É para ti meu marido


Que fiz eu por minha mão

De quem é aquele casaco?


De quem é aquele casaco?
Que ali vejo pendurado
É para ti meu marido
Que o trazeis bem ganhado(?)

De quem é aquele cavalo?


De quem é aquele cavalo?
Que na minha esquadra entrou
É para ti meu marido
Foi teu pai quem tu mandou

De quem é aquele suspiro?


De quem é aquele suspiro?
Que ao meu leito se atirou
Laurinda, que aquilo ouviu
Caiu no chão desmaiou

Ó Laurinda, linda, linda


Ó Laurinda, linda, linda
Não vale a pena desmaiar
Todo o amor, que t'eu tinha
Vai-se agora acabar

Vai buscar as tuas irmãs


Vai buscar as tuas irmãs
Trá-las todas num andor
Que a mais linda delas todas
Há-de ser meu novo amor

Lira
Adriano Correia de Oliveira : Lira
Letra e música: popular: Açores
jj, Fernando Faria

Morte que mataste Lira, A E7


Morte que mataste Lira, A
Morte que mataste Lira, A7 D Bm
Mata-me a mim, que sou teu!

Morte que mataste lira


Mata-me a mim que sou teu
Mata-me com os mesmos ferros
Com que a lira morreu

8
 Cancioneiro – Autores 

A lira por ser ingrata


Tiranamente morreu
A morte a mim não me mata
Firme e constante sou eu

Veio um pastor lá da serra


À minha porta bateu
Veio me dar por notícia
Que a minha lira morreu

Os bravos
popular: Açores : * Os bravos
Letra e música: popular: Açores
Joaquim Leal, jj , Fernando Faria
(Ilha Terceira)

Eu fui à terra do bravo Am E


Bravo meu bem
Para ver se embravecia Am E
Cada vez fiquei mais manso Am E
Bravo meu bem
Para a tua companhia Am E

Eu fui à terra do bravo


Bravo meu bem
Com o meu vestido vermelho
O que eu vi de lá mais bravo
Bravo meu bem
Foi um mansinho coelho

As ondas do mar são brancas


Bravo meu bem
E no meio amarelas
Coitadinho de quem nasce
Bravo meu bem
P'ra morrer no meio delas

Eu fui à terra do bravo


Bravo meu bem
Para ver se embravecia
Quiz bem a quem me quer mal
Bravo meu bem
Quiz bem a quem me não queria

9
 Cancioneiro – Autores 

Nota: Outras quadras

10
Dizes o teu amor bravo,
Bravo meu bem, não é mais do que o meu bem.
É bravo, porque não quer,
Bravo meu bem, que eu olhe pr'a mais ninguém.

Eu fui à terra do Bravo,


Bravo meu bem, vestidinha de amarelo.
De amores que não são firmes,
Bravo meu bem, tenho medo que me pelo.

Esta moda diz que é bravo,


Bravo meu bem, mas eu vou cantar o manso.
Para ver se, mansamente,
Bravo meu bem, o teu bem-querer alcanço.

Ó Bravo, três vezes bravo,


Bravo meu bem, ó Bravo, hás-de amansar.
Tudo o que é bravo se amansa,
Bravo meu bem, também te hei-de apanhar.

O fado dos passarinhos


António Menano : * O fado dos passarinhos
Música: António Menano
Letra: popular: Açores
(fado de Coimbra)
Fernando Carvalho
(Ilha das Flores)

Passarinho da ribeira Dó Sol Dó


Se não fores meu inimigo

Empresta-me as tuas asas Fá


Deixa-me ir voar contigo Sol Dó

Passarinho da ribeira Sol


Ai!...Se não fores meu inimigo Fá Sol Dó

Ao longe cruzando o espaço


Vai um bando de andorinhas [bis]

Que te leva um abraço


E muitas saudades minhas

Ao longe cruzando o espaço


Ai!...Vai um bando de andorinhas
Charamba
popular: Açores : *Charamba
Letra e música: popular: Açores
Fernando Faria
(Ilha Terceira)

Padre, Filho, Espír'to Santo. C F E


Esta é a vez primeira, a vez primeira Am G7 C
Que neste auditório canto, F E
Em nome de Deus começo, de Deus começo, Am G7 C
Padre, Filho, Espír'to Santo. F E

Senhora dona de casa, dona de casa,


Folha de malva cheirosa,
Dai-me licença qu'eu cante, ai qu'eu cante,
Na vossa sala formosa.

Boa noite, meus senhores, minhas senhoras, lindas flores


Que aqui estais neste salão,
Eu p'ra todos vou cantar e a todos quero saudar,
Do fundo do coração.

Eu vesti um vestido novo, vestido novo,


Para vir aqui cantar,
A charamba está no baile, ai está no baile,
É o meu bem e o meu par.

À vista trago quem amo, ai a quem amo,


Bem vejo

Sapateia
popular: Açores : *Sapateia
Letra e música: popular: Açores
Fernando Faria
(Alternativamente G7/C, A7/D)
Se tu suspiras, suspira, E7 A
Cá dentro, o meu coração; E7 A
Se tu choras, também chora, E7 A
Vê lá se te quero, ou não. [Bis] E7 A

[Refrão]
Sapateia, meu bem, Sapateia, ai
Outra vez a Sapateia,
Ó quantas vezes, ó quantas,
O jantar serve de ceia! [Bis]

O ladrão da Sapateia,
Na hora que quer partir,
Quem tem à vista o seu bem,
Dele se vai despedir.

[Refrão]

Ó Sapateia, meu bem,


Sapateia pr'a «diente»,
Adiante mais um par,
Que atrás vem muita gente.

[Refrão]

Vá de roda, fecha a roda,


Fecha de meia rodela,
Mal haja quem te dá penas,
Amada, querida, bela.

[Refrão]

Ó Sapateia, meu bem,


Ai torna a sapatear,
Uma volta não é nada,
Outra volta vamos dar.

[Refrão]

Dá-me a tua mão esquerda,


Que eu ta quero apertar,
Não te peço a mão direita,
Porque já tens a quem dar.

[Refrão]

Ó Sapateia, meu bem,


Sapateia agora aqui,
Eu quero morrer cantando,
Já que cantando nasci.
[Refrão]

Aí vem a Sapateia,
Para o balho se acabar.
Menina com quem balhei,
Bem me queira desculpar.

[Refrão]

Adeus, que me vou embora,


Para as bandas do além.
Quem me não conhece, chora,
Que fará quem me quer bem?

[Refrão]

Ao romper da bela aurora


popular: Beira-Alta : Ao romper da bela aurora
Letra e música: popular: Beira-Alta
jj

Ao romper da bela aurora


vem o pastor da choupana
vem gritando em altas vozes
muito padece quem ama

muito padece quem ama


mais padece quem namora
vem o pastor da choupana
ao romper da bela aurora

gosto de quem canta bem


é uma prenda bonita
gosto de que canta bem
é uma prenda bonita

Não empobrece ninguém


assim como não enrica
não empobrece ninguém
assim como não enrica

Ao romper ...
Chamarrita
popular: Madeira : Chamarrita
Letra e música: popular: Madeira
(não tenho a certeza, pode haver erros.)

Chamarrita chama chama


já dormi na tua cama
já dormi na tua cama
já tua boca beijei
já logrei os teus carinhos
e mais coisinhas qu'eu sei
já logrei os teus carinhos
e mais coisinhas que sei

Chamarrita assim assim


chamarrita assim ou não
dava-te o meu coração
lanceolado e com'ma fita
para que te não esqueças
do bailo da chamarrita
para que te não esqueças
do bailo da chamarrita

Cantar brejeiro
Pedro Barroso : Cantar brejeiro
Letra e música: Pedro Barroso
In: "Cantos à Terra Madre", 1982
Victor Almeida

Passei de longe para ver se não te via


Se me esquecia do teu doce bamboleio
Mas por má sorte caminhaste para mim
Olhos gulosos e assim
Com o vento a colar teu seio

Olha a perninha, a perninha da menina


Olha a perninha, a perninha a dar a dar
Cabeça não tem juízo e a perna é que vai pagar
Cabeça não tem juízo e a perna é que vai pagar

Amor de verão que foi no tempo das colheitas


E o teu perfume tinha a naturalidade
De quem descansa dos trabalhos e maleitas
Nos derriços mais gostosos de uma breve mocidade

Olha a perninha, a perninha da menina


Olha a perninha, a perninha a dar a dar
Cabeça não tem juízo e a perna é que vai pagar
Cabeça não tem juízo e a perna é que vai pagar

Mas da seara cortada fez-se farinha


Dessa farinha com fermento fiz o pão
Ficou-me ao peito essa trigueira rainha
Que me roubou alegria ao meu canto e coração

Olha a perninha, a perninha da menina


Olha a perninha, a perninha a dar a dar
Cabeça não tem juízo e a perna é que vai pagar
Cabeça não tem juízo e a perna é que vai pagar

Samaritana
Edmundo Bettencourt : * Samaritana
Letra e música: Edmundo Bettencourt (?)
(fado de Coimbra)
Azeituna

Dos amores do redentor Dó


não reza a história sagrada Ré#7dim
mas diz uma lenda encantada Rém Fá
que o bom Jesus sofreu de amor. Sol Sol7 Dó

Sofreu consigo e calou


sua paixão divinal
assim como qualquer mortal
um dia de amor palpitou.

[Refrão]
Samaritana plebeia de Sical Sol7 Dó Ré#7dim Sol
Alguém espreitando te viu Jesus beijar Rém Sol7 Dó
De tarde quando foste encontrá-lo só Sol7 Dó Dó7 Fá
Morto de sede junto à fonte de Jacob. Dó Sol7 Dó
E tu risonha acolheste Dó Lá7 Rém
o beijo que te encantou Sol7 Dó
Serena, empalideceste Lá7 Rém
e Jesus Cristo corou Sol7 Dó

Corou por ver quanta luz Dó7 Fá


irradiava da tua fronte Sol7 Dó
Quando disseste ò bom Jesus Dó7 Fá
-"Que bem eu fiz, Senhor, em vir à fonte." Sol7 Dó

[Refrão]

Pedra filosofal
Manuel Freire : Pedra filosofal
Música: Manuel Freire
Letra: António Gedeão
jj , Fernando Faria, José Martins

(A)
Eles não sabem que o D sonho
é uma constante da F#7 vida
tão concreta e definida G
como outra coisa qualquer A

como esta pedra cinzenta


em que me sento e descanso
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos

como estes pinheiros altos


que em verde e oiro se agitam
como estas árvores que gritam
em bebedeiras de azul

eles não sabem que sonho


é vinho, é espuma, é fermento
bichinho alacre e sedento
de focinho pontiagudo
que fuça através de tudo Em A7
no perpétuo movimento D

Eles não sabem que o sonho


é tela é cor é pincel
base, fuste ou capitel
arco em ogiva, vitral

Pináculo de catedral
contraponto, sinfonia
máscara grega, magia
que é retorta de alquimista

mapa do mundo distante


Rosa dos Ventos Infante
caravela quinhentista
que é cabo da Boa-Esperança

Ouro, canela, marfim


florete de espadachim
bastidor, passo de dança
Columbina e Arlequim

passarola voadora
pára-raios, locomotiva
barco de proa festiva
alto-forno, geradora

cisão do átomo, radar


ultra-som, televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar

Eles não sabem nem sonham


que o sonho comanda a vida
e que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos duma criança

Canoas do Tejo
Carlos do Carmo : Canoas do Tejo
Letra e música: Frederico de Brito
Carlos Coutinho

Canoa de vela erguida,


Que vens do Cais da Ribeira,
Gaivota, que andas perdida,
Sem encontrar companheira
O vento sopra nas fragas,
O Sol parece um morango,
E o Tejo baila com as vagas
A ensaiar um fandango

[refrão:]
Canoa,
Conheces bem
Quando há norte pela proa,
Quantas voltas tem Lisboa,
E as muralhas que ela tem

[1:]
Canoa,
Por onde vais?
Se algum barco te abalroa,
Nunca mais voltas ao cais,
Nunca, nunca, nunca mais

Canoa de vela panda,


Que vens da boca da barra,
E trazes na aragem branda
Gemidos de uma guitarra

Teu arrais prendeu a vela,


E se adormeceu, deixa-lo
Agora muita cautela,
Não vá o mar acordá-lo

[refrão]

[Guitarra]

[1

Oliveira da serra
popular: Alentejo : *Oliveira da serra
Letra e música: popular: Alentejo
Fernando Faria
(Altern. G/D7, C/G7)

À oliveira da serra, A
O vento leva a flor. [Bis] A
Ó-i-ó-ai, só a mim ninguém me leva,E7 A
Ó-i-ó-ai, para o pé do meu amor. [Bis]E7 A

À oliveira da serra,
O vento leva a ramada.
Ó-i-ó-ai, só a mim ninguém me leva,
Ó-i-ó-ai, para o pé da minha amada.

Rama
popular: Alentejo : *Rama
Letra e música: popular: Alentejo
Fernando Faria
(Altern. D/G/A7, A/D/E7, G/C/D7)

Ó rama, ó que linda rama, C


Ó rama da oliveira! F C
O meu par é o mais lindo G7
Que anda aqui na roda inteira! C

Que anda aqui na roda inteira,


Aqui e em qualquer lugar,
Ó rama, que linda rama,
Ó rama do olival!

Eu gosto muito de ouvir


Cantar a quem aprendeu.
Se houvera quem me ensinara,
Quem aprendia era eu!

Não m'invejo de quem tem


Parelhas, éguas e montes;
Só m'invejo de quem bebe
A água em todas as fontes.

Fui à fonte beber água,


Encontrei um ramo verde;
Quem o perdeu tinha amores,
Quem o achou tinha sede.

Debaixo da oliveira
Não se pode namorar;
A folha é miudinha,
Deixa passar o luar.
Menina estás à janela
Vitorino : * Menina estás à janela
Letra e música: popular: Alentejo
jj, Creissac, Aníbal Vinhas

MeninaC estás à janeFla


com o teuG cabelo à Clua
não me vouAm daqui emboFra
sem levarG uma prenda CtuaAm

sem levar uma prenda tua


sem levar uma prenda dela
com o teu cabelo à lua
menina estás à janela

Os olhos requerem olhos


e os corações corações
e os meus requerem os teus
em todas as ocasiões

[Gosto muito dos teus olhos


mas ainda mais dos meus
se não foram os meus olhos
como iria (eu) ver os teus]

[Chorai olhos chorai olhos


que o chorar não é desprezo
também a virgem chorou
quando viu seu filho preso]

Ó patrão dê-me um cigarro


Vitorino : Ó patrão dê-me um cigarro
Letra e música: popular: Alentejo
In: "semear salsa ao reguinho", 1975

Ó patrão dê-me um cigarro


Acabou-se o tabaco
E o trigo que eu hoje entarro
Fumando dá mais um saco
Canta o melro no silvado
E o rouxinol na ribeira
Ó minha pombinha branca
Quero ir à tua beira

Quero ir à tua beira


Quero viver a teu lado
Rola o pombo na azinheira
Canta o pardal no telhado

Se a morte fosse interesseira


Ai de nós o que seria
O rico comprava a morte
Só o pobre é que morria.

Vou-me embora vou partir


Vitorino (?) : Vou-me embora vou partir
Letra e música: popular: Alentejo

Vou-me embora, vou partir mas tenho esperança


de correr o mundo inteiro, quero ir
quero ver e conhecer rosa branca
e a vida do marinheiro sem dormir

E a vida do marinheiro branca flor


que anda lutando no mar com talento
adeus adeus minha mãe, meu amor
eu hei-de ir hei-de voltar com o tempo

Alecrim
popular : Alecrim
Letra e música: popular
Mariana

Alecrim alecrim aos molhos


por causa de ti
choram os meus olhos
ai meu amor
quem te disse a ti
que a flor do monte
era o alecrim

Alecrim alecrim doirado


que nasce no monte
sem ser semeado
ai meu amor
quem te disse a ti
que a flor do monte
era o alecrim

Ó minha amora madura


popular : Ó minha amora madura
Letra e música: popular
jj

Ó minha amora madura


quem foi que te amadurou?
Foi o sol e a geada
e o calor que ela apanhou.

E o calor que ela apanhou


debaixo da silveirinha;
Ó minha amora madura
minha amora madurinha.

Há silvas que dão amoras


há outras que as não dão
há amores que são leais
e há outros que o não são

Chula
popular : *Chula
Letra e música: popular
Fernando Faria
(Alternativamente E/B7, F/C7, D/A7, A/E7)
Tenho a chula no meu corpo, [Bis] C G7 C
Tenho o vira nos meus braços, [Bis] G7 C G7
Quando trabalhar por gosto [Bis] C G7 C
Nem vou saber de cansaços. [Bis] G7 C

[Refrão:]
Pr'a melhor está bem, está bem, C G7
Pr'a pior já basta assim! [Bis] C

Dizes que gostas de mim,


O teu gosto é só engano,
Tu cortas na minha vida
Como a tesoura no pano.

[Refrão]

Ai que linda troca de olhos,


Fizeram-me agora ali,
Trocaram-se uns olhos meus
Por uns outros que eu bem vi.

[Refrão]

Meu amor não me falou,


Fez-me linda companhia,
Ai às quatro é de noite
E às cinco é de dia.

[Refrão]

Não tenho cama nem casa,


Ando por quatro caminhos,
Dois que cheiram mal se vem,
Outros dois com mais cheirinhos.

[Refrão]

Malhão
popular : *Malhão
Letra e música: popular
Fernando Faria
(Alternativamente C/G, A/E, D/A)
Ó malhão, malhão, que vida é a tua? G D G
Ó malhão, malhão, que vida é a tua? D G
Comer e beber, ó tirim-tim-tim, passear na rua. D G
Comer e beber, ó tirim-tim-tim, passear na rua. D G

Ó malhão, malhão,
Malhão de Lisboa,
Sempre a passear, ó tirim-tim-tim,
A vida é boa.

Ó malhão, malhão,
Ó malhão do Porto,
Andaste a beber, ó tirim-tim-tim,
E ficaste torto.

Ó malhão, malhão,
Quem te não dançou?
Por causa de ti, ó tirim-tim-tim,
O meu pai casou.

Ó malhão, malhão,
Quem te deu as meias?
Foi o caixeirinho, foi o caixeirinho
Das pernas feias.

Ó malhão, malhão,
Quem te deu as botas?
Foi o caixeirinho, foi o caixeirinho
Das pernas tortas.

Ó malhão, malhão,
Ó Margaridinha,
Quem te pôs a mão, quem te pôs a mão
Sabendo que és minha?

eras do teu pai eras do teu pai


mas agora és minha

Bailinho da Madeira
popular: Madeira : *Bailinho da Madeira
Letra e música: popular: Madeira
Fernando Faria
Eu venho de lá tão longe, ai eu venho de lá tão longe, A E7 A
Venho sempre à beira-mar, venho sempre à beira-mar. E7 A
Trago aqui estas coibinhas, trago aqui estas coibinhas, E7 A
Pr'amanhã, pró seu jantar, pr'amanhã, pró seu jantar. E7 A

[Refrão=]
Deixem passarA E7
Esta linda brincadeira, A
Que a gente vamos bailar E7
Pr'a gentinha da Madeira! [Bis] A

A Madeira é um jardim, a Madeira é um jardim,


No mundo não há igual, no mundo não há igual.
Seus encantos não têm fim, seus encantos não têm fim,
É vila de Portugal, é vila de Portugal.

[Refrão]

Ei-los que partem


Manuel Freire : Ei-los que partem
Música: ?
Letra: ?
jj, prh
(Escrito de memória - quem me corrige esta letra?)

Ei-los que partem


novos e velhos
buscando a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos

Ei-los que partem


de olhos molhados
coração triste
e a saca às costas
esperança em riste
sonhos dourados
ei-los que partem
de olhos molhados

Virão um dia
ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
ou nâo

Vira de Coimbra
? : * Vira de Coimbra
Letra e música: ?
(fado de Coimbra)
Fernando Carvalho

Coimbra p'ra ser Coimbra Lá- Mi-


Três coisas há-de contar La-
Guitarras, tricanas lindas Mi-
E rouxinóis a voar. La-

Fui encher a bilha e trágo-a


Vazia como a levei
Mondego qu'é da tu'agua
qu'é dos prantos que eu chorei.

Dizem que amor de estudante


Não dura mais que uma hora
Só o meu é tão velhinho
Inda não se foi embora.

Carteiro em bicicleta
João Afonso : *Carteiro em bicicleta
Letra e música: João Afonso
In: "Missanga", Maio 97
Luís Garção Nunes

Quando Gfor grande vou ser


quero serC um realejoD
Ter um peCdaço de terraG
fogo que Dsalta ao braseiroG
dormir Cno fundo da serraG
quero Dser um realejoG
C
Carteiro em bicicleta
leva reDcados de amorG
(F#)
vem o sonoEm com a músicaC
ao som do...D realejoG

Quando for grande vou ser


quero ser um realejo
Ter um burro viola e cão
chamar a dança dos sapos
correr com a bola na mão
quero ser um realejo

Quando for grande vou ser


quero ser um realejo
colher amêndoa em telhados
dar banana às andorinhas
dobrar o cabo do mundo
quero ser um realejo

Tu gitana
Helena Vieira : Tu gitana
Música: Zeca Afonso
Letra: Cancioneiro de Vila Viçosa
In: "galinhas do mato", 1985
jj

Tu gitana que adivinhas


Me lo digas, poes no lo sê
Se saldre dessa aventura
Ô si nela moriré
Ô si nela perco la vida
Ô si nela triumfare
Tu gitana que adivinhas
Me lo digas, poes no lo sê
E alegre se fez triste
Adriano Correia de Oliveira : E alegre se fez triste
Música: José Niza
Letra: Manuel Alegre
Fernando Pais

Aquela clara madrugada que


Viu lágrimas correrem no teu rosto
E alegre se fez triste como se
chovesse de repente em pleno Agosto

Ela só viu meus dedos nos teus dedos


Meu nome no teu nome e demorados
Viu nossos olhos juntos nos segredos
Que em silêncio dissemos separados

A clara madrugada em que parti


Só ela viu teu rosto olhando a estrada
Por onde o automóvel se afastava

E viu que a pátria estava toda em ti


E ouviu dizer adeus essa palavra
Que fez tão triste a clara madrugada
Que fez tão triste a clara madrugada

Canção terceira
Adriano Correia de Oliveira : Canção terceira
Música: Luís Cília
Letra: Manuel Alegre
Fernando Pais Abreu

Quando desembarcarmos no Rossio canção


Vão dizer que a rua não é um rio
Vão apresar o teu navio
Carregado de vento carregado de pão

Dirão que trazes tempestades


Dirão que vens de espada em riste
Dirão que foi sangue o vinho que pediste
Quando desembarcarmos no Rossio
Vão vestir-te com grades
Que é um vestido para todas as idades
Na pátria dos poetas em Rossio triste

Virão em busca do teu sonho e do teu pão


E vão exigir a nossa rendição
Mas eu canção
Eu gritarei de pé no teu navio
Não

Vão vestir-te com grades


Que é um vestido para todas as idades
Na pátria dos poetas em Rossio triste
Mas eu canção
Eu gritarei de pé no teu navio
Não

Uma flor de verde pinho


Carlos do Carmo : Uma flor de verde pinho
Música: José Niza
Letra: Manuel Alegre
Versos de Segunda, Carlos Nogueira

Eu podia chamar-te pátria minha


dar-te o mais lindo nome português
podia dar-te um nome de rainha
que este amor é de Pedro por Inês.

Mas não há forma não há verso não há leito


para este fogo amor para este rio.
Como dizer um coração fora do peito?
Meu amor transbordou. E eu sem navio.

Gostar de ti é um poema que não digo


que não há taça amor para este vinho
não há guitarra nem cantar de amigo
não há flor não há flor de verde pinho.

Não há barco nem trigo não há trevo


não há palavras para dizer esta canção.
Gostar de ti é um poema que não escrevo.
Que há um rio sem leito. E eu sem coração.
Há festa na Mouraria
Amália Rodrigues : Há festa na Mouraria
Letra e música: A. Amargo; A. Duarte
Javier Tamames

Há festa na Mouraria,
é dia da procissão
da senhora da saúde.
Até a Rosa Maria
da rua do Capelão
parece que tem virtude.

Naquele bairro fadista


calaram-se as guitarradas:
não se canta nesse dia,
velha tradição bairrista,
vibram no ar badaladas,
há festa na Mouraria.

Colchas ricas nas janelas,


pétalas soltas no chão.
Almas crentes, povo rude
anda a fé pelas vielas:
é dia da procissão
da senhora da saúde.

Após um curto rumor


profundo siléncio pesa:
por sobre o largo da guia
passa a Virgem no andor.
Tudo se ajoelha e reza,
até a Rosa Maria.

Como que petrificada,


em fervorosa oração,
é tal a sua atitude,
que a rosa já desfolhada
da rua do Capelão
parece que tem virtude.
Contos Velhinhos
Zeca Afonso : Contos Velhinhos
Letra e música: Ângelo Araújo
(fado de Coimbra)
Fernando Pais

Contos velhinhos de amor


numa noite branca e fria
tantos trago para contar
são pétalas duma flor
desfolhadas ao luar
contos velhinhos de amor
numa noite branca e fria
tantos trago para contar

Contos velhinhos os meus


são contos iguais a tantos
que tantos já nos contaram
são saudades de um adeus
de sonhos que já passaram
contos velhinhos os meus
são contos iguais a tantos
que tantos já nos contaram

Casa comigo Marta


José Mário Branco : Casa comigo Marta
Música: José Mário Branco
Letra: Sérgio Godinho
In: José Mário Branco "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"
Victor Almeida

Chamava-se ela Marta


Ele Doutor Dom Gaspar
Ela pobre e gaiata
Ele rico e tutelar
Gaspar tinha por Marta uma paixão sem par
Mas Marta estava farta mais que farta de o aturar
- Casa comigo Marta
Que estou morto por casar
- Casar contigo, não maganão
Não te metas comigo, deixa-me da mão

Casa comigo Marta


Tenho roupa a passajar
Tenho talheres de prata
Que estão todos por lavar
Tenho um faisão no forno e não sei cozinhar
Camisas, camisolas, lenços, fatos por passar
- Casa comigo Marta
Tenho roupa a passajar
- Casar contigo, não maganão
Não te metas comigo deixa-me da mão

Casa comigo Marta


Tenho acções e rendimentos
Tenho uma cama larga
Num dos meus apartamentos
Tenho ouro na Suíça e padrinhos aos centos
Empresto e hipoteco e transacciono investimentos
- Casa comigo Marta
Tenho acções e rendimentos
- Casar contigo, não maganão
Não te metas comigo deixa-me da mão

Casa comigo Marta


Tenho rédeas p'ra mandar
Tenho gente que trata
De me fazer respeitar
Tenho meios de sobra p'ra te nomear
Rainha dos pacóvios de aquém e além mar
- Casas comigo Marta
Que eu obrigo-te a casar
- Casar contigo, não maganão
Só me levas contigo dentro de um caixão

Eu vim de longe
José Mário Branco : Eu vim de longe
Letra e música: José Mário Branco
A. Guimarães

Quando o avião aqui chegou


quando o mês de Maio começou
eu olhei para ti
então entendi
foi um sonho mau que já passou
foi um mau bocado que acabou

Tinha esta viola numa mão


uma flor vermelha n'outra mão
tinha um grande amor
marcado pela dor
e quando a fronteira me abraçou
foi esta bagagem que encontrou

Eu vim de longe
de muito longe
o que eu andei p'ra'qui chegar
Eu vou p'ra longe
p'ra muito longe
onde nos vamos encontrar
com o que temos p'ra nos dar

E então olhei à minha volta


vi tanta esperança andar à solta
que não exitei
e os hinos cantei
foram feitos do meu coração
feitos de alegria e de paixão

Quando a nossa festa s'estragou


e o mês de Novembro se vingou
eu olhei p'ra ti
e então entendi
foi um sonho lindo que acabou
houve aqui alguém que se enganou

Tinha esta viola numa mão


coisas começadas noutra mão
tinha um grande amor
marcado pela dor
e quando a espingarda se virou
foi p'ra esta força que apontou

Onde vais ó caminheiro


José Mário Branco (?) : Onde vais ó caminheiro
Letra e música: José Mário Branco (?)
In: Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades; 1971
jj
(Esta música tem uma excelente cadência para caminhadas)
Onde vais ó caminheiro
Com o teu passo apressado
Onde vais ó caminheiro
Com o teu passo apressado
Vou ao cais do terreiro
Ver o rei Sebastião primeiro
Num lençol amortalhado
Voltou no seu veleiro
No nevoeiro
Sem leme nem gageiro
E com o casco arrebentado

Onde vais ó caminheiro


Com o teu passo apressado
Com teus olhos em braseiro
E teu rosto afogueado
Vou ao cais do terreiro
Ver o rei Sebastião primeiro
Por alcunha a desejado
Voltou no seu veleiro
No nevoeiro
Sem leme nem gageiro
Num lençol amortalhado

Onde vais ó caminheiro


Com o teu passo apressado
Porque levas caminheiro
tanta pressa no cajado
Vou ao cais do terreiro
Ver o rei Sebastião primeiro
Num lençol amortalhado
Voltou no seu veleiro
No nevoeiro
Esperado primeiro
E depois desesperado

Onde vais ó caminheiro


Com o teu passo apressado
Que traz ó caminheiro
Esse príncipe encantado
Vou ao cais do terreiro
Ver o rei Sebastião primeiro
À tanto tempo esperado
Voltou no seu veleiro
No nevoeiro
Sem glória nem dinheiro
Num lençol amortalhado
Onde vais ó caminheiro
Com o teu passo apressado
Era príncipe ou sendeiro
Sebastião o desejado
Vou ao cais do terreiro
Ver o rei Sebastião primeiro
Num lençol amortalhado
Era príncipe herdeiro
Nevoeiro
O príncipe agoireiro
o príncipe mal esperado

Onde vais ó caminheiro


Com o teu passo apressado
Porque paras caminheiro
Se é Sebastião finado
Voltou no seu veleiro
No nevoeiro
Sem leme nem gageiro
Num lençol amortalhado
Vou ao cais do terreiro,
Nevoeiro,
Pra ficar bem certeiro
De que é morto e enterrado

Os meninos de Huambo
Paulo de Carvalho : Os meninos de Huambo
Letra e música: Rui Monteiro
In: "Desculpem Qualquer Coisinha", 1985
Victor Almeida

Com fios feitos de lágrimas passadas


Os meninos de Huambo fazem alegria
Constroem sonhos com os mais velhos de mãos dadas
E no céu descobrem estrelas de magia

Com os lábios de dizer nova poesia


Soletram as estrelas como letras
E vão juntando no céu como pedrinhas
Estrelas letras para fazer novas palavras

Os meninos à volta da fogueira


Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade

Com os sorrisos mais lindos do planalto


Fazem continhas engraçadas de somar
Somam beijos com flores e com suor
E subtraem manhã cedo por luar

Dividem a chuva miudinha pelo milho


Multiplicam o vento pelo mar
Soltam ao céu as estrelas já escritas
Constelações que brilham sempre sem parar

Os meninos à volta da fogueira


Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade

Palavras sempre novas, sempre novas


Palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
E até já dizem que as estrelas são do povo

Assim contentes à voltinha da fogueira


Juntam palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
E até já dizem que as estrelas são do povo

Cantar de emigração (este parte, aquele parte)


Adriano Correia de Oliveira : * Cantar de emigração (este
parte, aquele parte)
Música: José Niza
Letra: Rosalia de Castro
jj(Jan 96)

Este parEmte, aquele parGte


e toCdos, toAmdos se Dvão
GaliDza fiCcas sem hoEmmens
que poCssam coAmrtar teu pãoh7
C C h7+
C C h7

Tens em troca
órfãos e órfãs
tens campos de solidão
tens mães que não têm filhos
filhos que não têm pai

Coração
que tens e sofre
longas ausências mortais
viúvas de vivos mortos
que ninguém consolará

nota: viola

h7+ = (201202)

Se tu fores ver o mar (Rosalinda)


Fausto : Se tu fores ver o mar (Rosalinda)
Letra e música: Fausto
Francisco Machado

Rosalinda
se tu fores à praia
se tu fores ver o mar
cuidado não te descaia
o teu pé de catraia
em óleo sujo à beira-mar

a branca areia de ontem


está cheiinha de alcatrão
as dunas de vento batidas
são de plástico e carvão
e cheiram mal como avenidas
vieram para aqui fugidas
a lama a putrefacção
as aves já voam feridas
e outras caem ao chão

Mas na verdade Rosalinda


nas fábricas que ali vês
o operário respira ainda
envenenado a desmaiar
o que mais há desta aridez
pois os que mandam no mundo
só vivem querendo ganhar
mesmo matando aquele
que morrendo vive a trabalhar
tem cuidado...

Rosalinda
se tu fores à praia
se tu fores ver o mar
cuidado não te descaia
o teu pé de catraia
em óleo sujo à beira-mar

Em Ferrel lá p´ra Peniche


vão fazer uma central
que para alguns é nuclear
mas para muitos é mortal
os peixes hão-de vir à mão
um doente outro sem vida
não tem vida o pescador
morre o sável e o salmão
isto é civilização
assim falou um senhor
tem cuidado

Mariana das sete saias


Fausto : Mariana das sete saias
Letra e música: Fausto
Francisco Machado

Sete saias tem Mariana


e um emprego em Miraflores
viveu ontem de recados
mas hoje vive de amores

sete carros vão chegando


pelas tardes de Belém
com sete homens que a beijam
entre Sintra e o Cacém

não tenho amores


nem tenho amantes pois
quantos amados não sei
tenho alguns amadores
olha para mim
lá na terra onde morei
escutava
pela rádio o folhetim

sete saias tem Mariana


à noite no Parque Mayer
dança bolero em dó menor
ali num cantinho qualquer

«ai de mim» - diz Mariana


se um dia amor me faltar
ao almoço eu já não como
e como menos ao jantar

não tenho amores


nem tenho amantes pois
quantos amados não sei
tenho alguns amadores
e sustento dois
lá na terra onde morei
sem trabalho
que é da vida p´ra depois

sete saias tem Mariana


nesta roda de contraste
a tua vida serve bem
aqueles que nunca amaste

Mariana das sete saias


se sopra o vento suão
deixas de ser uma almofada
entre o mandado e o mandão

cai-te essa flor do cabelo


e amores do coração

A chusma salva-se assim


Fausto : A chusma salva-se assim
Letra e música: Fausto
In: "Crónicas da terra ardente"
Luís Quinta
Já anda a gente do mar
a fazer fardos e trouxas
arrombando porões
a roubar arcas e caixões
e abandonam as mulheres
os filhos desamparados
que choram muito assustados
sem outra consolação
que uns abraçados com outros
incham das águas aos poucos
dos tragos salgados da morte
imploram a Deus outra sorte
às arfadas
aos arrancos
em prantos
e às golfadas
e uns se afogam de vez
deixando-se ir ao fundo
e se entregam assim
ao sono mais profundo
outros gritam aos céus
pela absolvição
e se enforcam depois
com suas próprias mãos
perneando com a morte
as pernas descarnadas
feitas em rachas em lanhos
e tão estilhaçadas
que por esta parte em destroços
lhes vão caindo os tutanos dos ossos
e sem saberem nadar
sem a nau
sem tábua nem pau
vai o mundo adornar
cai ao mar
cai ao mar

Daquela assada do barco


constroem seu salvamento
amarrou-se a gente ao troço
p'la cintura p'lo pescoço
indo assim tão carregada
ferem com facas e lanças
as mulheres as crianças
que se aferram à jangada
mas rezam avé-marias
padre-nossos litanias
p'las almas dos mutilados
que p'ra ali são abandonados
às arfadas
em arrancos
em prantos
e às golfadas
cheio vai o batel
e quase a afundar
p'ra alijarem a carga
botam gente ao mar
engole uma vez de vinho
e da marmelada um bocado
o pobre de um marinheiro
mesmo antes de ser lançado
deixou-se então atirar
com os braços cruzados
e se ofereceu todo à morte
tão quieto e calado
e o piloto logo abençoou
os seus dois filhos
que ele próprio lançou
e sem saberem nadar
sem a nau
sem a tábua nem pau
vai o mundo a adornar
cai ao mar
cai ao mar

Pequena era a tua filha


e não a quiseram salvar
ficou ao colo da ama
no barco grande a afundar
suplicas da jangada
enfim
ergues teus braços de mãe
mas não te escuta ninguém
a chusma salva-se assim
Gaspar Ximenes
calado
não chores alto
cuidado
tu chora só no coração
ou também vais como o teu irmão
às arfadas
aos arrancos
em prantos
e às golfadas
passam dias a fio
à pura fome e sede

E há quem vá tragando urina


e morra do que bebe
outros da água salgada
falecem dos sentidos
gritando sempre por água
lançam-se ao mar ressequidos
vai-se o soldado e o china
não fica dor nem mágoa
botou-se Estêvão mulato
com a mesma sede de água
e na tarde daquela aridez
atirou-se o padre
e o piloto outra vez
e sem saberem nadar
sem a nau
sem tábua nem pau
vai o mundo a adornar
cai ao mar
cai ao mar

Nota: História Trágico-Marítima

"Carregada a nau no fundo do mar por cobiça e cuidando então que fosse ao fundo por quão
rota e aberta ia, começaram por confessar-se sumariamente a alguns clérigos, sem tino e sem
ordem, que o confessor chega a tapar a boca ao alienado que vai gritando alto os seus
pecados. E a gente do mar, por natureza inumana e mal inclinada, embarcava em jangadas
que construíam , roubando e destruindo tudo, e defendendo as embarcações dos quais que as
vinham demandar, à força das espadas e de safanões. Foi o espectáculo deste dia o mais
triste e lastimoso que se podia ver. E aquela gente toda aos arrecifes agarrada, e que a maré
enchendo os afogava, bradavam pelos do batel e das jangadas nomeando muitos por seus
nomes, toda a noite num perpétuo grito tamanho que penetrava os céus. "

Atrás dos tempos


Fausto : Atrás dos tempos
Letra e música: Fausto
Francisco Machado

eu pego na minha viola


e canto assim esta vida a correr
eu sei que é pouco e não consola
nem cozido à portuguesa há sequer
quem canta sempre se levanta
calados é que podemos cair
com vinho molha-se a garganta
se a lua nova está para subir
que atrás dos tempos vêm tempos
e outros tempos hão-de vir

eu sei de histórias verdadeiras


umas belas outras tristes de assombrar
do marinheiro morto em terra
em luta por melhor vida no mar
da velha criada despedida
que enlouqueceu e se pôs a cantar
e do trapeiro da avenida
mal dormido se pôs a ouvir

que atrás dos tempos vêm tempos


e outros tempos hão-de vir

sei vitórias e derrotas


nesta luta que vamos vencer
se quem trabalha não se esgota
tem seu salário sempre a descer
olha o polícia olha o talher
olha o preço da vida a subir
mas quem mal faz por mal espere
o tirano fez janela p´ra fugir

que atrás dos tempos vêm tempos


e outros tempos hão-de vir

mas esse tempo que há-de vir


não se espera como a noite espera o dia
nasce da força de braços e pernas em harmonia
já basta tanta desgraça
que a gente tem no peito a cair
não é do povo nem da raça
mas do modo como vês o porvir

Menina
Tonicha : Menina
Música: Nuno Nazareth Fernandes
Letra: Ary dos Santos
CITI(1971)
Menina de olhar sereno
raiando pela manhã
no seio duro e pequeno
num coletinho de lã.

Menina cheirando a feno


casado com hortelã.
Menina que no caminho
vais pisando formusura
levas nos olhos um ninho
todo em penas de ternura.
Menina de andar de linho
com um ribeiro à cintura.

Menina da saia aos folhos


quem te vê fica lavado
água da sede dos olhos
pão que não foi amassado.

Menina do riso aos molhos


minha seiva de pinheiro
menina da saia aos folhos
alfazema sem canteiro.

Menina de corpo inteiro


com tranças de madrugada
que se levanta primeiro
do que a terra alvoraçada.

Menina de fato novo


ave-maria da terra
rosa brava rosa povo
brisa do alto da serra.

Nota:

in Santos, Ary dos. -As Palavras das Cantigas (organização, coordenação e notas de Ruben de
Carvalho).Lisboa, Edições Avante, 1995.

Escrita em 1971. Interpretada por Tonicha, concorreu ao Festival da RTP em 1972, obtendo o 1º
lugar. Teve incialmente o título de Menina do Alto da Serra. Interpretada por Tonicha no disco ORFEU
SB 1118.

Tejo que levas as águas


Adriano Correia de Oliveira : * Tejo que levas as águas
Música: Adriano Correia de Oliveira
Letra: Manuel da Fonseca
A. Guimarães

Em
Tejo que levas as águas
D
correndo de par em Gpar
lava a cidade de Cmágoas
leva as Ammágoas para o h7mar

Lava-a de crimes espantos


de roubos, fomes, terrores,
lava a cidade de quantos
do ódio fingem amores

Leva nas águas as grades


de aço e silêncio forjadas
deixa soltar-se a verdade
das bocas amordaçadas

Lava bancos e empresas


dos comedores de dinheiro
que dos salários de tristeza
arrecadam lucro inteiro

Lava palácios vivendas


casebres bairros da lata
leva negócios e rendas
que a uns farta e a outros mata
C
Tejo que levas as Dáguas
correndo de par em Gpar
lava a cidade de Cmágoas
leva as Ammágoas para o h7mar

Lava avenidas de vícios


vielas de amores venais
lava albergues e hospícios
cadeias e hospitais

Afoga empenhos favores


vãs glórias, ocas palmas
leva o poder dos senhores
que compram corpos e almas

Leva nas águas as grades


...

Das camas de amor comprado


desata abraços de lodo
rostos corpos destroçados
lava-os com sal e iodo

Tejo que levas nas águas


...

Lágrima de preta
Manuel Freire : Lágrima de preta
Música: José Niza
Letra: António Gedeão
jj

Encontrei uma preta


que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado

Olhei-a de um lado
do outro e de frente
tinha um ar de gota
muito transparente

Mandei vir os ácidos


as bases e os sais
as drogas usadas
em casos que tais

Ensaiei a frio
experimentei ao lume
de todas as vezes
deu-me o qu'é costume

Nem sinais de negro


nem vestígios de ódio
água (quase tudo)
e cloreto de sódio
Fala do Velho do Restelo ao astronauta
Manuel Freire : Fala do Velho do Restelo ao astronauta
Música: Manuel Freire
Letra: José Saramago
Versos de Segunda

Aqui, na Terra, a fome continua,


A miséria, o luto, e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme


E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
Ou talvez da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti nem eu sei que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal soletramos, de olhos tensos,


Maravilhas de espaço e de vertigem:
Salgados oceanos que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa


(E as bombas de napalme são brinquedos),
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,

Livre (não há machado que corte)


Manuel Freire : Livre (não há machado que corte)
Música: Manuel Freire
Letra: Carlos Oliveira

(Não há machado que corte


a raíz ao pensamento) [bis]
(não há morte para o vento
não há morte) [bis]

Se ao morrer o coração
morresse a luz que lhe é querida
sem razão seria a vida
sem razão

Nada apaga a luz que vive


num amor num pensamento
porque é livre como o vento
porque é livre

Poema da malta das naus


Manuel Freire : * Poema da malta das naus
Música: Manuel Freire
Letra: António Gedeão
In: "Fala do Homem nascido", 72
Versos de Segunda, Luís Nunes

LanFcei ao mar um maCdeiro,


espeBbtei-lhe um pau e um lenFçol.
Com palApite marinheiroDm
medi a Bbaltura do Sol.A

Deu-me o vento de feição,


levou-me ao cabo do mundo.
pelote de vagabundo,
rebotalho de gibão.

Dormi Bbno dorso das Dmvagas,


pasmei Bbna orla das praisDm
arEbreneguei, roguei praDmgas,
mordi Ebpeloiros Ae zagaias.Dm

Chamusquei o pêlo hirsuto,


tive o corpo em chagas vivas,
estalaram-me a gengivas,
apodreci de escorbuto.

Com a mão esquerda benzi-me,


com a direita esganei.
Mil vezes no chão, bati-me,
outras mil me levantei.

Meu riso de dentes podres


ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres.

Tremi no escuro da selva,


alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
mulheres de todas as cores.

Moldei as chaves do mundo


a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
do sonho, esse, fui eu.

O meu sabor é diferente.


Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.

Pequenos deuses caseiros


Manuel Freire : Pequenos deuses caseiros
Música: Manuel Freire
Letra: Sidónio Muralha
In: "Pedra filosofal", 1993
(esta música esteve proibida de ser tocada pela censura)

Pequenos deuses caseiros


que brincais aos temporais,
passam-se os dias, semanas,
os meses e os anos
e vós jogais, jogais
o jogo dos tiranos.
o jogo dos tiranos.
o jogo dos tiranos.

Pequenos deuses caseiros


cantai cantigas macias
tomai vossa morfina,
perdulai vossos dinheiros
derramai a vossa raiva
gozai vossas tiranias,
pequenos deuses caseiros.
pequenos deuses caseiros.
Erguei vossos castelos
elegei vossos senhores
espancai vossos criados,
violai vossas criadas,
e bebei,
o vinho dos traidores
servido em taças roubadas
servido em taças roubadas

Dormi em colchões de pena,


dançai dias inteiros,
comprai os que se vendem,
alteai vossas janelas,
e trancai as vossas portas,
pequenos deuses caseiros,
e reforçai, reforçai as sentinelas.
e reforçai, reforçai as sentinelas.
e reforçai, reforçai as sentinelas.
e reforçai, reforçai as sentinelas.

Pedro Só
Manuel Freire : Pedro Só
Música: Manuel Jorge Veloso
Letra: Fernando Assis Pacheco
jj
(música do filme "Pedro Só" de Alfredo Tropa 1970)

Passaram anos e anos


sobre esta roda da vida,
farinha que foi moída,
vai-se a ver, são desenganos

Atou-me a sorte este nó,


cobriu-me com estes panos.
Ao peso dos meus enganos
sai a farinha da mó.

Na palma da mão estendida


leio um caminho de pó
lembranças do homem só
São as andanças da vida

Foram dias, foram anos,


foi uma sorte moída,
vida que tenho vivida,
(vai-se a ver são desenganos)[bis]

Foram dias, foram anos,


for a sorte apodrecida.
Dentro da roda da vida
sinto roer os fusanos

Lembranças da minha vida


perdem-se em nuvens de pó.
Bem me chamam Pedro Só,
(nome de roda partida)[bis]

Poema do fecho éclair


Carlos Mendes : Poema do fecho éclair
Música: José Nisa
Letra: António Gedeão
Boletim Dep. Química-helium.fct.unl.pt

Filipe II
tinha um colar de oiro
tinha um colar de oiro
com pedras rubis.
Cingia a cintura
com cinto de coiro,
com fivela de oiro,
olho de perdiz

Comia num prato


de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente.

Andava nas salas


forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.

Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.
Na mesa do canto
vermelho damasco
a tíbia de um santo
guardada num frasco.

Foi dono da terra,


foi senhor do mundo,
nada lhe faltava,
Filipe Segundo.
Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,
safira, topázios,
rubis, ametistas.

Tinha tudo, tudo


sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.
O que ele não tinha
era um fecho éclair.

Nota:

Filipe II teria de viver até aos finais do Séc. XIX para poder ter o seu fecho
éclair

Fala do Homem nascido


Samuel : Fala do Homem nascido
Música: José Niza
Letra: António Gedeão
In: "fala do homem nascido", 1972
A. Guimarães
Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém

Só quero o que me é devido


por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci

Trago boca pra comer


e olhos pra desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr

Venho do fundo do tempo


não tenho tempo a perder
minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada

Não há ventos que não prestem


nem marés que não convenham
nem forças que me molestem
correntes que me detenham

Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu

Com licença com licença


que a barca se fez ao mar
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar
com licença com licença
com rumo à estrela polar

Poema da Pedra Lioz


Samuel : Poema da Pedra Lioz
Música: José Niza
Letra: António Gedeão
In: "fala do homem nascido", 1972
CITI
Álvaro Gois,
Rui Mamede,
filhos de António Brandão,
naturais de Catanhede,
pedreiros de profissão,
de sombrias cataduras
como bisontes lendários,
modelam ternas figuras
na lentidão dos calcários.

Ali, no esconso recanto,


só o túmulo, e mais nada,
suspenso no roxo pranto
de uma fresta geminada.
Mas no silêncio da nave,
como um cinzel que batuca,
soa sempre um truca...truca...
lento, pausado, suave,
truca, truca, truca, truca,
sob a abóbada romântica,
como um cinzel que batuca
numa insistência satânica:
truca, truca, truca, truca,
truca, truca, truca, truca.

Álvaro Gois,
Rui Mamede,
filhos de António Brandão,
naturais de Cantanhede,
ambos vivos ali estão,
truca, truca, truca, truca,
vestidos de sunobeco
e acocorados no chão,
truca, truca, truca, truca.

No friso, largo de um palmo,


que dá volta a toda a arca,
um cristo, de gesto calmo,
assiste ao chegar da barca.
Homens de vária feição,
barrigudos e contentes,
mostram, no riso dos dentes
o gozo da salvação.
Anjinhos de longas vestes,
e cabelo aos caracóis,
tocam pífaro celestes,
entre cometas e sóis.
Mulheres e homens, sem paz,
esgaseados de remorsos,
desistem de fazer esforços,
entregam-se a Satanás.

Fixando a pedra, mirando-a,


quanto mais o olhar se educa,
mais se estende o truca...truca...
que enche a nave, transbordando-a,
truca, truca, truca, truca
truca, truca, truca, truca.

No desmedido caixão,
grande sonhor ali jaz.
Pupilo de Satanás?
Alma pura, de eleição?
Dom Afonso ou Dom João?
Para o caso tanto faz.

Fado das fogueiras


Francisco Menano : Fado das fogueiras
Música: Francisco Menano
Letra: Augusto Gil
In: ?, 1909
"Fado de Coimbra"

Entraste com ar cansado


Numa Igreja fria e triste.
Ajoelhei-me ao teu lado
(Ai) - E nem ao menos me viste ...

Se aquilo que a gente sente,


Cá dentro, tivesse voz,
Muita gente ... toda a gente
Teria pena de nós!

Postal dos correios


Tim; Rui Veloso; Rio Grande : *Postal dos correios
(querida mãe, querido pai, ...)
Música: João Gil
Letra: João Monge
In: "Rio Grande" 1996
jj, Luís Garção Nunes, António Pinho

Querida Gmãe, querido pai. Então que tal?Bm


Nós andamosC do jeito que Deus querAm
Entre Cdias que passam menos malG
Em
Lá vem umD que nos (C)dá mais que fazerG

Mas falemos de coisas bem melhores


A Laurinda faz vestidos por medida
O rapaz estuda nos computadores
Dizem que é um emprego com saída

Cá chegou direitinha a encomenda


Pelo "expresso" que parou na Piedade
Pão de trigo e linguiça pra merenda
Sempre dá para enganar a saudade

Espero que não demorem a mandar


Novidade na volta do correio
A ribeira corre bem ou vai secar?
Como estão as oliveiras de "candeio"?

Já não tenho mais assunto pra escrever


Cumprimentos ao nosso pessoal
Um abraço deste que tanto vos quer
Sou capaz de ir aí pelo Natal

Nota: correcção dos acordes

os acordes das músicas do Rio Grande não estão correctos. Aqui vai a lista correcta
dos acordes.
1.ª parte : D F#m G Em G D A D
2.ª parte : G Bm C Am C G D G
na parte final : C G D G e acaba em D

Timor
Trovante : Timor
Música: João Gil
Letra: João Monge
In: "Um destes dias",1990
jj
Lavam-se os olhos nega-se o beijo
do labirinto escolhe-se o mar
no cais deserto fica o desejo
da terra quente por conquistar

Nobre soldado que vens senhor


por sobre as asas do teu dragão
beijas os corpos no chão queimado
nunca serás o nosso perdão

Ai Timor
calam-se as vozes
dos teus avós
Ai Timor
se outros calam
cantemos nós

Salgas de ventres que não tiveste


ceifando os filhos que não são teus
nobre soldado nunca sonhaste
ver uma espada na mão de Deus

Da cruz se faz uma lança em chamas


que sangra o céu no sol do meio dia
do meio dos corpos a mesma lama
leito final onde o amor nascia

Ai Timor
calam-se as vozes
dos teus avós
Ai Timor
se outros calam
cantemos nós

A moda das tranças pretas


Vicente da Câmara : *A moda das tranças pretas
Música: Ginguinhas
Letra: Vicente da Câmara
Hugo Carvalho, Fernando Faria

Como era linda com seu ar namoradeiro C G7


'Té lhe chamavam "menina das tranças pretas", C
Pelo Chiado passeava o dia inteiro, A7 Dm
Apregoando raminhos de violetas. G7 C
E as raparigas d'alta roda que passavam
Ficavam tristes a pensar no seu cabelo,
Quando ela olhava, com vergonha, disfarçavam
E pouco a pouco todas deixaram crescê-lo.

Passaram dias e as meninas do Chiado


Usavam tranças enfeitadas com violetas,
Todas gostavam do seu novo penteado,
E assim nasceu a moda das tranças pretas.

Da violeteira já ninguém hoje tem esperanças,


Deixou saudades, foi-se embora e à tardinha
Está o Chiado carregado de mil tranças
Mas tranças pretas ninguém tem como ela as tinha.

Quatro quadras soltas


Sérgio Godinho : Quatro quadras soltas
Letra e música: Sérgio Godinho
In: "Campolide", 79
Victor Almeida

Eu vi quatro quadras soltas


À solta lá numa herdade
amarrei-as com uma corda
e carreguei-as p'rá cidade

Cheguei com elas a um largo


e logo ao largo se puseram
foram ter com a família
e com os amigos que ainda o eram

Viram fados, viram viras


viram canções de revolta
e encontraram bons amigos
em mais que uma quadra solta

Uma viu um livro chamado


"Este livro que vos deixo"
e reviu velhas amizades
eram quadras do Aleixo

[Adriano:]
O i o ai, há já menos quem se encolha
o i o ai, muita gente fala e canta
o i o ai, já se vai soltando a rolha
que nos tapava a garganta

Ora bem tinha marcado


encontro com as quadras soltas
pois sim, fiquei pendurado
como um tolo ali às voltas

Chegou uma e disse: Andei


a cumprimentar parentes
e eu aqui a enxotar moscas
vocês são mesmo indecentes

Respondeu-me: ó patrãozinho
desculpe lá esta seca
estive a beber um copinho
com uma quadra do Zeca

[e é o próprio sôr Zeca Afonso que vai cantar aqui]


O i o ai, disse-me um dia um careca
o i o ai, quando uma cobra tem sede
o i o ai, corta-lhe logo a cabeça
encosta-a bem à parede

Das restantes quadras soltas


não tinha sequer noticia
dirigi-me a uma esquadra
e descrevi-as a um policia

Respondeu-me: com efeito


nós temos aqui retida
uma quadra sem papeis
que encontramos na má vida

Diz que é uma quadra oral


sem identificação
que uma quadra popular
não precisa de cartão

Se diz que pertence ao povo


o povo que venha cá
que eu quero ver a licença
o registo e o alvará

[Fausto:]
O i o, Quando se embebeda o pobre
o i o ai, dizem olha o borracho
o i o ai, quando se emborracha o rico
acham graça ao figurão

Fui com a quadra popular


À procura da restante
quando o policia de longe
disse: venha aqui um instante

Temos aqui uma outra


não sei se você conhece
desrespeita a autoridade
e diz o que lhe apetece

Tem uma rima forçada


e palavras estrangeiras
e semeia a confusão
entre as outras prisioneiras

Se for sua leve-a já


que é pior que erva daninha
olhe bem pra ela é sua?
Olhei bem pra ela: é minha

O i o ai, nós queremos é justiça


o i o ai, e dinheiro para o bife
o i o ai e não esta coboiada
em que é tudo do sherife

Nota:

Em 1979 Sérgio Godinho gravava um disco chamado "Campolide" e numa das canções
cantavam, Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso e Fausto. Essa canção chama-se "Quatro
quadras soltas" e nas quadras, cada um dos convidados canta conforme o mencionado.

Barnabé
Sérgio Godinho : Barnabé
Letra e música: Sérgio Godinho
In: "Pré-Historias", 1972
Victor Almeida

Vieram profetas
Vieram Doutores
santos milagreiros, poetas, cantores
cada qual com um discurso diferente
p'ra curar a vida da gente
e a gente parada
fez orelhas moucas
que com falas dessas
as esperanças são poucas
mas quando o Barnabé cá chegou
Toda a gente arribou [bis]
Que é que tem o Barnabé que é diferente dos outros?

Vieram peritos
em habilidades
dizer que a fortuna cresce nas cidades
e que só ganha quem concorrer
e quem vai ser, quem vai ser
que vai ganhar, vai vencer?
E a gente parada
fez orelhas moucas
que com falas dessas
as esperanças são poucas
mas quando o Barnabé cá chegou
Toda a gente ganhou [bis]
Que é que tem o Barnabé que é diferente dos outros?

Vieram comerciantes
vender sabonetes
danças regionais, televisões, rabanetes
em suaves prestações mensais
e quem dá mais, quem dá mais? [bis]
E a gente parada
fez orelhas moucas
que com falas dessas
as esperanças são poucas
mas quando o Barnabé cá chegou
quem tinha ouvidos ouviu
quem tinha pernas dançou
Que é que tem o Barnabé que é diferente dos outros?

O charlatão
José Mário Branco : *O charlatão
Música: José Mário Branco
Letra: Sérgio Godinho
In: "Sobreviventes", 1971 ; "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"
Luís Miguel Alçada;Artur Miguel Dias
G C G C F C F G G C G Am F G7 C

Numa Crua de Fmá Cfama G


faz neCgócio um FcharlaCtão
vende FperfuGmes de Clama
Am
anéis Dmd'ouro a G7um tosCtão
Am
enriDmquece o G7charlaCtão
G C G C

No beco mal afamado


as mulheres não têm marido
um está preso, outro é soldado
um está morto e outro f'rido
e outro em França anda perdido
G
É enCtrar, GsenhoCrias
a Fver o que Ccá se Glavra
C
sete Gratos, Ctrês enguias
uFma Ccabra aGbracadabra
C G Am F G C
C G Am F G C

Na ruela de má fama
o charlatão vive à larga
chegam-lhe toda a semana
em camionetas de carga
rezas doces, paga amarga

No beco dos mal-fadados


os catraios passam fome
têm os dentes enterrados
no pão que ninguém mais come
os catraios passam fome

(É entrar,...)

Na travessa dos defuntos


charlatões e charlatonas
discutem dos seus assuntos
repartem-s'em quatro zonas
instalados em poltronas

Pr'á rua saem toupeiras


entra o frio nos buracos
dorme a gente nas soleiras
das casas feitas em cacos
em troca d'alguns patacos
(É entrar,...)

Entre a rua e o país


vai o passo dum anão
vai o rei que ninguém quis
vai o tiro dum canhão
e o trono é do charlatão

(É entrar,...)

É entrar, senhorias
É entrar, senhorias
É entrar, senho...

Com um brilhozinho nos olhos


Sérgio Godinho : Com um brilhozinho nos olhos
Letra e música: Sérgio Godinho
In: 1981,"Canto da Boca"
Victor Almeida

Com um brilhozinho nos olhos


e a saia rodada
escancaraste a porta do bar
trazias o cabelo aos ombros
passeando de cá para lá
como as ondas do mar.
Conheço tão bem esses olhos
e nunca me enganam,
o que é que aconteceu, diz lá
é que hoje fiz um amigo
e coisa mais preciosa
no mundo não há.

Com um brilhozinho nos olhos


metemos o carro
muito à frente, muito à frente dos bois
ou seja, fizemos promessas
trocamos retratos
trocamos projectos os dois
trocamos de roupa, trocamos de corpo,
trocamos de beijos, tão bom, é tão bom
e com um brilhozinho nos olhos
tocamos guitarra
p'lo menos a julgar pelo som

E que é que foi que ele disse?


E que é que foi que ele disse?
Hoje soube-me a pouco. [x4]
passa aí mais um bocadinho
que estou quase a ficar louco
Hoje soube-me a tanto [x4]
portanto,
Hoje soube-me a pouco

Com um brilhozinho nos olhos


corremos os estores
pusemos a rádio no "on"
acendemos a já costumeira
velinha de igreja
pusemos no "off" o telefone
e olha, não dá p'ra contar
mas sei que tu sabes
daquilo que sabes que eu sei
e com um brilhozinho nos olhos
ficamos parados
depois do que não te contei

Com um brilhozinho nos olhos


dissemos, sei lá
o que nos passou pela tola [o que nos passou pelo goto]
do estilo és o "number one"
dou-te vinte valores
és um treze no totobola [és o seis do meu totoloto]
e às duas por três
bebemos um copo
fizemos o quatro e pintámos o sete
e com um brilhozinho nos olhos
ficamos imóveis
a dar uma de "tête a tête"

E que é que foi que ele disse?


...

E com um brilhozinho nos olhos


tentamos saber
para lá do que muito se amou
quem éramos nós
quem queríamos ser
e quais as esperanças
que a vida roubou
e olhei-o de longe
e mirei-o de perto
que quem não vê caras
não vê corações
com um brilhozinho nos olhos
guardei um amigo
que é coisa que vale milhões.

E que é que foi que ele disse?


...

Coça barriga
Fausto : Coça barriga
Letra e música: Fausto
In: "O Despertar dos Alquimistas", 1985
Victor Almeida

Eu venho das horas do diabo


venho mais negro do que a vida
quem me deitou um mau olhado
com a boca posta de lado
com sete pragas rangidas
não foi bruxo
nem feiticeira
namoradeira
nem foi Deus
nem foi Belzebu
lá estás tu
foi esta cidade
esse muro
aquele estranho futuro
a tropeçar na avenida
eu já me lancei na bebida
trago o corpo esquinado
a insinuar um bailado
vou-me rir muito
vou gozar mais
vou cantar o sol-e-dó
perder-me em doses fatais
tu vais ver só
o pé de vento que se vai levantar
comigo a rodopiar

Coça, coça a barriga


pantominas
Coça, coça a barriga
Patavinas
eu sou o "Coça Barriga"
coça, coça a barriga
vitaminas
coça, coça a barriga
nicotinas
Eu sou o "Coça Barriga"

os meus olhos são vaga-lumes


inquietos num claro vazio
vacilam em noites suicidas
insinuam despedidas
à deriva meu navio
amanhã não sei o que virá
o que será
dá saudades minhas lá no bairro
Cara-Linda
vou partir como um condenado
amargo e desfuturado
achincalhando no fundo
e ao chegar à beira mundo
abrir então os meus braços
p'ra me lançar no espaço

vou-me rir muito


vou gozar mais
vou cantar o sol-e-dó
perder-me em doses fatais
tu vais ver só
o pé de vento que se vai levantar
comigo a rodopiar

Coça, coça a barriga


pantominas
Coça, coça a barriga
Patavinas
eu sou o "Coça Barriga"
coça, coça a barriga
vitaminas
coça, coça a barriga
nicotinas
Eu sou o "Coça Barriga"

bate forte meu coração


salta minha fera encurralada
já ninguém ouve o teu pregão
tua mais linda canção
futurando as madrugadas
vou fugir contigo p'ra Manágua
Olhos-d'Água
ainda um dia destes sou feliz
por um triz
darei largas à minha loucura
e já ninguém me segura
quando eu voltar sonhador
eu hei-de ser belo e sedutor
tu vais por uso e costume
enlouquecer de ciúmes
vou-me rir muito
vou gozar mais
vou cantar o sol-e-dó
perder-me em doses fatais
tu vais ver só
o pé de vento que se vai levantar
comigo a rodopiar

Coça, coça a barriga


pantominas
Coça, coça a barriga
Patavinas
eu sou o "Coça Barriga"
coça, coça a barriga
vitaminas
coça, coça a barriga
nicotinas
Eu sou o "Coça Barriga"

Ao longo de um claro rio de água doce


Fausto : Ao longo de um claro rio de água doce
Letra e música: Fausto
In: "Crónicas da terra ardente"
Luís Quinta

E parecia aquele Tejo


este rio doirado
parecia até que tu vinhas
comigo a meu lado
ou seria das flores
e das matas cheirosas
das madressilvas dos frutos
das ervas babosas

E pareciam campinas
vales tão estendidos
pareciam mesmo os teus braços
que me abraçam cingidos
ou seria das silvas
do gengibre do benjoim
do cheiro daquela chuva
dos cacimbos enfim
porque haveria de ter
saudades tuas
ao longo de um claro rio
de água doce

E parecia verão
no imenso arvoredo
parecia até que dizias
qualquer coisa em segredo
ou seria dos dias
muito quedos
sem fim
das noites
muito melhor
assombradas
assim
porque haveria de ter
saudades tuas
ao longo de um claro rio
de água doce

Nota: História Trágico-Marítima

"E tomou-se a boca do rio de S.Lourenço, achando por novas que numa povoação acima
estavam alguns portugueses no resgate do marfim. E foi-se por ele, muito quietamente, entre
margens povoadas de altas e espessas árvores que levam entretecidas os braços em formosa
folhagem. E as matas de diversas cores cheiravam a tigres, onças, leões elefantes e gatos de
algália. As flores em cachos amarelos fazem um suave rugido que aos três sentidos enche e
farta. Cheirava a oregãos, fetos, agriões, poejos, malvas, alecrim... alecrim..."

Manuel cuco
popular : *Manuel cuco
Letra e música: popular
Fernando Faria
(Alternativamente Em/B7, Am/E7)

O meu pai é Manuel Cuco, [2] Gm


Minha mãe, mãe, mãe, minha mãe, mãe, mãe, D7 Gm
Minha mãe, Cuca Maria. [Bis] D7 Gm
Meus irmãos também são cucos,[2]
[Lá em casa tudo é cuco,[2]]
Tudo é, é, é, tudo é, é, é,
Tudo é uma cucaria.

O meu pai é Manuel Nabo,


O meu pai é Manuel Nabo,
Minha mãe, mãe, mãe, minha mãe, mãe, mãe,
Minha mãe, Ana Nabiça.
O meu tio é Zé do Grelo,[2]
Minha avó-ó-ó, minha avó-ó-ó,
Só gostava de hortaliça

O meu pai é farmacêutico,


O meu pai é farmacêutico,
Passa a vi-vi-vi, passa a vi-vi-vi,
Passa a vida a fazer pírulas.
Quando me zango com ele,
Quando me zango com ele,
Vou à ga-ga-ga, vou à ga-ga-ga,
Vou à gaveta e tiro-las.

O Zé beijou a Maria,
O Zé beijou a Maria,
Mas a mãe, mãe, mãe, mas a mãe, mãe, mãe,
Mas a mãe viu-os beijar.
Foi contar logo ao marido,
Foi contar logo ao marido,
E o pai, pai, pai, e o pai, pai, pai,
Obrigou-os a casar.

Nota: alternativamente

em vez de ... Meus irmãos também são cucos


cantar: Lá em casa tudo é cuco

em vez do 2. verso cantar:


O meu pai é Manuel Nabo,
Minha mãe, mãe, mãe, minha mãe, mãe, mãe,
Minha mãe, Maria Nabiça.
Lá em casa tudo é nabo
Tudo é, é, é, tudo é, é, é,
Tudo é uma hortaliça

moleirinha
popular : Moleirinha
Letra e música: popular
A. Guimarães

Oh que lindos olhor tem


ai, a filha da moleirinha [bis]
tão mal empregada ela
andar ao pó da farinha [bis]

Trigueirinha me chamaste
ai, eu de sangue não o sou [bis]
isso de andar à farinha
foi o sol que me crestou [bis]

Trigueirinha me chamaste
eu por isso não me zanguei [bis]
trigueirinha é a pimenta
e vai à mesa do rei [bis]

Verde Gaio
popular : = Verde Gaio
Letra e música: popular
Midi
A. Guimarães
Hei-de cantar hei-de rir [bis]
hei-de ser muito alegre [bis]
hei-de mandar a tristeza [bis]
para o demo que a leve [bis]

Verde gaio verde gaio verde guito [bis]


agora é que vai a meio
o rapaz do casaquito
agora é que vai a meio
o rapaz do casaquito

O meu amor quer que eu tenha [bis]


juizo capacidade [bis]
tenha ele que é mais velho [bis]
eu sou de menor idade [bis]

verde gaio ...

Sei um saco de cantigas [bis]


e mais uma saquetinha [bis]
quando as quero cantar [bis]
desato-lhe a baracinha [bis]

Ribeira vai cheia


popular : *Ribeira vai cheia
Letra e música: popular
Fernando Faria
(Alternativamente C/G, D/A)

Ribeira vai cheia A


E o barco não anda, E
Tenho o meu amor
Lá na outra banda!A

Lá na outra banda
E eu cá deste lado,
Ribeira vai cheia
E o barco parado!

Se eu tivesse amores
Que me têm dado,
Tinha a casa cheia
Até ao telhado!
Amores, amores,
Amores, só um;
E o melhor de tudo
É não ter nenhum!

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