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CRIANGAS COM DIFICULDADE DE AFINAGAO Para se reproduzir uma frase melodica é preciso ouvi-la, memorizé-la para, em seguida, canté-la. Se a reproducéo esta sendo feita de forma incorreta, o probleme poderé estar ocorrendo em qualquer umas destas trés fases, por razées fisiolbgicas, psicologicas, por falta de estimulagao ou por ma utilizacao do aparato vocal. PROBLEMAS RELACIONADOS A OUVIR Percebemos as mensagens sonoras pela audicao. Néo ouvir poderé estar relacionado a alguma deficiéncia auditiva, a habitos como o de cantar junto com o regente quando este est exemplificando ou ainda a falta de concentragao. Problemas relacionados com a perda auditiva devem ser tratados com 0 otorrinolaringologista. Jé problemas relacionados com o habito de cantar junto com o regente sero resolvidos apenas com a mudanga desse habito, que na verdade é muito comum. Quando uma crianga canta junto com o regente, 0 que ela ouve, em primeiro plano, ¢ a si prépria. Como nao sabe a linha melédica que seré cantada pelo regente, a crianga inventa sua propria linha melédica. Assim, ‘quando vai reproduzir, canta aquilo que inventou, que poderd ser completamente diferente da melodia apresentada pelo regente. Paraa falta de concentragao sugerimos os exercicios sequintes: (a)Repetir fragmentos variados Em minha experiéncia, tenho percebido que repetir uma nota isolada é bem mais dificil do que um pequeno fragmento melédico. Dessa forma, quando trabalho com criangas que ainda nao conseguem Teproduzir uma linha melédica, prefiro trabalar com fragmentos variados. Uma vez que 0 fragmento se modifica a cada intervengao do regente, a crianga precisara estar sempre atenta, 0 que facilitaré a reproducéo. € preciso comecar por fragmentos simples, que despertemo interesse da crianga. Quando inventamos fragmentos melédicos que utilizam como texto o nome do cantor, seu time de preferéncia ou, ainda, sua comida predileta, temos resultados extremamente positivos. A crianga, a0 ouvir uma palavra que desperte seu interesse, imediatamente se concentra, facilitando a repetigdo com melhor precisao. Ma-ri-a na Fla ~ men - g0 Cho co-la~ te (b) Repetir fragmentos ritmicos variados Aorimorendo 19 O regente propde um fragmento ritmico batendo palmas ou percutindo em diferentes partes do corpo e © coro repete o fragmento, Em seguida propée outro fragmento que devera ser repetido. E interessante que os fragmentos sejam variados para que o coro precise estar sempre atento ao novo estimulo. (c)Repetir gestos O regente se posiciona a frente do coro e move seus bracos em diferentes posigées 0 coro devera reproduzir esses gestos. (d) Exercicios do ima em dupla, em trio ou em conjunto, com todo grupo Neste exercicio, quando praticado em dupla, um dos cantores utilizaré sua mao como um ima que, a0 se movimentar provocara o movimento do corpo do outro cantor, que devera acompanhar os movimentos sugeridos pela mao do colega. E importante utilizar os diferentes planos para a movimentacao. Quando em trio, um dos cantores utilizaré uma das maos para movimentar um cantor ea outra mao para movimentar o outro cantor. Seré interessante que as maos do cantor, que trabalha na posigao de ima, se movimentem com independéncia Quando em conjunto com todo o grupo, o regente utilizara suas maos como imas que guiardo a movimentacao de todo o coro. (e) Marionete (exercicio feito em dupla) Um dos cantores trabalharé como um boneco de marionete, repleto de fios imagindrios eo outro cantor 0 fara se movimentar puxando esses fios imaginarios, que poderao estar na cabeca, ombro, braco, mao, dedos, quadris, pernas ou pé. Essa movimentacao devera ser feita em total siléncio. PROBLEMAS RELACIONADOS A MEMORIZAGAO Normalmente séo cantores que conseguem afinar, mas demoram mais que os outros a conseguir reproduzir 0 som porque tém dificuldade de memorizacao. Sugiro que se inicie o trabalho com trechos bem pequenos e aos poucos se va ampliando o tamanho dos trechos. PROBLEMAS RELACIONADOS A EMISSAO VOCAL (a)Problemas ligados & sade Problemas nas vias respiratérias como sinusites, faringites, laringites, rinites alérgicas, alergias com comprometimento do aparelho respiratério, insuficiéncia respiratéria, inflamagao constante das amidalas, so doencas que comprometem aemissao vocal, dificultandoo canto, e que poderaoacarretar disfonias. Caberd ao médico decidir em cada caso se hé necessidade ou nao de algum tratamento especifico, a fim de que a diminuicdo do rendimento vocal provocada por uma destas patologias no contribua para 0 aparecimento de problemas nas cordas vocais do cantor no futuro. (b) Problemas relacionados a satide do aparelho fonador Disfonia a dificuldade na emisséo da voz com suas caracteristicas naturais. Pode ocorrer por alteragao Aprimarana orgdnica ou por ma utiliza¢ao do aparelho vocal. Normalmente, quando se tem uma alteragao das pregas vocais perde-se em extensao e a emissao vocal fica prejudicada. Alguns sintomas de problemas nas pregas vocais sao: + Sensagao de corpo estranho na garganta +Pigarro constant + Ardor +Voz soprosa + Quebra na voz + Extensao diminuida Quando detectamos este tipo de problema devemos encaminhar o cantor para tratamento junto a um fonoaudidiogo, (c)Problemas de ordem emociona Pessoa muito timida - E comum as criangas muito timidas falarem a letra da musica ao invés de repetir a linha mel6dica. Neste caso precisaremos trabalhar este aspecto emocional. E preciso que a crianca ganhe confianga e se sinta segura para que consiga cantar. Vencida a barreira provocada pela timidez e inseguranca, a crianga reproduziré a linha melédica com precisdo. Pessoa extremamente extrovertida ou agitada - £ comum que criangas extremamente extrovertidas ou muito agitadas ndo prestem atencao na melodia cantada pelo regente e, como consequéncia, cantem uma melodia inventada por elas. Nesse caso precisaremos trabalhar a concentragao. Muitas vezes 0 problema se resume a falta de habito de ouvir. (d) Falta de estimulagao do aparato voca Atualmente € muito comum chegar ao coro uma crianga que possui todas as condigées fisicas para cantar, mas que ainda ndo sabe como fazé-lo. S40 criangas que no seu ambiente familiar ou escolar nao foram estimuladas a cantar. Na maioria das vezes, essa crianga fala ao invés de cantar ou afina apenas dentro de um intervalo bastante pequeno, geralmente na regiao da fala, utilizando a voz de peito. Se 0 que esté levando a crianga a este comportamento vem de uma total falta de hébito de cantar, certamente conseguiremos resultados quase que imediatos trabalhando a partir de pequenos fragmentos, da regido que a crianca jé afina e fazendo exercicios com glissandos, para ampliar a extensdo vocal. Concordo com a maestrina Lucy Schimiti (2003) que afirma que movimentos associados aos vocalises auxiliam na compreensao de conceitos e podem facilitar a fonacao. A utilizagao de recursos visuais como gestos, movimento de bragos e maos, para fixacao de contetidos trabalhados, sdo muito titeis, pois esse tipo de estimulo promove uma compreensdo mais concreta, contribuindo para um resultado imediato. Quando cantamos uma melodia para uma crianga e essa a reproduz em regido diferente daquela que cantamos, devemos imediatamente caminhar para a regio sugerida pela propria crianca e Aprimarando a verificar se nessa regiao ela é capaz de reproduzir os sons com os intervalos corretos. Devemos sempre partir da regiao em que a crianga jé afina para, a partir dai, ampliarmos sua extensao vocal. E comum que criangas com vozes graves, que nao possuem trabalho vocal especifico, apresentem uma pequena extensdo vocal. Esse fato nao representa, de modo nenhum, pouca musicalidade. Sua extensdo se ampliara & medida que trabalharmos sua voz. Trago aqui alguns exercicios que permitem a crianga utilizar os registros grave, médio e agudo sem ter que sair ou chegar em uma nota definida anteriormente. A crianca ira explorar sua voz, experimentando as diferentes sonoridades sem a preocupacao de cantar uma linha melédica previamente definida. Dessa forma sera encorajada a brincar com a voz, buscando alcangar notas cada vez mais agudas e notas cada vez mais graves. Glissando, sair do som mais agudo que a crianga consiga emitir para o som mais grave e voltando para © agudo, utilizando as silabas tra// tre / tri/ tro/ tru. 1 Glissando, sair do agudo para o grave, com as silabas: hum; hum u; hum uo; hum uo a. 0 cantor devera emitiro som agudo coma silaba "hum" e glissar para a regido grave. Na segunda vez que fizer o exercicio, ao chegar no grave, o cantor deverd transformar o “hum” na vogal “u’. Na terceira vez, transformar nas vogais “u’ e, em sequéncia, na vogal’’o” e, na quarta vez, transformar na vogal ‘u” seguida da vogal’o” e finalizar com a vogal"a" 7 \ hum \ hum-u \ hum-u-o hum-u-o-a Aprimarana Glissar do agudo para o grave e do grave para o agudo, com os fonemas PR ou BR. Procure caminhar do som mais agudo que a crianga aleance para o mais grave e vice-versa. 7 Glissar, continuamente, do grave para o agudo e do agudo para o grave, com os fonemas PR ou BR 7 Contar em diferentes regides. Alternar a regido grave e a regido aguda. Um dois. és quatro cin- co seis, =e te i - tno -~ve dex Outra variante que pode ser adotada ¢ usar o préprio texto da musica que estamos trabalhando, alternando as regides aguda e grave da voz. Utilizar as diferentes regides da voz com interjeigdes como: Bom dia! Maravilha! Que horror! == OF Pe Bom di Ma-ra-vi — Ilha! Que_hor- ror! (e) Uso inadequado de registro vocal ‘A extensdo vocal, assim como o timbre de uma voz, é funcdo das caracteristicas fisicas das pregas vocais e das cavidades de ressonancia. Quando uma crianga adota para si um modelo vocal incompativel com suas pregas vocais, estas sofrem um excesso de tensdo, prejudicando sua sade vocal. As vezes, por questées culturais, os meninos ndo querem cantar como soprano, por considerarem ser uma voz de mulher e, por isso, forgam uma voz mais grave do que realmente possuem. 0 preconceito podera ser vencido e sua voz reeducade se forem conscientizados de como se dé o processo fonatério; Aprimarendo 23 € compreenderem que meninos e meninas possuem extensdo e timbre vocal semelhantes, que existem sopranos e contraltos tanto em um como em outro sexo e que somente na puberdade, com © crescimento das pregas vocais de forma diferenciada entre mogas e rapazes, a extensao vocal ¢ 0 timbre se modificargo. Existe ainda a possibilidade do regente se enganar na classificagao vocal de uma crianga. Além disso, quando a crianga entra em muda vocal, sua voz sofre mudangas. Devemos estar sempre atentos acada crianga de nosso grupo e, se for preciso, trocé-la de naipe.

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