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[a Cap. 1 Sistema de Ideias Gerais do Direto [EM 3. OUTROS SISTEMAS DE IDEIAS GERAIS DO DIREITO 3.1. Filosofia do Direito. A Filosofia do Direito ¢ uma reflexao sobre © Direito e seus postulados, com o objetivo de formular 0 conceito do Jus e de analisar as instituigdes juridicas no plano do dever ser, levando-se em consideragao a condigao humana, a realidade objetiva e os valores justiga ¢ seguranga. Pela profundidade de suas investigages e natural complexidade, os estudos filoséficos do Direito requerem um conhecimento anterior tanto de filosofia quanto de Direito. Uma certa maturidade no saber juridico é in- dispensavel a quem pretende estudar a scientia altior do Direito Este aspecto ja evidencia a impossibilidade de essa disciplina figurar nos curriculos de Direito como matéria propedéutica. A importancia de seu estudo € patente, mas a sua presenga nos cursos juridicos ha de se fazer em um periodo mais avangado, quando os estudantes ja se familiarizaram com os principios gerais de Direito (v. § 6). 3.2. Teoria Geral do eito. Como forma de reagiio ao carater abstrato ¢ metafisico da Filosofia Juridica, surgiu a Teoria Geral do Direito que, de indole positivista e adotando subsidios da Logica, é disciplina formal que apresenta con- ceitos titeis 4 compreensio de todos os ramos do Direito. Asua atengao nao se acha Voltada para os valores e fatos que integram a norma juridica e por isso a sua tarefa nao é descrever o contetdo de leis ou formular a sua critica. Seu objeto consiste na analise e conceituacao dos elementos estruturais e permanentes do Direito, como suposto e disposicao da norma juridica, coagdo, relacdo juridica, fato juridico, fontes formais. Na expressao de Haesaert, a Teoria Geral do Direito “concerne ao estudo das condigdes intrinsecas do fendmeno juridico”." Esta ordem de estudo é valiosa ao aprendizado juridico, contudo carece de importantes unidades que versam sobre os fundamentos, valores e contetido fatico do Direito. Dai por que essa disciplina, que constitui uma grande segio de estudo da Introdugo, é insuficiente para revelar aos iniciantes da Jurisprudentia as varias dimensées do fendmeno juridico. A Teoria Geral do Direito surgiu no século XIX e alcangou o seu maior de- senvolvimento na Alemanha, onde foi denominada Allgemeine Rechtslehre. Seus principais representantes foram Adolf Merkel, Berbohm, Bierling, Binding ¢ Felix Somlé. 3.3. Sociologia do Direito. O estudo das relagdes entre a sociedade e 0 Direi- to, desenvolvido em ampla extens&o pela Sociologia do Direito, é um dos temas por uma porta de servigo, O observador no se apercebera do conjunto e nem teré uma visio ida harmonia e estética da obra. (Apud Benjamim de Oliveira Filho, op. cit., pp. 96 e 98.) 11 Théorie Générale du Droit, 18 ed., Etablissements Emile Bruylant, Bruxelles, 1948, p. 19. Cap. 1 Sistema de Ideias Gerais do Direito REM deve ser entendida como disciplina auténoma, pois desempenha fungao exclusiva, que nao se confunde com a de qualquer outra. Sob este enfoque Luiz Luisi reco- nhece a autonomia, que “deriva de seu fim especifico: reduzir 0 Direito a unidade sistematica”.’ Se tomarmos, porém, a palavra disciplina no sentido de ciéncia ju- ridica (Vv. § 5), devemos afirmar que a Introdugao ao Estudo do Direito nao possui autonomia; ela nao cria o saber, apenas recolhe das disciplinas juridicas (Filosofia do Direito, Ciéncia do Direito, Sociologia Juridica, Histria do Direito, Direito Com- parado) as informagdes necessérias para compor o quadro de conhecimentos a ser apresentado aos académicos. A cada instante, na fundamentagao dos elementos da vida juridica, recorre aos conceitos filos6ficos, sociolégicos ¢ hist6ricos, sem chegar, porém, a se confundir com a Filosofia do Direito, nem com a Sociologia do Direito, que so disciplinas auténomas. De carter descritivo e pedagégico, nao “consiste na elaboragao cientifica do mundo juridico”, como pretende Werner Goldschmidt,’ pois © contetido que desenvolve nao é de dominio préprio. O que possui de especifico ¢ a sistematizagaio dos conhecimentos gerais. Em semelhante equivoco incorre Bus- tamante y Montoro, que reconhece na disciplina uma “indole normativa”.’ Embora de carter descritivo, a disciplina deve estar infensa ao dogmatismo puro, que tolhe o raciocinio e a reflexdo. O tratamento exageradamente critico aos temas é também inconveniente, de um lado porque torna a matéria de estudo mais complexa e de dificil entendimento para os iniciantes e, de outro lado, porque configura o objeto da Filosofia do Direito. Os temas que envolvem controvérsias ¢ abrem divergéncias na doutrina, longe de constituirem fator negativo, habituam 0 estudante com a plurali- dade de opinides cientificas, que é uma das t6nicas da vida juridica.* 2.2. Objeto da Introdugao ao Estudo do Direito. A disciplina Introdugao ao Estudo do Direito visa a fornecer ao iniciante uma visao global do Direito, que nao pode ser obtida através do estudo isolado dos diferentes ramos da arvore juridica, As indagagdes de cardter geral, comuns As diversas areas, so abord: das e analisadas nesta disciplina. Os conceitos gerais, como 0 de Direito, fato juridico, relagao juridica, lei, justiga, seguranga juridica, por serem aplicaveis ‘a todos os ramos do Direito, fazem parte do objeto de estudo da Introdugao. Os conceitos especificos, como 0 de crime, mar territorial, hipoteca, desapro- priagdo, aviso prévio, fogem a finalidade da disciplina, porque sao particulares 5 Filosofia do Direito, Sérgio Ant6nio Fabris Editor, Porto Alegre, 1993, p. 161. O antigo profes- sor da Faculdade de Direito de Santo Angelo reproduziu o seu trabalho publicado na Revista Juridica, vol. V, 1953, onde apresenta uma lucida visdo do objeto da Introducao ao Estudo do Direito e de suas conexdes com a Filosofia do Direito, Sociologia Juridica e Teoria Geral do Direito. Entre nds aquele estudo foi um dos pioneiros. 6 _ Introduccién al Derecho, 1* ed., Aguilar, Buenos Aires, 1960, p. 32. Introduccién a la Ciéncia del Derecho, 3# ed., Cultural S.A., La Habana, 1945, p. 22. 8 Anda sobre o objeto da disciplina, importante estudo subordinado a visdo de autores bra- sileiros é apresentado por Paulo Condorcet Barbosa Ferreira, em sua obra A Introducdo ao Estudo do Direito no Pensamento de Seus Expositores, Editora Liber Juris Ltda., Rio de Janeiro, 1982. Primeira Parte O ESTUDO DO DIREITO Capitulo 1 SISTEMA DE IDEIAS GERAIS DO DIREITO Sumério: 1. A Necessidade de um Sistema de Ideias Gerais do Direito. 2. A Introducéo ao Estudo do Direito. 3. Outros Sistemas de Ideias Gerais do Direito. 4. A Introducao ao Estudo do Direito e os Curriculos dos Cursos Juridicos no Brasil. 1. A NECESSIDADE DE UM SISTEMA DE IDEIAS GERAIS DO DIREITO O Direito que se descortina aos estudantes, neste primeiro quartel de sécu- Jo, além de exigir renovados métodos de aprendizado, encontra-se revigorado por principios e normas, que tutelam os direitos da personalidade, impdem a ética nas relages, dao prevaléncia ao social e atribuem aos juizes um papel ativo na busca de solugées equanimes. Em sua constante mutagao, a fim de acompanhar a marcha da historia e conectar-se aos avangos da ciéncia, 0 Direito patrio, entretanto, por varios de seus institutos, requer adequagao 4 modernidade, desafiando, além da classe politica e, em primeiro plano, a comunidade de juristas, a quem compete oferecer ao legislador os modelos alternativos de leis. E este, em linhas gerais, 0 quadro que se apresenta aos iniciantes no aprendizado da Ciéncia Juridica. Identificar o Direito, no universo das criagdes humanas, situando-o como or- dem social dotada de coergao e, ao mesmo tempo, formula de garantia da liber- dade, é a grande meta do conjunto de temas que se abrem a compreensiio dos académicos. Antes de iniciarmos a execugdo deste importante projeto, impde-se a abordagem do estatuto metodoldgico da Introdugdo ao Estudo do Direito. O ensino do Direito pressupde a organizagao de uma disciplina de base, intro- dutéria & matéria, a quem cumpre definir 0 objeto de estudo, indicar os limites da 4rea de conhecimento, apresentar as caracteristicas da ciéncia, seus fundamentos, valores e principios cardiais. A medida que a ciéncia evolui e cresce 0 seu campo de pesquisa, torna-se patente a necessidade da elaboragiio de uma disciplina estru- tural, com o propdsito de agrupar os conceitos e elementos comuns ds novas espe- ) 202. Direito Processual... Capitulo 36 ~ RAMOS DO DIREITO PRIVADO. 203. Direito Civil... 204. Direito Comercial ou Empresarial . 204.1. Nogdo do ramo. 204.2. A Palavra “Comeérci 204.3. A Relagdio entre o Direito Comercial e o Civil. 204.4. A Histbria do Comercio... 204.5. Evolugao Historica do Direito Comercial. 205. Direito do Trabalho. 205.1. Denominagée: 205.2. Classificagao. 205.3. Definigao 205.4, Caracteristicas 205.5. Fins do Direito do Trabalho 205.6. A Autonomia do Direito do Trabalho.. 205.7. A Evolugo do Direito do Trabalho no Século XX. Nona Parte ~ FUNDAMENTOS DO DIREITO... Capitulo 37 - A IDEIA DO DIREITO NATURAL... 206. A Insuficiéncia do Direito Positivo 207. Conceito 208, Origem e Via Cognoscitiva. 209. Caracteres.. 210. A Escola do Direito Natural 211, Revoluciondrio ou Conservador? 212. Critica 213. Os Direitos do Homem e o Direito Natural 214. Concepglio Humanista do Direito Capitulo 38 ~O POSITIVISMO JURIDICO 215. 0 Positivismo Filosé6fico.. 215.1, A Lei dos Trés Estados 215.2. Classificaglio das Ciéneias. 216, 0 Positivismo Juridico. 217. Critica... Capitulo 39 ~ O NORMATIVISMO JURIDICO. 218. 0 Significado da Teoria Pura do Diteito... indice Sistematico FRUUY 358 363 363 365 365 366 366 367 367 368 368 369 369 369 370 370 370 373 373 373 375 376 376 377 37 378 380 381 383 383 384 384 384 385 387 387

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