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PEDRO, Albano
Problemas actuais do direito costumeiro angolano
O Ensino do Direito em Angola - Do ensino fundamental ao ensino aplicado: Problemas
e Soluções
In: www.jukulomesso.blogspot.com
CURI, Melissa Volpato
O Direito Consuetudinário Dos Povos Indígenas E O Pluralismo Jurídico
Tese de doutoramento “Antropologia Jurídica: um estudo do direito Kamaiurá”,
Departamento de Antropologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(CURI, 2011).
UNDP
Relatório do Desenvolvimento Humano 2004
Liberdade Cultural num Mundo diversificado
Lisboa, 2004
[1] O direito escrito absorve rapidamente as normas consuetudinárias. A importância
dessas normas tende a diminuir em face da produção legislativa. Nader afirma que o
código de Hamurábi e a lei das XII tábuas foram praticamente compilações dos
costumes. Então cita Cogliolo: "Quem procura a origem de todo aquele Direito
(Romano), acha que ele é atribuído ou à obra dos jurisconsultos, ou ao edito do
pretor, mas na realidade a origem primária foi muitas vezes o costume". No passado,
todos os povos adotaram normas geradas pelo consenso popular. A balança começou a
mudar a partir do séc. XIX. Diante dos benefícios que acompanham o Direito escrito,
foi criada uma convicção de que o Direito Costumeiro é uma espécie em extinção.
[2] O costume é a expressão mais legítima do Direito. O problema é que, devido à
complexidade das sociedades contemporâneas, o seu uso exclusivo é impensável, visto
que, não comporta a segurança jurídica exigida. Pressupõe uma pluralidade de actos
ao longo do tempo (elemento material do costume). O tempo necessário para a
conversão de um costume para norma jurídica não é predeterminado, porém, existe
opinião de que tanto o tempo quanto a repetição de actos são subordinados aos
valores que os costumes realizam. Para se transformar em norma jurídica, necessita,
além de uma certa quantidade de actos praticados no tempo, do elemento psicológico
(elemento psicológico do costume). É a convicção, impressa na consciência social,
de que a norma é necessária e obrigatória.
[3] In: A Coexistência normativa entre o Estado e as Autoridades Tradicionais na
Ordem jurídica plural Angolana. Almedina, 2012. Pag. 466
[4] A palavra “pluralismo” significa qualidade do que não é único ou do que admite
mais de uma coisa ou categoria. Caracteriza-se também como o sistema político que
se baseia na coexistência de grupos ou organismos diferentes e independentes em
matéria de gestão ou de representação. A proposta do pluralismo jurídico, embora
ainda alcançando espaços restritos no meio acadêmico, vem sendo abordada como um
novo caminho para a solução de conflitos e para o reconhecimento de normas
particulares de grupos e sociedades. Seu objetivo central é demonstrar que o Estado
Moderno não é o único agente legitimado a criar legalidade para enquadrar as formas
de relações sociais que vão surgindo, ou seja, que não possui o monopólio da
produção de normas jurídicas.
[5] A concepção pluralista surge com a interface entre a antropologia e o estudo
das leis, criando uma abordagem interdisciplinar denominada de antropologia do
direito ou antropologia jurídica. A antropologia do direito é similar à sociologia
do direito, pois ambas estudam a lei como um fenômeno inscrito em um marco amplo da
sociedade, buscando identificar o aparecimento da lei como um elemento da dinâmica
social da qual faz parte.
[6] Apesar do direito costumeiro passar a ter um cariz jurídico, ele não passa pelo
processo legislativo. Ao contrário, ele vai sendo gerado e forjado ao longo dos
anos e vai sendo aplicado, apesar de assentar num acto normativo.
[7] Os primeiros são de aplicação imediata e os segundos de aplicação progressiva.
Esta distinção importa para analisarmos do ponto de vista do planeamento a fase em
que se pretende a sua efectiva institucionalização.
[8] Esta expressão, de má memória, constitui precisamente ao desiderato da
administração colonial portuguesa que procurou a todo o custo fazer com que as
autoridades tradicionais adoptassem procedimentos uniformes ao Governo colonial,
incluindo neles aspectos julgados relevantes dos usos e costumes. Sem qualquer
sucesso. Vide a propósito. “A Coexistência normativa entre o Estado e as
Autoridades Tradicionais na Ordem jurídica plural Angolana”. Noutro momento de
reflexão, designei a esta constatação como o funcionamento das autoridades
tradicionais como “órgãos auxiliares” do Titular do Poder Executivo, precisamente
para chamar a atenção para o facto de as autoridades tradicionais pertencerem ao
poder local autónomo e visam a gestão do costume. O que não tem ocorrido a medida
em que estas autoridades se encantam com os hábitos de consumo e globalizado das
grandes cidades do país.
[9] Um exemplo destes autores é o contista José Samwila Kakweji.
[10] Todavia, e como refere claramente Carlos Feijó, durante uma palestra sobre a
teorização do direito costumeiro e a sua introdução no sistema de ensino, ela deve
contar com o concurso de outras áreas do saber, principalmente da antropologia e da
sociologia.
[11] Em várias partes do mundo, sobretudo na América Latina e não tarda em África,
a aplicação do direito consuetudinário irá gerar um problema de dimensões
nacionais: o direito a terra, o qual de acordo com a Constituição da República
pertence ao Estado e de acordo com o direito local pertence às gerações de
habitantes que nele fazem moradia, em muitos casos, há várias gerações. Se tomarmos
como exemplo o caso do Brasil e da Bolívia, ou mesmo do Zimbabwe e da África do
Sul, todos estes países viveram e vivem períodos conturbados devido a forma como os
Estados gerem a propriedade da terra. As comunidades locais e as autoridades
tradicionais, em muitos casos, nao reconhecem o domínio do Estado sobre as terras
que eles são guardiães há vários anos, tendo enfrentado nestes locais, a chuva, a
fome, as guerras, as epidemias entre outros males. É o desenvolvimento das cidades
que irá provocar este “choque de civilizações” e de direitos, daí a importância da
previsão e adequada gestão do Estado angolano para estes fenómenos.
[12] O Ministério da Administração do Território (MAT) conduziu com sucesso, em
2003, o 1.º encontro sobre a autoridade tradicional em Angola, fase em que foi
apresentado o primeiro draft da Lei sobre as Autoridades Tradicionais. Houve uma
abordagem sobre o Livro Branco sobre as autoridades tradicionais em Angola sob a
égide do MAT e Assembleia Nacional, que recomendou a preparação do Livro Branco. O
que não ocorreu até a data.
[13] Esta pesquisa teve a direcção dos Prof. Doutor José Octávio Serra Van-Dúnem
(Professor Associado da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto) e do
Prof. Doutro Boaventura de Sousa Santos (Prof. Catedrático da Faculdade de Economia
da Universidade de Coimbra).
[14] Na realidade ambos projectos são apresentados em 2007, não havendo concretas
informações sobre os resultados das investigações. Parece-nos que a iniciativa de
Luanda e Coimbra vingou a julgar pelo trabalho de doutoramento do Prof. Doutor
Carlos Feijó. Já o projecto de Windhoek parece ter ficado por terra apesar do
relevante estudo de base apresentado pelo Prof. Manfred Hinz.
[15] Este projecto procurava replicar a expediência semelhante desenvolvida na
Namíbia e que levou ao mapeamento das características do direito consuetudinário e
à consequente institucionalização das autoridades tradicionais.
[16] Este modelo, como nota o proponente, foi utilizado pelo Governo sul africano,
com sucesso, e antecedeu a elaboração e aprovação de uma lei sobre as autoridades
tradicionais.

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