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evista Resgace— Em seus artigos € conferéncias, 0 sr. tem dado énfia- se A questo do conhecimento como base para o desenvolvimento do pais. Por qué? Antes essa con- cepgiio nfo existiaentrenés? Carlos Henrique de Brito Cruz = De um certo modo sempre se soube disso, mas no com a conviccio de agora, Antes se aeredieava mui to que o essencial para se che garao desenvolvimento era ter capital ¢ trabalho. $ centemente a tecnologia ¢ a cultura vem sen- mais re. ciéneia, a do reeonhecidos como ele- mentos fundamentais para 0 desenvolvimento econdmice ¢ social, Especinlmente depois do advento da Internet ¢ da ‘Teta Mundial — 2 World Wide Dee ee ee eee ee Cena eet) Sea ea et ea) Cee EL importante papel que eek esa) Pee cece tila Deen Cgc Pic a) formar pessoas reed Dee nen ics CMe tal atte) fee eae reek Cle lg Ce aa ee at coy CD lt eee. Entrevista Web —a necessidade de conhe- cimento para fomentar 0 de senvolvimento foi se tomando mais ¢ mais dbvia, destacada nos meios de comunieacio © entendida pelo piblico. Por outro lado se pode dizer, em termos mais gerais, que a im- portincia de conhecimento para o desenvolvimento nao € uma novidade na historia da humanidade, No final do sécu lo X Portugal, uma peque na nagio com menos de 2 mi- Ihdes de habitantes, tornow-se a mais poderosa do mundo aplicande estudo sistematico, pesquisa e@ conhecimente acu- mulado ao problema da nave a vo de chepar ds Indias ¢ domi- nar o comércio das especiari as, Os portugueses se aplica- fm nisso ¢ consesuiram. QO. descobrimento do Brasil é uma com o objeti- RESGATE (12), 2008. Entrevista -p.103-110 103 Entrevista busca de um determinade tipo de conhecimento. Resgate — Mesmo as- sim, pensava-se que 0 conhe- cimento era um fator secun- dario do desenvolvimento. Brito— Exato, © concei- todo conhecimento como prin- cipal motor do desenvolvimen- to comegou com a sistematiza. do do método cientifico € da atividade de pesquisa a partir doséculo XVIIL Fo isso, alias, que tornou possivel a existén- Gia de uma revolugio indus alna Buropa. A nascenteindis- tria quimica alema perecheu por volta de 1870 que para o desenvolvimentodo seus nego cios € a manutengio de sua competitividhale cr necessiicio que a empresa tiv pacidade de inves se uma car prdiprin © Bstado alemio percebew também que precisava garantir odireito de propriedade inte- lectual Aqueles capazes de terem, ideias, © unificou ¢ vitaminow sua Lei de Patentes em 1877.0 respeito.a propriedade intelec- tual ea percepedio da empresa da importincia de conheci- mento levou an nascimento dos primeiros grandes laboratories industrinis: BASE, Hochst Bayer foram as empresas que 104 descobriram 0 poder das idéi as de da invengio primeiro, ¢ transformaram esta atividade — a de desenvolver conheci- mento — numa atividade es- sencial, permanente € profis- C6 Oconceito Ce letee neon alco) Cr telco) UL Crea cette Pesci el) Ort cee eke a Ter Eilts Peters Pace Flo) PA cote tornou possivel Meets} Pie Metter Dae Dl co ae sional dentro da empresa, O assunto principal da pesquisa ‘nestas empresas era a de cores”, corantes para a in til Do outeo lado 0 Adantico, e na ‘eri duistria do Oc mesma época ~segunda meta~ de do século XIX —, Thomas RESGATE (12), 2008. Entrevi Edison ¢ Alexander Graham Bell comesavam a eriar, com suasinvencdes, o que viriaa ser a moderna industria eletrOni ca. Pelo final do séealo XIX, com muitas das importantes patentes de Edison expirande, a General Blectric, criada por Edison, percebeu que precisa xa profissionalizar ¢ intensifi- car scu esforgo de criagio de as ¢ conhecimento: cm 1900 inaugurou © General ectric Research Laboratory em Schenectady, NY. Hoje a equipede centistas eengenhel- ros do Centro de Pesquisas € Desenvolvimento da GE tem 1.130 pessoas, O:“filhow” de Bell demorou um pouco mais a florescer—no dia de ano nove de 1925 foram inaugusados em Manhattan os Laberatirios Bell, outra usi yencoes que mudou aosse ali foi iaventado @ de idk jas € in mundc transistor em 1948, Resgate—Quais foram as conseqiiéncias disso? Brito — ‘lornaram-sc mais rieas os paises que soube- ram eriar um ambienre propi- cio A criagio ¢ 4 disseminagio do conhecimento e a sua apli- cago na produgio. Atéalio.co- nhecimento era considerado como uma variivel externa 4 = pAGS 10 Entrevista tcoria cconémica, embora houvesse virios autores que sux pusessem © feito do conheci mento sobre a produtividade do tbalho. A werdade é que © conhecimento s6 pode ser gerado ¢ se tornar acessivel quando ha pessoas educadas para isso. A inelusio do conhe- cimento como varidvel de des- taque para 0 desenvolvimento econdmico trouxe consige para a teoria econémica a edu- cago e a cultura como parimetros explicitamente determinantes do desenvolvi- mento de uma nacio. Resgate ~ No Brasil, esse conceite ja.sefirmou? Brito — Hist se firmando. Vou dar um exemplo. Nes tl- timos cince anos, pela prime’ ra vex na historia brasileira, o principal item da pauta de ex- nacional —represen- porta tande hoje mais de dois bilhdcs de délares porano—é um pro- duto com alto valor agregado: avides a jato. Produzidos pela Embmaer, cles sfo 0 resultado de concepgio ¢ projeto de en- genheiros brasileiros forma: dos pelo ITA. 1 um caso exem- plar de ciéneia e tecnologia cri ando desenvolvimento. E uma ilustragio do fundamental pa pet do Estado em viabilizar estas atividades. A Embrace comegou a nascer em 1947, quando o ITA foi fundado, numa estratégia singularmen- te correta para trazer 0 desen- Nos tiltimos cinco Ee Te PU cel beta Peete ener) Ped Ctslegcely rao Drolet eae DuelicteloLele] bared Teel ind peau ee Peles hier coe: ic) Belgie Poem AW, volvimente de uma indastria acronautica no Brasil. Ano aps ano, geraghes de engenhei- ros foram formadas pela esco- Ia até se atingir a massa critica ia para o surgimento, em 1967, de uma empresa ex pax de fabricar avides uma ilustracio notivel da for- neces sta é ma mais virtuosa de inters universidade-emprese: a insti- tuigio de ensino superior que, trabalhando dentro de referenciais académicos inter nacionais, educa as pessoas que vio criar tecnologia trabalhan do. pam a emp Resgare — Ha outros exemplos? Brito — Ha uma lista de bons exemplos, cada qual me- dido em unidades de bilhdes de délares par ano, Mostram que © salto da qualidade manufate- teira ¢ produtiva indica um co- mioga para se desenvalyer a ca pacidade inovativa. O agro: negécio brasileiro no € um su- cesso por acaso. A produtivida- de © a competividade de nessa sobretude da soja, que € segundo maior item de exportacio nacional ~ devem- se ao forte investimento em

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