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{ capitulo 2 } A psicologia e a humaniza¢ao da aten¢ao a satide: interfaces e disting¢des de duas esferas de atuacao Wilze Laura Bruscato ‘Maria das Grasas Saturnino de Lima Mariana Bonsaver Rita de Céssia Boni Zanollo Viviane Jostia dos Santos Iziquiel titulo deste capitulo jé indica um tema lamentavelmente sujeito a equivocos de toda or- dem:a confusio que os profissionais da satide — incluindo-se ai, desafortunadamente, 0s pr6j psicélogos — fazem entre Psicologia e Humanizagio e sobre as finalidades de insergdo do trabalho profissional do psicdlogo na satide. ‘© desconhecimento, por parte de alguns profissionais da drea, da produgio cientifica da Psi- cologia da Saiide baseada na pritica cotidiana, que se revela em uma contribuiglo tebricaefetiva, com riqueza e diversidade de aplicagdes, tomna-os incapazes de reconhecer diferengas ¢ distin- goes entre a atuagio do profissional da Psicologia eas ages de humanizagio,tragando entre estes dominios, limites muito imprecisos. Assim & que 0 psicélogo é solicitado, tunidades obstétricas ¢ pediitricas a realizar, sem embasamento, ages supostamente humaniza- doras,atos generosos e de boa vontade, que qualquer pessoa sem atribuiges técnicas, mas com espirito ffaterno e soliditio,realizaria, ou mesmo a se envolver em programas ncipalmente nos servigos de terapia intensiva e nas intengio caridosa, sob os quais se abriga um amplo universo de atividades ndo convencionas do psicdlogo e que seriam mais apropriadamente desenvolvidas por voluntirios. Isto desqualfica e desrespeta a pritica profsional do psicélogo — cujaaividade é fundamen tada em métodos cientificamente validados de psicodiagnéstico e tratamento ¢ no cumprimento Digitalizado com CamScanner { A psicologia na satide: da atengio priméria a alta complexidade } de fangées que respondem a demandas dirigidas a uma Srea técnica especifica ~ na medida em que 0 coloca como um prestador de servigos que torna o ambiente mais afivel, através de ativi- dades lidicas, de lazer, de entretenimento ou arte, numa fungio cosmética da atengio. -Muitas vezes, os préprios psicdlogos, na ignorincia da amplitude e da profundidade do cam- po do saber da Psicologia da Satide sio induzidos a um estreitamento da visio das possibilidades de atuagio € afirmam equivocadamente que a humaniza¢io 6 0 que abre a possibilidade do psic6logo atuar na érea. Ou, a pretexto de “expandir" o trabalho do psic6logo na satide, afirmam “sentimentos” dos pacientes e deveria que a Psicologia da Satide consiste apenas em lidar com o: trabalhar em outras instincias ligadas ao processo de humanizagio, numa “posi¢io humanizado- 12" (Pinheiro, 2005; Mota etal, 2006; Carvalho et a, 2009). A proposta deste capitulo é desenvolver uma reflexio em torno desta questo que se configu- ra como um enorme desafio para a consolidagio do trabalho profissional do psicélogo no campo da satide. £, na verdade, uma tentativa de abordar Psicologia e Humanizagao de uma perspectiva diversa daquela que as associa e que busca adaptar a pritica do psicélogo a uma a¢io institucional de caréter humanizador. A construgao do conceito de humaniza¢ao na saude Pela definigio do dicionérioshumanizar é tornar humano; dar condi¢io ou forma humana; tornar mais adaptado aos seres humanos; tornar compreensivo, bondoso, socisvel, benévolo, afi- vel, trativel; fazer adquirir habitos sociais polidos;civilizar (Ferreira, 2009)."Todas as palavras tém nuitos sentidos. Elas nio existem desde sempre nem para sempre. Nas diferentes épocas, ¢ para as diferentes culturas,as acepges das palavras humano, humanizar e humanidade tém muito mais de diferente do que de comum, Nunca tiveram uma interpretagio Gnica, universal, imutivel, variando de significado para cada grupo, nacionalidade, raca, idioma, que os utilizavam no que consideravam ser seu sentido natural e préprio da lingua. Nas comunidades primitivas, a diferenga seméntica entre animais, deuses da terra (Hiémus) itivo que nasceu 0 e homens era relativamente pouco clara. Foi a partir do Cristianismo pri humanismo, cuja concep¢io das virtudes que eram paradigma de humanidade, por imagem € semelhanga com a divindade, teve uma influéncia marcante na cultura ocidental. Apesar de sua fandamentagio deista, teolégica e metafisica, com suas limitagdes moralizantes ¢ piedosas, esse Cristianismo primordial conferiu uma transformagio definitiva a0 conceito de humanidade ¢ 4 pritica da humanizagao (Baremblitt, 2011). Digitalizado com CamScanner { A psicologia ea humanizagio da atengio a saéde } Na Moderni - Na Modernidadesas consequéncias da deflagragio da Segunda Grande Guerra,tm dos acon tecimeentos politicos mais significativos do século passado, imprimiram a neces dos valores humanos i . daaeseaee wumanos,Aliante dos horrores dos campos de concentragio e exterminio, O penss- ‘mento vigente impos uma valorizagio da indvidualiade que encontra em si mesma sua fanda- cio, sem a necessidade de um fandamento transcendente como Deus. h A categoria de Humano tendeu a universalizar-se, e todos os homens foram considerados yumanos ¢ integrantes de uma espécie comum, a Humanidade. & a dignificagio do humano, seu mundo e seu pensamento. A humanizagio, dessa forma, aparece como forma de.colocar 0.» shomem no centro. do.universoyA Declaragio Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Organizagio das Nagdes Unidas em 1.948 (ONU, 2012), ao proclamar 0 reconhecimento da “dignidade inerente a todos os membros da familia humana e de seus dineitos iquais e inaliendveis” (p. 1), tornou possivel desenvolver um documento que expressasse 0 desejo humano de se relacionar ‘com os semelhantes de forma harménica e pacifica. Este principio da dignidade da pessoa hu- mana foi reconhecido pela Constituigio da Repiblica Federativa do Brasil de 1.988, no seu art, 1° (Brasil, 2012a). 'Até hoje, a plasticidade e as virias acepgées do conceito de humaniza¢io foram amplamente debatidas, com possibilidades interpretativas que variam desde o senso comum do altruismo ca- ritativo, passando pela busca do que seria o essencial do humano, até um humanismo que preco- niza o singular de cada experiéncia humana em suas necessidades, ancorado numa ética da vida, portanto universal (Betts, 2002; Campos, 2002; Cembranelli, 2002; Benevides & Passos, 2005a)- Na satide, o termo humanizagio tem: sido recorrente na literatura sobre 0 cuidado e a assis- téncia, sea relacionado & hospitalizacio, & ética, & teenologia, is poiticas de satide ou & relacio entre 6 profissional da said e a pessoa que busca seus servigos, havendo multiplcidade de con- cepgdes acerca do conceito de humanizagio ¢ da amplitude possvel das prticas que se definem como humanizadoras. Historicamente a descrigio do conjunto de fatores que permitem a humanizacio do cuidado em saiide esti presente desde meados de 1.950 os primeiros esforgos em delimitar estes eermos datam da década de 1.970 (Casate, Corréa, 2005; Deslandes, 2006). Mas a discussio da humanizagio.no campo da sadde nio pode sr feita sem que se considere que 0 tema insecamente li c (SUS) no Brasil, como resultado. de lutas pela redemocratizagio da sociedade brasileira. OQ SUS nasceu de um movimento conhecido como Reforma Santiria,aliado a outros movimentos so- ais, voltados a ages em prol. vim ‘éncia cidadi e cuj 3 tomnaram gradativamente in uenes estuturadas¢ artiulads naluta.conta a sitar militar © tem defesa da democracia e da garanta dos direitos humanos (Benevides, 2005; Benevides, Passos, 2005a). le foi criado pela Constituigio Federal de 1.988 (Brasil, 1988) ¢ regulamentado pela Lei 47 Digitalizado com CamScanner 48 1 A psicologia na sade: da atencio priméria § alta complexidade } Orginica da Satide' (Brasil, 1990), com a finalidade de alterar a situagio de desigualdade na as- _Ssténcia A saide da populaglotornando obrigatério o atendimento piblica a qualquer cidadie O documento de ins ido do SUS é reconhecido internacionalmente como uma referéncia 6m termos de politica de satide. Embora sejam evidentes as intimeras dificuldades inerentes } im texto teoricamente nobre, Seus principios sua operacionalizagio pritica, o Brasil produziu Slo totalmente de inspiragio humanista; ele & hoje o principal instrumento de inclusio social do nosso pais (Rios, 2009). Estas iniciativas de humanizacio receberam influéncias diversas. Uma dela, que foi parti- cularmente importante e pés em relevo a questio da subjetividade dos sujitos e a questio das relagdes interpessoais no interior das instituigdes de satide, foi a da satide mental, que se insere no discurso da satide, desde que, em 1.948, a Organiza¢io Mundial da Satide passa a enfatizar um, novo conceito de satide que transcende as dimensdes exclusivas da satide biolégica (OMS, 2012), processo de humanizagio da rea da saiide mental, que ocorreu através da luta antimani- comial, antecipou 0 processo mais amplo de humanizagio das priticas em satide, Este, talvez, um Primeiro motivo para, até hoje, haver confusio entre as priticas de atuagio dos profissionais da saiide mental — em especial 0 psicélogo ~ e as agdes ditas de humanizagio. Em continuidade a isto, 0 movimento feminista, em sua luta pelos direitos das mulheres estendeu 0 processo de hu- ‘manizacio para as priticas e comportamentos em relagio aos procedimentos médicos dirigidos 4 mulher, especialmente o parto. Nese momento, quando o conceito de satide & enriquecido pelos pressupostos das Ciéncias Humanas, comecam a ser gestados os principios que antecipavam a politica de humanizacio. A partir daf, 0 corpo € considerado nao apenas uma entidade natural, mas um espaco continente de desejos e condicionado em seu fincionamento pela vida simbélica. O modelo de humani- zagio vai se construindo sob a égide do conceito de saiide mental e vai se organizando com influéncias de virias disciplinas, em especial a Psicologia, a Antropologia e a Sociologia. A valo- rizagio dos aspectos psicol6gicos deslocou a énfase dada 20 discurso biolégico para “uma atengao ‘nulidisciplinay a qual os discrsos. de. diversos saberes pudessem constnuc uma visio integrada do.sujita gm. softimento, trazendo, desta feita, a um plano primeira, a sua singularidade e sua subjetividade” (Reis et al., 2004, p. 39). Este foi o pano de fundo sobre o qual se construiram os programas ¢ politicas de humaniza- 4o da assisténcia e que propiciaram, desde entio, os equivocos sobre a amalgama da Psicologia 4 Humaniza¢io, elementos que, embora diversos, foram considerados constituintes de um todo. "Lei Feder n 8.080 de 19 de setero de 1990, Digitalizado com CamScanner {A psicologia ea humanizagio da atengio & sade + A politica nacional de humaniza¢io Assim, em 2,004, em meio as discussdes de qualificagio do Sistema Unico de Saiide, todo esse processo de desenvolvimento s¢ traduziu em uma politica péblica intitulada Poltca Nacional de ‘Humanizagio (PNH) conhecida como HumanizaSUS, (Brasil, 2004), apoiada no artigo 196° da, Constituigio Federal, que sustenta a defesa da vida por meio do direito & satide, preconizando ue a satide & um direito de todos ¢ um dever do Estado. A Humanizacio torna-se um objeto-conceito do Sistema Unico de Satide partindo da apro- ximagio entre a vida e a satide (Bernardes, Guareschi, 2007). Ela potencializa os principios dou- trinirios e organizativos do SUS que equiparam saiide a condigdes de vida ¢ entra, neste con- 1 equidade e integralidade, bem texto, reforgando os conceitos dos principios de universalizagl como os conceitos das diretrizes de regionalizagio e hierarquiza¢io, descentralizagio, comando ‘inico e participagio popular (Brasil, 2004). ‘A maioria dos profissionas da saide desconhece completamente a abrangéncia considerdvel dda PNH nas priticas de satde. Humanizagio frequentemente & abordada com descaso, de forma superficial e periférica, como ages pontuais que amenizam as tenses cotidianas da vida dentro dos equipamentos de satide.A filta de informagio e de interesse pelo asunto faz com que haja distorgio a ponto da humanizagio ser considerada um assunto que tem a ver com 0 trabalho de voluntitios, psicélogos ou assstentes sociais,Trta-se de algo bem mais complexo e diretamente ligado a0 exercicio profissional de. todas os envolvidos.no.cuidado,, 49 APNH propée uma mud: Itura da atengi i i trabalho ¢ tem, como objetivo fundamental apr Bes i ri 9fissionais entre si i dade. Para sua constru- (0, humanizagao€ visa como dimensio fundamental, uma marca que produz modos de viver. ‘terme humanizacio é aplicado Aquelas situagdes nas quais,além da yalorizagio. Atualmente, i imensdes técnicas e cientifica sconhecidos it respeitada sua indivi fe, di mento do profissional da satid« ém_na sua condi¢io » (eg aren 0, respeitando a diversidac frios, cr i dade para com a side da populaio, Para que haa humanizagio deve exist deforma efetiva, uum comprometimento e uma responsibilizgio de foda_a.equipe para.com.o sofrimento, do i para com o consequente trabalho terapéutico dirigido a0 seu cuidado. De acordo com a PNH, humanizagio € um pacto, uma consirusio coletiva, que s6 pode acontecer a partir da troca de saberes. Nao supe um ato de caridade exercido por profissionais saci Digitalizado com CamScanner 50 tA Psicologia na satide: da atengdo priméria & alta complexidade ' abnegados e ja portadores de qualidades humanas essenciais, Pessoas humanas, ue podem construir wi experiéncia (Mimenstein, 2004; Casate, mas um encontro entre sujeitos, ima relagio saudivel, compartilhando saber, poder Corréa, 2005), ‘A questio central & 0 sujeitoya pessoa, de ambos os lados da relagio, Qualquer assisténcia em satide implica a relagio entre pessoas. Rressupde uma relagio sujeito/sujeito. O que permitiri a classificagio dessalinteragdo como humanizada, a qulidade da relagio.Uma relagio entre sub- Jetividades e nio entre papé ‘ociais Ao estabelecerem comportamentos automiticos, baseados, i i iis as relagSes.do. momento assstencal se degradam, dificultando 3 ressio dos sujei li dos, fato.essencial para a assisténcia humanizada.O papel social, Profisional, faz parte da assisténcia, mas nio pode ser eonfundido com relagio subjetiva, Se o Profissional ficarrestrito 20 seu papel social, ica exclutda a postbilidade de ocorrer um encontro nite sujcitos/subjetividades (Almeida, Chaves, 2009). Esse encontro de subjetividades, esa produgio de sujetos, vida, de condigdes humanas em um determinado espago-temp\ a humanizagio & uma condicio de exsténcia no campo da saide (Bernardes, Guareschi, 2007). Humanizar, portanto, implica compromisso com a pluraidade de foras que compéem a vida, Aponta, também, para o fortlecimento de uma ética comprometida com a possibilidade de ‘novos modos de vida. sio construgdes de formas de 0. Isso nos permite afirmar que Como politica nacional, a humanizagio torna-se uma estratégia de controle dos sistemas de satide, uma forma de estabelecer o modo de funcioname: nto e as maneiras de relacionamento ue devem caracterizar as relagdes entre todos os implicados no processo. lumanizar a pritica em impli i i é 01 eciese Heretic . ta de expectati i isd ionaii Benevides, Passos, 2005a; Deslandes, 2004; 2005). Sua esséncia € a alianca da competéncia téenia e teenolégica com a competéncia éticae r= lacional.A grande questio tem a ver com a necesidade de desenvolver em todas os profissonais envolvidos, o interesse legitimo pelo paciente (Rios, 2008). Humanizar € mais que reorganizar os espagos sanitirios, éreorganizar os processos de taba tho, formar ¢ qualificartrabalhadores, garantt 0s direitos e a cidadania dos ususrios, éinstituir Pritias fundadas na integralidade. Humanizagio afasta-se radicalmente de qualquer concepcio assistencialista ou de cunho religioso.Trata-se de algo muito mais abrangente: é 0 posicionamento da instituigao de saiide diante de seu objeto de trabalho ~ a vida humana. Digitalizado com CamScanner ES Le ee a { A psicologia ¢ a humanizacio da atengio 3 sade ' Humanizagio & wean ine € ferramenta de gestio, Na dimensio institucional, a humanizagio trata de indamentais qu : | ve lamentais que devem balizar a atitude de todos. f mais do que um ato ou téenica: & tude, respeito e valorizaci respeito e valorizagio das pessoas humanas, é a maneira como se esti diante do outro, como se conse "i Bs "gue compreendé-lo como ser humano e nio como doente, apenas. aten een caine humanizado é a atitude subjacente a todo ato em satide, A obrigatoriedade imposta pela técnica ou pela legislacio, nio a torna necessariamente humana, ‘A humanizagio manifesta-se na forma particular de relizar as atividades, mesmo as obrigaté- rias. B ‘um modo de proceder, é uma mancira de ser, através da qual manifesta 0 propésito da humanizagio, é transformar as condutas, mesmo as obrigat6rias, em humanas, através do com- portamento, da escuta, do acolhimento, da comunicagio, da palavra, do gesto, do olhar... E s6 existiré, na medida em que todos 0s profissionais envolvidos estiverem comprometidos com © seu exercicio, Depende mais de uma atitude de cariter do que do conhecimento, da ciéncia, da técnica ou da tecnologi: Esta proposta aspira pelo nascimento de uma nova imagem do profissional da sate, respon- sivel pela efetiva promogio da satide, mas dentro de uma completa combinagio de conhecimen- tos e atitudes fundamentadas em valores humanitirios s6lidos. 51 A psicologia nesse contexto Uma das formas epistemol6gicas bisicas da Psicologia da Satide, para estudar ¢ tentar com- preender os comportamentos relacionados aos processos saide-doenga ~ talves em fangio da tradigio humanista que liga a Psicologia 20 campo das Cincias Humanas ~& a abordagem hu- smanistica, que estuda comportamentos e experiéncis,almejando desvelar sgnificados ¢ inter- pretagdessubjacentes e reconhece a peculiaridade e complexidade da experéncia humana, Ela ‘esti fandamentada no critério de que um dos seus principais objetivos & compreender a forma como 0s sujeitos dio sentido aos diferentes aspectos de sua realidade existencial. Nesta vertente, 0 discurso sobre 0 sujeito sempre acompanhou as priticas da Psicologia. Ela & um campo de saber voltado para os extuds da subjetividade, Fazer hhumanizagio ~ politica piblia, porque de todos ede qualquer um ~&tomar eta dimensio como geradora de procesos singulares.Assim a interface da Psicologia. smanizaci mente por e “10. de.conexioos processos de subjetivacio num plano coletvo, pblico, como politic a piiblica__ “de satide (Benevides, 2005; Benevides, Passos, 2005). Op ,Slogo na frea da satide cumpre 9 papel de resgatar.o.ser-humano para além.de sua sia’ ec AMS . cia nada jrud-lo em Digitalizado com CamScanner 1A psicologia na saiide: da atengio primiria i alta complexidade } sdimensbes_psiquicas, (Mota et al., 2006). Mas esta reflexio humantstica nio enfoca somente necessidades psicologicasy uma vez que abrange as circunstincias sociais, éticas, educacionais e Diolégicas presentes nos relacionamentos existentes nas ages relativas& atengio & save e pede 4 construcio de politicas pablicas que estejam comprometidas com estes principios. Aqui certamente a Psicologia pode estar e fazer intercessio, De acordo com a propria concei- tuagio de Psicologia da Saiide elaborada por Matarazzo (1982), ela tem, entre outros, 0 compro- misso de colaborar na anilise e melhoria do sistema de assisténcia 4 satide e de contribuir para as politicas vigentes sem, contudo, abrir mio da separagio dos registros de atuagio. A Politica Nacional de Humanizagio sustenta-se na estrutura ¢ nas regras do SUS, no modo em que suas doutrinas ¢ principios organizativos se materializam diariamente no contexto da satide e se estabelece como uma linha que atravessa todo o Sistema, reforgando-o por meio de éstratégias politicas que convocam a fodes ~ gestores, profissionais da sate e usuitios -, colo- cando em pauta a relacio entre eles (Bernardes, Guareschi, 2007). No jogo das interagdes, das relagSes que constroem o cotidiano da asssténcia, este projeto 6 se realiza se for tomado como um modo de gestio, um modo de realizar a atengao em satide, uma prixis, uma realizagio de muitos, que se corresponsabilizam com a satide de cada um ¢ de todos. Neste sentido, nio hi como realizar humanizagio sem © concurso ativo de todos os envolvidos, cujo investimento é fundamento imprescindivel. As ages humanizadoras devem ser evadas a efeito por cada um dos relacionados & atengio saiide, nio se restringindo a uma ou duas categorias profissionais. A Psicologia é wm dos campos de saber da frea da saiide, Sua contribuigdo para a huma- nizagio esti exatamente no entrecruzamento do exercicio de todos os demais profissionais da satide.A riqueza da atuagio humanizadora nio pode ser reduzida pelo envolvimento e respon= sabilizagio exclusivos da Psicologia, ainda que ela seja imprescindivel para a viablidade do pro- cesso, Entende-se que, para compreender 0 usuirio como um sujeito integral, um ser que vive, trabalha, pensa, fala, sente, adoece e morre, é necessiria uma formagdo profissional diversificada, ‘Quando, nas priticas de humanizagio, se prioriza 0 cuidado do aspecto mental sobre o processo satide-doenga, essa abordagem também se torna limitada, pois no consegue dar conta da com= plexidade que a questio envolve (Traverso-Yepez, Morais, 2004), ‘A humanizagio como politica supde justamente e necessariamente, ultrapassar as fronteiras dos diferentes niicleos do saber representados pelas categorias profisionais que se ocupam da produgio da sade, porque € entre os saberes que a humanizasdo acontece. Todos os saberes tém que contribuir para um mundo melhor, para uma saide possivel (Benevides, Pasos, 2005b). As priticas de saiide so, a0 mesmo tempo, priticas sociais complexas, penetradas pelas va- riiveis culturais, econdmicas, politicas e especialmente ideol6gicas. Nio hi um saber ‘nico que realize por si s6 esta tarefa. Ha a necessidade de diferentes conhecimentos ¢ experincias e, Digitalizado com CamScanner {A psicologia © 4 humanizagio da atengio 3 sade } eee Processos de significagio, estilos de comunicagio ¢ abordagens, que os issionas powsuem no que se refere A sua atuacio profwional. Pepe técnica & requisito pressuposto € exigido de todos os profissionais da sate, ica, © que se verifica, se avalia, se aprecia ou se desaprova, é a forma de atuagio, a maneira como as agdes téenicas sio praticadas. Desta forma, 0 trabalho de um profissional, qual- ‘quer que seja sua atividade, depende tanto da qualidade técnica como da qualidade interacional Assim, & fundamental que todos os profisionais incorporem 0 aprendizado ¢ © aprimora- ‘mento dos aspectos interpessoais da tarefa assistencial e, além do suporte téenico-diagnéstico- ~terapeutico, desenvolvam e yem a sensibilidade para conhecer a realidade do paciente, ouvir suas queixas ¢ encontrar, junto com ele, esratégias que facilitem a aceitaglo, a compreensio da doenga e a adaptagio a modificagdes que, porventura, tenha que fazer em fungio dela. A Psicologia da Satide, aceitando o desafio de sua inser¢i0 nas unidades de satide ¢ da pritica psicolgica nesse contexto, esté absolutamente comprometida e articulada com os principios ¢ diretrizes do SUS e, portanto, trazendo sua colaboracio na construgio de um ambiente da sade mais humanizado. Ela favorece a incorporacio de valores ¢ atitudes de respeito 4 vida humana © a compreensio de que a qualidade em saiide deve ser composta de competéncia técnica ¢ de interagio. Ao lado da competéncia técnica, a Psicologia, como as demais categorias da satide, 53 assume compromissos éticos e politicos que transparecem em suas agdes ¢ dio suporte & sua pritica. Esta é uma postura quanto a0 que se define como humanizagio, Entretanto, hi que se produzir um distanciamento critico em relagio a0 papel do psicélogo no contexto da saide € nos processos de humanizacio. 'A Psicologia & caracterizada pela extraordinaria diversidade de posturas metodolégicas, ée- nicas e te6ricas, em constante, persistente ¢ irredutivel debate, embora Ihe seja garantida uma posigio aut6noma e indiscutivel no quadro geral das ciénciss. Para Figueiredo (1989), forma predominante de enfrentar tais controvérsias ‘0 “ecletismo” que constitui © senso comum ¢ é muito facilmente encontrado nos subterrineos da pritica profisional de iniimeros psicélogos.Se a diversidade de teorias e tgenicas psicologicas abre espaco para 0 ecletismo ¢ para a confusio, & importante deixar claro que aqui nio se trata dito, Psicologia da Suide se constitu por uma reuniio coordenada e logica de principios, ideas, construtos relacionados de forma a abranger tum campo de conhecimento especfic ¢ daloga com os principios da humanizagio na medida em que tem como seu objeto de exude de intervengio a subjetvidade humana e,a humani- zacio, por sua vez, tem como principio norteador a valorizagio da dimensio subjetiva e socal ‘em todas as priticas de atengio e gestio. E s6. “Trata-te,entio, de duas esferas de atuago com tarefas dstintas para serem analisadas dentro de suas especifcidades. Picologia da Saide e Humanizacio nio sio sindnimos, so das realidades em articulagio, mas sempre dois registos separados,dstintos e que possuem diferentes FangSes. Digitalizado com CamScanner 1 A psicologia na satide: da atengio priméria & alta complexidade } Evidentemente, o psicdlogo poderi, na instituigio, ser solicitado a desempenhar © papel estereotipado de recreacionista, brinquedista, arte educador, comunicador, acolhedor, ouvidor.. Mas entio estari realizando outra fungio, que nio a do profissional da Psicologia. Uma priica Profissional consequente nio pode ser confundida com uma “agio de humanizagio”. H uma Producio social que parece ter caido em desprestigio para alguns psicblogos, que é a identidade rofissional, nio somente em relagio as competéncias técnicas, mas as suas finalidades de atuagao. Referéncias Bibliograficas ALMEIDA, DV & CHAVES, EC. O ensino da humanizagio nos curriculos de graduagio em enferma- ‘gem. Einstein, 7 (3 Pe 1):271-278, 2009. BALLONE, G). 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