Você está na página 1de 16
Ii Encontro da Associagdo Nacional de Pesquisa e Pés graduacSo om Arquittura e Urbanismo arquitetura, cidade e projeto: uma construgao coletiva ‘Sto Pao, 20%4 MENANPARG. [x0 TeMAniCo: (ambiente «Susterabiade (Crea, DocumertgioeRflxio._( } pag Pico Cidadania (phabiagioe deta cidade ( )infreeruturae Mobidade (C)Noves process enavasteenloglas (a Patni, Chia edema O patriménio cultural de cidades médias e pequenas — Transfomagées metropolitanas, novas abordagens e critérios The cultural heritage of small and medium-sized cities - metropolitan transformations, new approaches and criteria El patrimonio cultural de las ciudades medias y pequeias ~ Transformaciones ‘metropolitanas, nuevas abordajes y criterios SCHICCHI, Maria Cristina da Silva (1) (1) Professora Doutora, PUC-Campinas ~ POSURE; Campinas, SP, Brasil cristina schicehi@puccampinas.edu.br Ii Encontro da Associagdo Nacional de Pesquisa e Pés graduacSo om Arquittura e Urbanismo arquitetura, cidade e projato: uma construgao coletiva ‘Sto Pao, 20%4 MENANPARG. O patriménio cultural de cidades médias e pequenas — Transfomagdes metropolitanas, novas abordagens e critérios The cultural heritage of small and medium-sized cities - Metropolitan transformations, new approaches and criteria El patrimonio cultural de las ciudades medias y pequefias - Transformaciones ‘metropolitanas, nuevas abordajes y criterios RESUMO [A pesquisa aborda a questo do patriménio cultural das cidades que fazem parte da Regio Metropolitana de Campinas. A excegio de seu nicieo sede — a cidade de Campinas ~ as demas cidades ‘io em grande parte médias e pequenas e sofrem com os efeitos de processos urbanos metropolitanos. Neste texto so apresentadas as sinteses e conclusdes dz primeira leiture desses efeitos sobre 0 patriménio edificado (entendido em sua dimensio territaral) de duas cidades, Valinhos Pauliia, eleitas como estudos de caso. Foram contatadas transformagdes nos espacos urbanos e rurals das cidades que resultaram na perda de referenciais histOricos e transformages da meméria social e dos valores culturais locas. Simultaneamente, também os centros geracionais dessas cidades apresentaram uma reduso progressiva de populacio nativa e o incremento de novos contingentes de populagdo migrante, como consequéncia do processo de mobilidade intrametropolitano. Assim, 2 aboréagem privllegiou a dimensio urbanistica e a gestdo da preservacio, como parte de uma discussdo mais ampla das politicas urbanas adotadas pelas cidades e propde novas bases conceituais para a definigéo de ceitérios de preservagio e intervencio sobre o patrimanio. PALAVRAS-CHAVE: patriménio, politcas piblices,cidades médias, preservagio ABSTRACT The research deals with the issue of the cultural heritage of the cities of the Metropolitan Region of ‘Compinas. Excluding its nucleus - the city of Campinas - the other cities are mostly small and medium= sized and suffer the effects of metropolitan urban processes. In this text are presented the syntheses and conclusions of the first reading of these effects on the built heritage (understood in its territorial dimension) of two cities, Valinhos and Paulina, elected as case study. It were observed transformations in the urban and rural spaces ofthe cities that resulted inthe loss of histori references and transformations of the local memory and cultural values. Simultaneously, also the generational centers of these cities showed 0 progressive reduction of the native population and the increment of new contingents of ‘migrating populations as a consequence of a process of intra-metropolitan mobility. Thus, the approach privileged the urban dimension and the preservation management as part of broader discussion of the ‘urban policies adopted by the cities and proposes new conceptual bases forthe definition of preservation ‘and intervention criteria on the heritage, KEY-WORDS: heritage, public policies, medium-sized cities, preservation RESUMEN Lo investigacin aborda la cuestién del potrimonio cultural edlficado de las ciudades que forman porte de fa Regién Metropolitana de Campinas. A excepcién de su nicleo sede la ciudad de Campinas ~ las demas ciudades son en grande parte medias y pequefias y sufren con los efectos de procesos urbanos ‘metropolitanos. En ese texto se presentan las sintesis y conclusiones de la primera lecturo de esos efectos sobre el patrimonio edificado (entendide en su dimensin territorial) de dos ciudades, Valinhos y Paulina, elegidas como estudios de caso. Se han constatado las transformaciones ocurridas en los espacios urbanos y rurales de las cludades que resultaran en la pérdida de referenciales histércos y la tronsformacién de la memoria y de los valores culturales. En simulténeo, también los centros generacionales de esas ciudades han presentado una pérdida progresiva de poblacién nativa y el incremento de nuevos contingentes de poblacién migrante, como consecuencio de un proceso de Ii Encontro da Associagdo Nacional de Pesquisa e Pés graduacSo om Arquittura e Urbanismo arquitetura, cidade e projato: uma construgao coletiva ‘Sto Pao, 20%4 MENANPARG. ‘movilidad lntremetropolitano. Asi, el abordaje privilegia la dimensién urbanistica y Ia gestién de lo preservacién, como parte de una discusién més amplia de las politicas urbanas adoptadas en las ‘iudades y propone nuevos boses conceptuales para la definiciin de crterios de preservacién PALABRAS-CLAVE: patrimonio, politicos piiblicas, cludades medias, preservacién L.INTRODUCKO A pesquisa se propée a constituir um corpo tedrico e metodoldgico que permita abordar a questo da preservac3o do patriménio cultural e, em especial, 0 patriménio edificado das cidades que compéem a Regis Metropolitana de Campinas. Como patriménio edificado entende-se aqui a dimensao urbana e arquiteténica do territério, de forma que so elementos construidos os espagos publicos (ruas, calcadas, pracas, largos, etc.), os edificios, os equipamentos urbanos, os antigos caminhos, as fazendas e outros elementos que fazem parte explicam a formagao do territério ou contribuem como suporte para o desenvolvimento das praticas sociais cotidianas dos habitantes. Portanto, a abordagem privilegia a discusso sobre o patriménio a partir da discussio da formagio de seu territério, retomado ou reconstitulde em sua dimensio e forma originals, através de pesquisas, em arquivos e bibliotecas piblicos e privados, de documentos e mapas histéricos - ou seja, para além das divisas municipais criadas apés desmembramentos € emancipagées administrativas ~ de forma a constituir uma base técnica e histérica para a discussio mais ampla sobre as politicas urbanas e de preservacdo do patriménio cultural das cidades da regido. 0 trabalho, concluido neste ano (2014), se insere no ambito das discussées do Grupo de Pesquisa Patrim6nio Urbano e Arquiteténico das Cidades Paulistas da Pontificia Universidade Catélica de Campinas, cujos enfoques tém privilegiado a discussio da preservacio do patriménio cultural a partir de estudos do territério e 6 financiada por Auxilio Pesquisa através do Convénio FAPESP/CONDEPHAAT. Como resultado, foi possivel aprofundar a discussdo sobre a natureza dos patriménios das cidades da Regio, o que por sua vez permitiu lancar novas bases conceituais e metodolégicas para a definico de critérios de selecdo e de ago com intuito de preservé-los, partindo do Pressuposto que alguns destes bens ndo podem ser geridos apenas por um municipio e ainda, fazem parte indissocidvel da meméria do municipio sede da regio. ‘A Regio Metropolitana de Campinas (RMC) fol instituida no ano 2000 pela Lei Complementar Estadual 870, e ocupa uma drea de 364.689 ha, que representa 1,3% do territério do Estado de So Paulo. Foi criada a partir de uma politica de planejamento regional baseada na Constituigdo Estadual de 1989. Dezenove municipios fazem parte da RMC, a saber: Americana, ‘Artur Nogueira, Campinas, Cosmépols, Indaiatuba, Itatiba, Jaguaritina, Monte Mor, Nova Odessa, Paulinia, Pedreira, Santa Barbara d’Oeste, Santo Anténio de Posse, Sumaré, Valinhos, Vinhedo, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortoladndia, sendo que os trés iltimos foram apenas desmembrados em 1991. Nicleo do complexo cafeeiro paulista, tendo Campinas (Fig.1) como sede regional, a regio adquiriv as bases para o dinamismo da agricultura, infraestrutura de transporte e qualidade da rede urbana, processo reforcado com a abertura da Via Anhanguera nos anos 1950 e depois com a Rodovia dos Bandeirantes, no final dos anos 1970. Baeninger (2002), afirma que a fe Urbanismo Ii Encontro da AssociagSo Nacional de Pesquisa e PésgraduacSo em Arquitet arquitetura, cidade e projato: uma construgao coletiva ‘Sto Pao, 20%4 MENANPARG. Regido Metropolitana de Campinas, desde esta década, passou a receber grandes fluxos migratérios, j& que se tornou um dos principais eixos de expanséo no processo de desconcentragéo relativa das atividades industrias. ‘ermelo, Paulina Vaknbor Fonte: Eaborago Nos anos 1970, 60% do crescimento absoluto da populaco metropolitana era fruto da migrago; na década seguinte, esse valor passou para 48% e entre os anos de 1991 e 1996 para 43% - periodo em que a RMC recebeu 83.884 de migrantes de outros Fstados. A intensidade deste processo foi tal que, nos anos 1990, apenas nos municipios de Artur Nogueira, Engenheiro Coelho, Holambra e Pedreira, a migracio representou 70% do crescimento absoluto dessa drea (PMHIS, 2010). AAs principais motivagdes para os deslocamentos entre cidades da RMC sao as relacionadas 8 educagio (com 1.379.126 viagens didrias) e a0 trabalho no setor de servigos (840.182 viagens). Considerando apenas os hordrios de pico, so realizadas cerca de 420.000 viagens na RMC, sendo que destas, ao redor de 230.000 sdo por motivo de trabalho e em torno de 250.000 relacionadas & educacdo (PITU/RMC, 2010}. Varias politicas governamentais deflagradas em niveis federal, estadual e municipal, como 0 Programa de Metas (1956-1960) e o Prodlcool, induziram a interiorizagéo do desenvolvimento no estado, principalmente em Campinas e regio, com investimentos piblicos em infraestrutura de transportes, comunicagdes, ciéncia e tecnologia, responsavels pelo surgimento de universidades (Unicamp), e grandes centros empresariais e industriais, como Replan, CPqD, CTI etc. Com isso a regido atraiu a implantacdo de grandes empresas privadas ampliou @ rede de pequenas e médias, intensificando as relagdes com 0 setor agropecuario € terciério e diversificando a estrutura produtiva. Como conseqéncia, @ vinda de novos moradores desencadeou a expansio da mancha urbana, dando inicio ao desenho atual da conurbago ao longo dos eixos vidrios Anhanguera, Santos-Dumont, Rod. Dom Pedro |, Campinas-Paulinia e Campinas-Mogi-Mirim (CANO et al., 2002) ‘A RMC esta inserida também no principal pélo urbano-industrial brasileiro, tendo como epicentro Sao Paulo, mas se estende por uma grande regigo interiorana. Segundo Cano & Ii Encontro da Associagdo Nacional de Pesquisa e Pés graduacSo om Arquittura e Urbanismo arquitetura, cidade e projato: uma construgao coletiva ‘Sto Pao, 20%4 MENANPARG. Brando (2002), este processo aumentou a complexidade nos centros urbanos das cidades paulistas. € uma regio que agrega municipios com situacGes desiguais de urbanizacio industrializac3o, que so 20 mesmo tempo responséveis por suas singularidades. O intenso fluxo migratério de pessoas de outras regides néo foi absorvido de forma adequada, gerando processos de periferizagio com extremos de classes altas baixas, diminuindo a forga dos centros urbanos tradicionais - ja que a tendéncia é de que as zonas mais periféricas dos municipios apresentem taxas de crescimento maiores que as 2onas préximas aos centros urbanos (PITU/RMC/, 2010) - e criando um sistema de polinucleaczo. Para o gerenciamento das cidades da RMC fol criada uma agéncia metropolitana, a AGEMCAMP (Agéncia Metropolitana de Campinas) pela Lei Complementar estadual n? 946 em setembro de 2003 e sancionada em 18 de setembro de 2003. £ uma autarquia do governo do Estado de Sdo Paulo responsavel pelo planejamento e a execucdo das fungées piblicas de interesse comum na Regio Metropolitana de Campinas. Seu proceso de estruturagao se iniciou em 2004 e passou a atuar no fortalecimento do Sistema de Gesto Metropolitana da RMC, composta pelo Conselho de Desenvolvimento da RMC, a prépria AGEMCAMP e o Fundo de Desenvolvimento Metropolitano de Campinas ~ Fundocamp. A partir desse momento, a AGEMCAMP passou a cuidar da constituiggo do Fundocamp, essencial para assegurar a execugdo de projetos de alcance regional, efetivamente regulamentado pelo Decreto n° 50.553, de 20 de fevereiro de 2006. Em 2007, foi assinado o contrato entre a Agemcamp e 2 Nossa Caixa, para que esta executasse a funco de Agente Financeiro do Fundo. © Conselho Deliberativo e Normativo da Agemcamp é 0 Conselho de desenvolvimento da RMC — CD-RMC, conforme previsto no artigo 3° da Lei Complementar n® 870, de 19 de Junho de 2000. 0 CD-RMC é integrado pelos 19 prafeitos da regio e 19 representantes do Governo do Estado, ou seja, ndo ha uma representagio por parte da sociedade. Tém, entre outras atribuigdes, a misséo de indicar prioridades para planos, programas e projetos de interesse comum, Para dar conta da complexidade dos temas em que a acdo conjunta & necesséria, 0 Conselho de Desenvolvimento constitul Camaras Temticas* A partir dessa primeira compreensio sobre o que é este territério hoje é que surgiu a pergunta central do trabalho: como tratar questées como meméria e identidade, que constituem a base para a discussio da identificacéo do patriménio cultural de cidades, para comunidades em que a populacdo original ja se igualou em termos demograficos & populagao imigrante, como & 0 caso dos municipios de Paulinia e Valinhos® e tantos outros da regio? Procurou-se entdo delimitar as abordagens a serem adotadas pela pesquisa, Primeiro, a importancia de operar aproximagdes entre as formas de identificago, valorizagio € gestio dos patriménios construidos em diferentes contextos, uma vez que boa parte das questées relacionadas a identidade e autenticidade do patriménio decorre das condigées culturais, politicas e juridicas existentes, sendo também relevante identificar as formas de ‘unto com a Lei Complementar Estadual 870, foram criadas Cémaras Tematicas e Cémaras Teméticas Especial ambas de carétertécnico,drg'das por um titular e com fins especfices,Atualmente exstem 33 em funcioname {que debatem apontam alterativas de solugio conjunta nos setores de interesse comum: tais como CT Seguranga Publica, CT Habitasao, CT Meio Ambiente, CT Planejamenta e Uso do Solo, CT Transportes e Sistema, CT Desenvolvimento Econdmica, CT Saneamento, CT Atendimento Social, CT Educagso, CT Saide, CT Agricultura, CT Cultura, CT especial Aeroporto Viracopes.Disponivel em: www. agemcamp.sp.go¥.r,acesso em 6/6/2011, ® Segundo trabalho recente (GUTMANN, 2011), entre 1995 e 2000, a taxa intrametropoltana de imigrasao fl de 7% 9 de emigragso Toi 50% caso de Valinos. Ii Encontro da Associagdo Nacional de Pesquisa e Pés graduaco om Arquittura eUrbanisme arquitetura, cidade e projato: uma construgao coletiva ‘Sto Pao, 20%4 MENANPARG. operar e intervir sobre o territério, através de instrumentos criados em vérias instancias de Bestdo, Outro procedimento adotado foi a construe de dossiés com dados similares sobre as cidades, para viabilizar comparacées, resguardadas distintas dimensdes de territério e a diversidade dos patriménios em cada contexto. A terceira abordagem consistiu em identificar questdes especificas a partir da andlise das priticas realizadas em contextos referenciais diversos, nacionais e internacionais, onde foi possivel identificar a necessidade de valorizar “processos” de incorporago de novos critérios de valorizacio, com a participagdo de diferentes agentes envolvidos, tendo em conta a ampliagao do conceito de protegio de “entorno dos bens” para o de identificagao de “territérios culturais” Por fim, foi necessaria uma reflex3o sobre novos aspectos teéricos identificéveis a partir da andlise das experiéncias recentes, como a necessidade da abordagem territorial da protecio patrimonial, anteriormente exposta, e a necessidade de criacdo de novas figuras de preservacdo como decorréncia de um exame critico dos instrumentos tradicionais de identificago, valorizagao e gestéo do patriménio. 2. PAULINIA E VALINHOS: FORMACAO E TRANSFORMACAO DO TERRITORIO A histéria de Campinas insere-se no cendrio do interior paulista de meados do século XVIII a partir da cultura da cana de agticar, possuindo uma funcio vital para a regio, a de agregadora de um vasto territério. Constituindo-se como um “né de comunicagées”, ou seja, articulando um emaranhado de caminhos que conectavam varias regies do Sudeste brasileiro, especialmente o velho “caminho dos goiases", alcancou a estabilidade econémia necessaria & reivindicago de elevagio a vila a partir desse sistema de comunicages e transportes (MATOS, 2006) A chegada da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, em 1872, fol um importante marco fem sua palsagem, que comecava a se industrializar. Antes mesmo do século encerrar, chegaram a Campinas a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, a Estrada de Ferro Sorocabana (que acaba se fundindo & Estrada de Ferro Ituana em 1892), o Ramal Férreo Campineiro e a Companhia Carril Agricola Funilense. ‘Com esss cinco ferovis servindo-2, Campinas apresentava‘se aur mapa com a caractristcaestrela de Seis ais, fatodnieo na cartgrafaferoviria do Brasil. Com a crise das ferrovis, quase todas as raiais foram desativadas. Enorme, contudo, fo papel por elas desempenhado na via campinense (MATOS, 2006, 9.36) A cidade de Valinhos fol parte do municipio de Campinas até 1953, quando se emancipou (Lei Estadual 2456/1953). E conhecida por seu parque manufatureiro ~ com destaque para a producao de perfumaria, sabao e produtos de higiene, metalurgia, informatica, mecanica, microeletrénica, papelio, papel Kraft e derivados de celulose, plasticas entre outros -, mas principalmente por sua producio de figos’ »——portal_—=dz_—refeitura Municipal «== de Valinhos, «eG buep//wwvalishos.sp.gou.br/partal/index phpPoption=com_content&viewsarticie&id-9468itemidat vr ne gov be/eidadesat/oainefpaine php 2eodmun=355620, Ii Encontro da Associagdo Nacional de Pesquisa e Pés graduacSo om Arquittura e Urbanismo arquitetura, cidade e projato: uma construgao coletiva ‘Sto Pao, 20%4 MENANPARG. Tendo em vista sua localizagdo estratégica, a 85 km de Sdo Paulo e 9 km de Campinas, € cortada por duas grandes rodovias estaduais, as Rodovias Anhaguera e D. Pedro |, Valinhos vem passando por um répido crescimento populacional. Depois da emancipagio, a cidade elaborou trés planos diretores: o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de Valinhos, de 1971; 0 Plano Diretor II de Valinhos, de 1996; e 0 Ultimo ainda em vigor, Plano Diretor Ill de Valinhos, de 2004. No primeiro plano jé estavam ‘esquematizados os eixas de crescimento da cidade, entre os quais, o da Anhanguera com 0 aproveitamento de um fundo de vale (na Avenida dos Esportes) para a criagdo de um centro clvico e recreativo, Neste, foi implantado em 2011, 0 programa do Centro de Convivéncia Brasil 500 anos, que consistia de uma praca linear ao longo de uma avenida (GUTMANN, 2011) ese propunha a ser a nova paisagem urbana de referéncia da cidade, parte de um conjunto de projetos onde se implantaria um novo centro civico. (© Municipio de Valinhos apresentou um processo de crescimento intenso nas iltimas trés décadas, principalmente com a chegada das industrias, tanto ao longo da Rodovia Anhanguera quanto na drea central, O centro da cidade se tornou o local de passagem de um grande fluxo de carros, caminh&es e énibus, que apenas cruzavam a cidade. Esse fato, conforme afirma Gutmann (2011, p.91) “gerou um proceso de degradacao da area central e 0 desuso por parte de seus moradores” ‘As novas geracdes ocupam o espaco dos shoppings e seus arredores, bem como dos pontos de consumo do tipo “répido”, como as lojas de conveniéncia de postos e supermercados. No sentido oposto, em varios periodos do dia, as pragas mais centrals so locais de freqlentacéo de pessoas idosas e até mesmo de jovens, principalmente no final de semana, porém, em diferentes momentos do dia e pontos de um mesmo espaco publico, ou seja, nao ha mais convivio simuitaneo, embora haja uma apropriaydo e um uso efetivo destes espagos (GUTMANN, 2011). Uma primeira leitura possibilitou a identificaggo de pontos de referéncia de distintas naturezas € dispersos: por um lado, uma fébrica centenéria, a igreja matriz e a estacdo de trens, € diversos pontos de ocupago de novas fabricas e outras construcdes pontuais, na érea mais. consolidada e, por outro, a ocupagio dos antigos caminhos (Fig.2) que levam as grandes rodovias com loteamentos e condominios horizontals e verticais, resultando numa paisagem totalmente ocupada, embora nio construida, I Encontro da Associagdo Nacional de Pesquisa e Pés graduagSo om Arquitetura e Urbanism arquitetura, cidade e projeto: uma construgéo coletiva, ‘Sto Pao, 20%4 MENANPARG. Fgura 2. Mapa com sobreponigo entre antigoscaminhoseestades de fetro Fonte: Eboraro propria, 2013, O efeito desta dupla ocupacao ¢ visivel nos percursos realizados pelos moradores que, por sua vez, consolidam usos e atividades nas avenidas de acesso as areas residencials de condominios, sendo o Centro de Convivéncia Brasil 500 Anos (Fig.3) um dos espacos mais expressivos deste fendmeno, Por ter um desenho linear, de um largo canteiro entre duas avenidas, bastante extenso, seu uso bastante fragmentado, tanto do ponto de vista dos varios trechos que forma ao longo das avenidas de entrada e saida da cidade, quanto em distintos momentos do dia (GUTMANN, 2011). Figura 3 Foto area do Centro de Convvénc ral 500 Ans (Valin Fonte: Gutmann (2013) Assim como a cidade de Valinhos, Paulinia permaneceu por muito tempo como parte do territério de Campinas, sendo elevada & categoria de municipio apenas em 1964". Localizada na Regido Metropolitana de Campinas, atualmente Paulinia € considerada uma das cidades “el Estadual (092, de 28 de Fevereiro de 1964, I Encontro da Associagdo Nacional de Pesquisa e Pés raduacSo om Arquitetura e Urbanismo arquitetura, cidade e projeto: uma construgéo coletiva, ‘Sto Pao, 20%4 MWENANPARQ com maior arrecadagio de impostos, tendo se transformado em um importante polo industrial, e um: dos maiores polos petroquimicos da América Latina’. Sua histéria se inicia a partir da ocupacéo territorial da regio, com a concessao de sesmarias, que ao serem dividadas deram origem a grandes fazendas, como: Sao Bento, Fortaleza, Deserto, Morro Alto, Salto Grande, Monte Alegre, Séo Francisco, Saltinho, Santa Genebra, Quilombo, Funil; depois a fazendas, chacaras e lotes de terra cada vez menores. ‘A fazenda Sdo Bento, comprada pelo comendador Francisco de Paula Camargo, em 1885, 6 uma das mais importantes para a histéria de Paulinia. Considerada modelo de eficiéncia, trabalho e organizacio, foi o marco do povoamento do nticleo de Séo Bento que se iniciou a0 redor da Igreja de mesmo nome (Fig.4), atual centro de Paulinia (MULLER, 1999). Com a construcdo da estagio de trem de José Paulino (da Companhia Carril Agricola Funilense), em 1899, esse niicleo se desenvolveu e foi elevado a categoria de Distrito de Paz José Paulino, ainda parte de Campinas, pelo decreto-lei n? 14334, de 1944, que também alterou seu nome para Paulinia Figura 4. Foto ds lgreia de So Bento, construa ente 897 1003, f! snd modicaa até 1935, quando adi oaspeto Fonte: Acero da pesquisa, 2013, Outras fazendas importantes para a histéria da cidade foram a Sdo Francisco e a do Funil. A Fazenda do Funil, situada em Cosmépolis, era propriedade de Jo3o Manoel de Almeida Barboza, foi comprada pelo Bardo Geraldo de Rezende, e depois vendida, em 1898, aos irmaos José Paulino, Artur, Sidrack Nogueira, Paulo de Almeida Nogueira e Anténio Carlos da Silva Teles, incorporando também as fazendas Trés Barras, Boa Vista e S20 Bento (Cosmépolis) em um territério Gnico. Apesar de ndo fazer parte do territério de Paulinia, teve grande importancia para a conformacio desse municipio, uma vez que, sede da Usina Acucareira Ester (Fig. 5), seus donos foram alguns dos principais responsaveis pela implantago da Estrada de Ferro Funilense, pela Companhia Carril Agricola Funilense (inaugurada em 1899), que ligava Campinas a0 Funil, para escoamento da produc3o agricola da regio. Muitos povoados rnasceram ao redor de suas estagdes e chaves. ® Portal da Pefetura municipal de Paulina: htp://ww paulinia.sp govtr I Encontro da Associagdo Nacional de Pesquisa e Pés graduagSo om Arquitetura e Urbanism arquitetura, cidade e projeto: uma construgéo coletiva, ‘Sto Pao, 20%4 MENANPARG. Figuas.Implantagdo Usina Ester ~ amiga Fenda Fu aiicacse Seas de nteresseremanescenes Legenda: 1.2 S80 Faulo; 2. Via Opera; 3. Clie Funnse 8, nis; 5. Casa see da Fated Fun (demon), 6. Argo eco de estoragem se glcr7_Chaminé sa Usha Ett B Aigo alm.atado:9_ Amaze 10a da Ua Tonle: Caquea elaborada peta grupe de pesquisa Entre 1880 e 1890, 0 governo brasileiro, em parceria com grandes latifundidrios, deu inicio a projetos de imigracéo visando substituir a mao de obra escrava pela assalariada, mais cespecificamente estrangeira. Fugindo da miséria e do desemprego, muitos italianos da regiio do Véneto vieram a regio de Paulinia para trabalhar nas fazendas, alterando significativamente a realidade socioeconémica e cultural da regio. [A formacgo dos chamados “Nucleos Colonials” constituiu uma das formas de ocupacdo territorial a partir da mo de obra estrangeira: como forma de incentivar o cultivo das terras, lotes subdivididos das fazendas eram vendidos para brasileiros e estrangeiros, com pagamento faciltado a longo prazo, de modo a ocupar espacos e trazer riquezas para as algumas regides, além de ligar 0 imigrante de forma mais efetiva ao Brasil. A primeira tentativa feita na regio foi em terras da Fazenda Funil, em 1870. A Estrada de Ferro Funilense (Fig.6) teve grande participago no desenvolvimento da regio, rompendo o isolamento e interligando municipios. Dos povoados que se formaram ao longo da linha férrea, principalmente ao redor de suas estagdes e chaves, alguns se emanciparam, como os de Arthur Nogueira, Cosmépolis e Paulinia, 10 Ii Encontro da Associagdo Nacional de Pesquisa e Pés graduaco om Arquittura eUrbanisme arquitetura, cidade e projato: uma construgao coletiva ‘Sto Pao, 20%4 MENANPARG. Figura 6. Mapa como 5280, eagbes chavs da antiga Companhia Cat Agricola Funlense , feonon Laceneino ‘conn ARTYRNOGUEIRA No caso de Paulinia, a linha partia de Bardo Geraldo (estago Santa Genebra), passava por Capo Fresco (Betel) e Deserto (Santa Terezinha) pela atual avenida Gettlio Vargas, até a avenida José Paulino (antiga rua do Comércio). Passando pela estago de José Paulino (antiga rodovidria, j& demolida), seguia para Funchal, Jodo Aranha, Guathemozin (WASSALL, 2011). A cidade cresceu ao longo da rua do Comércio, ao redor da estagio e da igreja. O nucleo principal era formado por algumas casas, pequenos comerciantes, vendedores ambulantes, quituteiras e empregados da via férrea. A populacio passou a ser distribuida de acordo com a localiza¢do das fazendas na area rural, e da igreja na area urbana; por volta de 1930, a populacao rural suplantava em grande nimero a populagao urbana (MULLER, 1999), 0 decreto-lei n214334, de 1944 também emancipou Cosmépolis e Valinhos (antiga Rocinha), € elevou o Arraial dos Souzas (Souzas) e o de Rebougas (Sumaré) & condicio de Vila (BRITO, 1972). A partir dessa fase, a distribui¢io da populaydo comega a se fixar predominantemente na érea urbana. De forma geral, a migracdo de pessoas de outras cidades e regiées induziu a uma nova forma de identidade com os centros tradicionals das cidades da RMC e até mesmo uma dissolugo de particularidades em cada um deles. 0 surgimento de condominios fechados consolidou uma forma de vida confinada, diluindo a formacao de comunidades, afastando-as, de certa forma, dos problemas e do rumo do desenvolvimento das cidades em que residem. Essa dissolucio das relagdes contribuiu para 0 esvaziamento dos espacos piblicos, que perderam o significado diante de novas formas de lazer cada ver mais individualizadas e auténomas como & 0 caso dos shopping-centers no eixo da Rodovia Dom Pedro I (REIS, 2006). 1 Ii Encontro da Associagdo Nacional de Pesquisa e Pés graduacSo om Arquittura e Urbanismo arquitetura, cidade e projato: uma construgao coletiva ‘Sto Pao, 20%4 MENANPARG. ‘As duas cidades, portanto, apresentam transformagSes urbanas decorrentes de um desenvolvimento regional e so emblematicas para a compreensio das questées que afetam as cidades médias e pequenas da RMC. 3. PRESERVACAO E GESTAO DOS PATRIMONIOS ‘Apés uma pesquisa inicial nas paginas oficiais das municipalidades, foi possivel constatar que a maioria destas cidades no possui érgios especificos de preservago do patriménio cultural e, muitas vezes, so as secretarias de obras que atuam na manutenc3o geral dos edificios e espacos piblicos das cidades, tratados indistintamente. 0 6rga0 responsével pela gestdo cultural em Valinhos é a Secretaria de Cultura e Turismo. Nao existe no municipio uma legislag3o especifica e um drgio relacionado 4 protegio do Patriménio Cultural, apenas um Conselho Municipal de Cultura e um Fundo Municipal de Cultura®. Entre os bens tombados em nivel estadual, pelo Conselho de Defesa do Patriménio Histérico, Arqueol6gico, Artistico e Turistico (CONDEPHAAT) no hd iméveis urbanos, apenas 3 Sede da Antiga Fazenda Cacuté (desde 2005) e a Casa de Flavio de Carvalho (desde 1987)’. Porém, hd outros pontos que podem ser considerados de interesse cultural e turistico, tals como: a Capela de Nossa Senhora Aparecida (de 1930); a Estaclo Ferroviaria FEPASA (1872 reformada em 1910 e 1996) e Museu e Acervo Municipal Fotégrafo Haroldo Pazinatto (prédio do século XIX); a Matriz de Séo Sebastido (de 1944) e o coreto do Largo Séo Sebastido. Entre seus equipamentos culturais, podem ser citados: Auditério Municipal, Museu de Artes Joo do Monte; Biblioteca Publica Municpal; Galeria de Arte Ana Massara; Centro Cultural Vicente Musselli; Parque Municipal Monsenhor Bruno Nardini (espaco destinado a eventos). No caso de Paulinia, a Secretaria Municipal de Cultura, 6rgio responsével pela gestdo cultural, criou uma Lei de Incentivo & Cultura (Lei n® 2.887/2006), que prevé ao patrocinador cultural Gesconto no pagamento do Imposto sobre Servicos de Qualquer Natuteza (ISSQN) e/ou no pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Além disso, hd um Fundo Municipal de Cultura (Lei n® 2.864/2007), numa parceria entre secretarias e outros érgios, voltado para os bens de interesse turistco-cultural. Apesar disso, o municipio no possui nenhuma legislacdo especifica para gestio e salvaguarda do patriménio cultural e nenhum bem tombado ou registrado em nivel estadual ou federal ‘Apés o levantamento realizado nas duas cidades, constatou-se que ndo seria possivel adotar as Categorias tradicionais de enquadramento dos bens a serem preservados. Os edificios identificados, em geral, esto enquadrados nos conjuntos construidos, e estes, por sua vez, esto sempre relacionados aos espacos pilblicos (pracas, antigos caminhos, ruas], 0 que nio justificaria sua preservacdo isolada. No caso de Paulinia, a associacdo destes trés componentes @ responsavel por grande parte do que se poderia conceber como unidades de valor paisagistico, juntamente com as sedes de fazendas e parques. No caso de Valinhos, constatou- se uma itinerancia ou alternancia de importancia dos usos e apropriacées dos espacos pablicos. A localizagao destes espacos foi definida ao longo do tempo, juntamente com a S criados pelo Decreto Lei nt 4074/2006, " AGEMCAMP e CONDEPHAAT: Fonte: htpi/www-cultura sp gowisr ~ 13 de Outubro de 2008; disponivel em btt://wwr portalculturarme.agemeamsp gov br/index.php?option=com.content&view=artcled 2élangeptticod_mune562; 12 Ii Encontro da Associagdo Nacional de Pesquisa e Pés graduaco om Arquittura eUrbanisme arquitetura, cidade e projato: uma construgao coletiva ‘Sto Pao, 20%4 MENANPARG. ‘ocupagio do territério que pertencia a Campinas, apesar de mais tarde ter se desmembrado ‘como municipio independente. Em termos da gesto em nivel metropolitano, as cdmaras tematicas, descritas anteriormente, Possuem coordenadores e projetos independentes umas das outras e no existe um intercdmbio de informagio e experiéncia entre elas. Ou seja, 0 drgdo ¢ de Ambito metropolitano, mas os seus bragos técnicos, as camaras, atuam de forma setorial, tais como outras estruturas administrativas estatais ou municipais, reproduzindo 0 mesmo problema encontrado nas outras esferas de gestZo. Tal situaco foi possivel constatar em relacio as camaras de Turismo e Cultura, que apesar de possuirem temas relativamente préximos, apresentam um percurso e uma linha de discussdo restrita ao seu grupo. E tal fato ¢ justificado pelas diferentes abordagens destes setores, onde 0 Turismo é visto como setor de investimento econémico, posicionando-se préximo ao setor de Desenvolvimento Econémico (constatado pelo fato de que essas duas CTs - Turismo e Desenvolvimento Econémico possuem o mesmo coordenador). A CT do Turismo compete a organizacio de Inventarios € Roteiros Culturais/Turisticos, voltados para a divulgac3o das potencialidades da regio, principalmente em época de Copa do Mundo e Jogos Olimpicos. J a Cultura é vista como investimento social sem retorno financeiro. A cargo dela, ficam os eventos locais (como Viradas Culturais), feiras e festivais, festividades municipais, entre outros. E nesse contexto, 6 importante destacar o setor de Patriménio que fica entre a Cultura e o Turismo, sem ser fixado fem nenhum forum especifico. O tema parece causar até certo estranhamento entre os membros das CTs de Cultura e de Turismo. No caso da CT Cultura, o tema faz parte freqiente das discusses, sendo comentadas as iniciativas de certos municipios, sempre pontuais, de projetos de preservacio de memérias locals, de organizacdo de politicas publicas de preservacdo patrimonial. J4 no CT Turismo, o tema sé aparece relacionado a roteiros turisticos, ndo havendo nenhuma discussso sobre politicas de preservacSo do patriménio. N30 obstante, o fato de existir este forum supramunicipal é um indicativo de que a discusso e a prépria gestdo do patrimdnio, uma ver reconhecido seu cardter e importancia regional, pode encontrar na AGEMCAMP um articulador de politicas urbanas de preservacio. 4. A PRESERVACAO DE PATRIMONIOS DISPERSOS: NOVAS ABORDAGENS E CRITERIOS © patriménio urbano e arquitetdnico existente nas cidades médias e pequenas da RMC, entre outros aspectos, evaca a discussao sobre o valor pela diversidade, principalmente porque da forma como permanecem os vestigios em seus centros histéricos, a valoriza¢ao individual ndo seria adequada. Nao hé conjuntos integros preservados, no hd exemplares de distintos periodos justapostos, muitas vezes, no ha sequer continuidade espacial em sua formacdo transformaggo urbana que permita identificar uma linha do tempo. Esse aspecto dificulta a dogo de critérios e figuras patrimoniais jé consagradas. Por outro lado, a eriagao de conselhos e érgios municipais de preservago nos municipios do estado de Séo Paulo, apés a nova carta constitucional (1988), permitiu que houvesse uma mudanga na forma de identificagdo e valorizagdo do patriménio, incorporando novas abordagens e critérios para o enquadramento de patriménios de interesse local ou ‘comunitério, Em muitos casos, embora tenham sido criados dentro de 6rgaos ligados a cultura, migraram em seguida para as areas de turismo e desenvolvimento urbano ou planejamento. Porém, em pequenos municipios, onde no hd um setor de cultura, as questées de preservacio sio tratadas junto as secretarias de educagio ou de turismo, Portanto, mesmo 13 Ii Encontro da Associagdo Nacional de Pesquisa e Pés graduacSo om Arquittura e Urbanismo arquitetura, cidade e projato: uma construgao coletiva ‘Sto Pao, 20%4 MENANPARG. fem relagdo a institucionalizac3o das praticas de preservagao, hoje so encontrados distintos contextos de atuagio nas cidades paulistas. Por vérias circunstancias, conforme jé relatado, e a exemplo de outros contextos que apresentam certa hererogeneidade na constituigSo de seu arcabouco construldo, a avaliagso do carater patrimonial dos edificios, conjuntos e sitios, tem sido muitas vezes caso a caso, principalmente na iminéncia de uma interveng0 arquiteténica ou urbanistica (em muitos casos, em situagdes de conflito). Porém, é no momento de identifica¢o dos bens que é possivel rever e reelaborar critérios, na medida em que para cada cidade & necessério reconhecer processos ocorridos e em curso, tais como: a génese da ocupacdo dos territérios; os processos de urbanizagao e formagio de ndcleos ou centros principais; a intensidade, alterndncia e itinerdncia de usos e apropriacoes nos espagos puiblicos; os usos e intervengdes/subtracdes realizadas no tracado e nos edificios remanescentes de varios periodos. Somente a partir deste conhecimento, & que se inicia 0 trabalho de identificagdo dos espacos urbanos e edificios que possuem valor patrimonial, que no pode prescindir de uma consulta ou entrevista com os préprios moradores (permanentes ou temporrios) e usudrios. No caso das cidades da RMC, a transformacao do modo de vida rural para o urbano e a convivéncia de ambos, conforme aponta Nascimento (2004, p. 341-364), através do que chama de pluriatividade, & uma realidade bastante presente, constituindo uma dificuldade adicional em se definir territérios de identidade a partir de divisas municipais. Outro componente importante na formacéo do territério das cidades da regio so as industrias que ali se instalaram em substituigo as antigas fazendas, como é possivel constatar no caso da Usina Esther, que até hoje é referéncia local, responsavel pela formagi do municipio de Cosmépolis, embora inicialmente situada em Paulinia, onde 80% do seu quadro de funcionérios é composto por filhos ou parentes de ex-funciondrios, ou teve a Usina como tinico ‘emprego durante toda a vida, Por esta razéo, se procurou investigar novas formas de abordagem da questo patrimonial que partissem da leitura da constituigao fisica e da dinamica atual das cidades e retrocedesse as bases da formag3o dos territérios para a compreensio e identificagio de valores cultural. Novas figuras patrimoniais tiveram que ser avaliadas para contemplar 2 diversidade do patriménio existente nas duas cidades. Algumas destas figuras, como a do patriménio etnoldgico, iniciaimente utiizado apenas para a classificagao de expresses do folclore ou manifestacdes populares, foram retomadas, porém, considerando que hoje tais manifestagSes J4 no s3o mais restritas a um territério, a0 contrério, podem se manifestar ao mesmo tempo ‘em varios lugares, dado © poder de comunicacio e inclusio de novas praticas, Do ponto de vista urbanistico, o que anteriormente se considerava o entorno ou moldura de um patriménio edificado, hole pode constituir 0 Unico elemento coeso ou que prefigure um conjunto, para 2 compreenséo e preservacio da meméria urbana, j& que muitos dos edificios emblematicos que Ihe deram origem j4 desapareceram, demandando a criag3o de “zonas patrimoniais”, inscritas nos préprios planos urbanisticos mais gerais. 5. CONSIDERAGOES FINAIS Compreender as relagdes de identidade e meméria e os processos de formacéo e apropriagéo dos espacos puiblicos e dos edificios significativos das cidades de Valinhos e Paulinia seria 14 Ii Encontro da Associagdo Nacional de Pesquisa e Pés graduaco om Arquittura eUrbanisme arquitetura, cidade e projato: uma construgao coletiva ‘Sto Pao, 20%4 MENANPARG. quase impossivel sem considerar as alteragdes em suas estruturas urbanas, na constituicdo das populacdes e nas formas de gestio como decorréncia de sua inser¢do em processos de metropolizacao, sujeitas a fatores de indugo externos, como os processos de regionalizaco das atividades e de conurbacao fisica © dado teérico principal foi a constatagdo de uma mudanca nestes processos nas iitimas décadas do século XX, no Brasil, com a inversao de fluxos migratérios dos grandes centros para as cidades médias, com conseqliéncias para as pequenas, deixando de ser um fendmeno exclusivamente metropolitano, Portanto, 0 problema principal a destacar quanto ao método de identificagdo e selecdo do patriménio, & que ao considerar-se o deslocamento da populaco em funcao de mudancas, tanto na organizagao social quanto na produtiva, temos que admitir a existéncia de outras formas de valorizagSo e reconhecimento pela populagio - que resultam em distintos usos do espaco no tempo - que se traduzem em diversos aspectos culturais e fisico-espaciais, em especial, no valor atribuide & meméria, aos objetos patrimoniais. € ainda que diferentes praticas, atividades, ages e trajetorias, detectéveis nos movimentos da populacéo, correspondem a miltiplas dimensdes da realidade social, nas quais se incluem as relacdes de pertencimento (OLIVEIRA & OLIVEIRA, 2011), AGRADECIMENTOS ‘A FAPESP — Fundagdo de Amparo a Pesquisa do Estado de Sao Paulo, por viabilizar este trabalho. A equipe de pesquisa, em especial, as bolsistas Arquiteta Renata Ocanha Gées e Historiadora ‘Ana Laura Evangelista, pela dedicacdo e discusses 20 longo destes trés anos. REFERENCIAS BAENINGUER, R.A. Populago em Movimento, in: Fonseca, R: Davanzo, A. M. Q.; Negreiros,R. M. C {orgs Livro Verde: Desofios para a gestio da Regio Metropolitana de Campinas. Campinas: UNICAME, IE, 2002. ARITO, Jolumd. Histdria da Cidade de Paulinia V.1. Sie Paulo: indistria Grafica Saraiva, 1972. CANO, W., BRANDAO, C.A.A Regido Metropolitana de Campinas. Urbanizagto, economia, financas e meio ambiente. Campinas, Sdo Paulo: Editora da Unicamp, 2002. GUTMANN, C. Valor patrimonial dos Espasos Publics. Estudo de caso do centro de Valinhos ~ SP. Dissertagdo de Mestrado. Campinas: PUC-Campinas, 2011. Disponivel em: www.puc campinas.edu.br. Acess0: 20/10/2011. MATOS, Odilon Nogueira. Campinas, de freguesia 8 metrépole: um breve rote para a sua histéria, In Lilia Medrano; Jodo Miguel de Godoy (orgs). Campinas ~ visies de sua Histéria. Campinas: E. ‘tomo, 2006. MOLLER, Meire Terezinha; MAZIERO, Maria das Dores Soares. Paulinio: Histéria e Memério: dos tithos dda Cartil s chamas do progresso. Campinas: Ed. Komedi (edigfo bilingue), 2006. NASCIMENTO, Carlos Alves do. Pluratividade, pobreza rural eservigo doméstico remunerado. Rev. Econ. ‘Sociol. Rural fenline]. 2004, vo.42, .2 [eted 2013-04-14]. Disponivel em: http://www scielo.br/scielo. php?seript=sci_arttext&ipid=50103- +200320040002000088Ing=en&inrm=iso Acesso em 18/02/2013. 15, I Encontro da Associagdo Nacional de Pesquisa e Pés graduagSo om Arquitetura e Urbanism arquitetura, cidade e projeto: uma construgéo coletiva, ‘Sto Pao, 20%4 MENANPARG. DOLIVEIRA, L.A. P. de, OLIVEIRA, A.T.R. de (Org.] Reflexdes sobre os deslocamentos populacionais no Brasil. Estudos e Anélises J Rio de Janeiro: |8GE, 2011. PITU Plano Integrado de Transportes Urbanos /RMC/201S. Relatérios. Campinas: Governo do Estado de Sé0 Paulo, 2010. Secretaria dos transportes Metropalitanos, Disponivel em: htip://www.stm.sp.gov-br/images/stories/Pitus/Pitu2015/index.html. Acesso: 15/11/2022. PMHIS - Piano Metropolitano de Habitacio de Interesse Social. AGEMCAMP - Agéncia Metropolitana de Campinas, Campinas, 2010. Disponivel em: http://www.agemcamp.sp.gov.br/. Acess0 em: 1/31/2010. REIS, N. 6. Notas sobre urbanizagao dispersa e novas formas de tecido urbano. Séo Paulo: LAP/FAPESP/Via das Artes, 2006, \WASSALL, LJ. Urbanizacio descontinua:fronteiras e novas centralidades. Estude de caso do municipio de Paulinia/SP, Dissertarto de Mestrado. Campinas: PUC-Campinas, 2013. D'sponivel em http://www.puc-campinas.edu.br/pos-graduacao/strcto-sensu/programa-de-posgraduacao-em- Urbanismo/teses-e-dissertacoes/ . Acesso: 10/10/2012. 16

Você também pode gostar