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PROPRIEDADES DOS AEROSSÓIS ATMOSFÉRICOS COMO

NÚCLEO DE CONDENSAÇÃO DE NUVENS


Rubens Fabio Pereira∗ and Maria de Fátima Andrade†

Universidade de São Paulo


Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Departamento de Ciências Atmosféricas

Data:7 de fevereiro de 2019

Resumo
Quatorze artigos de diferentes regiões do Brasil foram escolhidos para apresentar um panorama
sobre as pesquisas da composição química, iônica e acidificação da precipitação em âmbito
nacional, em um período de aproximadamente dezesseis anos (1997 -2013). Foram extraídas
informações pertinentes sobre as características gerais de cada experimento (fontes emissoras
de poluentes, área territorial do município, população local, método de amostragem, etc.),
dos índices de pH e íons majoritários (SO42− , N O3− , carbono orgânico dissolvido (COD), K + ,
N H4+ , H + , M g 2+ , N a+ , Cl− ) além de relatar brevemente as conclusões inferidas por cada
autor. Constatou-se a real importância das pesquisas a respeito da composição química e iônica
da precipitação pela sua eficiência em retratar particularidades da atmosfera, permitindo
descrever fontes emissoras de compostos químicos de origem antropogênica, biogênica, marinha
e geológica. Contudo, é perceptível que o Brasil apresenta grandes extensões sem quaisquer
informações acerca do contexto tratado, condensando a maioridade das pesquisas nas regiões
sudeste e sul, deixando transparecer que ainda carece de incentivos e fomento adequado que
permita uma produção cientifica mais abrangente do ponto de vista territorial, como nos
moldes europeus.

Palavras-chave: Água de chuva, pH, Composição Iônica,Deposição úmida


E-mail: rubens.pereira@usp.br

E-mail: maria.andrade@iag.usp.br

1
Introdução poeira do solo); (2) derivados de aerossóis de sal
marinho e (3) vindas de fontes antropogênicas
Desde o início da vida na Terra, ani- (agricultura, indústria, queima vegetação e com-
mais e plantas sofrem influencias das substân- bustíveis fósseis e fertilizantes) (??) No Brasil,
cias tóxicas dispersas na atmosfera. Com a che- ao contrário do que encontramos em relação a
gada da revolução industrial, as ações antropo- deposição seca, não temos redes de monitora-
gênicas as começaram a interferir ainda mais mento continuo que registrem informações sobre
sobre a circulação biogeoquímica da terra. (??). a deposição úmida. Nesse trabalho selecionamos
Nas últimas décadas, a composição química das quatorze artigos de diferentes regiões do Brasil
águas de chuva tem recebido crescente atenção para representar um panorama sobre as pesqui-
e sendo fruto de numerosos estudos ao redor do sas da composição química, iônica e acidificação
mundo, fornecendo informações sobre a compo- da precipitação em âmbito nacional, por um pe-
sição atmosférica, identificando o potencial quí- ríodo total de aproximadamente dezesseis anos
mico da deposição úmida(??). A monitoração (1997 -2013).
continua da composição química da precipitação
nos fornece informações acerca das característi-
cas da atmosfera e conseguem descrever como Metodologia
ocorrem suas interações com inúmeros processos
antropogênicos e biogeoquímicos. Essa avaliação Neste artigo Quatorze estudos foram
contribui para a compreensão de muitas ques- selecionados com o propósito de descrever as
tões ambientais contemporâneas importantes, configurações químicas da precipitação em dife-
como por exemplo, poluição atmosférica, acidifi- rentes regiões e cidades do Brasil e demostrar a
cação, eutrofização de ecossistemas e alterações abrangência das pesquisas sobre água de chuva
climáticas (??). pelo território brasileiro em um período total
Podemos dizer que a precipitação tem de 16 anos (1997-2013). Destes quatorze arti-
sua composição química formada pela combi- gos, nove contam com informações sobre o pH
nação da composição química contida nas gotí- e incluem a análise de grandes ânions e cáti-
culas que formam as nuvens e das varias subs- ons (SO42− ,N O3− ,K + , N H4+ , H + , M g 2+ , N a+ ,
tâncias (aerossóis e gases) que se incorporam Cl− ) quatro somente a concentração iônica e
às gotas de chuva a medida que elas percorrem um deles limita-se a discutir as concentrações
camadas atmosféricas. Desta forma, podemos de potássio e compostos orgânicos dissolvidos
concluir que a composição química da água (COD) (??). A figura 1 ilustra de forma intui-
da chuva retrata as características atmosféricas tiva a distribuição dos estudos pelo território
locais. Como evidencias, podemos citar a varia- brasileiro. Na tabela 1 ao lado temos a relação
ção da composição química da precipitação em das cidades, numeração esta idêntica a apre-
relação ao tempo e ao longo do evento de preci- sentada na tabela 2, que possui as informações
pitação e, inversa relação entre o total de íons dos artigos relacionados. Vale ressaltar para que
dissolvidos e a quantidade de chuva precipitada, fique claro, os artigos enumerados como 2,6,7,8
sugerindo que a maior parte dos íons presentes e 12 de (??),(??),(??),(??) e (??) respectiva-
na água da chuva se incorpora a ela durante a mente foram subclassificados como itens "a"e
precipitação, processo conhecido como remoção "b"ou por haver mais de um local de amostra-
abaixo da nuvem (“below-cloud removal”).(??). gem no mesmo estudo (em 2,6,8 e 12) ou por
As dissoluções dos componentes da relatarem mais de um método de amostragem (
água da chuva podem ser divididos em três gru- Bulk e Wet-Only) para um mesmo experimento,
pos:(1) aerossóis terrestres (emissão biológica e como em 7.

Figura 1 – Mapa com a localização geográfica de cada região/cidade relacionada nos artigos
citados

2
Tabela 1 – Região do pais, localidade e íons analisados por artigo

Região Localidade Análise

1 Sudeste Ribeirão Preto (SP) K + , COD


2− −
2a Sudeste PEFI* (SP) SO4 , N H4+ , H + , M g 2+ , N O3 , N a+ , Cl− , K +
2− −
2b Sudeste Cunha (SP) SO4 , N H4+ , H + , M g 2+ , N O3 , N a+ , Cl− , K +
2− −
3 Sudeste Piracicaba (SP) pH, COD, SO4 , N H4+ , H + , M g 2+ , N O3 , N a+ , Cl− , K +
2− −
4 Sudeste Juiz de Fora (MG) pH, SO4 , N H4+ , M g 2+ , N O3 , N a+ , Cl− , K +
2− −
5 Sudeste Ilha Grande (RJ) pH, SO4 , N O3 , K + , N H4+ , H + , M g 2+ , N a+ , Cl−
2− −
6a Sudeste Cubatão (SP) SO4 , N O3 , , N H4+
2− −
6b Sudeste São Paulo (SP) SO4 , N O3 , , N H4+
2− −
7a Sul Londrina (PR) pH, SO4 , N O3 , K + , N H4+ , H + , M g 2+ , N a+ , Cl−
2− −
7b Sul Londrina (PR) pH, SO4 , N O3 , K + , N H4+ , H + , M g 2+ , N a+ , Cl−
2− −
8a Sul Candiota (RS) pH, SO4 , N O3 , K + , N H4+ , H + , M g 2+ , N a+ , Cl−
2− −
8b Sul Candiota (RS) pH, SO4 , N O3 , K + , N H4+ , H + , M g 2+ , N a+ , Cl−
2− −
9 Sul Porto Alegre (PR) pH, SO4 , N O3 , K + , N H4+ , M g 2+ , N a+ , Cl−
2− −
10 Sul Figueira (PR) pH, SO4 , N O3 , K + , N H4+ , H + , M g 2+ , N a+ , Cl−
2− −
11 Centro-Oeste Cuiabá (MT) pH, SO4 , N O3 , H + , Cl−
2− −
12a Norte Tabatinga (AM) pH, SO4 , N O3 , K + , H + , M g 2+ , N a+ , Cl−
2− −
12b Norte Boa Vista (RR) pH, SO4 , N O3 , K + ,H + , M g 2+ , N a+ , Cl−
2− −
13 Norte Balbina (AM) pH, SO4 , N O3 , K + , N H4+ , H + , M g 2+ , N a+ , Cl−
2− −
14 Nordeste Mundaú (CE) pH, SO4 , N O3 , K + , N H4+ , H + , M g 2+ , N a+ , Cl−

Tabela 2 – Ano de realização do experimento, métodos de amostragem utilizados e autores.

Ano n Método de Amostragem Referência


1 2004-2007 193 Wet only (??)
2a 1999-2001 70 Wet only (??)
2b 1999-2001 75 Wet only (??)
3 1997-1998 64 Wet only (??)
4 2010-2011 50 – (??)
5 2002 21 Wet only (??)
6a 2009-2010 95 Wet only (??)
6b 2009-2010 58 Wet only (??)
7a 2002 350 Bulk (??)
7b 2002 350 Wet only (??)
8a 2001 N.A Bulk (??)
8b 2001 N.A Bulk (??)
9 2002 107 Bulk (??)
10 1999-2000 73 Bulk (??)
11 2006 38 Bulk (??)
12a 2006 82 Wet only (??)
12b 2006 82 Wet only (??)
13 1998-2001 87 Wet only auto. (??)
14 2013 35-39 Bulk (??)

Discussões e resultados

Na Tabela 3 temos elencados os va- cia de concentrações muito altas (baixas) que
lores das concentrações iônicas de cada artigo ocorrem em chuvas muito fracas (fortes) (??).
referenciado na tabela 2. Ele estão mensurados Dividimos as análises por macrorregiões do Bra-
pela média ponderada pelo volume (MPV) e a sil e representamos as concentrações iônicas em
unidade escolhida foi µeql−1 . (Devidas conver- "pie-charts"que facilitam mensurar visualmente
sões a partir dos artigos originais foram provi- a proporção de cada cátion/aníon em relação a
denciadas); O MPV foi escolhido como método concentração iônica total. Durante as analises,
de representação das concentrações iônicas, pois para dinamizar o referenciamento, por vezes in-
em estudos sobre a composição química/iônica dicaremos os artigos pela numeração atribuída
da precipitação é importante limitar a influên- a ele na tabela 2.

3
Tabela 3 – Concentrações iônicas em média ponderada pelo volume (MPV) (µeql−1 )
pH SO42− N O3− DOC K+ N H4+ H+ M g 2+ N a+ Cl−
1 n.a n.a n.a 24,5 3,8 n.a n.a n.a n.a n.a
2a n.a 23,7 65,2 n.a 11,0 59,9 47,2 4,4 15,5 27,7
2b n.a 4,2 8,0 n.a 8,6 38,0 4.14 2,3 8,3 14,4
3 4,5 18,7 16,6 8,5 2,9 17,1 33,0 2,3 2,7 7,0
4 5,77 14,2 16,2 n.a 7,1 20,8 n.a 24,1 25,0 17.3
5 5,2 34,8 12,1 n.a 7,1 9,9 6,0 40,4 142,2 17,2
6a n.a 49 18 n.a n.a 23,5 n.a n.a n.a n.a
6b n.a 14 17,8 n.a n.a 25,5 n.a n.a n.a n.a
7a 5,5 33,8 33,7 n.a 2,9 13,9 3,4 n.a 3,3 21,8
7b 5,8 54,4 31,0 n.a 1,7 13,7 1,7 n.a n.a 17,9
8a 4,9 20,9 17,0 n.a 5,8 26,4 12,5 6,7 20,3 25,1
8b 5,2 16,9 15,3 n.a 6,9 21,4 6,9 6,2 15,9 19,9
9 5,4 72,1 12,9 n.a 17,2 113,0 n.a 16,8 44,7 37,3
10 4,9 69,0 13,0 n.a 10,0 30,0 14,0 12,0 35,0 16,0
11 5,2 2,6 3,9 n.a n.a n.a 6,6 n.a n.a 1,4
12a 6,1 3,8 11,2 n.a 2,0 n.a 20,2 1,2 8,7 4,9
12b 4,5 3,2 4,8 n.a 4,5 n.a 63,0 8,8 55,9 10,2
13 4,9 3,4 5,4 n.a 1,5 3,7 12,6 1,9 3,8 5,2
14 5,2 20,7 6,8 n.a 11,3 8,7 6,9 20,8 65,5 96,8

Região Sudeste do vento, temperatura e umidade relativa do ar


com resolução horaria (??). Mas nenhuma me-
Dentro do conjunto de estudos que dida foi implementada para avaliar a deposição
compõem esse artigo, a região sudeste é aquela úmida, entre muitas razões para isso, o custo da
que conta com maior número de pesquisas caracterização química de águas pluviais parece
acerta da composição química e iônica da preci- ser o mais significativo (??).
pitação totalizando 6 autores (Tabela 2 [1] [6]). A caracterização dos íons majoritários
O favorecimento dessa região pode ser reflexo e acidez são os principais aspectos abordados
de uma série de fatores como a implantação nos artigos da região sudeste do brasil; mas te-
precoce de redes de monitoramento de poluen- mos alguns estudos de casos mais específicos
tes em relação as demais regiões do pais, como como por exemplo em [1]. Nele foi analisado
as instaladas na região metropolitana de São os impactos da queima da palha da cana de
Paulo (RMSP) em meados de 1972 e no Rio açúcar para o aumento das concentrações de
de Janeiro em 1996. Além desses fatores, temos carbono orgânico dissolvido (dissolved organic
ainda a proximidade a grandes centros urbanos carbon (DOC)) e potássio - traçador da queima
(com fontes de poluentes antropogênicos) e de de biomassa- na precipitação. Na figura 2 [1]
pesquisa. Nos anos 80, com a implementação da observamos que se comparado com [3], único
rede automática na RMSP temos disponibiliza- estudo que também analisou as concentrações
das informações sobre a deposição seca de SO2 de DOC, [1] é uma região onde esse composto é
, material particulado inalável (MP10), ozônio mais presente, com 24,5 e 8,3 µeql−1 respectiva-
(O3 ), óxidos de nitrogênio – (NO,N O2 e N Ox ), mente. Segundo (??) os fatores determinantes
monóxido de carbono – (CO) e hidrocarbonetos para as concentrações de DOC estão relacio-
não-metânicos – (NMHC), além dos parâme- nados com a combustão de combustível dos
tros meteorológicos como direção e velocidade automóveis, ressuspensão do solo,

Figura 2 – Distribuição percentual e valores absolutos dos íons (µeql−1 ) elencados nos artigos
[1], [2a], [2b] e [3]

transporte de longo alcance e queima pratica da queima da palha da cana era utili-
de biomassa, com influências sazonais devido zada de forma mais extensiva no estado. Em 15
a atividade agrícola no chamado “cinturão de de Março de 2018 foi instaurara pela SECRE-
cana-de-açúcar brasileiro”. O experimento do TARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE
artigo é datado de 1999 a 2001 (tabela 2) e a a resolução 26, que define uma série de restri-

4
ções para esta pratica, visando diminuir seus , em ordem decrescente foi: Ca2+ (16,91%),
impactos para o meio ambiente e saúde (??). N a+ (11,55%), HCO3− (10,42%), N H4+ (10,14%),
− − 2+ (7,18%),
Uma comparação entre a composição N O3 (7,47%), Cl (7,3%), M g
2− + +
química da água de chuva de duas cidades com SO4 (5,45%), K (3,51%), H3 O (1,93%) além
características distintas, mas inseridas em um de outros 18,14% atribuídos a íons não detec-
mesmo bioma é descrito por (??). Em [2a] (fi- tados. Notem que os percentuais apresentados
gura 1) o Parque Estadual das Fontes do Ipi- na figura 3 [4] diferem dos acima exibidos por
ranga (PEFI) situado na RMSP e, em [2b] (fi- contarem com um número inferior de íons re-
gura 1) Cunha, interior do estado de São Paulo, lacionados. Em respeito a acidez, o pH médio
+
de área circundada por pequenas vilas e propri- observado foi de 5,77 (tabela 3 [4]). Ions N a ,
2−
edades rurais. SO4 mostraram possuir origem marinha ou
não, SO42− tendo contribuições de origem antro-
A composição química da água de
pogênica, enquanto N a+ possui fontes oriundas
chuva entre as duas localidades diferem prin-
de ressuspensão de solo. Cl− limitou-se a origens
cipalmente nas concentrações de H + , SO42− e
do sal marinho, M g 2+ , K + e Ca2+ ressuspen-
N O3− (figura 2 [2a] e [2b] ). Tal distinção se dá
são e como dito anteriormente, N H4+ e N O3− ,
grande parte em razão do menor fluxo de com-
fontes antropogênicas. (??)
postos de origem antropogênica em Cunha em
relação a PEFI e, demonstra como a ocupação O estudo seguinte [5] foi realizado
humana é relevante para o meio. (??). (??) es- da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
tudou a composição química e acidez de quatro (UERJ), costa sul da Ilha Grande (figura 1 [5]) ,
cidades do interior de São Paulo, dentre as quais a aproximadamente 100 m de distância do mar
Piracicaba foi selecionada para integrar esse ar- . A Ilha Grande está situada na baía da Ilha
tigo em virtude de suas características mistas Grande e integra o município de Angra dos Reis.
em relação aos estudos [1] e [2a-b]. Piracicaba É a terceira maior ilha brasileira, com quase
2
(figura 1 [3]) possui índices mais elevados de 190 km de área, a aproximadamente 100 km
urbanização em relação a Cunha, mas inferior do centro da cidade do Rio de Janeiro e 250 km
em relação a RMSP, também faz parte do cin- do centro da cidade de São Paulo, sendo sujeita
turão da cana de açúcar e possuiu propriedades à influência de poluentes atmosféricos gerados
rurais em suas proximidades. Todavia, não in nos grandes centros urbanos e industriais dos
tegra a faixa referente a mata atlântica. O íon estados do Rio de Janeiro e, possivelmente, São
mais abundante em MPV médio anual foi H + Paulo.(??)
, seguido por SO42− > N H4+ > N O3− > DOC O pH medido em MPV foi 5,22, os
> Cl− > K + > N a+ > M g 2+ e acidez média íons majoritários por sua vez, devido a proximi-
de 4,5. O autor concluiu que concentrações de dade do coletor com o oceano foram Cl− (41%)
M g 2+ são influência direta de ressuspensão de e N a+ (33%), seguidos por M g 2+ (9%) e SO42−
solo, Cl− e K + com queima de biomassa (cana (8%). Segundo o estudo, estimou-se que valores
de açúcar), H + com SO42− e N O3− e fator de excedentes em relação as parcelas procedentes
acidez orgânica, com DOC. do aerossol de sal marinho, foram: Cl− (7%),
2−
Saindo um pouco das regiões próxi- M g 2+ (20%), Ca2+ (32%), K + (56%) e SO4
mas a costa em direção a partes mais centrais (51%).
do pais, temos o estudo [4] publicado por (??) A cidade de Cubatão (figura 1 [6])
em 2014. Esse trabalho investigou uma série ficou mundialmente conhecida como "vale da
de elementos traço contidos na precipitação em morte"na década de 80 em virtude da grave
fevereiro de 2010 e 2011 e, além dos íons re- contaminação do ar por compostos de origem
lacionados na figura 3 [4] estudou a presença industrial, sendo classificada pela ONU como
de alguns metais traço como Cu2+ e Zn2+ e, a cidade mais poluída do mundo. Houve casos,
do peroxido de hidrogênio (H2 O2 ) na cidade como o ocorrido na atmosfera de Vila Parisi,
mineira. em que foram atingidos níveis altíssimos de con-
Elencando os valores médios de forma centração de material particulado no ar, que
percentual (??) definiu que a contribuição levaram à redução e mesmo à paralisação de ati-
individual dos íons em Juiz de Fora foi vidades de várias indústrias. (??) Em 1983 um

5
plano de recuperação ambiental foi instaurado Paulo, além de estarem acima do indicado pela
pela CETESB (Companhia Ambiental do Es- organização mundial de saúde como adequadas.
tado de São Paulo) e, em 1989, todas as fontes ja Segundo esse trajeto, em 1992 o município che-
estavam basicamente controladas e dentro da le- gou a ser mencionado pela ONU como modelo
gislação estipulada, ainda que as concentrações de recuperação ambiental, ressaltando o sucesso
locais de SO2 ainda fossem mais expressivas que das medidas aplicadas pela CETESB, como por
em cidades vizinhas mais populosas como São exemplo, a "operação inverno"(??)

Figura 3 – Distribuição percentual e valores absolutos dos íons (µeql−1 ) elencados nos artigos
[4], [5], [6a] e [6b]

No estudo [6] foram coletadas amos- PROMOT (Programa de Controle da Poluição


tras de água de chuva tanto em Cubatão (figura do Ar por Motociclos e Veículos Similares)(??).
3 [6a]) quando em São Paulo (figura 3 [6b]) de Mostrou-se ainda que de 1983 e 2003, a ten-
julho de 2009 a agosto de 2010, usando "wet dência da acidez livre da água da chuva em
only"como metodologia de amostragem. Nos São Paulo decresceu e, as concentrações de sul-
gráficos notamos que embora ambas localida- fato caíram de 33±35µmolL−1 entre 1989–1990
des possuam concentrações similares de N H4+ para 19±18µmolL−1 entre 2002-2003. (??)
e N O3− , Cubatão apresenta 2,7 vezes mais sul-
fato em suas amostras. Segundo dados divulga-
Região Sul
dos no Relatório de Qualidade do ar do estado
de São Paulo para o ano de 2017, Cubatão - A região sul é representada nesse tra-
Vila Parisi ainda apresenta em sua distribui- balho por 4 artigos, eles retratam alguns ca-
ção percentual anual da qualidade do ar para sos particulares interessantes ao discutirem a
SO2 uma parcela relevante de eventos em que composição química da precipitação. Em (??)
as condições atmosféricas não são consideradas o autor além de como de costume analisar a
boas, sendo 15,8% classificadas como moderada composição iônica e acidez que compõem a pre-
e 2,9% ruim(??). Por sua vez a RMSP apre- cipitação em Londrina-PR (figura 1 [7]), com-
senta 100% dos dias classificados como quali- para os resultados obtidos por dois diferentes
dade boa para SO2 . Não podemos deixar de métodos de amostragem, "wet-only"e "bulk". A
ressaltar que o controle das emissões de SO2 pesquisa de (??) apresentou resultados para o
também foram reflexo direto de programas de período de 1998 a 2002, mas por simplicidade,
controle de poluentes de origem veicular, como detalharemos somente o ano de 2002 neste ar-
o PROCONVE (Programa De Controle De Po- tigo. No estudo seguinte ([8]) é retratado uma
luição Do Ar Por Veículos Automotores)(??) e região com características peculiares.

Figura 4 – Distribuição percentual e valores absolutos dos íons (µeql−1 ) elencados nos artigos
[7a], [7b], [8a] e [8b]

A cidade de Candiota (figura 1 [8]), remos os resultados de duas das quatro estações
situada a 420 km de Porto Alegre, tem em suas de amostragem mencionadas pelo autor: Aceguá
proximidades estabelecimentos que são virtual- e 8 de agosto, as coletas foram feitas em 2001
mente possíveis fontes de emissões de poluentes; com método "bulk". Em (??) duas localidades
como uma companhia de mineração de carvão, dentro da região metropolitana de Porto Ale-
indústrias de cimento, de calcário, além de uma gre (figura 1 [9]) foram pesquisadas: a cidade
grande Usina Hidrelétrica(??). Aqui apresenta- de Porto Alegre e Charqueadas, região tam-

6
bém denominada como Bacia Hidrográfica do camente na mesma proporção (figura 4 [8a] e
Guaíba (BHG). A área possui tanto fontes fixas [8b]), em ordem decrescente : N H4+ > Cl− >
quanto móveis, dentre as quais estão um Com- SO42− ∼ N a+ > N O3− > K + ∼ H + ∼ M g 2+ .
plexo Industrial Petroquímico, uma Siderúrgica Relevando-se a concentração iônica encontrada,
e duas usinas a carvão e, como é de se espe- considerou-se que a precipitação sofreu a influên-
rar de uma grande região metropolitana, uma cia de várias fontes: (I) da brisa do mar para
relevante frota veicular. As características do es- N a+ e Cl− em todas as estações, (II) agricul-
tudo são apresentadas na tabela 2. Concluímos tura e criação de gado (N H4+ 24,1µeql−1 /ano
a apresentação da região sul com (??). A avali- em Aceguá , (III) mineração de calcário e (IV)
ação da composição iônica e pH da precipitação central elétrica a carvão (SO42− 20 µeql−1 /ano
foi realizada a nordeste do Estado do Paraná estação Aceguá)(??).
na cidade de Figueira (figura 1 [10]), localidade O pH obtido por coleta bulk na (BHG)
com características rurais e, onde desde 1963 em MPV o valor de 5,4 (tabela 3 [9]) indicando
está em operação uma usina de termoelétrica precipitação ácida. Os íons de maior concentra-
alimentada a carvão. Para caracterizar os possí- ção foram N H4+ , SO42− e N a+ ( figura 5 [9]).
veis impactos da usina a região, foram definidos Sulfato sendo relacionado a fontes antropogêni-
dois locais de amostragem: a) próximo a usina cas, segundo fatores de enriquecimento médios
e b) próxima a residência dos trabalhadores da (FE) (??). Finalmente, observamos na figura 5
usina, distante 5km do ponto a). Na figura 4 [10] que altos teores de sulfato, sódio e amônio
observamos nos gráficos [7a] e [7b] que para o foram identificados na região de Figueira.
ano de 2002 de as concentrações iônicas não tem Tratando-se de uma atmosfera sob in-
grande diferenciação em relação aos métodos de fluência de uma usina a carvão, espera-se que
amostragem "Bulk"e "Wet Only", salvo o caso do ela contenha altos índices de SO2 , justificando
SO42− , que em MPV anual registrou 33,8 µeql−1 a concentração de sulfato. Os dois pontos de
e 54,4 µeql−1 respectivamente. O pH para 5,5 coleta, (a) e (b), mostram diferenças significa-
("Bulk") e 5,8 ("Wet Only"), mostrando leve aci- tivas em suas concentrações. O ponto (b) não
dez. Observou-se boa correlação do par K + e está localizado na região influenciada pela di-
Cl− para ambos os coletores, salientando que reção majoritária do vento, onde a influência
possuem mesma origem, a queima de biomassa. da pluma oriunda da usina é menos relevante.
Ainda segundo (??) a relação de espécies iônicas Ainda assim, as taxas de sulfato (69µeql−1 , va-
indicam prevalecimento de emissões de origem riando entre 4.4-608µeql−1 ) são mais altas do
natural e antropogênicas. que as encontradas em regiões industrializadas
Em Candiota, as estações de coleta do pais, como São Paulo, onde variam entre
Aceguá e 8 de Agosto assim como em Londrina, 5µeql−1 e 89µeql−1 )(??) , (??). Referindo-se
também apresentaram concentrações muito pró- ao pH, foi encontrado valor de 4,9, indicando
ximas uma da outra, com íons presentes prati- acidez na precipitação local (MPV).

Figura 5 – Distribuição percentual e valores absolutos dos íons (µeql−1 ) elencados no artigo [9] e
[10]

Região Centro Oeste total de 15.660.988 habitantes (??). Talvez re-


fletindo esse índice, a região centro-oeste não
conta com número expressivo de estudos sobre
Da região centro-oeste escolhemos
a composição química da precipitação se com-
como representante estudo executado em
parado com o restante do pais, daí a razão de
Cuiabá-MT (figura 1 [11]), no ano de 2006. Dada
somente um artigo integrar nossa discussão. A
a grande extensão territorial desta região com
época do estudo a população estimada de Cui-
1.606,371 Km2 , ela possui a menor população
abá era de 800 mil habitantes, sendo a frota
por região nacional de toda confederação, se-
veicular e focos de queimada urbana as prin-
gundo dados de Julho de 2016, estimava-se um

7
cipais responsáveis pela emissão de poluentes, (6,6µeql−1 ) e apresenta baixa concentração de
com setor industrial não expressivo e sem emis- aníons: nitrato N O3− (3,9µeql−1 ), sulfato SO42−
sões significativas de poluentes (??). No citado (2,6µeql−1 ) e cloreto Cl− (1,4µeql−1 ). O pH me-
artigo (tabela 2 [11]) estudou-se a composição dido foi 5,2. Segundo o estudo observa-se através
química e acidez da precipitação na cidade de do SCU que a neutralização da acidez da chuva
Cuiabá-MT, de 21 de fevereiro a 02 de julho pode estar ligada às ações antrópicas na região,
de 2006. Foram coletadas 38 amostras no total como a calagem. E a configuração iônica indica
e, a análise feita sob a concepção do Sistema a existência de chuvas limpas, pressupondo-se
Clima Urbano (S.C.U.)(??), (??). Valores ilus- que Cuiabá representa área continental ainda
trados na figura 6 mostram que a composição não impactada com atividades antrópicas(??).
iônica em Cuiabá é dominada pelo cátion H +

Figura 6 – Distribuição percentual e valores absolutos dos íons (µeql−1 ) elencado no artigo [11]

Região Norte e Nordeste

Concluindo o estudo, apresentamos dicativo(??). Balbina (AM) (figura 1 [13]) esta


três artigos (tabela 2 12[a,b], 13 e 14) que re- remotamente localizada a aproximadamente 200
tratam as condições da química das águas de km ao norte de Manaus e configura uma região
chuva para as regiões Norte e Nordeste. não influenciada significativamente por emis-
sões de poluentes como queima de biomassa ou
O artigo 12 estudou vasta extensão por atividades agrícolas em suas proximidades.
territorial na porção oeste da Amazônia durante É nessa região que se desenvolveu durante três
todo o ano de 2006, procurando inferir quais anos e meio o estudo 13. Durante a pesquisa fo-
constituintes atmosféricos foram originados de ram obtidas tanto amostras de aerossol (MP2.5
fontes oriundas da queima de combustíveis fos- e MP10) quando de água de chuva.
seis, queima de vegetação local ou emissões na-
turais, influenciando a composição química da Observando o gráfico [13] da figura
precipitação. Ao todo, o estudo selecionou seis 7, percebemos que as concentrações iônicas fo-
estações de coleta em dois eixos ortogonais de ram parecidas com as obtidas na estação Taba-
1000 km cada. Foram eles: Boa Vista e Manaus tinga (figura 7 [12a]) citada no artigo anterior.
(estações de Norte a Sul) e Parintins, Itapiranga, (??) esclarece que tais concentrações são fre-
Tabatinga, Manaus (estações de leste a oeste). quentemente observadas em pontos remotos de
Para suprir os propósitos desse artigo, escolhe- florestas tropicais. Acrescentando que o pH de
mos as estações de Tabatinga (AM)(figura 1 caráter ácido é resultado de compostos de ori-
- 12a) e Boa Vista (RR)(figura 1 - 12b) e os gem orgânica, mais especificamente um ácido
índices obtidos para os íons estão ilustrados fraco comum em regiões de mata preservada, o
na figura 7, também itens 12a e 12b. Em am- ácido acético. Por fim, o artigo 14 representa
bas localidades o cátion majoritário foi o H + a parte nordeste do Brasil com estudo execu-
com 20,2 µeql−1 e 63 µeql−1 para Tabatinga e tado dentro do semiárido cearense, na região da
Boa vista respectivamente. A química da pre- bacia de Mundaú (figura 1 [14]). As atividades
cipitação é influenciada primeiramente pelos antropogênicas nas proximidades de maior re-
ciclos de evaporação e precipitação durante a levância são a agricultura de sub existência e
trajetória oeste do Oceano Atlântico. Tabatinga a utilização de lenha obtida das matas locais.
foi descrita pelo autor (dentre as estações que A pesquisa foi realizada em 2013 e o local de
selecionamos) como uma estação com carga quí- amostragem dista litoral 140 km do litoral. A
mica baixa, com água da chuva mais pura. Boa figura 7 [14] nos mostra que os íons de maior
Vista por sua vez, seria influenciada por fontes abundancia foram o Cl− e o N a+ , com 96,8
antropogênicas, sendo seu pH baixo (4,5) o in- e 65,6 µeql−1 respectivamente, representando

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juntos 68% da totalidade dos íons identificados, associados com aerossóis de origem biogênica e
sinalizando que a amostra sofreu forte influên- ressuspensão do solo, N H4+ com excrementos
cia de compostos de origem marinha. M g 2+ foi de animais e fontes agrícolas e N O3− associado
originado possivelmente de poeira do solo, K + a nitrificação do solo (??)

Figura 7 – Distribuição percentual e valores absolutos dos íons (µeql−1 ) elencado nos artigos
[12a], [12b], [13] e [14]

Conclusões extensões territoriais sem quaisquer informa-


ções acerca do contexto tratado, condensando a
Com todo material apresentado neste maioridade das pesquisas nas regiões sudeste e
trabalho, constatou-se a real importância das sul, assim demonstrando que ainda carece de in-
pesquisas a respeito da composição química e iô- centivos e fomento adequado que permita uma
nica da precipitação pela sua eficiência ao retra- produção cientifica mais abrangente como nos
tar particularidades da atmosfera, permitindo moldes europeus.
descrever fontes emissoras de compostos quími-
cos de origem antropogênica, biogênica, mari-
nha e geológica. Determinar com precisão os pro- Agradecimentos
dutos gerados pelas interações fontes-atmosfera
é primordial para definir medidas que possam Os autores agradecem ao Programa
reduzir e/ou prevenir eventuais impactos ao Unificado de Bolsas de Estudo Para Apoio e For-
meio ambiente e saúde humana. Contudo, é mação de Estudando de Graduação (PUB-USP),
perceptível que o Brasil mesmo em face dos be- parte integrante da Política de Permanência Es-
nefícios agora citados, ainda apresenta grandes tudantil da Universidade de São Paulo.

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