Como Fazer um Prognéstico
de Divércio
ara ¢ Oliver esto sentados um diante do outro em nosso laboraté-
tio. Ambos tém quase 30 anos, e se ofereceram para participar do
meu estudo sobre recém-casados. Nessa extensa pesquisa, 130 ca-
sais concordaram em colocar seus casamentos nao apenas no microscépio,
mas também no foco das cameras. Eles esto entre os 50 casais observados
durante um pernoite num “apartamento” do laboratério. Minha capacida-
de de prognosticar um divércio se baseid, em parte, na andlise desses casais €
de suas interagées.
Dara e Oliver declaram ter uma vida agitada mas feliz. Ela freqiienta
uma escola de enfermagem a noite ¢ ele trabalha horas em programagao de
computadores. Como muitos casais, tanto os que esto satisfeitos com 0 ca-
samento como os que podem vir a se divorciar, Dara e Oliver admitem que
seu casamento nao é perfeito. Mas dizem que se amam e se comprometa-
ram a ficar um com 0 outro. Eles irradiam positividade quando falam sobre
a vida que pretendem construir juntos.
Pego-lhes que fiquem mais 15 minutos no laboratério tentando resol-
ver um desentendimento que estio tendo enquanto eu os filmo em video.
A medida que falam, os sensores atados aos seus corpos registram seus ni-
veis de estresse com base nas varias medigdes do seu sistema circulatério,
como, por exemplo, a freqiiéncia dos batimentos cardfacos.
37= CrS”—~—~S
Sete Principios para o Casamento Dar Certo
Minha expectativa é de que sua discussio tenha pelo menos certa nega-
tividade. Afinal de contas pedi-lhes para terem uma briga. Embora alguns
casais sejam capazes de resolver os desentendimentos com palavras compre-
ensivas € sorrisos, na maioria das vezes h4 tensio. Dara e Oliver nao sao
excecao. Dara acha que Oliver nao faz sua parte nas tarefas domésticas ¢
ele acha que cla reclama muito dele, 0 que 0 deixa menos motivado para
fazer mais.
Apés escuté-los falar sobre esse problema, com tristeza fiz, um prognés-
tico para os meus colegas, de que Dara ¢ Oliver iriam ver sua felicidade con-
jugal ir embora. E realmente, quatro anos depois, eles informaram que esta-
vam a beira do divércio. Embora ainda estejam vivendo juntos, levam vidas
separadas. Tornaram-se uma espécie de fantasmas perseguindo aquele casa-
mento que uma vez os fez tao felizes.
Senti que o casamento deles iria desmoronar, mas nao porque discu-
tiam — afinal, havia solicitado que o fizessem. Raiva entre marido e mu-
Jher nao é propriamente 0 que indica a dissolugdo de um casamento.
Outros casais participantes desse estudo discutem muito mais que Dara ¢
Oliver durante os 15 minutos de gravagao do video. Apesar disso, me foi
posstvel prever que muitos desses casais continuariam casados ¢ felizes — €
continuam. Os indicios do futuro rompimento de Dara e Oliver se encon-
tram no modo como eles discutiam.
PRIMEIRO SINAL: ABORDAGEM. RISPIDA
O indicador mais ébvio de que uma discussio (¢ um casamento) nao vai
acabar bem éa forma como ela se inicia. Dara imediatamente se torna nega-
tiva e acusadora. Quando Oliver se refere ao assunto trabalho doméstico,
sua atitude ja € sarcdstica. “Ou a falta dele”, diz ela. Oliver tenta atenuar as
coisas soltando uma piada: “Ou o livro que estévamos pensando em escre-
ver: Os homens sito uns porcos.” Dara esta sentada com uma expressdo neu-
tra. Eles falam mais um pouco, tentando tragar um plano para garantir que
Oliver facaa parte dele, ¢ depois ela diz: “Pois é, gostaria de ver isso resolv
do, mas parece que nao vai dar. Quer dizer, tentei fazer listas, e nao funcio-
na. E tentei deixar por sua conta, e nada foi feito em um més.” Nesse mo-
mento ela esta culpando Oliver. No fundo, esta dizendo que 0 problema
nao é 0 trabalho doméstico, ¢ ele.
38
Como Fazer um Prognéstico de Divércio
do uma discussao ¢ conduzida dessa forma — com critica e/ou
smo, que € uma forma de desprezo —, comegou com uma abordagem
Embora Dara dirija-se a Oliver com voz suave ¢ tranqiiila, ha um
ortemente negativo em suas palavras. Depois de escutar o primeiro
to da conversa dos dois, nao me surpreende que no final Dara ¢ Oliver
sham acertado quaisquer diferencas. A pesquisa mostra que se a dis-
foi iniciada de forma rispida, fatalmente terminar4 com um tom ne-
“mesmo que em seu decorrer ocorram intimeras tentativas de “tor-
4vel”. As estat{sticas contam uma histéria: 96% das vezes
edizer o resultado de uma conversa numa interagao de 15 minu-
se nos trés primeiros minutos’ Com um inicio rfspido, seu destino
. Portanto, se vocé come¢a uma discussao dessa forma, é melhor
arada, respirar fundo e comegar outra vez.
SEGUNDO SINAL: OS QUATRO CAVALEIROS
rispido de Dara iniciar o didlogo soa como um aviso de que ela
eve estar tendo sérias dificuldades. Entao, no decorrer de sua dis-
co ntinuo buscando tipos particulares de interagbes negativas. Cer-
os de negatividade, se forem permitidos correr a solta, s40 tao mortf-
fa ° relacionamento que os denominei de Quatro Cavaleiros do
ipse. Em geral, esses quatro cavaleiros corroem as raizes do casamento
inte ordem: critica, desprezo, defensividade e incomunicabilidade.
: ‘ive. Mas hé uma imensa diferenga entre queixa ¢ critica. A queixa se
apenas a um erro especifico que seu cénjuge cometeu. A critica é mais
7 acrescenta palavras negativas a respeito do cardter ou da per-
ea a an “Eu estou realmente muito zangada porque
a ontem a noite. Combinamos nos revezar nisso”
i ws mn liens éa sua vez. Vocé nem se incomoda” é uma erfti-
ix ada em um comportamento especifico; a critica vai mais
> ig insere gratuitamente acensura ¢ um ataque cruel ¢ injusto ao ca-
: ee? ae para transformar qualquer queixa em critica,
ase preferida: “O que esta havendo com vocé?”
39Sete Principios para o Casamento Dar Certo
Em geral, 0 inicio rispido em uma discussao dé-se sob a forma de criti-
ca. Podemos ver a rapidez com que uma queixa passa a ser uma critica
quando Dara comega a falar. Veja novamente o que ela diz:
DARA: Pois é, gostaria de ver isso resolvido, mas parece que nao vai dar,
(Queixa simples). Quer dizer, tentei fazer listas e nao funciona. E tentei
deixar por sua conta, ¢ nada foi feito em um més. (Critica. Ela subenten-
de que o problema é a fatha dele, Mesmo que seja, culpd-lo sé vai piorar a
situagdo.)
Aqui estao outros exemplos que mostram a diferenga entre queixa ¢
critica.
Queixa. O carro esta sem gasolina. Por que vocé nao encheu o tanque
como disse que ia fazer?
Critica. Por que vocé nunca se lembra de nada? Eu falei mil vezes para
vocé encher o tanque, e nao adiantou.
Queixa, Voce devia ter dito mais cedo que estava muito cansado para ter
relacdes. Isso me deixa realmente decepcionada, e muito constrangida.
Critica. Por que voce é sempre tao egofsta? Foi realmente desagradével
de sua parte me deixar continuar. Vocé devia ter me dito mais cedo que es-
tava muito cansado para ter relagoes.
Queixa. Voce deveria me consultar antes de convidar alguém para jan-
tar. Eu queria ficar sozinha com vocé hoje & noite.
Critica. Por que vocé continua dando prioridade a seus amigos ¢ nao a
mim? Eu sou sempre a tiltima em sua lista. Nés deviamos jantar sozinhos
hoje a noite.
Se-vocé escutou algo parecido com o que se passa entre vocé e seu conjuge
nestas criticas, ndo foi a unica. O primeiro cavaleiro é muito comum nos rela-
cionamentos, Portanto, se voces dois so criticos um com 0 outro, ndo pense
que esto a caminho do divércio. O problema com a critica € que, quando ela
se difunde, abre caminho para outro cavaleiro ainda mais mortifero.
Cavaleiro 2: Desprezo/desrespeito. Dara nao deixa de criticar Oliver.
Logo ela estar4 literalmente zombando dele. Quando cle sugere colocat
uma lista de tarefas na porta da geladcira para ajudé-lo a lembrar-se, ela diz:
oo
Como Fazer um Prognéstico de Divércio
- _— Vocé acha que vai funcionar realmente com essas listas?
Em seguida, Oliver lhe diz. que precisa relaxar 15 minutos quando che-
casa, antes de executar suas tarefas.
_ — Entio, secu deixar vocé ficar 15 minutos sozinho, vocé acha que vai
ntade de se levantar e fazer alguma coisa? — pergunta Dara.
Pode ser. Ainda nao tentamos, nao é? — pergunta Oliver.
fesse momento Dara tem uma chance de abrandar 0 didlogo, mas, em
so, recomega com sarcasmo.
ju acho que vocé é mestre em chegar em casa, se deitar por af ou de-
no banheiro — diz ela. E depois acrescenta, num tom desafiador:
o vocé acha que a solucio ¢ essa, te dar 15 minutos?
smo € cinismo sao formas de desprezo. Tanto quanto xingar, revi-
hos, sorrir zombeteiramente, ridicularizar e fazer gracejos hostis.
quer forma, o desprezd — 0 pior dos quatro cavaleiros — é vene-
ao relacionamento porque transmite um sentimento de repulsa. E
ente impossfvel solucionar um problema quando um dos parceiros
ebendo a mensagem de que 0 outro esté insatisfeito com ele(a). Ine-
, gerente de uma loja de sapatos, era mestre em desdém, pelo me-
do se tratava de sua mulher. Veja o que acontece quando ele €
a tentam discutir seus pontos de vista divergentes a respeito de gas-
ito. Diz el
ih
ando os olhos da cara, e vocé nem se incomoda. Eu acho que é um abu-
‘ovavelmente, ¢ a coisa de que vocé mais gosta.
re € um daqueles exemplos de desprezo dos textos de livros escolares.
paso esta simplesmente salientando que gastam dinheiro de maneiras dife-
tes, eae acusando a esposa de uma deficiéncia moral, de ser perdularia.
_ Cynthia responde que para ela ¢ fisicamente dificil lavar 0 carro. Peter
Nora essa explicagao e continua a falar em tom moralista.
— Eu cuido do meu caminhio porque, se vocé cuidar dele, ele vai é du-
muito mais. Eu nao tenho aquela mentalidade de “Ah, é s6 sair e com-
um novo”, que parece ser a sua.
_ Ainda esperando puxar Peter para seu lado, Cynthia diz:
a1Sete Principios para o Casamento Dar Certo
— Se vocé me ajudasse a lavar meu carro, eu realmente adoraria. Gosta-
ria muito, realmente. — Mas em vez de pegar essa chance de reconciliacao,
Peter quer continuar em duelo.
— Quantas vezes vocé me ajudou a lavar meu caminhao? — retruca ele.
Cynthia novamente tenta harmonizar.
— Eu ajudo vocé a lavar o seu caminhio e vocé me ajuda a lavar o meu
carro.
Mas o objetivo de Peter nao é resolver a questio e sim repreendé-la.
Entao, ele diz:
— Nio é esse o meu problema. Quantas vezes vocé me ajudou?
— Nunca — diz Cynthia.
— Esté vendo? — diz Peter. — E por isso que eu acho que vocé tem
pouca responsabilidade também. Sabe, é aquela histéria, se seu pai com-
prasse uma casa para vocé, vocé acha que ele viria pinté-la também?
— Bem, vocé vai sempre me ajudar a lavar o meu carro se eu ajudar
sempre vocé a lavar o seu caminha’o?
— Eu nao tenho certeza se vou querer vocé me ajudando — diz Peter,
rindo.
— Bem, ento vocé vai me ajudar sempre a lavar 0 meu carro? — per-
gunta Cynthia.
— Vou ajudar quando puder. Nao vou garantir pela vida inteira, O que
vocé vai fazer, me processar? — pergunta Peter. E comega a rir outra vez.
Ao escutar essa discussao, fica claro que o principal objetivo de Peter €
diminuir sua mulher. Seu desdém vem sob o disfarce de citagées moralistas,
como quando ele diz: “Acho que isso diz muito sobre quem somos e 0 que
valorizamos” ou “Eu nao tenho aquela mentalidade de ‘€ sé sair ¢ comprar
um novo”.
Os casais que se tratam com desprezo sao mais
propensos a contrair doengas infecciosas (resfriados,
gripes, e varias outras) que os outros.
O desprezo é alimentado por pensamentos negativos sobre o parceiro
ha longo tempo mantidos em siléncio. Ha maior probabilidade de esses
pensamentos existirem quando as divergéncias nao sao solucionadas. Com
certeza, a primeira vez que Peter e Cynthia discutiram sobre dinheiro ele
42
Como Fazer um Prognéstico de Divorcio
do desdenhoso. Provavelmente, fez uma queixa simples como “Eu
1e yocé devia lavar 0 seu carro. Fica muito caro pagar sempre alguém
azer isso”. Mas, & medida que continuaram a discordar sobre 0 assun-
; queixas se transformaram em crfticas generalizadas, do tipo “Vocé
sta muito”. E quando os conflitos continuaram, ele comegou a se
cada vez mais descontente e irritado com Cynthia, uma mudanga que
rancia, uma prima préxima da insoléncia, é simplesmente tao
to aquela para o relacionamento. E uma forma de indignagao
porque contém ameaca ou provocacao. Quando a esposa se quei-
9 marido nunca chega em casa na hora para o jantar quando sai
, uma Tesposta provocante seria: “Bem, o que é que vocé vai fa-
ido Peter diz a Cynthia: “O que vocé vai fazer, me Pprocessar?”,
pensar que é brincadeira, mas esta realmente sendo beligerante.
leiro 3: Defensividade. Nao é de admirar, considerando o quanto
lo tem sido desagradavel, que Cynthia se defenda. Ela ressalta que
da lavar o carro tantas vezes quanto ele pensa. Explica que, fisica-
a ela é mais dificil lavar 0 carro do que é para ele lavar 0 caminhio.
ora seja compreensivel Cynthia se defender, a pesquisa mostra que
taramente surte o efeito desejado. O cénjuge que ataca nao vol-
u pede desculpas. Esta é a razo pela qual a defensividade é real-
a forma de culpar o parceiro. Na verdade, o outro esté dizendo:
orema nao sou ex, é vocé.” A defensividade apenas estimula o confli-
40 pela qual é tao destrutiva. Quando Cynthia fala para Peter que
culdade fisica para lavar o carro, ele nao lhe diz: “Ah, agora enten-
Ele ignora suas desculpas —e sequer leva em conta o que ela diz. Assu-
@ postura de superioridade, ¢ passa a discorrer sobre seu modo espe-
2 a cuidar do préprio vefculo, insinuando que ela é displicente por nao
mesma forma. Cynthia nao pode vencer, tampouco seu casamento.
Desprezo ¢ Defensividade nem sempre se introduzem num lar
ente nessa ordem. Eles funcionam mais como uma forca de reveza-
a oe a eee S um para 0 outro repetidas vezes, sem interrup-
ee. pag ePa le ae um ponto final nessas investidas. Boe
Bien a meeeet quan lo Oliver e Dara continuam sua discussao
. Embora eles paregam estar procurando uma solu-
b:
43Sete Principios para o Casamento Dar Certo
40, Dara se mostra cada vez mais insolente — sob a aparéncia de estar
questionando Oliver, zomba dele ¢ derruba qualquer plano que apresente.
Quanto mais defensivo ele se mostra, mais ela 0 ataca, Sua linguagem cor-
poral mostra condescendéncia. Ela fala baixo, com os cotovelos apoiados na
mesa, ¢ os dedos cruzados sob 0 queixo. Como um professor de direito ou
um juiz, ela criva o marido de perguntas — apenas para deix4-lo embaragado.
DARA: Ent&o vocé acha que a solucio é te dar 15 minutos? (Sorriso zombeteiro)
OLIVER: Nao, nao acho que seja a solugao. Acho que talvez, junto com
uma relagao por escrito das tarefas da semana. Por que nao colocé-las na
agenda? Ei, acho que € exatamente isso.
DARA: Exatamente como quando escrevo uma'lista de coisas a fazer em sua
programagio didria e elas sao feitas? (Zombando dele; mais ainda)
OLIVER: Eu nem sempre tenho chance de olhar minha programagio didria
durante o dia. (Defensivo)
DARA: Pois entao vocé acha que vai olhar uma agenda?
OLIVER: Sim, acho, Em algum momento, se nao estiver correndo, vocé
pode me perguntar. Mas 0 que acontece agora é que vocé nfo est4 me
perguntando, esta dizendo: “Vocé nao fez isso, nao fez aquilo.” Em vez
disso, diga: “Hé algum motivo para vocé nao ter feito isso ou aquilo2”
Como, lembra-se, quando eu fiquei acordado até tarde naquela noite
para fazer o seu currfculo? Coisas desse tipo acontecem 0 tempo todo, e
vocé, absolutamente, nunca leva isso em consideragao. (Defensivo)
Dara: E acaso eu nao faco, de repente, coisas para vocé também? (Defensiva)
OLIVER: Nao, vocé faz... Acho que vocé precisa relaxar um pouco.
DARA (Sarcdstica): Hummm... Bom, parece que resolvemos muita coisa.
Obviamente, Dara e Oliver nada resolveram gracas 4 predominancia da
critica, defensividade e desprezo.
Cavaleiro 4: Incomunicabilidade (barreira de siléncio). Em casa-
mentos como o de Dara e Oliver, onde as discussdes comegam com acusa-
G6es, onde a critica eo desprezo levam a defensividade, o que leva a mais
desprezo e mais defensividade, com o tempo um dos parceiros se afasta. Isso
anuncia a chegada do quarto cavaleiro.
Imaginemos um marido que chega em casa do trabalho, depara-se com
uma barreira de criticas da mulher e se esconde atr4s de um jornal. Quanto
44
Como Fazer um Prognéstico de Divércio
"menos ele reage, mais ela grita. Por fim ele se levanta e sai da sala. Em ver de
- confrontar a esposa, ele se afasta dela. Ao se distanciar, ele est4 evitando
‘uma briga, mas também o préprio casamento. Cria uma barreira de silén-
cio. Embora tanto 0 marido quanto a mulher possam agir dessa forma, este
comportamento é muito mais comum entre os homens, por razées que ve-
~ remos mais adiante.
i Numa conversaco comum entre duas pessoas, aquela que escuta dé
todo tipo de indicagao a quem esta falando de que estd prestando atengio.
Pode usar a expresso do olhar, fazer um leve gesto de cabega, dizer qual-
i palavra eae Mas 0 cénjuge que optou pelo siléncio nao age des-
sa forma. Sua tendéncia é olhar para longe ou para baixo, sem emitir qual-
som. Senta-se impassivel como um muro de pedras. O marido que se
orna incomunicavel age como se nao desse a minima importancia ao quea
ier esta dizendo, se por acaso escutasse.
_ Ocayaleiro da incomunicabilidade normalmente chega mais tarde que
outros trés no curso de um casamento. Essa ¢ a razio pela qual tal com-
to € menos comum entre maridos recém-casados como Oliver,
um tempo. Leva tempo para que a negatividade criada pelos trés primei-
‘Tos cavaleiros se torne esmagadora a ponto de deixar a incomunicabilidade
vir claramente “para fora”. Essa éa atitude que Mack assume quando eleea
mulher Rita discutem sobre 0 comportamento de cada um nas festas. Ela
alega que o problema é cle beber demais. Ele acha que o maior problema éa
teacao dela: ela lhe causa constrangimento gritando com ele na frente dos
amigos. Vejamos um exemplo, j4 no meio de uma discussao:
RITA: Agora sou eu o problema, outra vez. Comecei a me queixar, mas ago-
fa eu é que sou o problema. Parece que isso sempre acontece.
MACK: E, cu fago isso, eu sei. (Pausa) Mas seus ataques e criancices deixam
a mim e meus amigos constrangidos.
RITA: Se vocé controlasse sua bebida nas festas, talvez...
MACK: (Olha para baixo, evita encontrar o olhar dela, sem dizer nada — ele
esta criando uma barreira de siléncio.)
RITA: Porque eu acho (Risos) que, na maior parte, nés nos damos muito
bem, realmente (Risos).
MACK: (Continua retraido. Permanece em siléncio, nao olba ‘para ela, niio faz
sinal com a cabeca, nenhuma expressao facial ou pronunciamento)"Sete Principios para o Casamento Dar Certo
RITA: Vocé nao acha?
MACK: (Nenhuma resposta.)
RITA: Mack? Alé?
TERCEIRO SINAL: SATURAGAO
Pode parecer a Rita que suas queixas nao tém efeito sobre Mack. Mas nada
poderia estar mais distante da verdade. Normalmente as pessoas criam uma
barreira de siléncio para se proteger contra a saturagé@o. Quando um dos
cénjuges est4 saturado, significa que foi atingido pela negatividade do ou-
tro — seja como critica, desprezo ou mesmo defensividade — de forma tao
opressiva e repentina que o deixou traumatizado. A pessoa se sente tao in-
defesa contra o ataque desse atirador de tocaia que aprende a fazer qualquer
coisa para evitar sua repeticao. Quanto mais se sente saturada pelas criticas
ou pelo desprezo do cénjuge, mais se pde em alerta para os sinais de sua pré-
xima “explos4o”. O unico pensamento que lhe ocorre é proteger-se da tur-
buléncia que suas furiosas investidas provocam. E a forma mais comum de
fazer isso € desvincular-se emocionalmente do relacionamento. Nao nos
surpreende o fato de Mack e Rita estarem agora divorciados.
Paul, um outro marido, foi bastante direto sobre os motivos que o le-
vam a ignorar sua mulher, Amy, quando ela comega a reclamar. Na discus-
so a seguir, ele descreve 0 que as pessoas sentem quando se comportam
dessa maneira.
AMY: Quando fico zangada, é af que vocé deve interferir ¢ tentar melhorar
as coisas. Mas quando o que vocé faz é nao me responder, isso significa:
“N&o estou mais interessado em saber como vocé se sente.” Isso sé me
oprime. E como se minha opiniao ou meus sentimentos nao tivessem
absolutamente qualquer importancia para vocé. E nao é assim que um
casamento deve ser.
PAUL: O que estou dizendo € que, se vocé quiser ter uma conversa séria, vai
ser sem gritar ¢ berrar o tempo todo. Vocé comega dizendo coisas que
sao ofensivas.
AMY: Bem, quando me sinto ofendida, zangada, e quero magoar vocé, comego
a falar. E é entdo que deviamos parar. Eu deveria dizer: “Desculpe.” E voce:
“Eu sei que vocé quer falar sobre isso. E eu realmente deveria fazer um es-
forgo para falar em ver de exclusivamente ignorar voce.”
46
Como Fazer um Prognéstico de Divércio
.AUL: Eu vou falar quando...
AMY: Quando lhe interessar.
PAUL: Nao, quando vocé nao estiver gritando e berrando ¢ batendo com os
pés no chao.
Amy continuou explicando a Paul como se sentia quando ele ficava em si-
Jéncio. Mas nao parecia escut4-lo explicar 0 motivo pelo qual se calava: ele nao
a capaz de lidar com a hostilidade dela. Esse casal, mais tarde, se divorciou.
A dissolugao de um casamento pode ser prevista, ent4o, por uma habitual
rdagem rispida entre os dois e pelas freqiientes saturagdes decorrentes da
acdvel presenga dos quatro cavaleiros durante os desentendimentos.
nbora cada um desses fatores por si sé represente um prognéstico de divér-
, eles normalmente coexistem em um casamento infeliz.
QUARTO SINAL: LINGUAGEM CORPORAL
mel tos por minuto —, podendo chegar a 165. A titulo de comparagio, a
tfpica de batimentos cardfacos para um homem de 30 anos é 76 bpm
imentos por minuto), e para uma mulher da mesma idade, 82. Mudan-
hormonais também podem ocorrer, inclusive secregao de adrenalina, a
pode desencadear uma “reagio de luta ou fuga”. A presso sangiifnea
ambém conta. Essas mudancas sao to drasticas que se um dos parceiros
inge com freqiiéncia tal nivel de saturac4o durante as discussdes conju-
is, € facil prever o divércio dos dois.
aad saturagdo levam ao divércio por duas rabes.
lugar, cles indicam que, pelo menos no terreno emocional,
4 iia BS sente seriamente angustiado ao lidar com o outro. Em
E fa a fisicas da saturagdo — aumento de freqiiéncia cardfa-
. i =_ ram praticamente imposstvel que uma discus-
Brioche scan oe ema seja produtiva. Quando nosso corpo entra
a durante uma discussao, estd respondendo a um siste-
47==
ma de alarme muito primitivo que herdamos de nossos antepassados pré-
histéricos. Todas essas reagées de anglistia, como 0 coracao batendo e os
suores, ocorrem porque um nfvel fundamental de nosso corpo percebe uma
situagao perigosa em curso. Embora estejamos vivendo na era da concep¢ao
in vitro, dos transplants de drg4os e do mapeamento genético, sob 0 ponto
de vista evolutivo, nao faz muito tempo que éramos habitantes de cavernas.
‘Assim, 0 corpo humano nfo aperfeigoou suas reagdes de medo — ele res-
ponde do mesmo modo seja diante de um tigre-de-bengala ou de um cén-
juge insolente que insiste em saber por que vocé nunca se lembra de abaixar
a tampa do vaso sanitdrio.
Quando essas reagGes de batimentos cardfacos e todas as outras de ten-
sio fisica acontecem em meio a uma discussao com seu par, as conseqiién-
cias s4o desastrosas. Nossa capacidade de processar informag6es se reduz, 0
que significa que ¢ mais dificil prestar atengao ao que 0 parceiro est dizen-
do. As formulas criativas de solucionar problemas saem pela janela. Vocé
encontra as reagées mais automiticas, e do ponto de vista intelectual, me-
nos sofisticadas, do seu arquivo: luta (sob a forma de critica, insoléncia ou
defensividade) ou fuga (incomunicabilidade/barreira do siléncio/retrai-
mento). Qualquer chance de resolver 0 assunto se foi. Muito provavelmen-
te, a discussao sé ird agravar a situagao.
HOMENS E MULHERES SAO REALMENTE DIFERENTES
Em 85% dos casamentos, quem ergue uma muralha de siléncio entre os
dois é 0 marido. Nao por alguma falta de sua parte. A razao se encontra em
nossa heranga evolutiva. A evidéncia antropoldgica sugere que evoluimos
dos hominideos cujas vidas eram limitadas por rfgidos papéis de género,
uma vez que estes favoreciam a sobrevivéncia em um meio hostil. As fémeas
se especializavam em criar os filhos enquanto os machos se dedicavam
caga coletiva.
Como qualquer mae de familia pode confirmar, a produgao de leite da
mulher é afetada por suas condigées de relaxamento fisico, 0 qual esta rela
cionado com a liberagdo do horménio oxitocina no cérebro. Portanto, a se-
legdo natural favorecia a fémea, que era capaz de se acalmar e sossegar rapi-
damente depois de uma situagao de estresse. Sua capacidade de se recompor
aumentava as chances de sobrevivéncia dos filhos, otimizando a quantidade
de alimentagéo que recebiam. Mas, no macho, a selegio natural premiaria a
48
Se ee
resposta contréria. Para esses casadores coletivos precoces, manter a vigilan-
cia era uma habilidade essencial de sobrevivéncia. Assim, 0s machos cuja
adrenalina saltava com bastante prontidao ¢ nao se acalmavam com ante
facilidade tinham mais probabilidade de sobreviver e procriar,
Até hoje, o sistema cardiovascular do macho permanece mais reativo
que o das fémeas, e é mais lento para se recuperar do estresse. Se, por exem-
plo, o homem ea mulher ouvissem de repente um som muito alto e breve,
como um estouro, é mais provavel que o cora¢ao dele batesse mais rapido E
permanecesse acelerado por mais tempo que o dela, conforme uma pesqui-
sa realizada por Robert Levenson, Ph.D. ¢ seu aluno Loren Carter, da Uni-
versidade de Berkeley, na California. O mesmo acontece com a pressdo ar-
terial — a dele se eleva e permanece mais alta por mais tempo. O psicdlogo
Dolf Zillman, Ph.D. da Universidade do Alabama, descobriu que quando
sujeitos machos sao propositalmente tratados com brutalidade e depois ins-
trufdos a relaxar durante 20 minutos, sua pressao arterial se eleva de repente
assim se mantém até que eles consigam revidar. Mas quando as mulheres
enfrentam o mesmo tratamento, elas s4o capazes de se acalmar durante aque-
Jes 20 minutos. (E interessante notar que a pressio arterial feminina tende a
subir novamente se ela for pressionada a revidar!) Como o confronto conju-
gal que ativa a vigilancia exerce uma cobranga fisica maior sobre 0 macho,
nao é de admirar que os homens tentem evit-lo mais que as mulheres.
Um fato biolégico: os maridos sao
mais facilmente afetados pelos conflitos
conjugais que as mulheres.
Essa diferenca genérica na reagio fisiolégica de nossos corpos também
exerce influéncia no que homens e mulheres pensam quando experienciam
O estresse conjugal. Como parte de alguns experimentos, pedimos aos casais
Para se observarem numa discussao gravada e depois dizer-nos o que esta-
vam pensando quando nossos sensores detetavam que haviam chegado a sa-
turacao. Suas respostas indicam que os homens tém maior tendéncia a ter
Pensamentos negativos que os mantém angustiados, enquanto as mulheres
S40 mais propensas a acalmar os animos, o que as ajuda a se acalmar e tentar
a conciliagao, Os homens, em geral, se acham cheios de razao e se sentem
indignados (“Vou me vingar”, “Nao tenho que aceitar isso”), 0 que leva ao
49Sete Principios para o Casamento Dar Certo
desprezo ou A provocagio. Ou pensam em si proprios como vitimas inocen-
tes da ira ou das queixas de suas esposas (“Por que ela est4 sempre me cul-
pando?”), o que gera defensividade.
Obviamente, essas regras nao se aplicam a todo o género masculino ou
feminino. Mas depois de 25 anos de pesquisas, observei que a maioria dos ca-
sais segue realmente essas diferengas de género nas reagoes fisiolégicas e psi-
coldgicas ao estresse. Devido a essa dissimilitude, a maioria dos casais (in-
cluindo os saudaveis e felizes) segue um padrao de conflito equivalente, em
que a esposa, que é constitucionalmente mais capaz de lidar com 0 estresse,
levanta as questdes delicadas. O marido, que nao é capaz de conviver com o
estresse, tenta evitar 0 assunto. Ele pode se tornar defensivo e intratavel. E
pode até se tornar provocativo ou insolente numa tentativa de fazé-la calar.
Simplesmente pelo fato de ser esse o modelo de seu casamento nao quer
dizer que o divércio esteja préximo. Na realidade, vocé encontrar4 exem-
plos de todos os quatro cayaleiros, ¢ até de saturagdes ocasionais, em casa-
mentos estdveis. Mas quando os quatro cavaleiros instalam residéncia per-
manente, quando a sensacio de saturag4o comeca a ser rotina para qualquer
um dos parceiros, o relacionamento esté em sérias dificuldades. E inevitavel
que a satura¢ao freqiiente quase sempre leve ao distanciamento entre os
cénjuges. Isso por sua vez os leva a se sentirem sds. Sem ajuda, o casal termi-
nar se divorciando ou vivendo um casamento que morreu, no qual se
mantém separados, levando vidas paralelas no mesmo lar. Eles podem par-
ticipar de todas as atividades familiares — vao aos jogos e apresentag6es dos
filhos, oferecem jantares, saem em férias com a familia. Mas, emociorial-
mente, j4 nao se sentem ligados um ao outro. Desistiram.
QUINTO SINAL: TENTATIVAS DE REPARAGAO SEM SUCESSO
Leva tempo para os quatro cavaleiros e a saturagéo que vem em seu encalgo
invadirem um casamento. E ainda assim, quase sempre é possfvel se fazer
uma previsao de divércio com a simples escuta de uma conversa entre re-
cém-casados, Como pode acontecer isso? A resposta é que, ao analisarmos
qualquer desentendimento de um casal, adquirimos uma boa nogao do pa-
drao que eles tendem a seguir. Parte crucial desse padrao depende de suas
tentativas de reparacao terem sucesso ou fracassarem. As tentativas de repa-
tacao, como descrevi na pagina 34, sao os esforgos do casal (“Vamos dar um
tempo”, “Espere, preciso me acalmar”) para diminuir a tensio durante uma
discussdo delicada — para segurar os freios a fim de evitar uma saturagao.
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Como Fazer um Prognéstico de Di
As tentativas de reparagao salvam os casamentos nao apenas porque di-
minuem a tens4o emocional entre os cénjuges, mas porque, ao reduzir o nf-
vel de estresse, elas também evitam que o coracao deles acelere e eles se sin-
tam saturados. Quando os quatro cavaleiros dirigem a comunicagao entre
um casal, as tentativas de reparagéo muitas vezes nem sao notadas. Especial-
mente nos momentos em que se sente saturada, a pessoa nao é capaz de es-
cutar um apelo verbal de paz.
Nos casamentos infelizes, entre os quatro cavaleiros e o fracasso das ten-
tativas de reparagao desenvolve-se um ciclo de retroalimentagao. Quanto
mais insolentes e defensivos um com 0 outro sao os cénjuges, mais satura-
dos se sentem, e mais dificil é escutar e responder a uma reparacao. E uma
vez, que a reparacao no ¢ ouvida, o desprezo e a defensividade simplesmen-
te se intensificam, fazendo com que a saturac4o seja mais definida, o que
torna mais dificil escutar a proxima tentativa de reparacao, até que final-
mente um dos patceiros se retira.
Por esse motivo posso prever um divércio ao escutar apenas uma dis-
cussio entre marido e mulher. O fracasso das tentativas de reparagao € um
indicador exato de um futuro infeliz. A presenga dos quatro cavaleiros por
si s6 é indicadora de divércio com apenas 82% de acerto. Mas quando se
acrescenta a isso o fracasso das tentativas de reparago, a taxa de acerto al-
canga 90%. Isto se deve ao fato de que alguns casais que, ao discutir, apre-
sentam os quatro cavaleiros também tém sucesso em reparar os danos cau-
sados pelos cavaleiros, Normalmente nessa situagio — quando os quatro
cavaleiros est4o presentes, mas as tentativas de reparacao do casal sio
bem-sucedidas — o resultado ¢ um casamento estavel ¢ feliz. Na realidade,
84% dos recém-casados que obtiveram marcas altas nos quatro cavaleiros
mas foram eficientes em suas reparagdes estavam com casamentos felizes €
estaveis seis anos mais tarde. Mas se nao existem tentativas de reparagao —
ou se nfo se é capaz de entender as tentativas de reparagao —, 0 casamento
estd correndo um sério perigo.
Em 96% das vezes, apés os trés
primeiros minutos ouvindo uma discussao conjugal,
sou capaz de dizer se essa discussio resolverd
o conflito do casal.
51Nos casamentos emocionalmente inteligentes tenho escutado uma am-
pla variedade de tentativas de reparacao. Cada pessoa tem seu préprio
modo de agir. Olivia e Nathaniel estiram a lingua um para o outro, outros
casais dao gargalhadas, sorriem, ou apenas pedem desculpas. Até um irrita-
do “Ei, para de gritar comigo” ou “Vocé esta se desviando do assunto”
podem desanuviar uma situagao de tensao. Tais tentativas de reparacao
mantém o casamento estavel porque evitam que os quatro cavaleiros se ins-
talem para sempre.
O sucesso ou fracasso de uma tentativa de reparagdo tem pouco a ver
com sua eloqiiéncia e tudo a ver com a situagao do casamento. Um casal
que vive feliz e me ensinou isso foram Hal e Jodie. Devido ao tipo de pes-
quisa quimica que desenvolvia, Hal com freqiiéncia descobria no tiltimo
minuto que no poderia estar em casa na hora do jantar. Embora soubesse
que Hal nao tinha controle sobre seu hordrio, Jodie sentia-se insatisfeita
com esse problema. Quando discutiram 0 assunto em nosso laboratério, ela
chamou a atengao dele para o fato de que as criangas sempre se recusavam a
comer antes de sua chegada, por isso jantavam sempre muito tarde, o que a
desagradava. Entéo Hal sugeriu que ela lhes desse alguma merenda para
ajudar a superar essa dificuldade. Incrédula, Jodie retrucou, de forma rispi-
da: “Que acha vocé que venho fazendo esse tempo todo?”
Hal se deu conta de que havia tornado a situagao ainda pior. Mostrou
uma enorme falta de conhecimento do que vinha acontecendo em casa ¢,
além de tudo, insultou a inteligéncia da mulher. Num casamento infeliz
isso poderia servir de motivo para ataques mutuos de grandes proporoes.
Esperei para ver 0 que aconteceria em seguida. Como todas as evidéncias in-
dicavam que eles viviam felizes, antevi que Hal recorreria a alguma tentativa
de repara¢ao habilmente elaborada. Mas Hal deu apenas um sorriso realmen-
te tolo para Jodie. Jodie desatou a rir, e continuaram com a discussao.
O fato de Hal sorrir funcionou porque o casamento deles funcionava.
Mas quando Oliver tentou abrandar Dara com um sorriso manhoso duran-
tea conversa sobre as fungdes domésticas, nada conseguiu. Nos casamentos
€m que os quatro cavaleiros se instalaram para sempre, até a tentativa de re-
Parac4o mais articulada, mais sensivel e mais objetiva tende a fracassar de
modo incrivel.
Ironicamente, vemos mais tentativas de reparagao entre casais proble-
maticos do que entre aqueles que levam uma vida tranqiiila. Quanto mais
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sam as tentativas de reparagao desses casais, mais cles continuam ten-
. Pode ser doloroso escutar as tentativas de reparagao de um dos cén-
, uma apés outra, todas em vo. O que as diferencia? O que indica que
tativas de reparacao irdo funcionar? Mais adiante veremos que é a
da amizade entre marido e mulher e, como descrevi no Capitu-
“a predominancia do sentimento positivo”.
SEXTO SINAL: RECORDAGOES DESAGRADAVEIS
do um relacionamento est4 imerso em negatividade, nao é apenas o
te e o futuro da vida em comum do casal que estao em risco. O passa-
4 em perigo, também. Quando entrevisto casais, normalmente per-
sobre a histéria do seu casamento. Descobri repetidas vezes que os
que tém uma opiniao negativa profundamente arraigada sobre seu
€ 0 casamento, com freqiiéncia, contam seu passado de forma dife-
Quando pergunto sobre o inicio do namoro, o casamento deles, o
iro ano juntos, posso visualizar suas chances de divércio, mesmo sem
par de seus sentimentos atuais.
os em vez dos momentos criticos. O mesmo acontece de um para 0
les se lembram do quanto estavam entusiasmados no inicio, da ex-
10 que sentiam quando se encontravam e da admiragao que tinham
1 pelo outro. Quando falam sobre os tempos dificeis, exaltam as lutas que
aram extraindo forcas da adversidade que enfrentavam juntos.
Mas quando um casamento nao esté indo bem, a histéria ¢ reeditada —
or. Ela se recorda entao que ele estava 30 minutos atrasado para a ce-
ia. Ou ele se concentra em todo aquele tempo que ela passou conver-
€0 com seu padrinho no jantar de ensaio — ou “flertando” com seu
'migo, segundo lhe parece agora. Outro sinal triste € quando eles tém difi-
‘culdade em relembrar o passado — que se tornou tao sem importancia ou
doloroso € por isso desapareceu de suas memérias.
Peter ¢ Cynthia nao passavam os dias discutindo sobre a lavagem do
carro € outras questées de gastos didrios. Sem diivida, se olharmos seu al-Sete Principios para o Casamento Dar Certo
bum de fotos, vamos encontrar muitas imagens felizes dos primeiros dias
deles juntos. Mas aquelas imia,,-"s ha muito se desyaneceram em suas men-
tes. Quando respondem a perguntas sobre essa época, contam muitos fatos
do namoro ¢ do casamento, porém nada mais, Cynthia conta varias vezes
que eles se encontraram numa loja de discos onde ela trabalhava como cai-
xa. Ela conseguiu o telefone dele pelo nome no recibo do cartao de crédito e
telefonou-lhe para saber se ele havia gostado do CD que havia comprado.
E entao passaram a sair juntos.
Cynthia diz que o que a atraiu em Peter, em primeiro lugar, foi o fato
de ele estar na faculdade, ter uma conversa interessante e étima aparéncia.
“Acho que foi porque eu tinha cartéo de crédito”, aralha Peter, uma refe-
réncia de mau gosto a suas atuais brigas por dinheiro. Ele, por sua vez, pare-
ce ter grande dificuldade em relembrar o que o atraiu nela no primeiro en-
contro. Diz: “Ih... (pausa longa), para ser sincero, nao sei. Em primeiro
lugar, nunca tentei saber. Acho que para mim isso seria bastante perigoso.”
Quando lhes perguntei sobre os tipos de atividades que apreciavam na-
quela época, eles tiveram dificuldade de se lembrar. “Nao fazfamos pique-
niques ou coisas desse tipo?”, perguntava Cynthia, ¢ ele encolhia os ombros
demonstrando indiferenga. A mesma falha de meméria surge quando eles
discutem a decisdo de se casarem. “Pensei que isso tornaria o relacionamen-
to mais sdlido. Parecia uma progressao légica — basicamente, essa foi a ra-
z4o principal”, diz Peter. Ele recorda que fez o pedido num restaurante com
a alianga atada com lagos de fita branca a um buqué de rosas brancas. Isso
“Nunca vou es-
parecia promissor, até ele acrescentar com um triste sorriso:
quecer isso. Ela viu o anel. Comegou a tremer um pouco, olhou para mim
devagar e pergunto
essa a reago que eu esperava naquele momento.” Ele se volta para a esposa.
“Vocé nao estava rindo, sorrindo, nem coisa nenhuma ao dizer isso — esta-
‘Suponho que vocé quer uma resposta.’ Nao era bem
va exatamente sem qualquer expresso, com cara de idiota.”
“Oh, naaao”, diz Cynthia, sem entusiasmo.
Esse cendrio nao mudou muito. Peter teve pneumonia ¢ febre de 40
graus no casamento. Sua recordagao mais importante, além de sentir-se
doente, foi estar na limusine com Cynthia e 0 padrinho, depois de tudo.
Seu amigo ligou 0 som, ¢ a cangao “Same Old Ball and Chain” (A mesma
velha bola com corrente) do Métley Cri
Cynthia lembrou-se de ter ficado magoada porque muitos convidados saf-
ecoou como uma bomba.
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ram logo depois do jantar. Peter se lembrava das pessoas batendo nos co
com as colheres para fazé-lo beijar Cynthia. “Eu estava ficando ie
irritado”, lembra-se ele. Para resumir o dia de seu casamento, disse ele: “Ea
tragédia de cada um.” Cynthia sorri concordando sem muito entusiasmo,
A razo pela qual Peter e Cynthia tém recordagées tao distorcidas & que
a negatividade entre eles se tornou tao intensa que as acusagdes muituas
eram feitas em puiblico. Quando os quatro cavaleiros invadem um lar, im-
pedindo a comunicacao, a negatividade prolifera de tal modo que todos os
atos do cénjuge — inclusive os anteriores — sao repassados sob um prisma
negativo.
Num casamento feliz, se o marido promete apanhar a roupa da mulher
na lavandeira, mas esquece, ela provavelmente pensaré: “Ah, bom, ele tem
mesmo vivido sob muita pressao ultimamente e precisa dormir mais.” Con-
sidera seu lapso como algo passageiro e causado por uma situagao especifi-
ca. Num casamento infeliz, a mesma circunstancia pode levar a um pensa-
mento como: “Ele é sempre tao egofsta e sem consideragao.” Por outro
lado, num casamento feliz, um gesto carinhoso como o beijo apaixonado da
mulher no marido no fim de um dia de trabalho é visto como um sinal de
que a mulher é carinhosa ¢ atenciosa. Mas num casamento infeliz a mesma
agao levard o marido a pensar: “Ih, o que ela quer de mim?”
Essa viséo deformada explica por que Mitch, um marido que estuda-
Mos, via sempre motivos ocultos no fato de sua esposa trazer-lhe um pre-
sente, abrac4-lo, ou até telefonar para ele. Com o tempo ele modificou a
Opinio que tinha sobre seu préprio casamento, criando um roteiro muito
negativo. Sempre que surgia um conflito, ele j4 estava preparado para sen-
tit-se cheio de razio ¢ indignar-se. Seus pensamentos negativos sobre Leslie
ajudaram a manter seu infortinio. Ele se saturava logo quando tinham um
confronto. Ter expectativas negativas dela e do relacionamento de ambos
tornou-se uma norma. Em pouco tempo, eles se divorciaram.
O FIM SE ANUNCIA
Quando o casamento chega ao ponto em que os casais contam sua histéria de
forma diferente, quando suas mentes ¢ corpos tornam a comunicacao ¢ a re-
Paracao dos seus problemas atuais algo virtualmente imposstvel, o fracasso
quase certo. Eles se encontram constantemente em sinal de alerta. Como es-
BR en————=
to sempre na expectativa de entrar em luta, o casamento se torna um tor-
mento. Um resultado compreensivel: eles se retiram do relacionamento.
As vezes, nessa etapa final do casamento, o casal procura terapia. Super-
ficialmente pode parecer que nada mais esteja errado. Eles nao brigam, nao
faltam com o respeito um ao outro ou deixam de se comunicar. Nao fazem
mais nada. Conversam calmamente e de forma distante sobre o relaciona-
mento € os conflitos que enfrentam. Um terapeuta inexperiente poderia fa-
cilmente concluir que o problema deles nao é muito profundo. Mas na rea-
lidade um dos dois, ou os dois, j se desvinculou do casamento.
Algumas pessoas saem do casamento, literalmente, com o divércio.
Outros fazem isso levando vidas paralelas juntos. Qualquer que seja o cami-
nho, existem quatro etapas finais que assinalam o toque finebre de um rela-
cionamento.
1. Vocé percebe que seus problemas conjugais sao sérios.
2. Discutir os assuntos parece intitil. Vocé tenta resolver os problemas
sozinho.
3. Ambos comegam a levar vidas paralelas.
4. A solidao se instala.
Quando um casal chega a essa etapa final, um deles pode estar tendo um
caso. Mas, em geral, a existéncia de um caso é sintomade um casamento mor-
to, nao uma causa. Muitas vezes, os casais comegam a procurar auxflio para
seu casamento depois de j4 terem passado pelo maremoto. Os sinais de aviso
€stavam quase sempre presentes desde cedo se eles soubessem 0 que procurar.
Podemos ver as sementes do problema nas seguintes atitudes: (1) 0 que os ca-
sais realmente dizem um ao outro (predominancia de discuss6es com infcio
rispido, presenca dos quatro cavaleiros e m4 vontade para aceitar influéncias
positivas); (2) insucesso das tentativas de reparagio; (3) reagbes fisiolégicas
(de saturagao); ou (4) proliferagio de pensamentos negativos sobre o préprio
casamento. Qualquer um desses sinais indica que a separacao emocional, e na
maioria dos casos o divércio, é apenas uma questao de tempo.
MAS NAO ACABA ENQUANTO NAO ACABOU
Por mais desolador que pareca, estou convencido de que poderia ser salvo
um ntimero de casamentos bem maior do que atualmente ¢. Mesmo um ca-
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a
samento que esteja prestes a chegar ao fim pode readquirir vida com um
tipo de ajuda adequado. Lamentavelmente nessa etapa, a maioria dos casa-
mentos recebe um tipo de ajuda errado.. Terapeutas bem-intencionados
jnundam o casal de conselhos para barganhar suas diferengas e melhorar a
comunicacdo entre eles. H4 algum tempo eu teria feito o mesmo. No ini-
cio, quando entendi a maneira pela qual poderia antever um divércio, pen-
sei ter encontrado o caminho para salvar os casamentos. O que era necess4-
rio, presumia eu, era ensinar as pessoas como brigar sem se permitirem a
interferéncia dos quatro cavaleiros ¢ sem se deixarem saturar. Assim suas
tentativas de reparagao seriam bem-sucedidas, ¢ eles poderiam pouco a
pouco revelar suas diferengas. :
Mas, como tantos estudiosos antes de mim, eu estava errado. Nao fui
capaz de decifrar 0 cédigo que salva os casamentos até comecar a analisar o
que estava certo nos casamentos felizes. Apds estudar intensivamente esses
casamentos por um perfodo de 16 anos, sei agora que o segredo para ressus-
citar um relacionamento ou torné-lo resistente ao divércio nao est4 na for-
ma como 0 casal lida com seus desentendimentos, mas na maneira como
tratam um ao outro quando nfo estao brigando. Portanto, embora meus
Sete Principios também sirvam de orientagao para enfrentar os conflitos, a
minha proposta se fundamenta no fortalecimento da amizade, que consti-
tui a esséncia do casamento.
or sill