Origem e Concepção de Didática

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PEDAGOGIA

PROF. SVETLANA RIBEIRO

Origem e concepção de didática em livros didáticos ou manuais de ensino. Não basta ao


professor reproduzir pressupostos teóricos ou programas
Didática disciplinares pré-estabelecidos, as informações
acumuladas na prática ao longo do processo ensino-
Por Lucila Conceição Pereira
aprendizagem devem despertar a capacidade crítica
No universo da educação, especialmente no ambiente capaz de proporcionar questionamentos e reflexões
escolar a palavra didática está presente de forma sobre essas informações a fim de garantir uma
imperativa, afinal são componentes fundamentais do transformação na prática. Como um processo em
cotidiano escolar os materiais didáticos, livros didáticos, constante transformação, a formação do educador exige
projetos didáticos e a própria didática como um esta interligação entre a teoria e a prática como forma
instrumento qualificador do trabalho do professor em de desenvolvimento da capacidade crítica profissional.
sala de aula. Afinal, a partir do significado atribuído à
Bibliografia:
didática no campo educacional, é comum ouvir que o
professor x ou y é um bom professor porque tem LIBÂNEO, José Carlos. Didática – Velhos e Novos temas.
didática. Disponível
em: https://www3.fmb.unesp.br/emv/pluginfile.php/24
Para as teorias da educação, porém, a didática é mais do
531/mod_resource/content/1/Lib%C3%A2neo%20-
que um termo utilizado para representar a dicotomia
%20Livro%20Didatica.pdf
entre o bom e o mal professor ou para designar os
materiais utilizados no ambiente escolar. Termo de SFORNI, Maria Sueli de Faria. Interação entre Didática e
origem grega (didaktiké), a didática foi instituída no Teoria Histórico-Cultural. Educação e Realidade, Porto
século XVI como ciência reguladora do ensino. Mais Alegre, 2015. Disponível
tarde Comenius atribuiu seu caráter pedagógico ao em: http://www.scielo.br/pdf/edreal/2015nahead/2175
defini-la como a arte de ensinar. -6236-edreal-45965.pdf
Nos dias atuais, a definição de didática ganhou contornos BARBOSA, Flávia Aparecida S. e FREITAS, Fernando
mais amplos e deve ser compreendida enquanto um Jorge Correia. A Didática e sua Contribuição no Processo
campo de estudo que discute as questões que envolvem de Formação do Professor. Disponível
os processos de ensino. Nessa perspectiva a didática em: http://fapb.edu.br/media/files/35/35_1939.pdf
pode ser definida como um ramo da ciência pedagógica
voltada para a formação do aluno em função de
finalidades educativas e que tem como objeto de estudo
os processos de ensino e aprendizagem e as relações Diferentes concepções de educação e didática
que se estabelecem entre o ato de ensinar (professor) e
As diferentes concepções da Didática segundo Comnius
o ato de aprender (aluno). Nesta perspectiva a didática
e Herbart.
passa a abordar o ensino ou a arte de ensinar como um
Edivaldo de Menezes Firmino
trabalho de mediação de ações pré-definidas destinadas
à aprendizagem, criando condições e estratégias que
assegurem a construção do conhecimento. Esses dois autores falaram e argumentaram sobre a
didática que segundo Comnius é a arte de ensinar,
Nesse contexto, a Didática enquanto campo de estudo
organizar, planejar, selecionar conteúdos, aprender e
visa propor princípios, formas e diretrizes que são
avaliar, mas com tudo isso eles apresentarem
comuns ao ensino de todas as áreas de conhecimento.
concepções um pouco diferenciadas sobre a didática, no
Não se restringe a uma prática de ensino, mas se propõe
entanto de qualquer forma perceberam que ela é de
a compreender a relação que se estabelece entre três
fundamental interesse e de grande valor no
elementos: professor, aluno e a matéria a ser ensinada.
desenvolvimento humano e cognitivo.
Ao investigar as relações entre o ensino e a
aprendizagem mediadas por um ato didático, procura
compreender também as relações que o aluno Primeiro temos Comnius ele afirmava que a didática e a
estabelece com os objetos do conhecimento. Para isso educação em geral teriam a missão de preparar o ser
privilegia a análise das condições de ensino e suas humano para a vida eterna ele em seu livro "A didática
relações com os objetivos, conteúdos, métodos e Magna" ele nos traz um conjunto de princípios e regras
procedimentos de ensino. que proporcionam o ensino fácil e solido que tem um
grande fundamento religioso e que teria a finalidade de
Entretanto, postular que o campo de estudo da Didática
preparar o homem para a vida eterna. Com isso
é responsável por produzir conhecimentos sobre modos
podemos perceber que a preocupação dele era
de transmissão de conteúdos curriculares através de
realmente preparar o ser humano para viver na
métodos e conhecimentos não deve reduzir a Didática a
eternidade e para que isso pudesse ocorrer as pessoas
visão de estudo meramente tecnicista. Ao contrário, a
deveriam desenvolver de forma integrada a razão, a
produção de conhecimentos sobre as técnicas de ensino
virtude e a piedade, é o tema central e também a
oriundos desse campo de estudo tem por objetivo tornar
preocupação de sua obra que era educar para a vida
a pratica docente reflexiva, para que a ação do professor
eterna.
não seja uma mera reprodução de estratégias presentes

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buscam analisar e conhecer melhor a realidade educativa


Já Herbart tem uma outra concepção do objetivo e da no que se concentra como disciplina, esta trata de
finalidade da didática talvez pela diferença de época em intervir sobre a realidade que se estuda. Uns dos
que cada um viveu. Esse percebeu, diferente de elementos didáticos, ensino e aprendizagem é a matéria,
Comenius uma outra finalidade para a ação de educar, o professor, o aluno, o contexto de aprendizagem e o
talvez também pela influência dos novos tempos em que currículo, entende-se que estes elementos estão
a sociedade passou a colocar mais o ser humano no conectados de acordo com (LIBÂNEO, 1992) “O processo
centro de tudo (Antropocentrismo) então isso que acaba didático, assim, desenvolve-se mediante a ação
ocorrendo no pensamento didático de Herbart a recíproca dos componentes fundamentais do ensino”.
educação tem a finalidade de descobrir, conhecer, o Tem que se atentar que a didática é uma matéria de
próprio homem, os fenômenos e o meio ambiente. Para estudo que engloba e articulam conhecimentos teóricos
ele, o currículo de todas as escolas, em todos os níveis e práticos obtidos nas disciplinas de formação
de ensino, deveria visar o conhecimento da natureza e o acadêmica, formação pedagógica e formação técnica-
conhecimento da própria humanidade. prática, provendo, contribuindo no que é comum, básico
e relevante para o ensino e de todas as disciplinas de
Então se entende como sua preocupação fundamental conteúdo.
realmente isso, a busca do conhecimento da natureza e
da humanidade. Mostrando com isso que a educação
teria uma finalidade e um objetivo terreno e natural,
visando que o homem aprenda e use o conhecimento na A didática e a formação do profissional da
própria terra, visando também que esse se liberte que educação
questione que investigue em fim que reflita sobre si
mesmo e sobre o meio que o cerca, ou seja, algo que vai
contra o pensamento de Comenius onde a educação AS CONTRIBUIÇÕES DA DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DO
preparava o ser humano para a vida eterna, a vida PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO
espiritual, celestial e com certeza não tinham a finalidade
de fazer o ser humano questionar a si mesmo, nem ao Elaine Borges Rodrigues1
meio ambiente e muito menos a sociedade.
Ilda Neta S. Almeida
Para Libâneo, a didática faz parte da ciência pedagógica
Levando em consideração o seu significado etimológico
que tem como finalidade de ensinar métodos e
percebemos que a didática está intimamente ligada ao
estratégias que proporciona a aprendizagem do aluno
processo de ensino-aprendizagem, e a tudo que se refere
por parte do educador ou instrutor, para Libâneo,“A
ao ato de ensinar e aprender. A didática, tem como
Didática [...] trata dos objetivos, condições e meios de
objeto de estudo, o processo de ensino aprendizagem,
realização do processo de ensino, ligando meios
pois este está inserido em todas as práticas
pedagógico-didáticos a objetivos sócio-políticos”.
educacionais, em todos os níveis de ensino, e cada
(LIBÂNEO, 2002), a didática é apresentada como uma
prática educacional evidencia uma intenção, ideologia,
disciplina prática, mesmo apresentando bases das
objetivos e meios para serem atingidos. Desta forma
teorias pedagógicas que exploram métodos adequados e
ocorre o processo de ensino aprendizagem, que em
convenientes a trabalhar. A didática possibilita a escolha
momento algum é neutro, apolítico ou isolado de sua
de melhores caminhos em cada caso, para chegar a uma
realidade político social.
determinada meta, sendo ela propulsor para o
ensinamento e aprendizagem dos educandos Assim, a didática aborda claramente todos os fatores e
individualmente. Definindo-se puramente o ensinar, elementos inerentes do ensinar aprender,
explicar e instruir o aluno resultando em sua independentemente do nível de ensino. Porém, não
aprendizagem, a didática do mesmo modo considera [...] podemos nos limitar a uma visão reducionista da
fatores reais (sociais, políticos, culturais, psicossociais) didática, essa primeira noção etimológica nos abre
condicionantes das relações entre a docência e a caminho para estudar e aprofundar no conceito de
aprendizagem (LIBÂNEO, 1990). Assim sendo a didática didática, mas não diz tudo, pois, a didática enquanto
é uma disciplina focada no estudo dos processos de parte integrante do processo formador do homem não
ensino e aprendizagem, que busca a formação e o esvazia nem se limita a breve explicação, como afirma
desenvolvimento instrutivo, sendo um processo de Menegolla e Sant‘Anna, a didática: Não pode ser
formar mulheres e homens capazes e inteligentes entendida simplesmente como um rol de princípios, de
referindo-se diante de uma situação problema o mesmo teorias e ensino ou de teorias de aprendizagem. Não
seja capaz de resolver, buscando soluções para resolver pode ser concebida somente como uma ciência que
os problemas e o formativo, que [...] pode ser definido somente estabelece uma série de métodos e técnicas de
como ensino através de pesquisa ou ensino usando o ensino a ser apresentada como solução para todos os
método de pesquisa (GUZMÁN, TAMAYO LY, 2017). problemas no processo de ensino-aprendizagem. (2002,
p. 25).
A didática é a reflexão e a análise do processo de ensino
e aprendizagem e da docência como um todo. Por sua vez, a didática investiga os fundamentos,
Concomitantemente com a pedagogia, a didática busca condições e modos de realização do ensino, ocupa-se dos
explicação e a melhoria dos fatos educativos, ambos métodos, conteúdos e organização da aula, assim ela

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oferece embasamento para a relação ensino- de ensino nas várias dimensões, não se restringindo
aprendizagem, eliminando a dicotomia entre teoria e apenas a educação escolar, mas investiga e orienta a
prática. Nota-se que a problemática que permeia a formação do educador na sua totalidade.
educação em torno da didática, consiste na dificuldade
de mediar conhecimento prático e teórico, na medida em Referência Bibliográfica
que muitos educadores apresentam uma concepção
BOSSA, Sueli de Paula. Fundamentos da psicopedagogia.
fragmentada e ambígua desta interação, chegando ao
In: A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da
ponto de dissociá-las. Essa separação entre teoria e
prática. Porto Alegre, Artes médicas sul, 1994.
prática impossibilita os profissionais da educação de
articular a teoria em proveito da prática, pois uma COMENIUS, João Amos. (1996). Didática magna. São
subsidia a outra. Como resultado dessa separação a Paulo: Martins Fontes.
prática educativa tende a reduzir-se ao extremo do
praticismo. Nesse sentido a didática visa contribuir para CUNHA, Sueli de Paula. Psicopedagogia - O que é? In:
a superação dessa dificuldade proporcionando ao Jornal da psicopedagogia, seção Goiás. Ano.N1mar-abr,
profissional da educação embasamento teórico prático. 1995.
Os profissionais da educação precisam ter um pleno
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para
“domínio das bases teóricas científicas e tecnológicas, e
quê?São Paulo: Cortez, 2000. ________. Prática
sua articulação com as exigências concretas do ensino”
educativa, pedagogia e didática. In: Didática. São Paulo:
(LIBÂNEO, 2002, p. 28), pois é através desse domínio
Cortez, 1994.
que ele poderá estar revendo, analisando e aprimorando
sua prática educativa. A prática educativa não pode PERES, Maria Regina. Psicopedagogia: aspectos
ocorrer de maneira espontânea, sem planejamento, históricos e desafios atuais. In: Revista de educação.
metas e instrumentos, baseando-se no puro praticismo PUC Campinas, V. 3, nº 5, p.41-45, nov. 1998.
como foi mencionado anteriormente, ela deve
estabelecer objetivos, os quais devem ser atingidos VENDRAMINI, Luis Carlos, Guia para apresentação de
utilizando-se da didática, que certamente facilitará o trabalhos acadêmicos. Trindade: gráfica carvalho, 2003.
caminho a ser trilhado segundo meios viáveis e de
acordo com cada realidade educacional, em proveito da
ideia de homem que se deseja formar, de acordo com a
A importância da educação como processo de
sociedade em que este homem está inserido, pois “a
mudança
didática não se limita só ao fazer, só ação prática, mas
também se vincula as demais instâncias e aspectos da A EDUCAÇÃO E O PROCESSO DE MUDANÇA SOCIAL
educação formal” (LIBÂNEO, 2002, p. 144). Partindo
dessa linha de raciocínio, percebe-se que a didática Educação e o Processo de Mudança Social
contribui de maneira significativa para a fundamentação
(Extraído do estudo da obra Educação e Mudança de
da prática educativa, é ela que fornece aos profissionais
Paulo Freire)
da educação a necessidade inescapável de fazer
convergir a teoria em proveito da prática. No processo O compromisso do profissional com a sociedade
de formação a didática opera entre conhecimento
teórico-cientifico e técnico-prático, é como uma ponte “Somente um ser que é capaz de sair de seu contexto,
que interliga a prática e a teoria, sendo assim o de distanciar-se dele para ficar com ele; capaz de
profissional da educação no plano da sua formação admirá-lo para, objetivando-o, transformá-lo e,
estuda disciplinas que se articulam e se organizam entre transformando-o, saber-se transformado pela sua
si, para que os educadores possam sustentar sua práxis própria criação; um ser que é e está sendo no tempo que
na constante reflexão acerca de suas práticas e de seus é o seu, um ser histórico, somente este é capaz, por tudo
conhecimentos teóricos. Portanto, conclui-se que as isto, de comprometer-se” (p.17)
contribuições da didática para os profissionais de
educação, constitui-se em eliminar a dicotomia que há
entre a teoria e a prática e para eliminar tal separação a
INTRODUÇÃO
didática se converte numa base teórico-prática que
permite aos profissionais da educação sustentar uma No prefácio da obra, concebido por Moacir Gadotti, pôde-
compreensão mais substancial dos se ficar sabendo um pouco da trajetória de Paulo Freire
quando retorna de quinze ano de exílio.
princípios, condições e meios de direção e
organização do ensino pelos quais se Retorna ao Brasil “distante do qual estava há 14 anos,
asseguram a mediação docente de objetivos, mas distante do qual nunca estava também”,
conteúdos, métodos, em vista da efetivação da significando que Freire sempre ficou informado a
assimilação consciente de conhecimentos respeito dos acontecimentos de seu país natal durante o
(LIBÂNEO, 2002, p. 144). exílio.

Portanto é a didática que fundamenta a ação docente, é Gadotti diz ainda que a teoria de Paulo Freire tem como
através da didática que a teoria e a prática se consolidam ponto de partida, sua opção radical pela libertação dos
de forma viável e eficaz, pois ela se ocupa do processo

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oprimidos, sendo o sentido mais profundo de sua obra, Características: A educação não é um processo de
a “expressão” dos oprimidos. adaptação do indivíduo a sociedade, pois se existisse
uma educação que pretendesse adaptar o homem, a
Tendo como temática a questão da mudança e o caráter mesma estaria matando suas possibilidades de ação,
de dependência da educação em relação à sociedade, transformando-o em “abelha”.
pareceu-me que o ponto central desta obra de Paulo
Freire encontra-se no capítulo referente à Educação e o O homem tende a captar uma realidade fazendo-a
Processo de Mudança Social, ao qual tomei a liberdade objeto de seus conhecimentos e o papel da educação
de me ater mais profundamente. deve ser o de estimular a opção e afirmar o homem como
homem. “Adaptar é acomodar, não transformar.” (p.32)

O ímpeto criador do homem: Segundo Freire em todo


A EDUCAÇÃO E O PROCESSO DE MUDANÇA SOCIAL homem existe um ímpeto criador que nasce da
inconclusão do homem. É necessário darmos
Neste capítulo, Paulo Freire organiza em doze tópicos
oportunidade para que os educandos sejam eles
sua teoria sobre a educação e o processo de mudança
mesmos, pois um educador que restringe os educandos
social.
a um plano pessoal impede-os de criar.
Segundo ele, não é possível fazer uma reflexão sobre o
O desenvolvimento de uma consciência crítica que
que é a educação sem primeiramente refletir sobre o
permite ao homem transformar a realidade se faz cada
próprio homem e que não haveria educação se o homem
vez mais urgente. Na medida em que os homens, dentro
fosse um ser acabado, se não estivesse “O homem deve
de uma sociedade, vão respondendo aos desafios do
ser o sujeito de sua própria educação. Não pode ser o
mundo, vão temporizando os espaços geográfico se vão
objeto dela. Por isso ninguém educa ninguém (...) O
fazendo história pela sua própria atividade criadora.
homem não é uma ilha. É comunicação. Logo, há uma
estreita relação entre comunhão e busca.” (p.28) Conceito de sociedade em transição: Paulo Freire
adverte: Toda a transição é mudança, mas não vice-
Saber-Ignorância: Paulo Freire nos diz que a educação
versa. Não há transição que não implique um ponto de
tem caráter permanente, que não existem seres
partida, um processo e um ponto de chegada. todo
educados e não educados e que estamos todos nos
amanhã se cria num ontem, através de um hoje. De
educando, afinal, o saber se constrói através de uma
modo que o nosso futuro baseia-se no passado e se
superação constante.
corporifica no presente. Temos de saber o que fomos e
Ouso compartilhar minha opinião com Freire no sentido o que somos, para saber o que seremos.
de que não existem ignorantes absolutos. Posso saber
Características de uma sociedade fechada: A sociedade
sobre as teorias sociológicas, mas muito pouco entendo
fechada se caracteriza pela conservação do status ou
sobre saber semear a terra ou consertar o motor de um
privilégio e por desenvolver todo um sistema educacional
automóvel.
para manter este status.
Por isso, diz ele, não podemos nos colocar na posição do
Nestas sociedades se instala uma elite que governa
ser superior que ensina um grupo de ignorantes, mas
conforme as ordens da sociedade diretriz. Esta elite
sim na posição humilde daquele que comunica um saber
impõe-se às massas populares. Esta imposição faz com
relativo a outros que possuem outro saber relativo.
que ela esteja sobre o povo e não com o povo.
Amor-Desamor: Para o Autor o amor é uma tarefa do
Pode-se perceber a quão associada encontra-se a
sujeito. “É falso dizer que o amor não espera
educação com o grau de desenvolvimento quando Paulo
retribuições”.
Freire diz que também se caracteriza uma sociedade
Não existe educação do medo. Nada se pode temer da fechada pelo analfabetismo e pelo desinteresse pela
educação quando se ama. Ama-se na medida em que se educação básica dos adultos, esta última motivo de
busca comunicação, integração a partir da comunicação muitos estudo seus.
com os demais.
Sociedade Alienada: Aparece então a crítica de Freire à
Esperança-Desesperança: Na visão de Freire uma “sociedade alienada” a qual julga não ter consciência de
educação sem esperança não é educação. seu próprio existir. “Um profissional alienado é um ser
inautêntico”, diz ele. “Seu pensar não está
Quem não tem esperança na educação dos camponeses, comprometido consigo mesmo, não é responsável.” O
por exemplo, deverá procurar trabalho em outro lugar. ser alienado não olha para a realidade com critério
pessoal, mas com os olhos alheios.
O Homem - um ser de relações: Aqui, pode-se observar
o início do processo de integração, pois propõem-se que O ser alienado não procura um mundo autêntico. Isto
o homem está no mundo e com o mundo, sendo assim, provoca uma nostalgia: deseja outro país e lamenta ter
capaz de relacionar-se; de sair de si; de “transcender”. nascido no seu. Tem vergonha de sua realidade.

Estas relações não se dão apenas com os outros, mas se “A sociedade alienada não se conhece a si mesma; é
dão no mundo, com o mundo e pelo mundo. imatura, tem comportamento exemplarista, trata de

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conhecer a realidade por diagnósticos estrangeiros” Características da Consciência Ingênua: Revela uma
(pg.36) certa simplicidade, (simplismo na interpretação dos
problemas). Não se aprofunda na casualidade do próprio
Geralmente as elites acusam o povo de fraqueza ou fato. Suas conclusões são apressadas superficiais. Há
incapacidade e por isso suas soluções não dão resultado. uma tendência a considerar que o passado foi melhor.
Assim, as atitudes dos dirigentes oscilam entre um Subestima o homem simples. É frágil na discussão dos
otimismo ingênuo ou um pessimismo ou desespero. É problemas. O Ingênuo parte do princípio de que sabe
ingenuidade pensar que a simples importação de tudo. Diz que a realidade é estática e não mutável.
soluções salvará o povo.
Características da Consciência Crítica: Anseio de
Uma sociedade em Transição: Talvez, este seja o tópico profundidade na análise de problemas. Não se satisfaz
mais importante, pois aqui, Paulo Freire começa a com as aparências. Procura verificar ou testar as
explicar que existe uma série de fenômenos sociológicos descobertas. Ao deparar com um fato, faz o possível para
que têm ligação com o papel do educador. livrar-se de preconceitos. É intensamente inquieta,
indagadora. Ama o diálogo, nutre-se dele. Reconhece
Quando uma sociedade passa por um processo de
que a realidade é mutável.
transição, começam a surgir novos valores para as
massas populares, até então, espectadoras passivas. Por Portanto, o passo para a consciência crítica somente se
conseguinte, quando a sociedade se incorpora nelas, dá com o processo educativo de conscientização. E este
começa um processo chamado democratização passo exige um trabalho de promoção e critização.
fundamental.

As massas passam a exigir voz e voto no processo


político da sociedade. Percebem que outros têm mais CONCLUSÃO & Considerações Finais
facilidade que eles e descobrem que a educação lhes
abre uma perspectiva. Dado o momento histórico da concepção desta obra de
Paulo Freire, a mesma acaba por se confluir com a
Elas descobrem na educação um canal para um questão social e política brasileira da época. Sufocado
novo status e começam a reivindicar mais escolas. por um longo período no exterior, o autor vê a
Começam a ter um sentimento que não tinham. Existe oportunidade de exprimir suas idéias para a concepção
uma correspondência entre a manifestação das massas de um novo modelo de Educação.
e a reivindicação. Segundo Paulo Freire é o que
chamamos de educação das massas. Apesar disto, seu livro não pode ser considerado de
forma alguma desatualizado. Pelo contrário. Ele é
“Uma sociedade justa dá oportunidade às massas para bastante atual, pois propõe não apenas um novo modelo
que tenham opções e não a opção que a elite tem, mas de Educação como também um novo modelo social, que
a própria opção das massas. A consciência criadora e teria como celeiro a Educação.
comunicativa é democrática.”(p.38)
Na concepção de Paulo Freire, a eliminação da
A “Consciência Bancária” da Educação: “As sociedades “Consciência Bancária” (educação tecnicista) e da
latino-americanas começam a se inscrever neste Alienação das massas em detrimento da aplicação de
processo de abertura, umas mais que outras, mas a uma pedagogia progressista libertadora nas Escolas,
educação ainda permanece vertical” (p.39) seria a mola mestra da proposta para um
desenvolvimento democrático e participativo no país.
O professor ainda é um ser superior que ensina a
ignorantes. Isto forma o que o Paulo Freire classifica E para que esta proposta se concretize, para que se saia
como uma “Consciência Bancária”. O educando recebe do processo de transição com uma vitória da participação
passivamente os conhecimentos, tornando-se um das massas, é importante o envolvimento de todos.
depósito do educador.
“Uma sociedade esta se abrindo quando começa o
A consciência Bancária pensa que quanto mais se dá processo de desalienação com o surgimento de novos
mais se sabe. Mas a experiência revela que com este valores. Assim, por exemplo, a idéia da participação
mesmo sistema só se formam indivíduos medíocres, por popular no poder.” (p.37)
que não há estimulo para a criação.
REFERÊNCIA:
A Consciência e Seus Estados: “A Consciência se reflete
e vai para o mundo que conhece: é o processo de FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 12ª Edição. Paz e
adaptação. A consciência é temporalizada. O Homem é Terra. Rio de Janeiro, 1979.
consciente e, na medida em que conhece, tende a se
comprometer com a própria realidade.” (Pg.40)
As diferentes concepções de educação
No que concerne às características gerais das
consciências pode-se afirmar que na consciência ingênua O conceito de Educação foi amplamente debatido por
há uma busca de compromissos; na Crítica há um vários pesquisadores ao longo do tempo. Veja aqui as
compromisso e, na fanática, uma entrega irracional.

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principias teorias e metodologias que permeiam as Humanista


atividades educacionais até os dias atuais.
A concepção humanista de educação preza pela
Tradicional centralidade do sujeito que está em processo de
aprendizagem. As experiências pessoais dos alunos
É um modelo educacional que foi amplamente difundido são ressignificadas diante dos conteúdos do currículo
no território brasileiro desde o Império. escolar, de modo que não se parte do externo para o
indivíduo, mas do aluno para o que está fora dele.
Conforme esta concepção, o aluno é visto como receptor
passivo das informações, conteúdos e práticas As potencialidades dos alunos são exploradas e
preestabelecidas pelo sistema educacional, pela valorizadas, e o professor atua como um
instituição ou mesmo pelo professor. facilitador dos processos de aprendizagem.
O professor é o responsável por selecionar os As subjetividades individuais dos alunos são elementos
conteúdos e repassar aos alunos no ambiente escolar. O que favorecem a interação com os conteúdos, e
método avaliativo é pautado na reprodução dos o professor estimula as percepções e a
conteúdos trabalhados. personalidade de cada um na aprendizagem.

Desta forma, sobressai a memorização e repetição do Cognitivista


que foi trabalhado em aula.
Esta concepção de educação tem como base os vários
Há uma evidente hierarquia na relação entre professor e conhecimentos constituídos ao longo da história
aluno, ficando como responsabilidade do professor o do aluno, considerando para tanto a sua cultura, sua
andamento das atividades e as decisões sobre métodos, personalidade, a afetividade, o momento histórico no
conteúdos e avaliações. qual o aluno está inserido e ainda o meio social no qual
ele vive.
Não é um modelo muito democrático, já que o conteúdo
é repassado de forma hierarquizada. Não há incentivo ao É uma das concepções mais conhecidas na educação
pensamento crítico por parte dos alunos, nem tampouco brasileira, pois explora o desenvolvimento cognitivo das
trabalhos que demandem relações de grupo. crianças.
Esta concepção pedagógica é bastante criticada no Entende-se que o aluno passa por diversos períodos
contexto educacional, mas ainda está muito presente na durante seu desenvolvimento, e em cada um destes são
realidade brasileira. aflorados aspectos da sua evolução.

Comportamentalista A interação com o meio e com as demais pessoas é


considerada como uma forma privilegiada no processo
Esta concepção pedagógica é também conhecida como
de desenvolvimento da criança. Nesta concepção,
behaviorista. O nome mais conhecido do Behaviorismo é
entende-se que toda pessoa pode aprender sempre, e
Skinner, cujas pesquisas pautaram-se nos
que cada um aprende de forma única e subjetiva.
comportamentos de condicionamento social.
O professor é, nesta concepção, um mediador entre o
Para esta teoria, o conhecimento é um elemento externo
conhecimento e o aluno.
ao indivíduo, e cabe a este encontrar as formas para
chegar até ele. Com objetivos de ensino bem O docente tem a responsabilidade de problematizar os
estabelecidos, a educação seria uma forma pela qual o conteúdos e conceitos, desafiando os alunos, de modo
aluno poderia atingir o conhecimento. que a criatividade e a criticidade sejam desenvolvidos
nas aulas.
Nesta concepção, é importante que sejam desenvolvidas
habilidades e competências através dos processos Sociocultural
educacionais.
Esta concepção da educação leva em consideração
Uma das teorias do conhecimento que respalda a visão aspectos como o contexto político, econômico, social e
comportamentalista é o Positivismo, para o qual tudo cultural no qual o aluno está inserido. Ela entende que a
pode ser sistematizado e mensurado através do método ação educativa tem como base justamente estes fatores.
das ciências naturais.
O ensino-aprendizagem é concebido a partir do processo
Ao professor, nesta concepção, cabe o sócio-histórico, o qual é mediado pela cultura.
planejamento das melhores ações para se chegar
aos objetivos de aprendizagem propostos. São A educação para o modelo sociocultural é sempre
comumente utilizados estímulos e punições, visando problematizadora, especialmente no que tange aos
incentivar o aluno ou corrigir aspectos que não sejam aspectos da sociedade.
positivos.
O aluno é instigado a perceber a organização social na
qual vive, situando-se no espaço geográfico e no tempo

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histórico. Como tal, o estudante é um sujeito ativo na


construção dos conhecimentos históricos.

A relação entre estudante e professor é igualitária, e o


aluno é instigado a questionar sempre.

Estas são as principais concepções que permeiam as


ações educativas e curriculares. Todas elas possuem
grandes pesquisadores que as estudam e legitimam suas
ações. Cada qual tem a sua importância diante do
cenário geral da educação.

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