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MANUAL TÉCNICO-PROFISSIONAL Nº 3.04.02/2020-CG

MTP 02
ABORDAGEM A PESSOAS

BELO HORIZONTE - MG
2020
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MANUAL TÉCNICO PROFISSIONAL


Nº 3.04.02/2020-CG

Abordagem a Pessoas

BELO HORIZONTE – MG
2020
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Direitos exclusivos da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (PMMG).


Reprodução condicionada à autorização expressa do Comandante-Geral da PMMG.
Circulação restrita.

M663m MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral.


Manual Técnico-Profissional Nº 3.04.02/2020: Abordagem a pessoas /
Comando-Geral. Belo Horizonte: Assessoria Estratégica de Operações
(PM3). 2020.

132 p.

1. Apresentação. 2. Técnica e Tática Policial Básica. 3. Abordagem a


pessoas. 4. Busca Pessoal e Uso de Algemas. 5. Procedimentos Policiais
Específicos. 6. Abordagem às vítimas. 7. Local de Crime.

CDD - 353.3
CDU - 351.75(815.1)

Bibliotecária responsável: Tatiane Krempser Gandra – CRB 6/2963

ADMINISTRAÇÃO
Comando-Geral da Polícia Militar
Quartel do Comando-Geral da PMMG
Cidade Administrativa Tancredo Neves, Edifício Minas,
Rodovia Papa João Paulo II, nº 4143 – 6º Andar, Bairro Serra Verde
Belo Horizonte – MG – Brasil - CEP 31.630-900

SUPORTE METODOLÓGICO E TÉCNICO


Assessoria Estratégica de Operações – PM3
Quartel do Comando-Geral da PMMG
Cidade Administrativa Tancredo Neves, Edifício Minas,
Rodovia Papa João Paulo II, nº 4143 – 6º Andar, Bairro Serra Verde
Belo Horizonte – MG – Brasil - CEP 31.630-900
e-mail: pm3@pmmg.mg.gov.br.
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RESOLUÇÃO Nº 4.982, DE 06 DE OUTUBRO DE 2020

Aprova o Manual Técnico-Profissional n. 3.04.02/2020,


que regula a abordagem a pessoas no âmbito da Polícia
Militar de Minas Gerais.

O CORONEL PM COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS, no


uso das atribuições que lhe são conferidas pelo inciso III do § 1º do art. 93 da Constituição do
Estado de Minas Gerais, de 21 de setembro de 1989, c/c o art. 28 da Lei Delegada n. 174, de
26 de janeiro de 2007, em conformidade com os incisos I, alínea “l”, e XI do art. 6º do R-100,
aprovado pelo Decreto Estadual n. 18.445, de 15 de abril de 1977,

RESOLVE:

Art. 1º - Fica aprovado o Manual Técnico-Profissional n. 3.04.02/2020 - MTP 02 -, que regula


a abordagem a pessoas no âmbito da Polícia Militar de Minas Gerais.

Art. 2º - Ficam revogados:


I – a Resolução n. 4151, de 09 de junho de 2011;
II – o Memorando n. 30.385.3 - CG, de 13 de agosto de 2013.

Art. 3º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Belo Horizonte, 06 de outubro de 2020.

(a) RODRIGO SOUSA RODRIGUES, CORONEL PM


COMANDANTE-GERAL
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GOVERNADOR DO ESTADO
ROMEU ZEMA NETO

COMANDANTE-GERAL DA PMMG
CEL PM RODRIGO SOUSA RODRIGUES

CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA PMMG


CEL PM EDUARDO FELISBERTO ALVES

CHEFE DO GABINETE MILITAR DO GOVERNADOR


CEL PM OSVALDO DE SOUZA MARQUES

CHEFE DA ASSESSORIA ESTRATÉGICA DE OPERAÇÕES


TEN CEL PM WAGNER ALAN DE MATTOS

COLABORADORES 1ª EDIÇÃO (2010)


CEL PM FÁBIO MANHÃES XAVIER
CEL PM ANTÔNIO LEANDRO BETTONI DA SILVA
TEN CEL PM MARCELO VLADIMIR CORRÊA
MAJ PM ALFREDO JOSÉ ALVES VELOSO
MAJ PM WAGNER EUSTÁQUIO DA SILVA ALMEIDA
MAJ PM EDUARDO DOMINGUES BARBOSA
MAJ PM EDUARDO FELISBERTO ALVES
MAJ PM ÉDSON GONÇALVES
CAP PM ARNALDO AFFONSO
CAP PM MARCO AURÉLIO ZANCANELA DO CARMO
CAP PM QOS FABRÍZIA LOPES BRANDÃO PEREIRA
CAP PM RODOLFO CÉSAR MOROTTI FERNANDES
CAP PM RENATO SALGADO CINTRA GIL
CAP PM WANDERSON GARCIA COSTA NEVES
1º TEN PM ÉDSON H. RABELLO DE S. MENDES
1º TEN PM RODRIGO SALDANHA
1º TEN PM MOLISE Z. FONSECA DE SOUZA
1º TEN PM LUCIANA DO CARMO S. NOMINATO
2º TEN PM ANDERSON PEREIRA DE SOUSA
2º TEN PM RICARDO PEREIRA DE ARAUJO GOMES
1º SGT PM ANTÔNIO GERALDO ALVES SIQUEIRA
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2º SGT PM RINALDO ARAÚJO MARÇAL


3º SGT PM RICARDO MARTINS LOPES
3º SGT PM MÁRCIA DANIELA BANDEIRA SILVA
3º SGT PM NADJA ALVES DE SOUSA
3º SGT PM EDNA MÁRCIA COSTA MENDONÇA
CB PM ELIAS SABINO SOARES
SD PM LEONARDO GIORI DE OLIVEIRA
SD PM ALINE VANESSA ALVES
PROFº. HUGO DE MOURA
PROFª. MARIA SÍLVIA SANTOS FIÚZA
PEDAGª. ISABEL CRISTINA DE P. MOREIRA NAZARETH
ASS. JURÍDICA MARIA AMÉLIA PEREIRA

COLABORADORES 2ª EDIÇÃO (2013)


TEN CEL PM SÍLVIO JOSÉ DE SOUSA FILHO
MAJ PM EUGÊNIO PASCOAL DA CUNHA VALADARES
MAJ PM CLEVERSON NATAL DE OLIVEIRA
CAP PM RICARDO LUIZ AMORIM GONTIJO FOUREAUX
1º TEN PM HELIVELTON SALVADOR SANTANA
SUBTEN PM ANTÔNIO GERALDO ALVES SIQUEIRA
2º SGT PM DANILO TEIXEIRA ALCÂNTARA
2º SGT PM LUIZ HENRIQUE DE MORAES FIRMINO
CB PM ELIAS SABINO SOARES

COLABORADORES 3ª EDIÇÃO (2020)


REDAÇÃO
TEN CEL PM WAGNER ALAN DE MATTOS
TEN CEL PM RODRIGO SALDANHA
TEN CEL PM SANDRO ALEX CANUTO GONÇALVES
MAJ PM WELVISSON GOMES BRANDÃO
CAP PM IRAN MARTINS DE OLIVEIRA
1º TEN PM PABLO SÉRGIO DE SOUZA CORREA
1º TEN PM CLÁUDIO JOSÉ VIRGÍLIO
1º TEN PM BRUNO DINIZ CAMPOS
1º SGT PM DANILO TEIXEIRA ALCÂNTARA
1º SGT PM SANDRO GONÇALVES MAIA
1º SGT PM CÉSAR AUGUSTO VILAÇA JÚNIOR
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2º SGT PM DANIEL CORDEIRO RODRIGUES

FOTOGRAFIAS
CAP PM IRAN MARTINS DE OLIVEIRA
1º TEN PM CLÁUDIO JOSÉ VIRGÍLIO
1º SGT PM DANILO TEIXEIRA ALCÂNTARA

REVISÃO DOUTRINÁRIA
TEN CEL PM WAGNER ALAN DE MATTOS
1º TEN PM BRUNO DINIZ CAMPOS
3º SGT PM DANIELLE SUELI VENTURA

REVISÃO FINAL
TEN CEL PM WAGNER ALAN DE MATTOS
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APH - Atendimento Pré-Hospitalar


BO - Boletim de Ocorrência
CEMG - Constituição do Estado de Minas Gerais
CF/88 - Constituição Federal de 1988
CG - Comando-Geral/ Comandante-Geral
COPOM - Centro de Operações Policiais Militares
CP - Código Penal
CPP - Código de Processo Penal
CPPM - Código de Processo Penal Militar
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
FBI - Federal Bureau of Investigation
HT - Hand -Talk
IMPO - Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo
LC - Lei Complementar
LGBTI - Lésbica, Gay, Bissexual, Travesti, Transexual e Intersexual
MG - Minas Gerais
MTP - Manual Técnico-Profissional
NAVCV - Núcleo de Atendimento às Vítimas de Crimes Violentos
ONU - Organização das Nações Unidas
PM - Polícia/Policial Militar
PM3 - Assessoria Estratégica de Operações
PMMG - Polícia Militar de Minas Gerais
PNPR - Política Nacional para a População em Situação de Rua
REDS - Registro de Eventos de Defesa Social
ROCCA - Rondas Ostensivas com Cães
SAMU - Serviço de Atendimento Médico de Urgência
SOF - Sala de Operações da Fração
SOU - Sala de Operações da Unidade
STJ - Superior Tribunal de Justiça
TAT - Tática de Aproximação Triangular
TRF - Tribunal Regional Federal
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LISTA DE FIGURAS E QUADROS

Figura 1 - Coberta (na perspectiva do policial militar e do abordado) .................................. 17


Figura 2 - Abrigo (na perspectiva do policial militar e do abordado) ................................... 17
Figura 3 - Primeiro processo de rastejo (arma de porte) e (arma portátil). .......................... 19
Figura 4 - Segundo processo de Rastejo (arma de porte) e (arma portátil) ........................ 20
Figura 5 - Uso de Escudo Balístico (Segurança Mínima) .................................................... 21
Figura 6 - Uso de Escudo Balístico na posição de Segurança Máxima ............................... 22
Figura 7 - Uso de Escudo Balístico (Segurança Mínima com arma à frente do visor) ......... 22
Figura 8 - Uso de Escudo Balístico (Segurança Máxima com arma à frente do visor)......... 23
Figura 9 - Comunicação por gestos .................................................................................... 25
Figura 10 - Posição 1 de uso da lanterna ............................................................................ 27
Figura 11 - Posição 2 de uso da lanterna e suas variações ................................................ 28
Figura 12 - Posição 3 de uso da lanterna e suas variações ................................................ 29
Figura 13 - Tomada de ângulo ou “fatiamento” ................................................................... 31
Figura 14 - Olhada rápida ................................................................................................... 31
Figura 15 - Uso da técnica de reflexão da imagem ............................................................. 32
Figura 16 - Ângulos de aproximação ................................................................................... 34
Figura 17 - Postura Aberta .................................................................................................. 36
Figura 18 - Postura de Prontidão ........................................................................................ 37
Figura 19 - Postura Defensiva com mãos abertas e fechadas (postura de guarda) ............ 38
Figura 20 - Tática de Aproximação Triangular (Posicionamento inicial) .............................. 41
Figura 21 - Delimitação de áreas para o teatro operacional ................................................ 42
Figura 22 - Esquema tático com 3 (três) policiais militares e 3 (três) abordados ................. 44
Figura 23 - Composição da patrulha com seis policiais militares ......................................... 47
Figura 24 - Postura Combate .............................................................................................. 50
Figura 25 - Postura Torre .................................................................................................... 50
Figura 26 - Postura Tática Siamesa Sequencia L, T e Y ..................................................... 51
Figura 27 - Postura Hi-Low ................................................................................................. 51
Figura 28 - Avaliação em X ................................................................................................. 54
Figura 29 - Técnicas para Extricação (Arrasto) ................................................................... 55
Figura 30 - Técnicas para transporte de ferido .................................................................... 55
Figura 31 - Posicionamento 1: Dispositivo autoguardado com 2 (dois) policiais sem anteparo
............................................................................................................................................ 57
Figura 32 - Posicionamento 2: Dispositivo autoguardado com 2 (dois) policiais militares sem
anteparo .............................................................................................................................. 57
Figura 33 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 2 (dois) policiais militares com
anteparo .............................................................................................................................. 58
Figura 34 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 3 (três) policiais militares sem
anteparo .............................................................................................................................. 58
Figura 35 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 3 (três) policias militares com
anteparo .............................................................................................................................. 59
Figura 36 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 4 (quatro) policiais militares
sem anteparo (em círculo) ................................................................................................... 60
Figura 37 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 4 (quatro) policiais militares
sem anteparo (em linha) ..................................................................................................... 60
Figura 38 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 4 (quatro) policiais militares
com anteparo ....................................................................................................................... 61
Figura 39 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 5 (cinco) policias militares sem
anteparo (em círculo) ........................................................................................................... 61
Figura 40 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 5 (cinco) policiais militares sem
anteparo (em linha) .............................................................................................................. 62
Figura 41 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 6 (seis) policiais militares sem
anteparo .............................................................................................................................. 62
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Figura 42 - Posicionamento do dispositivo para reunião da patrulha................................... 63


Figura 43 - Formação para deslocamento da Patrulha de eventos ..................................... 64
Figura 44 - Posicionamento do dispositivo para abordagem sem anteparo com
envelopamento .................................................................................................................... 65
Figura 45 - Posicionamento do dispositivo para condução .................................................. 66
Figura 46 - Busca minuciosa na posição de contenção em pé, sem apoio.......................... 78
Figura 47 - Busca minuciosa na posição de contenção em pé, com apoio.......................... 80
Figura 48 - Busca minuciosa na posição de contenção ajoelhado ...................................... 81
Figura 49 - Busca minuciosa na posição de contenção 4 .................................................... 83
Figura 50 - Sequência de ações de localização de arma durante busca pessoal ................ 85
Figura 51 - Campo do Sistema REDS para inserção de justificativa para uso de algemas . 87
Figura 52 - Sistema de trava das algemas. ......................................................................... 89
Figura 53 - Campos do Sistema REDS destinados a relatar declaração de orientação sexual
e identidade de gênero ...................................................................................................... 103
Figura 54 - Campos do Sistema REDS destinados a relatar causa ou motivação presumida e
a descrição da ação ........................................................................................................... 103
Figura 55 - Delimitação dos perímetros do local. .............................................................. 126
Figura 56 - Relacionamento com a imprensa .................................................................... 128

Quadro 1 - Formação Básica de uma Patrulha com 6 (seis) Policiais Militares ................... 46
Quadro 2 - Situação de patrulha composta por 6 (seis) policiais militares – Ponta 1 ferido . 56
Quadro 3 - Sugestões de complemento de justificativas quanto ao uso de algemas .......... 88
Quadro 4 - Procedimentos policiais em ocorrências envolvendo autoridades ..................... 97
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SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO ............................................................................................................ 12
2 TÉCNICA E TÁTICA POLICIAL BÁSICA ........................................................................ 15
2.1 Deslocamentos táticos ................................................................................................ 16
2.1.1 Uso de cobertas e abrigos .......................................................................................... 16
2.1.2 Tipos de deslocamentos a pé ..................................................................................... 18
2.1.3 Deslocamentos por rastejo ......................................................................................... 19
2.1.4 Técnicas de uso do escudo balístico........................................................................... 20
2.2 Disciplina de luz e som................................................................................................ 23
2.3 Comunicação por gestos ............................................................................................ 24
2.4 Técnicas de uso de lanterna ....................................................................................... 26
2.5 Técnicas de varredura ................................................................................................. 30
2.6 Transposição de obstáculos ....................................................................................... 33
2.7 Ângulos de aproximação ............................................................................................ 34
2.8 Posições/posturas adotadas pelo policial na abordagem a pessoas ...................... 35
2.8.1 Posturas de abordagem com as mãos livres ............................................................... 35
2.8.2 Posturas de abordagem com emprego de arma de fogo............................................. 39
2.9 Tática de Aproximação Triangular (TAT) ................................................................... 40
2.10 Patrulha Policial-Militar ............................................................................................. 45
2.10.1 Tipos de Patrulha Policial-Militar ............................................................................... 45
2.10.2 Funções básicas dos integrantes da patrulha ........................................................... 45
2.10.3 Tipos deslocamentos da patrulha.............................................................................. 48
2.10.4 Posturas Táticas ....................................................................................................... 49
2.10.5 Resgate de feridos .................................................................................................... 52
2.10.6 Patrulha de eventos .................................................................................................. 56
2.10.7 Patrulha em área de matas ....................................................................................... 66
3 ABORDAGEM A PESSOAS ............................................................................................ 69
3.1 Níveis da abordagem a pessoas ................................................................................. 70
3.1.1 Abordagem a pessoas aparentemente desarmadas ................................................... 70
3.1.3 Abordagem a pessoas portando arma de fogo ........................................................... 71
3.2 Supremacia de força na abordagem a pessoas......................................................... 71
4 BUSCA PESSOAL E USO DE ALGEMAS....................................................................... 73
4.1 Busca pessoal .............................................................................................................. 73
4.1.1 Aspectos legais da busca pessoal .............................................................................. 74
4.1.2 Tipos de busca pessoal .............................................................................................. 76
4.1.3 Arma de fogo localizada durante a busca ................................................................... 84
4.2 Uso de algemas............................................................................................................ 85
4.2.1 Aspectos legais do uso de algemas ............................................................................ 86
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4.2.2 Recomendações gerais sobre o uso de algemas ........................................................ 89


5 PROCEDIMENTOS POLICIAIS ESPECÍFICOS ............................................................... 91
5.1 Procedimentos policiais em ocorrências envolvendo autoridades ......................... 91
5.1.1 Membros do Poder Executivo ..................................................................................... 91
5.1.2 Membros do Poder Legislativo .................................................................................... 93
5.1.3 Membros do Poder Judiciário...................................................................................... 93
5.1.4 Membros do Ministério Público ................................................................................... 94
5.1.5 Membros de Órgãos Policiais ..................................................................................... 94
5.1.6 Membros das Forças Armadas ................................................................................... 95
5.1.7 Membros da Advocacia............................................................................................... 95
5.1.8 Outras Instituições ...................................................................................................... 96
5.2 Abordagens policiais a grupos vulneráveis .............................................................. 98
5.2.1 Atuação policial na abordagem a mulher .................................................................... 98
5.2.2 Atuação policial na abordagem a crianças e adolescentes ......................................... 99
5.2.3 Atuação policial na abordagem a diversidade sexual ................................................ 101
5.2.4 Atuação policial na abordagem a pessoas com deficiência ....................................... 103
5.2.5 Atuação policial na abordagem à pessoa idosa ........................................................ 108
5.2.6 Atuação policial na abordagem a população em situação de rua .............................. 108
5.3 Atuação policial frente às minorias .......................................................................... 110
5.4 Atuação policial na abordagem a pessoas em surto de drogas............................. 113
6 ABORDAGEM A VÍTIMAS ............................................................................................. 115
6.1 Procedimentos com vítimas em locais de ocorrência ............................................ 116
7 LOCAL DE CRIME ......................................................................................................... 121
7.1 Classificação do local de crime e conceitos correlatos .......................................... 121
7.1.1 Consoante à natureza: .............................................................................................. 121
7.1.2 Consoante ao lugar do fato: ...................................................................................... 121
7.1.3 Consoante ao exame ................................................................................................ 122
7.2 Prova........................................................................................................................... 122
7.3 Procedimentos no local de crime ............................................................................. 124
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 129
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MANUAL TÉCNICO PROFISSIONAL Nº 3.04.02/2020 - CG

Abordagem a pessoas.

1 APRESENTAÇÃO

O Manual Técnico-Profissional Nº 3.04.02 (MTP 02) – Abordagem a Pessoas está em


conformidade com a legislação brasileira e com as normas internacionais de Direitos
Humanos, oriundas das Organização das Nações Unidas (ONU), as quais são aplicadas à
função policial.

Este documento tem como referência os fundamentos da abordagem policial do Manual


Técnico-Profissional Nº 3.04.01 (MTP 01) – Intervenção Policial, Processo de
Comunicação e Uso da Força e trata da aplicação da técnica e tática policial à atividade-fim.

A construção das técnicas e táticas descritas neste Manual é fruto de experiências positivas
vivenciadas no cotidiano operacional, de pesquisa e da análise de simulações de ações
policiais em âmbito acadêmico.

Este volume enfatizará a abordagem a pessoas, bem como as ações que devem ser
realizadas de forma preparatória e posteriores a esta intervenção. Logo, a leitura do MTP 02
deve, obrigatoriamente, ser precedida da leitura do MTP 01.

A Seção 2 deste Manual é dedicada à apresentação de Técnicas e Táticas Policiais que


antecederão a abordagem policial, como deslocamentos táticos, uso de equipamentos como
escudos balísticos e lanternas, técnicas de varredura e de aproximação, bem como posturas
de abordagem com as mãos livres e posições para emprego de arma de fogo.

A Abordagem Policial é tratada na Seção 3, onde é feita uma exposição transversal com os
princípios de uso de força e a classificação de risco, estudados no MTP 01. São descritas
técnicas e táticas de abordagem a pessoas, e traçado um modelo policial de referência para
as abordagens nos diversos níveis de intervenção.

A abordagem a pessoas envolve um conjunto ordenado de ações policiais para se aproximar


de um ou mais indivíduos, com o intuito de resolver demandas do policiamento ostensivo.
Este conceito possui um sentido amplo, ou seja, abrange a todos os cidadãos, não se
restringindo às pessoas em situação de suspeição.

12
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Na Seção 4 são descritos os procedimentos relacionados à Busca Pessoal e Uso de


Algemas, bem como seu embasamento legal. Essa etapa da intervenção policial será
realizada desde que haja fundada suspeita em relação à pessoa.

Procedimentos Policiais para o tratamento de públicos específicos (minorias, grupos


vulneráveis, entre outros) são temas presentes na Seção 5, demonstrando o compromisso
institucional no alinhamento desta doutrina às normas internacionais de direitos humanos.

No cumprimento da visão institucional da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), de atingir


excelência na promoção das liberdades e dos direitos fundamentais, este Manual traz na
Seção 6 um enfoque de atenção do policial militar à Vítima de Crime, tema pouco explorado
nos documentos normativos das polícias brasileiras e no ordenamento jurídico nacional.

A Seção 7 é dedicada ao procedimento operacional em Locais de Crime, por meio da


classificação e conceitos dos locais de crime, bem como na descrição de procedimentos
específicos a serem adotados no local onde ocorreu um delito e a cadeia de custódia de
vestígios.

Diante desses conhecimentos, o policial militar deve refletir sobre seu papel na sociedade e a
melhor maneira de executar o seu trabalho. Ele deve se reconhecer como integrante da
comunidade que exerce um papel diferenciado por sua qualificação profissionalização e
atributos policiais militares continuamente desenvolvidos a pautar sua conduta operacional.

Assim, o vigor operacional da Corporação, sua força e eficiência devem se mostrar no esforço
e energia diária desprendidos por todos militares na garantia da lei e da ordem no Estado de
Minas Gerais. Este exercício profissional deve traduzir-se individualmente em disciplina,
lealdade, honestidade, espírito de corpo, iniciativa, dedicação, equilíbrio emocional, coragem,
abnegação, vigor físico, civismo e patriotismo.

Este documento faz parte de um conjunto de Manuais Técnicos-Profissionais denominados


Prática Policial-Militar Básica, a saber:

a) Manual Técnico-Profissional nº 3.04.01 – Intervenção Policial, Processo de Comunicação


e Uso da Força (MTP 01);

b) Manual Técnico-Profissional nº 3.04.02 – Abordagem a Pessoas (MTP 02);

13
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 15 - )

c) Manual Técnico-Profissional nº 3.04.03 – Blitz Policial (MTP 03);

d) Manual Técnico-Profissional nº 3.04.04 – Abordagem a Veículos (MTP 04);

e) Manual Técnico-Profissional nº 3.04.05 – Escoltas Policiais e Conduções Diversas (MTP


05).

14
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 16 - )

2 TÉCNICA E TÁTICA POLICIAL BÁSICA

Entende-se por técnica policial o conjunto dos métodos e procedimentos utilizados na


execução da atividade policial. O estabelecimento de técnicas visa alcançar a eficiência,
segurança e legalidade da atuação policial.

Para cada recurso utilizado no serviço policial, seja humano ou material, existem técnicas pré-
estabelecidas. O emprego correto da técnica exige treinamento permanente, e cabe ao policial
militar conhecer e empregar as técnicas apresentadas neste caderno. O treinamento policial
deve estar alinhado com a identidade organizacional e ser realizado de forma contínua, sendo
o policial militar protagonista neste processo de auto-aprimoramento profissional.

Essas técnicas foram selecionadas e aperfeiçoadas a partir de diversas experiências


vivenciadas no cotidiano operacional e acadêmico, levando- se em conta a segurança nas
abordagens, a coerência com os fundamentos legais e éticos presentes nas normas
internacionais e nacionais de direitos humanos.

Além do domínio das técnicas (como fazer?), outro fator importante para o sucesso das
intervenções é a disciplina tática.

Entende-se por tática policial a forma de se aplicar com eficácia os recursos técnicos que se
dispõe, ou de se explorar as condições favoráveis para se atingir os objetivos desejados.

A disciplina tática consiste na obediência de todos os policiais militares, quando atuando em


grupo, ao exercer suas ações (o que e quando fazer?), no exato local (onde fazer?) definido
no planejamento de cada atividade. Isso propicia uma melhor coordenação das ações e dos
procedimentos de cada policial militar na sua respectiva responsabilidade de atuação e,
consequentemente, aumenta a segurança dos envolvidos.

Para garantir a disciplina tática, todos os policiais militares devem conhecer sua função no
ambiente de intervenção e conscientizar-se que cada atribuição, por mais simples que pareça,
é imprescindível para que o caso tenha uma solução satisfatória (por que fazer?)

15
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 17 - )

2.1 Deslocamentos táticos

Correspondem às movimentações, realizadas por policiais militares, com o objetivo de


progredir, aproximar e abordar pessoas, adotando técnicas específicas que permitam agir
com rapidez, surpresa e segurança. A observância desses fundamentos da abordagem
policial potencializa ações e asseguram que o objetivo proposto seja alcançado com mais
eficácia.

A seguir, estudaremos as técnicas a serem empregadas nos deslocamentos:

2.1.1 Uso de cobertas e abrigos

Nos deslocamentos táticos, os policiais militares deverão identificar locais no ambiente que
permitam proteção e ocultação.

A ocultação visa possibilitar que os policiais militares desloquem até o local determinado,
sem serem vistos pelos suspeitos até o momento da abordagem, ou seja, conseguindo assim
o fundamento da surpresa.

A proteção visa diminuir o risco do policial militar ser agredido ou alvejado pelo suspeito.
Portanto, nos deslocamentos, os policiais militares deverão buscar cobertas e abrigos para
proteção e ocultação.

As cobertas e os abrigos são anteparos existentes na natureza ou produzidos pelo homem,


encontrados ao longo do deslocamento ou no cenário onde ocorre a intervenção policial,
sabendo que:

a) as cobertas são usadas como ocultação. Não têm a capacidade de deter projéteis
disparados contra o militar. Exemplos: portas em madeira, arbustos, fumaça, neblina, um local
escuro ou outro fator que dificulte a visualização e os movimentos do policial;

16
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 18 - )

Figura 1 - Coberta (na perspectiva do policial militar e do abordado)

Fonte: Elaborado pelo autor.

b) os abrigos são usados como proteções, e são anteparos que, por suas características
e dimensões, são capazes de proteger o policial militar contra disparos de arma de fogo e
arremesso de objetos. Exemplos: postes, muros, paredes, parte frontal de veículos
(compartimento do motor), caçambas metálicas, tronco de árvores, dentre outros.

Figura 2 - Abrigo (na perspectiva do policial militar e do abordado)

Fonte: Elaborado pelo autor.

17
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 19 - )

Para maximizar a proteção nos deslocamentos e nas abordagens, deve-se, sempre que
possível, conjugar a coberta com o abrigo.

O deslocamento tático em áreas amplas, abertas e sem proteção, podem comprometer a


segurança do policial militar. Todavia, sendo necessária a movimentação nessas áreas,
deverá ser realizada de forma rápida com silhueta reduzida ou lenta através dos
procedimentos de rastejo, se as circunstâncias exigirem, e sempre com a cobertura da equipe.

2.1.2 Tipos de deslocamentos a pé

Existem três tipos principais de deslocamento tático de policiais no processo a pé, variando
de acordo com o objetivo a ser alcançado:

a) Deslocamento Lento: é o passo com velocidade moderada, que permita ao policial militar
observar todos os pontos de foco e pontos quentes antes de progredir. O policial militar deverá
estar de silhueta reduzida, com a arma nas posições de guarda baixa ou guarda alta. Deverá
ser empregado, preferencialmente, nas intervenções de risco nível II e III, em que há
necessidade de aproximação mais segura do objetivo a pé, mantendo a ocultação dos
policiais militares até o momento da abordagem. Exige disciplina de luz e som, que será
apresentada no item 2.2;

b) Deslocamento Normal: é o passo natural, com compostura, em que o policial militar


deverá estar no estado de atenção ou de alerta, com a arma localizada no coldre, observando
o que acontece à sua volta. Este deslocamento, devido ao pouco desgaste físico, permite
percorrer grandes distâncias e empenho em jornadas prolongadas. Deverá ser empregado
em rastreamentos e deslocamentos longos até a aproximação mediata do alvo principal da
intervenção ou durante o policiamento;

c) Deslocamento Rápido: é o passo com velocidade acelerada que permite ao policial militar
alcançar o objetivo com rapidez. Este tipo de deslocamento deverá ser empregado mediante
prévia avaliação dos riscos, nos seguintes casos, entre outros:

I - Perseguição de suspeito enquanto estiver à vista. O policial militar deve alterar o tipo de
deslocamento conforme a avaliação das áreas de risco ou segurança;

18
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 20 - )

II - Progressão em áreas amplas, carentes de cobertas e abrigos. Nesses casos, o policial


militar poderá empregar técnica de deslocamento com mudança brusca de direção
“ziguezague”;

III - Intervenções com objetivo de salvar vidas.

2.1.3 Deslocamentos por rastejo

Os deslocamentos de policiais militares por rastejo variam de acordo com o objetivo a ser
alcançado e a necessidade. Mostraremos a seguir os dois processos que são mais aplicáveis
à atividade policial militar:

a) Primeiro Processo: o policial militar apoiará seu corpo ao solo em decúbito ventral,
mantendo seu corpo o mais próximo possível do chão. O PM se locomoverá por meio da
tração alternada de cotovelos e joelhos, ou seja, o joelho esquerdo move-se junto com o
cotovelo direito, e vice-versa, de forma sucessiva. Durante o deslocamento, os joelhos
flexionarão até o limite do quadril. Caso o policial militar esteja portando arma longa, ela
deverá ser transportada nos braços, perpendicularmente ao corpo, para que não entre
sujeiras em seu cano. Caso esteja empunhando arma de porte, esta ficará na mão forte, com
dedo fora do gatilho.

Figura 3 - Primeiro processo de rastejo (arma de porte) e (arma portátil).

Fonte: Elaborado pelo autor.

19
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 21 - )

b) Segundo Processo: o policial militar apoiará seu corpo ao solo em decúbito ventral.
Manterá seus cotovelos e antebraços no chão. Flexionará apenas uma perna, e a utilizará
para impulsionar o corpo para frente, juntamente com a ajuda das mãos e antebraços. Caso
o policial militar esteja portando arma longa, ela poderá ser conduzida por uma das mãos à
frente do corpo segura pela bandoleira, cano da arma voltado para frente, elevando o
armamento o mínimo necessário a cada impulsão. Caso esteja empunhando arma de porte,
esta ficará na mão forte, com dedo fora do gatilho. Este processo faz com que a movimentação
seja mais lenta e cansativa em relação ao primeiro, mas melhora as condições de ocultação
e proteção.

Figura 4 - Segundo processo de Rastejo (arma de porte) e (arma portátil)

Fonte: Elaborado pelo autor.

2.1.4 Técnicas de uso do escudo balístico

Para maior segurança nos deslocamentos, o policial militar poderá, ainda, recorrer ao escudo
balístico.

O escudo balístico é um equipamento que visa proteger a pessoa que o conduz. Contudo,
com a técnica adequada, sua capacidade de proteção poderá se estender aos demais
policiais militares da equipe durante o processo de deslocamento. As progressões utilizando

20
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 22 - )

escudos balísticos podem ser feitas de duas formas principais, variando de acordo com o nível
de segurança:

a) Segurança Mínima:
O escudo será conduzido pelo primeiro policial militar, na posição de pé.

Figura 5 - Uso de Escudo Balístico (Segurança Mínima)

Fonte: Elaborado pelo autor.

b) Segurança Máxima:

O escudo será utilizado pelo primeiro policial militar, que deslocará com a silhueta reduzida,
com o escudo bem próximo ao solo. Em casos de disparo contra a guarnição, ou para
conceder mais segurança em uma abordagem, o primeiro policial militar interromperá o
deslocamento e ficará na posição de joelhos (escudo no chão).

21
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 23 - )

Figura 6 - Uso de Escudo Balístico na posição de Segurança Máxima

Fonte: Elaborado pelo autor.

Em ambos os casos, o armamento será conduzido lateralmente ao escudo, de modo que a


armação encoste no equipamento e apenas o cano fique exposto. Havendo necessidade
extrema de disparo, o policial militar levará o armamento para frente do visor do escudo, para
melhor controle da visada, fazendo a empunhadura lateral. Todavia, o mais recomendado é
que outro policial militar com melhor posicionamento tático realize os disparos para neutralizar
o agressor.

Figura 7 - Uso de Escudo Balístico (Segurança Mínima com arma à frente do visor)

Fonte: Elaborado pelo autor.

22
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 24 - )

Figura 8 - Uso de Escudo Balístico (Segurança Máxima com arma à frente do visor)

Fonte: Elaborado pelo autor.

2.2 Disciplina de luz e som

A disciplina de luz e som é o conjunto de recomendações que pode ser empregado para
reduzir ou eliminar a emissão de ruídos e de luminosidade que possam denunciar o
posicionamento do policial militar.

Para manutenção da disciplina de luz, os policiais militares deverão ocultar o visor do celular,
caso seja necessário seu uso como instrumento de comunicação. Além disso, jamais acender
cigarro e evitar expor objetos cromados com capacidade de reflexão de luz direta. Os policiais
militares deverão fazer o uso da lanterna de acordo com as técnicas de emprego deste
equipamento, conforme item 2.4.

Simples medidas podem preservar a vantagem tática durante a abordagem. Para manutenção
da disciplina de som:

a) realizar a auto inspeção (apalpar os bolsos, efetuar pequenos saltos, etc.) antes de iniciar
o deslocamento, retirando materiais que façam barulho;

b) manter no modo silencioso ou desligado os telefones celulares, alarmes de relógio e


similares;

23
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 25 - )

c) certificar-se de que os metais do cinturão ou de qualquer objeto conduzido estejam


realmente presos, como as algemas, apitos, tonfa, outros;

d) ajustar o volume do rádio HT ou, quando possível, usar fones de ouvido para comunicação.

e) iniciada a progressão, deve-se observar a presença de objetos espalhados pelo solo (copos
plásticos, garrafas, folhas secas, outros) que possam provocar ruídos.

2.3 Comunicação por gestos

A comunicação por gestos é uma técnica utilizada nos deslocamentos. Trata-se de


comunicação não verbal, executada por intermédio de sinais convencionados, que objetivam
intermediar mensagens entre os policiais militares de forma silenciosa. Propicia a
aproximação cautelosa e discreta.

Os gestos mais utilizados nas intervenções são os demonstrados na Figura 9.

24
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 26 - )

Figura 9 - Comunicação por gestos

Fonte: Elaborado pelo autor.

25
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 27 - )

Além dos gestos apresentados, a equipe poderá convencionar outros, de acordo com a
necessidade. Para maior efetividade da comunicação, antes da entrada em operação, as
equipes deverão checar a compreensão dos gestos a serem utilizados.

2.4 Técnicas de uso de lanterna

O olho humano não tem capacidade para se adaptar de forma rápida e efetiva às variações
da luminosidade dos ambientes.

Ao passar de um ambiente iluminado para um de baixa luminosidade, ou vice-versa, é preciso


que o policial militar aguarde alguns segundos, para que sua visão se adapte às novas
condições do ambiente, antes de iniciar o deslocamento.

No cotidiano operacional, o policial militar se depara com ambientes de baixa luminosidade,


mesmo durante o dia. Nessas circunstâncias, a visão em profundidade e a percepção de
detalhes ficam prejudicadas e os objetos, em geral, adquirem uma tonalidade cinza ou parda.

A lanterna é um recurso eficaz para ambientes de baixa luminosidade. Suas principais


utilidades são:

a) iluminação do ambiente;
b) identificação de pessoas ou objetos;
c) auxílio na realização da pontaria;
d) ofuscamento da visão do abordado;
e) sinalização.

A lanterna deve ser utilizada com acionamentos intermitentes, para que a posição do policial
militar e dos demais integrantes da equipe não seja denunciada. Além disso, o acionamento
de lanterna, atrás de outro policial militar deve ser evitado.

Se, durante o deslocamento, o policial militar deparar com um suspeito, poderá focalizar o
feixe de luz nos olhos do abordado, com o objetivo de ofuscar-lhe a visão, procurando abrigo
para realização de uma verbalização segura.

A lanterna será conduzida pela mão que não estiver empunhando a arma de fogo e sempre
acompanhará a direção do cano. Desta forma, o foco de visão do policial militar, o cano da
sua arma e o feixe de luz deverão estar voltados para a mesma direção.

26
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 28 - )

Para a utilização eficiente da lanterna necessário que haja treinamento contínuo, baseado nas
técnicas previstas neste manual.

Diversas técnicas podem ser empregadas na utilização da lanterna. As técnicas comumente


utilizadas serão apresentadas a seguir:

a) Posição 1 (Técnica “Harries”): o policial militar coloca a mão que está com a lanterna
abaixo da mão que segura a arma. As costas das mãos se apoiam para dar estabilidade ao
conjunto, conforme ilustra a Figura 10.

É importante frisar que, nesta posição, o armamento está em empunhadura simples com
apoio, o que poderia dificultar uma boa sustentação e estabilidade após o recuo da arma entre
um disparo e outro.

Figura 10 - Posição 1 de uso da lanterna

Fonte: Elaborado pelo autor.

27
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 29 - )

b) Posição 2 (Técnica “Bolivar”): o policial militar apoiará a lanterna lateralmente na


armação da arma, segurando-a com o dedo polegar e o indicador. Nessa posição é possível
a varição “Ayoob”, apropriada para lanternas com botão de acionamento lateral (Figura 11).

Figura 11 - Posição 2 de uso da lanterna e suas variações

Fonte: Elaborado pelo autor.

28
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 30 - )

c) Posição 3 (Técnica “FBI”) - Consiste em segurar a arma com uma das mãos
(empunhadura simples), enquanto a outra mão segura a lanterna, com o braço estendido,
paralelo ao solo. Em caso de utilização da arma de fogo, a posição não é muito firme e a
qualidade de tiro deve ser observada, devido a empunhadura ser simples.

Uma variação possível e recomendável para utilização dessa posição é a conjugação com a
técnica de varredura “Olhada Rápida”, ou seja, o policial militar que estiver segurando a
lanterna permanece abrigado, enquanto um outro policial, também abrigado, visualiza o
ambiente numa posição diversa da que se encontra o feixe de luz (abaixo ou acima).

Figura 12 - Posição 3 de uso da lanterna e suas variações

Fonte: Elaborado pelo autor.

29
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 31 - )

2.5 Técnicas de varredura

A varredura consiste na verificação visual feita pelo policial militar, de um determinado espaço
físico localizado em uma área de risco. Para realizá-la, os policiais militares poderão utilizar
três técnicas básicas denominadas: Tomada de Ângulo (“Fatiamento”), Olhada Rápida e
Reflexão de Imagem.

a) Tomada de ângulo

Conhecida também como fatiamento permite checar o ambiente por segmentos. Seu objetivo
é propiciar a visualização total ou parcial de uma pessoa ou de um objeto (pés, mãos, roupas,
armamento, dentre outros), antes que o policial militar seja visto pelo abordado.

A varredura será feita de maneira lenta e gradual, frente a locais com ângulos desconhecidos
(esquina de becos, portas, corredores, escadas, dentre outros). O policial militar se moverá
lateralmente, sem a exposição do corpo e sem cruzar as pernas, tendo como referência o
obstáculo (parede, muro, por exemplo), que lhe servirá de abrigo.

A tomada de ângulo será feita até que se tenha o controle visual total do ambiente ou visualize
partes do corpo do abordado, momento em que recorrerá à verbalização e às técnicas de
abordagem.

A técnica deverá ser executada com a arma na Posição 3 ou 4 (guarda-alta ou pronta


resposta), O policial militar manterá os cotovelos não projetados, para evitar a visualização
de sua sombra e de peças do fardamento.

30
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 32 - )

Figura 13 - Tomada de ângulo ou “fatiamento”

Fonte: Elaborado pelo autor.

A verbalização deverá iniciar-se tão logo o policial militar localize um suspeito, procurando
manter o controle visual.

b) Olhada rápida

Esta técnica tem por objetivo propiciar a visualização instantânea de um suspeito, sem ser
visto por ele. Para realizá-la, o policial militar deve expor a cabeça lateralmente, observar a
área de risco, e retornar à posição abrigada, o mais rápido possível. Se a repetição do
movimento for necessária, o policial militar deverá alternar o ponto de observação.

Figura 14 - Olhada rápida

Fonte: Elaborado pelo autor.

31
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 33 - )

Durante sua execução, a arma deverá estar no coldre ou em uma das mãos, devendo o
policial militar atentar para o controle da direção do cano.

Antes de empregar a técnica, o policial militar deverá ter próximo à sua retaguarda, em
cobertura, outro policial militar, que deverá estar em pé, com a arma na Posição 2 (guarda-
baixa), sem apontá-la em direção ao executor e expô-lo ao perigo.

Ao avistar a área de risco e identificar o(s) suspeito(s) com a técnica de olhada rápida, o
policial militar executor sinalizará para os outros policiais militares o número e localização dos
suspeitos, bem como se estão armados.

Caso tenham supremacia de força, deverão usar, após a olhada rápida, a técnica de tomada
de ângulo, com o objetivo de se posicionarem seguramente para emprego da verbalização e
abordagem.

c) Reflexão de imagem

A técnica contribui para aumentar a segurança do policial militar. A varredura será realizada
com qualquer instrumento que reproduza imagem. Ao conhecer a posição do suspeito, o
policial militar deverá recorrer à tomada de ângulo a fim de manter o controle sobre os pontos
de foco e pontos quentes e empregar a verbalização.

Figura 15 - Uso da técnica de reflexão da imagem

Fonte: Elaborado pelo autor.

32
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 34 - )

Embora apresentadas isoladamente, o policial militar deve dominar as três técnicas descritas,
para que as utilize segundo a conveniência e a necessidade. Simultaneamente, poderá
realizar o fatiamento, com olhadas rápidas ou com o recurso reflexão de imagem, aumentando
ainda mais o seu campo visual.

2.6 Transposição de obstáculos

Durante a perseguição a uma pessoa que salta um muro, o policial militar nunca deve saltar
imediatamente atrás, pois a pessoa em fuga pode estar aguardando que ele pule ou se
exponha para alvejá-lo. Para transpor obstáculos como muros, por exemplo, o policial militar
necessitará adotar alguns procedimentos, como sugerido a seguir:

a) Transposição individual:

 antes da transposição, a observação será feita, pelas técnicas de “Olhada Rápida” ou


“Reflexão de imagem”, se possível, em três pontos distintos, aumentando desta forma a
segurança daquele que transporá o obstáculo;

 considerando a altura do obstáculo, o policial militar estenderá o braço até alcançar a parte
superior do muro, saltando se necessário e, em seguida, puxará o corpo até a altura do
antebraço, onde completará a última etapa da observação do ambiente;

 não localizando o suspeito em profundidade (lembre-se de que ele pode ter se escondido
atrás de objetos ao longo do terreno), a atenção agora deve ser na base do muro. Logo após,
o policial militar lançará uma das pernas sobre o muro, utilizando-a para tracionar seu corpo
com a ajuda das mãos, mantendo a sua silhueta mais próxima possível da superfície superior
do obstáculo e com uma pequena elevação do quadril, projetará a perna de baixo sob a perna
que se encontra apoiada no muro, projetando-a para o ambiente a ser controlado, e, com isso,
desprenderá o corpo tocando ao solo com a arma na Posição 3 ou 4;

 em tais transposições, a arma permanecerá empunhada, exposta o mínimo possível, o


mesmo acontecendo com a silhueta do policial;

 localizando a pessoa em fuga, o policial militar manterá o controle visual sobre ele e
monitorará os pontos quentes, evitando mudanças de posição. Estando em uma posição
segura (abrigado), sem se expor, deverá ser feita a verbalização.

33
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 35 - )

b) Transposição em dupla, trio ou Patrulha Policial-Militar:

 um dos policiais militares deverá progredir com a arma na Posição 3 ou 4 até a base do
obstáculo a ser vencido. Em seguida, posicionar-se-á com as costas apoiadas no obstáculo e
pernas semiflexionadas;

 após a tomada deste dispositivo referenciado, o próximo componente da equipe progredirá


até seu companheiro, colocando os pés sobre as coxas ou ombros do primeiro policial militar
(conforme a altura do obstáculo), adotando a partir desse momento os procedimentos
descritos para a técnica de transposição individual.

2.7 Ângulos de aproximação

Nas abordagens e buscas pessoais, os policiais militares deverão atentar pela segurança.
Para tanto, foram estabelecidos ângulos de aproximação ao abordado, conforme a seguir:

Figura 16 - Ângulos de aproximação

Fonte: Elaborado pelo autor.

O policial militar procurará não se aproximar do espaço compreendido entre os braços do


abordado, porque poderá ser atingido com maior facilidade em caso de uma possível
agressão física.

34
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 36 - )

Os demais ângulos descritos acima permitem uma aproximação segura, sendo que o ângulo
3 oferece maior segurança e o ângulo 1, menor.

Uma aproximação, observando-se os ângulos de segurança, aumenta o tempo do processo


mental da agressão do abordado. Assim, ele terá que se virar para atingir o policial militar que,
por sua vez, terá melhor condição de se esquivar.

2.8 Posições/posturas adotadas pelo policial na abordagem a pessoas

Posições/posturas de abordagem são técnicas que definem o posicionamento do corpo e da


arma do policial militar, que o possibilitam aproximar-se e verbalizar com o abordado de
maneira segura, potencializando sua capacidade de autodefesa e viabilizando o uso
diferenciado da força.

As posturas referem-se ao posicionamento corporal do policial militar com as mãos livres,


enquanto posições referem-se a empunhadura de armas ou equipamentos.

A posição/postura do policial militar durante uma abordagem influencia diretamente no


processo mental de agressão do abordado retardando a etapa de decisão. Uma atitude
relapsa transmite despreparo profissional e expõe a segurança do policial militar, enquanto
outra, demasiadamente rígida ou desrespeitosa, poderia causar indignação.

A posição/postura do policial militar durante a abordagem deve estar diretamente vinculada


ao risco com o qual ele pode se deparar. Por isso, em toda abordagem, este deve empregar
a metodologia de avaliação de risco para decidir a melhor técnica a ser utilizada.

Antes de estabelecer as posições/posturas, é necessário definir os ângulos de aproximação


entre o policial militar e o abordado. A aplicação do conhecimento sobre estes ângulos
proporcionará maior segurança na abordagem.

2.8.1 Posturas de abordagem com as mãos livres

São técnicas em que o policial militar faz a intervenção sem recorrer a quaisquer armamentos,
instrumentos ou equipamentos. São estabelecidas para cada nível de risco, orientando a
distância e a angulação de aproximação, bem como a posição de mãos e braços do policial
militar.

35
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 37 - )

Estando preliminarmente com as mãos livres e visíveis, o policial militar transmitirá ao


abordado a mensagem de que deseja dialogar ou resolver pacificamente o conflito.

Para todas as posturas a mãos livres, o policial militar deverá adotar a posição de “base”,
utilizada nas artes marciais, variando-se apenas a posição das mãos e braços. Esta posição
permite ao policial militar equilíbrio e melhores possibilidades de defesa e contra-ataque.
Também permite maior proteção da arma de fogo do policial militar, haja vista que os braços
e pernas mais fortes e, consequentemente, o coldre (geralmente colocado do lado da mão
mais forte) ficam ligeiramente projetados para a retaguarda. Logo, mais distantes do raio de
ação do abordado.

a) Postura Aberta

Deverá ser empregada nas intervenções em que o abordado não estiver aparentemente
portando armas e apresentar comportamento cooperativo.

Figura 17 - Postura Aberta

Fonte: Elaborado pelo autor.

36
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 38 - )

Nesta postura, o policial militar se aproximará do abordado, preferencialmente, pela


angulação 1 e permanecerá a uma distância de aproximadamente 3 (três) metros, o que
permitirá ao policial militar agir em autodefesa e monitorar os pontos quentes (cabeça, mãos
e pernas).

Na postura aberta, os braços do policial militar permanecerão naturalmente abaixados, com


as palmas das mãos voltadas para frente, manifestando gestualmente uma mensagem de
receptividade.

b) Postura de Prontidão

Deverá ser utilizada nas intervenções em que o abordado não estiver aparentemente portando
armas e apresentar comportamento de resistência passiva.

Esta postura com um dos braços elevados e mãos abertas permite ao policial militar o
emprego mais eficiente das técnicas de controle de contato, além de transmitir uma
mensagem gestual de contenção do conflito, não agressividade e intenção de resolução
pacífica.

Figura 18 - Postura de Prontidão

Fonte: Elaborado pelo autor.

37
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 39 - )

Sempre que o abordado tentar reduzir a distância de segurança, o policial militar deverá
ordenar que ele pare imediatamente e, concomitantemente, dele se afastará. Esse
procedimento retardará o tempo decorrente do processo mental da agressão.

c) Postura Defensiva

O policial militar manterá a cabeça ereta na posição natural, com as mãos abertas próximas
ao rosto, e os cotovelos projetados na linha das costelas, a fim de protegê-las, permanecendo
assim em melhores condições de emprego das técnicas de controle físico e com maiores
chances de defesa golpes (resistência ativa com agressão não letal). As mãos permanecerão
abertas por assim representarem um gesto universal de defesa, as pernas deverão estar
formando uma base equilibrada, os joelhos semiflexionados e o corpo projetado à frente.
Todavia, como uma variável da postura defensiva, o policial militar poderá evoluir para a
postura de guarda com os punhos cerrados, a fim de efetuar um contra-golpe contra o
infrator.

Figura 19 - Postura Defensiva com mãos abertas e fechadas (postura de guarda)

Fonte: Elaborado pelo autor.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 40 - )

Se o policial militar entender que não será possível dominar um abordado com o emprego de
técnicas de defesa pessoal policial com as mãos livres (controle físico), desde que não exista
risco iminente de morte, deverá acionar reforço e avaliar a oportunidade e conveniência para
empregar Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo (controle com IMPO) ou até mesmo uso
dissuasivo de arma de fogo.

A adoção de uma postura correta, somada a uma verbalização adequada, poderão levar o
abordado a cooperar com a abordagem policial, prevenindo uma provável resistência, ainda
na fase embrionária.

ATENÇÃO! Os procedimentos para o emprego de Instrumentos de


Menor Potencial Ofensivo serão tratados em manual específico.

2.8.2 Posturas de abordagem com emprego de arma de fogo

São técnicas que objetivam garantir a segurança do policial militar e causar impacto
psicológico no abordado, proporcional ao nível de risco oferecido, de forma dissuasiva.

Existem quatro posições básicas para se utilizar o armamento de porte durante as


intervenções policiais.

a) Posição 1 - arma localizada

Esta posição pode ser empregada para o policial militar realizar intervenção nível I ou II e em
deslocamentos longos.

b) Posição 2 - guarda-baixa

Esta posição pode ser empregada para o policial militar realizar intervenção nível II e em
deslocamentos, pois minimiza o cansaço físico causado pelo peso da arma, proporcionando
ao policial militar condição para se defender de uma possível agressão, diminuindo o tempo
de reação.

Ao se deslocar em grupo, o policial militar deverá manter o dedo fora do gatilho e o controle
do cano da arma e, em hipótese alguma, a apontará na direção dos integrantes do
grupamento.

39
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 41 - )

c) Posição 3 - guarda-alta

Esta posição pode ser empregada para o policial militar realizar em regra intervenções níveis
II e III e em deslocamentos curtos, já que o peso da arma pode gerar um cansaço excessivo.

d) Posição 4 - pronta resposta

Será empregada nas situações em que exista potencialidade real e imediata de agressão letal
ou ferimentos graves ao policial militar ou a terceiros.

Ao visualizar um agressor armado, o policial militar apontará rapidamente a arma para a sua
massa central (tronco) e manterá, ao mesmo tempo, o controle dos pontos quentes.

O policial militar somente deverá acionar a tecla do gatilho após identificar, certificar e decidir
para agir, ou seja, disparar a arma de fogo.

LEMBRE-SE: Recomenda-se evitar iniciar as abordagens na posição de pronta


resposta, pois isso limita a alternância dos níveis de força, e ainda acarreta o risco de
disparo acidental. O policial militar, ao verbalizar com um abordado cooperativo, por
exemplo, estando ainda com a arma no coldre, disporá de outros níveis de força, sem
que recorra, necessariamente, ao disparo.

2.9 Tática de Aproximação Triangular (TAT)

Nesta tática, dois policiais militares e o abordado dispostos de maneira que formem um
triângulo. É considerada a forma mais segura e eficiente de aproximação policial-militar.

40
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 42 - )

Figura 20 - Tática de Aproximação Triangular (Posicionamento inicial)

Fonte: Elaborado pelo autor.

A distância recomendada entre os policiais militares será de aproximadamente 4 (quatro)


metros, o que dificulta o controle visual simultâneo da ação dos dois policiais militares por
parte do abordado. A distância dos policiais militares em relação ao suspeito será de
aproximadamente 3 (três) metros, para proporcionar segurança à guarnição em caso de
repentina agressão.

Ressalta-se que os policiais militares devem se manter atentos à regra dos 21 pés1 (6,4
metros) caso o abordado esteja armado de faca, vide MTP 01.

A postura ou posição de emprego de arma a ser utilizada pelos policiais militares na realização
da TAT deverá ser definida pelo policial militar de acordo com o nível de risco e a evolução
dos fatos durante a intervenção.

A TAT poderá ser empregada em esquemas táticos variados, em função da quantidade e


comportamento dos abordados e do número de policiais militares, observadas as áreas para
organização do teatro operacional como se vê na figura a seguir:

1
Sargento Dennis Tueller, do Departamento de polícia de Utah (Estados Unidos) criou a Regra de Tueller ou regra
dos 21 pés (6,4 metros). A regra estabelece que esta distância é a mínima para ter possibilidades de se defender
com uma arma de fogo, diante de uma agressão com arma branca, considerando a arma no coldre em condições
de disparo.

41
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 43 - )

Figura 21 - Delimitação de áreas para o teatro operacional

PM Comandante
PM Revistador PM Segurança
PM Verbalizador

Fonte: Elaborado pelo autor.

A área de contenção corresponde ao espaço de abrangência territorial em que os policiais


militares manterão monitoramento mais constante, com objetivo de conter os abordados e
isolar o local de interferência de terceiros.

A área de busca corresponde ao local onde se realizará a busca pessoal e será definida pelos
policiais militares após análise da área e da avaliação de risco. Se possível, possuirá
características que privilegiem a segurança tanto dos policiais militares quanto dos abordados.

Assim, uma área de busca ideal deve ter o relevo adequado, se situar fora da área de tráfego
de veículos e de locais onde os policiais militares não tenham pleno controle no que se refere
à segurança.

A área de custódia corresponde a um local dentro da área de contenção, com as mesmas


características da área de busca, definido pela guarnição, onde os demais suspeitos
aguardam a busca pessoal e outros procedimentos necessários (consulta de dados,
checagem de objetos, outros).

42
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 44 - )

Recomenda-se que estes locais não possuam pontos de escape que permitam uma possível
evasão dos abordados.

Numa abordagem a pessoas, os policiais militares exercerão as seguintes funções:

 PM Comandante: aquele quem coordena a abordagem;

 PM Verbalizador: responsável pela comunicação verbal com o abordado;

 PM Segurança: responsável pela segurança da equipe;

 PM Revistador: encarregado de revistar o abordado e seus pertences (busca).

Um único policial militar poderá exercer mais de uma função. É importante lembrar que estas
funções deverão ser previamente definidas pelo comandante da abordagem, a fim de garantir
a disciplina tática entre os integrantes. O PM Comandante pode exercer as funções de PM
Verbalizador e PM Segurança.

Para a realização da abordagem de uma ou duas pessoas, a equipe de policiais militares


adotará as seguintes providências:

 O PM Verbalizador determinará ao abordado todos os procedimentos para a adoção de


uma das posições de contenção que o policial militar julgar mais adequada. Para tal, o PM
Verbalizador deverá dar ordens claras e precisas para o abordado até que este adote a
posição determinada;

 Havendo mais de um abordado, a equipe fará a busca pessoal em um de cada vez;

 A equipe cuidará para que não se perca a triangulação necessária.

Para a realização da abordagem a três ou mais pessoas, a equipe de policiais militares


adotará as seguintes providências:

 Dentre os suspeitos abordados posicionados na área de custódia, o PM Verbalizador


determinará a um deles que se posicione em local distinto dos demais (área de busca),
tomando a posição de contenção mais adequada, conforme sua avaliação, para que seja
procedida a busca pessoal;

 A pessoa a ser abordada ficará afastada do restante do grupo;

43
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 45 - )

 O detalhamento das ações de abordagem a pessoa e busca pessoal será feito nas Seções
3 e 4, respectivamente;

 Após a busca pessoal, o abordado terá seus dados anotados para que seja averiguado
seu prontuário criminal e/ou para registro e pesquisas de qualidade do serviço operacional
pós-atendimento. Posteriormente, o policial militar informará ao abordado o motivo do
procedimento e agradecerá a colaboração, caso seja adequado.

Figura 22 - Esquema tático com 3 (três) policiais militares e 3 (três) abordados

Fonte: Elaborado pelo autor.

 Caso o cidadão, após terminado o procedimento policial, deseje esperar por outro
abordado, o PM Verbalizador determinará que ele aguarde fora da área de contenção.
Entretanto, atenção ainda deverá ser dada a ele, através do monitoramento pelo PM
Segurança.

As funções policiais poderão variar no decorrer da abordagem, de acordo com o local, número
de abordados, grau de risco, e de informações obtidas sobre os suspeitos.

ATENÇÃO! Em abordagens com buscas pessoais a grandes grupos,


mesmo não havendo um número superior de policiais militares em
relação aos abordados, desde que se mantenha a segurança
requerida para os militares, poderá ser designado mais de um militar
para realizar a busca pessoal de forma concomitante.
44
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 46 - )

Na Seção 3, serão discutidas técnicas e táticas de abordagem a pessoas e será traçado um


modelo policial de referência para as ações nos diversos níveis deintervenção.

2.10 Patrulha Policial-Militar

É um grupamento de policiais militares de composição variada que atuará temporariamente,


sendo empregado no serviço operacional em ambiente urbano ou rural com o objetivo de
reconhecer, incursionar e resgatar.

No cumprimento de uma missão de patrulha deve-se levar em consideração a necessidade


de um ponto de reunião próximo ao objetivo, local em que se fará a checagem final de
equipamentos, armamentos e se fará o último briefing antes da execução da missão.

2.10.1 Tipos de Patrulha Policial-Militar

a) Patrulha de reconhecimento - Tem por finalidade confirmar ou buscar informações,


denúncias, reconhecimento de áreas ou edificações.

b) Patrulha de incursão - tem por finalidade realizar deslocamentos no interior de


aglomerados urbanos e em policiamentos diversos. Utiliza das técnicas policiais com objetivo
de realizar operações, efetuar prisões, cumprir mandados, ocupar determinadas áreas e
restaurar a ordem ou garantir a lei.

c) Patrulha de resgate - É a Patrulha que utiliza das técnicas policiais a fim de prestar apoio
e socorro a outras patrulhas PM ou realizar o resgate de policiais feridos.

d) Patrulha de eventos - É, empregada em locais com aglomeração de pessoas. Em razão


de sua especificidade, será tratada separadamente no subitem 2.11.6.

2.10.2 Funções básicas dos integrantes da patrulha

As patrulhas policiais tem composição variável de acordo com o efetivo e os integrantes


podem acumular funções.

45
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 47 - )

O Quadro 1 retrata a composição de uma patrulha com seis policiais militares:

Quadro 1 - Formação Básica de uma Patrulha com 6 (seis) Policiais Militares

ÁREA DE
NOMENCLATURA DA FUNÇÃO ATRIBUIÇÃO
OBSERVAÇÃO

Ponta de Vanguarda 1 - Primeiro homem a incursionar;


ou Ponta 1 - Verbalizar.

- Segundo homem a incursionar;


Ponta de Vanguarda 2
ou Ponta 2
- Verbalizar;
- Dar segurança do Ponta 1.

Comandante - Coordenar a equipe.

- Monitorar as partes altas como


janelas, lajes, etc.;
- Proteger as laterais da patrulha;
Ala - Efetuar buscas pessoais;
- Transportar rádio, bornais,
escudos, kit de primeiros socorros,
etc.

Ponta de Retaguarda 2 - Verbalizar;


ou Retaguarda 2 - Dar cobertura ao Retaguarda 1.

Ponta de Retaguarda 1
- Verbalizar;
ou Retaguarda 1 - Dar segurança à retaguarda da
equipe.
Fonte: Elaborado pelo autor.

46
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 48 - )

Figura 23 - Composição da patrulha com seis policiais militares

Fonte: Elaborado pelo autor.

Das funções acumuladas, o Ala é quem transporta o que for necessário à execução da
operação (escudo, rádio HT, bornais, kit emergência ou outro equipamento/armamento que a
missão demandar), além de realizar buscas pessoais, bem como transporte de feridos.

O Comandante da Patrulha observará os fatores que influenciam na organização e atuação


da patrulha e juntamente com seu grupo decidirá qual será o deslocamento mais seguro e
efetivo para a equipe. São os fatores que podem interferir na organização e atuação de
patrulha:

 Segurança;
 Objetivo da ação;
 Formações;

47
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 49 - )

 Disciplina de luz e som;


 Possibilidades de contato;
 Velocidade de deslocamento;
 Manutenção da integridade tática;
 Condições do terreno;
 Sigilo das operações;
 Controle da equipe.

2.10.3 Tipos deslocamentos da patrulha

Utiliza-se 3 (três) tipos de deslocamento quando em patrulha, de forma a otimizar, agilizar,


prevenir e assegurar a integridade física do policial militar:

a) Deslocamento por coluna (“Serpente”): Deslocamento realizado com os policiais com


formação em coluna a fim de realizar checagem de denúncias e operações em ambiente
urbano e rural com possibilidade de confronto. A posição ideal para arma é a Posição 2 ou 3
(risco nível II).

Durante a movimentação da patrulha os policiais militares deverão definir áreas de


responsabilidade visando a proteção da patrulha contra ameaças que possam surgir dos
pontos de foco à frente, nas laterais, por cima e à retaguarda.

O objetivo desse tipo de deslocamento é proporcionar maior fluidez da patrulha, diminuindo o


desgaste físico, possibilitando a manutenção do descolamento por maior tempo e/ou
distância.

b) Deslocamento em linha: Realizado com os policiais militares com formação em linha a fim
de dispersar o foco do provável agressor, aumentar a capacidade de resposta à frente
(disparos de arma de fogo) e ampliar os ângulos de visão da patrulha durante cerco em
edificações com possibilidade de existirem infratores homiziados e áreas abertas. A posição
da arma em pronta resposta é a ideal tendo em vista o risco iminente detectado.

c) Tomada ponto a ponto: Deslocamento curto e rápido realizado entre duas posições
abrigadas ou cobertas em situações onde já está ocorrendo o enfrentamento (risco III).

48
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 50 - )

Será realizado em um movimento decidido. Antes de iniciar um lanço o policial militar avaliará
o risco para evitar uma indecisão no decorrer do deslocamento. Para uma decisão firme e
acertada o PM, ao preparar um lanço, responderá a si as perguntas que se seguem: Para
onde vou? Como? Por onde? Quando?

O deslocamento é feito sempre com, no máximo, 3 (três) policiais militares por abrigo, de
acordo com a necessidade de cobertura maior. A posição da arma em guarda alta é a ideal
para quem provém a cobertura e posição em guarda baixa para o policial militar que efetua o
lanço.

O deslocamento ponto a ponto é caracterizado pela cobertura ininterrupta do policial militar


que vai à frente e pelo policial militar que vem logo em seguida assumir o ponto.

Sempre que chegar a cobertura, após ser observado o ambiente pelos dois policiais militares,
o primeiro efetua o lanço para o próximo ponto ou abrigo e aguarda o deslocamento de sua
cobertura para poder progredir, sendo todo o tempo coberto pelos companheiros que estão
abrigados, inclusive após sua chegada no abrigo.

Somente o Retaguarda 2, nos casos em que o efetivo da patrulha permita essa função, que
antes de deslocar até o Ala, voltará sua frente para a retaguarda da patrulha, abrigará e
apontará sua arma para o ponto de foco que o Retaguarda 1 guarnece. Feito isto, chamará
o Retaguarda 1. Este por sua vez, olhará para o Retaguarda 2 preocupando-se
primeiramente com a direção do cano da arma do Retaguarda 2 e após confirmar esta
posição, deslocará de frente até o local de abrigo do Retaguarda 2, assumindo este ponto
voltando sua frente novamente para a retaguarda. Assim que recolher o Retaguarda 1 até
seu abrigo, o Retaguarda 2 desloca para o próximo ponto. Este recuo do Retaguarda 1 até
o local onde o Retaguarda 2 está é chamado de Recuo Curto ou Recuo Lento.

Caso o Retaguarda 1 tenha espaço suficiente e seguro para deslocamento, poderá deslocar
até o Ala e procederá da mesma forma para recolher o Retaguarda 2. Este recuo do
Retaguarda 1 até o Ala é chamando de recuo longo ou rápido.

2.10.4 Posturas Táticas

São posturas que reforçam o domínio sobre determinados pontos de forma que os policiais
militares se adaptem para cobrir todas as áreas:

49
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 51 - )

a) Combate: policial militar de pé, com os pés paralelos, empunhando sua arma na posição
de guarda alta ou pronta resposta, corpo ligeiramente flexionado para frente, a fim de absorver
melhor o recuo da arma.

Figura 24 - Postura Combate

Fonte: Elaborado pelo autor.

b) Torre: postura em que um policial militar guarnece um ponto do deslocamento. Consiste na


colocação do joelho da perna forte apoiado no chão e a perna fraca realiza um apoio em
90º. Deve-se observar que a perna forte permanece com o pé ereto, apoiando o bico do
coturno ao solo. Arma estará em guarda alta ou pronta resposta, conforme o caso.

Figura 25 - Postura Torre

Fonte: Elaborado pelo autor.

c) Siamesa: policial militar de pé, estaciona ou desloca ombro a ombro com outro policial
militar de forma que cada um cubra determinado ponto formando um ângulo que pode ser em
L, T ou Y de acordo com a direção do cano da arma dos primeiros policiais militares da equipe.

50
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 52 - )

Figura 26 - Postura Tática Siamesa Sequencia L, T e Y

Fonte: Elaborado pelo autor.

d) Hi-Low: é a soma da Postura de Combate (“Hi”) e da Postura Torre (“Low”). É utilizada


para cobertura, onde o emprego de um homem naquela postura é insuficiente para responder
a disparos realizados contra a equipe. O policial militar que realizar a Postura “Hi” deverá
permanecer nas costas do policial militar que fizer a Postura “Low” e posicionar-se
paralelamente, oferecendo o apoio das pernas e do tronco para apoio do “Low”, do mesmo
modo que sua posição deve impossibilitar qualquer ação do “Low” que possa levá-lo a cruzar
a linha de tiro.

Figura 27 - Postura Hi-Low

Fonte: Elaborado pelo autor.

51
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 53 - )

2.10.5 Resgate de feridos

Trata-se de um tópico que merece atenção por se tratar de uma situação que foge à
normalidade, quando um ou mais policiais militares forem feridos ou incapacitados durante a
situação de confrontação.

Nessa situação, os procedimentos de Atendimento Pré-Hospitalar Tático (APH Tático)2 ou


Resgate Tático são medidas que possibilitarão ao policial vitimado manter-se vivo, enquanto
aguarda o socorro e a extração urgente e com isso aumentam as chances de sucesso da
equipe médica que receberá o policial.

O Atendimento Pré Hospitalar Tático ou Resgate Tático é conceituado como o


fornecimento do primeiro atendimento ao policial militar vitimado em ambiente hostil, utilizando
um conjunto de manobras e procedimentos emergenciais, tendo por objetivos salvar vidas
que possam ser salvas, prevenir outras perdas de vidas e completar a missão de salvamento.
Poderá ser realizado na modalidade autossocorro (procedimento realizado pelo próprio
Policial Militar), ou contar com a presença de outro policial militar, sendo este de sua
guarnição/patrulha, visando estabilizar a vítima para evacuação até o suporte médico
avançado.

Agir com rapidez nessas condições é necessário para evitar que sangramentos conduzam o
policial a perda da consciência, que pode ocorrer em questão de minutos e, por conseguinte,
resultar em óbito.

O socorro imediato durante uma confrontação não substitui as ações de outros profissionais
de saúde. Sua razão de ser se apoia no fato de que não é humanamente possível, tampouco,
logisticamente viável ter presente uma equipe de profissionais de saúde em todos os locais e
momentos onde possa ocorrer uma situação crítica, sendo essencial que o primeiro
atendimento seja o mais precoce possível e de qualidade, melhorando o prognóstico do
policial militar vitimado.

A aplicação de instrumentos e técnicas de contenção de hemorragias tais como compressão


direta, bandagem elástica e, se necessário, torniquete previnem a ocorrência de óbitos de
policiais, se bem realizados.

2Portaria normativa 16, Ministério da Defesa, 12 de Abril de 2018. Aprova a Diretriz de Atendimento Pré-Hospitalar
Tático do Ministério da Defesa para regular a atuação das classes profissionais, a capacitação, os procedimentos
envolvidos e as situações previstas para a atividade.

52
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 54 - )

Procedimentos básicos:

Se o policial ferido ainda estiver em condições de confronto (consciente e com capacidade de


locomoção), deve NEUTRALIZAR AMEAÇAS E PROCURAR ABRIGO. Isso significa que ele
deve efetuar disparo contra o agressor e movimentar-se em segurança, buscando cobertas e
abrigos, não permanecendo estacionado no local onde foi ferido, pois nessa condição o
policial caracteriza um alvo para a ameaça ativa. Essa ação pode fazer os policiais militares
da patrulha deixarem de serem alvos quando tiverem que deslocar até o policial vitimado.

Se possível, o policial militar ferido, estando abrigado, deve realizar o seu autossocorro, por
meio das seguintes medidas:

 responder a injusta agressão sofrida pela guarnição policial militar, controlando a situação
e garantindo a segurança dos militares de sua patrulha, possibilitando a neutralização das
ameaças imediatas;

 estancar sangramentos diversos utilizando o procedimento adequado, como a utilização


de torniquete, compressão de ferimentos utilizando bandagens, gaze de metro, dentre outros.

 fazer a cobertura do companheiro de equipe enquanto é socorrido para controlar possíveis


ameaças secundárias até sua chegada num local seguro.

Ainda que a equipe tenha neutralizado a ameaça imediata que vitimou o policial militar, é
extremamente necessário manter a cobertura contra possíveis ameaças secundárias até a
retirada da patrulha do local.

Relatos de policiais militares que atuaram em intervenções policiais nas quais houve confronto
indicam que em alguns casos, é possível que em virtude do alto nível de estresse, a liberação
de adrenalina faça com que não percebam que foram feridos.

Desse modo, ao passar por intervenções com confronto envolvendo arma de fogo, arma
branca ou impróprias, imediatamente após a neutralização da ameaça, de forma concomitante
ao acionamento de ajuda, deve ser iniciada uma autoavaliação (em nível visual e tátil) em
busca de possíveis pontos de sangramento. Proceda a sua “autochecagem” seguindo o
sentido da cabeça aos pés.

Toque com as mãos e as visualize ao proceder à checagem sequencial de cada parte do


corpo (cabeça, pescoço, axila, tórax, abdômen, coxas e pernas). O ideal é que seja realizada

53
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 55 - )

de uma diagonal corporal à outra, conforme se vê na Figura 28. Esse método é chamado
“Avaliação em X”.

Se a ação for em suporte a outro policial militar, a verificação também deve seguir a “Avaliação
em X”.

Figura 28 - Avaliação em X

Fonte: Elaborado pelo autor.

Com essa ação você terá percorrido obrigatoriamente a região abdominal e torácica no
mínimo duas vezes em busca de sangramentos ou alterações significativas (como grandes
deformações ou objetos encravados, por exemplo). Ao localizar pontos de sangramento,
proceda imediatamente à contenção da hemorragia.

Caso o policial militar ferido, esteja inconsciente, a patrulha, após controlar


momentaneamente o ambiente hostil, com a devida cobertura de seus integrantes, deverá
realizar o deslocamento até o ferido, com agilidade e segurança, utilizando de cobertas e
abrigos fornecidos pelo terreno, realizar sua extricação3 para um local que forneça o mínimo
de segurança para que seja possível realizar a checagem do nível de consciência do policial
militar vitimado, se existe algum sangramento massivo e fornecê-lo os primeiros socorros
ainda no local, visando salvaguardar sua vida e preservar a integridade física dos demais
integrantes da patrulha.

3 Extricação é um termo muito utilizado em resgate, salvamento e medicina pré-hospitalar em geral. Extricar
significa: “retirar uma vítima de um local do qual ela não pode, ou não deve sair por seus próprios meios”.

54
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 56 - )

Para extricação do local do epicentro do risco o policial pode utilizar-se de Técnicas de


Arrasto (há mais de uma técnica com essa mesma nomenclatura), e para deslocar com o
policial ferido do ambiente podem ser adotadas Técnica de Mochilamento ou Técnica de
Bombeiro, por exemplo.

Figura 29 - Técnicas para Extricação (Arrasto)

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 30 - Técnicas para transporte de ferido

Fonte: Elaborado pelo autor.

55
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 57 - )

Para melhor entendimento, ver o Quadro 2 com a situação hipotética onde uma patrulha
composta por 6 (seis) policiais militares, tem um de seus componentes ferido e está
inconsciente.

A atuação a seguir será adaptada de acordo com o efetivo da patrulha.

Quadro 2 - Situação de patrulha composta por 6 (seis) policiais militares – Ponta 1 ferido

AÇÃO PÓS-FERIMENTO
FUNÇÃO FUNÇÃO POSTERIOR
DO POLICIAL MILITAR

Utilizando das técnicas policiais Assume a função de Retaguarda 1, e


Ponta 2 militares, identifica o infrator e realiza mantém atenção nos pontos de foco e
disparos táticos mantendo-se abrigado. quentes.
Assume o abrigo do Ponta 2 e dá
Acumula a função de Comandante e
cobertura de fogo para que se
Comandante Retaguarda 2, responsável por retirar o
aproximem até o abrigo mais próximo
Retaguarda 1 do ambiente hostil.
do ferido.
- Remove o ferido o mais rápido possível
até a área de segurança, protegida pelos
Coldreia a arma, após ser garantida
pontas;
Ala sua segurança pelo Ponta 2 e o
- Solicita prioridade via rede de rádio,
Comandante desloca até o ferido.
informando a localização;
- Inicia procedimentos de emergência.
Após verificar não ser necessário apoio
ao Comandante, volta-se para a Assume a função de Ponta 2, dá
Retaguarda 2 retaguarda e desloca até o Retaguarda segurança ao ponta um e apoia o Ala no
1, dando suporte para este abrir socorro.
caminho para o socorro do Ponta 1.
Após cobertura do Retaguarda 2, Assume a função de Ponta 1 e desloca
avança abrindo caminho, buscando com segurança exfiltrando4 a patrulha tão
Retaguarda 1
uma área de segurança para a patrulha logo o Comandante retire o Retaguarda 1
comunicar. da área de risco
Fonte: Elaborado pelo autor.

2.10.6 Patrulha de eventos

Grupamento policial designado pelo Comandante do Policiamento para atuar em eventos com
aglomeração de público, com a finalidade precípua de manutenção da ordem pública, por
meio da ação de presença. Não se confunde com a atuação do Policiamento de Choque. São
situações que justificam sua formação, por exemplo, o policiamento durante festas populares
(Carnaval), no perímetro externo de Estádios, Operações em centros comerciais com grande
fluxo de pessoas (Operação Natalina), dentre outros.

4Exfiltração: Técnica de movimento realizado de modo sigiloso com a finalidade de retirar forças ou pessoal isolado
e/ou material do interior de território inimigo ou por ele controlado, ou que se encontravam realizando operações
militares (BRASIL, 2004).

56
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 58 - )

Seu efetivo pode ter composição variada de acordo com a avaliação da situação pelo mais
antigo presente no ambiente, ou conforme a previsão inserida nos planejamentos.

A logística para a equipe poderá ter, além daquilo considerado básico, o uso de capacete,
instrumentos de menor potencial ofensivo, bodycam e outros.

a) Dispositivos estacionados

Ao estacionar a patrulha, conforme a quantidade de integrantes, os policiais militares


posicionarão de forma a manter uma vigilância multidirecional do ambiente, proporcionando
uma proteção mútua entre si. Esses dispositivos serão denominados “Autoguardados”.

 Autoguardado com 2 (dois) policiais militares:

Figura 31 - Posicionamento 1: Dispositivo autoguardado com 2 (dois) policiais sem anteparo

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 32 - Posicionamento 2: Dispositivo autoguardado com 2 (dois) policiais militares sem


anteparo

Fonte: Elaborado pelo autor.

57
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 59 - )

Nessa formação os policias estão lateralmente posicionados, a uma distância aproximada de


50 (cinquenta) centímetros e ligeiramente desalinhados, de forma a visualizar o outro policial
e fornecer proteção à sua retaguarda e laterais adjacentes.

Figura 33 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 2 (dois) policiais militares com


anteparo

Fonte: Elaborado pelo autor.

Se houver um anteparo, a patrulha composta por dois policiais deverá se posicionar de costas
formando uma linha de visão com uma angulação de aproximadamente 60 graus, em relação
a linha do anteparo.

 Autoguardado com 3 (três) policiais militares

Figura 34 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 3 (três) policiais militares sem


anteparo

Fonte: Elaborado pelo autor.

58
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 60 - )

Com 3 (três) policiais militares, a patrulha estacionada em ambiente sem anteparo, deverá
ocupar o espaço de costas um para o outro, de modo que o policial tenha visão de 120º graus.

Figura 35 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 3 (três) policias militares com


anteparo

Fonte: Elaborado pelo autor.

Com a presença de um anteparo, a patrulha deverá posicionar-se com o comandante


ocupando o ponto central, de costas ao anteparo, e mantendo uma visão de 180º do ambiente
e os policiais das extremidades formando uma linha de visão com uma angulação de
aproximadamente 120º graus, em relação a linha do anteparo.

 Autoguardado com 4 (quatro) policiais militares

Com 4 (quatro) policiais militares a formação permitirá acompanhar todo o entorno em 360º.
Os policiais militares posicionarão conforme as Figuras 36 e 37.

59
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 61 - )

Figura 36 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 4 (quatro) policiais militares


sem anteparo (em círculo)

Fonte: Elaborado pelo autor.

É possível a adoção de outra variação nesse dispositivo como se segue. Nesse caso, o
comandante estará ocupando uma das posições centrais.

Figura 37 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 4 (quatro) policiais militares


sem anteparo (em linha)

Fonte: Elaborado pelo autor.

Se houver anteparo, os policiais centrais manterão posicionamento conforme a Figura 38.

60
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 62 - )

Figura 38 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 4 (quatro) policiais militares


com anteparo

Fonte: Elaborado pelo autor.

 Autoguardado com 5 (cinco) policias militares

Com 5 (cinco) policiais militares a formação da patrulha estacionada variará de forma


aproximada aos dispositivos para quatro policiais.

Figura 39 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 5 (cinco) policias militares sem


anteparo (em círculo)

Fonte: Elaborado pelo autor.

61
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 63 - )

Figura 40 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 5 (cinco) policiais militares sem


anteparo (em linha)

Fonte: Elaborado pelo autor.

 Autoguardado com 6 (seis) ou mais policiais militares

Se houver 6 (seis) ou mais integrantes as patrulhas deverão variar conforme os dispositivos


anteriores, sendo recomendado, se estiverem em linha, que haja uma divisão em 2 (dois)
subgrupos com um afastamento lateral de 2 (dois) a 3(três) metros.

Figura 41 - Posicionamento do dispositivo autoguardado com 6 (seis) policiais militares sem


anteparo

Fonte: Elaborado pelo autor.

Se houver necessidade de breve reunião, estando a patrulha atuando no meio da


aglomeração de pessoas, o dispositivo deverá privilegiar uma formação segura, que o
comandante estará ao centro e os demais integrantes da patrulha permaneçam sempre
atentos à segurança um dos outros.

62
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 64 - )

Figura 42 - Posicionamento do dispositivo para reunião da patrulha

Fonte: Elaborado pelo autor.

b) Dispositivo em deslocamento

O deslocamento será feito em coluna por um, sendo que o comandante deslocará ao centro.
Todos os componentes serão numerados a partir do primeiro homem.

O primeiro policial militar se deslocará com sua atenção voltada para frente, tendo os demais
a atribuição de observar cada lado alternadamente.

Não é recomendado o militar fazer deslocamentos sozinho no evento. Deve-se deslocar no


mínimo acompanhado de outro militar.

63
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 65 - )

Figura 43 - Formação para deslocamento da Patrulha de eventos

Fonte: Elaborado pelo autor.

c) Dispositivo para abordagem

Nas situações em que houver até 4 (quatro) policiais, as abordagens deverão ser realizadas
observadas a avaliação de riscos e uma criteriosa leitura de ambiente, verificando,
preferencialmente, se no local há anteparos para posicionamento do abordado e realização
da busca pessoal.

As patrulhas deverão atuar conforme os dispositivos previstos para a Tática de Aproximação


Triangular e, se houver muitas pessoas próximas ao suspeito, a equipe fará uma busca no
abordado.

Quando houver 5 (cinco) ou mais policiais militares, e se não houver anteparos, a abordagem
será executada fazendo-se um envelopamento5.

ATENÇÃO! Os militares da patrulha nunca devem atuar isoladamente em


uma abordagem, pois podem comprometer sua segurança e se tornarem
alvos vulneráveis.

5 Envelopamento:Trata-se de um cerco em torno do(s) abordado(s) com a finalidade de criar uma área de
contenção segura para realização da busca pessoal.

64
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 66 - )

Figura 44 - Posicionamento do dispositivo para abordagem sem anteparo com


envelopamento

Fonte: Elaborado pelo autor.


d) Condução

A condução de preso deve ser rápida e direcionada diretamente para o posto de triagem, a
fim de retirar o preso do meio do público de forma mais rápida e segura.

A patrulha deve estar atenta para a possibilidade de tentativa de arrebatamento do preso ou


tentativa de agressão ao conduzido.

65
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 67 - )

Figura 45 - Posicionamento do dispositivo para condução

Fonte: Elaborado pelo autor.

Se houver necessidade da prisão, a condução deve ser feita prioritariamente com o preso
algemado e no centro da patrulha, a fim de diminuir o risco de fuga em meio à multidão e
também para garantir a integridade física do próprio conduzido.

2.10.7 Patrulha em área de matas

A execução da patrulha em área de matas deve ser precedida de uma avaliação criteriosa
das circunstâncias a fim de definir o procedimento a ser executado.

Nas localidades com presença de matas onde exista o serviço de Rondas Ostensivas com
Cães (ROCCA6) este deverá ser acionado para apoio na localização de infratores.

Em ocorrências de alta complexidade7, os primeiros interventores deverão acionar, por


meio do Centro de Operações Policiais Militares (COPOM) / Sala de Operações da Unidade

6 “ROCCA: consiste na atuação direcionada para repressão qualificada no atendimento e apoio às ocorrências
ocasionais e de alta complexidade, que necessitem do emprego de cães, voltada para busca de infratores
homiziados em locais de difícil acesso, bem como na localização de armas de fogo, artefatos explosivos e drogas
ilícitas.” (PMMG, 2019).
7 “Ocorrências de alta complexidade: são as intervenções qualificadas em Incidentes Críticos que extrapolam o
poder de resposta dos órgãos que compõem o Sistema de Defesa Social e, portanto, necessitam de intervenções
integradas especiais com a utilização de equipamentos, armamentos, tecnologias e treinamentos especializados
para o restabelecimento da Paz Social.” (COTTA, 2009).

66
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 68 - )

(SOU) / Sala de Operações da Fração (SOF) ou correspondente, o 3º e/ou 4º esforço, bem


como o esforço suplementar (Radiopatrulhamento Aéreo) da malha protetora.

Em ambos os casos, o primeiro interventor, sempre que possível, identificará o ponto de


entrada dos infratores a fim de subsidiar com informações as equipes dos demais esforços e
implementará o cerco no local até a chegada do apoio.

ATENÇÃO! Não é recomendável adentrar em áreas de matas durante


períodos de baixa luminosidade à procura de infratores.

Em situações que não seja possível o acionamento de uma guarnição da ROCCA e que o
fato não se configure numa ocorrência de alta complexidade, a incursão será realizada por
uma patrulha composta de, no mínimo, 4 (quatro) policiais militares.

Para início da incursão, a patrulha identificará o ponto de acesso do infrator na área de mata,
adentrando na formação em coluna pelo ponto por onde o infrator acessou.

Caso o primeiro interventor não tenha visualizado o ponto de acesso do infrator na área de
mata ou não identifique qualquer rastro ou objetos que se presume ser o local de entrada, a
patrulha adotará a formação em linha para realizar a varredura do local em busca de alguma
alteração no terreno que demonstre a direção a ser seguida.

Ao adentrar na área de mata, o Ponta de Vanguarda 1 deverá manter sua atenção voltada à
procura de alterações no terreno que os levem até os infratores. Considerando que o Ponta
de Vanguarda 1 estará com a visão periférica restrita, o Ponta de Vanguarda 2 deverá
realizar a segurança do Ponta de Vanguarda 1, mantendo sua atenção voltada para as
adjacências do ambiente.

Os demais integrantes da patrulha manterão vigilância alternada do ambiente, definindo a


área de responsabilidade de cada um. Ao estacionar, o Ponta de Retaguarda 1 manterá
vigilância da retaguarda da equipe.

Durante o deslocamento os policiais militares atentarão para a disciplina tática de luz e som,
com especial atenção para os locais onde pisam. Se a patrulha produzir algum ruído
extravagante, deverá manter-se imóvel por breve período a fim desse ruído se confunda com
outros barulhos que naturalmente são produzidos pelo ambiente.

67
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 69 - )

No ambiente de mata, durante o deslocamento, a formação da coluna deverá guardar


distância entre os integrantes, mantendo contato visual com o componente que o antecede e
que o sucede. Nessa incursão, os policiais militares realizarão a “Varredura em Z”8.

Caso seja identificado algum infrator ou ponto de abordagem (quintal, casa, barracão, etc) a
patrulha adotará a formação em linha para a aproximação.

Em situações que sejam detectados disparos de armas de fogo em direção à patrulha, os


policiais militares, imediatamente, deitarão com a atenção voltada para suas respectivas áreas
de responsabilidade.

8Varredura em “Z”: é uma varredura visual realizada do topo das árvores, no meio (na altura dos olhos) em
profundidade e no chão).

68
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 70 - )

3 ABORDAGEM A PESSOAS

A abordagem policial é o conjunto ordenado de ações policiais para aproximar-se de uma


ou mais pessoas, veículos ou edificações. Tem por objetivo resolver demandas do
policiamento ostensivo, como orientações, assistências, identificações, advertências de
pessoas, verificações, realização de buscas e detenções.

Já a abordagem a pessoas se refere apenas às ações policiais para se aproximar de um ou


mais indivíduos. Este conceito possui um sentido amplo, ou seja, abrange a todos os
cidadãos, não se restringindo às pessoas em situação de suspeição.

Desta forma, os procedimentos adotados pela guarnição variam de acordo com os fatos
motivadores da abordagem e com o ambiente. Além disso, o policial militar deve compreender
as peculiaridades daquele com quem interage e não vincular essa interação,
necessariamente, a ações delituosas.

Em cada abordagem realizada, o policial militar deverá utilizar técnicas, táticas e recursos
apropriados ao público-alvo desta intervenção policial, esteja a pessoa em atitude suspeita ou
não.

O poder de polícia, deve ser entendido como um conjunto de ações que limitam e sancionam
o direito individual e autorizam a intervenção do Estado, executada por intermédio de seus
agentes, em qualquer matéria de interesse da coletividade.

A ação de abordar uma pessoa é um ato administrativo, discricionário, autoexecutório e


coercitivo. Significa dizer que o policial militar é a personificação do Estado, o qual lhe oferece
poder de escolha, balizado em aspectos objetivos e subjetivos, pode agir sem necessidade
de mandado judicial gerando obrigações para a pessoa abordada, independentemente de
consentimento.

A doutrina sobre Intervenção Policial estabelece etapas que sistematizam o processo de


solução de problemas, objetivando estruturar ações de resposta adequadas durante a
abordagem. Nesse enfoque, recomenda-se a leitura dos seguintes tópicos, constantes no
MTP 01:

 Etapas da Intervenção: Seção 5;


 Fundamentos da abordagem policial à pessoa em atitude suspeita: Seção 5;

69
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 71 - )

 Verbalização do policial militar face ao comportamento do abordado: Seção 6;


 Uso diferenciado da força: Seção 7.

Como explorado no MTP 01, a abordagem é uma intervenção policial que se procede por
meio de técnicas, táticas e uso de equipamentos proporcionais aos níveis de riscos.

3.1 Níveis da abordagem a pessoas

A abordagem policial a pessoa também é classificada em três níveis (1, 2 e 3) tendo como
referência os níveis da intervenção policial, conforme definidos pelo MTP 01.

A seguir serão apresentadas as principais técnicas e táticas a serem empregadas na


abordagem a pessoas, em três variáveis principais, considerando uma abordagem com 2
(dois) policiais militares. A distribuição das funções entre os policiais da guarnição ficará a
critério do PM Comandante, mediante sua avaliação de riscos:

a) abordado aparentemente desarmado;


b) abordado visivelmente portando arma branca9 ou imprópria10 ;
c) abordado visivelmente portando arma de fogo.

As variáveis principais, por conseguinte, estão divididas em tópicos estabelecidos de acordo


com o nível de comportamento do abordado:

a) abordado cooperativo;
b) abordado resistente passivo;
c) abordado resistente ativo.

3.1.1 Abordagem a pessoas aparentemente desarmadas

a) um policial militar iniciará a abordagem verbalizando e adotando uma das posturas de


abordagem com mãos livres, de acordo o comportamento do abordado;

9 Arma branca: é aquela criada para causar lesão que não seja arma de fogo ou explosivo (Ex.: Espada ou faca
de ataque).
10Arma imprópria: é qualquer instrumento que, embora tenha sido criado com finalidade diversa, é eficaz à prática
delitiva (Ex.: Faca de cozinha, chave de fenda, pedaço de madeira, etc).

70
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 72 - )

b) outro policial militar iniciará a abordagem com a arma localizada, a fim de prover a proteção
da equipe e realizar a aproximação para a busca pessoal.

3.1.2 Abordagem a pessoas visivelmente portando arma branca ou imprópria

a) todos os policiais militares iniciarão a abordagem com a arma na posição 2, 3 ou 4 de


acordo com avaliação de riscos e manterão uma distância de segurança (Regra de
Tueller11);
b) um dos policiais militares determinará ao abordado que solte a arma e se posicione em
uma das posições de contenção;
c) caso a arma esteja alocada no corpo do abordado, o policial militar irá monitorar os pontos
quentes e determinará que se coloque na posição de contenção 3 ou 4 (ajoelhado ou
deitado).

3.1.3 Abordagem a pessoas portando arma de fogo

a) sempre que possível, todos os policiais militares deverão estar abrigados e com arma na
posição 3 ou 4 (guarda-alta ou pronta resposta);
b) um dos policiais militares determinará ao abordado que solte a arma e se posicione em
uma das posições de contenção;
c) caso a arma esteja alocada no corpo do abordado, o policial militar irá monitorar os pontos
quentes e determinará que se coloque na posição de contenção 3 ou 4 (ajoelhado ou deitado).

OBSERVAÇÃO: A posição de emprego da arma de fogo pode ser


alterada, de acordo com a percepção do policial militar sobre o uso
diferenciado da força, podendo variar de acordo com o
comportamento do suspeito. O policial militar que aponta a arma para
o abordado não precisa se manter nesta mesma posição durante toda
a abordagem, se não for necessário.

3.2 Supremacia de força na abordagem a pessoas

Ao iniciar uma abordagem, a guarnição policial-militar deverá realizá-la com segurança. Se


for realizada especificamente a uma pessoa em atitude suspeita, é necessário que haja
supremacia de força. Neste caso, a técnica policial será fundamental para seu sucesso.

11 Ver item 4.2, alínea c, do MTP 01.

71
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 73 - )

Quando a guarnição entender que necessitará de outros recursos (humanos ou logísticos),


solicitará apoio policial, mantendo o contato visual e, se possível, o controle do suspeito.

A supremacia de força é uma vantagem tática do policial militar em relação ao abordado


para uma atuação segura. Esta vantagem é medida de forma qualitativa e quantitativa,
podendo estar relacionada não só ao número de policiais militares, mas também ao uso de
força e à posse de instrumentos, equipamentos e armamentos por parte da guarnição. Uma
atuação policial com supremacia de força é aquela em que os policiais militares envolvidos
dispõem de níveis de força adequados para reagirem às ameaças que poderão advir dos
abordados.

No desenvolvimento da abordagem, o policial militar manterá a atenção às possíveis


mudanças que venham a ocorrer no cenário e que podem, por exemplo, obrigá-lo a aumentar
ou diminuir o nível de força. O comportamento do abordado (cooperativo, resistente passivo
e ativo) será determinante para a mudança de postura tática.

É importante saber que em qualquer nível de intervenção o policial militar deverá adotar os
seguintes procedimentos:

a) autoidentificação: demonstrar clareza, falando nome e posto ou graduação. Atitude que


reforça os valores da ética, transparência, representatividade institucional e disciplina. O
policial militar deve saber que sua identidade deve ser pública diante da função revestida pelo
Estado;

b) tratamento respeitoso para com as pessoas: tratar os abordados com respeito,


cordialidade, urbanidade, solicitude e dignidade;

c) esclarecimentos sobre o motivo de uma abordagem: esclarecer às partes interessadas


sobre a motivação e o desdobramento da ação policial, a qual se submete o abordado. Com
essa medida, fortalecerá o respeito, a cortesia e a credibilidade no trabalho da Polícia Militar.

Além disso, o policial militar deve ter em mente os Fundamentos da Abordagem Policial
previstos na Seção 5 do MTP 01.

72
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 74 - )

4 BUSCA PESSOAL E USO DE ALGEMAS

4.1 Busca pessoal

É uma técnica policial utilizada para fins preventivos ou repressivos, que visa a procura
de produtos de crime, objetos ilícitos ou lícitos que possam ser utilizados para a prática de
delitos que estejam de posse da pessoa abordada em situação de suspeição.

Será realizada no corpo, nas vestimentas e pertences do abordado, observando-se todos os


aspectos legais, técnicos e éticos necessários.

A busca poderá ser realizada independente de mandado judicial, desde que haja fundada
suspeita.

Quando o policial militar realiza busca pessoal, a situação de suspeição deverá ser verificada
através da atitude do cidadão, ou seja, da conjugação entre comportamento e ambiente.

Exemplos:
 estado de flagrante delito;
 mesma característica física e de vestimenta utilizada por autor de crime/ contravenção;
 comportamento estranho do suspeito (tensão, nervosismo, aceleração do passo ou
mudança brusca de direção ao avistar a presença policial);
 volumes observáveis na cintura ou em outras partes do corpo;
 pessoa parada em local ermo ou de grande incidência de criminalidade;
 pessoa monitorando residências;
 pessoa portando objeto duvidoso;
 condutor que tenta evadir de bloqueio policial; dentre outros.

Os policiais militares devem estar preparados tecnicamente para realizar a busca pessoal e
cuidar para que esta ação não se converta em atos de arbitrariedade e discriminação.

73
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 75 - )

4.1.1 Aspectos legais da busca pessoal

O poder discricionário inerente à ação de abordar e efetuar a busca pessoal está condicionado
à existência de elementos que configurem fundada suspeita, requisito essencial e
indispensável para a realização do procedimento. O Código de Processo Penal (CPP) assim
prevê:
Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando
houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de
objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada
no curso de busca domiciliar (BRASIL, 1941).

LEMBRE-SE: diante das circunstâncias previstas no art. 244 do CPP,


que caracterizam a fundada suspeita, o policial militar pode e deve
realizar a busca pessoal, independentemente de mandado.

Caracterizada a fundada suspeita, é legal a ordem que origina o início da busca pessoal
emanada pelo policial militar, determinação esta que se descumprida implica no cometimento
do crime de desobediência, previsto no art. 330 do Código Penal (CP).

Quando o abordado se opuser, mediante violência ou ameaça, à submissão da busca


pessoal, estará incurso no crime de resistência, previsto no art. 329 do CP. Neste caso, o
policial militar usará a força adequada para vencer a resistência ou se defender, conforme
prevê o art. 292 do CPP. É importante não confundir relutâncias naturais por parte do
abordado que se sente constrangido, com o crime de resistência. Na verbalização o policial
militar deve esclarecer os motivos da ação policial.

No Código de Processo Penal Militar (CPPM) a busca pessoal (ou revista pessoal) é tratada
nos seguintes arts.:
Busca pessoal
Art. 180. A busca pessoal consistirá na procura material feita nas vestes, pastas,
malas e outros objetos que estejam com a pessoa revistada e, quando necessário, no
próprio corpo.

Revista pessoal
Art. 181. Proceder-se-á à revista, quando houver fundada suspeita de que alguém
oculte consigo:
a) instrumento ou produto do crime;
b) elementos de prova.

Revista independentemente de mandado


Art. 182. A revista independe de mandado:
a) quando feita no ato da captura de pessoa que deve ser presa;
b) quando determinada no curso da busca domiciliar;
c) quando ocorrer o caso previsto na alínea a do artigo anterior;

74
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 76 - )

d) quando houver fundada suspeita de que o revistado traz consigo objetos ou papéis
que constituam corpo de delito;
e) quando feita na presença da autoridade judiciária ou do presidente do inquérito.

As buscas pessoais são realizadas em prol do bem comum, ainda que possam causar
eventuais desconfortos de caráter individual. É importante que a restrição aos direitos
individuais se dê o mínimo possível, ou seja, no limite do que possa ser considerada
necessária e razoável, para que não possa ser interpretada como abuso de autoridade.

Nos casos em que a suspeição não se confirmar e nada de irregular for encontrado, caberá
ao policial militar:

a) esclarecer ao abordado os motivos pelos quais ele foi submetido a busca pessoal;
b) demonstrar que a abordagem é um ato discricionário e legal, com foco na segurança
preventiva;
c) prestar outras informações que possam minimizar possíveis constrangimentos causados;
d) agradecer a colaboração com a segurança coletiva, caso seja adequado.

Ao final do procedimento, recomenda-se que a equipe:

a) avalie o desempenho individual e do grupo;


b) avalie os resultados obtidos;
c) avalie as falhas no procedimento;
d) colha sugestões de correção;
e) confeccione relatório ao escalão superior, se necessário.

LEMBRE-SE: Não existe pessoa suspeita, mas pessoa em situação


suspeita. Ninguém se torna suspeito por suas características
pessoais (classe social, raça, orientação sexual, forma de se vestir,
traços físicos ou outras características). Não existem rótulos ou
estereótipos que motivem uma abordagem, pois os infratores
podem apresentar todo tipo de característica. Cabe ao militar a
avaliação da suspeição, levando-se em conta as variáveis da
situação (horário, local da abordagem, clima, características da
região, comportamento do cidadão, fatos ocorridos, dentre outros).

75
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 77 - )

Buscas pessoais realizadas em pessoas dos grupos vulneráveis, minorias e outras situações
específicas, serão tratadas na Seção 5.

4.1.2 Tipos de busca pessoal

Há três tipos: a busca ligeira, a busca minuciosa e a completa. Embora realizadas sob mesmo
fundamento legal, cada qual cumprirá objetivos e técnicas específicas, com a finalidade de
minorar os riscos na ação policial.

a) Busca ligeira

É uma revista rápida procedida nos abordados, comumente realizada nas entradas de casas
de espetáculos, shows, estádios e estabelecimentos afins, para verificar a posse de armas ou
objetos perigosos, comuns na prática de delitos. Será iniciada, preferencialmente, pelas
costas da pessoa abordada, que ficará, normalmente, na posição de pé.

A busca será realizada por meio de movimentos rápidos de deslizamento das mãos sobre o
vestuário do cidadão. Deve-se verificar, sobretudo: cintura, quadris, tórax, axilas, braços,
pernas (entre as pernas), pés e cabelos. Bolsos, bonés, chapéus, toucas, pochetes e demais
pertences também deverão ser revistados. Caso haja disponível detector de metal, a
utilização desse aparelho poderá substituir os movimentos rápidos de deslizamento das mãos
sobre o vestuário do cidadão.

A busca ligeira poderá progredir para outras modalidades, caso haja suspeição de que o
abordado ofereça maior risco à integridade das pessoas ou esteja ele de posse de objetos
ilícitos. O policial militar se certificará da necessidade do procedimento, optando por local
adequado e seguro para a realização.

É importante ressaltar que a busca ligeira a ser realizada para acesso a locais de eventos
esportivos, também chamada de revista pessoal de prevenção e segurança, é baseada em
dispositivos do Estatuto de Defesa do Torcedor (Lei nº 10.671/2003), sob o enfoque de
prevenção geral em cumprimento a condição de acesso e permanência do torcedor no recinto
esportivo.

Destarte, a manifestação de recusa a esse tipo de busca pessoal, imediatamente impede o


acesso da pessoa ao recinto esportivo, podendo inclusive implicar situação mais gravosa,

76
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 78 - )

como o cometimento do crime de desobediência, em caso imperativo de determinação da


submissão à busca pessoal e a negativa por parte da pessoa.

b) Busca minuciosa

Será realizada sempre que o policial militar suspeitar que o abordado porte objetos ilícitos,
dificilmente detectados na inspeção visual ou na busca ligeira. Preferencialmente será feita
pelas costas da pessoa abordada. Enquanto o PM Revistador realizar a busca, o PM
Verbalizador/Segurança fará a cobertura policial.

A busca minuciosa pode variar conforme as Posições de Contenção, que são


posicionamentos que serão determinados pelo PM Verbalizador ao abordado e objetivam a
aumentar a segurança dos policiais militares e a eficiência da revista, variando de acordo com
o nível de risco e o ambiente. São enumeradas quatro posições básicas de contenção:

Posição de contenção 1 - abordado em pé sem apoio: Será empregada quando não houver
apoio para o abordado encostar as mãos.

Fase de verbalização:

Nesta abordagem o PM Verbalizador identificará como policial militar e determinará que o


abordado:

 coloque as mãos sobre a testa;


 entrelace os dedos;
 vire-se de costas;
 abra as pernas (as pernas deverão estar abertas de maneira que não permita ao abordado
movimento de agressão sem antes se ver obrigado a realizar o movimento de fechamento
das pernas, o que sinalizará aos policiais militares a intenção de agressão);
 aguarde e fique calmo que um policial fará a busca pessoal.

77
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 79 - )

LEMBRE-SE: Na posição de contenção em pé sem apoio, deverá ser


determinado ao abordado que coloque as mãos sobre a testa e não
sobre a cabeça.
Esta técnica permite que, em caso de reação durante a vistoria, o PM
Revistador, puxe os dedos do abordado para trás, desequilibrando-o e
projetando-o ao solo.
Este procedimento irá proporcionar ao PM Revistador tempo para
reação, com emprego de técnicas de imobilização e uso de
Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo (IMPO).

Fase da busca pessoal:

O PM Revistador, com a arma no coldre, deverá se aproximar do abordado pela angulação


2,5 ou 3, adotando os seguintes procedimentos:

 posicionará atrás do abordado;


 deverá segurar os dedos do abordado, que estarão sobre a testa;
 ao revistar o lado direito do corpo do abordado, deverá segurar os dedos do abordado com
a mão esquerda e fazer a revista com a mão direita;
 ao revistar o lado esquerdo do corpo do abordado, deverá segurar os dedos do abordado
com a mão direita e fazer a revista com a mão esquerda;

A busca minuciosa na posição de contenção em pé, sem apoio, vem ilustrada na Figura 46.

Figura 46 - Busca minuciosa na posição de contenção em pé, sem apoio.

Fonte: Elaborado pelo autor.

78
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 80 - )

Posição de contenção 2 (abordado em pé, com apoio): Será empregada quando houver
apoio para o abordado encostar as mãos.

Nesta abordagem o PM Verbalizador determinará que o abordado caminhe até uma


superfície vertical (paredes, muros, dentre outros) e fique de frente para ela, com pernas
abertas e afastadas, braços abertos, mãos apoiadas na superfície, acima da altura dos
ombros e dedos abertos. Quanto mais distante da parede estiver os pés do abordado, será
mais difícil sua possibilidade de reação.

Fase de verbalização:

Nesta abordagem o PM Verbalizador deverá se identificar como policial militar e determinará


que o abordado:

 vire-se de costas;
 coloque as mãos apoiadas na superfície determinada (exemplo: parede, muro);
 abra as pernas e afaste-as da superfície utilizada;
 aguarde e fique calmo que um policial militar fará a busca pessoal.

Fase da busca pessoal:

O PM Revistador, com a arma no coldre, deverá se aproximar do abordado pela angulação


2,5 ou 3, adotando os seguintes procedimentos:

 posicionará atrás do abordado;


 ao revistar o lado direito do corpo do abordado, deverá apoiar a mão esquerda nas costas
do abordado, apoiar o joelho esquerdo atrás da perna direita do abordado e fazer a revista
com a mão direita;
 ao revistar o lado esquerdo do corpo do abordado, deverá apoiar a mão direita nas costas
do abordado, apoiar o joelho direito atrás da perna esquerda do abordado e fazer a revista
com a mão esquerda;
 o PM Verbalizador, no momento da revista, será responsável pela segurança do PM
Revistador e, portanto, deverá variar sua posição de maneira a manter sempre a triangulação
descrita na TAT.

A busca minuciosa na posição de contenção em pé, com apoio, vem ilustrada na Figura 47.

79
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 81 - )

Figura 47 - Busca minuciosa na posição de contenção em pé, com apoio

Fonte: Elaborado pelo autor.

Posição de contenção 3 (abordado de joelhos): Em regra, é indicada para casos em que


o policial militar entenda ser mais seguro para o abordado e/ou para a guarnição como por
exemplo:

 abordado que esteja portando arma e com comportamento cooperativo;


 quando o número de abordados for maior do que o número de policiais militares;
 abordado de alta periculosidade ou que tenha antecedentes de reação.

Fase de verbalização:

Nesta abordagem o PM Verbalizador deverá se identificar como policial militar e determinará


que o abordado:

 coloque as mãos na testa e olhe para cima;


 entrelace os dedos;
 vire-se de costas;
 ajoelhe-se;
 cruze os pés;
 aguarde e fique calmo que um policial fará a busca pessoal.

80
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 82 - )

Fase da busca pessoal:

O PM Revistador, com a arma no coldre, deverá se aproximar do abordado pela angulação


2,5 ou 3, adotando os seguintes procedimentos:
 posicionará atrás do abordado;
 ao revistar o lado direito do corpo do abordado, deverá segurar os dedos do abordado com
a mão esquerda e fazer a revista com a mão direita;
 ao revistar o lado esquerdo do corpo do abordado, deverá segurar os dedos do abordado
com a mão direita e fazer a revista com a mão esquerda;
 o PM Verbalizador, no momento da revista, será responsável pela segurança do PM
Revistador e, portanto, deverá variar sua posição de maneira a manter sempre a triangulação
descrita na TAT.

A busca minuciosa na posição de contenção ajoelhado vem ilustrada na figura a seguir:

Figura 48 - Busca minuciosa na posição de contenção ajoelhado

Fonte: Elaborado pelo autor.

Posição de contenção 4 (abordado deitado): Em regra, é indicada para os mesmos


exemplos referenciados para a posição de contenção 3 e, notadamente, para os casos em
que o abordado apresente resistência.

81
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 83 - )

Fase de verbalização:

Nesta abordagem o PM Verbalizador deverá se identificar como policial militar determinará


que o abordado:

 deite-se com o peito encostado no chão (decúbito ventral);


 abra os braços em forma de crucifixo;
 vire as palmas das mãos para cima;
 mantenha as pernas estendidas;
 aguarde e fique calmo que um policial militar fará a busca pessoal.

Após o abordado realizar estes movimentos, o PM Verbalizador caminhará em direção a uma


das laterais do abordado, ao mesmo tempo em que o PM Revistador caminhará em direção
ao lado oposto.

Após estar posicionado em uma das laterais do corpo do abordado, o PM Verbalizador


determinará que este permaneça olhando em sua direção.
Fase da busca pessoal:

O PM Revistador, com a arma no coldre, deverá se aproximar pelo lado em que o abordado
não estiver olhando:

 realizará uma busca ligeira;


 se necessário, efetuará a algemação;
 conduzirá o abordado até a posição de pé;
 posicionará atrás do abordado, segurando-lhe as algemas;
 determinará ao abordado que abra as pernas ao máximo para realização de uma busca
minuciosa, antecedendo a condução.

O PM Verbalizador, no momento da busca pessoal, será responsável pela segurança do PM


Revistador e, portanto, deverá variar sua posição de maneira a manter sempre a triangulação
descrita na TAT.

A busca minuciosa na posição de contenção deitado vem ilustrada na Figura 49.

82
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 84 - )

Figura 49 - Busca minuciosa na posição de contenção 4

Fonte: Elaborado pelo autor.

c) Busca completa

É a verificação detalhada do corpo do abordado, que se despirá e entregará seu vestuário ao


policial militar. Cada peça de roupa deverá ser examinada.

O policial militar, além de atentar para todos os procedimentos previstos na busca minuciosa,
verificará o interior das cavidades do corpo.

Na busca completa, o policial militar, em conformidade com a avaliação de riscos, determinará


que o abordado retire todas as peças de vestuário e fique na posição de pé. O policial militar
determinará ao abordado que realize pelo menos três movimentos de agachamento, a fim de
detectar objetos escondidos em orifício anal ou vaginal.

O policial militar deve evitar o uso do tato, no corpo do abordado, estando ele já despido. A
participação que se espera do revistado diz respeito à observância das orientações que lhe
são passadas: despir-se, entregar o vestuário, abrir a boca, levantar os braços, abrir as
pernas, agachar-se com as pernas abertas, dentre outras.

Devido à exposição corporal do abordado e por questões de segurança, recomenda-se que a


busca completa seja realizada em local isolado do público e, sempre que possível, na
presença de testemunha do mesmo sexo da pessoa abordada (preferencialmente,
desconhecida por ela) que será esclarecida sobre a necessidade do procedimento.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 85 - )

Por questões de biossegurança, recomenda-se o uso de luvas para o caso de manusear


peças de vestuário e objetos do abordado.

ATENÇÃO! Caso não se confirme a suspeição, os policiais militares


farão a liberação do abordado, e explicando a importância da busca
pessoal na prevenção criminal. Caso confirmada a suspeição, fará a
prisão do autor.

4.1.3 Arma de fogo localizada durante a busca

A ocasião em que os policiais militares encontram uma arma de fogo durante uma busca
pessoal torna-se um momento crítico que exige disciplina tática, controle emocional e
observação de uma sequência lógica de procedimentos que lhe proporcione minimizar os
riscos desta intervenção.

Destarte, é importante destacar as funções envolvidas em tal situação: PM Revistador e PM


Segurança. Esses policiais têm procedimentos distintos a serem observados, como se vê a
seguir:

a) Atribuições do PM Revistador

Ao localizar arma de fogo com o abordado durante a intervenção o PM Revistador:


 informará a equipe que localizou a arma: “arma localizada!”;
 determinará que o suspeito ajoelhe-se (posição de contenção 3) ou deite-se (posição de
contenção 4), conforme avaliação de riscos;
 entregará a arma para o PM Segurança;
 algemará o suspeito.

b) Atribuições do PM Segurança

No momento que o PM Segurança for informado que há arma localizada, deverá:


 atentar-se para possíveis reações de tentativa de fuga dos suspeitos;
 receber a arma que foi localizada pelo PM Revistador com sua mão fraca, observando o
controle da direção do cano e dedo fora do gatilho;
 colocar a arma recolhida no coldre, tendo em vista que a arma do próprio policial está na
mão.

84
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 86 - )

Estando o ambiente controlado, o policial militar dirigir-se-á a um local seguro e realizará os


procedimentos técnicos necessários a fim de colocar a arma recolhida em condições de
segurança (“arma fria”). A arma recolhida e as munições devem ser colocadas no bolso da
calça ou bornal.

Ressalta-se que o policial militar não deve colocar essa arma no chão, entre o colete e
o corpo ou na cintura, pois essa conduta fere as normas de segurança das armas de fogo,
devido à incerteza da condição do armamento.

Figura 50 - Sequência de ações de localização de arma durante busca pessoal

Fonte: Elaborado pelo autor.

4.2 Uso de algemas

Algemas são equipamentos policiais utilizados com os objetivos primários de controlar uma
pessoa, prover segurança aos policiais militares, ao preso ou a terceiros e reduzir a
possibilidade de fuga ou agravamento da ocorrência.

As algemas, além dos modelos tradicionais de argolas de metal, com fechaduras e ligadas
entre si, podem também ser de plástico (descartáveis) ou consistir em objetos utilizados para
restringir os movimentos corporais de uma pessoa presa sob a custódia (corda com nó de
algema, cadarço, etc).

A algemação não pode ser adotada como regra para todo caso de prisão/ condução, pois,
quando utilizada, causa um constrangimento inevitável. Este equipamento não deve ser
utilizado como instrumento de subjugação ou humilhação do preso.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 87 - )

4.2.1 Aspectos legais do uso de algemas

O Código de Processo Penal (CPP) dispõe, em seu art. 284, que não será permitido o
emprego de força, salvo o indispensável no caso de resistência ou tentativa de fuga de preso.

Por sua vez, o Código de Processo Penal Militar (CPPM) em seu art. 234, assim prevê sobre
o uso de algemas:
Emprêgo de algemas
§1º - O emprego de algemas deve ser evitado, desde que não haja perigo de fuga ou
de agressão da parte do preso, e de modo algum será permitido, nos presos a que se
refere o art. 242 (BRASIL, 1969).

Significa dizer que a algemação se aplica aos casos de resistência e fundado risco à
integridade física dos envolvidos.

O §1º do art. 234 prevê, ainda, que de modo algum será permitido o uso das algemas nas
autoridades descritas no art. 242 do CPPM:

Art. 242 [...]


a) os ministros de Estado;
b) os governadores ou interventores de Estados, ou Territórios, o prefeito do Distrito
Federal, seus respectivos secretários e chefes de Polícia;
c) os membros do Congresso Nacional, dos Conselhos da União e da Assembleias
Legislativas dos Estados;
d) os cidadãos inscritos no Livro de Mérito das ordens militares ou civis reconhecidas
em lei;
e) os magistrados;
f) os oficiais das Forças Armadas, das Polícias e dos Corpos de Bombeiros,
Militares, inclusive os da reserva, remunerada ou não, e os reformados;
g) os oficiais da Marinha Mercante Nacional;
h) os diplomados por faculdade ou instituto superior de ensino nacional
i) os ministros do Tribunal de Contas;
j) os ministros de confissão religiosa.

Porém, é entendimento do Superior Tribunal Federal que, se houver necessidade, o uso de


algemas poderá ser feito, mesmo nas autoridades elencadas anteriormente, e independente
do cargo/função/posição social do preso.

A Súmula Vinculante nº 11, publicada em 22 de agosto de 2008, assim discorre:

Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou


de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros,
justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar
civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual
a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado (BRASIL, 2008).

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 88 - )

Ao empregar as algemas é indispensável que o policial militar justifique tal medida, em campo
próprio, no Boletim de Ocorrência (BO/REDS), conforme determina a Súmula Vinculante, sob
pena de responsabilização nas esferas civil, penal e administrativa.

A formalização escrita dos motivos que ensejaram a algemação é o grande diferencial que a
Súmula traz para a prática policial e decorrerá de três situações específicas:

a) resistência do preso à ação policial;


b) fundado receio de que o preso possa empreender fuga;
c) comportamento do preso que ofereça risco à integridade física do policial militar, de
terceiros ou para si mesmo.

Vale ressaltar que o Sistema REDS já oferece a possibilidade de seleção de justificativas pré-
estabelecidas para o uso de algemas. Não obstante, para uma melhor adequação do
documento ao caso concreto, sugere-se que o policial militar proceda ao preenchimento do
campo alusivo ao “Complemento da Justificativa”, conforme Figura a seguir:

Figura 51 - Campo do Sistema REDS para inserção de justificativa para uso de algemas

Fonte: Sistema REDS.

O quadro a seguir apresenta sugestões que podem ser utilizadas como base para o
preenchimento do campo “Complemento da Justificativa”.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 89 - )

Quadro 3 - Sugestões de complemento de justificativas quanto ao uso de algemas12

SITUAÇÃO SUGESTÃO DE JUSTIFICATIVA


 o preso resistiu à ação policial, durante a intervenção.
Foi necessário o uso de algemas para contê-lo;
 o preso com sintomas de embriaguez, ou sob efeito
RESISTÊNCIA de substâncias entorpecentes, demonstrou
indignação ou resistência à prisão, investindo contra
a guarnição (chutes, socos, pontapés, cuspiu no
policial, empurrões e outros).

 há caso de tentativa de fuga nos registros policiais do


preso;
 trata-se de preso foragido;
 no momento da prisão, o preso tentou fugir do local,
sendo necessário persegui-lo;
RECEIO DE FUGA
 trata-se de cidadão considerado de alta
periculosidade, pelo envolvimento com
quadrilhas/bandos;
 o preso possui grande número de registros policiais e
processos judiciais em andamento.

 situação verificada em razão da possibilidade do


preso ser agredido pela vítima e seus familiares, ou
PERIGO À INTEGRIDADE FÍSICA por populares;
DO PRESO  situação verificada por meio do comportamento
agressivo do preso (autolesão, possibilidade de
quedas, fraturas);

 situação verificada em razão do comportamento


agressivo do preso em relação aos policiais militares;
 houve necessidade de conduzir o preso algemado,
em razão da viatura não possuir compartimento
fechado (xadrez), e havia possibilidade de fuga e/ou
necessidade de segurança no transporte;
PERIGO À INTEGRIDADE FÍSICA  existe histórico de agressões perpetradas pelo preso;
DO POLICIAL MILITAR OU DE  o preso apresentava sintomas de embriaguez e
TERCEIROS comportamento agressivo; parecia estar sob efeito de
substâncias entorpecentes ou análoga;
 trata-se de cidadão considerado de alta
periculosidade, em virtude de registros policiais com
emprego de violência;
 a agressividade do preso foi demonstrada na
execução do fato criminoso.
Fonte: Adaptado de PMMG, 2008.

ATENÇÃO! O policial militar registrará no BO/REDS que sua ação foi


revestida de legalidade, de razoabilidade e de proporcionalidade no
uso da força, para justificar o emprego das algemas. Recorrerá para
tal, à descrição minuciosa de cada comportamento irregular do preso,
que resultou em sua algemação.

12 Adaptado do Memorando Circular nº 31.687.6/08-EMPM, de 10 de outubro de 2008.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 90 - )

O policial militar deverá, preferencialmente, algemar o infrator com as mãos para trás e com
as palmas voltadas para fora. Certificará, ainda, de que as algemas não ficaram frouxas ou
apertadas, em demasia, trancando-as e travando-as, corretamente.

Figura 52 - Sistema de trava das algemas.

Fonte: Elaborado pelo autor.

A descrição pormenorizada da algema, a aplicação, a condução e as técnicas de emprego


deste equipamento estão no Manual de Defesa Pessoal Policial.

ATENÇÃO! As algemas não impedem fugas. São equipamentos de


uso temporário para conter uma pessoa. Sob esta condição, exige-se
uma vigilância constante do preso por parte do policial.

4.2.2 Recomendações gerais sobre o uso de algemas

É importante que o policial militar entenda que a algemação é uma forma temporária de conter
pessoas presas. Trata-se de uma ação constrangedora e por isso, recomenda-se que não se
estenda por períodos longos, pois esta atitude poderá resultar em lesões, como pulsos
arranhados e até fraturas e ruptura de ligamentos. A utilização da trava de segurança também
contribuirá com a integridade física do algemado.

A algemação pode parecer uma boa medida para conter um criminoso violento, evitando que
ele venha a lesionar outras pessoas. Todavia, vale ressaltar que, ao algemar alguém, você
prejudica a capacidade dessa pessoa de se proteger.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 91 - )

Por isso, algemar uma pessoa a um ponto fixo, como um poste, ou a partes fixas de veículos,
como as barras presentes no xadrez de algumas viaturas, pode colocar em risco o preso. Sem
as mãos livres para se defender, ele se torna incapaz de se proteger de perigos iminentes,
como por exemplo, do ataque de um parente inconformado da vítima, ou até de choques
mecânicos e acidentes ocorridos com a viatura.

Algemar uma pessoa a um ponto móvel, como uma cadeira, uma mesa, ou até a um policial
militar ou outro preso, é uma conduta que não fornece segurança à guarnição, pois o
algemado pode utilizar a cadeira ou mesa como arma contra os policiais militares, vítimas e
testemunhas. Da mesma forma, poderá utilizar da proximidade com o outro preso ou com o
policial militar para agredi-los.

Apesar do policial militar algemar preferencialmente o preso com as mãos voltadas para trás,
nem sempre isso será possível. O policial militar deve definir se a algemação será pela frente
ou pelas costas, de acordo com o comportamento do algemado e suas condições de saúde.
Obesos, grávidas, pessoas adoentadas e de constituição mais fraca poderão ser algemados
pela frente sem expor a guarnição a perigo.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 92 - )

5 PROCEDIMENTOS POLICIAIS ESPECÍFICOS

Existem diversos grupos na sociedade que, devido às suas condições peculiares, merecem
atenção especial por parte da Polícia.

A abordagem policial a essas pessoas seguirá os mesmos princípios éticos e profissionais


das demais intervenções, bem como os procedimentos técnicos e táticos operacionais já
estabelecidos, sobretudo aqueles relativos à segurança dos policiais militares e de terceiros.

No atendimento, quer seja na condição de suspeito, agente de delito, vítima ou testemunha,


o policial militar deverá, prioritariamente, compreender de maneira integral a complexidade no
trato das questões relativas aos respectivos grupos, para que exerça, com efetividade, a
proteção e a promoção de sua dignidade de seus integrantes.

Adiante, seguem as recomendações para a atuação policial, os quais serão divididos em:

 autoridades;
 grupos vulneráveis;
 minorias;
 pessoas com surto por uso de drogas.

5.1 Procedimentos policiais em ocorrências envolvendo autoridades

Esta subseção abordará as providências que devem ser tomadas pelos policiais militares nos
casos de cometimento de ilícitos penais, prisão em flagrante de autoridades e confecção de
Boletim de Ocorrência (BO/REDS). Ela está subdividida por poderes e cargos, para uma
melhor organização. Além disso, também estará definido o dispositivo legal que trata da
prerrogativa em relação à prisão no cometimento de ilícitos penais. No final deste tópico,
haverá um quadro para uma consulta rápida sobre esse tema.

5.1.1 Membros do Poder Executivo

a) Presidente da República: conforme o art. 88, § 3º, da Constituição Federal (CF/88),


enquanto não sobrevier sentença condenatória nas infrações comuns, o Presidente da
República não estará sujeito à prisão. O policial militar irá liberar o Presidente da República
no local e registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS), encaminhando-o à Polícia Judiciária
Federal (Polícia Federal), para possíveis providências.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 93 - )

b) Ministros de Estado: não possuem prerrogativas em relação à prisão em flagrante no


cometimento de delitos, tendo o mesmo tratamento dos demais cidadãos. O policial militar
deverá, neste caso, prender o Ministro de Estado e registrar o Boletim de Ocorrência
(BO/REDS), encaminhando-os à Polícia Judiciária Federal (Polícia Federal), para possíveis
providências.

c) Diplomatas: a pessoa do agente diplomático é inviolável. Não poderá ser preso ou detido
conforme art. 29, do Decreto nº 56.435, de 8 de junho de 2009 - Convenção de Viena sobre
Relações Diplomáticas. O policial militar irá liberar o Diplomata no local e registrar o Boletim
de Ocorrência (BO/REDS), encaminhando o registro à Polícia Judiciária Federal (Polícia
Federal), para possíveis providências.

d) Governadores de Estado: conforme art. 92, § 3º da Constituição do Estado de Minas Gerais


(CEMG)/1989, enquanto não sobrevier sentença condenatória, nos crimes comuns, o
Governador não estará sujeito à prisão. O policial militar irá liberar o Governador de Estado
no local e registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS), encaminhando o registro à Polícia
Judiciária Federal (Polícia Federal), para possíveis providências.

e) Secretários de Estado: não possuem prerrogativas em relação à prisão em flagrante no


cometimento de delitos, tendo o mesmo tratamento dos demais cidadãos. O policial militar
deverá, neste caso, prender o Secretário de Estado e registrar o Boletim de Ocorrência
(BO/REDS), encaminhando-os à Polícia Judiciária Estadual (Polícia Civil), para possíveis
providências.

f) Prefeitos: não possuem prerrogativas em relação à prisão em flagrante no cometimento de


delitos tendo o mesmo tratamento dos demais cidadãos. O policial militar deverá, neste caso,
prender o prefeito e registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS), encaminhando-os à Polícia
Judiciária Estadual (Polícia Civil), para possíveis providências.

ATENÇÃO! A lei brasileira considera como crime inafiançável os delitos que se


enquadram nas possibilidades previstas dos arts. 323 e 324 do CPP, além da prática
da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos (homicídio quando praticado em atividade de extermínio,
homicídio qualificado, latrocínio, extorsão qualificada pela morte, extorsão mediante
sequestro, estupro e estupro de vulnerável, epidemia com resultado morte,
falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins
terapêuticos ou medicinais e genocídio), além da ação de grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 94 - )

5.1.2 Membros do Poder Legislativo

a) Deputados Federais e Senadores: o policial militar deverá, no caso de flagrante de crime


inafiançável, prendê-lo e registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS), encaminhando-o à
Polícia Judiciária Federal (Polícia Federal), para possíveis providências. Nos demais delitos
(afiançáveis e de menor potencial ofensivo), será feito apenas o registro do BO/REDS,
encaminhando-o à Polícia Federal, sendo os parlamentares liberados no local. Os deputados
federais e senadores são invioláveis civil e penalmente por quaisquer de suas opiniões,
palavras e votos. Nos casos de prisão em flagrante, os autos serão remetidos dentro de 24
(vinte e quatro) horas à respectiva Casa (Câmara dos Deputados ou Senado), para que, pelo
voto da maioria de seus membros, resolva sobre a manutenção da prisão.

b) Deputados Estaduais: serão adotadas as mesmas providências dos deputados federais e


senadores, divergindo apenas no encaminhamento do Boletim de Ocorrência (BO/REDS) e
membro da Casa Legislativa, que será direcionado para a Polícia Judiciária Estadual (Polícia
Civil), e os autos serão remetidos à Assembleia Legislativa.

c) Vereadores: se o delito praticado pelo vereador não tiver nenhum vínculo político com sua
função ou for fora de sua circunscrição, o policial militar deverá prendê-lo, registrar o Boletim
de Ocorrência (BO/REDS), encaminhando-o à Polícia Judiciária competente. Os Vereadores
gozam de prerrogativa em relação à prisão no cometimento de delitos somente nos casos
relacionados com sua função, sendo invioláveis por suas opiniões, palavras e votos no
exercício do mandato e na circunscrição do Município. Nos demais casos, recebem os
mesmos tratamentos dos demais cidadãos.

5.1.3 Membros do Poder Judiciário

a) Desembargadores e Juízes Federais: os Membros da magistratura da União não podem


ser presos senão por ordem escrita do Tribunal ou do órgão especial competente para o
julgamento, salvo em flagrante de crime inafiançável, caso em que a autoridade fará imediata
comunicação e apresentação do magistrado ao Presidente do Tribunal a que esteja vinculado.
O policial militar deverá, no caso flagrante de crime inafiançável, prendê-los e registrar o
Boletim de Ocorrência (BO/REDS), encaminhando-os ao Presidente do Tribunal a que esteja
vinculado (Desembargadores ao Superior Tribunal de Justiça, Juízes Federais incluídos os
da Justiça Militar ao Tribunal Regional Federal). Nos demais delitos (afiançáveis e de menor
potencial ofensivo), deverá ser realizado apenas o registro do BO/REDS para possíveis
providências, sendo os Magistrados liberados no local.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 95 - )

b) Juízes Estaduais: serão adotadas as mesmas providências dos juízes federais e


desembargadores, divergindo apenas no encaminhamento do Boletim de Ocorrência
(BO/REDS) e do membro desta instituição, que será direcionado para o Tribunal de Justiça
do Estado.

5.1.4 Membros do Ministério Público

a) Procurador e Promotor de Justiça da União: o Membro do Ministério Público da União só


poderá ser preso por ordem escrita do Tribunal competente ou em razão de flagrante de crime
inafiançável, caso em que a autoridade fará imediata comunicação àquele tribunal e ao
Procurador-Geral da República, sob pena de responsabilidade. O policial militar deverá, nos
casos de flagrante em crime inafiançável, prender os Membros do Ministério Público da União
e registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS), encaminhando-os ao Procurador-Geral da
República. Nos demais delitos (afiançáveis e de menor potencial ofensivo), será realizado
apenas o registro do BO/REDS para possíveis providências, sendo os promotores liberados
no local.

b) Procurador e Promotor de Justiça do Estado: serão adotadas as mesmas providências dos


procuradores e promotores de Justiça da União, divergindo apenas no encaminhamento do
Boletim de Ocorrência (BO/REDS) e do membro desta instituição, que será direcionado para
a Procuradoria-Geral de Justiça.

5.1.5 Membros de Órgãos Policiais

a) Membros da Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal: o policial militar irá neste caso
prendê-los, registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS). O conduzido deverá ser
encaminhado na presença de um superior hierárquico à Polícia Judiciária competente, para
possíveis providências. Não possuem prerrogativas em relação à prisão em flagrante no
cometimento de delitos, tendo o mesmo tratamento dos demais cidadãos.

b) Membros da Polícia Militar Estadual e Corpo de Bombeiros Militar: o policial militar irá neste
caso prendê-lo e registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS). O militar e o BO/ REDS
deverão ser encaminhados, por um superior hierárquico, à Polícia Judiciária competente, nos
crimes comuns e à Autoridade de Polícia Militar competente nos crimes militares, para
possíveis providências. Não possuem prerrogativas em relação à prisão em flagrante no
cometimento de delitos, tendo o mesmo tratamento dos demais cidadãos.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 96 - )

c) Membros da Polícia Civil: o policial militar deverá neste caso prendê-los e registrar o Boletim
de Ocorrência (BO/REDS). Após a chegada do superior hierárquico do conduzido, será
encaminhado à Polícia Judiciária competente, para possíveis providências. Não possuem
prerrogativas em relação à prisão em flagrante no cometimento de delitos, tendo o mesmo
tratamento dos demais cidadãos.

5.1.6 Membros das Forças Armadas

Militares do Exército, Marinha e Aeronáutica: o policial militar deverá neste caso prendê-los e
registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS). Após a chegada do superior hierárquico do
conduzido da respectiva Força, será encaminhado à Polícia Judiciária competente, nos crimes
comuns e ao Comandante do militar nos crimes militares, para possíveis providências. Não
possuem prerrogativas em relação à prisão em flagrante no cometimento de delitos, tendo o
mesmo tratamento dos demais cidadãos.

5.1.7 Membros da Advocacia

a) Advogado-Geral da União: se o delito tiver vínculo com sua função, o policial militar só
poderá prendê-lo em caso de crime inafiançável ou desacato. Para quaisquer outros crimes,
fora do exercício da função, não há prerrogativas. Quando for efetuada a prisão, a autoridade
e o registro do Boletim de Ocorrência (BO/REDS) serão encaminhados à Polícia Judiciária
Federal (Polícia Federal), para possíveis providências.

b) Advogado-Geral do Estado: serão adotadas as mesmas providências do Advogado-Geral


da União, divergindo apenas no encaminhamento do Boletim de Ocorrência (BO/REDS) e do
membro desta instituição, que será feito à Polícia Judiciária competente, para possíveis
providências.

c) Advogado: serão adotadas as mesmas providências do Advogado-Geral da União,


divergindo apenas no encaminhamento do Boletim de Ocorrência (BO/REDS) e do membro
desta instituição, que será feito à Polícia Judiciária competente, para possíveis providências.

No que diz respeito à presença do Advogado em ocorrências policiais que envolvam seus
clientes, preceitua o art. 7º, III, da Lei Federal nº 8.069/94, que é direito do advogado
comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração, quando
estes se acharem “presos”, “detidos” ou “recolhidos” em estabelecimentos civis ou militares,
ainda que considerados incomunicáveis.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 97 - )

Destarte, e conforme a Lei nº 13.869/19, constitui abuso de autoridade o ato de impedir sem
justa causa esse contato entre o conduzido e seu advogado. Nesse ponto, é importante frisar
o termo justa causa.

Muitas vezes a dinâmica dos fatos não permite que o contato do conduzido com o advogado
seja imediato, em razão da garantia de segurança no local da ocorrência ou situação
semelhante.

O contato entre preso e advogado não pode ocorrer caso haja riscos para a segurança dos
envolvidos ou da equipe policial presente, por exemplo. É imprescindível, porém, que todo o
procedimento policial seja respaldado na razoabilidade e transparência.

Caso não seja possível o contato entre o conduzido e seu advogado por algum motivo, os
policiais devem informar às partes que o contato será permitido de forma oportuna assim que
a condição impeditiva (de segurança ou outra) for superada.

Cabe ressaltar, ainda, que é necessário que o advogado apresente sua identificação
profissional para que possa exercer as suas funções.

5.1.8 Outras Instituições

a) Guarda Municipal: o policial militar deverá neste caso prendê-los e registrar o Boletim de
Ocorrência (BO/REDS). Será encaminhado à Polícia Judiciária competente, para possíveis
providências. Não possuem prerrogativas em relação à prisão em flagrante no cometimento
de delitos, tendo o mesmo tratamento dos demais cidadãos.

b) Policiais Penais: o policial militar deverá neste caso prendê-los e registrar o Boletim de
Ocorrência (BO/REDS). Após a chegada de integrantes da Instituição do conduzido, será
encaminhado à Polícia Judiciária competente, para possíveis providências. Não possuem
prerrogativas em relação à prisão em flagrante no cometimento de delitos, tendo o mesmo
tratamento dos demais cidadãos.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 98 - )

Quadro 4 - Procedimentos policiais em ocorrências envolvendo autoridades

CABE PRISÃO EM EMBASAMENTO ENCAMINHAMENTO


AUTORIDADE
FLAGRANTE? LEGAL DO REDS
Presidente Não art. 86, § 3º CF/88
Ministros Sim -
art. 29 Convenção de Polícia Federal*
Diplomatas
Não Viena
Governadores art. 92, § 3º CE/89
Secretários Estaduais
Sim - Polícia Civil*
Prefeitos
Deputados Federais art. 53, caput e §2º
Polícia Federal
Senadores Só em crime CF/88
inafiançável
art. 56, caput, §§2º e
Deputados Estaduais Polícia Civil*
3º CE/89
Se não tiver
Vereadores art. 29, inc. VII CF/88 Polícia Civil*
vínculo político
art. 33, inc II LC nº Presidente do
Desembargadores
35/79 STJ
Só em crime art. 90, inc II LC nº Presidente do
Juízes Federais
inafiançável 59/01 TRF
art. 33, inc II LC nº Presidente do
Juízes Estaduais
35/79 Tribunal de Justiça
art. 18, inc II, “d”
Procurador de Justiça da União Procurador-Geral da
LC nº 75/93
República
Promotor de Justiça da União Só em crime
inafiançável art. 40, inc III Lei nº
Procurador de Justiça do Estado 8.625/93 e Procurador-Geral
art. 105 inc III LC 34 de Justiça
Promotor de Justiça do Estado
Policial Federal Sim - Polícia Civil*
Polícia Civil*
(crime comum),
Policial Militar Estadual Sim -
Comandante do
militar (crime militar)
Policial Civil Sim - Polícia Civil*
Regra geral: Sim.
Advogado-Geral da União Polícia Federal
Nos casos de crime
art. 7º, § 2º e § 3º, Lei
com vínculo
Advogado-Geral do Estado nº 8.906/94
profissional, apenas
Polícia Civil*
inafiançáveis e
Advogado desacato.
Guarda Municipal
Sim Polícia Civil*
Policial Penal -
Fonte: Elaborado pelo autor.
Nota: *Nos crimes cuja competência para apuração é da União, o BO/REDS deverá ser encaminhado para a Polícia
Federal, desde que haja Delegacia desta Instituição no município.

97
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 99 - )

5.2 Abordagens policiais a grupos vulneráveis

Por grupo vulnerável entende-se o conjunto de pessoas com características específicas,


relacionadas ao gênero, à idade, à condição social, às necessidades especiais e diversidade
sexual. E, por essa razão, podem se tornar mais suscetíveis à violação de seus direitos.

A vulnerabilidade está na ação de sujeição da pessoa a constante preconceito e


discriminação, em razão de sua condição específica, independente de outros fatores. Nesse
conjunto, estão inseridas as mulheres, as crianças e adolescentes, os idosos, a população
em situação de rua, as pessoas com deficiência e a população de LGBTI+13 .

5.2.1 Atuação policial na abordagem a mulher

Em praticamente todas as esferas sociais, a mulher está sujeita a desigualdades. Esta


situação é causada e agravada pela existência de discriminações, que normalmente se
tornam comuns no seio da própria família, na comunidade e no local de trabalho.

A discriminação contra a mulher se mantém por meio da sobrevivência de estereótipos (do


homem, assim como da mulher), de culturas tradicionais e de crenças prejudiciais às
mulheres.

Entende-se por discriminação contra mulheres qualquer distinção, exclusão ou restrição


baseada no sexo, e que tenha por objetivo ou efeito, comprometer ou destruir o
reconhecimento, o gozo ou o exercício de seus direitos humanos e garantias fundamentais,
em qualquer estado social em que se encontrem, e em todos os campos da atividade humana
(político, econômico, social, cultural).

Contudo, as especificidades femininas exigem um tratamento próprio com as mulheres de


forma a respeitar as suas características de sexo, e o policial militar deve realizar uma busca
pessoal de forma profissional e eficiente.

Recomendações:

 a abordagem a mulheres pode ser feita por qualquer policial militar, independentemente do
sexo, devendo a busca pessoal ser efetivada conforme determina a legislação nacional14, que

13 O termo é citado em REIS, T., org. Manual de Comunicação LGBTI+. Curitiba: Aliança Nacional LGBTI /
GayLatino, 2018. O símbolo + foi acrescentado à sigla LGBTI (lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual e
intersexual) para abranger outras orientações sexuais, identidades e expressões de gênero.
14 Conforme art. 249. do Código de Processo Penal/1969.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 100 - )

prescreve que a busca em mulher será feita por outra mulher, “se não importar em
retardamento ou prejuízo da diligência”;

 as mulheres, quando capturadas, serão mantidas separadas dos homens capturados


(sempre quando houver condições logísticas e de segurança);

 a busca pessoal em mulheres suspeitas de portarem objetos ilícitos deverá ser realizada,
preferencialmente, por outra mulher profissional de polícia ou encarregada de fazer cumprir a
lei. Em momento algum poderão ser convocadas pessoas leigas ou civis, para realizar buscas
em caso de suspeição, pois, isto colocará em risco a segurança e a integridade física destas
pessoas;

 não havendo a disponibilidade de policial militar do sexo feminino no grupo que realiza a
abordagem, a guarnição poderá recorrer à rede-rádio, solicitando apoio de uma policial militar
feminina que possa comparecer ao local e suprir as necessidades da ocorrência;

 a busca pessoal feita por homens em mulheres é uma excepcionalidade. Não deve ser
realizada em situações operacionais ordinárias, principalmente em relação à busca completa;

 procedimentos mais simples como solicitar que a própria pessoa abra sua bolsa, retire os
sapatos, mostre a região da cintura e levante os cabelos, diminuirá a exposição da mulher;

 em casos extremos, caso o policial militar necessite realizar uma busca em uma mulher,
esta deverá ser feita com respeito e profissionalismo, em local discreto e, sempre que
possível, na presença de testemunhas, preferencialmente, do sexo feminino. O policial militar
deve evitar o contato físico com a abordada, principalmente nas partes íntimas, procurando
limitar-se a orientá-la quanto aos procedimentos a serem adotados.

5.2.2 Atuação policial na abordagem a crianças e adolescentes

Crianças e adolescentes possuem direitos próprios que estão previstos em diversos


instrumentos internacionais15 e na legislação brasileira. O Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), Lei Federal nº 8.069/90, dispõe sobre a proteção integral à criança e ao

15 Convenção Americana sobre Direitos Humanos, dentre outros.

99
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 101 - )

adolescente. Em seu art. 2º considera criança a pessoa até 12 (doze) anos (incompletos) e
adolescente, pessoa entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos incompletos.

Ato infracional é a ação tipificada como crime ou contravenção penal16, que tenha sido
praticada pela criança ou pelo adolescente. São penalmente inimputáveis todos os menores
de 18 (dezoito) anos e não poderão ser condenados.

A criança que incorre em ato infracional deverá ser encaminhada à presença do Conselho
Tutelar ou do Juiz da Vara da Infância e da Juventude, para que seja social e legalmente
assistida. Na ausência desses órgãos, deverá ser encaminhada aos pais ou ao responsável
legal, que dará recibo no Boletim de Ocorrência, dirigido ao Juizado da Infância e da
Juventude.

O adolescente, em caso de flagrância de ato infracional, será levado à Delegacia de Polícia


Especializada. Na ausência desta, deverá ser encaminhado à Delegacia de Polícia local, onde
deverá permanecer separado dos adultos, até que outra medida seja determinada.

As regras específicas propiciam proteção adicional aos interesses deste grupo vulnerável.

Recomendações:
 comunicar, imediatamente, aos pais ou representante legal sobre a apreensão da criança
ou adolescente;

 manter a atenção às situações que possam implicar em risco à integridade física ou mental
da criança ou do adolescente;

 não conduzir crianças e adolescentes em compartimento fechado da viatura. Contudo, em


casos extremos, em que o adolescente apresentar séria ameaça à integridade física dos
policiais militares, devido a sua compleição física avantajada, com atitudes violentas em
resistência à ação policial, e com histórico de atos infracionais violentos, poderá ser admitido
o uso de algema e condução em compartimento fechado de veículo policial, visando até
mesmo a segurança do adolescente. No BO/REDS, deverá ser constado e justificado esse
procedimento;

16 Conforme art. 103 do ECA.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 102 - )

 nunca divulgar sem a autorização devida, por qualquer meio de comunicação, o BO/REDS
relativo à criança ou ao adolescente a que se atribua ato infracional;

 evitar a exposição da imagem do conduzido conforme previsto nos arts. 17 e 18 do ECA;

 a busca pessoal será realizada, com segurança, procurando sempre reduzir os


constrangimentos, respeitando-se os princípios e as orientações gerais contidas no ECA.

5.2.3 Atuação policial na abordagem a diversidade sexual

A diversidade sexual pode ser entendida como o termo usado para designar as várias formas
de expressão da sexualidade humana.

O cidadão, muitas vezes, tem seus direitos desrespeitados pelo fato de ter orientação sexual
diversificada. O policial militar, como promotor de direitos humanos, deve lidar com o cidadão,
de forma a respeitar sua sexualidade e a lhe fornecer a devida atenção.

A heterossexualidade define os indivíduos que têm atração por uma pessoa do sexo oposto.
Por sua vez, a homossexualidade pode ser definida como a atração afetiva e sexual por uma
pessoa do mesmo sexo. Homossexuais podem ser masculinos, afeminados ou não;
femininos, masculinizados ou não.

Na sociedade há diversas definições para a diversidade sexual, em consonância com Brasil


(2018a), podemos conceituar algumas:

a) lésbica: designação para mulheres que se relacionam afetiva e sexualmente com outras
mulheres, independentemente da identidade de gênero.

b) gay: são homens que se relacionam afetiva e sexualmente com pessoas do mesmo sexo,
independentemente da identidade de gênero. Cabe observar que esse conceito se baseia na
identidade de gênero e não no sexo biológico.

c) bissexuais: pessoas que, independentemente da identidade de gênero, relacionam-se


afetiva e sexualmente com ambos os sexos.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 103 - )

d) travestis: trata-se de pessoa que promove sua construção de gênero para feminino, que
é oposta ao seu sexo designado no nascimento (masculino). Muitas modificam seus corpos
por meio de hormonioterapias, aplicações de silicone e/ou cirurgias plásticas, porém vale
ressaltar que isso não é regra para todas.

e) transexuais: pessoas que nascem com o sexo biológico diferente do gênero com que se
identificam. Essas pessoas desejam ser reconhecidas pelo gênero com o qual se identificam,
sendo que o que determina se a pessoa é transexual é sua identidade de gênero, e não
qualquer processo cirúrgico. Existem tanto homens trans quanto mulheres trans.

f) Intersexual: denomina-se intersexualidade a ocorrência de qualquer variação de caracteres


sexuais, incluindo cromossomos, gônadas e/ou órgãos genitais, que dificultam a identificação
de um indivíduo como totalmente feminino ou masculino.

g) “+”: outras identidades de gênero e sexualidade não contempladas na atual sigla adotada.

Em regra, a definição do gênero do policial que deve fazer a busca pessoal segue a orientação
do gênero do abordado, independente de orientação sexual.

Recomendações:

 o cidadão homossexual deve receber tratamento respeitoso durante as providências


policiais, minimizando possíveis constrangimentos. Ao abordar um homossexual deve-se
evitar a reprodução de preconceitos sociais, como exemplo, proferindo a leitura do seu nome
de registro, constante na Carteira de Identidade, em voz alta, para outros policiais militares e
público presente, ridicularizando-o;

 o policial militar não deverá coibir manifestações de afeto entre homossexuais (mãos
dadas, beijo na boca), uma vez que estes atos não configuram ações ilícitas e ainda,
configuram atos privados da vida do cidadão, nos quais não deve haver interferência;

 é importante balizar a conduta policial, relembrando a diferença fundamental entre o delito


caracterizado por ocorrência de ato sexual em via pública e a manifestação afetiva entre
pessoas. As providências policiais caberão apenas no primeiro caso, independentemente da
orientação sexual;

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 104 - )

 o BO/REDS deve ser redigido com o nome de registro da pessoa e o tratamento verbal
deve ser feito pelo nome social (nome pelo qual a pessoa quer ser chamada). Caso queira, o
envolvido poderá autodeclarar sua orientação sexual e identidade de gênero, que deverão ser
marcadas em campo próprio do Sistema REDS. Uma vez constatado que o fato que gerou a
intervenção policial se deu por motivo de intolerância, discriminação ou por homofobia, além
das providências criminais a serem adotadas, essa situação deverá ser relatada no campo
“Modo da Ação Criminosa” no qual poderá constar como causa ou motivação presumida a
“Homofobia/Lesbofobia/Bifobia/Transfobia”. Orienta-se, ainda, a descrever a situação
relatada no campo “Descrição da ação”, afim de que se possa futuramente possibilitar
pesquisas e diagnósticos de vitimização por seguimento.

Figura 53 - Campos do Sistema REDS destinados a relatar declaração de orientação


sexual e identidade de gênero

Fonte: Sistema REDS.

Figura 54 - Campos do Sistema REDS destinados a relatar causa ou motivação presumida


e a descrição da ação

Fonte: Sistema REDS.

5.2.4 Atuação policial na abordagem a pessoas com deficiência

O policial militar se aterá aos procedimentos específicos em ocorrências que envolvam


portadores de deficiência de natureza física ou mental, oferecendo-lhes encaminhamento
adequado para a solução de suas questões.

103
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 105 - )

Recomendações gerais para portadores de necessidades especiais:

 durante as abordagens, o policial militar se manterá atento às questões da segurança,


jamais subestimando a capacidade individual da pessoa com deficiência ou o seu
envolvimento com outras pessoas na ocorrência;

 deve-se evitar gracejos ou situações que possam ridicularizar as expressões da pessoa


abordada, causando-lhe constrangimento ou exposição desnecessária;

 o abordado deverá ser avisado antes de receber a busca pessoal, momento em que
também será orientado a manter-se calmo, tendo em vista que lhe serão assegurados todos
os seus direitos. Assim, enquanto um policial militar verbaliza e executa a busca, os demais
cuidarão da segurança.

Recomendações específicas:

a) Pessoa com deficiência auditiva

 verificar se a pessoa abordada consegue se comunicar e compreender o que lhe foi dito.
Prestar atenção nos lábios, gestos, movimentos e nas expressões faciais e corporais da
pessoa com quem o diálogo está sendo mantido;

 enquanto estiverem conversando, é prudente que o policial militar se mantenha em contato


visual com a pessoa com deficiência auditiva. Ao desviar seu olhar para outras direções, o
policial militar poderá emitir uma mensagem à pessoa, no sentido de que a conversa
terminará;
 caso o policial militar tenha dificuldade para entender o que a pessoa com deficiência
auditiva está falando, poderá pedir que escreva o que deseja falar;

 não se deve iniciar o diálogo sem captar a atenção visual da pessoa. A forma de
comunicação também não deverá ser mudada repentinamente;

 como as pessoas com deficiência auditiva não podem ouvir as mudanças sutis do tom de
voz, indicando posturas, como sarcasmo ou seriedade, a maioria deles lerá as expressões
faciais, os gestos e movimentos corporais para entender o que o policial militar deseja
comunicar.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 106 - )

b) Pessoa com deficiência visual

 ao guiar uma pessoa cega, o policial militar deixará que ela segure em seu braço, devendo
orientá-la quanto à presença de obstáculos no trajeto, como degraus, escadas, calçadas e
bueiros, dentre outros;

 estando o policial militar na presença de uma pessoa com deficiência visual, em ambientes
fechados ou não, na iminência de se retirar, deverá informá-lo. Esta é uma atitude cortês que
evitará a sensação desagradável de se falar para o vazio e demonstrará respeito pela
condição humana do interlocutor;
 o policial militar não deve se constranger ao usar palavras como cego, olhar ou veja bem,
pois tratam-se de vocábulos coloquiais que fazem parte, inclusive, da linguagem habitual dos
deficientes visuais; as indicações de direção devem ser claras e específicas, abrangendo
inclusive os obstáculos. Como algumas pessoas cegas não têm memória visual, deve-se,
ainda, indicar as distâncias em metros, com expressões do tipo “a uns vinte metros para
frente, para a direita, esquerda”.

c) Pessoa com deficiência física

Por questões humanitárias e profissionais, o policial militar não deve subestimar a capacidade
dessas pessoas, principalmente quanto à manifestação intelectiva que mantém nos processos
decisórios da vida em sociedade.

Motivado pela necessidade de atuação, o policial militar conciliará em sua abordagem os


elementos da técnica policial, regida pela segurança, pelo respeito e pela solidariedade.

Recomendações quanto a abordagem e busca a pessoa com mobilidade reduzida17

 ao conversar com um cadeirante (pessoa com mobilidade reduzida que utiliza cadeira de
rodas), em virtude da divergência de altura entre os interlocutores e do desconforto que causa
no cidadão olhar por tempo prolongado para cima, o policial militar, quando possível, se
postará de maneira mais equânime, de forma a tornar mais confortável e diligente a conversa,
usando, inclusive, recursos como distanciar-se ou abaixar-se;

17Pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentação,
permanente ou temporária, gerando redução efetiva da mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da
percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com criança de colo e obeso (BRASIL, 2015).

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 107 - )

 caso ofereça ajuda ao cadeirante, o policial militar não deverá insistir na assistência. Se a
pessoa aceitá-la, ele próprio informará o que deseja que seja feito a seu favor;

 o cadeirante deverá ser conduzido em “marcha a ré”, quando auxiliado a descer rampas
ou a subir degraus. A conduta facilitará o transporte e poderá evitar que seu corpo seja
projetado para frente e venha a cair;

 o policial militar somente deverá tocar na cadeira de rodas, quando seu objetivo for os
procedimento da busca ou da assistência. Na busca pessoal, a vistoria deverá abranger, além
do corpo, os pertences e a cadeira de rodas;

 diante de fundada suspeita, se necessário, o abordado poderá ser retirado da cadeira,


podendo ser colocado assentado no banco da viatura. A revista da cadeira de rodas
compreenderá toda a sua estrutura, incluindo forros e o interior de sua estrutura metálica.
Somente após a vistoria na cadeira, o cadeirante, já abordado, será nela recolocado;

 se o abordado utilizar muletas ou bengala, o policial militar seguirá os mesmos


procedimentos previstos para a abordagem em pessoa sem deficiência, adaptando as
técnicas de acordo com a limitação motora e tomando cuidado com possíveis golpes que ele
poderá efetuar, com a própria muleta/bengala. Há possibilidade de se ocultar objetos (drogas,
instrumentos perfuro-cortantes, armas de fogo), no interior das muletas/bengalas. Assim, é
importante que o policial militar não permita que as muletas/bengalas sejam apontadas na
direção das pessoas envolvidas na abordagem ou próximas à intervenção.

d) Pessoa com doença mental, deficiência mental e/ou intelectual

A deficiência mental caracteriza-se por um funcionamento intelectual significativamente


abaixo da média, com limitações associadas a duas ou mais áreas da conduta humana, como
comunicação, cuidados pessoais, habilidades sociais, independência na locomoção, dentre
outras. Exemplo: Síndrome de Down, oligofrenia, autismo, psicose, etc.

Existem deficiências mentais que provocam sinais de agitação no indivíduo: não consegue se
comunicar, não tem noção de perigo e pode se comportar de maneira agressiva. Por isso, é
necessária uma avaliação de risco cautelosa.

106
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 108 - )

Recomendações:

 a condução deverá ser feita com muita cautela e preparo. Antecipadamente, o policial
militar se certificará da disposição dos recursos humanos e materiais necessários à contenção
do deficiente, precavendo-se de situações em que ele possa se machucar ou provocar
acidentes, agravando, inclusive, a ocorrência;

 sempre que possível, a guarnição solicitará a presença de equipe técnica da área médica,
como enfermeiros ou médicos do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU), que
possuem melhor treinamento e condições técnicas para lidarem com pessoas nessa situação;

 mesmo com a utilização de força física, proporcional ao agravo, pode ser que a pessoa
não recue ou não sinta dores, devido ao seu estado clínico, tornando-se ainda mais agressivo.
Se o abordado estiver agitado ou nervoso, o policial militar, sempre que possível, aguardará
que ele se acalme, antes de iniciar a intervenção;

 ao fazer a condução a pé, o policial militar redobrará os cuidados com a travessia de locais
que ofereçam risco à pessoa, como escadas, rampas, pontes e ruas, para evitar que o
indivíduo se lance aos obstáculos ou à frente de veículos em movimento.

e) Pessoa com paralisia cerebral

A pessoa com paralisia cerebral anda com dificuldade ou não anda, podendo também
apresentar problemas de fala. Seus movimentos podem ser descontrolados. Pode,
involuntariamente, apresentar gestos faciais incomuns (contrações do rosto).

Recomendações:

 em caso extremo se o policial militar tiver que realizar uma busca em uma pessoa com
paralisia cerebral, no caso de suspeita dela ter sido usada para ocultar algum objeto ilícito,
esse deverá agir no ritmo da pessoa abordada, demonstrar tranquilidade e evitar ações
bruscas, e seguir as orientações à pessoa responsável pelo abordado;

 caso não compreenda o que a pessoa diz, o policial militar pedirá para repetir, sem
constrangimentos.

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 109 - )

5.2.5 Atuação policial na abordagem à pessoa idosa

O Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741/03, define como pessoa idosa, aquela com idade igual ou
superior a 60 (sessenta) anos. Nele se encontram estabelecidos, com prioridade absoluta, as
medidas protetivas ao idoso. A norma prevê novos direitos e estabelece vários mecanismos
específicos de proteção, que vão desde a melhoria das condições de vida até a inviolabilidade
física, psíquica e moral dos idosos.

Nesse enfoque, o Estatuto do Idoso também estabelece como obrigação da família, da


sociedade e do Poder Público, a efetivação de direitos fundamentais da pessoa idosa, como
o direito à saúde, ao lazer, à cidadania, à vivência com dignidade, incluída aí, principalmente,
a convivência familiar.

Recomendações:

 nas intervenções em razão de suspeita de prática de delito, o policial militar observará a


idade e as condições de saúde do idoso, e os demais procedimentos técnicos, previstos neste
Manual;

 sempre que possível, deve-se promover o acompanhamento do idoso por algum membro
familiar ou pessoa indicada por ele;

 quando houver necessidade da busca pessoal, o policial militar a executará de modo a


evitar constrangimentos desnecessários;

 prestar informações necessárias ao idoso, a respeito de sua condução (local,


providências).

5.2.6 Atuação policial na abordagem a população em situação de rua

Por intermédio do Decreto Federal nº 7.053/09, a população em situação de rua foi


oficialmente reconhecida para fins de implementação de políticas públicas que lhe garanta,
sobretudo, a sobrevivência e o desenvolvimento.

As diretrizes da Política Nacional para a População em Situação de Rua (PNPR) dizem


respeito à promoção de direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, bem como o

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 110 - )

direito dos cidadãos, nessa condição, a terem atendimento humanizado e universalizado, em


face da não referência de moradia.

A população de rua é bastante heterogênea: misturam-se famílias, homens, mulheres,


crianças e adolescentes, formando diferentes combinações sociais. O que todos têm em
comum é a luta pela sobrevivência, a carência ou a precariedade de habitação, além de laços
familiares fragilizados ou interrompidos.

As ruas e avenidas são os lugares utilizados por este público como dormitório, bem como para
realizar as tarefas afetas ao interior de uma residência. A pessoa que utiliza o espaço público
para pernoite costuma sofrer violência também de seus pares, em virtude de disputas de
territorialidade, de estigma de grupo ou conflitos individuais, de envolvimento com as drogas,
dentre outros fatores, dada a dimensão do contexto de rua. Dormir em grupo, portanto,
representa determinado nível de segurança; uma proteção coletiva em relação às enormes
adversidades que enfrenta pela sua inclusão.

Estar em situação de rua não implica necessariamente estar envolvido com práticas ilegais.
O policial militar deve respeitar essas pessoas, principalmente em razão do isolamento social,
do descrédito e do sentimento de abandono que adquirem por viverem nas ruas,
desenvolvendo normalmente o seu trabalho.

Recomendações:

 agir com equilíbrio e bom senso, sobretudo nos momentos em que as demandas
decorrentes da aplicação da lei exigirem condutas mais firmes. O policial militar deverá ter a
consciência de que uma pessoa que vive em condições sociais extremamente precárias
apresenta debilidades (deficiência linguística, invisibilidade social, falta de higiene corporal),
que inclusive podem funcionar como barreiras para que recebam tratamento adequado;

 deverá atender e orientar as pessoas desse grupo a buscarem auxílio, junto aos órgãos
competentes de assistência social;

 lembrar que, de acordo com a Constituição Federal, ninguém será obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. As pessoas em situação de rua não
podem ser obrigadas a praticar atos que não sejam exigidos por lei e são livres para estarem
em qualquer local, sem que as suas presenças signifiquem desrespeito à lei;

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 111 - )

 nos atendimentos, o policial militar não permitirá o tratamento desumano ou degradante a


esses cidadãos, por quem quer que seja;

 ter o cuidado no trato com os objetos pessoais e com os abrigos improvisados do cidadão
abordado, quando a revista for necessária.

5.3 Atuação policial frente às minorias

As minorias são grupos de cidadãos, sem posição dominante, dotados de características


étnicas, religiosas ou linguísticas, que os diferem da maioria da população.

Neste grupo, observa-se comumente o surgimento de “um senso de solidariedade um para


com o outro, motivado, senão apenas implicitamente, por vontade coletiva de sobreviver, e de
conquistar a igualdade com a maioria, nos fatos e na lei” (DESCHENES apud MAIA, 2001).

Essas pessoas têm o direito de desfrutar de sua própria cultura, de professar e praticar sua
religião, de fazer uso de seu idioma em ambientes privados ou públicos, livremente e sem
interferência de quaisquer formas de discriminação.

A discriminação é uma conduta (ação ou omissão) que objetiva separar ou isolar as minorias
do seio de uma sociedade.
Pelo fato do racismo e da segregação social ainda existirem na sociedade, foram necessárias
diretrizes legais que disciplinassem a matéria.

A Lei nº 9.459/97, que alterou a Lei Federal nº 7.716/89, define os crimes resultantes de
preconceito e tipifica o crime de racismo, adotando três verbos principais: obstar, recusar e
impedir, no sentido de que ninguém seja privado de seus direitos em decorrência da cor, da
religião, da etnia, da língua ou da procedência nacional.

Prevendo uma natural aproximação entre a injúria preconceituosa e o racismo, o policial


militar deve ter extremo cuidado para que não se equivoque quanto ao enquadramento legal
do crime. Na injúria preconceituosa, o agente pratica o crime quando atribui qualidades
negativas a alguém, promovendo xingamentos e ações dessa natureza, com base nos
elementos de raça, cor, etnia, religião, idade, ou condição física do ofendido. O racismo, por
sua vez, atende diretamente a vontade do ofensor em segregar socialmente o ofendido,

110
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 112 - )

obstando-lhe os direitos. É um crime imprescritível, inafiançável, cuja ação pública é


incondicionada, e que atinge diretamente a dignidade da pessoa humana.

O policial militar deverá estar certo do alcance e do poder de ofensividade de ambos os


crimes, cujas condutas, indubitavelmente negativas e reprováveis, atingem, com frequência,
as minorias.

No que se refere a outras comunidades tradicionais como ciganos e povos indígenas,


reconhecido seu organismo social (língua, costumes, religião, crenças e tradições), deve-se
considerar que também eles gozam de direitos fundamentais e, em igual importância,
históricos, a contar a ocupação dos espaços territoriais que tradicionalmente os tornou
legítimos donos; bens hoje reconhecidos, demarcados e protegidos pela União.

Em ocorrências que envolvam pessoas ou grupos que se caracterizam por identidade étnica,
religiosos ou linguísticos, resguardados os aspectos de fundada suspeita e os respectivos
fundamentos da abordagem, sempre que possível o policial militar deverá:

 agir com profissionalismo e bom senso, ao lidar com situações em que uma pessoa se
sinta discriminada, demonstrando respeito por suas características;

 considerar que a etnia da pessoa (negra, cigana, indígena) não determina a suspeição. A
condição étnica das pessoas não se confunde com índole criminosa e não poderá determinar
pré-julgamentos.

a) Religiões de matriz africana

A CF/88 informa: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o


livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
e a suas liturgias”. Estão inclusas as religiões de matriz africana, como o Candomblé,
Umbanda ou outras de manifestação afro-católica, como o Congado. Elas são assim
designadas devido a sua origem, trazidas para o Brasil pelos negros vindos do continente
africano, desde o início da colonização portuguesa.

Estas religiões têm sofrido através dos séculos intolerâncias e discriminações de todo gênero.
Por serem de matriz africana, se tornam referências para a cultura do racismo. O Brasil,
constitucionalmente, é um país laico (não tem religião oficial), por isto, todos têm direto a

111
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 113 - )

praticar seus cultos religiosos, manifestações ideológicas, políticas e culturais, sem


intervenções de caráter repressivo, discriminatório ou jocoso.

A liberdade de crença religiosa é um direito e o Estado tem por obrigação garanti-lo e punir
suas violações. Não há espaço, em um país democrático, para prática de violência e
discriminações por motivação religiosa.

O senso popular ainda associa símbolos, práticas e ritos sagrados de algumas religiões a
coisas demoníacas, como possessões de “espíritos malignos” e causas determinantes de
tragédias pessoais. Neste contexto, as instituições de segurança pública devem estar
preparadas para lidar com estes diversos conflitos, principalmente os originados da ação
discriminatória e preconceituosa de outros grupos radicais.

Recomendações:

 a intervenção policial, durante uma reunião pública, deve ser feita com cautela, para não
haver constrangimento aos presentes e também para que o policial militar não incorra no delito
de perturbação de culto religioso;

 o policial militar deverá verificar antes o que está realmente acontecendo, se inteirando dos
fatos perante todos na região, sem proferir juízo de valor. Se for apurado perante a própria
população local que não está ocorrendo delito, a operação deve ser encerrada para evitar
constrangimentos, comunicando-se o fato, discretamente, ao denunciante, se identificado;

 em caso de denúncia, a intervenção policial, dentro do terreiro18, deverá ocorrer de maneira


tranquila, serena e profissional. O dirigente do terreiro deverá, se possível e no momento
adequado, ser cientificado dos fatos. O contato com o dirigente deverá ser em local reservado,
longe das demais pessoas;

 algumas denúncias são relacionadas a barulho, com incômodos aos vizinhos. Também há
denúncias de supostos sacrifícios de animais no terreiro, ou ainda que há agressões físicas
entre os participantes. O policial militar deverá intervir caso a denúncia de sacrifício/maus
tratos seja verdadeiro ou não, verificando se há motivos preconceituosos na denúncia e
tomando as medidas legais que o caso requeira.

18 Terreiro: local onde se realizam sessões de candomblé, umbanda e outros rituais afro-brasileiros.

112
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 114 - )

5.4 Atuação policial na abordagem a pessoas em surto de drogas

O funcionamento do organismo humano pode ser alterado em razão da interação com


substâncias capazes de provocar alterações fisiológicas ou comportamentais. Essas
modificações variam de acordo com cada pessoa, com o tipo de droga, o ambiente de
consumo, a via de administração e a dose da substância ingerida, com a expectativa almejada
pelo usuário, dentre outros fatores.

Graus de intoxicação elevados, via de regra, possibilitam perturbações do nível de


consciência, da capacidade cognitiva, da percepção, do juízo crítico, do afeto, do
comportamento ou de outras funções e reações psicofisiológicas, elementos essenciais a
serem considerados quando da abordagem policial ao consumidor de drogas, pois interferem
na avaliação de risco e uso diferenciado da força. Nesse sentido, evidências científicas
indicam que a ingestão de drogas perturbadoras, depressoras ou estimulantes, como o álcool
e os derivados da cocaína, podem desencadear atos ilícitos.

Recomendações:

 compreender que o consumo de drogas pode provocar alterações na percepção do mundo:


o tempo e o espaço passam a ter uma dimensão diferente, estímulos visuais e auditivos são
criados (alucinações) ou se apresentam de maneira distinta;

 colher o máximo de informações referentes ao histórico pessoal do consumidor de drogas,


caso possível, com os familiares e/ou conhecidos, no que se refere aos surtos do abordado;

 avaliar o grau de consciência e o potencial de agressividade. Ao identificar a pessoa a ser


abordada, ela pode se apresentar com a fala, os pensamentos, emoções e percepções
confusas. Demonstram desorientação e desvinculação com o mundo externo, como se
estivessem psiquicamente ausentes. O estado emocional pode, ainda, mudar bruscamente;

 observar a fala do abordado. O primeiro indicativo de interação com substâncias


psicoativas e de que pode haver uma reação inesperada, se relaciona à fala da pessoa. Há
necessidade de que as perguntas sejam repetidas várias vezes pelo policial militar, em razão
da dispersão da atenção do abordado. Pode ser muito difícil engajar o usuário numa
conversação normal;

113
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 115 - )

 tenha em mente que a instabilidade emocional pode ser frequente, com apresentação de
choro e risos imotivados. Além disso, pode se apresentar alheio à realidade e com pouca, ou
nenhuma sensibilidade, mostrando-se como uma pessoa fria. Por vezes, o abordado terá um
olhar perdido, sem fixação em pontos, ou a demonstração de que está assustado ou
desconfiado;

 alertar para o fato de que a maioria das paranoias decorrentes do consumo de drogas
acarreta a necessidade do uso da força;

 compreender que as técnicas de imobilização policial, na maioria das vezes, não


funcionam, devido ao seu rebaixamento da crítica e do efeito anestésico da droga, momento
em que não esboça reação de dor e não atende às ordens emanadas, podendo precipitar
uma reação agressiva, quando da tentativa de controle físico.

114
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 116 - )

6 ABORDAGEM A VÍTIMAS

As ciências que estudam o ato delituoso (como a criminologia e o direito penal) inicialmente
não percebiam a importância da vítima como objeto de estudo. A ênfase maior de tais
disciplinas era dada à pena e ao delinquente. Na atualidade, as vítimas já conquistaram a
atenção destas ciências, e o seu comportamento e atitudes são temas constantes de
pesquisa.

Seguindo essa lógica, as vítimas também não podem ser desconsideradas pelos organismos
policiais. É necessária a conscientização dos profissionais de segurança pública que o
tratamento inadequado pode gerar a violação e o desrespeito aos Direitos Humanos, o que
resultaria em uma nova violência.

A Declaração das Nações Unidas sobre os Princípios Fundamentais de Justiça Relativos às


Vítimas da Criminalidade e do Abuso do Poder é o instrumento internacional que oferece
orientação sobre a proteção e a reparação a essas pessoas.

Para este documento, vítimas são todas as pessoas que, individual ou coletivamente, tenham
sofrido prejuízo ou atentado à sua integridade física ou mental, sofrimento de ordem material,
ou grave atentado aos seus direitos fundamentais, como resultado de ações ou omissões
violadoras da legislação instituída pelo Estado.

Devido à prioridade que é dada à captura do autor do delito, muitas vezes, a atenção à vítima
é colocada em segundo plano pelo policial, deixando-a sem apoio, informações ou
esclarecimentos.

As vítimas, ao requererem a presença policial, criam uma expectativa de conforto, de


reabilitação do equilíbrio emocional e de solução do problema e, por isso mesmo esperam
uma atuação positiva por parte da Polícia.

É neste sentido que o policial militar deve, primeiramente, conscientizar- se da importância de


seu papel como mediador do conflito e se preparar profissionalmente para dar um
atendimento diferenciado à vítima e ao autor do delito.

Medidas como informar sobre serviços sociais de atendimento à vítima, existentes no


município (serviços de atendimento psicossocial, jurídico, grupos de ajuda e de orientação,
abrigos, entre outros), complementam o atendimento policial.

115
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 117 - )

A orientação e o encaminhamento da vítima e de seus familiares para esses serviços podem


ajudar a diminuir o seu sofrimento e a prevenir novos episódios.

A Lei Estadual nº 13.188/99, dispõe sobre a proteção, o auxílio e a assistência às vítimas de


violência no Estado, elencando, ainda, outras providências sobre a matéria.

O seu art. 1º determina que o Estado ofereça proteção, auxílio e assistência às vítimas de
violência, por meio dos órgãos ou das instituições competentes.

Já o art. 3º, informa que a proteção, o auxílio e a assistência previstos no art. 1º da Lei
consistem em:
I - colaborar para a adoção de medidas imediatas que visem a reparar os danos físicos
e materiais sofridos pela vítima;
II - acompanhar as diligências policiais ou judiciais, especialmente quando se tratar
de crime violento;
III - elaborar e executar plano de auxílio e de manutenção econômica para as vítimas,
testemunhas e seus familiares que estiverem sofrendo ameaças e necessitam de
transferência temporária de residência;
IV - pagar as despesas de sepultamento da vítima de que trata o inciso I do art. 2º, se
do ato de violência resultar a morte;
V - proporcionar alimentação para lesionados com dificuldades econômicas e seus
dependentes, enquanto durar o tratamento;
VI - criar programas especiais organizados nos termos da Lei Federal n° 9.807, de 13
de julho de 1999.
(Inciso com redação dada pelo art. 2° da Lei n° 15.475, de 12/4/2005.)
VII - (Vetado);
(Inciso acrescentado pelo art. 1º da Lei nº 16.835, de 25/7/2007.)
VIII - oferecer assistência social e psicológica à vítima de violência.
(Inciso acrescentado pelo art. 1º da Lei nº 16.835, de 25/7/2007.)

§ 1º Em se tratando de vítima de crime tipificado nos arts. 130 e 213 a 220 do Decreto-
Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, que contém o Código Penal, os exames
médicos periciais que se fizerem necessários serão realizados em hospital público ou
hospital particular conveniado com o poder público, onde a vítima terá direito a
assistência médica e psicológica (MINAS GERAIS, 1999).

Um atendimento adequado e atencioso poderá minimizar os efeitos violentos decorrentes do


crime e facilitará, significativamente, a administração da ocorrência.

Nos itens a seguir, sugere-se orientações e verbalizações para balizar esse atendimento.

6.1 Procedimentos com vítimas em locais de ocorrência

No ambiente de intervenção, o policial militar deve tranquilizar a vítima e demonstrar


preocupação com sua situação física e psicológica. Sugerem-se os seguintes diálogos de
verbalização:

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( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 118 - )

“ — Você (o senhor) tem lesões aparentes? Necessita de atendimento


médico? Você (o senhor) gostaria de falar sobre o ocorrido? Não se
preocupe, pois outros policiais de nossa equipe já estão procurando o
agente do crime para prendê-lo.”

Na audição da vítima, que se encontra sob forte impacto psicológico, decorrente de fato
violento, o policial militar deve permitir que ela fale livremente sobre o evento que ensejou a
intervenção policial evitando-se, quando possível, tratar de detalhes que possam aumentar o
constrangimento. Deve ouvir de maneira cuidadosa e respeitar os limites da vítima, inclusive
a dificuldade em relatar os fatos e sentimentos.

Deve-se resguardar a vítima dos populares, da imprensa, como forma de preservá-la diante
do acontecido.

Sempre que possível, a medida de localização e prisão dos infratores deverá ser tomada por
outra equipe de serviço, utilizando-se de informações obtidas pela vítima, por solicitantes,
testemunhas ou denunciantes.

ATENÇÃO! Policiais militares femininas podem ter mais


acessibilidade às vítimas mulheres ou crianças, o que as
tranquilizará de forma mais imediata e facilitará a aproximação e o
atendimento policial.

Habitualmente, as vítimas manifestam medo, insegurança, desconfiança, dor, vergonha,


incerteza ou culpa, além de apresentar possíveis lesões físicas. Diante desse quadro, ela será
acolhida e orientada de maneira especial.

ATENÇÃO! Nos casos em que houver necessidade de socorro


médico às vítimas, este deve ser priorizado em relação a qualquer
outro procedimento policial.

Durante a identificação de possíveis autores do delito, o policial atentará para que a vítima
não seja exposta, evitando que autor e vítima tenham contato, devendo o reconhecimento ser
feito de maneira reservada e em momento oportuno.

117
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 119 - )

Lembre-se que as testemunhas também poderão se tornar vítimas e se sentirem ameaçadas


pelo(s) agressor(es). Portanto, deve-se adotar as mesmas providências que foram propostas
para o caso de identificação do autor por parte da vítima.

ATENÇÃO! O registro da ocorrência (BO/REDS) ou da notícia


crime deverá ser feito preferencialmente em local seguro e privado,
principalmente quando se referir a crimes sexuais, ocasião em que
a vítima estará fragilizada e exposta psicologicamente.

A atenção à vítima somente se encerrará no momento em que todos os procedimentos


policiais estiverem completos. A guarnição, diante de circunstâncias tais como a vítima não
possuir meios para voltar para o domicílio, estar despida, se encontrar em horário e local de
risco ou temer nova agressão, poderá conduzi-la ou acompanhá-la para sua residência ou
para local estabelecido por ela, mediante contato com a Coordenação Operacional da fração
e autorização do Comandante do turno de serviço.

Dependendo da situação avaliada pela equipe, os policiais militares precisarão ser incisivos,
para fornecer segurança à vítima.

“— Para termos certeza de que você (o senhor) estará seguro, vamos


acompanhá-lo até a sua casa.” ou,

“— Você (o senhor) será levado para casa em nossa viatura, para


termos a certeza de que estará seguro.”

Após a chegada na residência da vítima ou outro local indicado por ela, o policial militar deverá
certificar-se de que tudo esteja bem, porém evitará entrar. Na hipótese da vítima solicitar a
presença policial no interior da casa para, por meio de uma vistoria, verificar se há algo
suspeito, o procedimento será realizado na presença da própria vítima e, preferencialmente,
de testemunhas, para a defesa posterior de possíveis reclamações.

É importante que o policial militar entenda que esta vítima está emocionalmente fragilizada.
Logo, ele deve manter uma postura profissional e acolhedora, mas evitar o excesso de
intimidade e proximidade com esta pessoa.

118
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 120 - )

Antes de se retirar do local, o policial militar tranquilizará a vítima, informando que terá todo o
apoio necessário e, se for preciso, poderá acionar uma equipe policial por meio do 190.

Os casos de violência doméstica devem ser tratados de forma diferenciada. Violência


doméstica e familiar contra a mulher19 é qualquer ação ou omissão baseada no gênero que
lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.
A vítima deverá ser orientada quanto aos seus direitos, medidas protetivas e de possíveis
locais ou órgãos de apoio e, se possível, que procure abrigo em casa de parentes ou amigos.

A orientação quanto aos direitos legais proporciona o acesso à justiça à vítima do e à sua
família, bem como a responsabilização do agente infrator. É recomendado que o policial militar
conheça as instituições para o encaminhamento e atendimento inicial das vítimas (hospitais
de pronto atendimento, hospitais de referência para violência sexual, Delegacias
Especializadas, Defensoria Pública, dentre outros).

Vários são os órgãos que podem cooperar com o trabalho da Polícia Militar: conselhos
tutelares, programas de atendimento às mulheres vítimas de violência, conselhos de direitos
humanos, conselhos dos portadores de deficiência física, de idosos, negros, dentre outros.
São espaços de cidadania habilitados a oferecer serviços que asseguram o exercício dos
direitos das vítimas e dos familiares de vítimas de crimes, e que são eficazes na prevenção e
no combate à violência e à impunidade, bem como na promoção da cidadania.

Em geral, essas instituições se ocupam de atividades, como:

a) prestação de atendimento interdisciplinar (psicológico, jurídico e social) à vítimas de crimes


violentos graves e aos familiares;

b) identificação dos perfis da violência criminal urbana e das formas de prevenção;

c) identificação e redução dos efeitos traumáticos provenientes da violência sofrida pelas


vítimas e por suas famílias;

d) atuação como auxilio na ruptura de ciclos e códigos de violência;

e) apoio à inserção da vítima no processo penal, garantindo-lhe acesso à Justiça;

19 Conforme disposto no art. 5º da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06).

119
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 121 - )

f) apoio e orientação, quanto a direitos e deveres, àqueles que podem contribuir como
testemunhas para a realização da justiça;

g) atuação no combate e/ou minimização dos efeitos da vitimização, por meio de capacitação
dos agentes do Estado e demais profissionais.

O Núcleo de Atendimento as Vítimas de Crimes Violentos (NAVCV), por meio de um programa


federal e estadual, presta apoio jurídico, psicológico e social gratuito aos familiares e às
vítimas de homicídio, de latrocínio e crimes sexuais.

No caso de atendimento de familiares de vítimas fatais, o policial militar poderá aplicar os


mesmos procedimentos definidos para atendimento às vítimas, naquilo que couber. Estas
pessoas são indiretamente afetadas pelo cometimento do crime, que envolve normalmente
alto grau de comoção.

120
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 122 - )

7 LOCAL DE CRIME

É o espaço onde tenha ocorrido um ato que, presumidamente, configure uma infração penal
e que exija as providências legais por parte da polícia. Compreende, além do ponto onde foi
constatado o fato, todos os lugares em que, aparentemente, os atos materiais, preliminares
ou posteriores à consumação do delito, tenham sido praticados.

O local de crime é fundamental para a investigação criminal. Ele fornece elementos relevantes
para concretizar a materialidade do delito e chegar à autoria.

7.1 Classificação do local de crime e conceitos correlatos

A Criminalística20 apresenta uma classificação própria do local de crime. Para a atividade


policial-militar destacam-se as seguintes:

7.1.1 Consoante à natureza:

Pode ser de homicídio, infanticídio, suicídio, atropelamento, incêndio, afogamento, furto,


roubo, arrombamento, dentre outros.

7.1.2 Consoante ao lugar do fato:

a) local interno: área compreendida por ambiente fechado, que preserva os vestígios da ação
dos fenômenos da natureza. Ex.: Interior de residências, interior de veículos, galpões, dentre
outros;

b) local externo: área não restrita, e que não preserva os vestígios da ação dos fenômenos
da natureza. Trata-se de áreas abertas, como ruas, rodovias, praças, estradas, matagal, beira
de rios, dentre outros;

c) local imediato: é a área exata onde ocorreu o fato ou o crime;

d) local mediato: são as adjacências; os pontos e áreas de acesso ao local do crime. Ex.:
corredores, ambientes ao redor de cômodos, jardins, estradas, trilhas, dentre outros;

20 A Criminalística é uma disciplina autônoma, integrada pelos diferentes ramos de conhecimento técnico-
científico, auxiliar e informativa das atividades policiais e judiciária da investigação criminal. Seu objetivo é estudar
os vestígios encontrados nos locais de crime, para a elucidação dos fatos (RABELO, 1996).

121
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 123 - )

e) locais relacionados: são as áreas que podem apresentar conexão com o fato criminoso e,
por isso, oferecer pontos comuns de contato (vestígios) a serem observados.

7.1.3 Consoante ao exame

a) local idôneo: é aquele que não foi violado, que não sofreu nenhuma alteração desde a
ocorrência do fato.

O art. 169 do CPP discorre sobre as providências policiais a serem tomadas, imediatamente,
no local de crime. De sua interpretação, vale lembrar que o primeiro policial que chegar ao
local terá a responsabilidade inadiável de preservá-lo, devendo recorrer, inclusive, a todos os
meios necessários para que o estado das coisas não seja alterado até que a perícia técnica
assuma seu trabalho na ocorrência.

“Art. 169 – Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a
autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas
até a chegada dos Peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias,
desenhos ou esquemas elucidativos.

Parágrafo Único: Os Peritos registrarão no Laudo, as alterações do estado das coisas


e discutirão no relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos.”

b) local inidôneo: é aquele que foi violado, que sofreu alguma alteração após a ocorrência dos
fatos delituosos.

7.2 Prova

Tudo que demonstra a veracidade de uma proposição ou a realidade de um fato. Na


criminalística, existem as provas objetivas e as subjetivas.

a) Prova objetiva: tem por base os vestígios encontrados nos locais de crime, que são
interpretados pelos Peritos, por meio dos exames. Exemplo: laudo pericial.

b) Prova subjetiva: tem por base as informações colhidas da vítima, das testemunhas ou de
qualquer pessoa relacionada com o fato. Exemplo: boletim de ocorrência (BO/REDS),
expedido pela Polícia Militar.

122
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 124 - )

ATENÇÃO! Provas e/ou elementos informativos obtidos por meios


ilegítimos ou ilícitos podem prejudicar todo o conjunto probatório
necessário à persecução penal, invalidando-o. Por isso, reforça-se a
necessidade de observância dos parâmetros legais na atividade policial.

O Boletim de Ocorrência (BO/REDS) é um documento que necessariamente será lavrado nas


intervenções policiais, descrevendo os fatos ocorridos no local do delito e materializando a
presença policial. O boletim de ocorrência formaliza a comunicação ao poder público de que
determinada situação requer providências, quer seja pela superveniência de ações criminosas
ou de outros fatos que ofereçam riscos à sociedade.

Por esse registro, a equipe de Polícia Judiciária extrairá as primeiras informações do fato
criminoso, formando as primeiras imagens e abstraindo as primeiras ideias que subsidiarão
uma linha de ação. É de suma importância que os primeiros policiais militares que chegarem
ao local do crime descrevam o cenário (vítima, instrumentos, vestígios, testemunhas), da
forma mais autêntica e detalhada possível, para que esses elementos não se percam com
tempo.

O exame de corpo de delito é outro instrumento de coleta de provas, imprescindível para a


elucidação dos fatos. O Código de Processo Penal (CPP) determina em seus arts. 158 e 167
que:
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de
corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do
acusado.
(...)
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta
(BRASIL, 1941).

ATENÇÃO! De acordo com o art. 167 do CPP, se no local do crime não forem
encontrados vestígios, a descrição dos fatos pelas testemunhas arroladas no
Boletim de Ocorrência poderá ser a única prova do ato delituoso.

É importante distinguir os seguintes elementos:

a) vestígio: é todo objeto ou material bruto, suspeito ou não, encontrado no local de crime e
que deve protegido e resguardado para exames posteriores;

123
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 125 - )

b) evidência: é o vestígio que, após analisado pela perícia técnica e científica, possui relação
com o crime;

c) indício: é todo vestígio cuja relação com a vítima ou com o suspeito, com a testemunha
ou com o fato, foi estabelecida. É o vestígio classificado e interpretado, que passa a significar
uma prova judiciária.

São exemplos de vestígios considerados importantes para a elucidação do crime: manchas


diversas (sangue, saliva, sêmen, vômito), substâncias orgânicas, cabelos, impressões
digitais, marcas de calçados ou pés, documentos (manuscritos, datilografados, desenhados),
resíduo de explosivo, explosivos, armas, munições, fibras, tecidos, objetos de vidro, líquidos,
metais, marcas de tintas, plásticos, gesso, escombros, concreto, argamassa, cordas, linhas,
cordões, pneus e suas marcas, ferramentas e suas marcas, material tóxico, veículos, fios,
cabos, madeira, dentre outros.

Antes de adotar os procedimentos no local de crime o policial militar deverá diferenciar


isolamento de proteção:

a) isolamento: é a delimitação da área física, interna e externa do local de crime, por meio
de recursos visíveis, tais como cordas, fitas zebradas e outros, cuja finalidade é proibir a
entrada de pessoas não credenciadas no local de crime;

b) proteção: consiste em impedir que se altere o estado das coisas, visando à inalterabilidade
das provas.

7.3 Procedimentos no local de crime

A conscientização dos policiais militares e da sociedade é fundamental para a conservação


do local de crime. Qualquer alteração nesse ambiente prejudicará os trabalhos periciais, a
investigação policial e, consequentemente, a elucidação do fato.

O policial militar, ao chegar, deve dar atenção a tudo que estiver presente no local de crime,
sem fazer qualquer juízo de valor. A preservação deverá ser realizada por meio do isolamento
e proteção de forma efetiva para que as pessoas não tenham acesso a ele, evitando-se que
vestígios sejam modificados ou destruídos, antes de seu reconhecimento. Em princípio, tudo
que estiver no local é importante.

124
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 126 - )

A preocupação inicial da guarnição será com o socorro à vítima e com a segurança dos
envolvidos. Também deve se atentar ao fato de que o autor do delito poderá permanecer nas
imediações. Além disso, em decorrência do crime, o local poderá ser alvo de manifestações
e da comoção social.

O policial militar, que normalmente é o primeiro a chegar, deverá providenciar para que não
se altere o estado e conservação das coisas21, isolando o local, até a chegada dos peritos
criminais.

O local a ser isolado deverá abranger todos os vestígios visualizados numa primeira
observação, além de áreas adjacentes que possam ter relação com o crime.

Exemplo: em um local de homicídio, com uma vítima caída no chão de um dormitório, não
basta isolar apenas o quarto. O local do crime deve ser considerado como a casa inteira
(garagem, passeio e outros) e a rua em frente, já que não se sabe onde poderão ser
encontrados vestígios relacionados ao delito. Vale lembrar que esses locais não se restringem
às ocorrências com homicídios provocados por armas brancas ou de fogo, tentados ou
consumados.

Como forma de ilustrar procedimentos policiais nos locais de crime, este Manual exemplificará
cenas de uma ocorrência de homicídio em via pública.

Ao chegar ao local de crime, o policial deverá:

a) saber que o público normalmente desconhece a importância da preservação dos vestígios


no local de crime, e poderá tê-lo alterado;

b) adentrar em linha reta, ou pelo menor trajeto possível, enquanto os demais policiais
militares cuidarão da segurança. Somente quando se tratar de área de risco, poderá e será
necessária a entrada de mais de um ao mesmo tempo;

c) verificar os sinais vitais da vítima;

d) priorizar o socorro da vítima;

21 Conforme disposto no art. 6º do Código de Processo Penal.

125
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 127 - )

e) em caso de óbito, evitar mexer na vítima (tocar, remover, mudar sua posição original,
revirar bolsos, tentar identificá-la). A identificação é responsabilidade da perícia criminal, salvo
se houver a efetiva necessidade da guarnição de preservar materialmente a vítima ou seus
documentos em caso de mudança de tempo (chuva, enchente), com possibilidade de lavagem
de manchas e arrasto do corpo, ocorrência de incêndio, ou outras ações que possam fugir do
controle dos policiais;

f) realizar constantemente a observação e o controle visual, para verificar se há segurança


na atuação policial;

g) quando necessário, retornar lentamente, pelo mesmo trajeto feito na entrada, observando
outros detalhes dentro daquela área;

h) prender o criminoso. Caso não seja possível, coletar informações sobre o autor e divulgá-
las para os demais policiais militares de serviço;

i) observar todas as imediações para definir os limites de isolamento, podendo abranger


trechos de ruas, ou quarteirões (quadras) e estabelecimentos comerciais que tenham relação
direta com o crime;

Figura 55 - Delimitação dos perímetros do local.

Fonte: Elaborado pelo autor.

j) isolar a área, onde se deu os acontecimentos, usando fitas zebradas. Na ausência desse
material, poderão ser utilizados materiais alternativos, como arames, cavaletes, cones,
cordas, cabos de aço ou outros meios disponíveis, sendo que ninguém poderá se deslocar
dentro da área isolada, antes do trabalho periciais;

126
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 128 - )

k) afastar as pessoas, sinalizar, desviar e controlar o trânsito de veículos e de pedestres;

l) fazer anotações e croquis para facilitar a redação do texto do Boletim de Ocorrência


(BO/REDS);

m) arrolar testemunhas do delito;

n) preservar armas ou outros instrumentos vinculados ao crime;

o) impedir que a posição dos objetos ou de coisas seja modificada. Tratando-se de locais
fechados, manter portas, janelas, mobiliários, eletrodomésticos, utensílios, tais como foram
encontrados. Deve-se evitar, por exemplo, abrir ou fechar, ligar ou desligar quaisquer objetos;
usar aparelhos de telefonia (fixa ou móvel), sanitários ou lavatórios, e demais recursos
disponíveis no local), salvo o estritamente necessário para conter riscos;

p) posicionar-se fora do perímetro imediato;

q) prosseguir com a vigilância, preservando os vestígios até a chegada dos peritos criminais;

r) transmitir as informações já obtidas à equipe de Polícia Judiciária ou a quem for pertinente,


procurando interagir com os diversos órgãos que compõem o Sistema de Defesa Social;

s) em caso de suspeita de alteração do local de crime, identificar o(s) possível(eis)


causador(es), registrar tal situação no BO/REDS e avisar aos peritos que comparecerem ao
local;

t) acompanhar os trabalhos dos peritos, anotando e conferindo o material apreendido,


visando constar todos os dados no Boletim de Ocorrência (BO/REDS);

u) avisar ao responsável pelo exame pericial sobre possíveis vestígios deixados por terceiros
que adentraram ao local de crime (por necessidade ou equivocadamente), para que os peritos
não percam tempo analisando vestígios ilusórios.

v) proibir que repórteres e fotógrafos acessem o local de crime, antes da realização dos
trabalhos periciais, explicando-lhes a necessidade de manter os vestígios preservados e que
será garantida a liberdade de imprensa após resguardada a prioridade do serviço pericial;

127
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 129 - )

w) prestar informações à imprensa de forma objetiva sobre os fatos;

Figura 56 - Relacionamento com a imprensa

Fonte: Elaborado pelo autor.

x) caso a perícia não seja realizada, proceder à apreensão dos materiais encontrados, na
presença de testemunhas, relacionando-os no BO/REDS, para encaminhamento ao delegado
de polícia;

y) liberar o local após encerrados todos os trabalhos periciais, e na ausência da perícia,


somente após o recolhimento dos objetos;

z) dar atenção especial aos familiares em casos de vítimas fatais, que poderão reagir de
forma agressiva ou tentar invadir o local de crime. Esta consideração decorre do estado
emocional provocado pela perda de uma pessoa querida. Os policiais militares deverão
assisti-los de forma profissional, entendendo o momento que estão passando.

ATENÇÃO! A ordem dos procedimentos poderá ser alterada, dependendo da


prioridade observada no momento da intervenção policial.
Exemplo: em alguns acidentes de trânsito, a prioridade é sinalizar a via para evitar
agravamento da ocorrência ou o surgimento de novas vítimas e, somente após
resguardar a segurança, procede-se a assistência necessária aos envolvidos e o
isolamento.

(a) RODRIGO SOUSA RODRIGUES, CORONEL PM


COMANDANTE-GERAL

128
( - BEPM nº 11, de 06 de outubro de 2020 - ) Página: ( - 130 - )

REFERÊNCIAS

BALESTRERI, Ricardo Brisolla. Direitos Humanos: Coisa de Polícia. Porto Alegre: CAPEC;
Pater Editora Passo Fundo, RS, 1998.

BIASOLI, Eder Ricardo. Doutrina do paramédico militar no século XXI. Doutrina Militar
Terrestre em Revista, 2017.

BOLIVAR, Enio. Baixa Luminosidade, técnicas e táticas. Maceió, 2016.

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RODRIGO SOUSA RODRIGO, CORONEL PM


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CLÁUDIA HERCULANA F. GLÓRIA, TEN CEL PM


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