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Área Verde e Açude Do Campus Do Itaperi Da Universidade Estadual Do Ceará Refúgio para Aves de Vida Livre Ou Oriundas de Escape
Área Verde e Açude Do Campus Do Itaperi Da Universidade Estadual Do Ceará Refúgio para Aves de Vida Livre Ou Oriundas de Escape
DOI:10.34117/bjdv6n7-734
RESUMO
O crescimento dos grandes centros urbanos nem sempre estão associados a uma preocupação efetiva
sobre a preservação de espaços naturais. As áreas compostas com vegetação nativa são de grande
relevância para a manutenção da vida de animais silvestres que ocorrem em zonas urbanizadas das
grandes cidades brasileiras. Nesse contexto, esse trabalho mostra a importância da área verde e do
açude localizado no Campus do Itaperi da Universidade Estadual do Ceará para a avifauna. Para isso
foram realizados registros de aves migratórias, locais e oriundas de escape de criatórios. Os registros
foram obtidos a partir de fotografias e anotações realizadas de maneira ocasional durante o período de
2013 a 2020. Pode-se constatar uma variedade de espécies de aves de vida livre utilizando o espaço do
Campus do Itaperi como área de abrigo, alimentação e reprodução. Entre os registros obtidos,
verificaram-se espécies migratórias como o talhar-mar (Rynchops niger), espécies oriundas de escapes
como também o periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus) e diversas espécies locais como o cardeal-
do-nordeste (Paroaria dominicana). Conclui-se, portanto, que o campus do Itaperi apresenta uma
importante área para a avifauna.
ABSTRACT
The urban centers growth is not often associated to an closer consideration of natural environments
preservation. Areas composed by native vegetation are relevant for maintaining the life of wild animals
living in urbanized areas of large Brazilian cities. Thus, the present reseach shows the importance of
the green areas and the weir location in the Campus do Itaperi of the Universidade Estadual do Ceará
for avifauna, using local and migratory birds registration, also others originated from escaping. The
data were obtained from photographs and notes taken occasionally during the period between 2013 and
2020. It was verified that a variety of species of free-living birds use the campus space as an shelter
area, as well as an area for forage and reproduction. Among the data collected, there were identified
the presence of migratory species such as the black skimmer (Rynchops niger), species from escaping
such as the gray-breasted Parakeet (Pyrrhura griseipectus) and several local species such as the red-
cowled cardinal (Paroaria dominicana). Therefore, it is emphasized the Itaperi Campus area relevance
for avifauna.
1 INTRODUÇÃO
Pela relevância dos espaços verdes sobre a qualidade de vida dos seres vivos em geral, mais
particularmente dos seres humanos e dos animais, o tema sobre arborização em áreas urbanas tem sido
tratado de forma relevante nas publicações cientificas. No entanto, cada vez mais vem despertando
interesse da sociedade, embora a população em geral reconheça a importância dos espaços verdes
sobre a qualidade de vida. Além do mais, é possível verificar um insuficiente conhecimento acerca de
pontos relevantes, como a importância das espécies de vegetações nativas e dos possíveis impactos
negativos que a vegetação exótica pode causar sobre a biodiversidade local (SILVA et al., 2020a.;
MOURA et al., 2020). Cidades arborizadas adequadamente trazem benefícios no que diz respeito à
melhoria microclimática, diminuição de poluição e amenização dos efeitos negativos da urbanização
(BARBOZA et al., 2020; OLIVEIRA JUNIOR et al., 2020). Pesquisas também vêm demonstrando
que os espaços verdes urbanos podem ter benefícios positivo para a saúde mental dos seres humanos
(ALCOCK et al., 2014). Em que pese todos esses conhecimentos, a intensificação do processo de
urbanização das cidades, sem um planejamento adequado, ainda tem ocasionado uma má qualidade
desses espaços (SILVA et al., 2020b).
Na contramão de uma perspectiva em que se busca a valorização e reconhecimento da
importância dos espaços arborizados, dentro de uma área urbana para benefício e provimento da saúde
do próprio ser humano, a capital cearense vem, ao longo dos anos, se transformando em “floresta
edificada”, visto que o concreto vem substituindo o lugar do verde e, com isso, as escassas áreas
existentes com arborização nativa, por manejo inadequado como podas e replantio de espécies
exóticas têm concorrido para tornar o ambiente urbano mais hostil à variedade fitoecológica dos
biomas existentes (ALVES, 2012). E dessa forma, isso tem um impacto direto sobre a avifauna local,
a qual grande parcela sente-se hostilizadas por ambientes antropizados (FONTANA, 2005).
Em que pese o crescimento urbano e imobiliário e das perdas de recursos naturais ao longo
dos anos, algumas áreas da cidade de Fortaleza ainda detém espaços com flora nativa remanescente,
mesmo com processo acentuado de antropização ocorrente (MENDES et al., 2018). Um desses
espaços está localizado no Campus do Itaperi da Universidade Estadual do Ceará (UECE), o qual,
segundo Sales Jr. et al. (1996), possui uma vegetação com quatro habitats diferentes: ambiente
urbano/ajardinado; ambiente agro-pastoril; mata secundária do tabuleiro pré-litorâneo; ambiente
lacustre e ambiente ribeirinho. Os resquícios de flora encontrados no Campus, juntamente com a
diversidade de ambientes, proporcionam refúgio para fauna silvestre que, com a diminuição e/ou perda
de habitat decorrente do crescimento desordenado da cidade, encontram nessa área oferta de alimento,
moradia e reprodução. Sendo assim, este trabalho objetivou mostrar a importância da área verde e
açude localizado no Campus do Itaperi da UECE para avifauna a partir de registros nesse ambiente
de aves de ocorrência local, migratória ou oriunda de escape de criações em gaiolas.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
A fim de demonstrar a importância da área verde e açude existente no Campus do
Itaperi/UECE para a fauna local, foram apresentados registros de aves de vida livre ocorridos em dois
importantes espaços: P1- Área verde localizada ao Sul do Campus; P2- Açude e arredores (Figura 1).
Os dados obtidos foram coletados a partir de observações visuais ocasionais (com registro fotográfico
ou apenas escrito) em campo durante o período de 2013 a 2020.
Buscou-se assinalar algumas características observadas durante cada registro, tais como:
ação de alimentação; indivíduos jovens sozinhos ou dentro de um bando ou se era possível identificar
indivíduos oriundos de escape de criação em cativeiro.
Fig 1. A área delimitada em amarelo representa a área do Campus Itaperi. P1- Espaços florístico localizado ao sul. P2-
Açude. Seta vermelha aponta coordenadas 3º 47’ 16.93”S 28° 33’11.31”O. Adaptação, Google Earth, Data 06/06/2019.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A tabela 01 apresenta registros de aves de ocorrência local, migratória ou oriunda de escape
de criatórios identificadas por meio de fotografias ou apenas anotações habitando os arredores do
açude e espaços florísticos localizado ao sul do Campus do Itaperi da UECE.
A partir da lista apresentada, pode-se constatar uma variedade de espécies de aves de vida
livre utilizando o espaço do Campus do Itaperi como área de abrigo, alimentação e reprodução.
Tabela 01. Registros de aves de ocorrência local, migratória ou oriunda de escape de criatórios identificadas por meio de fotografias
habitando os arredores do açude e espaços florísticos localizado ao sul do Campus do Itaperi da UECE
Espécie registrada Local de observação Ano(s) de identificação
Nome vulgar (Nome científico)
Falcão-peregrino (Falco Peregrinus) P1 e P2 2017
Andorinha-doméstica-grande (Progne chalybea) P1 e P2 2017-2020
Papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) A P1 e P2 2018-2020
Periquitão-maracanã (Psittacara leucophthalmus) A P1 e P2 2017- 2018
Talha-mar (Rynchops niger) A P2 2018
Turu-turu (Neocrex erythrops) A, R P2 2018
Maçarico-pintado (Actitis macularius) P2 2013
Barulhento (Euscarthmus meloryphus) P1 2016
Caneleiro-preto (Pachyramphus polychopterus) P2 2018
Periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus) *A P2 2016
Jandaya-verdadeira (Aratinga jandaya) A P1 2018
Tesourinha (Tyrannus savana) A P1 e P2 2017- 2020
Peitica (Empidonomus varius) P1 2019
Pernilongo-de-costas-negras (Himantopus mexicanus) P2 2020
Azulão (Cyanoloxia brissonii) P2 2020
Cardeal-do-nordeste (Paroaria dominicana) P1 e P2 2017- 2020
Golinho (Sporophila albogularis) P1 e P2 2017- 2020
Periquito-da-caatinga (Eupsittula cactorum) P1 2017- 2020
Tico-tico-rei-cinza (Coryphospingus pileatus) P1 e P2 2017- 2020
Sabiá-laranjeira* (Turdus rufiventris) P1 2020
Sanhaço-cinzento (Thraupis sayaca) P1 e P2 2017- 2020
Canário-da-terra (Sicalis flaveola) P1 2017- 2020
Gralha-cancã (Cyanocorax cyanopogon) P1 e P2 2017- 2020
Cambacica (Coereba flaveola) P1 e P2 2017- 2020
Fogo-apagou (Columbina squammata) P1 e P2 2017- 2020
Tuim (Forpus xanthopterygius) P1 e P2 2017- 2020
Periquito-encontro-amarelo (Brotogeris chiriri) P1 e P2 2017- 2020
* Provável escape de criatório
A
Observação da ave se alimentando de frutos de vegetação do campus ou peixes/insetos
R
Ave com filhotes ou indivíduo com indivíduo juvenil no bando observado
P1- Observação da ave nos espaços florístico e arredores existentes ao sul do Campus do Itaperi
P2- Observação de ave no açude do campus do Itaperi e arredores
al., 2008). BELEZA (2019) fez um registro de um casal dessa mesma espécie três dias antes
sobrevoando e caçando alimento na lagoa da Parangaba, Fortaleza, CE, que fica a aproximadamente
a 2 km do Campus do Itaperi e, ao que tudo indica, confirmado pelo mesmo autor, é possível se tratar
do mesmo casal de ave. Isso é uma evidência que a área do Campus é um ponto de apoio para
importantes espécies de nossa avifauna.
Figura 2: A: Talha-mar (Rynchops niger) em busca de alimentação no açude da UECE no ano de 2018 (Autoria: Arianne
Silva Carreira). B: Turu turu (Neocrex erythrops) registrado em 2018 aos arredores do açude da UECE (Autoria: Antonio
Jackson Forte Beleza).
Figura 3. A: A esquerda periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus) oriundo de provável escape registrado no ano de 2016
nos espaços florístico ao Sul do Campus do Itaperi, a direita está um beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura) (Autoria:
Antonio Jackson Forte Beleza); B: Jandaia verdadeira (Aratinga jandaya) foi observada alimentando-se de frutos de uma
árvore nativa chamada Burra-leiteira (Sapium glandulosum) (Autoria: Régis Siqueira de Castro Teixeira).
O propósito da lista de aves apresentada neste trabalho não teve a finalidade de trazer um
levantamento de todas as espécies que ocorreram normalmente no Campus do Itaperi (UECE) no
período de tempo informado, o foco foi apenas relacionar alguns registros coletados ocasionalmente
e mostrar a relevância desse espaço para a avifauna local. Um levantamento realizado por LUCENA
et al. (2016), durante janeiro de 2015 até junho de 2016, mostrou que ocorre nesse espaço um grande
número de aves, foram registradas 113 aves de vida livre, entre elas espécies migratórias, tais como,
falcão-peregrino (Falco Peregrinus), tigerila (Xenopsaris albinucha), andorinha-doméstica-grande
(Progne chalybea) e andorinha da bando (Hirundo rustica); espécies endêmica do nordeste tais como,
pica-pau-anão-da-caatinga (Picumnus limae), choca-barrada-do-nordeste (Thamnophilus capistratus)
e periquito-da-caatinga (Eupsittula cactorum); e aves provenientes de possíveis escapes ou soltura tais
como papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), curica (Amazona amazonica), periquito-rei (Eupsittula
aurea) e periquito-maracanã (Psittacara leucophthalmus).
O Campus do Itaperi também abriga aves de interesse de criações ilegais e tráfico de animais
silvestres, tais como cardeal-do-nordeste (Paroaria dominicana), golinho (Sporophila albogularis),
periquito-da-caatinga (Eupsittula cactorum), tico-tico-rei-cinza (Coryphospingus pileatus), sanhaço-
cinzento (Thraupis sayaca), Canário-da-terra (Sicalis flaveola), gralha-cancã (Cyanocorax
cyanopogon), cambacica (Coereba flaveola), fogo-apagou (Columbina squammata) e tuim (Forpus
xanthopterygius). De acordo com a planilha de ABREU (2019), a qual informa as espécies mais
apreendidas pelo Batalhão de Polícia do Meio Ambiente, essas aves estão entre as mais apreendidas
em Fortaleza/CE.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os registros das aves observadas mostram que a área verde e açude do Campus do Itaperi são
importantes pontos, dentro da cidade de Fortaleza, para alimentação, reprodução e abrigo para aves
da nossa fauna local.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao apoio da Pró-Reitoria de Extensão da UECE pela bolsa concedida à aluna Lucelita
da Costa Sousa. Também somos gratos a Arianne Silva Carreira por ter cedido seu registro fotográfico
para a composição desse trabalho.
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