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INÊS 249

MAR
2024
N0 198 | R$ 30
ESPECIAL
EDIÇÃODE
ANIVERSÁRIO

KARIME HAJAR
(à esq.), Senior
Investment
Manager da Basf
Venture Capital;
ERICA MENEZES
(ao centro), Head
de Venture Capital
Corporativo
da Eurofarma;
JULIANA INNECCO
(à dir.), Head do
Torq Ventures,
da Sinqia

A NOVA ONDA DO
CORPORATE VENTURE CAPITAL
COMO UM GRUPO CRESCENTE DE GRANDES EMPRESAS BRASILEIRAS SUBVERTE REGRAS
TRADICIONAIS DE NEGÓCIOS PARA ADERIR AO VENTURE CAPITAL, INOVAR E SE REINVENTAR

CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL APROXIMADA 4,65%


INÊS 249

A EMPRESA MAIS INOVADORA


DO BRASIL* NO ANO
DE SEU CENTENÁRIO.
NÃO EXISTE COINCIDÊNCIA.

UMA STARTUP DE 100 ANOS

*Prêmio Valor Inovação Brasil.


INÊS 249
INÊS 249

DIRETOR GERAL Frederic Zoghaib Kachar


DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO DE AUDIÊNCIA E COMERCIAL Tiago Afonso
DIRETOR NACIONAL DE NEGÓCIOS Samuel Sabbag
DIRETORIA EDITORIAL Daniela Tófoli e Maria Fernanda Delmas

REDAÇÃO ÉPOCA NEGÓCIOS


DIRETORA EDITORIAL DE MARCAS DE ECONOMIA E NEGÓCIOS: Maria Fernanda Delmas
EDITORES-EXECUTIVOS: Elisa Campos, Maria Carolina Abe e Marisa Adán Gil
REPÓRTERES: Sofia Hillesheim Schuck e Soraia Alves
ESTAGIÁRIA: Gabriela Guido

COLABORADORES: Caroline Marino, Cristiane Mano, Daniel Salles, Martina Medina, Michele Loureiro,
Miriam Sanger, Rafael Faustino e Thomaz Gomes (texto); Laís Rigotti (revisão); André Lessa, Arthur Nobre, Fernanda Coutinho
e Marcus Steinmeyer (fotografia); Reberson Alexandre e Zé Otavio (ilustração); Marcelo Calenda (retoucher)

ESTÚDIO DE CRIAÇÃO
DIRETOR: Rodrigo Buldrini
EDITORES DE ARTE ASSISTENTES: Clayton Rodrigues e Daniel Pastori
DESIGNERS: Demetrios Cardozo, Felipe Yatabe, Pablo Gonzalez e Thiago de Jesus
COLABORADORES: Lessandra Martins e Mário Espinoza (designers)
ESTAGIÁRIA: Laura Andrade

MERCADO ANUNCIANTE Fátima Regina Ottaviani COORDENADORA DE NEGÓCIOS DIRETOR DE NEGÓCIOS (GOVERNO – SERVIÇOS
SEGMENTOS: FINANCEIRO – IMOBILIÁRIO (ENTRETENIMENTO, SAÚDE E TURISMO): Barbara Roberta PÚBLICOS SOCIAIS – ENERGIA): Luiz Fernando
– INFRA/LOG – INDÚSTRIA/ENERGIA Ferreira Conte EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS: André Frascá Manso EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS: Robert de Souza
DIRETOR DE NEGÓCIOS: Emiliano Morad Hansenn Correa (ENERGIA), Claudia Cubeiro (GOVERNO)
Scorvo, Arthur Alves de Carvalho, Cesar Augusto
GERENTES DE NEGÓCIOS: Catarina Augusta e Marcelo Valentim (PUBLICIDADE LEGAL)
Picchi Daltozo, Eliana Lima Fagundes e Jessica Arslan
Pedroso dos Santos e João Carlos Meyer
COORDENADORA DE NEGÓCIOS (PUBLICIDADE LEGAL):
ESCRITÓRIOS REGIONAIS COORDENADOR GERAL DE PME E NOVOS
Francimaria Pacheco da Silva Santos EXECUTIVOS
SEGMENTO: AGRONEGÓCIO NEGÓCIOS: Fabio Paz do Lago COORDENADORES
DE NEGÓCIOS: Bruna Serrajordia Ros, Fabio
DIRETORA DE NEGÓCIOS: Thaís Éboli Haddad GERENTE DE ÁREA: Jorge Guaiacy COORDENADORA DE
Bastos Ferreira de Andrade, Juliana Fernandes,
Renata Ritzmann e Selma Teixeira da Costa DE NEGÓCIOS: Diana Maes COORDENADORA DE NEGÓCIOS TELEMARKETING: Valéria Brasil EXECUTIVO DE
(AGRONEGÓCIO): Cristiane Nogueira EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS (CORRETOR): Miguel Fernandes
SEGMENTOS: EDUCAÇÃO – MONTADORAS – VAREJO NEGÓCIOS: Ana Carolina Lima e Rodrigo Kanno
– TELECOM – TECNOLOGIA – ELETRÔNICOS – BRASÍLIA
ENTRETENIMENTO – SHOPPING – MÍDIA DIRETOR DE NEGÓCIOS: Luiz Fernando
COORDENADORA DE NEGÓCIOS EDITORA GLOBO
DIRETORA DE NEGÓCIOS: Lilian Cassamassimo Manso COORDENADORA ÁREA COMERCIAL:
| EDIÇÕES GLOBO CONDÉ NAST: Renata Dias
Baima COORDENADORA DE NEGÓCIOS: Alecsandra Luciana Gomes de Oliveira Burnett
Regina da Cruz Altran EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS:
Cristina Furuko, Edvan Amorim de Andrade, RIO DE JANEIRO
DESENVOLVIMENTO COMERCIAL
Flávia Marangoni, Karina Penachio Primon, DIRETOR DE NEGÓCIOS: Marcelo Lima da Cunha Mattos
DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO COMERCIAL:
Renata de Carvalho e Renato Arellas GERENTES DE NEGÓCIOS: Alessandra de Oliveira Correa
Fernando Bovo G.LAB: Fernando Bovo
Fernandes (ALIMENTOS E BEBIDAS – INDÚSTRIA –
SEGMENTOS: MODA – BELEZA – HIGIENE PROJETOS ESPECIAIS (RJ/SP): Leonardo André
SAÚDE), Darlene Bastos Campos Machado (VAREJO) e
DOMÉSTICA E PESSOAL – DECORAÇÃO – SAÚDE EVENTOS (RJ/SP): Daniela Valente
Monica Monnerat C. da Gama e Silva (BELEZA – MODA
– CIAS AÉREAS – TURISMO – PUERICULTURA
– SHOPPING) EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS: Beatriz dos
– ALIMENTOS E BEBIDAS – OUTROS OPERAÇÕES COMERCIAIS
Santos Alves, Claudia de Carvalho Coutinho, Daniela
DIRETORA DE NEGÓCIOS: Olivia Cipolla Bolonha GERENTE DE OPERAÇÕES COMERCIAIS:
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Anderson Góes Silva

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dos dados e informações de GEE sobre o período de referência, para o escopo definido; foi elaborado em
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PARCEIROS APOIO REALIZAÇÃO


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SUMÁRIO MARÇO 2024

32
A NOVA ORDEM
DA INOVAÇÃO
COMO AS GRANDES EMPRESAS
ESTÃO AMPLIANDO O INVESTIMENTO
DE RISCO NO BRASIL PARA OBTER
OS MELHORES RESULTADOS
FINANCEIROS E ESTRATÉGICOS

foto: arthur nobre


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8 Editorial
NA CAPA
CAPA
FOTO:
Marcus Steinmeyer
RETOUCHER:
Marcelo Calenda

32 62 78
Inovação O guia do corporate O fenômeno só
de risco venture capital começou
Empresas brasileiras aceleram Da estrutura de governança ao Investimentos maiores,
a adoção do corporate desempenho do portfólio, conheça parcerias com fundos de VC
venture capital e encontram as estratégias para planejar e e a criação de uma cultura de O que é o G.LAB
O G.LAB elabora
o caminho da inovação acelerar investimentos em startups risco estão entre as tendências conteúdos de
qualidade patrocinados
por empresas que

42 72 86 contratam seus
serviços. Eles
Uma ponte “Tem muita gente Dois lados do são identificados
por expressões
para o futuro brincando de CVC” capital de risco como “apresenta”,
Saiba como algumas das Para Carlos Krokon, da Erica Menezes, head de CVC “apresentado por”,
“oferecimento”,
mais bem-sucedidas Qualcomm Ventures, os da Eurofarma, conversa com “especial publicitário”,
“conteúdo publicitário”,
iniciativas de CVC do Brasil CVCs brasileiros precisam Daniel Chalfon, sócio do fundo “publieditorial”
alcançam bons resultados fazer aportes mais altos de venture capital Astella e “promo”.

SEÇÕES ARTIGOS
94
Ruptura
20 anos depois da criação
do termo “inovação aberta”,
11 18 23 98 quais são as principais
lições para as empresas
Hub Persona Além Trabalho com
As armas da Quem é Daniel do Vale Propósito
Nvidia para Ek, o gênio tímido Primeira torre de Como Viviane Duarte 96
se manter na responsável pela criação turbina eólica feita ajuda mulheres da Na Fronteir@
liderança do mercado do Spotify, maior totalmente em periferia a terem Não basta regular as plataformas,
de processadores serviço de streaming madeira processada é acesso a capacitação é preciso voltar a atenção para as
para IA musical do mundo instalada na Suécia e emprego empresas responsáveis por elas

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E D ITO R I A L

EM
BUSCA
DA
INOVAÇÃO
R ANDES EMPRESAS E Global Corporate Venturing Institute, a que Época NE-
startups estão acostuma- GÓCIOS teve acesso com exclusividade. A participação
das a viver uma relação de CVCs nos investimentos totais de capital de risco no
de amor e ódio. Não é fá- Brasil mostra o avanço da modalidade. De acordo com o
cil conciliar as inúmeras Distrito, em termos percentuais, a participação de CVCs

G diferenças de processos,
valores e objetivos. Quem
na quantidade de aportes no Brasil atingiu 12,3% no
primeiro trimestre de 2023 – o maior patamar histórico.
consegue encontrar uma Nesta edição, você encontra alguns dos cases mais bem-
maneira de fazer o rela- -sucedidos de CVCs no Brasil, para se inspirar. Também
cionamento funcionar, no trazemos um guia completo para quem pretende montar
entanto, sai à frente. Inovar constantemente tornou-se seu próprio fundo. Já fica a dica: a modalidade não faz
uma necessidade para as corporações. Reinventar-se é sentido para todas as empresas, mesmo entre as grandes.
preciso. E rápido. Startups são um belo parceiro para Startups também têm muito a lucrar com CVCs. O
chegar lá. As grandes sabem bem disso. Hoje, vão além maior fundo do tipo no mundo é o Google Ventures, com
dos meetups, programas de aceleração, hackathons e US$ 10 bilhões sob gestão. Vários unicórnios, como o
construção de hubs. Criam seus próprios fundos de ca- Gusto e a Snyk, receberam aportes dele. Um dos princi-
pital de risco corporativo. Conhecidos como CVCs, são pais investidores da ZongMu Technology, a maior de-
comuns em países como Estados Unidos e Canadá, mas senvolvedora de sistemas para veículos autônomos da
só agora começam a acelerar no Brasil. China, com valor de mercado de US$ 11,4 bilhões, é a
Por aqui, sete em cada dez fundos corporativos têm Qualcomm Ventures. Ligado à fabricante americana de
menos de quatro anos de vida, segundo uma pesquisa do semicondutores e softwares para conexões sem fio, esse

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fundo tem mais de US$ 2 bilhões em ativos e um portfólio


com mais de 150 companhias. Carlos Krokon, vice-pre-
sidente e diretor-executivo da Qualcomm Ventures nas
Américas, com mais de 20 anos de experiência na área,
compartilha em entrevista exclusiva a NEGÓCIOS alertas
valiosos sobre o que evitar para o seu CVC dar certo.
Em 2024, a expectativa é que a ascensão dos fundos
corporativos continue no Brasil. Uma projeção feita pela
recém-lançada Associação Brasileira de Corporate Ven-
ture Capital (ABCVC) estima que até 2025 o número de
CVCs no país dobre em relação aos 80 atuais. É um setor
que desponta com boas oportunidades, mostrando o
amadurecimento do ecossistema de inovação brasileiro.
Que venha muito mais pela frente ;)

Elisa Campos | editora-executiva

Foto: Getty Images


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H U B

AS CONEXÕES ENTRE OS FATOS DE HOJE E AS TECNOLOGIAS DE AMANHÃ


EDIÇÃO: MARISA ADÁN GIL | COLABOROU: MARIA CAROLINA ABE

NVIDIA LUTA PARA


FICAR NO TOPO
PÁG. 12

DISPUTA DE GIGANTES Como a Intel e a AMD tentam superar a Nvidia, líder no mercado de processadores para aplicações de IA

u Longevidade u Inteligência Artificial

V I DA LON GA PA R A P E TS MEDICAMENTOS ACELERADOS


BIOTECH TENTA PREVENIR DECLÍNIO FÍSICO MODELOS DE IA GENERATIVA AJUDAM A
E MENTAL DOS CÃES DETERMINAR EFICÁCIA DE REMÉDIOS
PÁG. 14 PÁG. 16

Foto: getty images


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GUERRA DOS CHIPS


NO MERCADO BILIONÁRIO DE
PROCESSADORES PARA IA, QUEM REINA
SUPREMA É A NVIDIA; CONHEÇA DUAS
EMPRESAS QUE AMEAÇAM SEU MONOPÓLIO

MERCADO DE CHIPS deverá mais


que dobrar até 2027, para cerca de
O US$ 140 bilhões, de acordo com a em-
presa de pesquisa Gartner. Na guerra
atual para saber quem vai conseguir lucrar mais
com a venda dos cobiçados chips para inteligên-
cia artificial, a Nvidia está (muito) à frente, com
cerca de 70% do mercado. No dia 23 de fevereiro,
a fabricante de chips fundada nos Estados Unidos
na década de 1990 atingiu a marca dos US$ 2 tri-
lhões (R$ 10 trilhões) em valor de mercado. A alta
nas ações da empresa foi motivada principalmente
pelo boom na demanda por chips usados em apli-
cações de inteligência artificial generativa, indús-
tria que está altamente aquecida neste momento.
Isso ajudou a companhia a saltar de US$ 1 trilhão
(R$ 5 trilhões) para US$ 2 trilhões (R$ 10 trilhões)
em valor de mercado em cerca de oito meses – a
mais rápida valorização entre as empresas dos Es-
tados Unidos. Os papéis da Nvidia acumulam alta
de quase 60% este ano, depois de mais do que tri-
plicarem de valor em 2023.
A fim de replicar esse sucesso – e se livrar da
dependência dos chips produzidos pela empresa de
Jensen Huang (cofundador e CEO), muitas compa-
nhias estão tentando produzir o chip ideal, que seja
tão eficiente para rodar a IA quanto os da Nvidia
(que chegam a custar US$ 15 mil cada um). As big
techs têm boas chances de conseguir, já que podem
dispor dos altos investimentos necessários. Ama-
zon, Google, Meta e Microsoft já se dedicam à ta-
refa. Mas o mercado está mesmo de olho em outros
dois fabricantes de peças de computador, que, por
serem especialistas no setor, podem chegar antes
de Bezos e Zuckerberg. Saiba quais são as armas de
Intel e AMD para competir com a Nvidia, e o que o
futuro reserva para as três concorrentes.

Foto: getty images


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COMO ESTÁ: atualmente a empresa domina o


mercado de GPUs (placas gráficas) usadas em
aplicações de IA. Os modelos de linguagem mais
conhecidos, como o ChatGPT, da OpenAI, rodam com
os chips H100 da Nvidia. Sua série de GPUs RTX, por
outro lado, lida com processamento de vídeo de uma
forma única, o que a torna líder de mercado.

PARA ONDE VAI: em janeiro, a empresa anunciou


novos GPUs capazes de rodar aplicações de IA em PCs.
Também pretende fornecer GPUs para notebooks de
companhias como Acer, Dell e Lenovo. Em fevereiro,
anunciou que seus processadores avançados estarão
disponíveis em estações de trabalho com vídeo
produzidas pela Dell e Lenovo.

COMO ESTÁ: considerada a melhor quando se trata


de CPUs (processadores para computadores e laptops
tradicionais), fica muito atrás no que se refere às placas
gráficas. Embora produza algumas GPUs modestas,
AMD ou Nvidia são superiores em processadores
potentes para jogos e aplicações de IA.

PARA ONDE VAI: em dezembro, a Intel lançou seus


Core Ultra chips, capazes de rodar programas de
IA mais rapidamente e assim aproximar a empresa
das concorrentes. Segundo a Intel, esses novos
processadores vão equipar PCs com IA de companhias
como Acer, ASUS, Dell, HP e Lenovo.

COMO ESTÁ: a Advanced Micro Devices é reconhecida


por produzir GPUs de alta performance, como a série
Radeon, usada para jogos mais intensos. Em dezembro,
lançou os chips Instinct MI300, desenhados para
atender grandes modelos de linguagem e concorrer
com os chips H100, da Nvidia.

PARA ONDE VAI: a empresa diz que vai aprimorar


ainda mais os modelos Instinct, com novas
configurações de memória que, em teoria, os deixariam
mais rápidos que os da Nvidia. A empresa também
vai competir no mercado de PCs com IA, que deve
esquentar no segundo semestre de 2024.

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UMA FONTE DA JUVENTUDE PARA CACHORROS


CIENTISTA DESENVOLVE TERAPIAS PARA RETARDAR O ENVELHECIMENTO DOS
PETS – E PRETENDE LANÇAR PRIMEIRO MEDICAMENTO EM 2026

OMO PROLONGAR A vida do melhor amigo do homem? Esta mundo, com a palestra Could dogs be the key to
é a “dor” que deu origem à startup de biotecnologia Loyal for human longevity? (“Os cachorros podem ser a
C Dogs, criada em 2020 no Vale do Silício pela cientista Celine chave para a longevidade humana?”).
Halioua (foto), de 29 anos. Fascinada por neurociência e na- Em novembro, a empresa recebeu a pri-
nobiotecnologia (e por cães, claro), ela trabalhou em vários laboratórios, meira sinalização positiva da FDA para seu
pesquisando tópicos como terapia genética e medicina regenerativa, antes remédio LOY-001, um implante feito para
de partir em busca da fonte de juventude canina. aumentar a longevidade de cachorros com
“Estudar a longevidade em humanos é difícil devido à nossa expec- mais de sete anos e 18 quilos. O medicamento
tativa de vida mais longa. Os cães têm uma expectativa de vida curta o age regulando a produção do IGF-1, hormô-
suficiente para vermos um progresso mensurável em apenas alguns anos”, nio relacionado ao envelhecimento em cães.
conta Celine. “Ficou claro para mim que poderíamos desenvolver terapias A empresa estima que o produto chegue ao
para cães que pudessem receber a aprovação da FDA [U.S. Food and Drug mercado americano em 2026.
Administration, uma espécie de Anvisa dos EUA], o que permitiria que
nosso trabalho tivesse um impacto real na vida dos cães.”
A expectativa de vida para cães de porte pequeno a médio é de 14 a 16 QUAIS S ÃO OS CÃES Q U E VIVEM M AIS
anos. Para os maiores, esta média cai para entre sete e dez anos. A empresa RAÇA EXPECTATIVA DE VIDA
não diz explicitamente em quantos anos pretende prolongar a vida dos LANCASHIRE HEELER 15,4 ANOS
pets, mas afirma que sua meta é fazer os cachorros viverem “mais e com SPANIEL TIBETANO 15,2 ANOS
mais qualidade de vida”. Para tanto, Celine pretende abordar preventi- GALGO ITALIANO 14 ANOS
DACHSHUND MINIATURA 14 ANOS
vamente as causas do envelhecimento, tendo como alvo um mecanismo PINSCHER MINIATURA 13,7 ANOS
celular que pode prevenir o declínio mental e físico associado à idade. WHEATEN TERRIER DE PELAGEM MACIA 13,7 ANOS
A premissa da Loyal for Dogs já atraiu mais de US$ 50 milhões de inves- COCKER SPANIEL AMERICANO 13,3 ANOS
tidores como Khosla, First Round Capital e BoxGroup. E estará na edição COLLIE 13,3 ANOS
de 2024 do SXSW (de 8 a 16 de março), o maior festival de tecnologia do
Fonte: McMillan et al, Scientific Reports (2024)

Foto: divulgação
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5 APLICAÇÕES DA IA
GENERATIVA NA CRIAÇÃO
DE NOVOS MEDICAMENTOS
TECNOLOGIA PODE ACELERAR
PROCEDIMENTOS E AUMENTAR
EFICÁCIA DE TESTES CLÍNICOS

ESCOBERTA ACELERADA DE me-


dicamentos, ensaios clínicos mais efi-
D cientes, aprovações regulatórias mais
rápidas, marketing customizado: esses
são apenas alguns dos benefícios que a inteligência
artificial pode proporcionar à indústria farmacêuti-
ca. Segundo pesquisa do McKinsey Global Institute
(MGI), a tecnologia pode economizar para as com-
panhias algo entre US$ 60 bilhões e US$ 100 bilhões
por ano. O maior ganho, avalia a consultoria, seria
no processo de descoberta e desenvolvimento de
novos medicamentos. A IA generativa pode ajudar
a acelerar o processo de identificação de moléculas
que vão servir de base para os medicamentos, des-
tacar as substâncias mais promissoras, desenvolver
análises de validação e determinar a eficácia dos
remédios em testes pré-clínicos.
A indústria farmacêutica já está usando a IA
generativa com esse objetivo. Além de modelos
treinados em artigos e pesquisas biomédicas, como
BioGPT e Med-PaLM, também usa modelos de ima-
gem para analisar dados microscóspicos, modelos
químicos para melhorar a leitura de dados de mo-
léculas e modelos alimentados com dados sobre a
jornada de pacientes para entender as possíveis
indicações dos medicamentos pesquisados. Segundo
a CBInsights, companhias farmacêuticas como Jans-
sen, Sanofi, AstraZeneca e Bayer firmaram parcerias
com empresas de IA de biotecnologia, enquanto
outras começaram a construir soluções internas
de IA. Aumentar essas capacidades fundamentais
com formas mais amplas e estabelecidas de IA pode
reduzir pela metade os prazos de descoberta de
medicamentos. Veja cinco aplicações com forte po-
tencial para um impacto significativo no curto prazo.

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EXTRAIR CONHECIMENTO CIENTÍFICO


Para compreender melhor as doenças e o que os remédios precisam
atacar, os cientistas gastam muito tempo extraindo e resumindo
informações em documentos como patentes, publicações científicas
e dados de ensaios. É um trabalho árduo e difícil de completar.
A IA generativa pode fazer a extração e aliviar esse fardo.

FAZER A TRIAGEM DE COMPOSTOS QUÍMICOS


Durante a criação de medicamentos, uma das dificuldades é
identificar e priorizar os compostos químicos com maior probabilidade
de tratar com sucesso uma doença específica. A IA generativa acelera
o processo de triagem com modelos treinados em conhecimento
bioquímico, que podem mapear milhões de compostos.

OTIMIZAR MOLÉCULAS GRANDES


A dificuldade dos cientistas é maior quando precisam estudar
cadeias complexas de moléculas, como as proteínas, as enzimas e
os polissacarídeos. Modelos de linguagem de última geração já são
capazes de trabalhar com os dados dessas moléculas, para ajudar a
pesquisa a chegar no próximo patamar, que são os testes in vitro.

INDICAÇÃO DE ESTRATÉGIAS
A IA também pode ajudar os pesquisadores a determinar qual é a condição
ideal para aquele medicamento ter o efeito desejado. Para fazer essa
indicação, é preciso extrair dados de inúmeras fontes, como literatura
médica, dados de ensaios clínicos e atividades de concorrentes. A IA
generativa consegue analisar todos os dados com rapidez.

OTIMIZAR TESTES CLÍNICOS


Uma vez que esteja decidido qual é o ativo do medicamento e de que
maneira deve ser ministrado (comprimidos, soluções orais ou via
intravenosa, por exemplo), os testes clínicos podem começar. Mas
escolher os pacientes apropriados para participar do estudo não é fácil.
A IA usará indicadores biológicos para escolher os melhores candidatos.

Foto: getty images


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P E R S O N A

DANIEL EK

O GÊNIO TÍMIDO POR


TRÁS DO SPOTIFY
CONSIDERADO VISIONÁRIO POR ALGUNS E LADRÃO POR OUTROS, O SUECO
DANIEL EK REVOLUCIONOU A INDÚSTRIA MUSICAL AO DISPONIBILIZAR SEU
STREAMING DE GRAÇA, OU QUASE. MAS SERÁ QUE ISSO O FEZ FELIZ?

MARTINA MEDINA

OUTRO LADO Embora Daniel Ek se mantenha discreto na maior parte do tempo, costuma provocar reações fortes quando vem a público

Foto: getty images


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PARA SE U CA S AMENTO C OM A E S CRITORA SOFIA

LE VA NDE R, ELE C O NVIDOU MA R K ZUCKERBERG E


B RUNO MARS , ENTRE OUT R A S CEL EBRIDADES

OR UM LADO, é fácil perceber que o Spotify revolucionou no site da empresa, ele chamou a atenção para
a indústria fonográfica ao disponibilizar milhões de músi- si mesmo. “Pessoalmente, essas mudanças me
P cas de forma legal para que os consumidores escutassem permitirão voltar para a parte em que faço
instantaneamente, a baixo custo ou de graça. Hoje é auto- meu melhor trabalho – cuidar do futuro do
mático clicar no ícone verde da empresa para ouvir a música que o seu Spotify – e mal posso esperar para comparti-
artista favorito acabou de lançar. Poucos lembram que, nos anos 2000, lhar todas as coisas que temos por vir”, escre-
era preciso pagar pela canção – depois que ela ficasse disponível, o que veu Ek, para revolta dos empregados.
poderia levar semanas, ou até meses. Não à toa, a companhia pioneira do Dois meses depois, o CEO viria a públi-
streaming musical já ultrapassou 600 milhões de usuários e tem valor co novamente, dessa vez para falar sobre a
estimado em US$ 46 bilhões (cerca de R$ 227 bilhões). sua atormentada relação com o trabalho, no
Visto pelo prisma do artista, porém, o Spotify, fundado em 2006, foi a podcast In God’s Company. “Ainda me sinto
pior notícia a surgir na última década. De repente, as composições que o inadequado todos os dias. Constantemente
músico havia levado meses (anos?) para criar estariam disponíveis para o vejo tanto problemas quanto oportunidades
público em segundos – e tudo que ele receberia por isso seria uma quan- diante de nós, e me sinto mal por fazer isso.”
tia ínfima todos os meses. (Em resposta às queixas dos músicos, a empre- Baixa autoestima ou estratégia para recuperar
sa diz que 70% de sua receita vai para detentores de direitos autorais.) a simpatia do público? Difícil dizer.
No centro dessa polêmica está o programador sueco Daniel Ek, 40 A fala de Ek remete às origens do CEO, e
anos, casado com a escritora e jornalista sueca Sofia Levander e pai de à sua fama de gênio tímido. Nascido em 1983,
duas meninas, Elissa e Colinne. Embora se mantenha discreto na maior em Estocolmo, de uma família de classe média
parte do tempo, o CEO tem o dom de provocar reações fortes quando baixa, começou a trabalhar cedo. Aos 13 anos,
vem a público. Uma dessas ocasiões ocorreu em dezembro do ano pas- abriu uma empresa de criação de sites. Aos 18,
sado, quando o Spotify anunciou que estava mandando embora mais de já faturava US$ 50 mil por mês. Mas um proble-
15 mil funcionários, ou 17% da força de trabalho. Comentando os cortes ma com o fisco sueco deu fim ao negócio.

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SPOTIFY BEACH Daniel Ek conversa com o comediante e apresentador de TV Trevor Noah durante o festival de Cannes, em 2023

Em 2002, começou a cursar engenharia, a partir da receita obtida com anúncios e assinaturas. Assim, acredita-
mas não chegou a concluir o curso – em vez va, todos sairiam ganhando. “Não sou um inventor. Só quero melhorar
disso, preferiu seguir carreira na área de TI, as coisas”, diria na época.
trabalhando em empresas como Tradera, de A primeira versão foi ao ar em 2008, atraindo 1 milhão de usuários.
leilões, e Torrent, de downloads. Deixou a últi- Mas o modelo mais próximo do atual só surgiu em 2014. Naquele ano, o
ma para abrir uma startup de marketing, a Ad- Spotify tinha 20 milhões de usuários ativos, mas poucos pagantes. Cinco
vertigo. Além da tecnologia, outra paixão sua anos depois, os usuários eram quase 160 milhões, dos quais 70 milhões
era a música. Pianista, guitarrista e baixista, ele assinavam o serviço. Mas como a plataforma conseguiu liderar o setor,
chegou a ter uma banda de britpop nos anos apesar da concorrência? Para o advogado Ronaldo Lemos, especialista
1990 – que não chegou a lugar nenhum. em tecnologia e membro do conselho de segurança do Spotify, a empre-
Em 2006, depois que a plataforma de sa não caiu na armadilha de muitas plataformas: começar com serviços
downloads piratas Napster foi condenada por atraentes e depois perder qualidade. “O consumo digital de mídia se
violação de direitos autorais, ele teve uma pauta por três pilares: preço justo, catálogo ilimitado e inteligência na
ideia. “Pensei em criar um serviço que fosse seleção dos conteúdos. O Spotify reúne os três pontos”, afirma.
melhor que a pirataria e, ao mesmo tempo, Em 2018, o serviço de streaming abriu capital na bolsa de valores de
compensasse a indústria musical. Foi daí que Nova York e Ek virou bilionário. Hoje, o patrimônio do CEO é avaliado
veio a ideia do Spotify”, disse ao Telegraph. em US$ 4 bilhões (cerca de R$ 19,7 bilhões), segundo a Forbes. Dinhei-
A ideia, anotada em um “caderninho de ro mais do que suficiente para repetir a extravagância cometida na
ideias malucas”, envolvia missões que bei- época de seu casamento com Sofia Levander. Na ocasião, convidou ce-
ravam o impossível, como obter licença das lebridades como o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, e o cantor
gravadoras, resistentes a uma solução que norte-americano Bruno Mars para a cerimônia, realizada no Lago de
lembrava muito a pirataria. O diferencial do Como, na Itália. Com toda a segurança de um founder bem-sucedido
Spotify era pagar direitos autorais aos artistas – e nenhum medo de parecer inadequado.

Foto: getty images


21
INÊS 249
INÊS 249

A L É M D O V A L E

O SEU GUIA DE ESTILO DE VIDA E CULTURA DIGITAL NOS QUATRO CANTOS DO MUNDO
EDIÇÃO: MARISA ADÁN GIL | COLABOROU: MIRIAM SANGER

A NOVA CARA
DA ENERGIA EÓLICA
PÁG. 24

SUSTENTÁVEL A primeira torre de turbina para captação de energia feita totalmente em madeira processada foi instalada na Suécia

FLORENÇA u Itália SEUL u Coreia do Sul NAGOYA u Japão

VI NHO N O A ER O P O RTO BRINQUEDO DE ANÉIS EM QUALQUER LUGAR


AEROPORTO DE FLORENÇA TERÁ VIDEIRAS MAIOR RODA GIGANTE DO PLANETA TERÁ CASA INFLÁVEL INSTANTÂNEA PODE SER
NO TELHADO E BEBIDA PRODUZIDA NO LOCAL LUGAR PARA 1,4 MIL VISITANTES LEVADA PARA DIFERENTES DESTINOS
PÁG. 25 PÁG. 26 PÁG. 29

Foto: divulgação
23
INÊS 249

SKARA u Suécia

TURBINAS EÓLICAS SUSTENTÁVEIS


PRIMEIRA TORRE DE turbina para captação de
A energia eólica construída totalmente em madei-
ra processada começou há pouco a girar na Suécia,
com a promessa de ser tão resistente quanto o modelo de aço
disponível atualmente. Em termos de sustentabilidade, sua fa-
bricação reduz a emissão de carbono em 90%. “Ao considerar
o sequestro de carbono típico das árvores, você termina com
um saldo negativo – ou seja, nosso produto é um capturador
de carbono”, diz Maria-Lina Hedlund, engenheira e gerente fi-
nanceira da fabricante, a sueca Modvion. A leveza do material
é outro benefício importante da invenção, uma vez que as tur-
binas eólicas têm se tornado cada vez maiores e mais pesadas.
Como vantagem adicional, a torre pode ser transportada em
partes e montada no local de instalação.

Foto: divulgação
24
INÊS 249

FLORENÇA u Itália

TELHADO DE VIDEIRAS

REGIÃO DA TOSCANA, na Itália, é conhecida como “o coração do país do vinho”. Assim, parece natural que o
A projeto do novo terminal internacional do aeroporto Amerigo Vespucci inclua um vinhedo de 7,7 hectares sobre
seu telhado. O projeto prevê 38 linhas de cultivo de videiras, que ficarão sob os cuidados de um viticultor. Ele
também responderá pelo processamento das uvas e pela produção do vinho – esta será feita em uma área construída no
próprio terminal. O projeto prevê também a implementação de um sistema de trens, garantindo o acesso sustentável ao
aeroporto, que recebe cerca de 6 milhões de usuários ao ano.

Foto: divulgação
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SEUL u Coreia do Sul

RODA-GIGANTE FUTURISTA

MA NOVA OPÇÃO de lazer vai elevar Seul às alturas: a Seoul Twin Eye, uma roda-gigante com 180 metros de
U altura – a maior do planeta. Ela será formada por dois anéis que se entrecruzam, simbolizando a “unidade”,
segundo o estúdio holandês UNStudio. A atração será construída sobre um edifício de 40 metros de altura,
que abrigará um centro cultural com espaço para exposições, teatro, lojas, restaurantes e cafés. Os anéis sustentarão
um total de 64 cabines, cada uma com capacidade para 25 pessoas – ou seja, a roda-gigante acomodará 1,4 mil usuários
simultaneamente (o dobro do que cabe na London Eye). Sua instalação atende à visão do prefeito da cidade, que quer
transformar as margens do rio Han em um espaço público repleto de atrações. A acessibilidade será garantida por um
monotrilho que ligará o local à estação de metrô mais próxima.

Foto: divulgação
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WESSLING u Alemanha

MAIS LEVEZA E MENOS EMISSÕES

ILIUM JET É a nova opção de mobilidade aérea de pequeno porte criada por uma empresa alemã. O veículo,
L movido a eletricidade, terá motores instalados sob as asas, permitindo pousos e decolagens horizontais, aumen-
to da capacidade de carregamento e mais dirigibilidade, ideal para o transporte regional. Seu design futurista
elimina a presença de cauda, aumentando a eficiência aerodinâmica e reduzindo a poluição sonora, segundo os fabrican-
tes. O avião alcançará velocidade de 280 quilômetros por hora em altitudes de até 3 mil metros, e terá capacidade para
seis passageiros. O valor da venda está estimado em R$ 10 milhões. Seu lançamento deve ocorrer em 2027.

Foto: divulgação
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NAGOYA u Japão

ONDE VOCÊ QUER MORAR HOJE?

UE TAL SER dono de uma casinha inflável instantânea, facilmente transportável e adequada a qualquer clima?
Q A solução, criada por um professor do Nagoya Institute of Technology, em colaboração com a empresa Lifull
Architech, pode ser “montada” em poucas horas. A companhia promete que a casa, fabricada de poliéster e
uretano, está preparada para resistir a ventos de até 288 quilômetros por hora. Seu telhado pontudo serve para evitar o
acúmulo de neve – além de dar um ar divertido à casa. O produto está disponível em três tamanhos (de 5, 15 e 20 metros
quadrados). A empresa também oferece móveis especialmente concebidos para o espaço.

Foto: divulgação
29
INÊS 249

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INÊS 249

INOVAÇÃOABERTA C E N Á R I O
MAR 2024

A N O VA O R D E M
D A I N O VA Ç Ã O
UM LEVANTAMENTO EXCLUSIVO OBTIDO POR ÉPOCA NEGÓCIOS MOSTRA
COMO GRANDES EMPRESAS ESTÃO AMPLIANDO O INVESTIMENTO DE RISCO NO BRASIL

DANIEL SALLES

32
INÊS 249

33
INÊS 249

INOVAÇÃOABERTA CENÁRIO

T
TESTAR A PRÓPRIA tolerância ao risco ganhou recen- assume contornos inéditos e começa a despontar como
temente um novo significado para a gigante de softwares um personagem atuante do ecossistema de inovação no
Totvs, com receita líquida de R$ 4,6 bilhões em 2023. Desde país. Elaborada em parceria com a ApexBrasil, a Fundação
2021, a companhia decidiu dedicar R$ 300 milhões para Dom Cabral e a Associação Brasileira de Private Equity e
um fundo próprio de venture capital – o CV iDEXO. Parte Venture Capital (Abvcap), entre outras entidades, a pes-
desse valor já foi investido em dez startups – da Cromai, quisa elaborada pelo Global Corporate Venturing Institute
que utiliza inteligência artificial para gerar dados para o contou com a participação de 42 fundos de CVC locais.
agronegócio, à IBBX, que imprime longevidade às baterias O levantamento constatou que 58% deles dedicam a esse
ao reciclar a energia perdida. Muitas estão em estágio ini- tipo de investimento até US$ 50 milhões, e 94% esperam
cial de operação. Nem todas possuem relação direta com que a iniciativa possa ajudar a trazer insights estratégicos.
o negócio da Totvs. “Queremos nos manter próximos do A participação relativa do CVC nos investimentos totais
ecossistema de startups, o que estimula a inovação interna de capital de risco mostra o avanço dessa modalidade. De
e ajuda a rejuvenescer a companhia, mas também a lucrar acordo com o Distrito, plataforma de inovação que mo-
com isso”, afirma Dennis Herszkowicz, CEO da Totvs. nitora o ecossistema brasileiro de startups, o número de
Criado em 2021, o CV iDEXO representa o perfil do in- rodadas de investimentos com participação de capital de
vestimento corporativo de capital de risco (ou apenas CVC, risco corporativo saltou de 15, em 2016, para 103 em 2022
na sigla em inglês para corporate venture capital) no Brasil (os dados relativos ao ano completo de 2023 não estavam
hoje. Sete em cada dez deles têm menos de quatro anos de disponíveis até o fechamento desta reportagem). Em ter-
vida, segundo uma pesquisa do Global Corporate Venturing mos percentuais, a participação de CVCs na quantidade
Institute, organização que acompanha os investimentos de aportes no Brasil atingiu 12,3% no primeiro trimestre
corporativos de risco no mundo, a que Época NEGÓCIOS em 2023 – o maior patamar histórico. Em 2022, chegou a
teve acesso com exclusividade. Com mais fundos em ope- 10,9%. De acordo com a mesma pesquisa, os fundos locais
ração, e transações com cheques mais altos, o mercado de CVC movimentaram US$ 1,3 bilhão em 2021. Isso repre-

34
INÊS 249

sentou um salto de 419% em relação a 2020. A queda de 47% por ano. Hoje apenas 35% dos fundos estão sediados no
em 2022 reflete as turbulências econômicas globais, que Canadá ou nos Estados Unidos, onde esse modelo surgiu
também obrigaram os grandes fundos de venture capital a e ganhou tração. Nos anos 1970, a americana ExxonMobil
investir com mais austeridade. Esse movimento não anula investiu em 37 startups de setores distintos. Foi a maneira
a expansão robusta de 2016 em diante. Naquele ano, os que a gigante de petróleo e gás encontrou para se aventurar
fundos de CVC do Brasil movimentaram US$ 73,6 milhões. em outros setores. Instituído em 1991, o Intel Capital tem
Só nos três primeiros trimestres de 2023, registrou-se um como foco investir em startups que estão ajudando a moldar
volume quase quatro vezes maior. o futuro da computação, algo que afeta diretamente o core
A relevância de fundos de CVC no ecossistema de business da multinacional. Com o tempo, tornou-se mais
inovação está consolidada em mercados mais maduros. comum encontrar exemplos em outros setores e regiões
Diversas startups que se converteram em unicórnios, por do mundo. Fundado em 2013, o Distil Ventures, do qual a
sinal, devem muito aos fundos de CVC (leia quadro). Um britânica Diageo é a principal investidora, tem o propósito
dos principais investidores da ZongMu Technology, por de fomentar o desenvolvimento de novos tipos de bebidas.
exemplo, a maior desenvolvedora de sistemas para veícu- Para as startups que abraça, o fundo de CVC injeta de 250
los autônomos da China, com US$ 11,4 bilhões em valor mil a 10 milhões de libras. Uma das contempladas produz
de mercado, é a Qualcomm Ventures. Ligado à fabricante o Seedlip. Trata-se do primeiro destilado não alcoólico do
americana de semicondutores e softwares para conexões mundo de que se tem notícia.
sem fio, este fundo tem mais de US$ 2 bilhões em ativos e O maior do gênero é o Google Ventures. Fundado em
um portfólio com mais de 150 companhias. 2009, tem mais de US$ 10 bilhões de ativos sob gestão. Di-
A estratégia ganha novas adesões em diversos setores e versos unicórnios receberam aportes dele. É o caso da Gusto
em vários pontos do planeta. Boa parte dos fundos de risco e da Snyk. A primeira, cujo valuation é de US$ 10 bilhões,
desse tipo no mundo – 40% deles – surgiu a partir de 2020 auxilia no processamento de pagamentos e benefícios de
– e a maioria realiza, em média, mais de quatro negócios funcionários. Com valuation de US$ 7,4 bilhões, a Snyk ajuda

Foto: Getty Images


35
INÊS 249

INOVAÇÃOABERTA CENÁRIO

JOVENS E ATIVOS
BOA PARTE DOS FUNDOS DE CORPORATE VENTURE CAPITAL ACELEROU SUAS ATIVIDADES A
PARTIR DE 2020 – E A MAIORIA REALIZA, EM MÉDIA, MAIS DE QUATRO NEGÓCIOS POR ANO

59 %
dos fundos têm
57 %
investem em empresas

75
menos de em estágio inicial

% US$ 100 milhões – em 2023, 48%

56 %
sob gestão afirmaram o mesmo
dos investimentos
miram empresas com
miram o mesmo
sede nos Estados
nível de retorno
Unidos e no Canadá,
financeiro que
embora apenas 35%
fundos tradicionais
dos fundos estejam
de venture capital
sediados nesses países

20 %
dos fundos estão sediados
na América Latina – atrás de
47 %
investem em outros fundos de
venture capital, para acesso à
Estados Unidos e Canadá (35%), expertise de especialistas, a

40% 42%
Europa (23%) e empatado novas regiões ou a empresas
com Ásia e Pacífico (20%) em estágio inicial

dos fundos de CVC realizam entre quatro


no mundo* têm menos e seis investimentos
de quatro anos de por ano – 23% fecham
vida – 43% surgiram mais de sete negócios
entre 2015 e 2019 no mesmo período

* Pesquisa que considerou 500 entrevistados


de 363 fundos de todos os continentes

SETOR DE ORIGEM* (em %)


DE ONDE VÊM E
35 24 23 20 17 17 13 10 7 7
PARA ONDE VÃO
AS EMPRESAS QUE INVESTEM EM
CAPITAL DE RISCO NO MUNDO ESTÃO
RIA

RA

Ç AS

TI

RT E

DE

IA

ES

BEM DISTRIBUÍDAS ENTRE DIVERSOS


UM

VIÇ

MÍD

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SER
NS

NS

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FIN
ST R
IND

CO

SETORES E PORTES
TRA

MU
RAE

EC O
INF

TEL
AE
RG I
ENE

* Cada respondente indicou um ou mais setores de origem por


CVC, de acordo com a abrangência da atuação de cada companhia
e da quantidade de empresas patrocinadoras por CVC
36
Fonte: Global Corporate Venturing Institute
INÊS 249

FATURAMENTO DAS EMPRESAS COM CVC (em %) AS 10 FRENTES QUE MAIS CONCENTRAM
INVESTIMENTOS* (em %)
33
30 Tecnologia da informação 48

Transporte e logística 45

Energia e infraestrutura 42
19
Finanças 39

11 Agricultura e alimentos 30

Varejo 29
5
2 Saúde 29

MENOS DE US$ 1 BI A US$ 10 BI A US$ 5O BI A US$ 100 BI A US$300 BI Ciências da vida 22


US$ 1 BI US$ 10 BI US$ 50 BI US$ 100 BI US$ 300 BI OU MAIS
*Pergunta de múltipla escolha
Fonte: Global Corporate Venturing Institute

APOSTA DE BILHÕES
OS MAIORES UNICÓRNIOS QUE RECEBERAM APORTES DE FUNDOS DE CVC

ZONGMU
GUSTO TALKDESK SUMUP LACEWORK
TECHNOLOGY
O QUE FAZ O QUE FAZ O QUE FAZ O QUE FAZ O QUE FAZ
Maior desenvolvedor de Auxilia no processamen- Criou um software de É conhecida pelas Fornece segurança
sistemas para veículos to de pagamentos e be- call center em nuvem maquininhas de para armazenamento
autônomos da China nefícios de funcionários para companhias pagamento quadradas em nuvem
VALUATION VALUATION VALUATION VALUATION VALUATION
US$ 11,4 bilhões US$ 10 bilhões US$ 10 bilhões US$ 8,5 bilhões US$ 8,3 bilhões
PRINCIPAL PRINCIPAL PRINCIPAL PRINCIPAL PRINCIPAL
INVESTIDOR INVESTIDOR INVESTIDOR INVESTIDOR INVESTIDOR
Qualcomm Ventures Google Ventures Salesforce Ventures American Express Ventures Liberty Global Ventures

FALCONX SNYK BLOCKCHAIN.COM CONSENSYS TOSS


O QUE FAZ O QUE FAZ O QUE FAZ O QUE FAZ O QUE FAZ
É uma corretora Ajuda empresas guiadas Oferece serviços Empresa de software Plataforma de
de ativos por software a se financeiros para o que faz uso de serviços financeiros
digitais manterem seguras universo cripto blockchain móveis
VALUATION VALUATION VALUATION VALUATION VALUATION
US$ 8 bilhões US$ 7,4 bilhões US$ 7 bilhões US$ 7 bilhões US$ 7 bilhões
PRINCIPAL PRINCIPAL PRINCIPAL PRINCIPAL PRINCIPAL
INVESTIDOR INVESTIDOR INVESTIDOR INVESTIDOR INVESTIDOR
Liberty Global Ventures Google Ventures Google Ventures Coinbase Ventures Qualcomm Ventures

Fonte: CB Insights
37
INÊS 249

INOVAÇÃOABERTA CENÁRIO

empresas guiadas por software a se manterem seguras. Das oportunidades de inovação interna. “Com o CVC, che-
mais de 400 startups que receberam cheques do Google garemos mais rápido a um portfólio de tecnologias que
Ventures, 65 chegaram ao IPO. Por exemplo? A Uber, que podem transformar o nosso negócio”, diz Julio Ramundo,
dispensa apresentações, e a GitLab, uma plataforma que diretor da Suzano Ventures. Fundado há dois anos, o
se vale de IA para garantir a segurança de todas as fases braço de capital de risco da maior fabricante de celulose
do ciclo de desenvolvimento de softwares. do mundo tem como metas incentivar a substituição
Especializada em soluções de gestão de relacionamento de matérias-primas de origem fóssil por alternativas
com clientes, a Salesforce criou o seu CVC no mesmo ano renováveis e de baixo carbono e o desenvolvimento de
que o Google. Chamado de Salesforce Ventures, investiu embalagens sustentáveis, entre outras. Estão previstos
mais de US$ 5 bilhões em quase 400 startups. Uma delas é US$ 70 milhões em investimentos. “A Suzano se vê como
a Talkdesk, que criou um software de call center em nuvem uma startup de cem anos”, acrescenta Ramundo. “Por
para companhias (valuation: US$ 10 bilhões). Do total de isso, precisa acelerar o acesso à inovação em escala glo-
empresas que caíram nas graças do fundo, 30 já abriram bal, para além de suas próprias atividades de pesquisa
o capital. É o caso do Zoom, do Dropbox e do DocuSign. e inovação.”
De 2009 para cá, o Salesforce Ventures já revendeu sua Assim como ocorre em diversas partes do mundo,
participação em mais de 140 companhias. também no Brasil fundos de venture capital e os corpora-
tivos volta e meia jogam no mesmo time, mesmo que com
VIDA PRÓPRIA propósitos distintos. Conhecida pelas maquininhas de
De acordo com a pesquisa realizada pelo Global Corpo- pagamento quadradas, a SumUp, unicórnio com valuation
rate Venturing Institute, as estruturas que estão sendo de US$ 8,5 bilhões, recebeu aporte tanto da Bain Capital
criadas no Brasil em geral são enxutas e operam de acordo e do Goldman Sachs quanto do braço de capital de risco
com suas próprias regras. Para 44% delas, existe uma da American Express. As cifras concedidas por corpora-
entidade legal separada e verba totalmente comprometida ções, no entanto, não raro remetem ao chamado “smart
com autonomia operacional significativa. Esses times têm money”. “Os fundos de venture capital geralmente abrem
menos de dez pessoas em 71% dos casos. E 83% dispõem a carteira e acompanham os resultados à distância”, diz
de um head de CVC. Quase a metade (48%) trabalha em o presidente da ABCVC. “Já os corporativos costumam
estreita colaboração com universidades e laboratórios se colocar à disposição das startups para ajudá-las a
nacionais, e 45% dispõem de programas para aproveitar conquistar mercado.”

COM PROPÓSITOS DISTINTOS,


FUNDOS DE VENTURE
CAPITAL TRADICIONAL E
CORPORATIVOS VOLTA E MEIA
JOGAM NO MESMO TIME

38
INÊS 249

EM MERCADOS COM
INVESTIDORES MAIS
MADUROS, DIVERSAS
STARTUPS QUE SE TORNARAM
UNICÓRNIOS TIVERAM
IMPULSO DE FUNDOS DE CVC

“Um CVC, se bem explorado, carrega a credibilidade de e da Positivo, entre outras. Gerido pela M8 Partners e sob
seus ‘sponsors’, o que já ajuda a alavancar as startups”, diz o comando de Marcella Ceva, que exerce o cargo de chief
Pedro Meduna, cofundador do L4 Venture Builder. Criado investment officer, o fundo só investe em startups com pelo
há dois anos, o fundo é ligado à B3, que se comprometeu menos uma mulher na liderança – 20% de participação
a direcionar R$ 600 milhões a ele, e é gerido de maneira feminina é outro pré-requisito.
independente. Aposta, principalmente, em startups que Os aportes variam de R$ 1 milhão a R$ 5 milhões. “Um
tragam inovações relativas a finanças descentralizadas, dos objetivos da Microsoft é fomentar o ecossistema de
tokenização de ativos e por aí vai. “A B3 quer estar próxima startups, no qual só víamos iniciativas masculinas”, diz
de ‘teses’ que sejam adjacentes ao negócio principal dela e Franklin Luzes, COO da Microsoft Participações. Trata-
que tenham grande potencial de crescimento ao longo dos -se do braço da companhia responsável pelos aportes em
anos”, explica Meduna. fundos de capital de risco. “Dispomos de tecnologia para
Na Totvs, os recursos estão a cargo de uma gestora in- ajudar qualquer startup a ganhar escala global”, acrescenta
dependente, a Citrino Ventures, que tem carta branca para o executivo. Eis outra das razões que levam a empresa de
alocá-los nas startups que julgar mais promissoras. “Todo Bill Gates a se aventurar no CVC.
fundo de venture capital (VC), inclusive os corporativos, Com uma série de desafios pela frente, há motivos
precisa ser tão agressivo quanto o necessário e ter como para acreditar que o movimento dos fundos de CVC deve
objetivo o retorno do dinheiro investido”, afirma Hersz- continuar a ganhar tração, como indicam as trajetórias de
kowicz, justificando a decisão de colocar o CV iDEXO nas empresas dos mais diversos setores no país (veja os perfis
mãos de especialistas no assunto. “Intuitivamente, diria que na pág. 42). Outra pista vem da pesquisa elaborada pelo
os fundos de CVC geridos internamente pelas companhias Global Corporate Venturing Institute: gestores brasilei-
tendem a ser mais conservadores.” ros reservaram capital suficiente para rodadas futuras
Casos de fundos que concentram recursos de diversas de startups que entraram para o portfólio. Cerca de 47%
companhias não são raros. É o que se vê no WE Ventures, deles separaram mais de 20% de seus recursos para isso.
criado pela Microsoft. Metade dos R$ 60 milhões captados Se buscar o risco é uma subversão das regras tradicionais
já foram injetados em startups – o dinheiro veio da gigante de grandes empresas, um grupo crescente de líderes parece
de tecnologia, da Multilaser, da Porto Seguro, da Suzano ter disposição para estabelecer uma nova ordem.

39
INÊS 249

INOVAÇÃOABERTA CENÁRIO

ASCENSÃO NO BRASIL
COM A CRIAÇÃO DE MAIS FUNDOS, O CORPORATE VENTURE GANHOU
PARTICIPAÇÃO NO TOTAL DE APORTES DE CAPITAL DE RISCO NO PAÍS

PARA ONDE VAI O DINHEIRO 45


RODADAS
Os setores que mais atraem o capital de risco das empresas
(entre 2011 e 2023) 34
RODADAS

18 18 14
RODADAS 16 RODADAS 12 RODADAS
12 RODADAS 13 RODADAS
RODADAS RODADAS
US$ 157,5
US$ 95,1 US$ 98,9 US$ 101,1 US$ 108,8 milhões
US$ 44,8 US$ 56,8 milhões milhões milhões milhões
US$ 19,1 US$ 25 milhões
milhões milhões
milhões
EnergyTech HRTech EdTech MarTech Mobilidade InsurTech AgTech FoodTech HealthTech

TOTAL INVESTIDO NO BRASIL POR CVCs REPRESENTATIVIDADE DO CVC NO BRASIL


(em US$ milhões) No volume total de venture capital
1.360,9
APORTES (EM %) TOTAL INVESTIDO
(EM %)
12,3
10,9 10,9
925,2
20,9
8 8,3
16,5
13,7

248,4 261,9 268,8 8,1 7,2

2019 2020 2021 2022 2023* 2019 2020 2021 2022 2023*

* até o terceiro trimestre


Fonte: Distrito

40
INÊS 249

75 %
dos fundos de capital de
88
RODADAS
COMO ESTÃO ORGANIZADOS OS CVCs
Os principais modelos de operação para os investimentos
risco corporativo no Brasil

10
foram criados a partir de
2020 – 20% surgiram
entre 2015 e 2019
% Capital vem do caixa da companhia,
com uma área dedicada sem relação
direta com a agenda do negócio
Fonte: Global Corporate US$ 1.061,9

13%
Venturing Institute milhões
Capital vem do caixa da
companhia sem uma
área dedicada, com
42 US$ 773 investimentos esporádicos
milhões

15%
RODADAS
Capital vem do caixa da
companhia, mas existe uma
área de CVC dedicada, guiada
por prioridades do negócio
21
RODADAS

US$ 252,8
milhões
US$ 302,2
milhões
27
RODADAS
18 % Existe uma entidade
separada mas com
gestão da empresa

44 % Existe uma entidade legal


separada e verba totalmente
comprometida, com autonomia
Supply Chain RetailTech Real Estate Fintech operacional significativa

fonte: Distrito Fonte: Global Corporate Venturing Institute

PRIORIDADES REGIONAIS TODOS JUNTOS


Destino dos investimentos de CVC brasileiros Os tamanhos dos times de CVC no Brasil
6 23
3 70 11-20 pessoas 0-2 pessoas
América do América

% %
Norte Latina
16
6-10 pessoas
27
Múltiplas 55
regiões/global 3-5 pessoas

POR QUE INVESTIR


As principais razões pelas quais as empresas se dedicam a CVC no Brasil

94% 77% 58%


consideram importante consideram importante consideram importante ou muito
ou muito importante para ou muito importante para importante para ter acesso e opção
ter insights estratégicos engajamento comercial de criar novos negócios e fazer M&A

Fonte: Global Corporate Venturing Institute

41
INÊS 249

INOVAÇÃOABERTA B R A S I L
MAR 2024

UMA PONTE
PA R A O F U T U R O
AS PRINCIPAIS INICIATIVAS CORPORATIVAS DE VENTURE CAPITAL
NO BRASIL SE ESTRUTURAM COM GOVERNANÇA INDEPENDENTE, FOCO
E PACIÊNCIAPARA ESPERAR OS RESULTADOS

CAROLINE MARINO E MICHELE LOUREIRO

42
INÊS 249

43
INÊS 249

INOVAÇÃOABERTA BRASIL

COM POUCO MAIS de 80 fundos de corporate venture Latina, os primeiros fundos só aparecem em 2020. A razão,
capital ativos, e 75% deles criados nos últimos três anos, nesse caso, foi a necessidade de acelerar a transformação
o Brasil ainda pode ser considerado um novato em termos digital, para atender um consumidor cada vez mais conec-
de investimentos corporativos diretos em startups. Mas tado e concorrer com empresas altamente digitalizadas e
os saltos de quantidade e qualidade dos últimos tempos disruptivas. Mais tarde, a pandemia aceleraria esse pro-
dão indícios de que essa situação pode mudar em breve, cesso – o que explica o crescimento dos CVCs nacionais em
com maior número de CVCs, aumento no volume de capi- 2021, com investimentos da ordem de US$ 1,3 bilhão, e em
tal investido e, principalmente, práticas mais eficientes, 2022, com US$ 925,6 milhões. Explica também o aumento
lucrativas e sustentáveis. da representatividade desse tipo de investimento, que saiu
A relativa imaturidade dos fundos corporativos segue de 7,2%, em 2020, para 16,5% em 2023.
uma evolução histórica. Enquanto nos Estados Unidos Em 2024, tudo indica que os fundos de corporate ven-
as corporações (especialmente nas áreas de petróleo e ture capital estejam próximos de dar mais um salto. No
gás) perceberam ainda nos anos 1970 que precisariam da que se refere à quantidade de fundos, uma projeção feita
parceria com empresas mais jovens para incorporar novas pela Associação Brasileira de Corporate Venture Capital
soluções, no resto do mundo o movimento foi mais lento. (ABCVC) mostra que a perspectiva é de que este mercado
A Europa registra seus primeiros CVCs nos anos 1990; na dobre até 2025. De acordo com Leo Monte, presidente da
Ásia, o movimento começa por volta de 2010. Na América ABCVC, existem hoje cerca de cem fundos corporativos

44
INÊS 249

em formação nas empresas brasileiras, que devem se somar ao early stage e à Série A, como acontecia com frequência
aos 80 já existentes. Já o capital investido também deve até 2022. Outro sinal de maturidade é a capacidade de in-
subir, pois 47% dos gestores separaram mais de 20% de vestir em startups de outros países, em busca de soluções
seus recursos para rodadas futuras (follow ons). que acelerem os negócios da empresa investidora. Uma
A grande transformação, porém, deve acontecer na prática que já atende a grandes nomes da indústria, como
maneira como as empresas operam os fundos. Até 2023, Embraer e Gerdau.
48% dos CVCs reservaram até US$ 50 milhões para investir, Por fim, uma das maiores marcas de um CVC forte,
segundo pesquisa do Global Corporate Venturing Institute independente e capaz de gerar resultados financeiros e
(GCV). Agora, casos exemplares de sucesso no corporate estratégicos é a sua capacidade de operar de maneira autô-
venture capital nacional, como Eurofarma e Vivo, já ultra- noma, com estrutura e governança separadas da empresa-
passam esse limiar – enquanto outros, como Inovabra Ven- -mãe – características de 44% dos fundos que estão sendo
tures, vão bem além disso. Aportes maiores, especialmente formados no Brasil hoje, segundo o GCV. Esse também é
se associados a rodadas com fundos de venture capital, um traço comum a todos os fundos de corporate venture
costumam trazer resultados mais impactantes para as capital que você vai conferir a seguir nesta reportagem.
empresas, com retornos financeiros e estratégicos. Além Descubra nas próximas páginas como agem – e lucram – os
disso, cheques mais robustos fazem com que as empresas fundos corporativos de Eurofarma, Vivo, Basf, Embraer,
possam entrar em rodadas maiores, não se restringindo Gerdau, Sinqia, Inovabra, BV e Banco do Brasil.

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ALÉM DO GENÉRICO
A EUROFARMA TEM DOIS FUNDOS ATIVOS E PREPARA UM
TERCEIRO, VOLTADO PARA STARTUPS DISRUPTIVAS

Primeira farmacêutica a apostar em um fundo corporativo, a Eurofarma, com vendas


superiores a R$ 8 bilhões por ano, já obtém cerca de 30% de suas receitas com produtos
advindos da inovação aberta. E quer ir além. Boa parte dos esforços em lançar produtos
e serviços inovadores está nos dois programas de corporate venture capital (CVC) da
companhia, que somam R$ 545 milhões para investir em startups. “Apostamos na estra-
tégia de aprender com quem já sabe, para não precisar reinventar a roda”, diz Martha
Penna (à esquerda na foto), vice-presidente de Inovação da Eurofarma.
Em 2019, lançou seu primeiro fundo, o Neuron Ventures (de R$ 45 milhões). Focado em
healthtechs, já investiu em dez companhias e está prestes a completar seu ciclo de cinco
anos. Startups como a Ocean Drop, que permite personalizar de
forma simples, rápida e gratuita os suplementos para cada ob-
EMPRESA: Eurofarma jetivo e necessidade do consumidor, e a The Men’s, plataforma
FUNDOS DE CVC: Neuron Ventures (com R$ 45 digital de saúde e qualidade de vida dos homens, estão na lista
milhões) e Eurofarma Ventures (R$ 500 milhões) das contempladas com aportes.
VALOR PARA INVESTIR: R$ 545 milhões
Já o Eurofarma Ventures, anunciado em 2023 e com
INVESTIMENTOS: 14 startups como a Gen-T,
R$ 500 milhões em caixa, é focado em biotecnologia. Até
plataforma de pesquisa do genoma dos brasileiros, e
a Ocean Drop, que permite personalizar suplementos agora anunciou aportes em quatro companhias, três delas
para cada objetivo e necessidade do consumidor nos Estados Unidos. A expectativa é que nos próximos anos
mais 25 biotechs recebam aportes. “Essa é uma área ainda
em desenvolvimento no Brasil. Por isso, fomos buscar par-
ceiros de fora e entramos como minoritários. A ideia é aprender”, diz Martha. A única
companhia brasileira da lista é a Gen-t, fundada pela geneticista, pesquisadora e pro-
fessora Lygia da Veiga Pereira, que está entre os maiores nomes da genética do mundo.
Para 2024, está previsto um terceiro fundo, com características diversas dos seus
antecessores. “O novo fundo, que vamos lançar no ano que vem, está mais ligado ao
horizonte 3 da inovação, é mais disruptivo. Vamos sair do nosso core, que hoje é desen-
volver moléculas e criar medicamentos. A gente precisa olhar para outras áreas, até por
uma questão de vantagem competitiva”, diz Erica Menezes (à direita na foto), head de
Venture Capital Corporativo da Eurofarma (veja entrevista na pág. 86).

Foto: Marcus Steinmeyer


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UM É POUCO, DOIS É BOM


PIONEIRA NO MERCADO DE CVC BRASILEIRO, A VIVO HOJE TEM DOIS FUNDOS
PRÓPRIOS – O WAYRA, DEDICADO A SEED CAPITAL, E O VENTURES, PARA
AJUDAR A EMPRESA A SE TORNAR UM HUB DE SERVIÇOS DIGITAIS

UmdosprimeirosfundoscorporativosdoBrasilnasceudentrodaoperaçãobrasileiradaVivo
em 2011. Mistura de aceleradora e CVC, a Wayra deixou sua marca na história do ecossiste-
ma de inovação brasileiro. Em 12 anos de atuação, fez aportes em 84 startups, uma média de
sete negócios por ano, totalizando R$ 30 milhões. O portfólio atual tem valor de mercado de
R$ 2,3 bilhões. “Deu muito certo”, diz Rodrigo Gruner, diretor-executivo de inovação,
novos negócios e consumer electronics da Vivo. “Hoje temos cases como a Gupy, de ser-
viços digitais de RH, e a Trocafone, de compra e venda de celulares usados, com soluções
usadas amplamente na empresa. Mas em algum momento o grupo viu que poderia ir além
das startups early stage e decidiu criar a Vivo Ventures.”
No corporate venture, estruturado em 2022 com caixa de
R$ 320 milhões, o foco está em investimentos Séries A e B nas
EMPRESA: Vivo verticais consideradas importantes para o desenvolvimento
FUNDOS DE CVC: Wayra e Vivo Ventures de novos negócios: fintechs, healthtechs, edtechs, casa inte-
VALOR PARA INVESTIR: R$ 320 milhões ligente e energia. A meta é consolidar a Vivo como um hub de
INVESTIMENTOS: 88 startups, entre elas a Gupy, de
serviços digitais. Em 2023, a empresa faturou R$ 3,4 bilhões
serviços digitais de RH, no caso da Wayra, e a Conexa,
só em serviços para o setor corporativo – cibersegurança, big
maior ecossistema digital de saúde da América Latina,
no caso da Vivo Ventures data e IoT –, 25% a mais que o ano anterior. Agora a proposta
é fortalecer ainda mais outras frentes de negócios, de tecnolo-
gias para casa inteligente a serviços financeiros.
Até o momento, a Vivo Ventures fez quatro investimentos. Foram R$ 15 milhões
para a Klavi, plataforma de open finance, e outros R$ 10 milhões para o Klubi, que opera
como administradora de consórcios. Houve aportes também na Digibee (R$ 14,3 mi-
lhões), focada em sistemas tecnológicos, e na Conexa (R$ 25 milhões), maior ecossis-
tema digital de saúde da América Latina. “Nunca vamos deixar de investir no core da
organização, em questões como ampliação e construção de rede, mas o foco agora é
entender como criar outras avenidas de crescimento. É nesse contexto que está a Vivo
Ventures”, afirma Gruner.

Foto: Divulgação
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DE OLHO NO BRASIL
MAIOR FABRICANTE DE PRODUTOS QUÍMICOS DO MUNDO, A BASF
BUSCA NA AMÉRICA DO SUL NOVAS OPÇÕES PARA APORTES
DO SEU FUNDO DE CORPORATE VENTURE CAPITAL

Em 2019, a alemã Basf decidiu criar um fundo de comporate venture capital com base
no Brasil. A decisão baseou-se, entre outros pontos, no potencial da América do Sul para
trazer vantagens competitivas à empresa, principalmente considerando a força do seu
agronegócio – uma de suas unidades de negócio mais importantes. Entre as áreas foco
do Basf Venture Capital (BVC) estão a digitalização dos processos, o controle biológico
das pragas e a agricultura regenerativa –, além de um olhar atento aos negócios com
capacidade de impactar positivamente o meio ambiente.
O primeiro investimento da companhia por aqui foi em 2022: a escolhida foi a Traive,
startup com operações no Brasil e nos Estados Unidos que desenvolve infraestrutura
tecnológica para serviços financeiros baseada em inteligência
artificial. A Basf liderou uma rodada de US$ 10 milhões desti-
EMPRESA: Basf nada à empresa. No início de 2024, o Conecta.ag, ecossistema
FUNDO DE CVC: Basf Venture Capital (BVC) digital aberto da empresa, fechou uma parceria com a startup
VALOR PARA INVESTIR: Não revela Grão Direto, plataforma de comercialização de grãos. A Basf
INVESTIMENTOS: 18 startups, duas delas no se tornou sócia com a saída de um acionista minoritário. A
Brasil: a Grão Direto, plataforma de comercialização
iniciativa está voltada para a oferta de soluções digitais para
digital de grãos, e a Traive, startup que desenvolve
infraestrutura tecnológica para serviços a compra e venda de grãos. A Basf Venture Capital também
financeiros baseada em inteligência artificial investiu US$ 4 milhões em um fundo de venture capital ad-
ministrado pela gestora brasileira SP Ventures.
A Basf prefere não revelar o total do investimento no
continente. “Não existe um budget por região ou uma tese específica. Investimos nos
melhores negócios disponíveis globalmente”, diz Karime Hajar, senior investment Ma-
nager da Basf Venture Capital. “Podemos comparar, por exemplo, uma oportunidade
de investimento no Brasil com ofertas semelhantes nos principais hubs de empreende-
dorismo do mundo, como Vale do Silício, Israel e China.”
A executiva explica que as parcerias são sempre feitas com startups mais maduras.
“Participamos de rodadas Séries A e B, sendo que o menor cheque é de US$ 1 milhão”,
afirma. A análise das oportunidades é feita por uma equipe global composta por 17
pessoas distribuídas em diferentes países, incluindo Brasil e Estados Unidos. “Também
estou sempre conversando com as demais áreas da empresa e com fundos de venture
capital e private equity para mapear oportunidades. Essa indústria trabalha muito em
colaboração”, completa.

Foto: Marcus Steinmeyer


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O FUTURO É AGORA
A EMBRAER VENTURES BUSCA INVESTIR EM STARTUPS QUE ESTÃO
CONSTRUINDO NOVAS SOLUÇÕES COM FOCO EM ÁREAS COMO EMISSÃO
ZERO, VOO AUTÔNOMO, INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E INDÚSTRIA 4.0

Na Embraer, o programa de corporate venture capital, com um cheque de R$ 225 mi-


lhões, é mais do que uma estratégia para aproximar a empresa de startups inovadoras.
O fundo também tem como missão fazer com que a companhia lidere tendências que
podem se tornar dominantes em determinadas áreas nos próximos anos. “Quando
olhamos para o futuro, não sabemos exatamente o que esperar, mas o CVC nos per-
mite entrar em mercados que estão experimentando o futuro agora”, diz Leonardo
Garnica, líder de inovação corporativa da Embraer.
O Embraer Ventures, criado em 2014, contempla três fundos, dois deles sediados
no Vale do Silício e um no Brasil. “Não podemos fazer 20 joint ventures, mas com o
Embraer Ventures já conseguimos investir em 40 empresas,
sendo que em 27 delas temos o aporte em andamento”, afirma
EMPRESA: Embraer Garnica. “Assim conseguimos acelerar o entendimento de
FUNDO DE CVC: Embraer Ventures novas tecnologias e a participação em frentes fundamentais
VALOR PARA INVESTIR: R$ 225 milhões para nossos negócios.”
INVESTIMENTOS: 40 startups (27 com aporte
As apostas começaram em 2014, com um fundo que ti-
em andamento) como XMobots, referência em
nha parceiros como BNDES e Finep, e ultrapassaram as
desenvolvimento de robótica móvel e drones, e
Tempest, especializada em cibersegurança fronteiras brasileiras nos últimos anos, com aportes que
partem do Vale do Silício para o mundo. “Nossa taxa de
retorno atual é de duas vezes o valor investido. Isso sem
contar a questão estratégica”, explica o executivo. A Embraer já investiu em startups
com soluções focadas em emissão zero, voo autônomo, inteligência artificial, indús-
tria 4.0, segurança cibernética e experiência do passageiro. Entre os exemplos estão a
XMobots, referência em desenvolvimento de robótica móvel e drones, a Tempest, es-
pecializada em cibersegurança, e a Elroy Air, para transporte não tripulado de cargas
aéreas. A empresa aderiu ao Sustainable Flight Fund, uma iniciativa da United Airlines
Ventures (UAV), para impulsionar o fornecimento e a disponibilidade de combustível de
aviação sustentável (SAF), por meio de investimentos em startups inovadoras. O fundo
conta com 22 parceiros que vão aportar US$ 200 milhões.

Foto: Arthur Nobre


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ALVOS DENTRO
E FORA DO PAÍS
COM ATUAÇÃO GLOBAL, A GERDAU AMPLIOU A BUSCA DE STARTUPS
PARA PAÍSES COMO OS ESTADOS UNIDOS E O MÉXICO

Em 2020, a centenária siderúrgica Gerdau decidiu diversificar sua ação em áreas como
construção, sustentabilidade, mobilidade e tecnologia. Para isso criou um braço de negó-
cios, o Gerdau Next, voltado exclusivamente para o desenvolvimento de novos produtos.
Além do trabalho em colaboração com universidades e corporações, a divisão se apoia no
Gerdau Next Ventures, fundo de corporate venture capital criado para acelerar a transfor-
mação da companhia, que faturou R$ 82,4 bilhões em 2022.
Com atuação global, a Gerdau também ampliou a busca de startups para outras regiões
do mundo: com isso, chegou a analisar 1,5 mil oportunidades em 2023. Com caixa inicial de
US$ 80 milhões, a empresa investiu todo o montante em dez empresas. Entre as escolhidas
estão as americanas Plant Prefab, especializada na construção
de casas pré-fabricadas com premissas sustentáveis, e a Docket,
EMPRESA: Gerdau que atua na busca, gestão e pré-análise de documentos jurídicos
FUNDO DE CVC: Gerdau Next Ventures para agilizar o processo de venda, incorporação e construção.
VALOR PARA INVESTIR: inicialmente US$ 80 milhões. “Esse investimento reflete nosso compromisso em impulsionar
A empresa não revela o valor dos próximos fundos o crescimento do mercado de casas pré-fabricadas sustentá-
INVESTIMENTOS: dez empresas, como a Aifleet, que
veis”, diz Juliano Prado, vice-presidente da Gerdau e líder da
atua com gestão inteligente de frota, e a Plant Prefab,
especializada na construção de casas pré-fabricadas Gerdau Next. Esta última participou do programa de acelera-
com premissas sustentáveis ção da companhia em 2021 e recebeu dois investimentos de lá
para cá: um minoritário, no início, e um mais robusto, de R$ 110
milhões, numa rodada liderada pela Gerdau Ventures em par-
ceria com a Inovabra Ventures, o braço de venture capital do Bradesco.
A empresa não revela quanto pretende investir em novos fundos. Mas as buscas por
oportunidades continuarão intensas, explica Arthur Alves (foto), líder da Gerdau Next
Ventures. “Tornou-se uma iniciativa perene na companhia”, afirma Alves. Segundo o exe-
cutivo, os planos da corporação incluem um olhar mais criterioso para as questões de
sustentabilidade, com o objetivo de reduzir as emissões para 0,82 tonelada de CO2 por
tonelada de aço até 2031, e atingir a neutralidade em 2050.

Foto: Divulgação
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SEM FRONTEIRAS
CRIADO EM 2021, O CVC DA SINQIA JÁ INVESTIU MAIS DE R$ 30 MILHÕES EM
STARTUPS – O PRÓXIMO PASSO É EXPANDIR PARA A AMÉRICA LATINA

A Sinqia, empresa de tecnologia para o setor financeiro, já colheu resultados concretos


de seus investimentos em inovação aberta: uma economia de R$ 1,5 milhão em processos
mais eficientes, de 2022 até o início de 2024, e um acréscimo de R$ 4 milhões na receita
em 2023. Boa parte desses valores foi gerada por meio do Torq, programa de corporate
venture capital (CVC) da companhia, que teve uma receita líquida de R$ 616,5 milhões
em 2022 (a empresa não disponibilizou os resultados de 2023).
Criado em 2021, o fundo tem como meta funcionar como um radar das tecnologias
que estão despontando e podem ser utilizadas para melhorar a operação e diversificar
seu portfólio. “É uma estratégia para estar à frente dos movimentos do mercado e tra-
zer elementos de fora para questões que não conseguiríamos
resolver internamente, por falta de tempo ou expertise”, diz
EMPRESA: Sinqia Juliana Innecco, head do Torq Ventures. A iniciativa recebeu
FUNDO DE CVC: Torq R$ 50 milhões para investir em startups, e gastou R$ 40 mi-
VALOR PARA INVESTIR: Não revela lhões nos primeiros dois anos. Para a próxima fase, a Sinqia
INVESTIMENTOS: quatro startups, como não abre o montante, mas garante que o caixa é mais robusto.
a Data Rudder, startup de IA especializada
Um dos destaques é a parceria com a catarinense CashWay,
em prevenção a fraudes, e a CashWay,
startup voltada ao banking as a service startup voltada ao banking as a service (BaaS). Em 2021, a
Sinqia investiu R$ 1,5 milhão na empresa, com o intuito de
atender às cooperativas de crédito. A ideia é oferecer uma
plataforma com serviços como hub de pagamentos, compliance, Pix e open finance.
Já em 2022, investiu R$ 3,1 milhões na Data Rudder, startup de IA que desenvolveu
algoritmos capazes de detectar fraudes em transações Pix, por exemplo.
As startups passam pela avaliação de um comitê formado por conselheiros da em-
presa, investidores e especialistas, de acordo com a área da possível investida. “A alta
liderança precisa acreditar no CVC e entender que é um investimento de longo prazo,
e há riscos. Do contrário, será visto como despesa. E quando as coisas ficam difíceis, as
despesas são as primeiras a serem cortadas”, diz.
Em novembro de 2023, a Sinqia foi comprada pela fintech Evertec, com sede em
Porto Rico e valor de mercado de US$ 2,6 bilhões. Com a fusão, o Torq agora deverá
rever os segmentos que ganharão foco nas próximas rodadas. Outro passo é iniciar a
expansão do CVC para a América Latina.

Foto: Marcus Steinmeyer


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RETORNO ESTRATÉGICO
E FINANCEIRO
COM O INOVABRA VENTURES, O BRADESCO JÁ INVESTIU R$ 1 BILHÃO
EM 20 EMPRESAS – E DESCOBRIU QUE PODE RESOLVER PROBLEMAS
DO NEGÓCIO E GANHAR DINHEIRO AO MESMO TEMPO

Mapear o passado de pessoas físicas e jurídicas é um processo que costumava levar dias
dentro do Bradesco. Em breve poderá ser feito em até cinco minutos. A mudança se
tornou possível depois que o banco usou seu fundo de corporate venture para investir
R$ 17 milhões na Exato Digital, plataforma de checagem de background que usa inteli-
gência artificial para acelerar processos. Nos últimos sete anos, outras 19 startups também
receberam aportes do Inovabra Ventures – braço de CVC da Inovabra, o hub de inovação
do banco –, levando o valor total dos aportes a R$ 1 bilhão.
Rafael Padilha, diretor de Private Equity e Venture Capital do Bradesco, afirma que os
retornos têm sido acima do esperado. “Além dos ganhos financeiros, conseguimos aproxi-
mar a organização do ecossistema de inovação para acelerar a
adoção de novas tecnologias. Tanto que grande parte das nos-
EMPRESA: Bradesco sas investidas têm o Bradesco ou companhias do grupo como
FUNDO DE CVC: Inovabra Ventures cliente ou parceiro”, diz.
VALOR PARA INVESTIR: Dedicou R$ 1 bilhão em sete anos Com um dos maiores programas de corporate venture ca-
INVESTIMENTOS: 20 startups, como a Tenchi Security,
pital (CVC) do país, o banco mantém um time de 15 profissio-
empresa especializada em gestão de riscos cibernéticos
nais atuando como olheiros, em busca de oportunidades no
de terceiros, e a Exato Digital, plataforma de checagem de
background que usa inteligência artificial venture capital. No começo de 2024, a gestora aportou R$ 35
milhões na Tenchi Security, especializada em gestão de riscos
cibernéticos de terceiros, que monitora as relações com for-
necedores de tecnologia em tempo real. O investimento foi feito em conjunto com a L4
Venture Builder, veículo de VC da B3, e a Accenture. “O fundo prioriza verticais que tan-
genciam as atividades do Bradesco ou que solucionam necessidades específicas. Alguns
exemplos de setores alvo são big data, IA, agtechs, saúde, seguros, meios de pagamentos e
cibersegurança”, diz o executivo.
Para Padilha, apesar de ainda estar em estágio inicial no Brasil, o mercado de corporate
venture deve crescer devido à grande sinergia entre as iniciativas de inovação aberta das cor-
porações e as startups. Mas há pontos de atenção. “Os desafios passam por formar e manter
equipes especializadas, educar os colaboradores, estabelecer metas e alinhar expectativas
compatíveis com um investimento de longo prazo. E, principalmente, desenvolver métricas
que considerem não apenas o retorno financeiro, mas também o estratégico”, finaliza.

Foto: André Lessa


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UMA REDE DE NEGÓCIOS


O BANCO BV CONTA COM 250 EMPRESAS CONECTADAS,
13 INVESTIDAS E 40 CONTRATOS ATIVOS

Entre as iniciativas do Banco BV para se aproximar de startups está o BVx, ecossistema


de inovação e parcerias digitais criado em 2023, com atuação em frentes como corporate
venture capital, inovação aberta, open finance, banking as a service e relacionamento com
o ecossistema brasileiro. “Com o CVC, é possível acelerar o tempo e os movimentos, e
testar rapidamente soluções e ferramentas. É um ótimo meio de trabalhar com as incerte-
zas”, afirma Eduardo Brussi, co-head de M&A, CVC e gestão de portfólio do BV. No radar
da instituição estão temas como tokenização, blockchain, inteligência artificial generativa
e todas as questões relacionadas ao real digital (Drex).
Os resultados já aparecem. Em 2023, a empresa fechou quatro vezes mais parcerias
com startups do que no ano anterior, e a conversão de negócios
conectados em contratos ativos foi de quase 80%. Atualmen-
EMPRESA: BV te, são 250 empresas conectadas, 13 investidas e 40 contratos
FUNDO DE CVC: BVx ativos. Um dos projetos de maior sucesso é o investimento no
VALOR PARA INVESTIR: Não revela Portal Solar. Depois de um aporte inicial em 2019, a empresa
INVESTIMENTOS: 13 empresas, como a Méliuz,
foi adquirida em 2021. Como resultado, o BV alcançou uma
plataforma de descontos e cashback, a Facio, que
carteira de crédito de quase R$ 5 milhões. Outro destaque foi
faz antecipação de salário e programas de educação
financeira para funcionários, e a Deep ESG o aporte na fintech israelense Innovative Assessment, que
fornece uma solução inovadora de score de crédito e já gerou
mais de R$ 100 milhões em contratos novos ao BV. Brussi cita
ainda a Dr. Cash, fintech de crédito especializada no setor de beleza e bem-estar, que até
agora gerou uma carteira em torno de R$ 330 milhões em financiamentos de procedimen-
tos odontológicos, estéticos e oftalmológicos.
Segundo o executivo, em 2023 foram analisadas em torno de 1,2 mil empresas – des-
tas, pelo menos 900 procuraram o BV. Para descobrir novas oportunidades, o executivo
está sempre em contato com os times. “Sou como uma antena interna para identificar
dores, problemas e possíveis soluções”, afirma.

Foto: Divulgação
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RISCO CALCULADO
O BB VENTURES JÁ INVESTIU EM 49 EMPRESAS, TODAS
STARTUPS QUE JÁ VALIDARAM SEUS PRODUTOS

Para melhorar os produtos e serviços que apoiam a cadeia do setor agrícola, o Banco do
Brasil investiu recentemente R$ 20 milhões na startup Traive, que desenvolve infraestru-
tura tecnológica para serviços financeiros. A fintech criou uma plataforma dedicada ao
agronegócio, o que deve ajudar o banco a conceder crédito para o setor. Esta foi a empresa
de número 49 a receber aportes dos cinco programas de Corporate Venture Capital (CVC)
da instituição, que, juntos, somam R$ 200 milhões. A gestão do BB Ventures é terceirizada
para a Vox Capital.
“Sabemos que os desafios nem sempre serão solucionados dentro de casa”, diz
Rodrigo Vasconcelos, diretor de negócios digitais do Banco do Brasil. “Mais do que o
potencial de integração das soluções da startup com as nos-
sas operações, buscamos empreendedores alinhados à nos-
EMPRESA: Banco do Brasil sa visão de futuro.” O BB possui três fundos multicotistas e
FUNDOS DE CVC: BB Ventures composto por 5 fundos dois exclusivos e, desde 2020, realiza aportes em fintechs,
(três multicotistas e dois exclusivos) agtechs e govtechs. Na lista estão nomes como Yours Bank,
VALOR PARA INVESTIR: R$ 200 milhões (total) plataforma que incentiva a educação financeira de jovens;
INVESTIMENTOS: 49 startups como a Yours Bank,
BWS/Bitfy, de soluções de infraestrutura de blockchain e to-
plataforma que incentiva a educação financeira de
kenização de ativos; e Aprova Digital, que otimiza processos
jovens; BWS/Bitfy, de soluções de infraestrutura de
blockchain e tokenização de ativos administrativos de prefeituras, secretarias e autarquias.
Para Vasconcelos, o mercado de CVC brasileiro vive
uma fase de crescimento expressivo, pois as teses de inves-
timento desses programas são mais resilientes aos ciclos macroeconômicos. Visando
menos riscos, o banco aposta apenas em startups nos estágios seed e série A, que
já possuem modelos de negócios e produtos validados, com clientes utilizando as
soluções e geração de receita ativa. “Estamos sempre buscando um posicionamento
de vanguarda, mas queremos ter certeza da rentabilidade dos investimentos realiza-
dos”, diz o executivo.

Foto: Fernanda Coutinho


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INOVAÇÃOABERTA G UI A D O CV C
MAR 2024

U M F U N D O PA R A
CHAMAR DE SEU
DA ESTRUTURA DE GOVERNANÇA AO DESEMPENHO DO PORTFÓLIO,
CONHEÇA AS ESTRATÉGIAS FUNDAMENTAIS QUE GRANDES EMPRESAS
BRASILEIRAS TÊM USADO PARA INVESTIR EM STARTUPS

THOMAZ GOMES
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INOVAÇÃOABERTA GUIA DO CVC

O
O MUNDO CORPORATIVO e o universo de venture ca- Monte, presidente da Associação Brasileira de Corpo-
pital, em essência, guardam diferenças aparentemente rate Venture Capital (ABCVC).
inconciliáveis. Ao longo da história, grandes companhias Para Peter Seiffert, CEO da Valetec Capital, uma das
moldaram suas estratégias para evitar riscos e se tornarem principais gestoras de CVC do país, a tendência é que as
especialistas em fazer mais e melhor do mesmo – e não ne- estratégias de corporate venture capital se tornem uma
cessariamente fazer diferente. Gestores de capital de risco, disciplina obrigatória para encontrar novas vantagens
ao contrário, são especialistas em farejar modelos de negó- competitivas em grandes cadeias de negócio. A conso-
cios inovadores com alto potencial de crescimento – capa- lidação desse panorama, no entanto, passa pela incor-
zes, em última análise, de mudar setores inteiros. O risco, poração de novos pilares de cultura e governança entre
no entanto, está sempre lá e faz parte do jogo. as companhias do país. “A dinâmicas de corporações
Apesar das diferenças, a complementariedade é e startups apresentam grandes assimetrias. É preciso
enorme e inevitável: grandes empresas precisam da criar mecanismos bem estruturados para equilibrar a
inovação das startups e as startups ganham muito agilidade dos empreendedores com os níveis de risco
com o impulso das grandes. Lidar com os desafios des- que podem ser assumidos por cada corporação”, afirma.
se dilema se coloca como algo imperativo em todos os A seguir, veja as principais estratégias para criar,
setores. “Embora exista muito interesse e vontade de capturar valor e acelerar a incorporação de iniciativas
explorar o formato, muitas corporações ainda estão de corporate venture capital nas mais diversas camadas
aprendendo a lidar com esse universo”, afirma Leo de uma organização.

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P O NTO DE PAR TIDA


AS ETAPAS ESSENCIAIS PARA ESTRUTURAR UM PROJETO DE CORPORATE VENTURE CAPITAL

SEIS PASSOS
PARA COMEÇAR
O C I C LO I D E AL D O CVC E NVO LV E O MA P E A M E N TO DE P R I O RIDA DES EST RAT É GI CAS , A
FO R M AÇ ÃO D E RE D ES D E CO NTATOS E A E LA BO R A ÇÃ O DE P L A N EJA M E N TOS D E LO N G O PRAZO

1 3 5
DEFINA A TESE DE INVESTIMENTOS MAPEIE OS INDICADORES FOQUE NO LONGO PRAZO
Eis a pedra fundamental para criar e desen- A partir dos direcionadores levantados Os retornos (diretos e indiretos)
volver uma estratégia consistente de CVC: na tese de investimentos, é sobre investimentos em startups
definir os detalhes do perfil do investimento fundamental estabelecer os indicadores podem levar anos para acontecer. É
a ser feito. O processo envolve a definição que serão usados para monitorar necessário se comprometer com os
de fatores como o volume de recursos o desempenho dos investimentos recursos planejados e aceitar essa
alocados, o tipo de negócio a ser conside- no curto, no médio e no longo dinâmica para manter o apoio ao
rado, a proposta de valor para startups e prazo – e fazer eventuais correções programa durante os ciclos estipulados
objetivos estratégicos da organização. de rota ao longo do caminho. para cada fundo ou aporte.

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ENGAJE A LIDERANÇA INVISTA EM NETWORKING SEGMENTE A ESTRATÉGIA
O sucesso de uma iniciativa de corporate Assim como o venture capital Diferentemente do modelo
venture capital está diretamente ligado tradicional, o CVC é um jogo de tradicional de fusões e aquisições,
à sua incorporação na cultura e nos acesso: os melhores gestores o CVC é baseado em participações
processos da empresa. Para que isso costumam ter uma forte rede minoritárias – mesmo que,
aconteça, executivos C-Level devem de contatos com investidores e eventualmente, leve a um controle
assumir o papel de sponsors do projeto, fundadores de startups para mapear acionário no futuro. Por isso, insistir
defendendo abertamente seus valores, projetos inovadores, compartilhar em uma estratégia tradicional
reduzindo a burocracia e facilitando informações de mercado e identificar costuma afugentar startups
conexões com as demais áreas da empresa. boas oportunidades de negócio. promissoras para o portfólio.

Fonte: Valetec - Relatório Corporate Venture Capital no Brasil e no Mundo

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INOVAÇÃOABERTA GUIA DO CVC

G OVER NANÇA E EQUIPE


NOVOS PROCESSOS E EXPERTISE PARA EXECUTAR METAS NOVAS

APOIO DA LIDERANÇA
E TIME DEDICADO
M A I S D O Q UE OS REC URSOS E OS I N V EST I M E N TOS , AS EQ U I P ES AO R EDO R
DAS EST RAT É G I AS D E CA P I TA L D E R I SC O S Ã O FU N DA M E N TA IS

FORMAÇÃO de uma es-


trutura especializada de
gestão e governança é um

A
ponto crucial – e muitas
vezes subdimensionado –
da integração do corpora-
te venture capital a outras
pontas da empresa. Para
Leo Monte, da ABCVC, a
preparação do terreno começa pelo alinhamento de ex-
pectativas entre o conselho, a alta liderança e os gestores
de áreas de inovação. “Essa etapa é fundamental para en-
tender o contexto geral e definir os objetivos estratégicos
da organização. A partir daí, é possível entender como
o corporate venture capital pode acelerar o desenvolvi-
mento de novas soluções e se conectar às demais áreas da
empresa, como P&D, produtos e inovação aberta”, afirma.
Com o planejamento inicial consolidado, o passo se-
guinte é definir as equipes que ficarão responsáveis pela
estruturação de processos e pela administração dos re-
cursos disponíveis. As boas práticas de mercado sugerem
a criação de um núcleo dedicado exclusivamente às ope-
rações de CVC, com times formados por especialistas em
capital de risco e ecossistemas de inovação. “O processo
de integração de startups costuma trazer um grande cho-
que de cultura e operação na corporação. Por isso, é im-
portante formar times que atuem de forma independente
e que possam encontrar sinergias com outras áreas de
negócios de forma sistemática”, diz Cristiano Kanashiro,
CEO da GO-K, aceleradora de projetos de inovação para SINTONIA Para Leo Monte, da ABCVC, devem-se alinhar
grandes empresas. expectativas entre conselho, liderança e os gestores de inovação

Foto: DIVULGAÇÃO
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INÊS 249

MÉTR ICAS E K P Is
UM PONTO IMPORTANTE É OLHAR PARA O RETORNO ESTRATÉGICO

COMO DEFINIR OS
PRINCIPAIS INDICADORES
OS N Ú ME ROS Q UE A J UDA M A G UI A R O S U C ES SO DOS N OVOS N EG Ó C IOS E
AT I N GI R OS O B J E TI VOS EST I P U L A D OS P ELA E M P R ESA

LÉM DOS resultados financeiros, o desempenho de um fundo de corporate venture ca-

A
pital é medido sobretudo pelo seu potencial de retorno estratégico. Por mais contraintui-
tivo que pareça, a análise de indicadores indiretos é um dos pontos mais decisivos para
atingir os objetivos estipulados pela empresa. O mapeamento desses KPIs pode ser feito
a partir da combinação de cinco parâmetros-chave: acesso à inovação, relacionamento
com clientes, reputação de marca, aquisições futuras e, finalmente, retorno financeiro.

1 3 5
ACESSO À INOVAÇÃO REPUTAÇÃO DA MARCA RETORNO
Investimentos focados no acesso simplificado Fortalecimento de presença no FINANCEIRO
a novas tecnologias, sem a necessidade de ecossistema de startups e formação de A análise deve ser feita
mobilizar equipes internas de pesquisa e cultura de inovação entre lideranças e de maneira sistêmica,
desenvolvimento. Exemplos de indicadores: colaboradores. Exemplos de indicadores: contemplando
número de projetos piloto realizados e cortes engajamento em redes sociais e o desempenho
de custos gerados por soluções de startups. atratividade de marca empregadora. conjunto das startups
investidas.
Exemplos de
indicadores: a TIR
2 4 (taxa interna de
retorno) e o MOIC
(múltiplo de capital
RELACIONAMENTO COM CLIENTES AQUISIÇÕES FUTURAS investido) são algumas
Aportes orientados pela geração de vantagens Avaliação de startups que já fazem parte das medidas mais
competitivas, melhoria da experiência de do portfólio e podem ser cotadas para a usadas para calcular a
compra e ampliação de oferta de serviços e aquisição de uma fatia majoritária. evolução do portfólio
produtos. Exemplos de indicadores: aumento Exemplos de indicadores: evolução de e comparar seu
de NPS (índice de satisfação de experiência churn (taxa de rotatividade de usuários) desempenho com
de compra) gerado por novas tecnologias e e CAC (custo de aquisição por cliente, na outras oportunidades
crescimento de índices de conversão de vendas. sigla em inglês) de startups do portfólio. de investimento.

67
INÊS 249

INOVAÇÃOABERTA GUIA DO CVC

MEL H O R ES P R ÁTICAS
COMO MANTER A BOA CONVIVÊNCIA ENTRE A ESTRATÉGIA DA EMPRESA
E OS INVESTIMENTOS DE RISCO CORPORATIVOS

ERROS E ACERTOS
O Q U E FAZ E R – E O QUE NÃ O FA Z E R – N A H O R A DE C R I A R U M F U N D O C O RP O R AT IVO

O QUE FAZER O QUE NÃO FAZER

Conectar estratégia de CVC com Criar estratégia de investimentos


VISÃO ESTRATÉGICA orientada somente por
objetivos definidos da organização.
retorno financeiro.

Criar estrutura especializada de veículo Investir diretamente do


ESTRUTURA DE INVESTIMENTO de investimento, como Fundo de balanço da empresa ou via
Investimento em Participações (FIP). holding de participação.

Formar times compostos Formar times internos sem histórico


FORMAÇÃO DE EQUIPE por profissionais experientes de atuação em operações de
em venture capital. investimentos e participações.

Integrar padrões de remuneração de Ignorar ou subestimar a importância


POLÍTICA DE REMUNERAÇÃO VC para time envolvido na operação do do pagamento de performance
fundo (pagamento de performance). para o time de corporate venture.

Estabelecer termos competitivos e Estabelecer termos complexos e


CONTRATOS COM STARTUPS alinhados a padrões de mercado. fora de padrões praticados pela
indústria de venture capital.

Fonte: Valetec - Relatório Corporate Venture Capital no Brasil e no Mundo


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INÊS 249

LOJA DA RENNER Estrutura com autonomia e governança independente, mas com um olhar da operação

A PONTE ENTRE DOIS MUNDOS


C OM O A R E NNE R EST RUT URO U U M A G OV E R N A N Ç A CAPA Z DE N AV EG A R E N TR E
A EST R AT É G I A D O NEG Ó C I O E A R E A L I DA D E DAS STA RT U PS

MA DAS principais inicia- e grandes varejistas globais”, afirma Daniel Santos, diretor
tivas de corporate venture administrativo e financeiro e de RI da Lojas Renner.
capital do varejo brasileiro, Desenvolvida com o apoio da Ahead Ventures, gestora

U
o RX Ventures, da Renner, especializada em CVC, a operação foi estabelecida a par-
é resultado de um planeja- tir do modelo de Fundo de Investimento em Participações
mento que envolve frentes (FIP), abrindo caminho para a formação de uma estrutura
de governança, pesquisa com autonomia de atuação e governança independente. O
de mercado e atuação de passo seguinte foi o mapeamento e a análise de startups
profissionais especializa- que pudessem impulsionar os objetivos estratégicos iden-
dos. Lançado em 2022, o fundo tem como objetivo alocar tificados anteriormente, como melhoria da experiência
R$ 155 milhões em startups que tragam soluções inova- do cliente e acesso antecipado a tecnologias de ponta. O
doras para toda a cadeia de negócios da empresa. “A de- portfólio atual reúne quatro investidas: Logstore, Klavi,
finição da tese do RX Ventures envolveu uma extensa e RADAR e Connectly. “Antes de realizar cada aporte, é ne-
profunda pesquisa de mercado no Brasil e no mundo. Bus- cessário aprovar o investimento junto a um comitê. Além
camos entender o que estava acontecendo no setor de tec- disso, a startup precisa contar com um sponsor interno que
nologia e analisar as teses que estavam entregando maior defenda a tese de investimento e se comprometa a apoiar a
valor e atraindo atenção de investidores de capital de risco investida nessa parceria”, diz Santos.

Foto: DIVULGAÇÃO
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INÊS 249

INOVAÇÃOABERTA GUIA DO CVC

L IÇÕ ES AVANÇADAS
QUAL NÍVEL DE DISRUPÇÃO VOCÊ BUSCA?

HORIZONTES DE INOVAÇÃO
C OM O AS E MP RESAS P O D E M O RG A N I Z A R M E TAS D E C R I A Ç Ã O D E N OVAS
OP ORT UNI DA D ES D E N EG Ó C I OS AO LA D O DAS STA RT U PS

MPRESAS COM um cor- tecer a partir de três dimensões: extensão e defesa de


porate venture capital core business (H1, voltado para soluções que aprimorem
amadurecido conseguem o negócio atual, mas mantendo a mesma base), desen-

E
sair do básico – encontrar volvimento de novos negócios (H2, envolve a criação de
soluções para os proble- outros negócios dentro da empresa, baseados em novas
mas atuais da empresa – e tecnologias que já existem) e experimentação de mer-
realmente transformar o cados futuros (H3, área de projetos ligados a tecnolo-
negócio por meio do CVC. gias que ainda não foram criadas). Elaborado em 2009,
Para entender a distinção, o modelo continua a ser uma importante bússola para
vale a pena conhecer a tese desenvolvida pela consul- definir estágios de maturidade tecnológica em empresas
toria de estratégia McKinsey sobre os “horizontes de de diversos setores – e equilibrar recursos destinados ao
inovação”. De acordo com esse princípio, os investi- aumento de eficiência operacional e à preparação para
mentos em tecnologia das companhias deveriam acon- cenários de disrupção.

HORIZONTE 3
Exploração de cenários
futuros e soluções disruptivas

GERAÇÃO HORIZONTE 2
DE VALOR Desenvolvimento de novos
mercados e tecnologias

HORIZONTE 1
Expansão e defesa
de core business

TEMPO

Fonte: McKinsey

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O GLO S S ÁRI O DO C VC
OS TERMOS E AS EXPRESSÕES MAIS USADOS POR GESTORES E
PROFISSIONAIS DE CORPORATE VENTURE CAPITAL

BURN RATE ECONOMIC VALUE SCOUTING


Índice usado para avaliar ADDED (EVA) Processo de pesquisa, busca
volumes de gastos superiores Indicador ligado à capacidade e análise de startups para
à capacidade de geração de de geração de valor real de uma possíveis investimentos.
receita de um negócio. empresa para seus acionistas.

SPONSOR
CAPTABLE FAST TRACK
Liderança responsável
Documento que descreve Processo ou regra criada
o perfil de acionistas e a por comandar, divulgar e
especificamente para acelerar
participação nos lucros defender projetos de inovação
a incorporação de soluções
de uma startup. de startups em cadeias de em uma organização.
negócio de grandes empresas.
CHURN TESE DE INVESTIMENTOS
Métrica ligada ao cancelamento GP (GENERAL PARTNER) Conjunto de parâmetros,
de contratos e serviços. É Investidor com poder de decisão expectativas e objetivos de retorno
usada para definir o nível sobre aportes e gestão de fundos. de fundos de capital de risco.
de engajamento da base de
clientes durante um processo
de due diligence, por exemplo. HURDLE RATE TERM SHEET
Taxa mínima de retorno ou Documento que resume
atratividade de investimento. os principais termos,
DEAL FLOW
Volume de propostas recebidas, condições e contrapartidas
negociações e acordos POC de aportes em startups.
realizados por gestores de (PROOF OF CONCEPT)
fundos de venture capital. Testes para validar a viabilidade
VALUATION
operacional de ideias e
projetos de startups. Avaliação de valor de mercado
DUE DILIGENCE de uma startup. O cálculo leva
Investigação e levantamento em conta fatores como volume
de informações para avaliar POV (PROOF OF VALUE) de receita, base de clientes,
riscos e oportunidades de Testes para validar o valor prático potencial de crescimento
aportes em startups. de projetos e soluções de startups. e inovação de soluções.

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INÊS 249

INOVAÇÃOABERTA E N T R E V I S T A
MAR 2024

“ T E M M U I TA G E N T E
B R I N CA N D O D E C V C ”
PARA CARLOS KROKON, DIRETOR-EXECUTIVO DA QUALCOMM VENTURES NAS AMÉRICAS, OS
CVCs BRASILEIROS PRECISAM FAZER APORTES MAIS ALTOS E ADOTAR VISÃO DE LONGO PRAZO

MARISA ADÁN GIL

O BRASIL, o corporate venture capital ainda é incipiente. Tem muita gente que não
sabe jogar o jogo”, diz Carlos Krokon. Por “jogar o jogo”, entenda-se: contratar pessoas
qualificadas para comandar o fundo corporativo; entender que se trata de um investi-

N
mento de risco; fazer parcerias com fundos de venture capital para garantir aportes e
retornos mais altos; e colocar o CVC no centro das estratégias de crescimento da com-
panhia. “Ninguém falou que era fácil.”
A experiência de Krokon com o tema é vasta. O primeiro CVC que comandou foi o da
Intel: entre 1999 e 2005, ele foi o head da Intel Capital na América Latina, desbravando
um ecossistema de startups ainda em formação. Em 2006, viajou para os Estados Unidos,
onde assumiu o cargo de diretor de CVC da Intel no sudoeste dos Estados Unidos, permanecendo na função por dois
anos. Depois de algumas experiências em gestoras de venture capital brasileiras, em 2012 foi contratado para abrir a
operação brasileira da Qualcomm Ventures, e acabou se tornando o diretor do fundo para a América Latina. Finalmente,
em 2018, foi convidado para comandar a operação em todas as Américas. Um dos três maiores CVCs do mundo, ao lado
de Microsoft e Google, o Qualcomm Ventures já investiu US$ 2 bilhões em 360 startups, alcançando 18 saídas de mais
de US$ 1 bilhão – entre elas, nomes como Waze, PayPal, Zoom, Cruise e Cloudfare. “Estamos vivendo uma época mui-
to fértil, com inteligência artificial, 6G, internet das coisas, mixed reality. Há muitos motivos para ser otimista”, disse,
contemplando o futuro. Confira a seguir os principais trechos da entrevista que Krokon concedeu a Época NEGÓCIOS.

REBERSON ALEXANDRE

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INÊS 249

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INÊS 249

INOVAÇÃOABERTA ENTREVISTA

ÉPOCA NEGÓCIOS Você tem uma visão Aqui haverá um pool de gente capa- sil, também vi alguns cacoetes que
única do cenário de corporate ven- citada muito maior do que no Brasil. atrapalhavam. As empresas queriam
ture capital, já que participou de Além disso, é mais fácil abrir star- exclusividade, queriam que a star-
fundos no Brasil e nos Estados Uni- tups nos Estados Unidos, então há tup construísse uma solução só para
dos. Como compara os dois países? uma enorme variedade de empresas eles, coisa que nunca dá certo. Mas
CARLOS KROKON O cenário de corporate promissoras para investir. E o núme- hoje vejo movimentos superpositi-
venture capital no Brasil ainda é in- ro de saídas também é muito maior, vos, com players do ecossistema aju-
cipiente, mas está avançando, o que é por conta da força da economia. dando a educar o mercado como um
bom. Não é difícil entender por que Veja bem, só a Qualcomm Ventures todo, preparando as empresas. Então
isso está acontecendo. A transfor- já pratica o CVC há 23 anos. Então eu acho que essa evolução é fantásti-
mação digital está afetando todas as nós aprendemos a jogar bola. Temos ca. A qualidade dos empreendedores
indústrias, em todo o mundo: varejo, um playbook bem claro de quando também aumentou. Já tivemos um
farmacêuticas, seguros, finanças, in- investir, quando não investir, como grande primeiro ciclo de saídas, e
dústria, energia. Então faz sentido engajar as empresas, qual é o melhor muitos funcionários partiram para
as empresas quererem montar um perfil para a gente trabalhar, em qual abrir as próprias startups. Só da 99
braço de CVC para encontrar formas estágio devemos abordar. Fomos re- saíram umas 15 empresas. É muito
de trazer a inovação para dentro de finando essas práticas ao longo dos legal ver isso.
casa. Dito isso, Brasil e Estados Uni- anos, então temos uma plataforma
dos têm cenários muito diferentes. supermadura e bem-sucedida. NEGÓCIOS A Qualcomm foi pioneira
Como o corporate venture nasceu na criação de CVCs nos Estados
aqui [EUA] há 40 anos já, então lo- NEGÓCIOS Enquanto isso, o Brasil Unidos. Pode contar um pouco des-
gicamente o mercado é muito mais está apenas começando... sa história?
maduro. E é dez vezes maior que o do KROKON Sim, no Brasil, tem muita KROKON Na época, em 2000, havia
Brasil. Então vamos supor que ama- gente lançando o CVC agora, então um número bem, bem reduzido de
nhã o CEO de uma empresa ameri- eles ainda não sabem muito bem as startups. Nos Estados Unidos, eram
cana decida contratar uma pessoa regras. O pessoal vai acertando, vai apenas algumas dezenas. A empresa
para começar a atividade de CVC. errando... Quando eu estava no Bra- já fazia um investimento aqui, um
investimento ali, mas nada progra-
mático. E daí eles falaram: vamos
formalizar isso. Vamos trazer ges-
tores profissionais para fazer inves-
timentos e buscar oportunidades. E
aí, com o tempo, fomos expandindo.
Depois dos Estados Unidos, inicia-
“U M CO R PO RAT E mos atividades na Europa, China,
Israel, Índia, Coreia e, por fim, o
VE NTU RE DEVE S EMP RE Brasil. O Brasil foi a última fronteira.
Fui eu quem conduziu a abertura da
Qualcomm Ventures no país, o que
IN VE STIR J UNTO C OM me levou a comandar os investimen-
tos na América Latina. Daí, há cinco
UM FUNDO DE VC, anos, me chamaram para comandar
o fundo corporativo nas Américas.

PORQUE OS DOIS SÃO NEGÓCIOS Com mais de US$ 2 bilhões


investidos, a Qualcomm Ventures
C O MP LEMENTAR ES ” é um dos CVCs mais respeitados

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INCIPIENTE “No Brasil há muitas empresas lançando corporate venture capital agora, então eles ainda não sabem muito bem as regras”

e lucrativos do mundo. Qual a re- investimento de longo prazo. Abraçar Então a gente faz esse papel. Veja
ceita para criar um fundo com essa esse conceito é superimportante. bem, nos 23 anos do fundo, nós pas-
amplitude de ação? Para que a estratégia funcione, samos por três mudanças de CEO. E
KROKON Bom, você não cria do dia para você também precisa ter o apoio de todos eles entenderam a nossa im-
a noite. Mas existem algumas ações um CEO que veja o CVC como um portância. A gente tem tido, obvia-
que ampliam a sua probabilidade de pilar fundamental da estratégia da mente, resultados financeiros muito
sucesso. Para começar, contrate al- empresa. Nós temos um diálogo fre- bons. E resultados estratégicos tam-
guém do mercado que conhece como quente com os executivos da empre- bém, o que ajuda.
funciona um CVC. Alguém que saiba sa, vamos descrevendo o cenário, as
que não é um M&A, não é uma fusão, oportunidades. O nosso papel é agir NEGÓCIOS Vocês conseguiram passar
é uma relação de parceria que se de- como um tentáculo no mercado de imunes ao inverno das startups,
senrola ao longo de cinco, seis, sete inovação, trazendo não só startups, nos últimos dois anos?
anos, até a empresa fazer um IPO ou mas conhecimento para dentro da KROKON Nós com certeza não passa-
ser comprada. Sabemos que muitas corporação. Muitas vezes os executi- mos imunes, porque investimos em
delas não vingam. Faz parte do jogo. vos se isolam um pouco do mercado, muitas startups junto com outros
Não é o caso de encerrar a atividade porque estão preocupados com os fundos de VC. Aliás, essa é outra re-
do fundo por causa disso. Esse é um clientes maiores, o que faz sentido. gra importante do jogo. Você nunca

Foto: divulgação
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INÊS 249

INOVAÇÃOABERTA ENTREVISTA

deve investir sozinho. Nós sempre Porque a ideia é apostar na empresa, Tivemos as saídas da 99, da Strider e
entramos junto com um investidor ajudá-la a crescer. Então a gente não da Zup. Estamos com Quinto Andar
financeiro, porque acreditamos que é imune à ressaca do mercado. A ati- e Loggi. O último investimento que a
cada um tem um DNA particular e vidade diminuiu muito nos últimos 18 gente anunciou foi a Gabriel, uma pla-
traz contribuições diferentes e com- meses, e só está começando a melho- taforma de segurança pública que atua
plementares à empresa. Nós somos rar agora. A gente, obviamente, tenta em uma parceria público-privada com
muito bons em apresentar para em- suportar e continuar a trabalhar com a prefeitura do Rio, e agora está expan-
presas parceiras conceitos e tecno- as empresas. Mas existe um diálogo dindo em São Paulo. Nós tipicamente
logias, algo que provavelmente um aí, um debate bastante assíduo com investimos em uma ou duas empresas
investidor puramente financeiro empreendedores e investidores. por ano no Brasil. Não tem um núme-
não faria. Por outro lado, o investi- ro fixo: trata-se de achar oportuni-
dor financeiro se preocupa apenas NEGÓCIOS Qual a importância da Amé- dades que, se forem bem-sucedidas,
com o sucesso da empresa, para que rica Latina e do Brasil, especifica- vão ajudar a avançar causas em que a
ele faça muito dinheiro. Isso é bom mente, dentro desse portfólio? gente acredita, e que têm um alto po-
para a gente também. Então fazemos KROKON Nosso portfólio ativo hoje no tencial de retorno financeiro. Somos
os mesmos acordos que os outros. Brasil é da ordem de 15 empresas. investidores estratégicos, mas somos
investidores em primeiro lugar.

NEGÓCIOS Qual o foco da Qualcomm


Ventures neste momento?
KROKON IA, lógico, é o tema de pauta
número 1. A tecnologia realmente
tem o potencial de reescrever o mun-
do, da mesma forma que a internet o
reescreveu há 25 anos. Com a dife-
rença de que, hoje, a gente está num
mundo em que tecnologia é muito
mais prevalente, então você vai con-
seguir construir interações novas de
uma forma muito mais rápida. Veja
bem, hoje a inteligência artificial está,
em grande parte, na nuvem. E não
precisa ser assim. Aliás, não faz sen-
tido em muitos casos. Você tem ques-
tões de latência e tem que mandar
as informações, processar e voltar.
Isso envolve questões de custo e de
privacidade. Então nós acreditamos
que vamos evoluir para um mundo
híbrido. Com inteligência em todos
os lugares, inteligência na nuvem, in-
teligência na ponta, nos dispositivos.
Então é um setor superfértil e a gente
tem investido bastante. E, obviamen-
te, a Qualcomm é tradicionalmente
uma empresa de comunicação sem
OTIMISTA “Fizemos uma pausa, mas agora a inovação está acelerando cada vez mais” fio. Então, estamos por trás do 5G, e

Foto: divulgação
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trabalhando no 6G. Também somos


um dos grandes provedores de pro-
“IA, LÓ G ICO, É O
cessadores para a indústria de auto-
móveis. Estamos falando de carros TEMA P RINCIPAL
autônomos, de chassis digitais, de
telemetria. E aí tem também mixed
reality e realidade aumentada. A
DO F UNDO. E L A
Meta usa nossos processadores, o Mi-
crosoft HoloLens usa nosso processa- R EA LMENTE TEM
dor, os óculos novos da Ray-Ban usam
nosso processador. E, por último, in-
ternet das coisas, que é superamplo.
O P OTENCIAL
No momento, a gente está tentando
entender alguns novos setores, como DE REES CREVER O
eletrificação de veículos, ver se exis-
te algum espaço para a gente. Ou se
MUNDO”
existe alguma oportunidade de IoT
na agricultura.

NEGÓCIOS A China é um mercado im-


portante para vocês. Como estão li-
dando com as dificuldades criadas
pelo governo americano? [Em agos- NEGÓCIOS Como você vê a evolução longo prazo, se a corporação for par-
to de 2023, o presidente Joe Biden do CVC nos próximos anos? ceira, em vez de controladora. É im-
assinou uma ordem executiva res- KROKON De maneira otimista? Eu acho portante também fazer cheques al-
tringindo exportações de artigos que 2022 e 2023 foram dois anos de tos. Não adianta você fazer um
tecnológicos para a China. E, em correção. No fundo, é uma pausa cheque de US$ 100 mil, US$ 200 mil.
fevereiro de 2024, um painel do Se- positiva. Acho que a inovação está Mesmo que a empresa seja super-
nado Americano revelou que estava acelerando cada vez mais. Empreen- bem-sucedida e você tenha um re-
investigando os investimentos na dedores cada vez mais arrojados, torno de 20 vezes o valor do inves-
China de cinco fundos, entre eles a investidores cada vez mais qualifica- timento, vai dar US$ 2 milhões. Isso
Qualcomm Ventures.] dos. Então, eu acho que a indústria não muda nada. Então você tem que
KROKON Bom, existe de fato uma tensão como um todo, em nível global, vai fazer cheques de US$ 4 milhões, por-
entre as duas nações. Mas nós temos continuar a crescer. E no Brasil deve que daí um bom retorno pode dar
continuado a buscar oportunidades de crescer mais ainda, já que vai partir US$ 80 milhões, e começa a ficar
investimento. A China, de uma certa de uma base menor. E há oportuni- interessante. Eu acho que hoje tem
forma, está controlando os investi- dades de empregar novas tecnolo- muita gente brincando de CVC. Fazer
mentos internos também. Então exis- gias aí, como a AI, IoT, 6G. um cheque de US$ 100 mil numa
te um pouco de jogo aí, de desconforto empresa early stage, sozinho, é a
das duas partes. Há dois anos a gente NEGÓCIOS O que você responderia fórmula para dar tudo errado. Você
fazia investimentos de uma forma para um empresário que dissesse a não está pondo dinheiro suficiente,
mais fluida, sem precisar pensar mui- você: “Esse negócio de CVC é boba- essa é a verdade. Agora, se jogar bem
to nisso. Hoje em dia a gente precisa gem, já tentei e não deu certo”. o jogo, investindo com outros que
pensar um pouquinho mais, há mais KROKON Se fizer direito, dá certo. É têm bolso fundo e assumindo uma
entraves. Mas continuamos ativos. A isso que eu diria. Se contratar pes- visão de longo prazo, daí eu acho que
China tem sido um mercado muito soas que sabem jogar o jogo, se exis- dá para jogar muito bem. Nós somos
bem-sucedido para a gente. tir suporte executivo de médio e um bom exemplo disso.

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INOVAÇÃOABERTA T E N D Ê N C I A S
MAR 2024

O FENÔMENO
SÓ COMEÇOU
INVESTIMENTOS MAIORES, MAIS ESTRATÉGICOS E A CRIAÇÃO DE UMA CULTURA
DE CAPITAL DE RISCO ESTÃO ENTRE AS TENDÊNCIAS PARA O CORPORATE VENTURE
CAPITAL NO BRASIL PARA OS PRÓXIMOS ANOS

RAFAEL FAUSTINO

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INOVAÇÃOABERTA TENDÊNCIAS

E
ESTUDOS APONTAM QUE APENAS um a cada três fun- 1. CHEQUES MAIORES E MAIS CERTEIROS
dos corporativos de capital de risco passam do terceiro ano No período de aprendizagem vivido nos últimos anos, os
de existência. A explicação está na lógica da curva J: em ge- investimentos de CVCs brasileiros se concentraram em
ral, os retornos iniciais do investimento caem antes de su- tecnologias promissoras, startups em estágios iniciais de
bir ao longo de um período de dez anos. “Nessa fase inicial, desenvolvimento e valores modestos: 58% dos fundos do
o impacto estratégico é incerto. Nesse processo, os menos país administram carteiras de até US$ 50 milhões. Na
pacientes decidem mudar a gestão e a estratégia do progra- média global, esse percentual cai para 35%, segundo um
ma para acelerar resultados, e muitas vezes encerram a ex- levantamento realizado pelo Global Corporate Venturing
periência antes que os retornos possam ser vistos”, afirma Institute e obtida com exclusividade por Época NEGÓ-
James Mawson, fundador do Global Corporate Venturing CIOS. Isso deve começar a mudar em breve – e já há indí-
Institute, organização que monitora o ecossistema de ino- cios disso. “A maioria das grandes rodadas de pelo menos
vação aberta corporativa no mundo. US$ 100 milhões no país também já inclui CVCs”, diz Ja-
O futuro do cenário brasileiro de corporate venture mes Mawson. Há a expectativa de que haja uma mudança
capital exigirá, portanto, resiliência. Uma parcela ínfima, gradual do foco de investimento, das startups early stage
equivalente a 5% dos fundos de corporate venture capital para aquelas um pouco mais maduras.
no Brasil, tem hoje uma década de vida ou mais. Na ponta “O investimento em empresas um pouco mais madu-
dos mais recentes, 75% deles foram criados a partir de 2020. ras, até um estágio pré-IPO, costuma trazer mais resulta-
Observar o perfil dos fundos de capital de risco no mundo dos”, aponta Flávio Pripas, cofundador da Staged Ventu-
e no Brasil – e a expectativa dos gestores – pode dar pis- res e um dos precursores do empreendedorismo digital
tas sobre o estágio de evolução em que estamos e o que está do Brasil, que ao longo de mais de duas décadas já atuou
por vir. A análise de estudos e entrevistas com especialistas em diversas pontas do ecossistema de inovação, seja como
nesse segmento indicam quatro principais tendências desse investidor em fundos de venture capital, seja como em-
mercado no Brasil. preendedor em startups. Ao mirar novos alvos, as empre-

80
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34%
DASRODADASDE
INVESTIMENTONO
BRASILINCLUEM
FUNDOSDECORPORATE
VENTURECAPITAL,
CONTRA26%NA
AMÉRICADONORTE

81
INÊS 249

INOVAÇÃOABERTA TENDÊNCIAS

sas não devem esperar lucros mais imediatos, diz Pripas, e ture Capital (ABCVC). Além da IA, outro exemplo citado
sim alocar o dinheiro em apostas menos arriscadas. por ele é a realidade aumentada, que traz usos para head-
Um exemplo dessa transição vem da operadora de tele- sets de realidade virtual e smartphones, mas também para
fonia Vivo, que já atuava em CVC com a Wayra há 13 anos, indústrias como a automotiva. “Vale a pena explorar os
quando criou o Vivo Ventures no Brasil, em 2022, para in- tipos de inovações tecnológicas horizontais, como IA, ci-
vestir em negócios mais maduros. O plano de alocar R$ 320 bersegurança, computação quântica e outras, bem como as
milhões em startups ao longo de quatro anos supera em cadeias de valor do setor para inovação transformacional”,
muito os R$ 25 milhões investidos pela Wayra desde o iní- diz James Mawson.
cio de sua trajetória, há mais de uma década. Os setores em alta para investimentos de CVCs no futuro
Ao mirar em alvos mais robustos, o Vivo Ventures próximo seguem essa horizontalidade e são, principalmente,
apostou em startups mais experientes e testadas no mer- tecnologia da informação e energias renováveis. O primeiro
cado. Um exemplo está na compra de uma participação na caso representa nada menos que 49% dos investimentos fei-
Klavi, plataforma de Open Finance que permitiu à Vivo tos por CVCs brasileiros entre 2019 e agosto de 2023, segun-
ofertar crédito junto aos serviços de telefonia; e na fintech do dados da ABVCAP, e nada indica que a procura diminuirá,
Klubi, entrando no ramo de consórcios. Assim como Flá- diz a organização. Já as renováveis deverão ter crescimento
vio Pripas, Priscila Rodrigues, presidente da Associação exponencial conforme empresas e governos apertem o passo
Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP), para cumprir suas metas de descarbonização. “Até por conta
também acredita que tal comportamento deverá ser visto da posição do Brasil, como atual presidente do G20 e lideran-
de forma crescente no mercado. “Uma vez que a indústria do as conversas nas COPs, é um assunto que será cada vez
de CVC for amadurecendo, o que poderemos começar a mais urgente, cuja procura deve seguir crescendo durante
ver são investimentos em modelos de negócios não neces- toda esta década”, diz Flávio Pripas.
sariamente atrelados ao segmento principal de atuação da Além disso, num mundo que viu duas guerras eclodirem
‘patrocinadora’”, aponta. nos últimos dois anos, tecnologias de defesa e cibersegu-
rança estarão em voga. “A guerra está em alta novamente”,
2. A “HORIZONTALIZAÇÃO” DOS INVESTIMENTOS alerta James Mawson, que vê o Brasil bem posicionado em
Em outra tendência para o futuro dos CVCs, a máxima do tecnologias desse tipo, lideradas pela Embraer.
“nunca coloque todos os ovos na mesma cesta” ganha novo
sentido para as empresas. Afinal, quando se aposta em 3. A CRIAÇÃO DE UMA CULTURA DE CAPITAL DE RISCO
tecnologias com múltiplas aplicações, como inteligência Segundo o estudo do Global Corporate Venturing Institu-
artificial, um único investimento vai para muitas cestas. te, atualmente 47% dos fundos de CVC no mundo investem
“Anteriormente, você via startups muito pautadas em so- também em fundos de venture capital tradicionais como
luções voltadas para entender e abordar certo problema. parceiros limitados. No Brasil, 30% dos fundos corporati-
E agora há mais investimentos em startups de tecnologias vos já adotam essa modalidade. A prática seria uma forma
aplicáveis a várias indústrias”, diz Leo Monte, presidente de diminuir o risco da empresa ao acessar novos mercados
da recém-criada Associação Brasileira de Corporate Ven- (seja em linhas de negócios ou regiões) e startups em está-

HÁ MAIS INVESTIMENTOS EM
STARTUPS COM TECNOLOGIAS QUE SE
APLICAM A VÁRIAS INDÚSTRIAS, COMO
IA E REALIDADE AUMENTADA

82
INÊS 249

47%

DOSFUNDOS
RESERVAMMAIS
DE20%DOS
RECURSOSPARA
RODADASPOSTERIORES

83
INÊS 249

INOVAÇÃOABERTA TENDÊNCIAS

53
DOS %
T CVC
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URE
CAP
ITAL

84
INÊS 249

gios mais iniciais. Contando com a expertise de um fundo pecialistas do mercado para definir tais investimentos, uma
acostumado a tais investimentos e limitando as possíveis solução intermediária é contratar uma gestora para conduzir
perdas, os CVCs teriam, assim, um instrumento de experi- a criação e operação do CVC – opção escolhida por empresas
mentação para apostas que, se tiverem o sucesso confirma- como Ânima Educação, B3, Hospital Albert Einstein e Banco
do, podem justificar investimentos maiores à frente. Além do Brasil, entre outras. Nesse caso, não se trata de entregar
disso, de acordo com Mawson, o investimento por meio de as decisões para investidores de outros fundos, mas sim da
VCs reduz a pressão sobre as startups, já que os fundos cor- contratação de um serviço especializado para otimizar a ino-
porativos tendem a exercer o que, aos olhos de empreende- vação aberta em uma empresa e informar suas escolhas.
dores, pode parecer um “mau hábito de controle”: ceder à A opção de construir e operar um fundo próprio dentro
tentação de guiar os primeiros passos de uma empresa em de casa também demanda cuidados específicos – e se adap-
benefício próprio em vez de deixá-la experimentar livre- ta melhor a casos que estão mais consolidados. “Contratar
mente outros caminhos. gente com experiência nesse mercado, já com bagagem
Não é uma alternativa livre de percalços, no entanto. “O acumulada, é fundamental. Não dá para fazer isso só com
VC tradicional tende a ter um preconceito com CVC por os recursos que tem dentro de casa, porque é uma discipli-
causa do alinhamento estratégico que não casa – ele tem na específica, uma habilidade completamente diferente da
receio do acesso de uma grande corporação ao modelo de gestão empresarial tradicional”, diz Pripas. Qualquer que
negócio novo daquela startup. E os empreendedores mais seja o caminho escolhido, a experiência só terá sucesso com
disruptivos vão tentar segurar enquanto puderem a entrada a consciência de que é preciso desenvolver uma nova cultu-
de uma corporação ao seu quadro de sócios, para preservar ra de negócios entre os gestores responsáveis por essa área
essa liberdade”, aponta Flávio Pripas. dentro da empresa.
Priscila Rodrigues, da ABVCAP, vê nessa convivência
uma chance para a empresa entender melhor esse tipo de in- 4. FUNDOS GANHAM RELEVÂNCIA
vestimento. Investir por meio de um fundo terceiro pode ser Se há uma tendência unânime entre os que estudam o mer-
uma maneira de acumular expertise para abrir seu próprio cado de CVCs é que sua trajetória está apenas começando, e
CVC. Em outros casos, diz ela, “empresas podem ter mode- sua importância para as grandes empresas só tende a cres-
los híbridos, nos quais um programa de CVC pode focar em cer. Fontes de dados ainda se consolidam, novas organiza-
disrupção do modelo de negócios e os investimentos em VCs ções surgem e, conforme as empresas percebem os bene-
terem perfil secundário”. Por fim, aponta, CVCs podem sem- fícios dessa estratégia de inovação, um número enorme de
pre estar de olho nos desinvestimentos realizados pelos VCs fundos deve surgir nos próximos anos.
para adquirir as startups de maior sucesso de seus portfólios. “Minha percepção é que o CVC tem sido muito resiliente,
Para as empresas que preferem investir apenas por meio mesmo em situações adversas. Quase uma centena de novos
de seu fundo proprietário, mas querem ter a expertise de es- CVCs deve surgir neste e nos próximos anos. As empresas já
perceberam que essa ferramenta é uma ótima frente para
acelerar as inovações e o crescimento de negócios”, diz Leo
Monte, da ABCVC. Há previsões ainda mais otimistas. “O
CVC já se tornou obrigatório para toda empresa grande e re-
levante em seu mercado. Dá para dizer sem medo de errar
que a gente vai ter 40 ou 50 novas iniciativas por ano surgin-
do no país até 2030. E, em 2030, toda empresa que fatura
mais do que R$ 1 bilhão vai ter seu fundo CVC”, afirma Flávio
O ALVO DOS CVCS Pripas. É um daqueles casos em que a realidade cria uma
nova regra de sobrevivência – e ter ou não uma certa caracte-
AVANÇA ALÉM DE EARLY rística deixa de ser opcional. Nesse caso, a resiliência para
superar as dificuldades iniciais de ter uma nova cultura de
STAGE, NA DIREÇÃO DE inovação junto a startups terá de ser mais do que apenas um
atributo de poucos e arrojados – e se torna cada vez mais uma
STARTUPS MAIS MADURAS necessidade para todos.

85
INÊS 249

INOVAÇÃOABERTA E N T R E V I S T A
MAR 2024

DOIS LADOS DO
CA P I TA L D E R I S C O
ERICA MENEZES, HEAD DE CORPORATE VENTURE CAPITAL DA EUROFARMA, CONVERSA
COM DANIEL CHALFON, SÓCIO DO FUNDO DE VENTURE CAPITAL ASTELLA

MARISA ADÁN GIL

E UM LADO, Erica Teles de Menezes, a executiva que comanda o CVC da companhia


farmacêutica Eurofarma, um dos cases mais bem-sucedidos de corporate venture capital
do Brasil (leia mais na pág. 46). Do outro, Daniel Chalfon, sócio da Astella, fundo de VC que

D
já aportou em 54 empresas, entre elas nomes como Omie e RD Station. Em um encontro
promovido por Época NEGÓCIOS, os dois travaram uma conversa sem filtros sobre a
situação atual do capital de risco no Brasil. Mais reservada, Erica preferiu responder às
perguntas de maneira realista e prática, enquanto Daniel demonstrava, em suas perguntas
e respostas, um entusiasmo inequívoco pelo ecossistema de inovação brasileiro.
Hoje, praticamente um terço dos produtos desenvolvidos pela Eurofarma, que teve
uma receita líquida consolidada de R$ 4,3 bilhões no primeiro semestre de 2023, vêm da inovação aberta. Do CVC da
companhia, saíram iniciativas como a criação de um aplicativo para ajudar pacientes com Parkinson e um banco de dados
com informações de fenótipos da população brasileira. O primeiro fundo, de R$ 45 milhões, lançado em 2019, investiu
em dez companhias. Criado no ano passado, o segundo fundo, Eurofarma Ventures, dispunha de R$ 500 milhões para
investir em biotechs. Para o próximo ano, preparam um terceiro fundo, que terá como foco empresas disruptivas do setor.
Com R$ 1 bilhão de ativos sob gestão, a pioneira Astella, fundada em 2008, foca em investimentos em estágios ini-
ciais, liderando rodadas de pré-seed, seed e Série A. Seu portfólio é composto principalmente de startups de SaaS, mas
também há espaço para e-commerce, marketplaces, empresas impulsionadas por IA e análise de dados. Um de seus in-
vestimentos mais recentes foi na Gabriel, startup com proposta inovadora para melhorar a segurança pública, operando
um parque privado de câmeras voltadas para a rua – seu sistema já opera em bairros do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Confira a seguir os principais trechos da conversa entre Erica Menezes e Daniel Chalfon.

ZE OTÁVIO

86
INÊS 249

87
INÊS 249

INOVAÇÃOABERTA ENTREVISTA

ÉPOCANEGÓCIOS Como vocês veem o ce- sumo... Eu vejo com bons olhos esse de fluxo de caixa e assumir um risco
nário de corporate venture capital crescimento: é bom para as startups muito grande. Mesmo que resulte em
no Brasil hoje? E a situação dos fun- e para o ecossistema como um todo. um ganho superior, não só financei-
dos de venture capital? DANIEL CHALFON Eu acho que o mercado ro, mas também de inovação, o risco
ERICAMENEZES Se formos comparar o ce- brasileiro de venture capital, com o ainda é alto. Talvez por isso eu veja
nário de corporate venture no Brasil corporate venture capital inserido muitas empresas que evitam tomar
com o do resto do mundo, fica cla- nisso, ainda é subdesenvolvido. Se essa decisão e, em vez disso, tentam
ro que ainda estamos em uma fase formos comparar com o mercado se ligar ao ecossistema de um jeito
muito inicial. São poucos os fundos americano, temos espaço para cres- errado, mais como atividade de mar-
corporativos que já encerraram o seu cer pelo menos 11 vezes. É verdade keting, para parecerem modernas. Eu
ciclo de investimento e produziram que vivemos um momento de pico, diria que existe um número bastante
grandes cases. Fico feliz em dizer que em que o capital estava muito barato alto de iniciativas desse tipo. Essas
nós somos um deles. Fomos o primei- no mundo, então todos estavam to- empresas não vão colher os benefícios
ro CVC da indústria farmacêutica no mando muito risco. E esse momento que teriam com uma estratégia sólida
Brasil e, quatro anos e meio depois acabou em 2022, quando entramos de fundo corporativo.
de iniciarmos as operações, estamos em outro ciclo. Mas, para nós, que
chegando ao final da nossa fase de sempre buscamos eficiência de ca- DANIEL Você concorda, Erica?
investimento. Mas, mesmo assim, nós pital, ficou até mais fácil, sem tantas ERICA Eu penso que a questão do mar-
nos consideramos ainda aprendizes. valuations milionárias. Em relação keting pode ser o primeiro passo. A
Nos dois últimos anos, e há estu- ao CVC especificamente, acredito trajetória da Eurofarma, por exemplo,
dos que confirmam isso, houve um que desenvolver uma estratégia de começou desse jeito, com uma cha-
crescimento muito grande da adoção venture capital dentro de uma em- mada no ecossistema, para começar
do corporate venture pelas empresas presa ainda é algo bastante sofisti- um relacionamento com as startups.
brasileiras. Se antes a estratégia era cado no Brasil. Eu nunca trabalhei Mas, na hora de realmente estruturar
discutida principalmente no mercado em corporate, mas acredito que seja o fundo, surgem várias dificuldades.
financeiro, agora está também em saú- uma decisão difícil para a empresa Como é que uma corporação negocia
de, construção civil, empresas de con- tomar. Porque ela terá que abrir mão com uma startup, que não tem uma
área jurídica? Como definir o ciclo
de investimento e os indicadores? De
fato, é um grande desafio se propor a
investir em startups que podem só dar
“É UM GRANDE retorno dali a oito ou dez anos. Mas
é importante cuidar de cada detalhe.
Vejo empresas que estruturam um
DESAFIO SE PROPOR fundo de um dia para o outro, sem que
a organização tenha maturidade para
A INVESTIR EM isso. E daí encerram suas atividades
no primeiro ou segundo ano, quando
não deu tempo nem de começar a fase
STARTUPS QUE de investimento. É uma pena.

P O D E M S Ó DA R NEGÓCIOS Uma das tendências aponta-


das para o futuro do venture capital
é uma colaboração mais estreita en-
RETORNO DALI A tre CVCs e fundos de capital de ris-
co. Vocês têm visto isso acontecer?
OITO OU DEZ ANOS” ERICA Sim, e eu vejo com ótimos olhos

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INÊS 249

as startups a escalar, e isso é muito


saudável. Então, quando CVCs e VCs
colaboram, acho uma troca muito sau-
dável. Eu gostaria particularmente
de ver uma colaboração ainda maior.
Esse também é um desafio meu den-
tro de uma corporação, descobrir
como trabalhar com os VCs.

ERICA E para você, como é essa ques-


tão, Daniel?
DANIEL Então, Erica, eu concordo com
você de maneira geral, mas essa cola-
boração nem sempre dá certo. O fun-
do de venture capital lida melhor com
o risco, então sabe o tipo de retorno
que procura. Algo que sabemos muito
bem, por exemplo, é lidar com os wri-
te offs, as startups que não dão certo
– algo que faz parte do jogo, e com o
qual lidamos com frequência. Mas já
convivemos com fundos de CVC que,
quando consideram que o investimen-
to não dará retorno, simplesmente
desaparecem e não conversam mais
com as startups. E daí somos nós que
temos que lidar com isso.

DANIEL É bastante complexo, não


acha, Erica?
ERICA Seria muita pretensão minha di-
zer que a Eurofarma é supermadura e
lida superbem com essa situação. Du-
rante a nossa jornada de quatro anos,
é claro que a gente já vivenciou um
write off. Quando acontece, é difícil
trazer essa realidade para dentro da
NOVO HORIZONTE Eurofarma prepara fundo para investir em startups disruptivas, diz Erica organização. Quer dizer, você gastou
tanta energia com aquela empresa, e
daí perceber que ela não validou a sua
tese é muito difícil. Então acho que
essa colaboração. Eu acho que as em- objetivos muito diferentes. Para a Eu- os processos ainda não estão 100%
presas têm muito a aprender, porque rofarma, por exemplo, não adianta fa- redondos, mas estamos no caminho.
quem começou a colocar os tijolinhos zer um aporte em uma startup se não E, sem dúvida alguma, acho que um
desse mercado foram os fundos de houver sinergia estratégica, e para um dos principais desafios de qualquer
capital de risco. A gente ainda apren- VC isso não é necessariamente um gestor dentro de uma corporação é
de muito com eles, apesar de termos problema. Mas os fundos desafiam criar a cultura, a maturidade sobre

Foto: divulgação
89
INÊS 249

INOVAÇÃOABERTA ENTREVISTA

o papel do corporate venture capital. aquela empresa, nós temos que querer com a Astella. “Vocês têm duas inves-
Isso faz parte do jogo. as mesmas coisas. tidas de consumo no portfólio. Como
DANIEL Sim, faz. Sei que não dá para vocês enxergam esse movimento?
generalizar, mas é que já me deparei DANIEL Erica, uma característica que Quais são as tendências?” Então nós
com essas situações em que a empresa acho bem interessante sobre o CVC abrimos essa conversa. Porque, para
desaparece. É muito melhor quando é que ele confere uma espécie da va- mim, o VC, com seu conhecimento de
o CVC age de maneira transparente. lidação para as startups, ou para a mercado, serve para validar a minha
Eles precisam perceber que estamos tecnologia que estão desenvolven- tese de investimento.
juntos nessa jornada. Nós vamos ser do. É como um selo de qualidade.
sócios, conviver com aquela empre- Você sente que funciona assim? NEGÓCIOSJá que estamos falando em te-
sa por anos a fio. Então é bom que ERICA Com certeza. Mas os VCs tam- ses de investimento, Erica, você pode
a gente tenha uma ótima relação e bém trazem uma espécie de selo de falar um pouco mais sobre a tese da
entenda o jogo que cada um está jo- qualidade para o corporate venture. Eurofarma?
gando. Se não estivermos alinhados, Quando decidimos investir em star- ERICA O fundo que a gente tem há qua-
é melhor não sermos sócios. Porque tups de bem-estar, algo que está fora tro anos e meio é um fundo de saú-
eu entendo que o CVC possa ter ob- do nosso core e mais próximo do con- de digital, o Neuron Ventures. Mas
jetivos diferentes do VC, mas, para sumo, fomos atrás de conhecimento dentro dessa tese eu trago também

ECOSSISTEMA COM IA Para Daniel Chalfon, da Astella, a inteligência artificial será decisiva para melhorar a performance das startups

Foto: divulgação
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“ JÁ C O N V I V I C O M ERICA Já tive que enfrentar uma situa-


ção em que o empreendedor me disse:
“Olha, para mim, é estratégico tê-los
FU N D O S D E CV C junto comigo como sócios, porque vo-
cês vão me ajudar a desenvolver e esca-
Q U E , Q UAN D O V EE M lar nossos produtos. Mas se eu divulgo
que vocês são meus investidores, talvez
outros não queiram fazer acordos co-
Q U E A STAR T U P nosco”. E já aconteceu de startups que
eu quis contratar e que tinham contra-
N ÃO VAI C E R TO, tos com outras companhias, então caí
no mesmo problema.

S I M P L E S ME NTE NEGÓCIOSComo vocês veem o mercado de


venture capital nos próximos quatro
D E S A PA RE CE M ” ou cinco anos?
DANIEL Nós estamos superanimados.
Acho que não dá para trabalhar com
venture capital se você não for otimista.
Claro que o momento ainda é desafia-
dor, depois da retração de 2022, por
conta da inflação e das taxas altas de
tecnologias emergentes aplicadas à que vai conseguir cooptar esse mer- juros. Mas, se pensarmos em um ciclo
saúde, como a inteligência artificial. cado de alguma forma, por meio da mais longo, o mercado está em uma li-
Há muito tempo estudamos como a tecnologia, não só no desenvolvimento nha histórica de crescimento. Se a gente
IA pode ser aplicada ao healthcare do medicamento, mas na terapia digi- avaliar de 2015 para cá, o mercado só
e ao ecossistema como um todo. No tal, com outros tipos de diagnóstico, cresceu: tem muito mais fundos, tem
ano passado, lançamos um segundo usando soluções ligadas ao genoma, muito mais players, tem muito mais
fundo, o Eurofarma Ventures, com por exemplo. Aliado a isso, temos olha- dinheiro. E temos a IA, que vem redu-
foco em biotechs. Agora, o terceiro do bastante também para a questão da zindo o custo para implementar um
fundo, que vamos lançar no ano que longevidade. Mas aqui não estamos produto e aumentando a produtivida-
vem, está mais ligado ao horizonte 3 da falando de viver mais, e sim de enve- de, o que é muito positivo. Então, sim,
inovação, é um fundo mais disruptivo. lhecer de uma maneira mais saudável. estamos bem animados.
Vamos sair do nosso core, que hoje é É um tema bastante abrangente, que ERICA Acho difícil falar do futuro, porque
desenvolver moléculas e criar medi- passa muito pela prevenção. Também esse é um mercado muito flutuante.
camentos. A gente precisa olhar para falamos muito em IoT aplicada à área Mas acredito que vamos ver, a passos
outras áreas, até por uma questão de médica, para descobrir como fazer lentos ainda, o corporate venture capi-
vantagem competitiva – e até, eu diria, bons diagnósticos à distância. tal se tornar cada vez mais maduro,
de sobrevivência. Temos que olhar as com apostas mais assertivas. Tentamos
tecnologias emergentes que podem ter DANIELErica, eu tenho uma dúvida que de alguma forma contribuir com outros
o potencial de substituição de um me- queria tirar com você. Muitos em- colegas e indústrias que querem criar
dicamento ou de complementariedade preendedores me dizem que têm re- esse mecanismo de investimento, por-
da estratégia de saúde. ceio de ter um CVC investindo muito que essa evolução interessa muito para
Um tema futurista que a gente vem cedo, porque isso pode eliminar opor- a Eurofarma. Quanto mais o corporate
acompanhando há bastante tempo é a tunidades no futuro. Você já deve ter venture capital prosperar no Brasil,
questão da personalização. Mas esse é ouvido isso 1 milhão de vezes. Como mais vai refletir positivamente no mer-
um desafio gigante. A gente acredita lidam com isso? cado como um todo.

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INÊS 249

O T e R c E i R o e ú Lt I m O v O l U m E d A
s É r I e b E sT- s E l L e R d E L a U r E n T i N o G o M e S

Nenhum outro assunto é tão importante e tão definidor da nossa


identidade nacional quanto a escravidão. Conhecê-lo ajuda a
explicar o que fomos no passado, o que somos hoje e também o que
seremos daqui para a frente. Em um texto impactante e ricamente
ilustrado com imagens e gráficos, Laurentino Gomes lança o
terceiro volume de sua obra, resultado de 6 anos de pesquisas,
que incluíram viagens por 12 países e 3 continentes.

NOS SITES, LIVRARIAS E EM E-BOOK


INÊS 249

A TrIlOgIa
EsTá CoMpLeTa!
INÊS 249

R U PTU R A GUIL H E R M E H O R N *

APRENDIZADOS APÓS 20 ANOS


DE INOVAÇÃO ABERTA
AO LONGO DOS ANOS, A INOVAÇÃO ABERTA SE MOSTROU UMA OPÇÃO MUITO
INTERESSANTE PARA AS EMPRESAS ABRAÇAREM A INOVAÇÃO – E SÃO INÚMERAS
AS QUE TÊM CAPTURADO VALOR COM A PRÁTICA

M 2003, O PROFESSOR experiência mostra que o que costuma levar ao sucesso ou


Henry Chesbrough publi- ao fracasso de um produto é a execução, muito mais do que
cou o livro Inovação Aberta: a ideia. Basta ver quantas startups já competiram com Uber,
Como Criar e Lucrar com a Airbnb ou Nubank – e perderam.

E Tecnologia. A premissa que


o levou a criar o conceito de
Outro fator que também costuma representar uma pedra
no caminho da inovação aberta é a dificuldade que as áreas in-
inovação aberta continua ternas têm em trabalhar de forma colaborativa com entidades
atual: uma empresa não externas. Aqui há desafios culturais importantes. É comum
pode imaginar que as melho- a área jurídica ou de compliance, por exemplo, recomendar
res ideias para resolver um condições desfavoráveis aos parceiros. Eu me lembro de um
problema estão dentro de casa, quando pode haver milhares projeto de que participei como consultor externo, no qual a
de pessoas tão ou mais capacitadas fora dela, tentando outras empresa queria impor multas vultosas à startup caso houvesse
soluções ou disponíveis para resolver o mesmo problema. um vazamento de informações. A empresa iniciante não tinha
Um exemplo: se uma empresa está buscando uma solução como oferecer garantias no patamar exigido e o projeto não
para gerar energia a partir de resíduos sólidos urbanos, ela foi para a frente. Para evitar esse tipo de obstáculo, todas as
tem basicamente dois caminhos. O primeiro é desenvolver áreas da empresa devem estar imbuídas, conscientes e com-
uma solução interna, em seus laboratórios, com seus próprios prometidas com a estratégia e a governança de um projeto
engenheiros. A alternativa é compartilhar o desafio com de inovação aberta.
universidades, centros de pesquisa, aceleradoras ou startups, É bom lembrar que a gestão de um projeto de inovação
discutir com eles possíveis opções e então desenvolver uma aberta é diferente daquela de uma proposta interna. Para uma
solução de forma colaborativa, em conjunto com essas en- grande empresa, que tem dezenas ou centenas de produtos
tidades externas. em sua linha, planos inovadores podem ser descartados caso
No primeiro caminho, a sensação de controle sobre o que não apresentem resultados em prazos relativamente curtos.
está sendo desenvolvido é maior. Ao restringir o desenvol- Para um empreendedor, aquele produto é o seu projeto de
vimento ao seu laboratório de pesquisa, a empresa imagina vida. Ele vai pivotar quantas vezes forem necessárias até en-
ter o domínio sobre a ideia que está sendo explorada. Muitas contrar o market fit. Então, é preciso haver um alinhamento
vezes isso até pode ser verdade, haja vista discussões sobre de expectativas em relação à maneira como o sucesso do
patentes ou acusações de uso ilegal de tecnologias. Mas a projeto será mensurado.

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INÊS 249

* Autor do best-seller O Mindset da Inovação e Head do WhatsApp no Brasil

No meu livro O Mindset


da Inovação, eu proponho
um framework bem prá-
tico para implementação
da inovação aberta. É uma
matriz com duas dimensões:
Objetivos e Iniciativas. Para
cada objetivo, há iniciativas
que são mais ou menos ade-
quadas. Os objetivos de um
projeto de inovação aberta
podem ir de uma necessida-
de de defender uma posição
de mercado até a entrada em
novos segmentos. O que o
mapa mostra, em resumo,
é que a inovação aberta não
pode se resumir a uma ini-
ciativa isolada. Já vi muitas
empresas achando que ape-
nas abrindo um fundo de
Corporate Venture Capital
estariam próximas das startups. METAS A empresa deve estabelecer metas de inovação
Apesar das dificuldades, há muitas empresas se benefi- aberta que envolvam todas as áreas. As pessoas priorizam
ciando dessa forma de inovar. A lista é grande, e há empresas as iniciativas que estejam em suas metas.
de todos os segmentos e tamanhos. A seguir, listo os principais
fatores presentes nas iniciativas bem-sucedidas. INDICADORES ESPECÍFICOS A companhia não pode en-
carar um novo produto com o mesmo olhar que tem para
TIME DEDICADO Uma equipe full time dedicada a fazer a um artigo mais maduro e consolidado. Na inovação aber-
comunicação com o mercado, o relacionamento com os sta- ta, os indicadores mais adequados estão relacionados à
keholders, a seleção dos parceiros, o acompanhamento dos experiência do usuário: NPS, dados de engajamento,
projetos, os treinamentos internos e a divulgação dos resul- custo de aquisição de cliente (CAC) e Unit Economics
tados. É difícil dar foco a todas essas atividades com times (margem de contribuição unitária). Durante muitos anos,
que também têm outras responsabilidades. os grandes bancos olharam para o Nubank e o despre-
zaram, porque sua receita e lucratividade eram baixos.
COMPROMETIMENTO DA ALTA LIDERANÇA Iniciativas inova- Mas não perceberam que, pela primeira vez, os clientes
doras costumam ser pequenas para a empresa: os números tinham uma relação de amor com um banco, e isso ge-
são pouco representativos e oferecem riscos. Por isso, os rava um grau de engajamento e recomendação espontâ-
líderes da organização precisam falar delas o tempo todo, nea nunca antes visto. Essa relação com a marca tem um
valorizá-las, apoiá-las, deixando claro que eles a consideram enorme valor, porém é um KPI que não costumava estar
algo estratégico para a empresa. no radar dos bancos tradicionais.

Foto: getty images


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INÊS 249

N A FRO NTEI R@ E DUA R DO F E LIP E MATIAS*

GRANDES DEMAIS
PARA NÃO REGULAR
A DISCUSSÃO SOBRE O CONTROLE DAS PLATAFORMAS DEVE
INCLUIR A PREOCUPAÇÃO COM O PODER ECONÔMICO DAS
EMPRESAS QUE AS CONTROLAM

INFLUÊNCIA DAS pla- tador e aplicativos em vez de ativos físicos, têm baixíssimo
taformas tem feito com custo marginal de produção, reprodução e distribuição.
que estas fiquem sob os Uma vez que os investimentos iniciais tenham sido feitos,
holofotes. Embora o deba- pode-se atender clientes adicionais por quase nada, o que

A te público venha focando


principalmente na onda de
desinformação nesses espa-
acarreta ganhos de escala crescentes.
Ao alcançar um tamanho considerável, as plataformas
se beneficiam do chamado “efeito de rede”. Em contraste
ços, outro problema merece com a maioria dos produtos e serviços, cujo valor para cada
atenção: os possíveis efeitos indivíduo independe ou até diminui pela existência de
negativos gerados pelo acú- muitos usuários, a atratividade de uma plataforma cresce
mulo de poder nas empresas que as controlam. à medida que mais pessoas a adotam. Quando uma pessoa
Plataformas são ambientes digitais que abrangem desde compra a mesma roupa que outra, isso não faz esse item
as redes sociais e assistentes virtuais até os serviços de ficar mais atraente – às vezes, até o contrário. Mas se uma
busca na internet, mensagens instantâneas, computação em pessoa faz o upload de um vídeo no YouTube, isso torna
nuvem e compartilhamento de vídeos. As mais relevantes esse serviço mais valioso para as demais – mais vídeos
são controladas por grandes empresas de tecnologia, as atraem mais usuários para o site, o que, por sua vez, atrai
chamadas “big techs”, que crescem cada vez mais. mais criadores de vídeos.
Em 2008, apenas uma das dez maiores empresas do Esse efeito é especialmente notado nas redes sociais,
mundo por valor de mercado – a Microsoft – era baseada que atualmente reúnem quase 5 bilhões de pessoas – só
em tecnologia. Em 2024, esse número aumentou para seis. o Facebook tem mais de 3 bilhões de usuários. Nelas, o
Delas, cinco detêm plataformas. Microsoft e Apple, que têm principal objetivo é se relacionar com outras pessoas e
se revezado na liderança desse ranking, valem por volta de acessar o conteúdo por elas compartilhado. Em uma rede
US$ 3 trilhões cada. de comunicação fechada, um usuário só pode se comunicar
O crescimento das big techs se deve a vários fatores. O com outro da mesma rede. É como ter um telefone que só
primeiro deles é a digitalização da economia, acentuada pela faz ligações para aparelhos do mesmo fabricante. Mesmo
pandemia de covid-19, que tornou a sociedade ainda mais que preferisse um modelo de outra marca, a pouca utilidade
dependente dos produtos e serviços por elas oferecidos. deste levaria você a comprar um aparelho da mesma marca
Negócios digitais, que se baseiam em códigos de compu- que seus contatos possuem. Da mesma forma, a utilidade

96
INÊS 249

* EDUARDO FELIPE MATIAS É AUTOR DOS LIVROS A HUMANIDADE E SUAS FRONTEIRAS E A HUMANIDADE CONTRA AS CORDAS, GANHADORES DO PRÊMIO JABUTI,
E COORDENADOR DO LIVRO MARCO LEGAL DAS STARTUPS. DOUTOR EM DIREITO INTERNACIONAL PELA USP, FOI VISITING SCHOLAR NAS UNIVERSIDADES DE
COLUMBIA, EM NY, E BERKELEY E STANFORD, NA CALIFÓRNIA, E É SÓCIO DA ÁREA EMPRESARIAL DE ELIAS, MATIAS ADVOGADOS

de uma rede social fechada


depende do número de pes-
soas com as quais você pode
interagir. Se sua turma de
amigos está no Instagram,
você abrirá uma conta no
Instagram.
Outro fator que moti-
va a concentração é que, à
medida que seus produtos
e serviços são utilizados,
as big techs coletam dados
que servem para aprimorar
o desempenho de seus al-
goritmos, o que é especial-
mente importante para os
novos negócios baseados em
inteligência artificial (IA).
O Google, por exem-
plo, processa 8,5 bilhões
de buscas todos os dias, o
que lhe garante os dados
necessários para aperfei-
çoar seu motor de busca. Os
anunciantes, sabendo que
é a essa plataforma que as
pessoas se dirigirão quando quiserem procurar alguma certas pessoas estão conectadas. Ao sair delas, um usuário
coisa, pagam mais para estar nela. Isso garante ao Google pode perder de vista amigos ou familiares distantes, ou
mais recursos para melhorar seu produto, atraindo ainda mesmo cortar o contato com os clientes da sua empresa. As
mais usuários. Para cada usuário individual que gostaria perdas resultantes dessa mudança representam um “custo
de mudar de serviço, o conhecimento acumulado que a pla- de troca” bastante alto. Este custo gera outra barreira de
taforma dominante tem dele confere a esta uma vantagem entrada significativa para o surgimento de plataformas
significativa sobre um concorrente que ainda não conhece alternativas, prejudicando a atuação da concorrência e,
essa pessoa e, por isso, não pode personalizar serviços para com isso, potencialmente inibindo a inovação no setor.
ela. Isso faria as indústrias que dependem da IA tenderem Na crise financeira global de 2008, notou-se, tarde
naturalmente ao monopólio. demais, que algumas empresas haviam se tornado “grandes
Logo, o ganho de escala proveniente da digitalização, o demais para quebrar”, por causa dos efeitos negativos que
efeito de rede e o acúmulo de dados produzem uma dinâ- sua falência produziria sobre todo o sistema. Essa consta-
mica do tipo “o vencedor leva tudo”. Isso vai ao encontro tação foi seguida do socorro público a essas companhias,
do que as big techs costumam sugerir em sua defesa: que e de tentativas de aperfeiçoar a legislação vigente, para
bastaria simplesmente optar por outro prestador de ser- evitar que a situação se repetisse. Hoje, a percepção é de
viços, afinal “a competição estaria apenas a um clique de que as big techs e suas plataformas, pelo impacto que pro-
distância”. Essa ideia, que até poderia ser verdadeira nos duzem sobre a sociedade, tenham virado grandes demais
primórdios da internet, não retrata mais a realidade. para serem ignoradas pelas autoridades. É uma boa hora
Algumas plataformas são a única maneira pela qual para discutirmos seu papel.

Foto: getty images


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T R A B A L H O C O M P R O P Ó S I T O

ACESSO AO EMPREGO Viviane Duarte (ao centro): “Objetivo do Plano de Menina é proporcionar oportunidades para quem nasceu sem privilégios”

UM PROJETO PARA AS
MENINAS DA PERIFERIA
Filha e neta de sacoleiras do Brás, região de comércio popular em São Paulo, Viviane Duarte, 45 anos, teve na origem humilde a
maior inspiração para criar a Plano Feminino, em 2010, e o Instituto Plano de Menina, em 2016. A primeira é uma consultoria que
promove a equidade de gênero e raça em campanhas de marketing de grandes empresas. Com a iniciativa, Viviane deu um caráter
mais diverso e igualitário a anúncios e ações de empresas como Unilever, Itaú, Samsung e Hershey’s – a publicidade feita para a
marca de chocolates em 2021 rendeu à executiva o Leão de Bronze em Cannes. Filhote da consultoria, o Instituto Plano de Menina
surgiu com o objetivo de garantir o acesso a emprego para mulheres da periferia, de 14 a 24 anos. Até o momento, capacitou 5 mil
jovens de comunidades carentes. Algumas delas foram trabalhar em corporações como Ambev, TikTok e Google. “Quero proporcionar
oportunidades às mulheres que, como eu, nasceram sem privilégios de classe”, diz.
Para ajudar em casa, aos 14 anos Viviane trabalhava como vendedora em lojas. Foi a mãe que a convenceu a fazer faculdade
e buscar uma vida melhor. Viviane escolheu jornalismo, com pós-graduação em marketing. Formada, logo ocupava posições de
destaque em empresas de comunicação: foi coordenadora de Comunicação & Marketing da Unimed e diretora de Planejamento
na Alquimia de Ideias Comunicação Integrada. Entre 2020 e 2021, comandou o Buzzfeed Brasil. O passo seguinte foi assumir o
cargo de diretora de conexões e planejamento de negócios para a América Latina da Meta, em 2022 – sem deixar de lado a Plano
Feminino. “O novo trabalho pode me ajudar a abrir mais espaços para promover impacto social”, afirma. (por Martina Medina)

Foto: divulgação
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