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Revista Soletras - Janeiro 2024-5
Revista Soletras - Janeiro 2024-5
BIMESTRAL
Editor: Dany Wambire * Beira * Ano XI * 2024 * 54ª edição * E-mail: revistasoletras@gmail.com
Docentes universitá-
FUNDZA
rios debatem sobre ANUNCIA
direitos humanos e pa- VENCEDORES
triotismo na Beira DA TERCEIRA
Pag. 7 CHAMADA
LITERÁRIA
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EDITOR Dany Wambire | DESIGN Mouzinho A. Sambua | COLABORADORES Augusto Mambasse, Otildo Justino Guido, Swith
Chissada | Edição dispensa de registo do GABINFO.
Editorial
DANY WAMBIRE
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Fundza anuncia vencedores
da terceira chamada
literária
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Docentes universitários debatem
sobre direitos humanos e
patriotismo na Beira
Texto: Swith Chissada
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Por exemplo, a pessoa que está a passar por dificul- mados de patriotas. “Existem uma designação que é
dades não vai ter um sentimento patriótico elevado outsider. Quem são os antipatriotas? Pergunta, ten-
quando comparada com uma outra pessoa que está do respondido que “são os que estão fora do projecto
em condições mais ou menos boas ou mesmo boas”. maior. Estão contra a ideia do grupo. Isso não pode
Miquessene avança ainda que “patriotismo é ser nenhum problema, pois sempre há pessoas que
mais um elemento material do que sentimental”. Ele não se identificam com o projecto maior. Esse grupo
vai mais longe ao perguntar o seguinte: “patriotismo é muito importante, uma vez que faz parte do deba-
é falar bem da pátria? Patriotismo deve ser como ca- te sobre a construção do país”.
samento no qual há momentos bons. Há dificulda- Em relação aos direitos humanos, Miquesse-
des. Mas o casamento, mesmo assim, permanece”. ne entende que “é possível ser patriota e respeitar os
Já Tomé Mutombo, Doutor em Ciências Polí- direitos humanos. O conflito destas duas áreas vai,
ticas, afirma que “não se pode ter amor à pátria por sim, acontecer nos momentos excepcionais. Há mo-
conta do que nos ensinam para amá-la. Isso é amor mentos em que vai matar alguém por amor à pátria.
externo. Deve se amar à pátria por aquilo que ela é. Quando isso acontecer, devemos, logo, concluir que
Este tipo de amor é interno”. o patriotismo não se cruza com os direitos humanos”.
Seguidamente, ele recordou que “há quem Sávio Malope realça que “as organizações
usa o patriotismo como forma de manipulação po- não-governamentais de direitos humanos são rotu-
lítica. Falou-se de combate à pobreza, revolução ver- ladas como antipatriotas por uma razão muito sim-
de, amor à pátria. Afinal, vimos, no fim, o que aconte- ples. É que os Estados, muitas vezes, violam os direi-
ceu com as dívidas ocultas”. tos humanos e não querem críticas, pois sabem que
isso pesa muito na balança internacional”.
Sobre a conotação dos críticos, Mutombo su-
blinha que “criticar também é ser patriota. Criticar Mutombo, por sua vez, diz que “os políticos
sobre corrupção, a qualidade da educação, roubo de não querem ser criticados. Quem viola os direitos
votos é ser patriota. Não falar sobre isso é não ser pa- humanos é o Estado. Quando isso acontece, cria-se
triota. Assim, podemos ser patriotas por criticar o que bloqueio da imagem do país lá fora. Mesmo sabendo
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A minha pátria é a
consciência de se ser gente
Nesta edição, tazemos a entrevista com Elísio Miambo, autor do livro Brumas Desfeitas, Clausuras
Desnudadas, publicado pela Editorial Fundza em 2023. O autor é docente na Universidade Save; é ensaísta
com textos publicados no jornal O País, no blog Rectas Letras e outros órgãos de imprensa moçambicana.
Co-organizou duas Antologias poéticas: Vozes do Hinterland (2014) & No cais do amor (2022). Publicou Re-
troalimentações do Ego (2020) e, como membro da Associação cultural Xitende, dinamiza a literatura na
cidade de Xai-Xai.
Já se escreveu tanto. E se cai na rotina viciosa de se es- fase pré-linguística, manifesta-se em sons que ninguém en-
crever o que já foi escrito. Qual é a tua proposta para sair tende, mas todos aplaudem e se compadecem, porque se
desse círculo vicioso? trata de um preparo para as fases seguintes no processo de
De mesmo modo que já se escreveu tanto; já se viveu aquisição da linguagem. E depois, poeta? Houve fecunda-
tanto, também. Se a escrita for ressignificação dos nossos ção quer estética, quer ideológica? Ou foi só um exercício
seremos, de algum modo, coincidentes, mas nunca copis- Como estudioso e escritor, qual achas que deveria ser a
tas. missão da crítica literária para a poesia nos dias de hoje?
Dom Midó e Carlos Patraquim concordam que a poesia Por mais que haja intenção por parte do crítico, aca-
não é algo que se possa aconselhar alguém a trilhar. ba sendo uma não-missão. Devia haver um exercício de
Desaconselharias a poesia para os que amas? pré-leitura. Um exercício de camaradagem em que os origi-
nais circulam entre um clube de amigos (críticos/estudiosos
É uma questão contextual. De que estamos a falar?
ou poetas). Haveria, nesse exercício, uma espécie de crivo
De altruísmo; de construção; de gnose; de sustento; de ego-
quer temático, estético (sobretudo) e, quiçá, ideológico (mas
trip; ou de outras coisas? Eu tenho uma visão experimen-
quem liga?). Diante disso, os editores fariam o seu trabalho
talista sobre a poesia, mas às vezes me pergunto se não se
depois desta socialização (restrita), reservando, porém, o
estaria diante de um cenário em que o poeta, qual bebê em
pendor criativo do autor. Mas, neste caso, acaba sendo uma
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não-missão, porque são feitas observações que depois são Qual é a função da palavra no poema?
mandadas às favas. Não há nada mais desanimador que É permitir que o poeta a possa talhar a seu bell-
ler um livro, depois de publicado, e ver as mesmas imper- -prazer e o leitor faça o mesmo, sem admoestações, nem
feições que tu, na qualidade de leitor-crítico, sugeriste uma rogos.
supressão ou melhoria com o devido itinerário que tal me-
lhoria devia seguir. Dói! Como activista cultural, como olhas para o posiciona-
mento das associações culturais em Moçambique no
De outro modo, seria a leitura de textos já publica-
processo de dinamização do livro?
dos. Ora, mas sobre isto já se dissertou. Entre o equilíbrio
do que se deve dizer de bom e de mau do livro e a poten- Não sabia desta questão da dinamização do livro.
cial amizade, a segunda deve sempre perder. O que me Se, realmente, houvesse estaríamos a falar de outras coi-
salva é que tenho acesso aos meus pares e muito do que sas. Julgo que haja mais dinamização dos autores na qua-
tenho de dizer depois que o livro tiver sido lançado e nada lidade de novas estrelas pop. Não falta muito para termos
mais há por fazer, faço-o pessoalmente e acabo não vendo autores andando por aí com seguranças e assistentes: é
a necessidade de exteriorizar isso em papel ou outra coisa tanta promoção da figura do escritor em detrimento da
que valha. Teço os meus comentários na perspectiva de sua obra. Atenção: pousar na televisão, em podcasts, em
gerar uma reflexão pessoal (do autor) sobre o seu próprio festivais com uma sacola de livros enquanto se faz men-
labor criativo. É uma opção pessoal, que em nada periga o ção ao seu nome e aos títulos dos livros está muito aquém
meu exercício. A isenção lá está, mas como disse Soyinka: da dinamização do livro. O mundo quer os mundos que
o tigre não proclama a própria tigritude. A minha preocu- habitam o livro, mas ainda estamos entretidos com a es-
pação não está no exercício de um poeta/escritor, mas nas pectacularização do autor e das suas estravagâncias. Gos-
condições conjunturais que permitem que a postura esté- to muito da simplicidade dos clubes de livros. Um jardim;
tica (curiosa) de um poeta esteja, também, em outros da contacto com a natureza; o livro; a leitura; a troca de ilações
mesma geração. Aí, sim, eu fico absorto! sobre o livro e amizades que surgem num contacto hori-
zontal.
4. As pulsações da poesia devem ser sempre turvações?
É infelizmente um lugar-comum pensar-se como Querendo perceber sobre a ética no processo de cons-
tal, mas não creio que seja uma sentença. A vida tem pul- trução literária, quais consideras limites da ficção?
sações de várias cores. A poesia segue as cores que vida Não sei se há limite para a imaginação. Exploramo-
talha. -la tão pouco.
O heterónimo de F. Pessoa, Bernardo Soares, escreveu Para Aristóteles (384 a.C-322 a.C) e São Tomás de Aquino
no Livro do Desassossego que “a minha pátria é a língua (1225-1274), o fim último do homem é a felicidade; para
portuguesa”. Qual é a tua pátria? Jean-Paul Sartre (1905-1980) é a morte. Em 1Co 10:31, o fim
A minha pátria é a consciência de se ser gente. Mui- último do homem é glorificar a Deus.
to em falta nestes dias. Qual é para ti o fim último do Poeta?
“A palavra renova-se no poema./ (…)” É ser esteticamente profundo, sem estar numa tor-
re de marfim.
Eduardo White.
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João Saltiel lança O pensar
social na Livraria Fundza
Para ele, a ética deve ser ensinada, desde cedo, nas instituições de ensino. Po-
rém, este aspecto não acontece, uma vez que é relegado para o ensino superior. “Em
vez de insistirmos em educação musical nas escolas, devíamos colocar a disciplina
de educação ética”.
Por essa razão, Saltiel entende que “somos chamados a adoptar uma cons-
ciência ética. A ética e a moral social são importantes para a cidadania. O futuro é
uma construção conjunta e não um destino individual”.
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Fundza lança Estórias da paz
e reconciliação e O romper da
aurora
A Editorial Fundza lançou, no dia 22 de Dezembro, na Cidade de Maputo, duas obras literárias,
designadamente, Estórias da paz e reconciliação e O romper da aurora. As duas colectâneas de contos
foram editadas para estimular a escrita de jovens autores, que, assim, tiveram a oportunidade de ver a
sua história publicada em livro.
O segundo livro, O romper da aurora, resulta do Concurso Literário organizado pela Associação
Kulemba, no contexto da sexta edição da FLIK 2023. Assim, 15 histórias de igual número de alunos do En-
sino Secundário, em Moçambique, foram seleccionadas, num universo de 10 meninas e cinco meninos.
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Severino Ngoenha e José
Castiano lançam Manifesto
em Maputo
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Associação Kulemba realiza
Feira do Livro de Tete
A Associação Kulemba realizou, nos dias 15 e 16 de Dezembro do ano passado, a primeira edi-
ção da Feira do Livro de Tete. A iniciativa teve lugar na UCM-Tete e no Jardim Terceiro Congresso e
contou com a participação dos escritores Bento Baloi e Daniel da Costa.
Na mesma sessão, foi apresentado Elucidário do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do
Estado - perguntas e respostas, de Cláudio Almoço. O livro pretende ser útil aos funcionários e agen-
tes do Estado, com enfoque para os gestores de recursos humanos a todos os níveis.
Já a partir das 16 horas, no mesmo local, foram apresentados ao público No verso da cicatriz
(romance), de Bento Baloi, e Kushoto-Kulia (contos), de Daniel da Costa. Os livros levam o leitor a uma
viagem particular pela História de Moçambique, na qual os autores recuperam episódios de violência
com a pretensão de mostrar como foram construídos os pilares da nação moçambicana. O romance
de Bento Baloi, No verso da cicatriz, foi distinguido como melhor livro do ano (na categoria prosa) na
primeira edição do Prémio Literário Mia Couto.
No segundo e último dia da feira, sábado, às 9h, foi apresentado o livro Crónicas da rádio, no
Jardim 3º Congresso – Praça dos Continuadores. No mesmo local, foram expostos e vendidos mais
1000 títulos pela Livraria Fundza, para além de sessão de autógrafos com todos os autores convidados.
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