Você está na página 1de 18

SOLETRAS

BIMESTRAL
Editor: Dany Wambire * Beira * Ano XI * 2024 * 54ª edição * E-mail: revistasoletras@gmail.com

Docentes universitá-
FUNDZA
rios debatem sobre ANUNCIA
direitos humanos e pa- VENCEDORES
triotismo na Beira DA TERCEIRA
Pag. 7 CHAMADA
LITERÁRIA

Pag. 5

A minha pátria é a Pag. 9


Foto da capa: AZUL Ericeira Mag

consciência de se ser gente


Elísio Miambo fala do seu processo criativo
Índice de
conteúdos

05 08 09

12 15 17

EDITOR Dany Wambire | DESIGN Mouzinho A. Sambua | COLABORADORES Augusto Mambasse, Otildo Justino Guido, Swith
Chissada | Edição dispensa de registo do GABINFO.
Editorial
DANY WAMBIRE

Os sonhos que transitam


para o ano de 2024
Há precisamente doze meses escrevemos, neste es- uma vez que haveria uma oportunidade para se produzir li-
paço e nesta revista, um conjunto de sete sonhos que gos- vros em grandes quantidades, o que seria bom para as gráfi-
taríamos de ver alcançados ao longo do ano de 2023. Findo cas, editoras e livrarias. Mas isso não aconteceu em 2023, por
o ano, voltamos a este espaço para fazer o balanço a ver se isso mantemos esse sonho para 2024.
os sonhos traçados foram alcançados ou se devem ser re- Segundo sonho. Queríamos que as autarquias to-
novados. massem a iniciativa de atrair investidores do sector do livro
À semelhança dos últimos anos, o ano de 2023 foi es- para as suas cidades e vilas, começando pelos investido-
pecial para a Literatura Moçambicana por terem surgido im- res do sector livreiro, pois ainda há muitas cidades e vilas
portantes eventos culturais, com destaque para a 1ª edição do país sem uma única livraria. As autarquias podiam, por
da Gala das Indústrias Culturais e Criativas, organizada pelo exemplo, identificar espaços ou infra-estruturas que pudes-
Ministério da Cultura e Turismo, Prémio Literário Mia Cou- sem ser atribuídos como facilidade para que os investidores
to, promovido pela empresa Cornelder de Moçambique em implantassem livrarias numa vila ou cidade. Não tivemos
parceria com a Associação Kulemba, e o Prémio Nacional notícias de isso ter acontecido. Por isso, mantemos o sonho
de Literatura Infanto-Juvenil, igualmente organizado pela neste ano.
Associação Kulemba. Terceiro sonho. Desejávamos que surgissem mais
Com efeito, o Governo realizou em Março de 2023, prémios literários em todas as autarquias do país e funcio-
na Cidade de Maputo, a primeira Gala das Indústrias Cul- nassem à base de um regulamento justo, previamente ela-
turais e Criativas (PREICC). O evento serviu para distinguir borado, e geridos por gente idónea que possa credibilizar
artistas ou entidades que se têm evidenciado na promo- a nossa instituição literária. Sonho realizado parcialmente.
ção das artes e cultura moçambicanas. A Editorial Fundza Não surgiram prémios em outras autarquias, mas surgiram
foi a grande vencedora da categoria Literatura. Para além alguns prémios importantes, como o Prémio Nacional de
da Editorial Fundza, na primeira gala das indústrias cultu- Literatura Infanto-Juvenil, Prémio Literário Mia Couto e Pré-
rais e criativas foram distinguidos Paulina Chiziane (Prémio mio Literário Carlos Morgado.
Carreira), Jimmy Dludlu (Categoria Música), Calene e Lúcio Quarto sonho. Em 2023, ansiávamos que fosse mais
Chiteve (Categoria Teatro), Nivaldo Thierry (Categoria Moda), divulgada a Lei do Mecenato e que se removessem todas
Manuel Bata (Categoria Artes Plásticas) e Mélio Tinga (Cate- as barreiras para a sua implementação, de modo a permitir
goria Designer). o melhor envolvimento das empresas privadas no apoio à
Por sua vez, o Prémio Literário Mia Couto surgiu para produção, distribuição e promoção do livro. Isso infelizmen-
distinguir as melhores obras literárias publicadas anual- te não aconteceu.
mente em Moçambique, nas categorias de prosa e de poe- Quinto sonho. No ano que passou, esperávamos que
sia. “No verso da cicatriz”, de Bento Baloi, e “Pétalas negras fossem encontradas formas de colocar funcionais as biblio-
ou a sombra do inanimado”, de Belmiro Mouzinho, foram as tecas públicas e escolares, através da formação dos bibliote-
obras distinguidas na primeira edição do prémio. “O pintor cários para que pudessem dinamizar actividades de leitura
dos sonhos”, de Carlos dos Santos, foi a obra distinguida na dentro da biblioteca, e houvesse aumento do acervo biblio-
1ª edição do Prémio Nacional de Literatura Infanto-Juvenil, gráfico. Entretanto, não tivemos notícias de um programa
galardão instituído para reconhecer as melhores obras des- estruturado com este propósito. As bibliotecas continuam a
ta categoria. ser lugares pouco frequentados e pouco atractivos.
Apesar dos eventos supramencionados serem de Sexto sonho. Nas universidades, conforme sugeriu o
suma importância para o crescimento da literatura e da cul- Professor Doutor Ibraimo Mussagy, desejávamos que hou-
tura, em geral, os setes sonhos por nós idealizados estiveram vesse mais livros do que carteiras, pois o livro é o centro da
longe de serem alcançados. Ou seja, pelo facto de muitas formação na universidade. Aliás, o conceito clássico de aula
iniciativas, no campo literário, ainda continuarem sem gerar é: o contacto entre o aluno e a matéria. Mas isso também
grandes receitas, mostrando-se sempre necessários apoios não aconteceu.
para manter a cadeia do livro funcional. Mas o Estado não
Sétimo sonho. Em 2023, também ansiávamos que se
tem mobilizado e canalizado apoios suficientes pa ra o sec-
multiplicassem acções de mediação de leitura no país, in-
tor. Daí não terem sido alcançados a maior parte dos nossos
centivando-se a criação, pelo país todo, de clubes de leitura,
sonhos.
que têm o poder de estimular o gosto pela leitura e propor-
O nosso primeiro sonho era que saísse da gaveta, cionar experiências várias aos mediadores. Entretanto, no
duma vez por todas, o plano nacional de leitura, no qual es- ano que passou não demos grandes passos nesse sentido.
tivessem alistados todos os títulos para a leitura obrigatória
De resto, quando apresentamos os sete sonhos, está-
nas escolas primárias e secundárias do país, como acon-
vamos cientes que todos eles podiam cair em saco roto, so-
tece noutros países, como Brasil e Portugal. A introdução
bretudo no contexto em que falta um pouco de tudo e que
de livros de leitura obrigatória iria cumprir dois objectivos:
sonhar é uma ousadia. Mas nós preferimos sonhar e não nos
contribuir para o estímulo à criatividade, fértil nas artes e
importamos que todos os sonhos não alcançados em 2023
necessária para resolução de inúmeros problemas práticos;
transitem para este ano, que mal acabou de começar.
e contribuiria para a sustentabilidade da indústria do livro,

JANEIRO.2024 3
JANEIRO.2024 4
Fundza anuncia vencedores
da terceira chamada
literária

A Editorial Fundza lançou, no passado mês de Novembro, a terceira chamada li-


terária. A iniciativa anual pretende dar oportunidade de publicação aos jovens autores
talentosos, moçambicanos, sem nenhum custo para a publicação do livro.
Nesta terceira edição, foram inscritos 104 projectos literários, entre os quais 11 se-
leccionados, designadamente: Marina, é hora de voar!, de Silmério Uaquessa e Obedes
Lobadias, Jornada do rei alfabeto, de Stélio Filipe (infanto-juvenil); A boca negra-a seiva,
de Kafir Enes, A promessa do mentiroso, de Natércia Chicane (romance); O filosofar dos
corpos, de Atanásio Mutoropa, O endereço para dentro do segredo, de Baptista Américo,
Metapolimorfose do ar, de Beni Chaúque, Locus-corpus, de Jeremias Francisco Jeremias,
Poemas do breve, Lex Mucache, Tocar o ser, de Sánia Iacuti, e O prazer ao chorar de dor,
de Whaskety Fernando (poesia).
Das 104 propostas literárias inscritas na terceira chamada da Fundza, 30 são de
poesia, 29 romances e 45 contos e/ou crónicas.
Nas duas anteriores chamadas literárias, a Fundza lançou aproximadamente 30
livros de autores de praticamente todo o país, o que se insere no plano de a editora des-
centralizar as oportunidades de publicação.
Um dos livros seleccionados na segunda chamada literária da Fundza, Pétalas
negras ou a sombra do inanimado, de Belmiro Mouzinho, foi distinguido na primeira
edição do Prémio Literário Mia Couto, no género poesia.

JANEIRO.2024 5
Docentes universitários debatem
sobre direitos humanos e
patriotismo na Beira
Texto: Swith Chissada

A Associação Kulemba e o Curso de Filosofia da Universidade Licungo (Beira)


promoveram, no dia 16 de Novembro de 2023, uma sessão de conversa de reflexão so-
bre como as questões dos direitos humanos e de patriotismo são vistas ou interpreta-
das, actualmente, pela sociedade. O evento, que decorreu na Beira, na Livraria Fundza,
estava subordinada ao tema “Uma reflexão sobre os direitos humanos e patriotismo na
actualidade” e inserida dentro da celebração do Dia Internacional da Filosofia.

A conversa, que contou com a presença de estudantes e docentes de diferen-


tes instituições universitárias e do público em geral, tinha como convidados Samuel
Miquissene, Sávio Malope, Tomé Mutombo e Teotónio Pio, este último na qualidade de
moderador.

Samuel Miquessene, docente e Mestre em Ciências Jurídico-forense, entende


que “o amor à pátria será sentido de formas diferentes de acordo com vários factores.

JANEIRO.2024 7
Por exemplo, a pessoa que está a passar por dificul- mados de patriotas. “Existem uma designação que é
dades não vai ter um sentimento patriótico elevado outsider. Quem são os antipatriotas? Pergunta, ten-
quando comparada com uma outra pessoa que está do respondido que “são os que estão fora do projecto
em condições mais ou menos boas ou mesmo boas”. maior. Estão contra a ideia do grupo. Isso não pode

Miquessene avança ainda que “patriotismo é ser nenhum problema, pois sempre há pessoas que

mais um elemento material do que sentimental”. Ele não se identificam com o projecto maior. Esse grupo

vai mais longe ao perguntar o seguinte: “patriotismo é muito importante, uma vez que faz parte do deba-

é falar bem da pátria? Patriotismo deve ser como ca- te sobre a construção do país”.

samento no qual há momentos bons. Há dificulda- Em relação aos direitos humanos, Miquesse-
des. Mas o casamento, mesmo assim, permanece”. ne entende que “é possível ser patriota e respeitar os

Já Tomé Mutombo, Doutor em Ciências Polí- direitos humanos. O conflito destas duas áreas vai,

ticas, afirma que “não se pode ter amor à pátria por sim, acontecer nos momentos excepcionais. Há mo-

conta do que nos ensinam para amá-la. Isso é amor mentos em que vai matar alguém por amor à pátria.

externo. Deve se amar à pátria por aquilo que ela é. Quando isso acontecer, devemos, logo, concluir que

Este tipo de amor é interno”. o patriotismo não se cruza com os direitos humanos”.

Seguidamente, ele recordou que “há quem Sávio Malope realça que “as organizações

usa o patriotismo como forma de manipulação po- não-governamentais de direitos humanos são rotu-

lítica. Falou-se de combate à pobreza, revolução ver- ladas como antipatriotas por uma razão muito sim-

de, amor à pátria. Afinal, vimos, no fim, o que aconte- ples. É que os Estados, muitas vezes, violam os direi-

ceu com as dívidas ocultas”. tos humanos e não querem críticas, pois sabem que
isso pesa muito na balança internacional”.
Sobre a conotação dos críticos, Mutombo su-
blinha que “criticar também é ser patriota. Criticar Mutombo, por sua vez, diz que “os políticos

sobre corrupção, a qualidade da educação, roubo de não querem ser criticados. Quem viola os direitos

votos é ser patriota. Não falar sobre isso é não ser pa- humanos é o Estado. Quando isso acontece, cria-se

triota. Assim, podemos ser patriotas por criticar o que bloqueio da imagem do país lá fora. Mesmo sabendo

está errado”. que estão a violar chamam-nos de antipatriotas por-


que estamos a criticar. Tudo isso é para salvaguardar
Por sua vez, Sávio Malope, Doutor em Filosofia
os interesses deles e não do país”.
Política, questiona sobre quem são os que são cha-

JANEIRO.2024 8
A minha pátria é a
consciência de se ser gente

Texto: Otildo Justino Guido

Nesta edição, tazemos a entrevista com Elísio Miambo, autor do livro Brumas Desfeitas, Clausuras
Desnudadas, publicado pela Editorial Fundza em 2023. O autor é docente na Universidade Save; é ensaísta
com textos publicados no jornal O País, no blog Rectas Letras e outros órgãos de imprensa moçambicana.
Co-organizou duas Antologias poéticas: Vozes do Hinterland (2014) & No cais do amor (2022). Publicou Re-
troalimentações do Ego (2020) e, como membro da Associação cultural Xitende, dinamiza a literatura na
cidade de Xai-Xai.

Já se escreveu tanto. E se cai na rotina viciosa de se es- fase pré-linguística, manifesta-se em sons que ninguém en-
crever o que já foi escrito. Qual é a tua proposta para sair tende, mas todos aplaudem e se compadecem, porque se
desse círculo vicioso? trata de um preparo para as fases seguintes no processo de

De mesmo modo que já se escreveu tanto; já se viveu aquisição da linguagem. E depois, poeta? Houve fecunda-

tanto, também. Se a escrita for ressignificação dos nossos ção quer estética, quer ideológica? Ou foi só um exercício

próprios dramas existenciais, sociais, culturais e outros “ais”, circense?

seremos, de algum modo, coincidentes, mas nunca copis- Como estudioso e escritor, qual achas que deveria ser a
tas. missão da crítica literária para a poesia nos dias de hoje?

Dom Midó e Carlos Patraquim concordam que a poesia Por mais que haja intenção por parte do crítico, aca-
não é algo que se possa aconselhar alguém a trilhar. ba sendo uma não-missão. Devia haver um exercício de

Desaconselharias a poesia para os que amas? pré-leitura. Um exercício de camaradagem em que os origi-
nais circulam entre um clube de amigos (críticos/estudiosos
É uma questão contextual. De que estamos a falar?
ou poetas). Haveria, nesse exercício, uma espécie de crivo
De altruísmo; de construção; de gnose; de sustento; de ego-
quer temático, estético (sobretudo) e, quiçá, ideológico (mas
trip; ou de outras coisas? Eu tenho uma visão experimen-
quem liga?). Diante disso, os editores fariam o seu trabalho
talista sobre a poesia, mas às vezes me pergunto se não se
depois desta socialização (restrita), reservando, porém, o
estaria diante de um cenário em que o poeta, qual bebê em
pendor criativo do autor. Mas, neste caso, acaba sendo uma

JANEIRO.2024 9
não-missão, porque são feitas observações que depois são Qual é a função da palavra no poema?
mandadas às favas. Não há nada mais desanimador que É permitir que o poeta a possa talhar a seu bell-
ler um livro, depois de publicado, e ver as mesmas imper- -prazer e o leitor faça o mesmo, sem admoestações, nem
feições que tu, na qualidade de leitor-crítico, sugeriste uma rogos.
supressão ou melhoria com o devido itinerário que tal me-
lhoria devia seguir. Dói! Como activista cultural, como olhas para o posiciona-
mento das associações culturais em Moçambique no
De outro modo, seria a leitura de textos já publica-
processo de dinamização do livro?
dos. Ora, mas sobre isto já se dissertou. Entre o equilíbrio
do que se deve dizer de bom e de mau do livro e a poten- Não sabia desta questão da dinamização do livro.

cial amizade, a segunda deve sempre perder. O que me Se, realmente, houvesse estaríamos a falar de outras coi-

salva é que tenho acesso aos meus pares e muito do que sas. Julgo que haja mais dinamização dos autores na qua-

tenho de dizer depois que o livro tiver sido lançado e nada lidade de novas estrelas pop. Não falta muito para termos

mais há por fazer, faço-o pessoalmente e acabo não vendo autores andando por aí com seguranças e assistentes: é

a necessidade de exteriorizar isso em papel ou outra coisa tanta promoção da figura do escritor em detrimento da

que valha. Teço os meus comentários na perspectiva de sua obra. Atenção: pousar na televisão, em podcasts, em

gerar uma reflexão pessoal (do autor) sobre o seu próprio festivais com uma sacola de livros enquanto se faz men-

labor criativo. É uma opção pessoal, que em nada periga o ção ao seu nome e aos títulos dos livros está muito aquém

meu exercício. A isenção lá está, mas como disse Soyinka: da dinamização do livro. O mundo quer os mundos que

o tigre não proclama a própria tigritude. A minha preocu- habitam o livro, mas ainda estamos entretidos com a es-

pação não está no exercício de um poeta/escritor, mas nas pectacularização do autor e das suas estravagâncias. Gos-

condições conjunturais que permitem que a postura esté- to muito da simplicidade dos clubes de livros. Um jardim;

tica (curiosa) de um poeta esteja, também, em outros da contacto com a natureza; o livro; a leitura; a troca de ilações

mesma geração. Aí, sim, eu fico absorto! sobre o livro e amizades que surgem num contacto hori-
zontal.
4. As pulsações da poesia devem ser sempre turvações?

É infelizmente um lugar-comum pensar-se como Querendo perceber sobre a ética no processo de cons-
tal, mas não creio que seja uma sentença. A vida tem pul- trução literária, quais consideras limites da ficção?
sações de várias cores. A poesia segue as cores que vida Não sei se há limite para a imaginação. Exploramo-
talha. -la tão pouco.

O heterónimo de F. Pessoa, Bernardo Soares, escreveu Para Aristóteles (384 a.C-322 a.C) e São Tomás de Aquino
no Livro do Desassossego que “a minha pátria é a língua (1225-1274), o fim último do homem é a felicidade; para
portuguesa”. Qual é a tua pátria? Jean-Paul Sartre (1905-1980) é a morte. Em 1Co 10:31, o fim
A minha pátria é a consciência de se ser gente. Mui- último do homem é glorificar a Deus.
to em falta nestes dias. Qual é para ti o fim último do Poeta?

“A palavra renova-se no poema./ (…)” É ser esteticamente profundo, sem estar numa tor-
re de marfim.
Eduardo White.

JANEIRO.2024 10
JANEIRO.2024 11
João Saltiel lança O pensar
social na Livraria Fundza

Texto: Swith Chissada

“O Pensar Social”, livro de João Saltiel, foi lançado no dia 21 de Dezembro de


2023, no espaço da Livraria Fundza, na Beira. Na essência, a obra traz profundas ques-
tões sobre a caminhada da sociedade nos dias actuais.

Segundo o autor, os temas abordados no livro são um convite para a parti-


cipação de uma sociedade saudável. “Exigimos mais da sociedade e não fazemos
quase nada para a tal sociedade. O futuro é mudado pelas escolhas do presente”.

Diante dos vários problemas existentes, Saltiel coloca a questão da ética


como a solução de uma parte dos conflitos. “A ética é a chave que abre portas da
sociedade que queremos ver no futuro”.

Para ele, a ética deve ser ensinada, desde cedo, nas instituições de ensino. Po-
rém, este aspecto não acontece, uma vez que é relegado para o ensino superior. “Em
vez de insistirmos em educação musical nas escolas, devíamos colocar a disciplina
de educação ética”.

Por essa razão, Saltiel entende que “somos chamados a adoptar uma cons-
ciência ética. A ética e a moral social são importantes para a cidadania. O futuro é
uma construção conjunta e não um destino individual”.

JANEIRO.2024 12
Fundza lança Estórias da paz
e reconciliação e O romper da
aurora
A Editorial Fundza lançou, no dia 22 de Dezembro, na Cidade de Maputo, duas obras literárias,
designadamente, Estórias da paz e reconciliação e O romper da aurora. As duas colectâneas de contos
foram editadas para estimular a escrita de jovens autores, que, assim, tiveram a oportunidade de ver a
sua história publicada em livro.

No primeiro caso, a publicação de Estórias da paz e reconciliação resulta de um concurso de


crónicas sobre paz e reconciliação, envolvendo jovens estudantes universitários moçambicanos. “É um
acto interessante, pois se dá aos jovens a possibilidade de pensar e opinar sobre um problema do seu
tempo. E, neste livro, fazem-no bem. Embora ainda sintam os efeitos da guerra que se abateu sobre o
país, preferem apartar-se dela, optando pela construção de um enredo que tem a família como palco,
querendo com isso mostrar que a árvore da paz, cujos frutos alimentam o país inteiro, deve ser plantada
na família. É na família, onde, primeiramente, devem ser ensinados os valores da paz e reconciliação”,
lê-se na nota de apresentação da obra.

O segundo livro, O romper da aurora, resulta do Concurso Literário organizado pela Associação
Kulemba, no contexto da sexta edição da FLIK 2023. Assim, 15 histórias de igual número de alunos do En-
sino Secundário, em Moçambique, foram seleccionadas, num universo de 10 meninas e cinco meninos.

Os 15 textos de O romper da aurora perfazem cerca de 85 páginas e, em termos temáticos, in-


cluem no enredo diferentes cenários sobre os desastres naturais, que, no país, têm causado muitas víti-
mas humanas e perda de bens. Com a iniciativa, a Associação Kulemba espera contribuir para a conscien-
cialização da necessidade de preservação da natureza.

JANEIRO.2024 13
JANEIRO.2024 14
Severino Ngoenha e José
Castiano lançam Manifesto
em Maputo

No dia 18 de Dezembro de 2023, na Cidade


de Maputo, os professores universitários Severino
Ngoenha e José Castiano lançaram o livro Manifes-
to por uma terceira via.

Apresentado por Tomás Vieira Mário, o livro


constitui um exercício filosófico que pretende for-
necer uma contribuição social ao país, de modo
que se possa pensar Moçambique e, assim, buscar-
-se alternativas ao que os autores consideram “de-
soladora situação actual”.

“Uma Terceira Via precisa de ser pensada a


partir dos alicerces da nossa historicidade, na orga-
nização e estruturação do Estado e nos seus subs-
tratos axiológicos”, consideram Ngoenha e Castia-
no, acrescentando: “A Terceira Via deverá ser um
esforço de construir uma socialização política e ins-
titucional que equacione a busca da Justiça Social
da Primeira e as Liberdades da Segunda”.

Num cruzamento entre o passado e o pre-


sente, Severino Ngoenha e José Castiano avançam
ocultas, a destruição imposta pelos ciclones IDAI,
neste Manifesto determinados espectros de desola-
Keneth e Gombe. Ainda assim, concluem, “a prin-
ção e de dissolução que pairam sobre Moçambique.
cipal fonte dos nossos dissabores é humana, ética,
A abordagem considera a tragédia causada pela
política e social.
guerra de dezasseis anos, as abomináveis dívidas

JANEIRO.2024 15
JANEIRO.2024 16
Associação Kulemba realiza
Feira do Livro de Tete
A Associação Kulemba realizou, nos dias 15 e 16 de Dezembro do ano passado, a primeira edi-
ção da Feira do Livro de Tete. A iniciativa teve lugar na UCM-Tete e no Jardim Terceiro Congresso e
contou com a participação dos escritores Bento Baloi e Daniel da Costa.

A sessão inaugural da Feira do Livro de Tete incluiu a apresentação de Crimes e formas de


processo, de Jorge Pereira Gimo Tivane, Mauro Saúde e Zacarias Nimotha. Trata-se de um livro consti-
tuído por seis partes: Crimes contra as pessoas, Crimes contra o património em geral, Crimes de perigo
comum, Crimes contra a fé pública, Crimes contra a ordem e tranquilidade e Crimes contra o Estado.

Na mesma sessão, foi apresentado Elucidário do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do
Estado - perguntas e respostas, de Cláudio Almoço. O livro pretende ser útil aos funcionários e agen-
tes do Estado, com enfoque para os gestores de recursos humanos a todos os níveis.

Já a partir das 16 horas, no mesmo local, foram apresentados ao público No verso da cicatriz
(romance), de Bento Baloi, e Kushoto-Kulia (contos), de Daniel da Costa. Os livros levam o leitor a uma
viagem particular pela História de Moçambique, na qual os autores recuperam episódios de violência
com a pretensão de mostrar como foram construídos os pilares da nação moçambicana. O romance
de Bento Baloi, No verso da cicatriz, foi distinguido como melhor livro do ano (na categoria prosa) na
primeira edição do Prémio Literário Mia Couto.

No segundo e último dia da feira, sábado, às 9h, foi apresentado o livro Crónicas da rádio, no
Jardim 3º Congresso – Praça dos Continuadores. No mesmo local, foram expostos e vendidos mais
1000 títulos pela Livraria Fundza, para além de sessão de autógrafos com todos os autores convidados.

JANEIRO.2024 17
JANEIRO.2024 18

Você também pode gostar