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Enrevita concediaa polo onggrato Ansio Madea 0 Sistema Nacional de Teatro, Rode Janero, 1977, O papel da diregao de arte no cinema Eu nunca fiz um trabalho que fosse somente cenogratia ou s6 0 figurino. Desde muito cedo me: conscientizei de que, para ter um cantrole do meu trabatho, para fazer uma coisa mais eficiente, eu teria de saber do que seria 0 fundo e a forma. Anisio Medeiros’ Um conceito (Oque une uma equipe de producao de cinema é a criagdo de um universo visual, ritmico e sonoro es- pecial, que ofereca ao espectador a vivéncia de uma narrative. Instrumento essencial da composicéo do espetaculo, a direcao de arte atua sobre um dos. componentes centrais de construgao da linguagem, cinematogratica: seu aspecto visual Quando falamos em ditecdo de arte, estamos refe- rirdo-nos & concepcéo do ambiente plastico de um, filme, compreendendo que este 6 composto tanto. pelas caractoristicas formais do espaco e objetos quanto pela caracterizagao das figuras em cena. A partir do rateiro, o diretor de arte baliza as escolhas sobre @ arquitetura e os demais elementos cénicos, delineando e orientando os trabalhos de cenogratia, figurino, maquiagem e efeitos especiais. Colabora, assim, em conjunto com o diretor @ 0 diretor de foiografia, na criacao de atmosteras particulares a cada momento do filme e na impresséo de significa dos visuais que extrapolam a narrativa, Occinema norte-americano inaugurou a funcao do ditetor de arte, ou production designer, em 1939, re filme E 0 vento levou, de David O. Selznick. O trabalho realizado por William Cameron Menzies, ‘que desenhou quadro a quadro a produgao a ser reslizada, descrevendo nos minimos detalhes todos: (8 elementos que comporiam os enquadramentos, levou seu produtor & definigao da nova fungao na produce cinematografica: 0 production designer, nacionaimente definido como diretor de arte. Cendgrafos, figurinistas, maquiadores e profissionais dos efeitos especiais que, até entéo, criavam e pro- duziam seus trabalhos articulados diretamente pelo ditetor e/0u produtor passaram a seguir a crientagao do diretor de arte, numa abordagem especalizada e global da espacialidade e visuaidade da obya, No Brasil, a adogao dessa figura 6 algo recente. A geracao de cendgrafos em atividade nos anos 1960 @ 1970 foi marcada por profissionais que passaram a assumir a concep¢ao e producae do figu'ino, além da orientacéo sobre a maquiagem, sem pcr isso e- ceber um crédito especial nos programas ou fichas: técnicas, como foi o caso de Flavio Império, Anisio Medeiros, Luis Carlos Ripper @ Régis Monteiro, centre outros. ‘Segundo pode-se apurar, a adogdo da funcso deu-se, pela primeira vez, em 1985, quanco Clé- vis Bueno, contando com Felippe Crescentti na cenogratia ¢ Patricio Bisso nos figurinos, assinou a diregao de arte do filme O beijo da mulher aranha, dirigido por Hector Babenco. No mesmo avo, Adrian Cooper figurou com mesmo titulo nos créditos de A marvada came, de André Klotzel, tendo como colaboradores Beto Mainieri e Marisa Guimaraes, respectivamente, cendgrafo ¢ figurinista. Atuaimen- te, a formacéo do departamento de arte, sob a coor- denagdo desse profissional, tomou-se constante na estrutura da produgao cinematogratica brasileira Ainfluéncia de seu trabalho é ampla. Suas propos tas atuam estruturaimente na conformagao da cena, ‘20 mesmo tempo que a composigao plastica opera em diferentes camadas da percepoao. O desenho do espaco cénico e sua ambientacao estabelecem pontos de referéncia para a acdo prevista, assim como para a iluminagdo, enquadramentod. movimentos de c&mera, agindo diretamente sobre ‘a coreografia da cena. O espaco e os abjetos con: tracenam com os atores na construcéo da aco, en- quanto 0 quadro é redesenhado a cada movimento, Por sua vez, a configuragao arquiteténica e visual gere entendimentos cognitivos ligados diretamente 3 narrativa, como interpretages simbdlicas, histé- ricas, sociais psicolégicas, etc. Ao mesmo tempo, ‘9m agao sinestésica caracteristica do cinema, suas propriedades pldsticas provocam os sentidos senso- riais do espectador atribuindo novos significados & experiéncia A construgao de um universo fisico visual coerente com a abordagem original do filme, definida com 0 diretor, 6 0 objetivo do trabalho do diretor de arte. Extrapolando 0 chamado "padrao de beleza", 0 “belo” cinematografico esta ligado a criacao de cconfltos visuais que torem a imagem instigante, a ponto de envolver 0 espectadior naquilo que v8, fazendo-o acreditar na autenticidade do mundo ficcional que Ihe é apresentado, Aalquimia do cinema O cerater coletivo da obra cinematogratica coloca- nos diante de um proceso camplexo @ rico em sua prética. Inimeras camadas de contribuigdes artisticas se entrelacam até que a quimica se estabeleca. Baseado na abordagem definida pelo ditetor, um longo proceso ¢ trlhado pela equine de colaboradores. A cada fase de producéo, diferentes profisslonais lancam mao de suas especialidades na construgao de um filme. Com 0 roteiro em maos e a produgao dimensionada, © diretor, em comum acordo com 0 produtor, monta sua equipe. Forma-se entao 0 que, comumente, se chama de “tripé” de criagao da imagem, ou seja, @ parceria entre o diretor, o diretor de arte e 0 diretor de fotografia. E 0 primeiro passo para a caracteriza- G40 da linguagem visual a ser adotada pelo filme, iniciando um trabalho conjunto e interdependent, no qual o trago de um sugere acdes ao outro. De modo geral, pode-se dizer que o diretor define a abordagem, o ritmo, a intensidade e as qualidades

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