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METROSSEXUAL

A FRONTEIRA ENTRE O
FENÓMENO DE PROPAGANDA
E O NASCER
DUM NOVO HOMEM
O QUE É UM METROSSEXUAL?
Jornais e revistas de todo o mundo já escreveram muitas páginas a um processo de libertação masculina de
com definições do termo mas, mesmo assim, e porque não é dado costumes tão radical como foi o das mulheres,
como adquirido que “todos” o conhecem, começamos este artigo e que por detrás dos rótulos esconde-se algo
com uma explicação sobre do que realmente se trata e da sua mais complexo (2). Gratch sustenta que os
origem. ‘Metrossexual’ é um neologismo inventado, há uma década, novos traços comportamentais nascidos nas
pelo jornalista inglês Mark Simpson para definir nos seus artigos grandes metrópoles transferem-se à cultura
uma tipologia de homem: jovem urbano (25-45 anos), com um global através do marketing e da propaganda.
poder aquisitivo acima da média; heterossexual, com gostos As mudanças parecem, em grande parte,
requintados, alguns dos quais considerados – pelos clichés sociais – determinadas pelo derrubar duma imagem
próximos do universo comportamental feminino e ‘gay’, como, que permaneceu praticamente intacta até
por exemplo, a preocupação em estar a par das últimas tendências à década de 60. Foi determinante a
da moda, a frequência de salões de beleza, o interesse pela emancipação da mulher na sociedade
cosmética e pela própria aparência – depilar-se, manter impecável e, consequentemente, no mundo do trabalho;
o cabelo, arranjar as unhas, etc. O ‘metrossexual’ não receia a mudança do conceito de autoridade perante
exteriorizar as suas emoções, mostra-se delicado e atento com a mulher e os filhos; a perda da sua posição
a mulher e os filhos dando valor aos aspectos afectivos. como chefe da família, elemento único
Em síntese, o ‘metrossexual coloca-se nas antípodas do ‘macho’, do sustento do grupo; e, por fim, a sua
tido como um homem forte e distante, incapaz de exteriorizar as exclusividade na iniciativa sexual. Com o fim
próprias emoções e que evita ocupar-se de tudo o que considera do poder absoluto, o homem “arquiva” a sua
supérfluo. O jogador de futebol David Beckham foi “eleito” como faceta de “conquistador-dominador” passando
embaixador dos ‘metrossexuais’. a ter que conformar-se com a de “sedutor-
Obviamente não bastou o engenho de Mark Simpson para -seduzido”. Não são poucos, também entre
popularizar à escala planetária o termo. ‘Marketeers’, editores os homens, aqueles que anseiam que as
de revistas de moda, marcas de cosmética e moda viram no rótulo características atribuídas ao homem
a oportunidade de anunciar o “nascimento dum novo tipo ‘metrossexual’ se tornem dominantes na
de homem”. Enfim, trata-se de catalogar um “novo tipo sociedade, apagando os traços definidos
de consumidor”. como característicos da personalidade
masculina tais como, o lado violento,
predador e excessivamente pragmático.
ESPECIAL A REACÇÃO: O TECNO-MACHO
O movimento de “resistência” não tardou
O DERRUBAR DUMA IMAGEM SECULAR muito a surgir através de outros “caçadores
de tendências” americanos: é o ‘tecno-homem’
Mark Jacobs, numa entrevista (1) recente, disse que a ou, como definem alguns meios mais
‘metrossexualidade’ será tão comum e indispensável para o inspirados, é o ‘tecno-macho’. Na verdade, não
capitalismo, que dentro de dez anos a palavra nem será mais é reivindicado como movimento de resistência,
usada e a tendência será invisível. mas sim como um movimento que vem
Para alguns, como o psicólogo americano Alon Gratch, assistimos substituir o fenómeno da ‘metrossexualidade’.
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CHICK
JOVEM URBANO (25-45 ANOS), COM UM PODER
AQUISITIVO ACIMA DA MÉDIA; HETEROSSEXUAL,
COM GOSTOS REQUINTADOS, ALGUNS DOS QUAIS
CONSIDERADOS – PELOS CLICHÉS SOCIAIS -
PRÓXIMOS DO UNIVERSO COMPORTAMENTAL
FEMININO E GAY, COMO, POR EXEMPLO,
A PREOCUPAÇÃO EM ESTAR A PAR DAS ÚLTIMAS
TENDÊNCIAS DA MODA, A FREQUÊNCIA DE SALÕES
DE BELEZA, O INTERESSE PELA COSMÉTICA
E PELA PRÓPRIA APARÊNCIA

O ‘tecno-macho’ vai ao ginásio, cuida da forma física mas,


obviamente, nada quer ter a ver com cremes e maquilhagem;
não abdica dos gadgets tecnológicos, do seu telemóvel de
última geração, de horas investidas a dominar a consola de
vídeo-jogos e, naturalmente, adora carros potentes. Com o
‘tecno-macho’ elimina-se qualquer traço de feminilidade no
comportamento e deixa-se de “flirtar” com tudo o que possa
ser identificado como próximo da sensibilidade ‘gay’.
O aspecto do ‘tecno-macho’, dizem, é o do homem “duro”
com um olhar frio e algo robótico. Também aqui um futebolista,
o sueco Fredrick Ljungberg, foi considerado um “embaixador”
da espécie. Curiosamente, pudemos ver a sua imagem numa
das últimas campanhas da Calvin Klein Underwear.
Os críticos afirmam que este estereótipo de homem,
mais “tecnologizado” e muito menos sensível, representa
um regresso ao passado. Mas, se olharmos em redor, em
Portugal concretamente, veremos que, mais do que um novo
fenómeno, os ‘tecno-machos’ são a realidade dominante.
Revistas como Maxim’s ou Ego, pela linha editorial escolhida,
ilustram-nos perfeitamente.

UNDERWEAR PARA TECNO-MACHOS OU PARA METROSSEXUAIS?


Ao ‘tecno-macho’ basta ostentar a ‘griffe’, no fundo símbolo
de poder e status. O ‘metrossexual’ quer algo mais: design,
originalidade e qualidade.
Há pelo menos uma década, a Moda Íntima masculina
tem vindo a ganhar importância em termos qualitativos.
Os homens indiferentes ao que vestem estão em minoria,
e é evidente a melhoria dos produtos e o maior cuidado das
marcas em todos os segmentos do mercado. Hoje, mesmo na
oferta dos hipermercados que continuam a ser um lugar de
eleição nas compras de íntimo masculino, vislumbra-se uma
preocupação com a qualidade e, inclusive, com o design.
Durante a maior parte da década de 90, as ‘griffes’
internacionais de maior sucesso mantiveram uma posição
conservadora no que se refere ao estilo (cortes, cores,
design), limitando-se a “contagiar” com o seu ‘lifestyle’
as suas linhas de ‘underwear’. As gamas de ‘underwear’
de ‘griffes’ como a Calvin Klein, Armani, Dolce & Gabbana,

IMPETUS
Hugo Boss, etc. continuam a seguir esse caminho que lhes abriu comprimento da perna é mais curto e a cintura
portas para um sucesso inquestionável sem apostar claramente na sensivelmente mais baixa. Os materiais variam
inovação dos produtos. A “realpolitik” das ‘griffes’, considerou a entre o algodão com elastano, até às microfibras
roupa interior como uma gama de acessórios com possibilidades de última geração e o modal (fibra procedente
de introduzir um certo nível de massificação e obter um excelente da celulose), com um leque de acabamentos
retorno financeiro. inimagináveis. Algumas marcas começam a
Por outro lado, as marcas tradicionais, após se cansarem de lutar apostar nos têxteis técnicos, com a introdução
apenas em função do preço, começaram a introduzir novidades nos de tecidos que possuem propriedades que
tecidos e, timidamente, elementos de design (estampados bem- contribuem para a protecção e bem-estar do
-humorados que seguiam o exemplo das gravatas); além de, corpo: térmicas, dermatológicas, bacteriostáticas,
nalguns casos, procurarem parecerem-se um pouco mais às bacteriológicas, até então privilégio da roupa
‘griffes’ adoptando alguns dos sinais que as distinguem. desportiva e das mais evoluídas gamas de
Já em pleno século XXI, várias marcas europeias especialistas roupa interior feminina. A utilização de cores,
do sector, decidiram dar o salto apostando fundamentalmente o arrojo dos estampados, a procura de novos
na tecnologia e design. Bruno Banani, Hom, Grigioperla, Impetus, efeitos e texturas nos tecidos, aproximam o
Punto Blanco, citando apenas algumas das mais conhecidas no ‘underwear’ masculino às tendências da moda
nosso país, representam a nova dinâmica do íntimo masculino e a exterior. O conceito de ‘t-shirt’ interior deixa
vanguarda, tanto em design, como na utilização de novos materiais. praticamente de existir, ficando relegado às
Se, no início, temiam um enquadramento no cliché ‘gay’, gamas básicas das marcas. Qualquer modelo
a realidade é que a difusão mediática do fenómeno ‘metrossexual’ de ‘t-shirt’ duma marca de roupa interior, como
abriu uma enorme “auto-estrada”: a dum público muito mais vasto, Punto Blanco ou Impetus, tem um nível de
onde a margem de crescimento é realmente prometedora. qualidade e sofisticação superior em relação
à maioria das marcas que se dedicam ao
A NOVA ROUPA INTERIOR vestuário exterior. O Estilismo joga,
fundamentalmente, com dois elementos:
As marcas estão a revolucionar um sector, até há pouco o desportivo, recriando-se na geometria e
considerado monolítico, com as suas propostas arrojadas. contraste de tons e recorrendo à iconografia
Os cortes ganharam uma dinâmica inteiramente nova: o ‘retro-shorty’ das diversas modalidades, e o “temático”,
conquista adeptos, completamente justo ao corpo graças à Lycra® onde tanto vale como tema de inspiração o
e extremamente confortável quando não tem costuras laterais Pacífico Sul como a ‘pop-art’ de Andy Warhol.
(seamless). Seguindo as tendências da moda exterior, o

ESPECIAL IMPETUS PUNTO BLANCO


UMA MARCA PORTUGUESA
ABRE CAMINHO NA EUROPA
Merece uma menção especial a Impetus,
por ser uma marca portuguesa que conseguiu
galgar um caminho no mercado internacional.
O facto de utilizar, como canal prioritário de
distribuição, o retalho multimarcas e os
grandes armazéns como El Corte Inglés
e Galeries Lafayette, talvez não lhe dê a
visibilidade nos nossos media – ao nível
doutras marcas bem sucedidas e com
projecção fora das nossas fronteiras, como
a Salsa, ou a Lanidor. Mas, na realidade,
a Impetus é com toda a probabilidade a marca
portuguesa que mais vendas realiza além
fronteiras. Actualmente é uma das 5/6 marcas
europeias especializadas em ‘underwear’
masculino de maior projecção nos segmentos CARGO, O GUIA DO METROSSEXUAL AMERICANO
moda, apresentando-se também como uma das Não é definida como revista, mas sim como um catálogo de
mais avançadas tecnologicamente, graças aos orientação sobre os novos produtos e tendências que interessam
avultados investimentos e à sua mentalidade ao homem ‘metrossexual’. Lançado pela Condé Nast, nos Estados
empresarial, onde a procura pelo valor Unidos, não deixa de ser interessante e bem elaborado como
acrescentado se converteu num objectivo conceito. Aos olhos de um europeu, o conteúdo não parece tão
a alcançar. arrojado como ‘à priori’ sugeria. Parecem-nos mais próximas
do conceito que temos de ‘metrossexual’ as edições da Vogue
(1) Época, Brasil. dedicadas ao homem, editadas pela mesma Condé Nast.
(2) Veja, Brasil

HOM BRUNO BANANI


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CHICK

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