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Mikell P Groover oe giure Parte IV Processos de Conformacao dos Metais FUNDAMENTOS DA CONFORMACAO DOS METAIS Sumario 12.1 Visao Geral da Conformacio dos Metais 12.2 Comportamento dos Materiais na Conformacao dos Metais 12.3 Temperatura na Conformacao dos Metais 12.4 Atrito e Lubrificacao na Conformacao dos Metais A conformagéo dos metais engloba cxtenso grupo de processos de manufatura, nos quais a deforma- ‘20 plistica é empregada na mudanga de forma de peas metilicas. A deformagao resulta da utiliza fo de uma ferramenta, denominada comumente ‘matriz em conformaco dos metais, a qual, por sua vez, exerce tenses que ultrapassam o limite de es- ‘coamento do metal. O metal, portanto, se deforma plasticamente para tomar a forma determinada pela geometria da matriz. A conformagio dos metais se enquadra na classe de operagdes de mudanga de forma apresentada no Capitulo 1 como processos de conformacao (Figura 1.3) As componentes de tensio aplicadas para de- formar plasticamente o metal sto de modo usual compressivas. Todavia, alguns processos de con- formacio estiram_o metal, enquanto outros do- ‘bram_o_metal, ¢ ainda_alguns_aplicam_tensdes de_cisalhamento_ao metal, Para ser conformado com sucesso, 0 metal deve apresentar certas pro- priedades. As_propriedades desejadas no mate~ rial_a set conformado ineluem baixa resisténcia a0 escoamento e elevada ductilidade, Estas pro- priedades so influenciadas pela temperatura A ductilidade & aumentada e a resisténcia ao es- coamento é reduzida quando a temperatura de tra- balho é elevada. O efeito de temperatura se traduz 259 260 FIGURA 12.1 Principais Capitulo 12 nas divisbes entre trabalho a frio, trabalho a momo ¢ trabalho a quente. O atrito é um fator adicional que influencia 0 rendimento na conformagaio dos metais. Nés iremos analisar todos ‘estes fatores neste capitulo, porém primeiro vamos fornecer uma sintese dos processos de conformagao dos metais. Qs processos de conformagio dos metais podem ser clasificados em duas categorias prin- cipais: processos de conformagiio v« it i cchapas. Estas duas categorias sto abordadas com detalhes nos Capitulos 13 © 14, respectiva- mente, Cada categoria inclui diversas classes importantes de operagdes de mudanga de forma, descritas brevemente nesta seco. ! Processos de Conformacao Volumétrica Os processos de conformacdo volumétrica si ‘geralmente caracterizados por deformagdes relevantes com mudangas na forma da pega, uma relagdo relativamente pequena entre a érea superficial e o volume da pega. O termo maci- ¢o & empregado aqui para descrever a pega a ser conformada, que possui pequena raziio entre: rea e volume. As formas iniciais das pecas ou esbogos de partida desses processos incluem ‘tarugos cilindricos e barras retangulares. A Figura 12.1 ilustra as seguintes operages princi- pais de deformagao volumétrica: > Laminagdo. Este é um processo de deformacao por compressio direta, no qual a espes- sura de uma placa ou chapa grossa é reduzida pela ago de dois cilindros com rotagaio em sentidos opostos. Os cilindros giram de modo a conformar e comprimir o metal na regidio de abertura entre eles. Forjamento. No forjamento, uma pega & comprimida entre duas matrizes opostas, de ‘modo que a geometria das matrizes transmitida & pega de trabalho. O forjamento Va > Metal lindo iF ppracessos de conformagio @ ‘volumeétrica: (a) laminac&o, (b) forjamento,(c) extrusao, e (d) trefilagdo. © movimento relative estas operacbes ¢ indicado por v; as forcas so indicadas por F. (Crédit: Fundamentals ‘of Modern Manufacturing, 4 EdicSo, por Mikell P. Groover, 2010, Reimpresso com ppermissao de John Wiley & Sons, Inc) Fundamentos da Conformagao dos Metais 261 € tradicionalmente um proceso de conformago a quente, porém varias operagbes de forjamento sio realizadas a frio. » — Extrusdo, Este é um processo de compressdo no qual o metal de trabalho é forgado a escoar pela abertura de uma matriz, transformando a sega transversal da pega a partir da ‘geometria da matrz. » Trefilagao. Neste processo de conformagio, o didmetro de um arame ou barra redonda é reduzido ao puxé-lo pela abertura de uma matriz Conformacao de Chapas _Os processos de conformagio de chapas so operagdes de corte ou de mudanga de forma realizadas em metais sob a forma de chapas, tiras e bobinas. A raz3o entre érea superficial e 0 volume do esbogo de partida é grande; portanto, obter esta razdio é uum meétodo util para distinguir os processos de deformago volumétrica dos processos de con- formagao de chapas. Estampagem* é um termo que representa uma das operagdes de confor- ‘magio de chapas, porém, ¢ utilizada, com frequéncia para representar todo 0 conjunto dessas. operagdes. Com isto, a pega de metal produzida em uma operagto de conformacdo de chapas €comumente chamada estampo. Prensa-chapas Puncéo Esbogo Esboro. Matiz Matiz: ® Co) @ © FIGURA 12.2 Principais operagdes de conformacio de chapas metilicas: (a) dobramento,(b) ‘estampagem, e (c) corte: (1) aproximagio e contato inicial do pungio com a chapa, e (2) durante ‘© corte. Forgas e movimentos relativos entre as partes sio indicados nestas operacoes por F e ¥, respectivamente. (Crédito: Fundamentals of Modern Manufacturing, 4* Edicéo, por MikellP. Groover, 2010. Reimpresso com permissao de John Wiley & Sons, Inc.) * Em inglés; dans expresses diferentes so utlizadas. Pressworking representa 0 conjunto de processos de conformago de shapas, com crigem na méquina qué telizaesss proessos: as prensas. Drowing representa 0 proceso de estampagem apre- -sentado.na Figura 12.200). (N"T) 262 Capitulo 12 [As operagdes de conformagao de chapas sio em geral realizadas em processos de traba Iho a frio e usualmente efetuadas por meio de um conjunto de ferramentas compostos de um ‘puncao uma matriz. O pungao é a parte positiva c a matriz a parte negativa do ferramental. ‘AS principais operagdes de conformacdo de chapas estao esquematizadas na Figura 12.2 sto definidas por: > Dobramento. 0 dobramento envolve a deformagao de uma chapa fina ou grossa de metal para formar um angulo ao longo de um eixo, que usualmente é uma aresta retilinea. > _Estampagem. Na conformagio de chapas metalicas, a estampagem consiste na confor magao de uma chapa de metal plana em uma forma céncava ou oca, tal como um copo, por estiramento do metal, Um prensa-chapas é empregado para manter 0 esbogo pres sionado enquanto © pungio empurra a chapa metalica, conforme mostrado na Figura 12.2(b). Os termos estampagem de copo (cup drawing) ¢ estampagem profunda (deep drawing) sto frequentemente usados. Em inglés, 0 termo drawing pode ser usado para a operacio de trefilacdo de arames ou barras (wire drawing bar drawing). > Corte. O processo de corte por conformagio realiza a mudanga da geometria através do cisalhamento do material até a ruptura. A operagaio de cisalhamento corta 0 esbogo com auxilio de um pungdo e uma matriz, como mostra na Figura 12.2(c). Embora este proces= so possa ser excluido dos processos de conformagdo, pois no apresenta a deformagao plistica continuamente, é uma operago comum e necesséria & conformagao de chapas. A classificagao de conformagao de chapas metalicas também inclui outros processos de mudanga, de forma que no empregam ferramentais constituidos por pungao € matriz. Estes processos abrangem a conformac&o por estiramento, a calandragem. o repuxo eo dobramento 12.2, COMPORTAMENTO DOS MATERIAIS NA CONFORMACAO DOS METAIS Conceitos importantes com respeito 20 comportamento dos metais durante a conformagio podem ser obtidos a partir da curva tensdo-deformagaio. A curva tipica tenstio-deformagao da maioria dos metais é dividida em uma regido eléstica e uma regido plastica (Segdo 3.1.1). Na conformagao dos metais, a regio plastica ¢ de fundamental interesse, porque o metal é defor- ‘mado plastica, ou seja, com deformagao permanentemente nesses processos. A relaco caracteristica tensdio-deformagao para um metal exibe elasticidade abaixo do limite de escoamento e encruamento acima dele. As Figuras 3.4 ¢ 3.5 representam este com portamento em eixos linear e logaritmico, Na regido plistica, o comportamento do metal pode ser descrito pela curva de escoamento: o=Ke" em que K = 0 coeficiente de resisténcia, MPa (Ibf/in’) ¢ » & 0 expoente de encruamento, AS medidas de tens8o ce deformagao € empregadas na curva de escoamento sio a tensio vers dadeira e a deformagao verdadeira. A curva de escoamento é geralmente valida como uma relagdo que define o comportamento plistico do metal no trabalho a frio. Valores tipicos de em para diferentes metais a temperatura ambiente estdo listados na Tabela 3.4. Tensio de Escoamento A curva de escoamento descreve a relagdo tensfio-deformagao na regitio em que a conformago do metal ocorre. Esta indica a tensdo de escoamento do metal —a propriedade de resisténcia que determina as forcas e poténcias necessérias & realizago de) ‘uma dada operagio de conformagao. Na maioria dos metais a temperatura ambiente, a curva) Fundamentos da Conformagao dos Metais 263 tensdo-deformagdo da Figura 3.5 indica que a medida que o metal é deformado, sua resistén- cia aumenta devido ao encruamento. A tensio necesséria ao prosseguimento da deformagiio deve ser aumentada para corresponder a este aumento na resisténcia. A tensiio de escoamento €definida como o valor instanténeo de tensio necessério 4 continuidade do processo de de- formagao do material — para manter o “escoamento” do metal. Esta é a resisténcia a0 escoa- mento metal em fungao da deformagio, que pode ser expressa por: o,=Ke 2.1) em que 6- é a tensdo de escoamento, MPa (Ibf/in’). ‘Nas operagdes individuais de conformagaio tratadas nos préximos dois capitulos, a tensio instantiinea de escoamento pode ser usada para analisar 0 processo durante sua historia. Por exemplo, em certas operagdes de forjamento, a forga instantinea durante a compressio pode ser determinada a partir do valor da tenso de escoamento. A forea méxima pode ser calcu- Jada com bases na tenso de escoamento que resulta da deformagdo final no fim do curso de forjamento, Em_outros casos, em vez de adotar valores instantineos, a anilise ¢ realizada com bases s de tensdes e deform: ue ocorrem na conformacio. A extrusfo repre- ‘senta este caso, Figura 12.1(c). A medida que a seco transversal do tarugo é reduzida ao passar pela abertura da matriz. de extrusfio, o metal encrua gradualmente para atingir valor maximo. No lugar de determinar uma sequéncia de valores instanténeos de tensio-deformagao durante a reduedo, o que seria nfo somente dificil, mas também de pouco interesse, é mais apropriado analisar © processo com base na tensio média de escoamento ao longo da deformagao. ‘Tensao Média de Escoamento _ A tensio média de escoamento ¢ o valor médio de tensio da curva tensdo-deformagao, definido a partir do inicio de deformagao até seu valor final (maximo), que tem lugar durante a deformagao. Este valor esti representado no tragado da curva tensdo-deformagdo da Figura 12.3, A tenstio média de escoamento é determinada pela integrago da equacdo da curva de escoamento, Eq. (12.1), entre zero ¢ o valor final de defor- magao que define o dominio ou gama de deformagdes de interesse, Esta integraco fornece a seguinte equagio: Ket I+n (12.2) em que 3, a tensdo média de escoamento, MPa (Ibfi durante o processo de deformagio, © €0 valor da maxima deformagao FIGURA 12.3. Cura tensio-deformagio indicando «a localizacdo da tensio média de escoamento G. em relacdo a tensdo de escoamento inicial « ¢ & tensio de ‘escoamento final oy. (Crédito: Fundamentals of Modem (Manufacturing, 48 Edicao, por Mikell P. Groover, 2010. Reimpresso com permisséo de John Wiley & Sons, Inc) 264 Capitulo 12 TEMPERATURA NA Faremos extenso uso da tenstio média de escoamento em nosso estudo dos processos de deformagao volumétrica no préximo capitulo. Dados os valores de Ke n do metal de trabalho, um método de célculo do valor final de deformacao seré desenvolvido para cada processo. Com base nesta deformacdo, a Eq. (12.2) pode ser empregada para determinar a tensao média de escoamento a qual o metal ¢ submetido durante a operagio. ‘A curva de escoamento & uma representago vilida do comportamento tensio-deformagao de um metal durante a deformagao plastica, sobretudo em operagdes de trabalho a frio. Para qualquer metal, os valores de Ke n dependem da temperatura. A resisténcia e o encruamento. so teduzidos em temperaturas elevadas. Estas mudancas de propriedades so importantes porque elas resultam em baixas forgas e poténcias durante a conformagao. Além disso, a duc- tilidade é aumentada em temperaturas mais altas, o que permite maior deformagao plastica do metal a conformar. Trés faixas de temperaturas de trabalho determinam uma das classifica- ‘¢®es aplicadas aos processos de conformacao dos metais: trabalhos a frio, a momo e a quente, Trabalho a Frio Trabalho a frio (também conhecido como conformacao a frio) & a con- formagao dos metais realizada a temperatura ambiente ou ligeiramente acima. As vantagens significativas da conformagao a frio em comparagao com o trabalho a quente so (1) maior preciso, logo, tolerincias mais estreitas que podem ser obtidas; (2) melhor acabamento de superficie; (3) maiores resisténcia e dureza da pega devido ao encruamento; (4),a orientacdo de gros desenvolvida durante a deformacdo faz com que possam ser obtidas propriedades direcionais desejéveis no produto final; ¢ (5) nenhum aquecimento do metal é necessério, o que economiza custos de equipamentos e combustiveis de fornos e permite maiores taxas de producdo. Gragas a esta combinagao de vantagens, muitos processos de conformagao a frio tornaram-se importantes em operagdes com alto volume de produgdo. Eles fornecem tolerdn- cias de precisdo e superficies regulares, minimizando a quantidade de usinagem requerida, de modo que estas operagdes podem ser classificadas como processos net shape ou near net shape, nos quais s8o obtidos as formas e acabamentos préximos ao uso final da pega (Seco 1.2.1). Existem algumas desvantagens ou limitagbes associadas com as operagdes de conforma- slo a frio: (1) elevadas foreas ¢ poténcias sio exigidas para realizar a operasio; (2) cuidado deve ser tomado para assegurar que as superficies do esboco inicial de trabalho estejam livres de carepas e sujeiras ¢ (3) a ductilidade e o encruamento do metal de trabalho limitam o quan- 10 de conformacAo pode ser feito na peca. Em algumas operacdes, o metal deve ser recozido (Sego 20.1) para permitir que deformacio adicional seja realizada. Em outros casos, 0 metal no ¢ dactilo suficiente para ser trabalhado a fi Para solucionar o problema do encruamento ¢ reduzir as demandas de forga e poténci ‘muitas operagdes de conformagao so realizadas em temperaturas elevadas. Existem duas fa xas de temperaturas acima da temperatura ambiente, que do origem aos termos de trabalho a morno e trabalho a quente. Trabalho a Morno Considerando que as propriedades do material no escoamento so nor- ‘malmente melhoradas pelo aumento da temperatura da peca ou esbogo de trabalho, as opera ‘ges de conformacdo sto, algumas vezes, realizadas em temperaturas acima da temperatura ambiente, mas abaixo da temperatura de recristalizagao. O termo trabalho a morno ¢ aplicado a esta segunda gama de temperaturas. A linha divis6ria entre o trabalho a frio e o trabalho a ‘momo € com frequéncia expressa em termos do ponto de fustio do metal. Esta diviséria € ustalmente tomada por 0,3 7; em que T/ & 0 ponto de fusdo (temperatura absoluta) do metal em questo. Fundamentos da Conformagao dos Metais 265 Os menores valores de resisténcia mecanica e encruamento em temperaturas intermedia- tias, assim como a maior ductilidade, asseguram vantagens do trabalho a morno sobre o traba- {ho a frio: (1) foreas e poténcias mais baixas, (2) possibilidade de geometrias mais complexas ¢ (3) necessidade de recozimento pode ser reduzida ou eliminada. Trabalho a Quente Trabalho a quente (também chamado conformagio a quente) envolve deformagao em temperaturas acima da temperatura de recristalizago (Se¢do 3.3). A tempera- tura de recristalizagao de um dado metal é cerca de metade do seu ponto de fusio em escala absoluta. Na pritica, o trabalho a quente ¢ usalmente conduzido em temperaturas um pouco acima de 0,5 T;; O metal de trabalho continua a amaciar & medida que a temperatura é aumen- tada acima de 0,5 T;, aumentando assim a vantagem do trabalho a quente acima deste nivel. Entretanto, o proprio processo de deformacio gera calor, o qual, por conseguinte, aumenta as lho em regides locali . Isto pode conduzir A fusdio do metal estas regides, o que ¢ extremamente indesejével. Ainda, a formacdo de carepa na superficie. do metal ¢ acelerada em temperaturas mais elevadas. Por conseguinte, as temperaturas de trabalho a quente s4o de modo usual mantidas dentro da gama 0,5 Ta 0,75 Tj ‘A vantagem mais significativa do trabalho a quente é a capacidade de promover conside- ravel deformagao plastica do metal — muito mais do que é possivel com o trabalho a frio ou © trabalho a momo. A principal razio para isto é que a curva de escoamento do metal traba- Ihado a quente tem um coeficiente de resisténcia que é consideravelmente menor que aquele a temperatura ambiente, o expoente de encruamento é (em termos teéricos) zero e a ductilidade do metal é aumentada de maneira significativa. Tudo isto resulta nas seguintes vantagens com relagdo ao trabalho a frio: (1) a forma da peca de trabalho pode ser significativamente altera- -da, (2) forsas.¢ poténcias mais baixas sto necessérias para deformar o metal, (3).0s metais que. usualmente fraturam no trabalho a frio podem ser conformados a quente, (4) as propriedades de resisténcia mecanica so, em geral, isotrépicas devido a auséncia de estrutura de grdios orientados comumente formados no trabalho a frio e (5) nenhum aumento da resisténcia da pe¢a_decorre do encruamento. Esta ultima vantagem pode parecer inconsistente, pois 0 au- mento de resisténcia do metal é com frequéncia considerado uma vantagem para o trabalho a frio. Contudo, existem aplicagdes nas quais ¢ indesejével que o metal esteja encruado, porque isto reduz a ductilidade, por exemplo, se a pega for posteriormente processada por conforma- sao a frio. As desvantagens do trabalho a quente englobam: (1) menor preciso dimensional, (2) maior energia total exigida (devido a energia térmica para aquecer o esboco de trabalho), (3) oxidagao da superficie do metal (carepa), (4) acabamento superficial mais pobre ¢ (5) vida mais curta do ferramental, Arecristalizagao do metal no trabalho a quente envolve difusdo, o que é um processo de- pendente do tempo. As operagdes de conformagao dos metais sao frequentemente realizadas em altas velocidades, o que n&o fornece tempo suficiente para completar a recristalizagao da estrutura de grdos durante o seu ciclo de deformagao. Entretanto, em razao das temperaturas celevadas, a recristalizaco acaba por ocorrer. Esta pode ter lugar de imediato na sequéncia do rocesso de conformagao ou mais tarde, & medida que a pega de trabalho resfria. Embora.a recristalizago possa ocorrer aps a deformacio efetiva, sua eventual ocorréncia e o amoleci- mento considerivel do metal em temperaturas elevadas slo a: i trabalho a quente do trabalho a moro ou do trabalho a frio, Conformacio Isotérmica Certos metais, tais como os agos hiperligados, muitas ligas de titi- nio e ligas de niquel para altas temperaturas, possuem boa dureza a quente, propriedade que os toma adequados para servigos em altas temperaturas. No entanto, esta propriedade que os toma atrativos nestas aplicagdes também faz com que eles sejam dificeis de conformar por meio de métodos convencionais. O problema é que quando estes metais so aquecidos, as suas tempe- raturas de trabalho a quente, em seguida, entram em contato com as ferramentas de conforma- ‘s40 relativamente frias, e 0 calor ¢ rapidamente retirado das superficies do esbogo, aumentan- do assim a resisténcia mecinica nestas regides. As variagdes de temperaturas ¢ resisténcia nas 266 Capitulo 12 ATRITO E LUBRIFICACAO NA diferentes regides do esbogo de trabalho provocam padries irregulares de escoamento no durante a deformagao, conduzindo a tensdes residuais clevadas e possiveis trincas na superfici ‘A conformagio isotérmica refere-se as operagdes de conformagao que sto realizadas ‘modo a eliminar o resfriamento superficial ¢ os gradientes térmicos resultantes na pega de tr balho. Esta é realizada por meio de pré-aquecimento das ferramentas, que entram em cont ‘com a peca na mesma temperatura do metal de trabalho. [sto enfraquece as ferram: sua vida, porém evita os problemas ja descritos quando estes metais de dificil trabalho so cor formados por métodos convencionais. Em alguns casos, a conformagao isotérmica representa ‘imica opedo pela qual estes materiais podem ser conformados. Este procedimento ¢ mais be associado com o forjamento; e nds tratamos o forjamento isotérmico no préximo capitulo. © atrito na conformagéo dos metais surge devido ao contato direto entre o ferramental © superficies do metal, ¢ as pressdes elevadas que mantém as superficies em contato nestas ope ‘gdes, Na maioria dos processos de conformacao dos metais, o arito éindesejavel pelas segui razbes: (1) 0 fluxo de metal é reduzido, provocando tensdes residuais e algumas vezes defeito zo produto; (2) as forgas e poténeias para realizar a operago so aumentadas.¢ (3) 0 dese da ferramenta pode levar a perda de preciso dimensional, resultando em partes defeituosas necessit ituigdio do ferramental. Como na conformagao dos metais as ferram geralmente sfo caras, 0 desgaste do ferramental & um fator importante. O atrito ¢ o desgaste ferramenta so mais severos no trabalho a quente devido ao seu ambiente mais agressivo.. ‘O atrito na conformagao dos metais é diferente daquele encontrado na maior parte do sistemas mecénicos, tais como em trens de engrenagens, eixos ¢ rolamentos, ¢ outros com ponentes envolvendo movimento relativo entre superficies. Estes outros casos sto em ger caracterizados por baixas pressbes de contato, baixas a moderadas temperaturas ¢ ex brificagdo para minimizar 0 contato metal-metal, Por outro lado, 0 ambiente de confor dos metais aj allas presses entre a ferramenta endurecida e ibalho deformacao plastica do material mais macio e temperaturas elevadas (pelo menos no trabalho ‘a.quente), Estas condigées podem resultar em coeficientes de atrito relativamente altos m transformagao dos metais, mesmo na presenga de lubrificantes. Os valores tipicos do coefic cciente de atrito para trés categorias de conformagao dos metais esto listados na Tabela 12.1. Categoria Faia de temperatura Coeficiente de atrito ‘Trabalho a frio 50,37 01 Trabalho a momo 037-05T: 02 Trabalho a quente 051-0751 04-05 CCompilados de viriasreleréncas, Se 0 coeficiente de atrito se tornar bastante elevado, ocorrerd a condigdo conhecida como) aderéncia. A aderéncia na transformagao dos metais (também chamada atrito de aderéncia ou atrito de agarramento) é a tendéncia que duas superficies em movimento relativo tém de aderir uma a outra ao invés de deslizarem. Isto significa que a tensfo de atrito entre as super= ficies excede a tensio de escoamento em cisalhamento do metal de trabalho, causando assim & deformagao do metal por um processo de cisalhamento na regio sub-superticial, no lugar do deslizamento na superficie. A aderéncia ocorre nas operagdes de conformagao dos metais © € um problema conhecido na laminagdo; trataremos disso neste contexto no proximo capitulo. ‘0s lubrificantes de transformago de metais so aplicados na interface ferramenta/pega ‘em diversas operagdes de conformagao para reduzir os efeitos nocivos do atrito. Os beneficios Fundamentos da Conformacéo dos Metais 267 _mento superficial do produto. rvem também pa 3s, tais como aremoedo de calor do ferramental. As consideracdes de escolha de um lubrificante apropriado transformaedo dos metais incluem (1) 0 tipo de processo de conformagao (laminagio, forja- mento, estampagem de chapas metilicas, entre outros), (2) se usado no trabalho a quente ou no trabalho a frio, (3) material da pega conformada, (4) reatividade quimica com os met: ferramenta e de trabalho (¢ desejavel geralmente que o lubrificante venha aderir as superficies para ser mais efetivo na reduedo do atrito), (5) facilidade de aplicacio, (6) toxicidade, (7) flamabitidade e (8) custo. Os lubrificantes usados para as operagies de trabalho a frio incluem [4], [7] dleos mine- rais, graxas ¢ dleos graxos, dleos emulsionaveis em Agua, sabdes e outros revestimentos. O trabalho a quente, as vezes, é realizado a seco em certas operagSes e materiais (por exemplo, Iaminagdo a quente de aco e extrusdio de aluminio). Quando os lubrificantes sao usados no tra- balho a quente, eles podem ser compostos de 6leos minerais, grafite e vidro. O vidro fundido toma-se um efetivo lubrificante para a extrusdo a quente de ligas de agos. A gratite contida na Agua ou no éleo mineral é um lubrificante comum para o forjamento a quente de varios metais. Detalhes com respeito aos tratamentos de lubrificantes na transformagao dos metais jo encontrados nas referéncias [7] e [9]. REFERENCIAS ] Altan, T., Oh, S. ming: Fundamentals and Applications. ASM International, Materials Park, Ohio, 1983. lo) Cook, N. H. Manufacturing Analysis. Addison- Wesley Publishing Company, Inc., Massachusetts, 1966. Hosford, W. ‘ming: Mechanies and Metallurgy, 3rd ed. Cam- bridge University Press, Cambridge, United and Gegel, H.L. Metal For- [5] Lenard, J. G. Metal Forming Science and Practice. Elsevier Science, Amsterdam, The Netherlands, 2002, Mielnik, E. M. Metalworking Science and Engi- neering. McGraw-Hill, Inc., New York, 1991. Nachtman, E. S., and Kalpakjian, S. Lubricants and Lubrication in Metalworking Operations. 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O que é conformagao isotérmica? 12.4 Qual é a diferenea entre a estampagem profun- 12.9 Por que o atrito é geralmente indesejével nas ate dobrarnenson) operages de conformagiio dos metais? 125 Enuneie a equagio matematica para a curva de 12.10 O que é atrito de aderéncia (ou de agarramento) escoamento. nos processos de conformacdo dos metais’? 268 dss 121 122 12.3 124 Capitulo 12 ay Para um dado metal, tem-se 0 coeficiente de resisténcia K = 550 MPa e 0 expoente de en- cruamento n = 0,22. Durante uma operacdo de conformagao, a deformacao verdadeira final a qual o metal é submetido é e= 0,85. Determine a tensio de escoamento neste nivel de deforma- fio e 0 valor da tensdio média de escoamento a que o metal ¢ submetido durante a operaco. ‘Um metal tem a curva de escoamento com 0 coe- ficiente de resistencia K = 850 MPa ¢ 0 expoente de eneruamento n = 0,30. Um corpo de prova de traciio uniaxial deste metal com comprimento inicial de medida Lo = 100 mm é alongado para ‘um comprimento final L = 157 mm, Determine 1 tensto de escoamento para este comprimento final e o valor da tensdo média de escoamento a que o metal é submetido durante a deformagao. Um dado metal tem uma curva de escoamento com coeficiente de resisténcia K = 35.000 Ibf in? e expoente de encruamento n = 0,26. Um corpo de prova de tragdo uniaxial deste metal ‘com comprimento inicial de medida Lo = 2 in € alongado para um comprimento final L = 3,3 in, Determine a tensdo de escoamento para este comprimento final ¢ o valor da tenso média de escoamento a que o metal é submetido durante adeformacdo. O coeficiente de resisténcia e expoente de en- cruamento de certo metal sio iguais a 40.000 Ibflin? e 0,19, respectivamente, Um corpo de prova cilindrico deste metal com dimetro ini- cial ch = 2,5 in e comprimento inicial Lo = € comprimido para um comprimento final L 1,5 in, Determine a tenso de escoamento para este comprimento final obtido por compressio © 0 valor da tensio média de escoamento a que © metal ¢ submetido durante a deformagio. 12.5 12.6 127 128 12.9 Para um dado metal, o coeficiente de resisténcia € igual a 700 MPa e 0 expoente de encruamento 60,27. Determine a tensio média de escoamen- to que o metal experimenta se for submetido & tensdo igual ao seu coeficiente de resisténcia K. Determine o valor do expoente de encruamento para um metal que fornecerd tenstio média de ‘escoamento igual a 3/4 do valor final de tensiio de escoamento apés a deformacao. O coeficiente de resisténcia ¢ igual a 35.000 Ibf) in® e 0 expoente de encruamento igual a 0,40 para um metal usado em operagio de confor magio na qual a pega de trabalho tem redugo de area da segao transversal por estiramento. Se a tensio média de escoamento da pega é 20.000 Ibf/in*, determine a quantidade de redugao de rea da segiio transversal experimentada pela, om. Em um ensaio de trag&o uniaxial, dois pares de valores de tensdo e deformagao foram medidos, apés 0 escoamento do corpo de prova metalico: (1) tensdo verdadeira = 217 MPa e deforma- gio verdadeira = 0,35 e (2) tensio verdadeira 59 MPa e deformacdo verdadeira = 0,68. Com base nestes dados experimentais, deter mine o coeficiente de resisténcia e 0 expoente de encruamento, Os seguintes valores de tensiio e deformagao foram medidos na regio plastica durante um ensaio de tra¢Zo uniaxial realizado em novo metal: (1) tenso verdadeira = 43.068 Ibffin® e deformagao verdadeira = 0,27 in/in e (2) ten- so verdadeira = 52.048 Ibf/in® e deformagao verdadeira = 0,85 infin, Com base nestes da- dos experimentais, determine 0 coeficiente de resisténcia € 0 expoente de encruamento.

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